A VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES EM NITERÓI – Alguns apontamentos
Rita de Cássia Santos Freitas
1Nívia Valença Barros
2Cenira Duarte Braga
3RESUMO
Esse trabalho se destina a apresentar o andamento da Pesquisa “Niterói – Observatório de Violência de Gênero”, Nosso projeto se iniciou em 2005, coletando dados no interior da emergência do Hospital Universitário Antonio Pedro. Ampliamos nossa pesquisa ao envolver também a Coordenadoria dos Direitos da Mulher (CODIM) de Niterói, instituição vinculada diretamente ao gabinete do prefeito.
Esse texto e essa apresentação se destinam a refletir acerca dessas questões e dos caminhos dessa pesquisa. Em relação à violência contra mulher foram coletados até agora 181 casos no SOS Mulher, abrangendo o período de 2005 (início da pesquisa) até hoje. Na CODIM, coletamos um total de 934 casos – de 2001 até agosto de 2009 (contabilizamos aqui apenas os casos de violência e não outros atendimentos) – que estão sendo inseridos em nosso Banco de Dados. Nesse momento, estamos na fase de inserção dos dados. O que apresentamos são os primeiros dados referentes à CODIM e ao HUAP.
PALAVRAS-CHAVES: Violência de Gênero, Proteção Social e Saúde.
Introdução
Esse trabalho se destina a apresentar o andamento da Pesquisa “Niterói – Observatório de Violência de Gênero
4”, Nosso projeto se iniciou em 2005, coletando dados no interior da emergência do Hospital Universitário Antonio Pedro. Ampliamos nossa pesquisa ao envolver também a Coordenadoria dos Direitos da Mulher (CODIM) de Niterói, instituição vinculada diretamente ao gabinete do prefeito. Esse texto e essa apresentação se destinam a refletir um pouco acerca dessas questões e dos caminhos dessa pesquisa
Convém antes de iniciarmos, fazer um breve histórico deste projeto. Inicialmente, este se voltava para o estudo da violência de gênero no interior do Hospital Universitário Antonio Pedro (HUAP). Em 2007 entregamos nosso primeiro relatório. Após as avaliações realizadas (e a dificuldade por nós sentida de obter registros sobre a violência doméstica contra mulheres e a violência homofóbica) optamos por ampliar o escopo do projeto, que passou a abranger não apenas a Emergência do Hospital Universitário Antônio Pedro (como no projeto inicial), mas também a CODIM (Coordenadoria de Mulheres) e a DEAM/Niterói (Delegacia Especial de Atendimento à Mulher). O motivo desta alteração era conseguir dados que melhor nos possibilitasse a construção do perfil de violência de gênero no
1
Professora Associada da Escola de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense (UFF). Coordenadora do Núcleo de Pesquisa Histórica sobre Proteção Social/Centro de Referência Documental (NPHPS/CRD-UFF).
Graduada em Serviço Social – Mestre e Doutora em Serviço Social.
2
Professora Adjunta da Escola de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense (UFF). Coordenadora do Núcleo de Direitos Humanos/UFF. Graduada em Serviço Social – Mestre em Educação Doutora em Psicologia.
3
Professora Assistente da Escola de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense (UFF). Co- Coordenadora do Núcleo de Pesquisa Histórica sobre Proteção Social/Centro de Referência Documental (NPHPS/CRD-UFF). Graduada em Serviço Social.
4
Que conta com verba do CNPq.
município. Neste ano, continuamos nossa inserção no HUAP, via o Projeto SOS Mulher;
mas também conseguimos acessar os formulários da Coordenadoria dos Direitos da Mulher em Niterói, coordenado pela professora Satie Mizubuti. Na CODIM foram coletados um total de 934 casos
5– de 2004 até agosto de 2009. Destes casos, foram tabulados até agora os dados referentes aos anos de 2004 a 2006. Pretendemos continuar com o arquivamento desses dados e dar início também na pesquisa junto à Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (DEAM) – com quem já estamos negociando o acesso aos dados.
Entende-se que gênero, por ser um conceito relacional, deve abranger os estudos das masculinidades, bem como da homossexualidade. E em relação a violência de gênero contra homossexuais, muita coisa ainda resta a fazer. A invisibilidade que cerca esse fenômeno é alarmante e pôde ser por nós comprovada em relação ao HUAP – onde não se encontra nenhum dado de violência homofóbica –, mas também na CODIM.
As relações de gênero e a problemática da violência são questões fundamentais em nosso projeto. Primeiro, é importante destacar a violência enquanto um problema de saúde pública que ocupa o segundo lugar das causas de morte ocorridas no Brasil (DESLANDES, 1999). O fato é que o espaço da saúde tornou-se um lugar ímpar para mapear e conhecer a violência social em nossas sociedades. No amplo leque de dimensões que a violência encerra, destacamos a violência de gênero. Esta deve ser entendida como “ações violentas (contra homens ou mulheres) praticadas por homens e mulheres que tenham origens em uma discriminação a partir dos papéis de gênero” – um tipo de violência que visa calar o diferente; aqueles que fogem aos padrões socialmente estabelecidos pelas relações de gênero na sociedade. Assim, como dizíamos em nosso projeto:
São alvos preferenciais dessas atitudes, as mulheres, principalmente se trabalharem, as prostitutas, os homossexuais femininos e masculinos por “traírem”
em seus corpos, as concepções que fundamentam nossa identidade social. Convém sinalizar ainda, que esse tipo de violência não deve ser entendido enquanto violência doméstica, pois muitas vezes (principalmente no caso das prostitutas e dos homossexuais) ocorrem nas ruas, nos espaços públicos (FREITAS E BRAGA, 2008).
No interior das instituições de saúde, a visão de uma criança com dor suscita sentimentos e valores que, muitas vezes, se ausentam quando um homossexual chega para ser atendido. Uma mulher, vítima de um estupro, ainda que desperte solidariedades também não está longe de ouvir comentários pejorativos que atribuem a ela alguma “culpa” no ocorrido. Os mesmos tipos de argumentação estão presentes na violência antigay, onde é comum a culpabilização das vítimas.
5
Estamos contabilizando aqui apenas os atendimentos voltados para a violência contra mulheres.
Procurando Caminhos: os passos da pesquisa
No desenvolvimento da pesquisa, ao buscar a criação de um banco dados sobre a violência de gênero em nosso hospital, o que constatamos foi uma grande invisibilidade cercando essa questão. A violência contra mulher e a violência homofóbica não é registrada e nem reconhecida a partir dos prontuários do hospital. No entanto, a magnitude que este tema vem tomando na atualidade aparece em vários escritos. Isso nos fez repensar acerca do porquê dessa invisibilidade. Não acreditamos que Niterói seja uma cidade tão pacífica. O grande problema é que a falta de registros faz com que essa realidade não possa ser mensurada. Quantos acidentes domésticos não encobrem, ainda hoje, a violência doméstica contra mulheres? Talvez a existência de um registro no prontuário acerca da orientação sexual da pessoa que chega vítima de agressão nos possibilitasse conhecer quantos homossexuais (femininos ou masculinos) foram agredidos. Mas na falta do dado, é impossível o registro.
Essa é uma das questões que temos debatido. A necessidade de construção de instrumentos que não caracterize desrespeito ao usuário, mas que possibilite a construção de indicadores. A população que chega à emergência do HUAP (nesse momento, fechada, é verdade) não tem sexo, cor, orientação sexual, idade... como conhecer esse público?
Como construir políticas se nos falta exatamente os dados que possibilitariam ver a demanda, fazer o diagnóstico?
Em relação ao SOS Mulher, fizemos também entrevistas com os profissionais participantes desse programa de modo a construir uma via de acesso, trocar informações e propor um trabalho conjunto. O acesso aos dados do Projeto SOS Mulher foi fundamental para a agilização dos trabalhos.
Desde 2008 buscamos nos aproximar da CODIM e da DEAM/Niterói para encontrar novas fontes de pesquisa. Conseguimos construir uma parceria, desde o ano passado com a CODIM, além de continuar nossa pesquisa no SOS Mulher. Começaremos os trabalhos na DEAM em março deste ano. O contato com essas instituições fez com que abdicássemos da discussão da violência de gênero de forma ampla, nos concentrando na violência contra mulheres. A violência homofóbica ainda será objeto de futuras parcerias – que estamos tendo dificuldades de realizar. Mas nosso olhar busca, sempre, captar qualquer dado que possibilite o acesso pelo menos à violência homofóbica em relação às mulheres.
Na CODIM
Na CODIM coletamos mais de dois mil prontuários. Optamos por inserir no Banco de
Dados apenas os dados referentes às denúncias de violência contra a mulher. No total,
temos 934 casos – de 2004 até agosto de 2009. Destes casos, foram tabulados até agora os dados referentes aos anos de 2004 a 2006 – e que já está sendo objeto de estudo por pelo menos duas alunas neste momento. Um dado positivo e que já podemos apontar é que outros tipos de violência puderam ser detectados, como pode ser visto pelo gráfico abaixo
6:
TIPOS DE VIOLÊNCIA - CODIM
Organizamos os trabalhos montando dois bancos de dados. Um referente à CODIM e outro para os dados do HUAP. Quando iniciarmos a coleta de dados na DEAM, montaremos nosso terceiro banco. Assim, continuamos inserindo dados recolhidos no Hospital Universitário Antonio Pedro – que conta com 181 prontuários
ATENDIMENTOS NO HUAP
Ano Total
2005 82
2006 28
2007 38
2008 23
2009 10 (Junho)
Total geral 181
Na estruturação do Observatório buscamos os seguintes dados: o tipo de violência perpetrada; os locais onde ocorre; e o perfil da vítima e do agressor. Por outro lado, nos interessa conhecer a rotina institucional, os procedimentos adotados e a continuidade que é dada aos atendimentos.
Para o banco de dados, estávamos trabalhando com o programa SPSS, mas tivemos problemas e retornamos ao Excel. Na verdade, ainda estamos na busca do programa ideal.
Temos mantido contato com outros especialistas e esperamos em breve resolver de fato
6