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Estudo do processo comunicacional e mobilização digital de entidades associativas em prol do Transtorno do Espectro Autista (TEA) 1

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Estudo do processo comunicacional e mobilização digital de entidades associativas em prol do Transtorno do Espectro Autista (TEA)1

Patricia Carla Gonçalves Salvatori2 Faculdade Cásper Líbero/ ECA-USP Resumo

A partir de reflexões sobre comunicação para cidadania (CORTINA, 2005; KUNSCH, 2007; PERUZZO, 2007); e mobilização social (HENRIQUES, 2013; TORO;

WERNECK, 2004), este artigo busca entender a mobilização nas mídias digitais em prol de pessoas com deficiência, a partir de estudo da presença digital de entidades associativas brasileiras em prol do Transtorno do Espectro Autista (TEA). O estudo foi desenvolvido por meio da Análise de Redes Sociais (RECUERO, 2014), visando mapear sites e mídias digitais das entidades afiliadas cadastradas na Associação Brasileira de Autismo (ABRA) e apontou uma participação errática e pouco efetiva das entidades no processo comunicacional digital, propiciando novas etapas de estudo.

Palavras-chave

Autismo; Comunicação para cidadania; Mobilização social; Pessoas com deficiência;

Relações públicas comunitárias.

Pessoas com Deficiência (PCD)

De acordo com o censo demográfico do IBGE (2010), cerca de 25% da população brasileira possui algum tipo de deficiência, seja visual, auditiva, motora, intelectual ou múltipla. Esse amplo recorte da população brasileira, bem como seu círculo de familiares e responsáveis, necessita de uma carga extrema de esforços para a garantia e manutenção de seus direitos, assim como para a conquista de seu lugar de fala na sociedade, o que nos remete à busca pelo reconhecimento de direitos e ideais de justiça, proclamada por Axel Honneth (2009). As dificuldades físicas, emocionais, financeiras e jurídicas impostas a uma pessoa com deficiência (PCD), aliadas à recorrente falta de conhecimento dos demais atores da sociedade, derivam para o que Honneth (2009, p. 216) descreve como

1 Trabalho apresentado no GP Relações Públicas e Comunicação Organizacional, XVIII Encontro dos Grupos de Pesquisas em Comunicação, evento componente do 41º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.

2Doutoranda e Mestre em Ciências da Comunicação pela ECA-USP; Professora e coordenadora do curso de Relações Públicas da Faculdade Cásper Líbero; Diretora administrativa da Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e Relações Públicas (ABRAPCORP); Editora assistente da Revista ORGANICOM. E- mail: psalvato@uol.com.br

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“desrespeito pessoal, infligidos a um sujeito pelo fato dele permanecer estruturalmente excluído da posse de determinados direitos no interior de uma sociedade”. Situação essa que configura uma limitação severa para sua autonomia pessoal, bem como a negação de sua capacidade de interagir em pé de igualdade com os demais membros da sociedade, derivando para um sentimento, descrito pelo autor, como rebaixamento do próprio valor e vergonha, que

pode tornar-se o impulso motivacional de uma luta por reconhecimento.

Pois a tensão afetiva em que o sofrimento de humilhações força o indivíduo a entrar só pode ser dissolvida por ele na medida em que reencontra a possibilidade da ação ativa. [...] simplesmente porque os sujeitos humanos não podem reagir de modo emocionalmente neutro às ofensas sociais, representadas pelos maus-tratos físicos, pela privação de direitos e pela degradação, os padrões normativos do reconhecimento reciproco têm uma certa possibilidade de realização no interior do mundo da vida social em geral. (Honneth, 2009, p. 224).

Em que pese o fato de o Brasil ser signatário de todas as convenções internacionais que discutem garantias de direitos das pessoas com deficiência desde a Declaração de Salamanca (1994), é inegável o processo continuo de medicalização e patologização que desumaniza e retira das pessoas com deficiência escolhas sociais que extrapolem suas diferenças. (ANGELUCCI, 2014) Na Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) da Organização Mundial da Saúde, deficiência é descrita como um “problema nas funções ou nas estruturas do corpo, tais como, um desvio importante ou uma perda” (OMS, 2003).

Se faz necessária uma profunda reflexão sobre as razões para a marginalização das pessoas com deficiência, para então buscar significados para os modelos que visem à inclusão social no mundo contemporâneo (SILVA, 1987). A construção de estereótipos e estigmas sociais, com base em requisitos de saúde e beleza pré-determinados, contribui para um modelo de perfeição social, que resulta historicamente na discriminação e exclusão daqueles que não se adequam aos padrões vigentes, desde a padronização de extermínio de pessoas com deficiência nas civilizações primitivas, passando pela crença religiosa da Idade Média que condicionava a deficiência como punição ou castigo por algo pecaminoso, até os modelos ainda vigentes de segregação social, escolar e profissional.

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No decorrer do século XX as narrativas relacionadas às pessoas com deficiências passam receber elementos de reabilitação e integração, ainda que de maneira parcial, por influência de movimentos assistencialistas de apoio médico, educacional e jurídico (JUNIOR; MARTINS, 2010). A mudança do estigma da deficiência como castigo divino para uma patologia médica contribuiu para que as pessoas com deficiência deixassem a zona da invisibilidade e passassem a circular socialmente. Entretanto, a classificação por patologias ainda reforçava a necessidade de percepção da pessoa com deficiência como um ser humano e social. Para Maciel (2008),

a passagem das trevas às luzes não trouxe a eliminação dos mitos, ao contrário, reforçou o entendimento de que estas pessoas seriam inferiores. Ao que pese haver sido esclarecido de que a deficiência não é um castigo de Deus, criou-se o mito de que a deficiência seria uma degeneração da espécie humana. [...] A reprodução sistematizada e institucionalizada do mito de que a pessoa com deficiência é um ser frágil, inferior e incapaz, faz com que a exclusão seja aceita ou ignorada, pelos demais membros da sociedade como algo ‘natural’.

(MACIEL, 2008, p. 40)

A Constituição Federal de 1988 representou um marco significativo na inclusão de pessoas com deficiência no Brasil, pois “o texto constitucional dedicou diversos artigos e parágrafos com recomendações legais sobre as pessoas com deficiência nos capítulos dos direitos sociais, da administração pública, da assistência social, da família e da educação” (ARAUJO, 1994). Somente a partir da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2009), a deficiência migra do modelo médico, como algo individual e que deve ser corrigido, para o modelo social, estabelecendo como fator limitador o meio em que a pessoa está inserida e não a deficiência em si. Com isso, a deficiência não aponta necessariamente para uma doença e o foco de atenção deve ser a solução coletiva de inúmeras barreiras, por meio de políticas públicas. Em 2015, após quinze anos de tramitação no Congresso, foi criada a Lei Brasileira de Inclusão (Lei 13.146/2015), que consolidou os direitos de acessibilidade, saúde, educação e trabalho e reforçou publicamente a necessidade de dar a devida visibilidade ao tema.

Transtorno do Espectro Autista (TEA)

De acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID-11) publicada em 2018 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o transtorno do espectro do autismo é

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caracterizado por déficits persistentes na capacidade de iniciar e sustentar a interação social recíproca e a comunicação social, e por uma série de padrões de comportamento e interesses restritos, repetitivos e inflexíveis. O início do distúrbio ocorre durante o período de desenvolvimento, tipicamente na primeira infância, mas os sintomas podem não se manifestar totalmente até mais tarde, quando as demandas sociais excedem as capacidades limitadas. Os déficits são suficientemente severos para causar prejuízo nas áreas pessoais, familiares, sociais, educacionais, ocupacionais ou outras áreas importantes de funcionamento e são geralmente uma característica penetrante do funcionamento do indivíduo observável em todos os contextos, embora possam variar de acordo com aspectos sociais, educacionais ou outros contextos.

Trata-se de uma condição denominada como espectro, porque sua intensidade varia de pessoa para pessoa, de acordo com uma gama completa de habilidades intelectuais e de linguagem, causadas por um conjunto de fatores genéticos, biológicos e ambientais, cujo diagnóstico se dá por avaliação clínica multidisciplinar. Sua incidência é calculada de 1-2 a cada 1.000 pessoas, entretanto diversas pesquisas no Brasil e em outros países apontam um crescimento significativo nos diagnósticos nas últimas décadas. (SILVA; MULICK, 2009)

Diversas intervenções terapêuticas têm sido utilizadas para melhoria das habilidades cognitivas, comunicacionais e relacionais das pessoas com TEA. Um dos fatores determinantes de sucesso é o diagnóstico e tratamento precoce, o que estabelece uma necessidade fundamental pela divulgação e conscientização de todos os atores sociais envolvidos, como familiares, profissionais de saúde e educação, agentes do poder público, formadores de opinião e sociedade em geral.

Cidadania e mobilização social

Antes de dar início às reflexões sobre mobilização social, se faz necessária uma revisão sobre os diversos conceitos e entendimentos sobre cidadania. De acordo com a lógica aristotélica, para que o ser humano possa existir em plenitude, se faz indispensável sua participação ativa em todos os assuntos públicos. Em que pese a severa restrição dos valores de liberdade e igualdade a este conceito de cidadania grega, pois só eram considerados cidadãos os seres humanos do sexo masculino de determinadas e restritas

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classes sociais, o senso comum sobre cidadania na sociedade ocidental vigente baseia-se na observância e na prática dos direitos civis, políticos e sociais dos cidadãos.

(CORTINA, 2005)

Na visão de Kunsch (2007, p. 63), “falar em cidadania implica recorrer a aspectos ligados a justiça, direitos, inclusão social, vida digna para as pessoas, respeito aos outros, coletividade e causa pública no âmbito de um Estado-nação”. Enquanto que na concepção de Cicilia Peruzzo (2007), a comunicação para cidadania está habilitada para constituir um modelo de transformação social que proporciona o desenvolvimento participativo, sendo construída pelos cidadãos e estruturada com base na relação de direitos e deveres de todos os atores sociais.

Para Peruzzo (2007), “a construção da cidadania está diretamente ligada à capacidade de articulação civil e da correlação de forças no embate político”. Neste contexto, agentes da sociedade, como movimentos sociais, ONGs, ativistas, grupos de interesse e pressão, redes sociais, entre outros, se organizam e possibilitam uma mobilização social em prol de objetivos comuns e defesa de seus direitos, ultrapassando fronteiras nacionais. Surgem, com isso, as relações públicas comunitárias, que trabalham estrategicamente os processos comunicacionais para a sensibilização da sociedade e da opinião pública, ao lado dos poderes político, administrativo e econômico (KUNSCH, 2007).

Há de se destacar o crescimento da importância do contexto social ao longo do século XX, ocupando espaço ao lado dos direitos políticos e jurídicos oriundos dos conceitos de cidadania nas civilizações grega e romana, respectivamente. As questões sociais vêm ganhando destaque a partir da segunda metade do século passado, no esforço de assegurar os direitos de grupos historicamente minorizados, como mulheres, idosos, crianças, minorias étnicas e religiosas, LGBTs e pessoas com deficiência. (VIEIRA, 2002)

Estes grupos, que tiveram seus direitos usurpados no curso da história, começam então a ser representados por entidades, associações e grupos de pessoas com interesses comuns, que utilizam sua capacidade de agir, influenciar comportamentos e gerar atitude nas demais esferas sociais. De acordo com Honneth (2009, p. 224), este potencial cognitivo para a transformação social está relacionado com o entorno político e cultural dos sujeitos atingidos, pois “somente quando o meio de articulação de um movimento

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social está disponível é que a experiência de desrespeito pode tornar-se uma fonte de motivação para ações de resistência política”.

Uma questão fundamental a ser ponderada é a implicação de um grau mais profundo de envolvimento dos indivíduos e dos grupos mobilizados, que ultrapasse a simples consciência sobre a importância da causa e o mero interesse em contribuir, atingindo o patamar de pertencimento e de corresponsabilidade, descrito por Henriques (2013).

[...] as estratégias de mobilização, ao almejarem a geração de vínculos deste tipo, buscam transcender as meras ações pontuais, circunstanciais.

A condição para isso é o estabelecimento da coesão e da continuidade do projeto, que são a ponte entre a ação isolada e a ação responsável.

Entretanto, a função básica de gerar e manter vínculos dos públicos com o movimento depende, para ser bem-sucedida, do cumprimento de outras funções que devem estar devidamente integradas e articuladas, tais como difundir informações, promover a coletivização, registrar a memória e fornecer elementos de identificação com a causa e o projeto.

(HENRIQUES, 2013, p. 21)

O que distingue um simples processo de troca de informações da efetiva comunicação para mobilização social, na percepção de Toro e Werneck (2004, p. 58), é que além de formarem opiniões próprias e que se disponham a agir, as pessoas devem se sentir donas da informação e que “...repassem-na, utilizem-na e tornem elas próprias fontes de novas informações. Para o sucesso de uma mobilização, é preciso que todos que dela participam tenham um comportamento comunicativo”. De acordo com Heloiza Matos (2009), Alexis de Tocqueville, na obra A Democracia da América,

destacou, de modo pioneiro, a importância das relações associativas entre diversas organizações voluntárias para a constituição de uma forma de democracia sustentada por um bom governo, garantindo um movimento histórico capaz de conduzir à igualdade de condições entre os atores da sociedade civil. (MATOS, 2009, p. 33)

A comunicação para a cidadania estabelece, com isso, um novo patamar de troca entre os atores sociais, ao transpor sua capacidade inerente de engajamento dos públicos em prol de objetivos privados, para a mobilização da opinião pública para seu engajamento frente a interesses públicos e comuns. Um aspecto fundamental na formação da opinião pública, segundo Farias (2016, p. 252), é o fato das organizações e pessoas buscarem “licença social, ainda que simbólica, para atuar”. Para o autor, grupos sociais

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“ocupam espaços antes destinados somente às mídias tradicionais na formação de poder e opinião”.

Há de se considerar, entretanto, que a procura pelo diálogo constante e ponderado não deve pretender somente a neutralização de eventuais conflitos, como destacam Marques e Mafra (2013), mas “um espaço efetivo de trocas, de tratamento de problemas coletivos e de verificação conflitiva de uma pretensa igualdade entre os interlocutores”.

Segundo os autores, há muito o que evoluir antes de se alcançar o equilíbrio nesta relação dialógica, ainda imbricada por relações ocultas de controle, poder e persuasão pelas partes interessadas.

Na concepção de Kristin Demetrious (2013), é recomendada a utilização de práticas discursivas e comunicativas em relação a causas, para promover entendimentos que ajudem a pensar e agir de forma independente nos debates e na formação de juízo de valor de forma ponderada. A comunicação pode, segundo a autora, por meio de abordagem coerente e racional, “educar indivíduos em vez de persuadir, a fim de lançar luz sobre as complexas relações entre o Estado, empresas e setores civis e as consequências para a política pública”. E o ativismo de base representaria, através da comunicação, a possibilidade de importantes contribuições para debates sociais.

A partir destas considerações, torna-se compreensível o estabelecimento de um vínculo conceitual entre a comunicação para cidadania e mobilização social, neste estudo recortada como base para inclusão de pessoas com deficiências, o que possibilita a análise do processo comunicacional por meio das mídias digitais de entidades em prol do Transtorno do Espectro Autista (TEA), que será apresentada a seguir.

Entidades associativas em prol do Transtorno do Espectro Autista (TEA)

A partir do levantamento do processo comunicacional por meio das mídias digitais de entidades associativas em prol do Transtorno do Espectro Autista (TEA), a autora pretende dar continuidade à sua pesquisa de doutorado sobre o potencial das relações públicas para a transformação da realidade, por meio das práticas comunicacionais e de mobilização, inclusão social e fortalecimento da cidadania para pessoas com deficiência.

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Antes de dar início à pesquisa empírica, se faz necessária uma reflexão sobre o impacto da descentralização do poder de fala no atual contexto tecnológico da sociedade contemporânea, no qual todos os atores possuem espaço para assumir o protagonismo comunicacional em benefício de suas crenças, valores e temas de interesse. De acordo com Correa (2016), a digitalização da sociedade é um processo irreversível, “que reconfigura o tradicional processo de comunicação, no qual emergem a participação, a colaboração e o espaço para expressão de múltiplas vozes”.

Caracterizada pela revolução via tecnologias digitais de informação e comunicação, a era da informação coincide com a emergência de uma estrutura social em rede, em todos os âmbitos da atividade humana, e com a interdependência global desta atividade. (CASTELLS, 2006) Ainda que o conceito de redes sociais refira-se à estruturação da humanidade em grupos sociais, portanto séculos antes da evolução tecnológica, não há como negar que a tecnologias digitais proporcionaram a expansão dos processos comunicacionais destas redes, a partir de elementos como a interatividade e a multimedialidade. Para Terra (2016), as interações nas redes sociais digitais possibilitam aproximação e empoderamento dos sujeitos, condição sine qua non para o exercício da cidadania.

O objeto de análise do artigo foi extraído a partir do levantamento dos sites e das mídias digitais das entidades afiliadas cadastradas na Associação Brasileira de Autismo (ABRA), por meio da Análise de Redes Sociais (ARS), descrita por Recuero (2014, p.

62) como uma “forma de observar a estrutura social construída a partir de dados relacionais dos atores sociais (indivíduos ou instituições e grupos) e suas inter-relações”, visando mapear a interação das entidades com seus seguidores.

O recorte prioritário às páginas do Facebook pode ser justificado em dados como o levantamento Perspectivas do Cenário Digital Brasil 2018 da ComScore (2018), que aponta os usuários brasileiros de Internet entre os mais engajados do mundo, sendo que as redes sociais são onde os brasileiros gastam mais tempo, no mundo digital. Já a Pesquisa Brasileira de Mídia 2015, elaborada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (BRASIL, 2014) aponta que 92% dos usuários de Internet no Brasil estão conectados via redes sociais, sendo o Facebook (83%), o Whatsapp (58%) e o Youtube (17%), as mais utilizadas.

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Foram mapeadas sessenta e uma entidades, classificadas pela existência, atualização e interação de site e presença nas mídias digitais, com destaque para o Facebook, conforme dados apresentados abaixo.

Gráfico 1- Sites das entidades associativas de TEA

Fonte: gráfico elaborado pela autora

Gráfico 2 – Páginas de Facebook das entidades associativas de TEA

Fonte: gráfico elaborado pela autora

26%

16% 25%

33%

Não tem site

Site fora do ar

Site desatualizado há 2 anos ou mais

Site atual

17%

59%

21%

3%

Não possui

Página criada há mais de 5 anos

Página criada há 4 anos ou menos

Página registrada como pessoa

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Gráfico 3 – Última atualização da página de Facebook

Fonte: gráfico elaborado pela autora

Gráfico 4 – Quantidade de seguidores de Facebook

Fonte: gráfico elaborado pela autora

Ao mapear os sites das entidades, identifica-se que mais de 50% delas não possui ou está com o site fora do ar, impedindo o acesso a informações institucionais, agenda de eventos e notícias. Das trinta entidades restantes que possuem sites, um terço não realiza atualizações há mais de dois anos em suas páginas. Do total, apenas dez entidades divulgam e promovem seus eventos nos sites.

51%

21%

14%

14%

Menos de uma semana

De uma a quatro semanas

De um a doze meses

Mais de um ano

22%

64%

14%

Menos de 1000

De 1000 a 5000

Mais de 5000

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Em contrapartida às informações anteriores, os dados do gráfico 2 apontam a prevalência (83%) da existência de páginas das entidades no Facebook, sendo 59% com mais de cinco anos. Das cinquenta e uma páginas atualmente no ar, mais da metade está em constante atualização, como se nota no gráfico 3. Em que pese a atualização constante da maior parte das páginas, apenas 14% possui mais de 5.000 seguidores, o que pode comprometer a capacidade de reverberação de suas postagens. (ver gráfico 4)

32% das páginas nunca utilizou a ferramenta para criar eventos, 42% criou entre um e cinco eventos e 26% criou mais de seis eventos. A média de frequentadores confirmados pela ferramenta é de 38 pessoas para eventos pagos e 49 pessoas para eventos gratuitos. Apenas nove entidades (14%) possuem outras redes sociais digitais além do Facebook, com destaque para Instagram e Youtube.

Considerações finais

Ainda que este estudo represente uma visão preliminar, que proporciona novas frentes de análises, sobre a mobilização social via mídias digitais em prol de pessoas com deficiência, especificamente sobre o Transtorno do Espectro Autista, surgem alguns tópicos de reflexão, após o levantamento realizado.

Os dados coletados apontam para uma baixa presença das entidades associativas oficiais afiliadas à Associação Brasileira de Autismo (ABRA) no mundo digital. Ainda que o Facebook seja mais disseminado entre as associações, isto não significa que seu poder de penetração e engajamento esteja sendo usado de forma efetiva. A maioria das páginas demonstram baixo nível de interação por meio de curtidas e comentários nas publicações dos seguidores nos poucos eventos presenciais divulgados. A preponderância das publicações recai para atividades diárias das entidades e não estabelece um espaço de diálogo com seus seguidores, questão fundamental para criação de vínculos pessoais, que extrapolem a relação virtual.

Estudos prévios da autora sobre a temática de mobilização social em prol de pessoas com deficiência via comunicação digital apontam que a comunicação nos ambientes digitais demanda, entre outros aspectos, uma presença constante, que possibilite a criação de vínculos.

Presença caracterizada pelo alto volume de interações das páginas com seus seguidores, mas também, e principalmente, destes com as páginas. Ou

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seja, o esforço comunicacional começa pelas páginas, mas passa a ser coletivo, à medida que as pessoas impactadas “compram” para si aquela causa e tornam-se também disseminadores. Essas páginas bem-sucedidas tornam-se menos depositórios de informações do que ambientes de agregação de interesses comuns (SALVATORI, 2016)

Ao comparar a atuação digital das entidades associativas oficiais afiliadas à Associação Brasileira de Autismo (ABRA) com o objeto de estudo recente da página do Facebook do blog Lagarta Vira Pupa (SALVATORI, 2017), torna-se clara a disparidade do impacto causado. Com um volume de seguidores dez vezes maior do que a página oficial mais estruturada na presente análise (AMA-SP) e a frequência média nos eventos seis vezes maior, uma página pessoal, que surgiu inicialmente para divulgação sobre o tema para familiares e amigos e se tornou referência para conscientização e mobilização da sociedade, tem alcançado uma relação de proximidade com seus seguidores, que poderia servir de referência para as entidades associativas aqui mapeadas.

Com isso, surge um novo ponto para a pesquisa de doutorado da autora, que possibilita, em uma perspectiva propositiva, explorar o potencial pouco trabalhado das relações públicas para transformação da realidade, por meio de práticas comunicacionais de inclusão e fortalecimento da cidadania para as pessoas com deficiência.

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