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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

1.0024.13.384474-6/001

Número do Númeração 3844746-

Des.(a) Cássio Salomé Relator:

Des.(a) Cássio Salomé Relator do Acordão:

09/04/2015 Data do Julgamento:

17/04/2015 Data da Publicação:

E M E N T A : R E C U R S O E M S E N T I D O E S T R I T O - C R I M E D E DESOBEDIÊNCIA - MEDIDAS PROTETIVAS DEFERIDAS NO ÂMBITO DA LEI MARIA DA PENHA - CRIME DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO - COMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL.

- O suposto cometimento do delito de desobediência à ordem judicial, ainda que no âmbito da Lei Maria da Penha, não impõe a competência da Vara Especializada, pois, neste caso, a vítima é o Estado e não a mulher.

- Se a pena máxima cominada ao delito imputado ao acusado é inferior a dois anos, a competência para o processamento e julgamento do feito é do Juizado Especial Criminal, conforme disposição do art. 61, da Lei 9.099/95.

V. V: 1. Apesar de ser indiscutível que o sujeito passivo do crime de desobediência seja realmente o Estado, o fato de o referido delito ter sido cometido em âmbito familiar, faz com que a mulher seja vítima mediata da desobediência, e justamente quem sofre seus efeitos mais concretos, o que atrai a aplicação da Lei Maria da Penha, cujo escopo é o de maior proteção da mulher, daí o caráter multidisciplinar da referida lei. 2. A competência da Justiça comum também decorre da existência de conexão probatória ou instrumental entre o delito de desobediência e o ilícito que ensejou a aplicação das medidas protetivas (art. 76, III, do CPP), a propiciar, por coerência, maior segurança e celeridade, o julgamento perante o mesmo juízo.

REC EM SENTIDO ESTRITO Nº 1.0024.13.384474-6/001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - RECORRIDO(A)(S): MINISTÉRIO PÚBLICO DO

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ESTADO DE MINAS GERAIS, GIVANILDO MACHADO - VÍTIMA: P.P.S.

A C Ó R D Ã O

Vistos etc., acorda, em Turma, a 7ª CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, por maioria, em DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO, vencido o 2º Vogal.

DES. CÁSSIO SALOMÉ RELATOR.

DES. CÁSSIO SALOMÉ (RELATOR)

V O T O

Trata-se de Recurso em Sentido Estrito interposto pelo Parquet, nos termos do art. 581, II, do CPP, contra a decisão de fls. 82/83, que concluiu pela incompetência do Juízo da 14ª Vara Criminal de Belo Horizonte (Vara Criminal Especializada no julgamento dos feitos atinentes à Lei 11.340/06) para o julgamento do feito, ao argumento de que a conduta de desobediência (CP, art. 359) no cumprimento das medidas preventivas tomadas em sede da Lei Maria da Penha, tem como sujeito passivo o Estado e não a mulher. No mesmo decisum o i.

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Magistrado declinou a competência e determinou a remessa dos autos a uma das Varas Criminais da Justiça Comum desta Capital.

O Ministério Público ofereceu denúncia em desfavor de Givanildo Machado pela suposta prática do delito tipificado no art. 359 do Código Penal.

Segundo consta, no dia 29/11/2013, por volta das 17h57min, na Rua Vicente Castano, nº 2176, Bairro Santa Cruz, nesta Capital, o denunciado, desobedeceu medida protetiva- que fixou a distância de 200 metros entre ele e a vítima, bem como o proibiu de freqüentar a residência e o local de trabalho da mesma- uma vez que adentrou na residência da vítima sem sua permissão.

A denúncia foi oferecida em 04/02/2014.

Em 11/03/2014, o i. Magistrado entendeu pela incompetência do juízo da 14ª Vara Criminal da Comarca de Belo Horizonte (especializada no julgamento de feitos atinentes à Lei Maria da Penha) para o processamento e julgamento do feito, bem como declinou a competência e determinou a remessa dos autos a uma das Varas Criminais da Justiça Comum desta Capital (fls. 82/83).

O Ministério Público, em suas razões recursais, fls. 88/103, assevera que o juízo da 14ª Vara Criminal de Belo Horizonte é competente para julgar o feito, uma vez que o delito de desobediência (CP, art. 359) narrado na denúncia tem como objeto decisão que impôs medida protetiva de urgência cometida contra a mulher. Afirma, ainda, que mesmo que assim não fosse, a competência não seria da Vara Criminal Comum e sim do Juizado Especial Criminal, tendo em vista que a pena máxima cominada para o delito do art.

359 do CP é de dois anos- sendo considerada, portanto, crime de menor potencial ofensivo.

Em contrarrazões, fls.128/132, a defesa pugna pelo desprovimento do recurso.

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Exercendo juízo de retratação, o d. magistrado manteve sua decisão, fls.

133.

A douta Procuradora de Justiça opinou pelo provimento do recurso, fls.

143/144.

É o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de admissibilidade e processamento.

Ausentes questões preliminares, arguidas ou apreciáveis de ofício, passo diretamente à análise do mérito recursal.

No caso em apreço, o eminente Juiz Singular concluiu pela incompetência do juízo da 14ª Vara Criminal da Comarca de Belo Horizonte (especializada no julgamento de feitos atinentes à Lei Maria da Penha) para o processamento e julgamento do feito, bem como declinou a competência e determinou a remessa dos autos a uma das Varas Criminais da Justiça Comum desta Capital (fls. 82/83).

Cumpre salientar que a competência da Vara Especializada no processamento e julgamento de delitos atinentes a Lei 11.340/03 (Lei Maria da Penha) decorre da qualidade da vítima, qual seja mulher em situação de violência doméstica ou familiar, uma vez que a referida Lei visa proteger a incolumidade física e a saúde da mulher/vítima.

In casu, trata-se do suposto cometimento do delito tipificado no art. 359 do CP por Givanildo Machado, que deixou de cumprir ordem judicial, que o impedia de aproximar-se de sua ex-companheira.

O sujeito passivo do delito de desobediência à ordem judicial, em tese, cometido pelo acusado, é o Estado, uma vez o bem jurídico tutelado neste fato delituoso é a reputação da Administração da Justiça, sendo irrelevante o fato de esta ordem ter sido proferida no âmbito da Lei Maria da Penha.

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Sendo assim, resta hialino que o delito tipificado no art. 359 do Código Penal não tem como vítima a mulher, mas sim o Estado, não se enquadrando, portanto, no gênero violência contra a mulher no âmbito doméstico ou familiar.

Nesse sentido, tem se posicionado o egrégio TJMG:

"EMENTA: CONFLITO NEGATIVO DE JURISDIÇÃO - PROCESSUAL PENAL - CRIME DE DESOBEDIÊNCIA - MEDIDAS PROTETIVAS DEFERIDAS NO ÂMBITO DA LEI MARIA DA PENHA - IRRELEVÂNCIA - C R I M E D E M E N O R P O T E N C I A L O F E N S I V O - D E C L A R A D A A C O M P E T Ê N C I A D O J U I Z A D O E S P E C I A L C R I M I N A L .

- Ainda que o agente tenha, supostamente, desobedecido ordem judicial deferida no âmbito da Lei Maria da Penha, tal não impõe a competência da Vara Especializada, já que, neste caso, a vítima é o Estado.

- Se a pena máxima cominada ao delito imputado ao denunciado não supera dois anos, a competência para

julgamento é do Juizado Especial Criminal. Inteligência do art. 61 da Lei9.099/95."

(TJMG - CONFLITO DE JURISDIÇÃO Nº 1.0000.13.096172-5/000 - 6ª Câmara Criminal - Relator: Des. Furtado de Mendonça, j. 20/05/2014, p.

26/05/2014.) - Grifo nosso.

Desta forma, não há justificativa para o processamento e julgamento do delito tipificado no art. 359 do CP em secretaria do Juízo especializada em feitos atinentes à Lei Maria da Penha, devendo ser afastada, portanto, a competência da 14ª Vara Criminal desta Capital.

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Noutro giro, ao contrário do entendimento do i. Magistrado, a competência para o processamento e julgamento do feito também não é de uma das Varas Criminais da Justiça Comum. Isto porque, o delito de desobediência a ordem judicial (CP, art. 359), em tese, cometido pelo acusado, trata-se de crime de menor potencial ofensivo, uma vez que prevê pena máxima não superior a dois anos.

Sendo assim, a provável sanção a ser cumprida pelo acusado não ultrapassa 02 (dois) anos, motivo pelo qual o juízo competente para o processamento e o julgamento do feito seria o Juizado Especial Criminal desta Capital, conforme dispõe o art. 61, da Lei 9.099/95.

Destarte, por entender que o plausível delito em questão, qual seja,

"desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito", trata- se de crime de menor potencial ofensivo, deve o procedimento tramitar perante o Juizado Especial Criminal.

Ante ao exposto, declaro competente para processamento e julgamento do feito uma das Varas Criminais do d. Juizado Especial Criminal desta Capital, devendo ser remetidos e distribuídos os autos.

Pelo acima exposto, DOU PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO, para declarar a competência para o processamento e julgamento do feito uma das Varas do Juizado Especial Criminal de Belo Horizonte.

Remetam-se o expediente para a distribuição pertinente.

Cientifiquem-se.

O SR. DES. SÁLVIO CHAVES - De acordo com o(a) Relator(a).

O SR. DES. PAULO CALMON NOGUEIRA DA GAMA

Pedindo respeitosa vênia ao eminente Desembargador Relator,

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divirjo de seu judicioso voto para dar provimento ao recurso ministerial.

No caso em apreço, o nobre Juiz de Direito da 14 ª Vara Criminal da Comarca de Belo Horizonte, especializada para o julgamento e a execução das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, declinou da competência para uma das Varas Criminais da Capital, ao argumento que o crime pelo qual o recorrido foi denunciado em razão de descumprimento de medida protetiva - artigo 359 do Código Penal brasileiro - , o sujeito passivo da ação delituosa é o Estado e não a mulher, não sendo, assim, competência daquela vara especializada o julgamento do presente feito.

O eminente Desembargador Relator entendeu que a competência para processar e julgar o caso em apreço é do Juizado Especial Criminal, nos moldes da Lei 9.099/95, ao argumento que o crime previsto no artigo 359 do CP é de menor potencial ofensivo.

Inicialmente esclareço, sem adentrar na questão por não ser objeto da irresignação, que entendo que o descumprimento de medida protetiva em tese pode caracterizar o crime de desobediência previsto no artigo 330 do Código Penal brasileiro e não o do delito tipificado no artigo 359, do mesmo diploma legal. De qualquer forma, em face da narrativa fática, a capitulação delitual revela-se tema sempre ajustável à luz das regras processuais.

Todavia, o cerne da questão posta em debate refere-se à incidência das normas da Lei Federal n°. 11.340/06 quando há o descumprimento de medida protetiva.

De fato, a questão ainda se mostra bastante controvertida, como se percebe do presente feito.

O ilustre Juiz Singular entendeu pela não incidência da Lei Maria da Penha, ao argumento que o crime de desobediência tem como

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sujeito passivo o Estado e não a mulher.

Contudo, com a devida vênia, tenho outra posição acerca do tema.

Apesar de ser indiscutível que o sujeito passivo do crime de desobediência seja realmente o Estado, o fato de o referido delito ter sido cometido em âmbito familiar, faz com que a mulher seja vítima mediata da desobediência, e justamente quem sofre seus efeitos mais concretos, o que atrai a aplicação da Lei Maria da Penha, cujo escopo é o de maior proteção da mulher, daí o caráter multidisciplinar da referida lei.

Nesse contexto, cumpre ressaltar que o artigo 14 da Lei n° 11.340/06 é expresso ao determinar:

Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com competência cível e criminal, poderão ser criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para o processo, o julgamento e a execução das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher.

E o artigo 41 do mencionado Diploma dispõe que:

Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.

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Dessa forma, tratando-se, "in casu", da suposta prática de crime de desobediência envolvendo o descumprimento de medida protetiva imposta no âmbito da Lei Maria da Penha, conclui-se que compete ao Juiz de Direito da 14ª Vara Criminal desta Capital o julgamento e a execução das causas e julgados decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher.

Tal entendimento, a meu ver, é o que melhor atende o espírito primordial da lei, qual seja, o de criar mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, já que afasta a aplicação da Lei dos Juizados Especiais e, por conseguinte os benefícios penais insertos na referida Lei.

Ora, voltando ao caso em apreço, verifica-se que o recorrido descumpriu as medidas protetivas impostas, e, além de recusar sair da casa da vítima, permaneceu em seu interior, cobrando da ofendida indenização para sair.

De tal modo, possibilitar, em casos tais, o oferecimento de transação penal e a suspensão condicional do processo, a meu ver, redundaria em favor indevido a condutas como a do recorrido, na medida em que insistem em desrespeitar as determinações judiciais, afastando-se, como já dito, do espírito primordial da Lei Maria da Penha.

Ainda que assim não fosse, ganha vigor a corrente que defende que a competência da Especializada se justificaria pela presença da conexão instrumental ou probatória, prevista no artigo 76, inciso III, do Código de Processo Penal, quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova de outra infração.

A propósito, não há dúvida acerca da existência de conexão probatória ou instrumental entre o delito de desobediência e o ilícito que ensejou a aplicação das medidas protetivas (art. 76, III, do CPP), a apontar, por coerência, maior segurança e celeridade, o julgamento

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perante o mesmo juízo.

Sobre o assunto, o doutrinador Eugênio Paccelli de Oliveira ensina que:

A realidade dos fenômenos da vida nos mostra que pode haver, entre dois ou mais fatos de relevância penal, alguma espécie de liame, de ligação, seja de natureza subjetiva, no campo das intenções, motivações e do dolo, seja ainda de natureza objetiva, em referência às circunstâncias de fato, como sejam, o lugar, o tempo e o modo de execução da conduta delituosa. Em uma palavra, pode haver entre eles conexão, hipóteses concretas de aproximação entre um e outro evento, a estabelecer entre eles um ponto afinidade, de contato ou de influência na respectiva apuração. (Curso de Processo Penal, 5ª ed., 2ª tiragem - rev. atual. ampl., Belo Horizonte, Del Rey, 2005, pg. 240).

Em caso análogo ao em apreço, já decidiu este egrégio Tribunal de Justiça, confira-se:

EMENTA: CONFLITO NEGATIVO DE JURISDIÇÃO - JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL VERSUS VARA CRIMINAL - DELITO DE DESOBEDIÊNCIA DECORRENTE DE DESCUMPRIMENTO DE MEDIDAS PROTETIVAS - LEI MARIA DA PENHA - COMPETÊNCIA DA VARA CRIMINAL (ART. 33 DA LEI 11.340/06) - CONEXÃO INSTRUMENTAL - DECLARADA A COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA 1ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE MONTES CLAROS/MG. 1. Encontrando-se o delito de desobediência circunstanciado pelas situações de violência doméstica, eis que decorre do descumprimento de medida protetiva de urgência, a competência para processá-lo e julgá-lo, enquanto não instituídos os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, é da Vara Criminal. 2. A mulher, embora não seja sujeito passivo direto do delito de desobediência, é ao menos sujeito passivo indireto, já que no plano real é a pessoa atingida diretamente pelo mencionado delito. 3. O

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crime de desobediência à ordem judicial, que fixava medidas protetivas em favor da mulher, em razão de violência doméstica, deve tramitar nos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher e, enquanto não estruturados os mencionados Juizados, nas Varas Criminais, ante a conexão existente entre o delito previsto no artigo 330, do Código Penal Brasileiro e as condutas tipificadas na Lei 11.340/06, uma vez que o delito de desobediência é decorrência lógica da ordem judicial prolatada, anteriormente, determinando a fixação das medidas protetivas em favor da mulher. (Conflito de Jurisdição 1.0000.12.061601-6/000, Relator(a): Des.(a) Rubens Gabriel Soares , 6ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 03/07/2012, publicação da súmula em 13/07/2012).

Sob ainda outra ótica, manifestou-se o ilustre Promotor de Justiça Guilherme de Sá Meneghin, acerca da incidência da Lei Maria da Penha em face do descumprimento de medida protetiva, em artigo publicado na Revista JUS nº 28, de 2013, que, por pertinente, trago à baila:

Decerto, a chave para decidir a querela está no artigo 7º da Lei Maria da Penha. Segundo esse dispositivo, a violência doméstica e familiar contra a mulher pode se dar de variadas formas. Assim, não estabelece, a priori, quais infrações penais podem ser caracterizadas como violência contra mulher no âmbito doméstico, elencando apenas os critérios hermenêuticos para sua incidência. Confira na íntegra as espécies previstas em lei:

Art. 7o São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:

I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal;

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II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;

III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;

IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;

V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.

Em teoria, qualquer infração penal pode ter a incidência da Lei Maria da Penha, o que inclui estupro, homicídio, lesões corporais, dano, furto, vias de fato, ameaça, maus tratos, tortura, violação de domicílio, sequestro, cárcere privado, a lista é quase interminável. Veja que não se inclui apenas crimes contra a pessoa; o dano e o furto, para ilustrar, são delitos patrimoniais e podem ser aplicados com as normas especiais de proteção da mulher.

Assim, se o agressor quebrar bens da vítima pode ser preso em flagrante e não tem direito

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aos benefícios da Lei n. 9.099, de 1995, como rotineiramente acontece.

Por óbvio, seria bizarro, inconcebível, aplicar a lei em um crime de fraude à licitação, por exemplo. Mas no caso da desobediência, em que as medidas protetivas são previstas na própria lei, fica evidente a pertinência temática.

Há uma clara violência psicológica no comportamento do agressor que descumpre medidas protetivas, pois perturba sobremaneira a tranquilidade da vítima que, mesmo contando com uma ordem judicial, fica sujeita aos desvarios do agressor. Haveria, por conseguinte, incidência do artigo 7º, inciso II, da Lei, acima transcrito. Ademais, a expressão "entre outras" no final do caput do mencionado artigo revela que trata-se de uma norma aberta, abarcando outras formas de violência doméstica contra a mulher, o que também resultaria no enquadramento do crime de desobediência.

Dessarte, à luz dos argumentos expendidos, entendo pela competência do nobre Juiz de Direito da 14 ª Vara Criminal da Comarca de Belo Horizonte, especializada para o julgamento e a execução das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher.

Ante o exposto, com a devida vênia do eminente Desembargador Relator, DOU PROVIMENTO AO RECURSO MINISTERIAL, para reconhecer a competência do Juízo 14 ª Vara Criminal da Comarca de Belo Horizonte, para o processamento e julgamento do presente feito.

É como voto.

SÚMULA: "DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO, por maioria, vencido do 2º Vogal"

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