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Relatório de Geologia e Paleontologia Serra da Boa Viagem (Buarcos)

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Academic year: 2021

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Relatório de Geologia e Paleontologia

Serra da Boa Viagem (Buarcos)

Pierluigi Rosina1

Silvério Figueiredo2

Setembro de 2009

1 Departamento de Território, Arqueologia e Património, Escola Superior de Tecnologia de Tomar do Instituto Politécnico de Tomar

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Introdução

Foi solicitado, pela EFACEC, que uma equipa do Centro Português de Geo-História e Pré-História se deslocasse a uma zona onde se irá implantar um parque eólico, pois tinha sido detetada, nessa área, num aforamento calcário, a presença de fósseis. Numa primeira vista, realizada pelo segundo subscritor, foi confirmada a existência de fósseis nesse afloramento. Trata-se um conjunto de fósseis de invertebrados marinhos mesozóicos, onde predomina a ocorrência de amonites.

As amostras recolhidas no posterior trabalho de campo foram estudadas, em Tomar, no Laboratório de Arqueozoologia e Paleontologia (LAP), laboratório constituído entre o Instituto Politécnico de Tomar (IPT), e o Centro Português de Geo-História e Pré-História (CPGP).

A Serra da Boa Viagem é uma estrutura essencialmente calcária bem característica da área a norte do Rio Mondego. De facto, embora o seu ponto mais alto atinja somente os 258 m, representa a zona mais elevada nas proximidades da Figueira da Foz e do Cabo Mondego. A sua morfologia resulta dos movimentos tectónicos do Mesozóico que levantaram os depósitos marinhos, a maioria de plataforma continental, durante a abertura do Oceano Atlântico.

A estrutura é constituída por estratos de rochas jurássicas dispostas em camadas regulares/paralelas – moniclinal – com direcção WNW-ESE e pendor sub-vertical (até os 70º) em direcção a Sul. Por consequência, as camadas mais antigas são as do lado Norte da Serra.

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Na saída de campo realizada, foi possível constatar que na aérea do projecto afloravam rochas praticamente só na vertente Sul, enquanto na vertente oposta havia uma camada detrítica arenosa de cobertura que abrigava uma densa vegetação e que escondia quase completamente o substrato calcário. A nossa atenção foi por isso endereçada nos estratos expostos no vertente Sul.

Localização e coordenadas Geográficas

A área estudada localiza-se na localidade Costas da Serra, freguesia de Buarcos, concelho de Figueira da Foz e distrito de Coimbra. Coordenadas médias: 40º11’47.99’’ Norte; 8º51’26.25’’ Oeste de Greenwisch. Altitude máxima de 199 metros (Carta Militar de Portugal, Esc. 1:25000, folha 239 – Figueira da Foz).

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Estratigrafia e depósitos

No complexo, foi possível observar um conjunto de camadas calcárias, mais ou menos compactas, com intercalações margosas com orientações conforme às precedentemente descritas. Estas camadas formam no conjunto um ciclotema rítmico relacionado provavelmente com as oscilações eustáticas do nível do mar.

As camadas são bem individualizadas com espessuras geralmente compreendidas entre os 15 e os 35 cm, para as camadas calcárias mais compactas e uma espessura entre 1 a 10 cm para as intercalações mais margosas.

Conforme a carta geológica (Folha 19-C Figueira da Foz), anexo 2, e relativa notícia explicativa (ROCHA et alli. 1981), estas camadas pertencem, ao Bajociano, cujas margas e calcários – evidentemente mais resistentes - constituem os cumes desta Serra. Do lado Sul do cume se encontram os ‘Calcários, margas e calcários margosos’ do Batoniano e do lado Norte os mais antigos ‘Calcários e calcários margosos’ do Aaleniano

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Foram escolhidas algumas camadas com exposição vertical e horizontal para uma descrição mais pormenorizada do ciclotema para verificar a possibilidade de identificar os paleoambientes sedimentares.

A camada número 1 corresponde à última camada onde foi possível observar a superfície horizontal (a mais a norte), as outras foram numeradas progressivamente em direcção Sul (do interior ao exterior). Por isso a camada 1 é a mais antiga as outras são as mais recentes. Foram contabilizadas somente as camadas com espessura superior à 5 cm.

Foram recolhidas amostras de catorze camadas, não sequenciais, da um à dezassete.

Descrição das camadas:

Camada 1: Calcário micrítico, espessura: 15 cm

Camada 2: Margas friáveis lamelares, espessura 5 cm Camada 3: Calcário micrítico, espessura:20 cm

Camada 4: Calcário pelmicrítico, espessura: 20 cm Camada 5: Calcário pelmicrítico, espessura 30 cm

Camada 6: Calcário pelmicrítico, mais fino que as camadas 4 e 5, espessura 25

cm

Camada 7: Margas lamelares, espessura 10 cm

Camada 8: Calcário micrítico, idêntico ao das camadas 1 e 3. Espessura: 30 cm Camada 10: Calcário pelmicrítico, idêntico às camadas 4 e 5. Esta camada é, a

mais espessa e com a superfície horizontal mais extensa. Espessura: 35 cm.

Camada 11: Calcário margoso sublitográfico. Espessura: 10 cm

Camada 13: Calcário mitríco, idêntico ao das camadas 1, 3 e 8. Apresenta a parte

superficial com grande abundância de fósseis. Espessura: 20 cm

Camada 14: 30 cm, Calcário pelmitríco, idêntico ao das camadas 4, 5 e 10.

Existência de um grande molde externo de amonite

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Paleontologia

Durante os trabalhos de campo foram observados fósseis nas camadas calcárias expostas. Durante o trabalho de laboratório foi possível identificar fósseis de vários táxones de invertebrados, especificamente de moluscos (cefalópodes e bivalves). No entanto estão referidos, na notícia explicativa carta geológica a ocorrência, naquela zona, de braquiópodes e foraminíferos, que não foram identificados nas amostras recolhidas mas, pela referência atrás citada e pelas características paleoambientais da deposição sedimentar daquelas rochas, é possível que estes grupos existam. Estão também referidos na Notícia Explicativa da Carta Geológica, a ocorrência de outras amonites, do género Leptosphinctes sp.

Aparecem amonites de vários dos estados etários, desde muito jovens aos adultos. De realçar, na camada 17 a ocorrência de um indivíduo muito jovem, com cerca de 0,5 cm e vários indivíduos no estado adulto avançado.

Sistemática Paleontológica

Filo: Mollusca (LINNAEUS, 1758) Classe: Bivalvia (LINNAEUS, 1758)

Ordem: Pectinoida (NEWELL AND BOYD 1995) Família: Posidoniidae (FRECH 1909)

Género: Cf. Posidonia sp. (BRONN, 1828)

Camadas de ocorrência: 11

Descrição: Bivalve fóssil que apresenta uma concha de tamanho pequeno a

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A área ligamentar é estreita e raramente observável. A ornamentação é constituída por costilhas concêntricas.

Paleoecologia: ambientes marinhos pelágicos neriticos a oceânicos. Modo de

vida nectoplanctónico. Dieta: suspensívora

Distribuição crono-estratigráfiaca: Carbónico – Jurássico Paleobiogeografia: América do Norte e Eurásia.

Fig. 2 – Fóssil de : Cf. Posidonia sp, numa amostra recolhida e estuda em laboratório. Camada 11

Filo: Mollusca (LINNAEUS, 1758)

Classe: Cephalopoda (CUVIER, 1798) Ordem: Belmnitida (GRAY 1849)

Família: Mesohibolitidae (NERODENKO, 1983)

Classe: Hibolithes sp. (DENYS DE MONTFORT, 1808)

Camadas de ocorrência: 13

Descrição: Cefalópode fóssil que apresenta uma concha de contorno delgado,

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Paleoecologia: ambientes marinhos pelágicos neriticos a oceânicos. Modo de

vida pelágico nectónico. Dieta: carnívora

Distribuição crono-estratigráfiaca: Jurássico Médio e Superior. Paleobiogeografia: Europa.

Fig. 3 – Fóssil de Hibolithes sp., observada no campo. Consegue-se perceber o molde externo da concha de uma amonite

Filo: Mollusca (LINNAEUS, 1758)

Classe: Cephalopoda (CUVIER, 1798) Ordem: Ammonitida Indet. (ZITTEL, 1884)

Camadas de ocorrência: todas

Filo: Mollusca (LINNAEUS, 1758)

Classe: Cephalopoda (CUVIER, 1798) Ordem: Ammonitida (ZITTEL, 1884) Família: Parkinsoniidae (ZITTEL, 1884)

Género: Parkinsonia sp. (BAYLE,1878)

Camadas de ocorrência: várias (1, 5, 6, 7, 10, 11, 13, 17)

Descrição: Cefalópode fóssil que apresenta uma concha evoluta a subevoluta,

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simples, finas, rectilíneas e ligeiramente inclinadas para diante, bifurcando, por vezes, alternadamente junto à fronteira do bordo ventral. No estado adulto a ornamentação e o sulco ventral atenuam-se ou desaparecem.

Paleoecologia: ambientes marinhos pelágicos neriticos a oceânicos. Modo de

vida pelágico nectónico. Dieta: carnívora

Distribuição crono-estratigráfiaca: Jurássico Médio.

Paleobiogeografia: Europa, Norte de África, Cáucaso e Irão.

Fig. 4 – Fóssil de Parkinsonia sp., recolhida no campo e estudada em laboratório. Percebe-se o sulco do dorso ventral (camada indefinida: recolha de superfície).

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Filo: Mollusca (LINNAEUS, 1758)

Classe: Cephalopoda (CUVIER, 1798) Ordem: Ammonitida (ZITTEL, 1884)

Família: Macrocephalitidae (ZITTEL, 1884)

Género: Macrocephalia sp. (ZITTEL, 1884)

Camadas de ocorrência: várias (4, 5, 11, 13, 14)

Descrição: Cefalópode fóssil que apresenta uma concha involuta um pouco

inflada, mais ou menos esferocónica, comprimida lateralmente. Tem a secção das voltas oval, mais alta que larga, com flancos convexos. O bordo ventral é arredondado, sem sulco ou carena. A ornamentação é constituída, nas voltas mais jovens por numerosas costilhas radiais, finas, rectilíneas e ligeiramente inclinadas para diante, bifurcando, na zona mesial do flanco. No estado adulto a ornamentação e o sulco ventral atenuam-se ou desaparecem.

Paleoecologia: ambientes marinhos pelágicos neriticos a oceânicos. Modo de

vida pelágico nectónico. Dieta: carnívora

Distribuição crono-estratigráfiaca: Jurássico Médio.

Paleobiogeografia: Europa, Norte de África, Rússia, Madagáscar e Nova Guiné.

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Considerações Finais

A abundância e a importância crono-estratigráfica dos fósseis, sobretudo no que diz respeito às Amonites, nesta região, são notórias e assinaladas em numerosas publicações (o limite internacional do Aaleniano/Bajociano foi proposto nestes calcários (HENRIQUES, 2000)). Como foi referido o estado de conservação é longe de ser óptimo e é difícil recolher exemplares inteiros. No entanto, a existência de rochas que se formaram em diferentes condições sedimentares permite encontrar uma importante variedade de vestígios animais e vegetais testemunhas dos primeiros ambientes marinhos do Atlântico.

Apesar de se encontrar perto de uma zona classificada pelo Decreto Regulamentar nº 82/2007, não existem impedimentos do ponto de vista geológico e paleontológico à construção, na zona, de um parque eólico. No entanto, perante a importância geológica e paleontológica da área estudada, “O perfil geológico [dos afloramentos jurrássicos do cabo Mondego] da passagem aaçeniano Bajociano, consagrado como estratotipo de limite pela International Union of Geological Sciences, constitui um padrão internacional de referência, que materializa e representa um limite específico do tempo geológico, o que acontece

pela primeira vez em Portugal” (Decreto Regulamentar nº 82/2007), propõem-se o

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Referências Bibliográficas

ALLASINAZ A. (1985) Sistematica degli invertebrati. E.C.I.G., Savona, pp.371. DOMÉNECH, Rosa & MARTINELL, Jordi,( 1996): Introducción a los Fossiles,

Masson, Barcelona.

RICH, P. V., RICH, T. H., FENTON, M. A. & FENTON, C. L. (1996): The Fossil

Book, Dover Publications, Nova York.

HENRIQUES, M. H. (2000) – "Le G.S.S.P. du Bajocien (Cabo Mondego, Portugal)" - "Les événements du passage Lias-Dogger", Séance spécialisée de la Societé Géologique de France, du Comité Français de Stratigraphie e da Association des Géologues du Sud-Ouest, Toulouse (França), Strata, série 1 - vol. 10, pp. 20-22, 2000.

MAYR, H. (1992), Fossils, Collins Photo Guides, Harper Collins Publishers, Londres

ROCHA R., MANUPPELLA G., MOUTERDE R., RUGET C., ZBYSZEWSKI G (1981). Noticia explicativa da folha 19-C, Figueira da Foz, Carta

geológica de Portugal na escala 1:50 000. Serviços Geológicos de

Portugal. pp. 126

SERVIÇOS GEOLÓGICO DE PORTUGAL – (Material cartográfico). Carta Geológica de Portugal, escala 1:50.000, 19-C, Figueira da Foz (1976). INTERNATIONAL SUBCOMISSION ON STRATIGRAPHIC CLASSIFICATION OF

IUGS (1994) – International Stratigraphic Guide. A guide to stratigraphie

classification and procedure, International Subcomission on Stratigraphic of IUGS, International Comission on Stratigraphy, second edition, Amos Salvador

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Anexo 2 – Excerto da Carta Geológica

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Fotografia 5

Aspectos dos trabalhos de prospecção

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Referências

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