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D ireitos S ociais C onstitucional dos A spectos da H ermenêutica

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A spectos d a H ermenêutica

C onstitucional dos

D ireitos S ociais

JOSÉ ANTONIO PANCOTTI*

R e s u m o : A luta por conquista de direitos civis e políticos construiu a democracia políti­

ca, d e u poder de organização ao povo, acesso à educação e fortaleceu as lutas operárias para conquistar os direitos sociais. O Estado p ó s - m o d e m o não p o d e prescindir d a força d o capital privado, da intervenção n o poder e c o n ô m i ­ co, d a perspectiva de inclusão social, erradicação da pobreza e vida c o m dignidade. A democracia nã o é mais restrita aos direitos políticos, porque abai­

xo de u m certo nível de bem-estar material, social e educacional as pessoas n ã o t o m a m parte da sociedade estatal. N ã o se concebe cidadania, se persistir o desrespeito à dignidade d a pessoa humana.

Sumário: Introdução; 1 D a O r d e m E c o n ô m i c a e Social; 1.1 O Estado e a e c o n o m i a - Welfare State; 1.2 D a o r d e m econômica e social nas constituições; 1.3 Inter­

pretação específica da o r d e m econô m i c a na Constituição Federal; 2 D o s D i ­ reitos Fundamentais; 2.1 Considerações iniciais; 2.2 Natureza das n o r m a s e o conteúdo dos direitos fundamentais; 3 D o s Direitos Sociais; 3.1 Considera­

ções iniciais; 3.2 D o s direitos sociais nas constituições; 3.3 Natureza dos Direitos Sociais; 3.4 A desregulamentação, a flexibilização, a terceirização e a hermenêutica constitucional; Conclusão.

Palavras-chave: Welfare State - inclusão social - cidadania - direitos fundamentais - globalização - dignidade h u m a n a - direitos sociais - hermenêutica.

I N T R O D U Ç Ã O

Buscar-se-á neste ensaio demonstrar q u e os direitos sociais integram o conceito de direitos fundamentais, nã o por serem ar­

rolados n o Título II da nossa Carta Política,

m a s porque a República Federativa do Br a ­ sil definiu-se c o m o u m Estado Democrático de Direito c o m fundamento na soberania, na cidadania, na dignidade d a pessoa humana, na igualdade, nos valores sociais d o traba­

lho, d a livre iniciativa, dentre outros.

*Juiz do TRT/15a Região e Mestrando e m Direito Constitucional. U N I T O L E D O - Araçatuba

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Pretende-se sustentar q u e os direitos sociais, d o ponto d e vista científico, consti­

t u e m pressupostos dos direitos f u n d a m e n ­ tais, porque são instrumentos jurídicos de

“inclusão social” q u e só c o m será efetiva, se fundamentada na cidadania.

n o v a c o n c e p ç ã o de cidadania. N o passo seguinte, enfoca-se os “direitos sociais” sob 0 influxo dos direitos fundamentais.

1 D A O R D E M E C O N Ô M I C A E SOCIAL

O legislador constituinte de 19 8 8 foi s e v e r a m e n t e criticado p o r a l g u n s e enaltecido por outros a o r o m p e r c o m a tra­

dição d o constitucionalismo brasileiro, por­

q u e transpôs o rol dos “direitos sociais” d o Título “D a O r d e m E c o n ô m i c a e Social” para o Título “D o s Direitos e Garantias F u n d a ­ mentais” , n a Constituição. N o Brasil, o tema adquiriu d i m e n s ã o constitucional e m 1934, n o Título “D a O r d e m E c o ­

n ô m i c a e Social” . N e s t a

posição, v a m o s encontrá-lo " O Estado pôs-moderno nas Constituições de 1946, caracterizase pela intervenção

na atividade econômica, criação das regras e adoção 196 7 e na E m e n d a Consti­

tucional n° 01 d e 1969. A transposição para o Título

“D o s Direitos e Garantias , . , . , ,. . Fundamentais” nã o foi por dos P ™ * P ™ de dmito m e r o capricho o u por a m o r econômico, além de intervir à estética. Decorre, antes d e , ~ . . .

tudo, da postura ideológica soaaK> Por fím0

e filosófica d o constituinte. de u m conjunto de disposições concernentes tanto ao N ã o se ignora, ao

contrário, enfatiza-se os re­

flexos desta opç ã o ideológi­

ca d o constituinte de 1988 n a hermenêutica constituci­

onal, s e m a pretensão de neste reduzido espaço, es­

gotar o tema.

A pesquisa se inicia pelo e x a m e na doutrina nacional e estrangeira, a noç ã o d o Estado Direito Democrático, inspirado no m o d e l o Welfare State, a sua construção, desenvolvimento e a crise q u e o coloca e m u m a verdadeira encruzilhada, quan d o se pro­

p õ e harmonizar o círculo entre crescimen­

to econômico (criação de riquezas), so­

ciedade civil (coesão social) e liberdade

dirigismo econômico, como no estatuto do cidadão e nos direitos dos trabalhadores. ”

1.1 O Estado e a economia - Welfare State

O Estado, na conc e p ç ã o clássica que tinha por funda m e n t o os ideais d o liberalis­

m o , era por natureza absenteísta, reservan­

do-se tão-somente atribuições restritas à produção d o direito, garantia das liberdades e da segurança. A Constituição limitava-se a definir a for m a de Estado, o regime políti­

co, a estruturação e organização d o poder político e a declaração dos direitos individuais. A n o ç ã o d e democracia era exclusi­

vame n t e política. Assim, não se admitia qualquer tipo de ingerência o u intervenção na o r d e m natural d a e c o n o m i a e n ã o se cogitava d e u m a atuação e m prol d o bem-es­

tar social “q u e garante ti­

po s m í n i m o s de renda, ali­

mentação, saúde, habitação, e d u c a ç ã o , a s s e g u r a d o s a todo cidadão, n ã o c o m o ca­

ridade, m a s c o m o direito político” '.

O Estado pós-moder- n o caracteriza-se pela inter­

venção na atividade eco n ô ­ mica, criação das regras e adoção dos princípios d e direito econômico, a l é m d e intervir nas relações sociais, por m e i o d e u m c o n j u n t o d e disposições concementes tanto ao dirigismo econômico, c o m o n o estatuto d o cidadão e nos direitos dos trabalhadores. A s constituições dos E s ­ tados p ó s - m o d e m o s defi n e m os seus fins e programas d e ação, s ob enfo q u e d e u m a orientação econômico-social c o m regras minuciosas e detalhistas, convivendo c o m política. Segue-se n o e x a m e d o significado n o r m a s genéricas q u e ape n a s e n u n c i a m e importância d o q ue se convencionou de- princípios gerais, cujoconteúdoe efetividade n o m i n a r d e “o r d e m e c o n ô m i c a e social” , ficam postergados para s e r e m impl e m e n - Desen v o l v e u m a breve análise dos direitos t a d o s o u d e s e n v o l v i d o s n o futuro, fundamentais. O s direitos fundamentais e a c o n f o r m e vier disciplinar o legislador

'BOBBIO, Norberto et al.

Dicionário de Politica,

Brasilia: UNB, 2004, 5’ ed, p.76-707.

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infraconstitucional. É o conceito de Consti­

tuição-dirigente2 característica d o Welfare State.

O s autores identificam os problemas teóricos originados d o aparecimento, conso­

lidação e crise d o Welfare State. Para uns, a evolução histórica e política das socieda­

des industriais p o d e ser distinta e m três fa­

ses: a primeira, por volta d o século XVIII, m a r c a d a pela luta e m busca d a conquista dos direitos civis (liberdade d e pensamento, de expressão); n o período seguinte (século XIX), constatam-se as reivindicações dos direitos políticos (participação e organização de partidos, propaganda, votar e ser votado etc) q u e c u l m i n a m c o m a

c o n s a g r a ç ã o d o sufrágio universal. Finalmente, n o terceiro período, o desenvol­

vimento d a democracia p o ­ lítica aume n t a o poder polí­

tico das organizações op e ­ rárias e o acesso d o opera­

riado a u m nível m í n i m o de instrução formal dá o t o m das lutas e d a conquista dos

“direitos políticos e sociais”.

Para outros, a causa princi­

pal da difusão d o Welfare State foi consequência da transformação da socieda­

d e agrária e m industrial.

Confrontando-se as dua s correntes d e p e n s a ­ mento, infere-se q u e a m b a s p o s s u e m elementos qu e se

s o m a r a m para impulsionar a criação e de ­ senvolvimento d o Welfare State, essencial- m e n t e porque os “ benefícios sociais” t ê m alto custo para o Estado, m a s é u m forte m e c a n i s m o de distribuição de renda e rique­

za q u e reforça e dinamiza a atividade eco­

nômica.

A crise d o Estado assistencial é u m f e n ô m e n o presente. Entretanto, o f e n ô m e ­ n o qu e os economistas d e s i g n a m c o m o “cri­

se fiscal” , p a r a definir o e l e v a d o endividamento público, nã o p o d e ser de fun­

d a m e n t o para sustentar a absoluta i n c o m ­

patibilidade de duas funções relevantes d o Estado: o fortalecimento d o desenvolvimen­

to social e o apoio à acumu l a ç ã o capitalista, ainda q u e c o m graves ônus à despesa públi­

ca. A h a r m o n i z a ç ã o destes dois grandes objetivos fundamentais de v e ser a proposta d o Estado contemporâneo, o Estado D e m o ­ crático de Direito, e m q u e c o n v i v e m os ide­

ais d a sociedade burguesa c o m u m a forte atuação sindical operária e dos partidos p o ­ líticos, admitindo-se, paralelamente, atuação efetiva de organizações n ã o - g o v e m a m e n - tais.

E m decorrência desta crise, a postu­

ra intervencionista d o Estado é combatida nos últimos vinte anos, m e ­ diante a m p l a c a m p a n h a por m e i o de palavras-chave m u i ­ to e m voga: “diminuição do t a m a n h o d o Estado”, “ajus­

te fiscal” e, n o nosso caso,

“redução d o custo Brasil”, sob o argum e n t o d e q ue o Estado d o bem-estar social t e m u m custo econômico ex­

cessivamente elevado, acar­

retando u m a insuportável carga tributária para a so ­ ciedade. Daí, o acentuado disc u r s o e m prol da d e s r e g u l a m e n t a ç ã o d a s rela ç õ e s e c o n ô m i c a s , flexibilização de n o r m a s ou m e s m o de redução dos di­

reitos sociais, diminuição da carga tributária, a f i m de minimizar os custos d e produção e t o m a r os produtos nacionais competitivos n o m e r c a ­ d o internacional, p o r i m p e r a t i v o d a globalização econômica o u da integração dos mercados.

N a sociedade d o c h a m a d o capitalis­

m o maduro3 , a intervenção d o Estado deve, por princípio, limitar-se à c o m p l e m e n - tariedade, porque o capitalismo foi capaz de transformar a força d e trabalho escravo e m trabalho livre, m a s nã o d e estabelecer a q ua­

lidade e a quantidade de trabalho q u e ne ­ cessita n o processo d e produção, d e m o d o a

A crise do Estado assistencial é umfenômeno presente. ”

"...o capitalismo foi capaij de transformar a força de trabalho escravo em trabalho livre, mas não de estabelecer a qualidade e a quantidade de

trabalho que necessita no processo deprodução. ”

’"ibidem”, p. 706-707.

’BOBBIO, Norberto et ai,

Dicionário de Politica,

2004, Brasília: U N B , 5’ cd..,p. 407.

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absorver toda a força de trabalho disponí­

vel. Assim, exige-se qu e o Estado d e s e m ­ pen h e as funções de proteção d o trabalho, da seguridade social etc (formas de predis­

posição das condições materiais d a produ­

ção); crie motivações consentâneas c o m o processo d o trabalho (apoio à família e aos m e c a n i s m o s de substituição d a família - agentes de socialização burguesa); regula­

m e n t e a força d e trabalho (formação pro­

fissional, qualificação, requalificação, migra­

ções internas, discipline as relações d e tra­

balho etc).

Enqu a n t o se combate, n o plano inter­

no, a postura estatal intervencionista, n o plano internacional, cada vez mais,

pugna-se por m e c a n i s m o s d e nítido caráter protecio­

nista. Assim, Estados q u e até p o u c o t e m p o e r a m par­

ceiros comerciais, d e u m m o m e n t o para outro, institu­

e m barreiras alfandegárias entre si, a f im d e preserva­

r e m m e r c a d o s internos, n u m a verdadeira necessida­

d e de afirmação d a sobera­

nia econômica nacional.

Aliás, são perigos da globalização econômica que c o m p r o m e t e m os conceitos d e “país”, d e “naç ã o ” e a noç ã o de Estado q u e se c o ­ l o c a m c o m o u m desafio e m harmonizar valores s e m os

quais a e c o n o m i a nã o sobrevive: o círculo entre crescimento e c o n ô m i c o (criação de riquezas), sociedade civil (coesão social) e liberdade política, c o m o ressalta o Profes­

sor Eros Roberto G r a u 4.

Acrescenta o Professor e Ministro d o S u p r e m o Tribunal Federal que:

“ [...] a globalização a m e a ç a a socie­

dade civil, na m e d i d a que: (i) está associada a novos tipos de exclusão social, gerando u m subproletariado (underclass), e m parte constituído d e marginalizados e m função da raça, nacionalidade, religião e outro sinal dis­

tintivo; (ii) instala u m a contínua e crescente competição entre indivíduos; (iii) c o n d u z à

destruição dos serviços públicos (= destrui­

ção d o espaço público e declínio dos valores dos serviços por ele veiculados). Enfim, a globalização, na fusão de competição global e de desintegração social, c o m p r o m e t e a li­

berdade.”

N ã o m e n o s verdadeira é a constatação de q u e na formação de blocos econômicos regionais ( C E E , M E R C O S U L , N A F T A etc) estimula a circulação de rique­

zas, c o m redução o u eliminação d e tarifas alfandegárias, m o e d a única etc, p o r é m , d e s a c o m p a n h a d a d o m e s m o grau de liber­

da d e para circulação de pessoas e a troca de experiências culturais. E m suma, os seus benefícios n o plano social são m e r a m e n t e indiretos o u re­

flexos.

1.2 Da ordem eco­

nômica e social nas cons­

tituições

O título da “O r d e m E c o n ô m i c a e Social” nas constituições m o d e r n a s foi introduzido nos primordios do século X X c o m a Constitui­

ç ão M e x i c a n a de 1917 e a Constituição de W e i m a r de 1919. N o Brasil, surgiu a partir d a Constituição d e 1934. A Constituição F e d e ­ ral de 1988 dividiu a matéria n o Título VII, “D a O r d e m E c o n ô m i c a e Financeira” e n o Título VIII, “D a O r d e m O regime constitucional vigente, alé m de instituir as bases constitucionais d o siste­

m a econômico, legitima o Estado a se apro­

priar das formas e dos mei o s de produção antes utilizados exclusivamente pela inicia­

tiva privada, para intervir na atividade eco­

nômica, e m prol d o desenvolvimento eco n ô ­ m i c o sustentado. Ajustificativa é a necessi­

dad e de ordenar na vida econômica, impor condicionamentos e racionalizá-la, sem, co n ­ tudo, substituir o u concorrer c o m as ativida­

des privadas, m a s atuar, primordialmente, dando-lhe suporte e, excepcionalmente, de for m a direta, m a s e m caráter supletivo.

"...são perigos da globalização econômica que comprometem os conceitos de ‘país", de "nação"

e a noção de Estado que se colocam como u m desafio em

harmonizar valores sem os quais a economia não sobrevive:

o círculo entre crescimento econômico (criação de riquezas), sociedade civil (coe­

são social) e liberdade política."

Social”.

■*A

Ordem econômica na constituição de 1988.

São Paulo: Malheiros.

2002. T

cd., p.40

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Esta característica d o Estado D e m o ­ crático de Direito reflete nas Constituições modernas muitas idéias qu e t ê m origem n o Socialismo, convivendo ou dando suporte às bases d o Capitalismo moderno. Revela c o m ­ promisso de equilíbrio entre as forças políticas tradicionais, liberalistas, e o atendimento das reivindicações populares dejustiça social.

E m sucinta análise d o art. 17 0 d a Constituição Federal, infere-se quais os fun­

d a m e n t o s e os princípios e m qu e se deve pautar a conduta d o Estado: livre iniciativa, propriedade privada, livre concorrência, va­

lorização d o trabalho, justiça social etc. O art. 173 disciplina a exploração direta da ati­

vidade e c o n ô m i c a pelo E s ­ tado, q u e só será permitida q u a n d o necessária aos i m ­ perativos de segurança na ­ cional o u relevante interes­

se coletivo, c o n f o r m e defi­

nir a lei. E m seguida, traçam regras para a criação d e en ­ tes paraestatais c o m o instru­

m e n t o s d e intervenção na o r d e m econômica, fixando o regimejurídicoa q u e se sub­

meterão, inclusive quanto às obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributárias, e m igualdade c o m o setor priva­

do; fixa a obrigatoriedade da licitação para a contratação d e obras, serviços, comp r a s e alienações, e m semelhan­

ça ao q u e se exige para os

entes d a administração direta; finalmente de ­ termina q u e a lei estabelecerá a responsabi­

lidade da pessoa jurídica (empresa pública, sociedade de e c o n o m i a mista e subsidiári­

as) por atos contra a “o r d e m econômica e financeira” e contra a economia popular.

S ã o n o r m a s e princípios q u e traçam r u m o s a ser e m seguidos e criam os m e c a ­

nismos para alcançar os fins a q u e se pro­

pôs o Estado d o bem-estar social. Assim, toda espécie normativa infraconstituciona!

q u e contrariar tais regras e princípios será reputada inconstitucional. N o m e s m o senti­

do, os atos e decisões judiciais o u adminis­

trativas q u e se desvirtuarem d o q u e preco­

n i z a m os co m a n d o s normativos e os princí­

pios constitucionais.

13 Interpretação específica da or­

d e m econômica na Constituição Federal A s peculiaridades da interpretação constitucional, u m estatuto jurídico-político, nos leva a sopesar “ valores5 políticos, eco­

nômicos e sociais” e perqui­

rir c o m o eles interferem n o plano jurídico. Constatam-se os valores políticos pelos princípios expressos e implí­

citos q ue a Constituição ad o ­ ta. Sabidamente, a Constitui­

çã o n ã o é u m simples c on­

junto de regras, m a s de re­

gras e princípios6 . Estes é q u e v ã o da r c o l o r a ç ã o interpretativa às regras constitucionais. A f u n ç ã o dos princípios é exatamente ori­

entar pa r a u m a e x e g e s e conf o r m e os ideais traçados pelo constituinte.

O Professor G o m e s Canotilho7 leciona q u e atra­

vés d o [...] princípio d a in­

terpretação das leis e m conformidade c o m a constituição, se escolhe a interpretação sistemática q u e dá prevalência à Constitui­

ção, ou seja, n ã o contrária a o texto e pro­

g r a m a d a n o r m a constitucional. P o r outras palavras, n ã o se interpreta a íet a partir de u m a particular expressão da Constituição, m a s dentro d o seu conjunto sistemático.

"Aspeculiaridades da interpretação constitucional, u m estatuto jurídico-político, nos leva a sopesar “valores políticos, econômicos e sociais’’

eperquirir como eles interferem no planojurídico. ”

‘"'Valor', em sentido normativo, é tudo aquilo que orienta (indica diretriz) a conduta humana. É um vetor (indica sempre um sentido) que gttia, atrai, consciente ou inconscientemente, o ser humano. O valor comporta sempre um julgamento, e, pois, uma possibilidade de escolha entre caminhos diferentes. Isso porque a cada valor corresponde um desvalor. Nesse sentido, a democracia é um valor político; a ditadura, um desvaían Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa (inciso IV) são, assim, os elementos que lhe dão o rumo do bem-estar social'. c(„

José Afonso da Silva, op.,cit. p.35)

6A expressão princípio “Aparece com sentidos diversos. Apresenta a acepção de começo e inicio e de inandamenro nuclear de tnn sistema..."

Afonso da Silva, José, op. cit... p.35.

’Direito constitucional e teoria da constituição,

Portugal. Lisboa: Almedina, 2001. 3* ed., 1151-1152.

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E m hermenêutica constitucional, nã o se p o d e ignorar a opção ideológica d o cons­

tituinte, sob pen a de realizar u m a interpre­

tação periférica e fora d o seu contexto, isto é, n ã o se conseguirá adentrar ao â m a g o da m e n s a g e m q u e c o n t é m os preceitos consti­

tucionais. O direito positivo é decorrente da ideologia constitucionalmente adotada e q u e se extrai nã o só na literalidade dos pre­

ceitos, c o m o do s princípios expressos e i m ­ plícitos adotados pela Constituição.

A Constituição Federal, destaque-se, já na definição “D o s Princípios F u n d a m e n ­

tais” , declara os fundamentos d o Estado Democrático: a dignidade d a pessoa h u ­ m a n a ; os valores sociais

d o trabalho e da livre ini­

ciativa (no art. Io, III e IV);

construir u m a sociedade livre, justa e solidária;

garantir o desenvolvimen­

to econômico; erradicar a p o b r e z a e a mar g i n a - lização e reduzir as desi­

gualdades sociais e regi­

onais; promover o b e m de todos, s e m preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e qualquer outras f o r m a s de discriminação (no art. 3o, I, II, III e IV); a independência nacional, prevalência dos direitos h u m a n o s (art. 4 a, I e II).

Estes são fundam e n t o s do Estado de Direito D e m o c r á ­

tico q u e se d e s d o b r a m e o u estão definidos, de f o r m a particular, n o Título VII “D a O r ­ d e m E c o n ô m i c a ” e cria m e c a n i s m o s de pro­

teção e garantia d o sistema capitalista, de ­ fine política d e contenção d e abusos d o p o ­ der e c o n ô m i c o (art. 17 0 a 192); e na defini­

ção “D a O r d e m Social” institui mecan i s m o s d e desenvolvimento social, proclama a ne ­ cessidade d e redução d e desigualdade so­

cial e d a pobreza, através d e ações q ue

garantam ao cidadão: acesso ao trabalho, pre­

vidência social, saúde, educação, assistên­

cia social, proteção d o m e i o ambiente, cul­

tura, família, criança, adolescente e idoso etc.

(art. 6°, 7 a e 193 a 232).

É possível sustentar, diante d o sucinto quadro acima, q u e os ideais explícitos e subjacentes na Constituição d o Estado D e m o ­ crático de Direito são de preservar e reforçar mecanismos de acumulação de Capital, m a s desenvolver ações e reforçar as bases d e polí­

ticas sociais b e m definidas para preservar valo­

res típicos do Socialismo: reduçãodas desigual­

dades, distribuição de renda, acesso aos servi­

ços e bens públicos, enfim inclusão social.

2 D O S DIR E I T O S F U N ­ D A M E N T A I S

2.1 Considerações iniciais

O estudo dos direitos fundamentais ganha especial relevância, porque são alicer- c e d o Estado Democrático de Direito, na medida e m que nele repousae legitima-se. Assim, nã o há c o m o dissociar a n o ­ ção de Estado d e Direito e direitos fundamentais.

N ã o é por outra razão qu e o Mes t r e Perez L u ñ o 8 sustenta q u e h á u m n e x o de interdependência genético e funcional éntre o Estado de Direito e os Direitos Fundamentais, ya que el Estado de Derecho exige e implica para serlo garantizar los derechos f u n d a m e n ­ tales, mientras que éstos exigem e impli­

c a m pa r a su realización al Estado de Derecho.

O enfoque temático deste m o d e s t o trabalho permite fíxar-se na n o ç ã o de “di­

reitos fundamentais”9 n o sentido limitação imposta pela s o b e r a n i a p o p u l a r aos

"...es ideais explícitos e subjacentes na Constituição do Estado Democrático de Direito

são de preservar e reforçar mecanismos de acumulação de Capital, mas desenvolver ações e

reforçar as bases de políticas sociais bem definidaspara preservar valores típicos do Socialismo: redução das desigualdades, distribuição de renda, acesso aos serviços e bens públicos, enfim inclusão social. ”

“F E R R A J O L I el al.

Los derechos fundamentales, pp. 19-20.

Zeno Simm,

apud. Os direitos fundamentais nas relações de trabalho.

_São Paulo:Revista LTr 2005. n.

69,

p.11/1287.

” 'Nâo

é

uniforme o emprego dos lermos •direitos humanos’, 'direitos fundamentais’, ‘direitos fundamentais do h o m e m ’, pois depende do enfoque que se der ao tema. Assim, do ponto de vista da:

a) ciência jurídica positiva,

entendida como análise empírica das normas de direito positivo de u m determinado ordenamento, seja estatal ou internacional; b)

a filosofìa política ou da justiça,

entendida como doutrina normativa e m tomo de valores dtico- políücos que merecem ou clamam ser tutelados como direitos fundamentais; c)

a teoria do

direito, entendida como sistema de conceitos e afirmações idôneas para denotar e explicar as formas e estruturas do direito positivo". Cf., F E R R A J O L I et all,

Los fundamentos de tos derechos fundamentales”,

p. 287,

apud

Zeno Simm,

Os direitos fundamentais nas relações de trabalho.

Sãp Paulo: Revista Llr.2005.n 69,p.ll/l289.

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Poderes constituídos do Estado que déla dependem. S ã o fundamentais, c o m o salienta José A f o n s o da Silva10 porque se trata de situações jurídicas s e m as quais a pes­

soa h u m a n a n ã o se realiza, n ã o convive e, às vezes, n e m m e s m o sobrevive;

N o plano Direito Público Internacio­

nal, são diversos os instrumentos políticos e jurídicos q u e reve l a m a preocupação e m proteger o direito à vida, segurança, digni­

dade, liberdade, honra, moral, propriedade, entre outros. E u m reconhecimento da ne ­ c e s s i d a d e primordial d e p r o t e ç ã o e efetividade d o q ue se convencionou d e n o ­ minar d e “direitos h u m a n o s ” .

A s constituições do s Estados pós- m o d e m o s e os tratados internacionais recen­

tes revelam evolução da concepção d e D i ­ reitos Fundamentais c o m significativa a m ­ pliação, para compr e e n d e r prestações posi­

tivas d o Estado. Assim, nos primóidios tinha significado vertical (na relação indivíduo x Estado). Hoje, t e m sentido horizontal (nas relações privadas). Agiganta-se, assim, a noç ã o de direitos fundamentais c o m o a efi­

cácia de valores intrínsecos c o m o a digni­

dad e d a pessoa h u m a n a e a igualdade entre os homens.

Dentre todos os valores qu e a C o n s ­ tituição Federal de 1988 define c o m funda­

m e n t o d o Estado Democrático d e Direito, sob o ponto de sua c o n e x ã o íntima c o m os direitos sociais, destacam-se a cidadania, a dignidade da pessoa humana, d a igual­

dade, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa.

kciãadania, c o m o ensina José A f o n ­ so da Silva'2, é o reconhecimento do indi­

víduo c o m o integrante da sociedade es­

tatal. (...) consiste n a consciência perti­

nente à sociedade estatal c o m o titular de direitos fundamentais. N ã o se re­

s u m e à titularidade d e direi­

tos políticos, m a s de cidadão qu e requer providências es­

tatais n o sentido d e satisfa­

ção d e todos os direitos fun­

damentais e m igualdade de condições.

A dignidade da pes­

soa h u m a n a é u m conceito q u e r e ú n e dois valores indissociáveis: pessoa h u ­ m a n a e sua dignidade. A pessoa h u m a n a é o ser ra­

cional, dotado de livre arbí­

trio q u e existe c o m o fim e m si m e s m o , já q u e nã o po d e servir de objeto-meio para outros fins. Nisto difere das coisas, objeto-meio para a consecução de fins outros. É por isso q u e a pessoa h u m a n a se revela c o m o valor absoluto, porque sua natureza racional existe c o m o fim e m si m e s m a (Kant). A dignidade é u m atributo intrínseco da pessoa h u m a n a , constituindo sua essência. E o único ser q u e c o m p r e e n ­ d e u m valor interno, superior a qualquer o u ­ tro, qu e nã o admite substituição por valor equivalente. É o valor s u p r e m o d o qual de­

correm todos os direitos fundamentais. C o m efeito, n ã o basta a liberdade formalmente declarada n a Constituição, s e m q u e se N o plano jurídico in­

terno d e cada Estado, os D i ­ reitos F u n d a m e n t a i s se constituem pelo conjunto de direitos e garantias d e c o n ­ teúdo negativo, cuja finalida­

d e básica é o respeito à dig­

nidade d a pessoa h u m a n a , contra o arbítrio estatal e o estabelecimento de condi­

ções m í n i m a s d e vida e de ­ senvolvimento da personali­

da d e n o plano material e es­

piritual. Daí, P o n t e s d e M i r a n d a considerá-los

“ supreaestatais” porque são direitos frente ao Estado ou são devidos ao ser h u m a ­

¡Agigauta-se, assim, a nação de direitos fundamentais como a eficácia de valores intrínsecos como a dignidade

da pessoa humana e a igualdade entre os homens. ”

"A. dignidade ê u m atributo intrínseco da pessoa

humana, constituindo sua essência.no, p o r exigência d a or­

d e m jurídica supraestatal,

o u conseqüência d a altura das liberda­

des no ambiente m e s m o d a Constituição.1’

'°DireUo constitucional positivo.

São Paulo: Malheiros, 1989, 5“ edição, p. 159.

"Comentários à Constituição de 1946.

Rio de Janeiro: Bolsoi. 1900. 3" ed., p. 242-243.

"Comentário contextual à Constituição.

São Paulo: Malheiros, 2005, l* edição, p.3G.

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reconheça a dignidade da pessoa, c o m o co n ­ dição m í n i m a de existência. Existência dig­

n a c o n f o r m e os ditames d a justiça social, c o m o fi m da o r d e m econ ô m i c a justa.

A s funções sociais do trabalho não só n a liberdade de escolha d a atividade ou profissão, m a s d e acesso ao m e r c a d o d e tra­

balho e m igualdade de condições e s e m dis­

criminação, direito à remuneração q u e as­

segure ao trabalhador e sua família existên­

cia digna. O s valores sociais do trabalho e d a livre iniciativa entram n a formulação d o conceito d o Estado neoliberal, e m q u e a propriedade e o lucro se inserem n o contex­

to d e justiça social.

O princípio d a igual­

dade dev e orientar-se a par­

tir d a m á x i m a de Aristóteles q u e preconiza tratamento igual aos iguais e desigual aos desiguais, n a medida dessa desigualdade.13

N ã o é fácil, poré m , determinar, e m ca d a caso concreto, q u e m são os iguais, q u e m são os desiguais e qual a m e d i d a dessa desigualda­

de. Assim, o empregador, no exercício d o poder legítimo d e zelo, guarda e controle de seu patrimônio, t e m o direito d e fazer revista íntima dos e m p r e g a d o s d a fábrica de jóias, na saída d o trabalho.

Entretanto, se c o m e t e excessos e abusos à intimidade, incorre e m ofensa à dignidade d a pessoa h u m a n a , ensejando a reparação por d a n o moral. É razoável, porém, q u e a indenização seja atribuída e m valor m e n o r para os funcionários d o q u e para as funcio­

nárias, s e m ferir o princípio da igualdade. O tratamento é desigual, justificando-se pelo mai o r grau d e sensibilidade da mulher, na preservação d a sua intimidade. O princípio da igualdade legitima q u e o juiz e o legisla-

d o r d ê e m tratamento distinto, c o m f u n d a m e n ­ to razoável, s e m descambar para o arbítrio14 5 1 6 . Neste sentido, a Constituição autoriza dis­

criminações justificáveis, para proteger gru­

pos d e pessoas q u e m e r e c e m tratamento diverso, q u a n d o assegura o privilégio da pos­

se de terras aos indígenas (CF/88, §2° art.

231); a proteção ao m e r c a d o de trabalho da mul h e r (CF/884, art. 7 o, X X ) ; proibição d o trabalho noturno, perigoso o u insalubre d o m e n o r de 18 anos etc.

N ã o é possível sustentar, c o m o o sau­

dos o Pontes de M i r a n d a 7-5, q u e há direitos fundamentais absolutos e relativos. O s ab ­ solutos existiram, nã o c o n f o r m e a lei os cria ou regula, m a s a despeito

“O princípio da igualdade legitima das le *s ( supraestatais ), que ojui^eo legisladordêern c o m o à liberdade pessoal, à

tratamento distinto, com Vlda>à inviolabilidade d o do- fundamento razoável, sem ™ cího o u d a correspondên- descambarpara o arbítrio." c 'a> enquanto OS relativos

v a l e m c o n f o r m e a lei, c o m o

"... «r direitos humanos 0 direit0 d e Propriedade.

fundamentais não podem ser N ã o há c o m o discor- utilitfados como u m verdadeiro dar d o Professor Alexandre

escudo protetivo da prática de d e M o r a e s 76 q u e preconiza atividades ilícitas, nem tampouco o Princípio cia relativida- como argumento para afastamento de ou convivência das li­

ou diminuifão da responsabilidade berdades públicas, so b o civil ou penal por atos criminosos, argumento de q ue os direi-

sobpena de se consagrar o tos h u m a n o s fundamentais desrespeito a u m verdadeiro n ã o p o d e m ser utilizados Estado de Direito. ” c o m o u m verdadeiro escu­

do protetivo da prática de atividades ilícitas, n e m t a m p o u c o c o m o argumento para afastamento o u diminuição da responsabilidade civil ou penal por atos criminosos, so b pe n a d e se consagrar o desrespeito a u m verdadeiro Estado d e Direito. Assim, h á julgados d o S u p r e m o Tribunal Federal e m q u e n ã o se reconhece c o m o absoluto a inadmissibilidade de provas obtidas por mei o s ilícitos (CF/88, art. 5o, LVI), c o m o se observa d o excerto de acórdão:

1!D A V I D A R A Ú J O , Luiz Alberto e N U N E S JÚNIOR, Vidal Serrano.

Curso de direito constitucional,

São Paulo:

Saraiva, 1999,

2‘

ed., p.76.

“C A N O T Í L H O , J.J. Gomes.

Direito constitucional e leoria da constituição,

Coimbra (Portuga!):Almedina, 1999, 3*

ed., p.401.

l5op. cit. p. p. 257-2G8.

16Direitos humanas fundamentais,

São Paulo: Alias, 2005.

6

° edição, p28.

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“Objeção d e princípio— e m relação à qual hou v e reserva de Ministros d o Tribunal

— à tese aventada de qu e à garantia constitu­

cional da inadmissibilidade da prova ilícita se possa opor, c o m o fim de dar-lhe prevalência e m n o m e do princípio da proporcionalidade, o interesse público n a eficácia da repressão pe­

nal e m geral ou, e m particular, na de determi­

nados crimes: é que, aí, foi a Constituição m e s ­ m a q ue ponderou os valores contrapostos e optou — e m prejuízo, se necessário da eficá­

cia d a persecução criminal — pelos valores fundamentais, da dignidade humana, aos quais serve de salvaguarda a proscrição da prova ilícita: de qualquer sorte — salvo e m casos e x t r e m o s d e necessidade

inadiável e incontomável — a ponderação de quaisquer in­

teresses constitucionais oponíveis à inviolabilidade do domicílio n ã o c o m p e t e a posteriori ao juiz d o processo e m qu e se pretenda introdu­

zir ou valorizar a prova obtida na invasão ilícita, m a s si m àquele a q u e m incu m b e auto­

rizar previamente a diligên­

cia.” (STF, H C 79.512, Rei.

Min. Sepúlveda Pertence, D J 16/05/03)

N ã o se d e s c o n h e c e ser possível sustentar q u e o direito subjetivo d e n ã o ser torturado é absoluto, c o m a m p a r o n a regra d o art. 5o, III da Constituição.

'Pelofaio de a Constituição ter feito u m esforço sistematizador, tornando mais extenso e completo o catálogo dos direitos, Uberdades e garantias, não está excluído que

alguns dos direitos económicos, sociais e culturaispossam ser configurados como direitos de natureza análoga aos direitos,

liberdades e garantias fundamentais."

2.2 N a t u r e z a d a s n o r m a s e o c o n ­ teú d o d o s direitos f u n d a m e n t a i s

C o m o v i m o s acima, insigne Mestre P o n t e s d e M i r a n d a /7o s c o n s i d e r a v a

“supraestatais” . Para o Professor José A f o n ­ so da SilvaM são situações jurídicas (objeti­

vas e subjetivas) definidas n o direito positi­

vo, e m prol da dignidade, igualdade e liber­

d a d e da pessoa h u m a n a . Trata-se, portanto, de norm a s de direito constitucional, porquan­

to n a s c e m e se f u n d a m e n t a m na própria Constituição, tendo por fonte da soberania popular. Este m e s m o autor se posiciona n o 1 7

sentido de q u e a eficácia e aplicabilidade de tais n o r m a s d e p e n d e m muito d o seu enunci­

ado. Neste sentido, enfatiza, o § Io d o art. 5 o d a Constituição Federal estatui q u e as nor­

m a s definidoras dos direitos e garantias fun­

damentais t ê m aplicação imediata. Ressal­

va, n o entanto, qu e as n o r m a s q u e definem os direitos econômicos e sociais são d e efi­

cácia limitada, porque d e p e n d e m d e legisla­

ção ulterior q u e as discipline para a sua efi­

cácia e aplicabilidade. Curiosamente, há re­

gras q u e n ã o se qualificam c o m o “direitos sociais” , m a s q u e definem direitos públicos subjetivos q u e d e p e n d e m d e n o r m a s infraconstitucionais para ter eficácia. É o caso d a gratuidade d o regis­

tro de nascimento e d a cer­

tidão de óbito, aos reconhe­

cidamente pobres (CF/88, art. 5 o, L X X V I ) e a prote­

ç ão aos locais de cultos e suas liturgias, para assegu­

rar o direito à liberdade de manifestação d e crença re­

ligiosa (CF/88, art. 5 o, VI).

N ã o h á d ú v i d a q u e na s hipóteses e m q u e a Constituição p r o c l a m a a inviolabilidade d o direito à vida, à liberdade, à proprie­

dade, à igualdade, à dignida­

d e d a pessoa etc, no s ter­

m o s e m q u e se d e s d o b r a m nos incisos d o seu art. 5 o, tais n o r m a s t ê m eficácia e aplicabilidade plena e imedi­

ata. N ã o se p o d e esquecer, porém, q u e há inúmeras situações e m q u e se remete à lei (espécie normativa infraconstitucional), a dis­

ciplina o u regramento para o exercício des­

te o u daquele direito. Assim, n ã o se e n c o n ­ tra esta limitação tão-somente e m n o r m a s q u e estatuem o rol d e direitos sociais. Por out r o lado, c o m o ensi n a o Profe s s o r Canotiiho'9, pelo fato d e a Constituição ter feito u m esforço sistematizador, t o m a n d o mais extenso e completo o catálogo dos di­

reitos, liberdades e garantias, n ã o está ex ­ cluído q u e alguns dos direitos econômicos, sociais e culturais, p o s s a m ser configurados

17op. cit. p. 257-268.

’“op.cit, p. pl60 ,,op.ci(„p.579.

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c o m o direitos d e natureza análoga aos direi­

tos, liberdades e garantias fundamentais.

Enfim, a distinção qu e faz o Profes­

sor José A f o n s o d a Silva n ão parece ser cri­

tério definitivo (sob a ótica d a eficácia e aplicabilidade) para explicar a natureza jurí­

dica das n o r m a s q u e disciplinam os direitos e garantias fundamentais. N ã o se p o d e dele discordar, n o entanto, qu e por se tratar de direito positivo, o intérprete fica limitado ao enunciado da norma.

reitos fundamentais n ã o t ê m u m a conc e p ­ ç ão jusnaturalista, pois são fruto d a cultura h u m a n a e n ã o algo concedido pela natureza à pessoa h u m a n a desde o seu nascimento.

Neste sentido, é pertinente a afirmação de Cláudia Toledo20: O s direitos fundamentais são, destarte, construídos, conquistados pelo h o m e m , não lhe sendo m e r a m e n t e dados pela natureza.

3 D O S DIREITOS SOCIAIS 3.1 Considerações iniciais O s direitos fundamentais são t a m b é m

h u m a n o s , na m e d i d a e m q u e direitos de n a ­ tureza d e direitos h u m a n o s são declarados n a Constituição. Há, p o r é m

direitos fundamentais qu e n ã o t ê m natureza d e direitos huma n o s . O s direitos h u m a ­ nos apresentam-se c o m o o g r u p o d e valores básicos para a vida e dignidade h u ­ m a n a s atribuídos universal­

mente. S ã o valores ínsitos e indispensáveis para o desen­

volvimento d o h o m e m e m sua d i m e n s ã o biológica, psí­

quica e espiritual. Eles são o conteúdo dos direitos funda­

mentais, porq u e estes lhes d ã o apenas f o r m a jurídica. A transformação daqueles va­

lores indispensáveis à vida e dignidade h u m a n a s era direi­

tos subjetivos coincide c o m a p a s s a g e m d o E s t a d o

m o n á r q u i c o absolutista francês à Repúbli­

ca, decorrente da Revo l u ç ã o Francesa de 178 9 e d a Declaração dos Direitos d o H o ­ m e m e d o Cida d ã o q ue lhe segue, t a m b é m e m 1789.

"Os direitos humanos apresentam-se como o grupo de

valores básicos para a vida e dignidade humanas atribuídos

universalmente."

"...os direitosfundamentais são, destarte, construídos, conquistados pelo homem, não

lhe sendo meramente dados peta natureza. ”

O “problema social” surge a partir da

“ Ques t ã o Social”, e m m e a d o s d o século X I X , c o m o decorrência da “R e v o l u ç ã o In­

dustrial” q u e se iniciou na Inglaterra n o Século XVIII.

A “Questão Social” é u m fe­

n ô m e n o q ue eclodiu e m con­

sequência d a concentração d o capital industrial e d a fal­

ta de condições de infra-es­

trutura social d o Estado. O quadro é reconhecido: o e m ­ pobrecimento d a m a s s a d e trabalhadores, inclusive dos artesãos s e m m e i o s para massificação d a produção industrial; a a g l o m e r a ç ã o urbana resultante d a migra­

ção da mão-de-obra d o c a m ­ po; a desagregação famili­

ar pela mobilização d a m ã o - de-obra feminina e das cri­

anças para as fábricas; e o grande distanciamento entre classes sociais. T u d o longe d e constituir u m fenô m e n o individual e transitório, era u m p r o - b l e m a coletivo e duradouro q u e trazia gra­

ves prejuízos à o r d e m pública, social, políti­

ca e à atividade econômica.

O s direitos fundamentais por decla­

rar e m valores primordiais tom a d o s jurídicos, apresentam-se c o m o a racionalização ética po r excelência, situando-se n o ápice d o ordenamento jurídico nacional. S ã o direitos matizes de todos os demais, por lhes dar fun­

d a m e n t o e deve m , portanto, ser dispostos na lei m á x i m a nacional, a Constituição. O s di­

I n f o r m a B o b b i o , M a t t e u c c i e Pasquino2' q u e até o início d o século X I X as corporações d e artes e ofícios d e s e m p e ­ n h a v a m inclusive a tarefa assistencial. C o m o fi m destas corporações, as sociedades de socorro m ú t u o passaram a desenvolver atri­

buições previdenciárias qu e n ão incorpora­

v a m a grande m a s s a de trabalhadores.

mlbidem,

p. 60.

:,Op. cii, p.403

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A “Revo l u ç ã o Industrial” e a “Q u e s ­ tão Social” são f e n ô m e n o s q u e evidenciam o fi m de u m a concepção orgânica de socie­

d a d e e d o Estado, s e g u n d o B o b b i o , Matteucci e Pasquino22. Desde, então, fi­

c o u clara a separação absoluta entre a sociedade e o Estado, cabe n d o a este ape­

nas a detenção d o poder político e a inter­

venç ã o policial, para “restabelecer a o r d e m pública” .

O “probl e m a social” q u e assustava a burguesia requeria pronta e eficaz interven­

çã o d o Estado, m a s cedo concluiu-se q ue colocar a polícia na rua “para manter a or­

d e m pública” , nã o era solução. Sentiu-se a necessidade d a intervenção

estatal nas relações de tra­

balho, fixando garantias m í ­ nimas, para desestimular as mobilizações t o m o de reivin­

dicações operárias. Assim, passou a limitar a jornada m á x i m a diária, adotar m e d i ­ das d e higiene e segurança d o ambiente d e trabalho, fi­

xar r e m u n e r a ç ã o m í n i m a mensal etc. Somav a - s e a isto u m conjunto de medi d a s ca­

pazes de propiciar às m a s ­ sas trabalhadoras recobra­

r e m os valores individuais e profissionais, b e m c o m o p o ­ líticas públicas d e acesso ao m e r c a d o de trabalho, à m o ­ radia, à educação, à assis­

tência à saúde; a criação de seguro o u previdência social etc.

3.2 Dos direitos sociais n a s cons­

tituições

É n a Inglaterra e n a A l e m a n h a de B i s m a r c k q u e se p õ e e m prática, n o final d o século X I X , u m a legislação d e disciplina da atividade nas fábricas e se cria u m sistema d e previdência social, c o m seguro obrigató­

rio contra doença, velhice e invalidez. A B é l - gica e a D i n a m a r c a aplicam a lei a l e m ã n o capítulo referente às disposições de pensio­

nistas (1891-1898). A Suíça instituiu o segu­

ro social, através d e E m e n d a Constitucional

(1890). E s t a e m e n d a é a g ê n e s e d a constitucionalização dos direitos sociais.

Segue-se a Constituição M e x i c a n a d e 1917 e a Constituição de W e i m a r de 1919. N o Brasil, surgiu a partir da Constituição de 1934 e é mantida e m todas as Cartas Políticas posteriores.

O s direitos sociais, n a doutrina d o Professor Alexandre d e M o r a e s 23: [...] se caracterizam c o m o verdadeiras liberdades positivas, de observância obrigatória n o E s ­ tado Social d e Direito, tendo por finalidade a melho r i a da s c o n d i ç õ e s d e vida aos hipossuficientes, visando à concretização da igualdade social, e são consagrados c o m o de fundamentos d o Estado Democrático, pelo art. 1 °, IV, da Constituição Federal.

"O "problema social" que assustava a burguesia requeria pronta e eficaz intervenção do Estado, mas cedo conduiu-se que

colocar a policia na rua "para manter a ordem pública",

não era solução."

"A Suíça instituiu o seguro social, através de Emenda Constitucional

(1890). Esta emenda é a gênese da constitucionalização

dos direitos sociais. ”

A Constituição d e 1988 discrimina o rol dos direitos sociais: a educação, saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternida­

d e e à infância, assistência aos desam p a r a ­ dos (art. 6o). O patamar m í n i m o de direito dos trabalhadores urbanos e rurais são ar­

rolados n o art. T d a Consti­

tuição. N o Título V H “D a O r d e m Social” define as formas d e custeio e de se­

guro social (previdência so­

cial), a assistência social e a proteção à saúde; o direi­

to de acesso à educação, à cultura e aos desportos; o incentivo ao desenvolvimen­

to científico, à pesquisa e à capacitação tecnológica; a liberdade de manifestação de pensamento, artística e cultural; garantia d e m e i o a m b i e n t e ecologicamente equilibrado; reconhecimen­

to às diversas formas d e or­

ganização familiar, a l é m da proteção à criança, ao a d o ­ lescente e a o idoso; preser­

vação d e valores sociais e culturais e pres­

tação de assistência às comun i d a d e s indí­

genas.

JiOp. cit, p.403

aCurso de direito constitucional.

São Paulo: Atlas, 1989,4* ed., p.181.

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Enquantoos “direitos individuais” tê m por característica fundamental a imposição de conduta negativa o u de n ã o fazer para o Estado, os direitos sociais e x i g e m d o Poder Público diversas atividades e prestações positivas, c o m vistas a propiciar o b e m - es­

tar e o pleno desenvolvimento d a personali­

dad e huma n a , sobretudo o a m p a r o e m m o ­ ment o s que, por contingências d a própria existência, e x i g e m maiores recursos, qua n ­ d o as pessoas t ê m m e n o s possibilidades de conquistá-los por seus próprios m e i o s 24, c o m o n a doença, infância, velhice etc.

É neste sentido q u e Canotilho25 afir­

m a tratar-se d e [...] direitos a prestações significam, e m sentido es­

trito, direito d o particular

“...os direitos sociais exigem do Poder Público diversas atividades

e prestações positivas, com vistas à propiciar o bem estar e ao

pleno desenvolvimento da personalidade humana,...

“...direitos a prestações significam, em sentido estrito, direito do particular obter algo

através do Estado (saúde, educação segurança social)."

h o m e m o u d o cidadão genéricos e abstractos, f a z e n d o intervir t a m b é m o trabalhador (exactamente: o trabalhador subordinado) c o m o titular de direitos d e igual dignidade.

obter algo através do Es­

tado (saúde, e d u c a ç ã o s e g u r a n ç a social).

C a n o t i l h o e Vital More i r a 26 ressaltam q u e a garantia de direitos m í n i m o s d o s trabalhadores, nestes termos: [...] a individuali­

zação de u m a categoria de direitos e garantia dos tra­

balhadores d e caráter pes­

soal e político, reveste-se de u m particular significado constitucional, d o ponto e m q u e ela traduz o a b a n d o n o de u m a concepção tradicio­

nal dos direitos, liberdades e garantias c o m o direitos d o

Esta postura intervencionista, n o que toca especificamente aos trabalhadores, re­

vela o a b a n d o n o da posição absenteísta d o Estado qu e a s s u m e postura pró-ativa a fa­

vor da igualdade substancial entre as partes n o contrato d e trabalho, preserva a dignida­

d e d o cidadão trabalhador.

3.3 Natureza dos Direitos Sociais C o m o visto a c i m a , o Professor Canotilho27 ensina q u e muitos dos Direitos Fundamentais são direitos de personalida­

de e q u e hoje e m dia, dad a a interdepen­

dência entre o estatuto positivo e o estatuto negativo d o cidadão, cada vez mais os direi­

tos fundamentais t e n d e m a ser direitos de personalidade.

O fator trabalho nã o é mais conside­

rado algo degradante e vergonhoso para o h o m e m livre. O h o m e m m o d e r n o n ã o p o d e limitar-se à vida contemplativa e à atividade militar, c o m o os antigos. A o contrário, o trabalho t e m hoje a concepção d e u m va­

lor social prestigiado, por­

q u e é a atividade h u m a n a destinada a transformar o u adaptar recursos natu­

rais c o m o fim de produzir bens e serviços que satis­

f a ç a m as necessidades in­

dividuais e coletivas2S.

A importância d o tra­

balho nã o t e m só esta d i m e n ­ são econômica, m a s psico­

lógica e ética q u e permite ao h o m e m e à mul h e r realizar- se c o m o pessoa. S o b este aspecto, chega-se a divinizar o trabalho, s e m considerar apenas os seus fins sociais e econômicos.

É por isso q u e se p o d e dizer q ue o trabalho é manifestação da personalidade, porque se constitui n u m a atividade q u e se pod e exercer c o m liberdade e dignidade, nos limites d e aptidão profissional d e cad a indi­

víduo. E através d o trabalho q u e o indivíduo se realiza c o m o pessoa, n ã o só para se auto- sustentar, m a s t a m b é m para ganhar respei­

to n o contexto social. O trabalho é fator

“ RIBEIRO BASTOS. Celso.

Curso de direito constitucional.

São Paulo: Saraiva, 1990, 13’ edição, p.227.

“ Op.cit. p.384.

“ C A N O T I L H O , J.J. Gomes, M O R E I R A Vital.

Fundamentos de direito constitucional.

Coimbra (Portugal):

Coimbra.1994, Ed„ p-41

!,op. cit„ p.372.

“ BARILE, Giusseppe,

Enciclopédia del diritto e dei economia garzanti, apttd,

A F O N S O D A SILVA, José, op.cit.,39.

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fundamental d é integração social c o m cida­

dania.

A proteção jurídica dos operários foi tolerada, nos primórdios, por autodefesa d o próprio capitalismo, m a s hoje deve evoluir para consolidar o respeito à dignidade da pessoa huma n a , d o cidadão trabalhador e de sua família.

N o início, os direitos sociais foram concebidos para preservar bens e valores q u e assegurem condições m í n i m a s d e vida digna, a determinado grupo de pessoas: opor­

tunidade de trabalho e m ambiente higiênico (físico e mental) e s e m discriminação; re­

m u n e r a ç ã o qu e garanta o sustento próprio e da família, assistência à saú­

d e e previdência social.

E r a m os trabalhadores que prestavam serviços subordi­

n a d o s - d a fábrica (chapeleiro, calçadista, tece­

lão, metalurgia, cerâmica etc) o u de serviços urbanos (ferroviários, tróleibus, motomeiros e cobradores de bondes). N ã o beneficiava a generalidade da população trabalhadora, c o m o aqueles q u e prestavam serviços por conta própria - a u t ô n o m o s - e os trabalhadores rurais, domésticos etc, e m b o r a vi­

v e s s e m e m condições soci­

ais semelhantes, idênticas ou inferiores às várias catego­

rias de altos empregados.

O significativo avanço deu-se na m e ­ dida e m qu e à tutela daqueles valores jurídi­

cos s o m a r a m - s é outros, c o m o o acesso à moradia, à educação, à cultura e aos des­

portos; o incentivo ao desenvolvimento ci­

entífico, à p e s q u i s a e à capacitação tecnológica; a liberdade d e manifestação de pensamento, artística e cultural; garantia de m e i o ambiente ecologicamente equilibrado;

reconhecimento às diversas fôrmas de or­

ganização familiar, a l é m da proteção à cri­

ança, ao adolescente e ao idoso; preserva­

ção de valores sociais e culturais e presta­

ção de assistência às comunidades indígenas.

“ A F O N S O D A SILVA, José. op.cii./jJÓ.

3°Op.cit.,p.444.

Nesta n o v a dimensão, os direitos so­

ciais t ê m o nítido propósito de assegurar vida digna, c o m perspectiva d e “inclusão social”

e erradicação d a pobreza, n ã o podendo, por­

tanto, ser restrito a u m grupo social (dos operários fabris e de serviços). A noç ã o de vida digna passa a ter a conotação de digni­

dad e c o m cidadania. U m conceito de cida­

dania n ão mais restrito à titularidade de di­

reitos políticos, m a s d e cidadão c o m aptidão de participar da vida d o Estado, o u reco­

nhecimento do indivíduo c o m o pessoa in­

tegrada n a sociedade estatal29.

P o r esta razão q u e o Professor Canotiiho sustenta qu e os direitos sociais es­

tão estreitamente associados a u m conjunto de condições qu e a m o d e r n a doutrina dos direitos fundamentais desig­

n a c o m o pressupostos dos direitos f u n d a m e n t a i s :

“Considera-se pressupostos d e direitos fundamentais a multiplicidade de factores - capacidade e c o n ô m i c a d o Estado, clima espiritual da sociedade, estilo d e vida, dis­

tribuição de bens, nível de ensino, desenvolvimento eco­

nômico, criatividade cultural, convenções sociais, ética fi­

losófica o u religiosa - que condicionam, de forma posi­

tiva e negativa, a existência e proteção dos direitos eco­

nômicos, sociais e culturais.

Estes pressupostos são pres­

supostos de todos os direitos f u n d a m e n ­ tais”30.

A l é m destes pressu p o s t o s q u e condicionam os direitos fundamentais, exis­

t e m os elementos estruturais q u e são a base da proteção dos direitos sociais: “Assim, a concepção d a dignidade da pessoa h u m a n a e d o livre desenvolvimento da personalida­

de p o d e estar na origem de u m a política de realização de direitos sociais activa e c o m ­ prometida o u de u m a política quietista e re­

signada consoante se considere que, abaixo de u m certo nível de bem-estar material, social, de aprendizagem e de educação, as

“O trabalho é fator fundamental de integração

social com cidadania. ’’

"...os direitos sociaisforam concebidos para preservar bens

e valores que assegmem condições mínimas

de vida digna..."

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