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Arqueologia no médio São Francisco. Indígenas, vaqueiros e missionários. Jacionira Coêlho Silva

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Academic year: 2021

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(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA

Arqueologia no médio São Francisco.

Indígenas, vaqueiros e missionários.

Jacionira Coêlho Silva

Recife 2003

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós- Graduação em História, da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em História.

Orientadora: Profª Drª Maria Gabriela Martin Ávila

(2)

JACIONIRA COÊLHO SILVA

ARQUEOLOGIA NO MÉDIO SÃO FRANCISCO

INDÍGENAS, VAQUEIROS E MISSIONÁRIOS

COMISSÃO EXAMINADORA

PRofª Drª Maria Gabriela Martin Ávila

Departamento de História Universidade Federal de Pernambuco

Orientadora

PRofª Drª NIÈDE GUIDON

Departamento de História Universidade Federal de Pernambuco

PRofª Drª Anne-Marie Pessis

Departamento de História Universidade Federal de Pernambuco

PRofª Drª Maria Conceição Soares Menezes Lage

Departamento de Química Universidade Federal do Piauí

Prof. Dr. Carlos Alberto Etchevarne

Departamento de Antropologia Universidade Federal da Bahia

(3)

RESUMO

O Médio São Francisco, sobretudo a área de Itaparica, foi ocupado por populações pré-históricas, cujos vestígios foram consignados por estudiosos como pertencentes a uma tradição de artefatos líticos, denominada Itaparica, sem uma prévia caracterização sob os aspectos técnico e geográfico. Como representações portadoras de significado particular sobre seus autores, os artefatos de pedra foram integrados ao contexto cultural, relacionados com o tipo de sítio, localização e função, e os demais vestígios arqueológicos.

A análise dos instrumentos de pedra fundamentou-se nas morfo-técnicas estruturadoras desses vestígios, com o objetivo de se identificar os momentos marcantes ocorridos no corpus técnico, identificador de grupos culturais. As modificações identificadas nos procedimentos técnicos, decorreram de momentos de maior impacto durante o processo de ocupação da área, como o início da ocupação, com relação ao meio, as transformações culturais registradas nas estruturas arqueológicas, mediante a introdução de novas tecnologias e práticas sociais, como os rituais funerários e, por último, o contato com o europeu, que modificou as relações sociais entre os nativos, reflexo de suas instituições normatizadoras.

As modificações culturais das sociedades autóctones, que se deram no espaço pré- histórico de Itaparica, uniformizadas pela persuasão das armas da Casa da Torre ou da catequese, sob a ação de entradistas, vaqueiros e missionários, resultaram no amálgama cultural, que no sertão tomou uma feição própria, e na implantação dos primeiros núcleos urbanos no Nordeste.

Essas transformações pelas quais, nativos e colonizadores sintetizaram a sociedade em formação, foi derruindo a nativa, enquanto provocavam alterações nos costumes dos colonizadores. O processo de colonização implantado, destribalizando nações inteiras, não conseguiu, contudo, ocultar totalmente os indígenas de Itaparica, onde ainda subsistem. Os fortes traços culturais desses povos, já os diferençava na pré-história dos demais grupos estabelecidos no entorno dessa área.

PALAVRAS-CHAVE: instrumentos líticos – cerâmica – material ósseo - contexto – modificações culturais – entradistas - vaqueiros – missionários - missões – núcleos urbanos - indígenas – perfil técnico – vale sanfranciscano.

(4)

ABSTRACT

The mid São Francisco river was inhabited by pre-historic populations the vestiges of which has been considered by experts a belonging to a lithic tradition of artifacts named Itaparica, lacking a prior characaterization of technical and geographical aspects. This unique

representation of the stone artifacts makers were integrated to the cultural context related with the type of site, location and function, and other archeological vestiges.

Analysis of the stone instruments was based on the morphological and technical struturing of these vestiges with the objective of determining the outstanding events of the technical corpus and identifies the cultural groups. Modifications disclosed by technical procedur es, resulted from impacting moments during the settlement process in the area, such as the beginning of the occupation, relationship with the environment other cultural transformations recorded in archaeological structures through the introduction of new technologies and social practices, such as funeral rites at last the contact Europeans, that somehow changed the social relations of native inhabitants and reflected their regulating institutions.

Cultural changes of autochthon societies ocurred in the pr é-historic space of Itaparic, and werw standardized by the weapons of the Casa da Torre or catechesis by the conquerors, cattle breeders and missionaries resulted in a cultural amalgamation with unique features and the implementation of the firs urban nuclei of the Northeast.

The transformation, through wich natives and colonizers synthesized the forming Society, gradually destroyed the native one while causing changes in the colonizer’s habits. The colonization process implemented, disrupting whole natio ns, did not achieve, nevertheless to fully conceal the indigenous people of the valley of São Francisco where they still subsist.

The strong cultural traits of this people alread distinguished them in pre-history from the other groups established in the surrouding area.

(5)

DEDICATÓRIA ____________________________________________________________

A meus filhos,

AlessandraAlessandra,

Allysson Sebastian Allysson Sebastian

e

Alessian RuiAlessian Rui

e a meus irmãos,

Jaçuleide Jaçuleide

Jucionou Jucionou

Juciê Juciê

e

Jucionildo,Jucionildo,

pelo apoio incondicional e o carinho constante nos momentos difíceis.

HOMENAGEM

A meus pais,

José RaimundoJosé Raimundo e Maria JoséMaria José

(in memoriam)

(6)

AGRADECIMENTOS

A Gabriela Martin, pela inquestionável confiança depositada na realização deste trabalho, emprestando apoio à pesquisa e solidariedade à pesquisadora.

A Conceição Lage, por incentivar-nos a retomar a jornada que ora se cumpre.

A Anne- Marie Pessis, que também nos estimulou a reiniciar este trabalho e de quem recebemos preciosas sugestões.

A Niède Guidon, pelos inestimáveis ensinamentos transmitidos nos primeiros passos dessa caminhada.

A C. Lannot e Margarida D. Andreatta, pelas informações fundamentais que nos transmitiram.

A Silvia Maranca, Vilma Chiara, L. Ogel -Ros e Goretti, pelo apoio no início dessa trajetória.

A Arno Kern e Luciana Pallestrini, por nos terem acolhido quando nos propusemos a elaborar esta tese.

A Socorro Ferraz, de quem recebemos não só conhecimento, mas sobretudo amizade e palavras de estímulo.

Aos demais professores, inclusive os de sentida ausência, pelo zelo e eficiência na formação da clientela do Curso e posterior Programa de Pós-Graduação, dos quais fiz emos parte com muito orgulho.

A todos quantos, de uma ou outra forma, contribuíram para que este trabalho se desenvolvesse ao longo do tempo: Agostinho, Alice Aguiar, Ana Nascimento, Andréia C.

Branco, A. Nadson, Arnaldo, Betânia Pinto, Bruno, Carmen L. Santos (bibliotecária), C. Alberto Vilarinho, Cláudia Alves, C. Etchevarne, C. Júnior, Daria E. Barreto, Diva Figueiredo, Dulce F.

Bastos, Domingos, dona Emília Carvalho, Edithe Pereira, Euda Santana, Gilma, Irma Asón, Jóina Borges, J. Raposo, Lee Marx, Lídia, Luciane Borba, Lúcia, Luciano Costa, Marco Antonil

“Marcão”, Marcela Moschem Coelho, Márcia Angelina Alves, M. Galindo, M. dos Reis Santana, Maria José Matos, Marluce Lopes, Marly Cavalcanti, Marcos Pinho, Olga Paiva, Patrícia Pinheiro, Plínio Vítor, Ricardo, Rosário Dória Coelho, Rui Rocha, Sonia Campelo, Suely Luna, Verônica Pontes.

Aos anônimos, mas não menos importantes, que estiveram conosco nas barrancas do São Francisco, contribuindo para que este trabalho se concretizasse.

Aos que emprestaram a essa pesquisa seu conhecimento e arte, mencionados como Colaboradores, sobretudo os que estiveram conosco nos trabalhos de campo e laboratório.

E a Beth Medeiros, em especial, não só por ter participado dessas etapas da pesquisa, como por ter acompanhado este trabalho até o momento final de sua realização, e aos seus familiares pela acolhida nos momentos mais árduos.

(7)

COLABORADORES

_____________________________________________________________________

1. ANÁLISE DE MATERIAL ARQUEOLÓGICO Ana Lúcia da Costa Machado – M. P. E. Goeldi Alberto Lins

Macro-análise da cerâmica

Profª Conceição Lage – UFPI

Análise micro e macroscópica da cerâmica

Profª Ana C. Ramos - UFPE

Análise microscópica da cerâmica

Prof. Mozart Ramos – UFPE

Análise da cerâmica por fluorescência e difratometria de raios X

P. T. de Souza Albuquerque

Identificação da faiança

Deusana da C. Machado – M. P. E. Goeldi

Identificação da malacofauna

André Jacobus – UNISINOS J. Vladimir Luft

Identificação do material osteológico da fauna

J. Vladimir Luft Adrienne Costa e Silva

Identificação do material osteológico humano

Profª Lucila Borges - UFPE

Identificação da matéria-prima dos artefatos líticos (Sítio Antenor)

2. GRÁFICOS E ILUSTRAÇÕES:

Beth Medeiros Elaine Coutinho F. Parenti K. Samico

Onésimo Jerônimo Ricardo Hermes Veralda Lauritzen

3. REGISTROS FOTOGRÁFICOS Acervo do NEA-UFPE:

Claristella Santos - UFPE Profª Gabriela Martin - UFPE Prof. Marcos Galindo - UFPE Profª Bartira Ferraz - UFPE Acervo do IPHAN/BA:

Arq. Ubirajara Avelino Mello

4. ESTUDO GEO-GEOMORFOLÓGICO W. Goldmeier

L. Gamberi

5. ARTE FINAL Beth Medeiros

(8)

SUMÁRIO

___________________________________________________________________________

Pág.

INTRODUÇÃO

ARQUEOLOGIA NO MÉDIO SÃO FRANCISCO 01

CAPÍTULO I FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA 14

1.1. Abordagem arqueológica e abordagem histórica. 14

1.2. Teorias e categorias da arqueologia. 16

1.2.1. Contexto ambiental e cultura. 18

1.3. Enfoque metodológico. 26

1.3.1. Categoria s analíticas e interpretativas. 28

1.3.1.1. Técnica, indivíduo e padronização. 32

1.3.2. Controle de dados. 34

1.3.2.1. Perfil técnico e identidade cultural. 35

CAPÍTULO II ITAPARICA: O CONTEXTO AMBIENTAL 38

2.1. A região do médio São Francisco. 38

2.2. Itaparica: a área da pesquisa. 44

2.3. Itaparica: as feições fisiográficas. 46

2.3.1. Terraços fluviais. 52

2.3.2. Os solos. 54

2.3.3. Condições climáticas. 56

2.3.4. Recursos hídricos. 58

2.3.5. Condições bióticas. 63

2.3.5.1. Cobertura vegetal. 64

2.3.5.2. Recursos da fauna. 77

2.4. Condições paleoambientais. 81

CAPÍTULO III O CONTEXTO CULTURAL HISTÓRICO 87

3.1. A ocupação histórica no Sertão dos Rodelas. 88

3.1.1. O projeto colonia l e os agentes colonizadores. 91

3.1.2. Casa da Torre: gado e currais no Sertão dos Rodelas. 96

3.1.3. A ação missionária no rio São Francisco. 129

3.1.3.1. A Junta das Missões e a política indigenista. 130

3.1.3.2. O plano colonizador de Nóbrega. 136

CAPÍTULO IV O CONTEXTO CULTURAL ETNO-HISTÓRICO 148

4.1. Os nativos no contato com o colonizador. 148

4.1.1. As populações nativas: conflitos e alianças. 150

4.2. Missões e aldeias. 155

4.3. Os nativos e os “lugares” dos nativos. 160

(9)

4.4. Os indígenas do Sertão dos Rodelas e outros sertões. 167

4.5. Os remanescentes indígenas do São Francisco. 195

4.4.1. Os Pankararu. 195

4.4.2. Os Tuxá. 205

4.4.3. Os Truká. 209

4.4.4. Os Atikum. 210

4.6. Identidade e alteridade. 214

4.7. A memória nativa nos desvãos da história. 217

CAPÍTULO V O CONTEXTO ARQUEOLÓGICO DE ITAPARICA 224

5.1. Processo de ocupação na pré-história de Itaparica. 226

5.1.1. As estruturas de ocupação. 227

5.1.1.1. As ocupações em abrigos-sob-rocha. 229

5.1.1.2. As ocupações ao ar livre. 245

5.1.2. Os vestígios humanos: estruturas e artefatos. 265

5.1.2.1. Artefatos cerâmicos. 266

5.1.2.2. Material ósseo. 288

5.1.2.3. Estruturas de enterramento. 296

5.1.2.4. Registros gráficos. 302

5.2. Crono -estratigrafia e periodização. 313

5.2.1. Cronologia absoluta. 314

5.2.2. Cronologia relativa ou espaço-temporal. 317

CAPÍTULO VI OS ARTEFATOS LÍTICOS DE ITAPARICA 320

6.1. Tradição Itaparica: caracterização. 321

6.2. As populações autóctones do entorno sanfranciscano. 325

6.3. O material lítico. 327

6.3.1. A análise do material lítico. 329

6.3.1.1. Os grupos dos artefatos. 331

6.4. As relações intra-sítios. 377

6.5. As relações intersítios. 382

CONSIDERAÇÕES FINAIS 386

BIBLIOGRAFIA 392

GLOSSÁRIO 420

ILUSTRAÇÕES i

ANEXOS iv

(10)

ILUSTRAÇÕES ILUSTRAÇÕES

___________________________________________________________________________

FIGURAS

Pág.

Capítulo II

Fig. 01 – Sítios arqueológicos na Área de Itaparica. 40

Fig. 02 – Cachoeira de Itaparica. 41

Fig. 03 – Localização da Área de Itaparica. 45

Fig. 04 – Recursos hídricos e povoamento. 47

Fig. 05 – Estrutura geológica. 49

Fig. 06 – Solos. 55

Fig. 07 – Cobertura vegetal. 65

Capítulo III Fig. 08 – Expedições baianas e pernambucanas. 97

Fig. 09 – Casa da Torre - Bahia. 109

Capítulo IV Fig. 10 – Igreja da Missão de São Félix, na ilha dos Cavalos, Orocó-PE. 165

Fig. 11 – Ruínas do templo da Missão Nossa Senhora da Assunção, Cabrobó -PE. 165

Fig. 12 – Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, Missão da ilha do pontal, Santa Maria da Boa Vista-PE. 166

Fig. 13 – Índios Pankararu – Dança com máscaras dos Praiás. Localização de tribos no São Francisco. 196

Capítulo V Fig. 14 – Gruta do Padre. Planta geral. 230

Fig. 15 – Gruta do Padre. Entrada do sítio. 230

Fig. 16 – Gruta do Padre. Evidenciação da estratigrafia. 232

Fig. 17 – Gruta do Padre. Urna funerária, fossa 1. 232

Fig. 18 – Pedra do Letreiro. Plano geral com disposição das fogueiras. 236

Fig. 19 – Vista geral da Pedra do Letreiro. 236

Fig. 20 – Estratigrafia do Letreiro do Sobrado, com localização de fogueiras datadas em 6.390 e 1600 anos BP. 239

Fig. 21 – Letreiro do Sobrado. Base da fogueira com datação mais antiga. 240

Fig. 22 – Letreiro do Sobrado. Perfil do abrigo com localização das gravuras. 240

Fig. 23 - Várzea do Arapuá com vista para a serra da Cacaria. 241

Fig. 24 – Vista do abrigo Riacho do Olho d’Água I. 241

Fig. 25 – Riacho do Olho d’Água I. Fogueira com datação de 960±60 anos BP. 243

Fig. 26 – Riacho do Olho d’Água I. Plano geral. 243

Fig. 27 – Riacho do Olho d’Água I. Perfis estratigráficos, com localização de Fogueira datada. 244

Fig. 28 - Sítios arqueológicos na Área de Itaparica . 247

Fig. 29 - Loca lização de Várzea Redonda e entorno. 247

Fig. 30 – Sítio Ilha de Sorobabel. Evidenciação das primeiras camadas, com ossos e cerâmicas queimadas. 252

Fig. 31– Letreiro de Petrolândia. Sítio de gravuras. 252

Fig. 32 - Sítio Antenor. Plano geral e concentrações líticas. 254

Fig. 33 -Missão Nossa Senhora do Ó. Planta geral. 260

Fig.34 - Missão Nossa Senhora do Ó. Superfície e estruturas evidenciadas. 261

i

(11)

Fig. 35 – Missão Nossa Senhora do Ó. Material construtivo. 264

Fig. 36 - Cerâmica dos sítios da ilha de Sorobabel. Confecção e artefatos. 269

Fig. 37 - Cerâmica dos sítios da ilha de Sorobabel. Decoração bicrômica. 270

Fig. 38 - Cerâmica dos sítios da ilha de Sorobabel. Decoração plástica. 272

Fig. 39 - Cerâmica dos sítios da ilha de Sorobabel. Decoração plástica: bordas e bojos. 273

Fig. 40 – Cerâmica da Área de Itaparica. Cerâmicas globulares com detalhes da borda. 274

Fig. 41 – Perfis cerâmicos de recipientes da Área de Itaparica – Grupos I a IV. 277

Fig. 42 - Sítios da ilha Sorobabel. Cerâmicas exógenas. 283

Fig. 43 - Sítios da ilha Sorobabel. Material ósseo 1. 292

Fig. 44 - Sítios da ilha Sorobabel. Material ósseo 2. 293

Fig. 45 - Gruta do Padre. Plano geral com localização de estruturas funerárias. 297

Fig. 46 – Missão Nossa Senhora do Ó. Estruturas funerárias. 300

Fig. 47 – Letreiro de Petrolândia. Gravuras. 304

Fig. 48 – Letreiro do Sobrado. Gravuras. 305

Fig. 49 – Riacho do Olho d’Água I. Painel 1a. 306

Fig. 50 – Riacho do Olho d’Água I. Painel 1b. 308

Fig. 51 – Riacho do Olho d’Água I. Painel 2. 309

Fig. 52- Riacho do Olho d’Água II. Painel 1. 310

Fig. 53 - Riacho do Olho d’Água I. Painel 2. 311

Fig. 54 - Riacho do Olho d’Água I. Painel 3. 312

Fig. 55 -Gruta do Padre. Perfil estratigráfico e datações. 315

CAPÍTULO VI Fig. 56 - Sítios e ocorrências da serra do Arapuá. Material lítico. 369

QUADROS Capítulo IV Quadro I –Povoações indígenas e núcleos urbanos na área de influência da Casa da Torre. 221

Capítulo V Quadro II – Gruta do Padre. Estratigrafia e ocupação. 234

Quadro III – Sítios da Ilha de Sorobabel.Distribuição dos fragmentos pelo perfil cerâmico. 276

Capítulo VI Quadro IV – Etapas de confecção do material lítico. 330

LÂMINAS Capítulo VI Material lítico Lâmina I – Gruta do Padre.Escavação Calderón. 334

Lâmina II – Gruta do Padre.Escavação do PIS.Estrato II. 341

Lâmina III – Gruta do Padre. Escavação do PIS.Estrato Ib. 342

Lâmina IV – Gruta do Padre. Escavação do PIS.Estrato Ib. 343

Lâmina V – Gruta do Padre. Escavação do PIS.Estratos I e superficial. 344

ii

(12)

Lâmina VI – Abrigo do Sol Poente. Estrato I e superfície. 348

Lâmina VII – Várzea Redonda e Barrinha. 349

Lâmina VIII – Letreiro do Sobrado. Estratos III e II. 353

Lâmina IX – Letreiro do Sobrado. Estrato I e superficie. 354

Lâmina X – Várzea da Barra do Pajeú. 356

Lâmina XI – Missão Nossa Senhora do Ó e Sítio Ilha de Sorobabel. 360

Lâmina XII – Papajeú de Baixo I. 362

Lâmina XIII – Papajeú de Baixo II. 364

Lâmina XIV– Riacho do Olho d’Água I. Estratos III e II. 367

Lâmina XV – Riacho do Olho d’Água I. Estratos I e superficial. 368

Lâmina XVI – Sítio Antenor. 374

Lâmina XVII – Sítio Antenor. 376

iii

(13)

ANEXOSANEXOS

__________________________________________________________________________

I – Sítios e Coordenadas da Área de Itaparica.

II – Cerâmica Pankararu. Etapas de confecção I – II.

III – Cerâmica Pankararu. Etapas de confecção III – IV.

IV – Cerâmica Pankararu. Etapas de confecção V - VI.

V - Cerâmica Pankararu.

VI – Cerâmica Pankararu. Formas tradicionais 1.

VII – Cerâmica Pankararu. Formas tradicionais 2.

VIII – Cerâmica Pankararu. Influência exógena e formas recriadas.

IX – Análise macroscópica de cerâmica da Área de Itaparica – UFPI X – Análise cerâmica da Área de Itaparica – UFPI. Diagnóstico.

XI - Análise microscópica da cerâmica dos sítios da Ilha de Sorobabel – UFPE XII – Ficha de análise de material lítico.

XIII –Material lítico da área de Itaparica. Distribuição por grupos de artefatos – 1.

XIV – Material lítico da área de Itaparica. Distribuição por grupos de artefatos – 2.

XV – Matéria-prima do material lítico. Gruta do Padre – Escavação Calderón.

XVI – Matéria -prima do material lítico. Gruta do Padre – Escavação do PIS.

XVII - Matéria-prima do material lítico. A. do Sol Poente, Várzea Redonda e Barrinha.

XVIII - Matéria -prima do material lítico. Letreiro do Sobrado.

XIX - Matéria-prima do material lítico. Sítio Ilha de Sorobabel.

XX - Matéria -prima do material lítico. Setor do Pajeú.

XXI - Matéria-prima do material lítico. Sítios Papa jeú de Baixo I e II.

XXII – Matéria-prima do material lítico. Riacho do Olho d’Água I.

XXIII - Matéria -prima do material lítico. Ocorrências no Setor da Serra do Arapuá e Sítio Antenor.

iv

(14)

INTRODUÇÃO

ARQUEOLOGIA NO MÉDIO SÃO FRANCISCO

As pesquisas arqueológicas no vale do São Francisco são o suporte principal para o conhecimento sobre as populações autóctones desaparecidas na região, bem como as da época do contato com o europeu e seus remanescentes, referenciadas na historiografia como tribos históricas.

Os grupos indígenas da região média do São Francisco passaram a interessar a comunidade científica a partir do trabalho que o antropólogo Carlos Estêvão realizou na década de 30 e foi publicada na seguinte (1943). Ao pesquisar essas populações, tomou-se de interesse pela lenda sobre o padre e a moça raptada no Piauí, cremados na Gruta do Padre pelos parentes dela, que haviam saído em perseguição do casal. Em visita ao abrigo descobriu a existência de um ossuário, do qual deve ter coletado quase todo o material, pois décadas depois ao estudar o sítio, Valentin Calderón (1967,1971, 1973,1983), não faz referência à abundância do material ósseo cremado, como o fizera seu antecessor.

Paralelamente, pesquisadores do Nordeste, apoiados sobretudo pelos institutos históricos e geográficos, a exemplo Ott (1958) na Bahia e Studart Filho (1966) no Ceará, analisavam objetos descontextualizados na tentativa de levantar uma pré-história regional.

Calderón, por sua vez, entre os anos cinqüenta e setenta, percorreu a região fazendo um levantamento dos sítios arqueológicos nas margens do São Francisco, tendo escavado uma porção correspondente a dois terços da área da Gruta do Padre, permanecendo intacto o setor que se encontrava sob pesados blocos. Outras coletas de material foram por ele realizadas em diversos sítios, sobretudo de artefatos de pedra, que inseriu em uma tradição lítica por ele denominada Itaparica, conforme os artigos publicados no PRONAPA, nos quais justifica os resultados sumários. Sem uma referência clara sobre os critérios utilizados, baseou-se aparentemente na uniformidade tipológica e na presença de um guia fóssil, a lesma, seguindo em linhas gerais a orientação do enfoque histórico-cultural adotado na época.

Os trabalhos arqueológicos na região foram interrompidos por ocasião do falecimento desse pesquisador, sendo retomados quase dez anos depois, na década de oitenta por Gabriela Martin, coordenadora do Núcleo de Estudos Arqueológicos - NEA da Universidade Federal de Pernambuco, mediante assinatura de convênio com a Companhia Hidroelétrica do São Francisco – CHESF. Esse acordo tinha por objetivo a realização de trabalhos de salvamento arqueológico na área de implantação de uma barragem em Itaparica, através do Projeto Itaparica de Salvamento, que além do aspecto arqueológico e antropológico, abrangia ainda os aspectos históricos, coordenados por Maria do Socorro Ferraz.

A área de Itaparica, em conformidade com o projeto de construção da Barragem batizada “Luiz Gonzaga”, compreendia o espaço entre o leito menor do São Francisco e a cota máxima de inundação e as ilhas, pertencentes ao Estado de Pernambuco. O Núcleo de Estudos Arqueológicos da UFPE ficou responsável pelo lado pernambucano, enquanto o setor baiano foi estudado por uma equipe da Universidade Federal da Bahia.

Para contornar a delimitação artificial desse espaço, os pesquisadores de Pernambuco incluíram áreas circunvizinhas na margem esquerda, com o objetivo de abranger alguns setores localizados em compartimentos topográficos diferenciados, a fim de obter maiores informações sobre a região e, conseqüentemente, alcançar uma maior compreensão da ocupação local pelas populações pré-históricas e históricas. Posteriormente foi anexa da

(15)

2 uma região serrana ao norte, que apresenta condições ambientais contrastantes, a fim de se ampliar as informações complementares à ocupação na área nuclear da pesquisa.

Vale lembrar que são inúmeras as dificuldades e limitações de natureza teórico- metodológicas inerentes à arqueologia de contrato, sobretudo à época em que os trabalhos em Itaparica foram realizados. A delimitação artificial da área, já mencionada, a pesquisa de campo paralela à construção da barragem, a falta de instrumental que agilizasse as práticas de campo e laboratório podem ser ressaltadas entre outras. Essa modalidade de pesquisa, apesar de alguns aspectos negativos, é compensada a priori pela circunstância de ter surgido do reconhecimento da importância dos vestígios arqueológicos para a reconstituição da história da huma nidade, tanto pelo poder público, como pela sociedade.

Sob a ótica atual, os testemunhos dos nativos e homens pré-históricos compreendem três ordens de importância, uma não superior à outra, distintas apenas do ponto de vista de seu significado: objeto de estudo, monumento memorialista para a sociedade atual e representação coletiva de grupos humanos do passado, resgatados pela prática científica.

Quanto aos problemas de ordem metodológica ou teórica, cabe aos arqueólogos procurar superá-los. Os resultados obtidos não se devem limitar aos relatos dirigidos aos órgãos financiadores. A transferência do conhecimento produzido, sobretudo para as populações envolvidas nos eventos que culminaram com sua realização, constitui um dever para com os cidadãos detentores daqueles bens patrimoniais, assim instituídos legalmente no Brasil, como acontece na maioria dos países que se autodenominam civilizados. A devolução social do conhecimento arqueológico sobre a pré-história é uma questão de ordem ética e moral para os produtores de ciência dessa área.

Nesse sentido, o trabalho do arqueólogo não se limita ao âmbito da atividade técnico- científica como acontece com estudos de outras áreas. Em sua atividade, é responsável pela reconstituição de culturas desaparecidas e divulgação no meio acadêmico para conhecimento dos demais membros do seu grupo, transcendendo porém sua atuação ao campo de trabalho, estendendo-se aos da política e da ética como um agente social. A devolução social se concretiza quando o arqueólogo participa na elaboração da autoconsciência de uma comunidade, fundamentada no conhecimento da pré-história como representação coletiva e nela procura internalizar um sistema de significados, simbólicos, de modo que a população adquira uma identidade que a coloque em uma posição social entre as demais e funcione, como ocorre na maioria das vezes, como um estímulo à elevação da auto-estima.

É a prática científica, portanto, que permite a instituição concreta dos vestígios arqueológicos como bens culturais, patrimoniais e representativos da identidade cultural das sociedades contemporâneas, como símbolos de grupos culturais, culturas ou sociedades do passado, das quais as do presente se sentem herdeiras. A práxis científica com base nesse suporte ideológico, difundida por organismos internacionais, preocupados com a preservação da memória e patrimônio cultural da humanidade (OEA, UNESCO, ICOMOS, ICCOM) desde a metade do século passado, e adotada pelos estudiosos algumas décadas depois (Lumbreras 1992), repousa, por sua vez, na práxis tecnológica e social de grupos humanos desaparecidos, o que faz desses vestígios enquanto objeto de estudo, signos de identidade cultural para as sociedades atuais. Nesse processo, a mediação de um se gundo componente faz-se presente, o espaço utilizado por ambos os grupos, os do passado e os do presente. Assim, é a identidade que os restos culturais proporcionam no presente às populações desconhecidas do passado que os produziram, que dá lugar a que se crie uma identidade para os homens modernos, como herdeiros do espaço que aqueles homens ocuparam, seja como seus remanescentes, descendentes ou responsáveis pela preservação de sua memória. No momento em que se desenvolve um processo de globalização, a xenofobia que se instala obscurece o entendimento de que identidade se constrói com

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valores, muitos deles esquecidos ou escondidos, camuflados na memória da coletividade, à espera de que sejam resgatados por uma arqueologia do social bem conduzida.

Por tudo isto, as raízes culturais merecem o esforço do pesquisador, o dispêndio de energia, tempo e custos financeiros. É sob esse enfoque, que este trabalho constituiu seu objeto de pesquisa, elaborando um estudo sistemático das primeiras ocupações humanas no médio vale do São Francisco, Pernambuco, e seus contatos com a população colonizadora.

Este estudo mais aprofundado de Itaparica, no rio São Francisco, justifica-se pela importância que encerra para memória da sociedade nacional, especificamente para a regional, refletindo a necessidade do trabalho arqueológico.

A construção da identidade acima referida, teve início com a pesquisa arqueológica realizado por Calderón em território baiano que lhe permitiu identificar as tradições ceramistas Aratu e Tupiguarani. No vale do São Francisco, dedicou seus esforços à região entre Petrolina e Belém do São Francisco, identificando pinturas rupestres, cerâmica e material lítico, estendendo sua pesquisa posteriormente a Petrolândia, mais precisamente às Grutas do Padre e do Anselmo, onde identificou a tradição lítica Itaparica.

Com a continuidade dos trabalhos arqueológicos na área de Itaparica, desenvolvidos por Gabriela Martin, dos quais participamos, as categorias tradição e indústria, continuaram sendo utilizadas, à espera de que maiores informações sobre a área apontasse uma nova direção teórico- metodológica, em meio às práticas de salvamento arqueológico que começavam a se delinear. Nas pequenas ilhas, terraços fluviais e abrigos resgataram-se vestígios de inumações em covas rasas e em vasilhames cerâmicos, um bom número de artefatos de pedra e registraram-se grafismos rupestres. Uma segunda escavação esvaziou a Gruta do Padre, de modo que os dados obtidos nessa segunda etapa de investigação pudessem ser confrontados com os levantados por Calderón, e que posteriormente serviriam de fundamentação a este trabalho.

Sobre essa etapa da pesquisa, é necessário explicarmos que neste trabalho o topônimo Itaparica firmado no período histórico, foi estendido aos tempos pré-históricos, não apenas por ter sido o termo atribuído a uma tradição lítica ou ser coetâneo a Rodelas, mas sobretudo por ter origem na língua de povos autóctones. É aplicado, portanto, a um período que retrocede a 8.000 - 6.000 anos atrás, quando a região foi ocupada pelos povos antigos, sobre cujos artefatos Calderón já instituíra a tradição cultural epônima, antecipando esse ato nominativo.

Na pesquisa arqueológica em Itaparica, contudo, não só as populações pré-históricas foram objeto de estudo; dela fazem parte também os grupos indígenas no contato com os colonizadores europeus, devido ao aspecto da continuidade cultural existente na área.

Conseqüentemente, o tema deste trabalho abrange a formação de duas sociedades diversas e o processo de superação de uma pela outra, exigindo o estudo da cultura material da nativa e as relações entre ambas nesse processo, em que se destacam grupos e indivíduos de ambos os lados: os colonizadores, que criaram normas e impuseram novos esquemas aos nativos e, estes, que conseguiram burlar certos dispositivos sociais de dominação, criando estratégias a partir das fissuras encontradas no sistema estabelecido.

Enfim, compreende a história da área de Itaparica desde os tempos pré-históricos e se encerra com o momento da formação da sociedade neobrasileira em um estágio, em que se reconhece a necessidade da inserção dos povos nativos na composição do tecido social, através da mestiçagem.

O estudo desse tema implica, portanto, em um dup lo problema. O primeiro, de ordem teórica, referente à confrontação de duas sociedades, cujos dados foram oferecidos pela arqueologia e a história , respectivamente. O segundo, de natureza metodológica, em que o estudo da relação entre ambas exige procedimentos que têm como suporte informativo arquivos de natureza diferente - o histórico e o arqueológico -, em um mesmo contexto

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4 analítico, abrangendo o antes e o depois do contato ocorrido entre elas, do qual resultaria uma formação social síntese das duas primeiras, a sociedade neobrasileira, atualmente sociedade nacional.

Sobre a pré-história de Itaparica, existia somente a caracterização de Calderón com base em dados insuficientes, fundamentada no corpus teórico da New Archaeology, à época submetido a debates revisionistas iniciados anos antes (Rouse 1957).

Para estabelecer a Tradição Itaparica, na ausência de um suporte artefatual ou espacial bem definido suficiente à contrastação de hipóteses, mesmo de baixo ou médio nível teórico, Calderón teria se apoiado na profundidade temporal por ele obtida com a datação entre 8.000 e 7.000 anos aproximadamente. As lacunas próprias de um estudo arqueológico em pré-história, em fase inicial, foram colocadas por G. Martin (1999: 177) nos seguintes termos:

“...a tradição Itaparica não está ainda bem caracterizada e se apoia, principalmente, na existência de certos artefatos líticos, especialmente as lesmas, além de que o número de sítios escavados é ainda pequeno.”

O desdobramento desse problema nos dias atuais levou-nos a propor um estudo mais profundo e incluir o fim do modo de vida das populações nativas no contato com os colonizadores. O processo de superação histórico-social dos povos nativos – historicamente denominados de indígenas – em poucas ocasiões tem sido analisado sob os aspectos histórico e pré-histórico concomitantemente, sendo estudado sob um ou outro desses aspectos, de modo isolado.

Diante desses vazios do conhecimento, levantamos questões sobre a recorrência de traços culturais ou atributos e sua variação regular ou irregular e descontínua na técnica, nos tipos, no tempo e no espaço, de modo a possibilitar a identificação de entidades confrontáveis entre si nos três momentos espaço-temporais ou culturais: o da pré-história, do qual restaram apenas vestígios materia is, o da proto -história, de que se tem notícia através da tradição oral dos grupos nativos, contatados pelo europeu colonizador no terceiro momento, e o histórico, único a possuir registros escritos, testemunhos contemporâneos dos acontecimentos, mesmo fragmentários quanto à realidade dos fatos.

Sobre os tempos históricos da região, desconhecemos qualquer trabalho específico de pesquisa arqueológica.

Para solucionar as questões acima referidas, levantamos como fim principal deste estudo, na história, a caracterização das relações entre nativos e colonos e o possível reflexo nos artefatos, sobretudo os de pedra, e, na pré-história, dos agrupamentos humanos através de um estudo dos vestígios culturais, os artefatos em micro e macro-escala, mediante o traçado de um perfil técnico como diferenciador técnico. Ou seja, na história buscamos as relações sociais e sua confirmação nos artefatos, e na pré-história, em sentido inverso, quanto nos foi possível, tentamos detectar essas relações através dos artefatos, que estariam refletidas no perfil técnico. Esse perfil está baseado nos dados levantados nas dimensões relevantes das técnicas, incluída evidentemente a morfologia, da deposição ou localização, do espaço e do tempo, observando-se não só as regularidades como as modificações, recorrentes ou descontínuas, e suas interrelações, enquanto representações de seus autores, passíveis de serem apreendidas como diferenciadores culturais. Essa identificação cultural ocorre nos três momentos espaço-temporais já referidos – pré- histórico, proto -histórico e histórico -, o segundo interpenetrando-se no primeiro, através dos artefatos, e no terceiro, no momento do contato do indígena com o colono europeu, o que marca o fim de um modo de vida dos habitantes autóctones da região sanfranciscana em Itaparica.Evidentemente, no momento do contato interétnico, esses diferenciadores culturais não têm uma visibilidade nos documentos históricos, mas se fazem notar nos arquivos pré-históricos, onde ficam registradas as marcas do choque cultural.

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O tema proposto, portanto, abrange dois momentos de uma formação social marcada por uma alteração cultural, que se refletiu no diferenciamento das formas de registro, e determinou uma dicotomia no tratamento metodológico das fontes de pesquisa, embora o suporte teórico pudesse ser único, aproximando pré- história e história, como prega Trigger (1983), tendo em vista que em Itaparica o enfoque histórico direto é possível devido à continuidade cultural observada na área.

Essa visão histórica da ocupação humana na região médio -sanfranciscana, não só servirá de parâmetro a novos estudos sobre a pré-história, como poderá instigar a continuidade das pesquisas para melhor aclarar a formação social brasileira no sertão nordestino.

Para este estudo, portanto, o ponto de partida foi o entendimento de que não existe uma tradição Itaparica nos moldes propostos pela New Archaeology, com dimensões espacial, temporal e tecnológica bem delimitadas exigidas para a definição de uma cultura como sinônimo de tradição. No nível atual do conhecimento, o que está caracterizado é uma tecnologia lítica adotada e adaptada às necessidades de diferentes grupos pré- históricos, em diferentes épocas e lugares, justificando portanto a longa permanência dos caracteres técnicos, hipótese de G. Martin que norteou os trabalhos arqueológicos em Itaparica. A tecnologia lítica Itaparica teria chegado até à colonização, acompanhando a desagregação social dos grupos indígenas, embora as técnicas de lascamento se tenham diversificado centenas de anos antes, quando do aparecimento do polimento da pedra.

Quanto à modificação cultural mais acentuada, teria ocorrido no contato com o elemento exógeno, através de uma política que tinha como objetivo integrar os povos autóctones no tecido social da Colônia tornando-os cidadãos, embora de segunda classe, portanto não os extinguindo, mas transformando-os.

Enfim, a tese que sustentamos neste trabalho é a de que não houve, nem na pré- história, nem no início da colonização, uma ruptura brusca generalizada no processo cultural dos povos nativos do médio São Fra ncisco, pelo menos na maioria deles. As modificações ocorreram em setores da vida cotidiana, de modo menos acentuado em uns, como o da elaboração dos artefatos, que em outros, nesses mais expressivos, como o das relações sociais estabelecidas com colonos e missionários. Esses agentes da colonização, apesar dos instrumentos de dominação de que se serviram – leis, normas, tecnologia avançada, remanejamento da população autóctone -, nem mesmo assim conseguiram evitar a lentidão nas transformações planejadas, ao menos nos dois primeiros séculos e meio de colonização, o que resultaria em continuidade cultural atestada pela presença de grupos nativos até os dias atuais.

Enquanto processo histórico, houve uma alteração na trajetória desses grupos, tendo em vista que a história é um processo que não tem fim, a não ser para o grupo ou grupos humanos que desapareceram totalmente por extermínio. Não se pode afirmar que tenha havido um corte brusco total e geral no passado cultural do homem pré-histórico no momento do contato interétnico, agora rotulado indígena, porque diversos aspectos materiais da cultura nativa remanesceram durante algum tempo, passíveis de ser observados nos vestígios resgatados nas pesquisas arqueológicas, inclusive os coletados em missão implantada no território de uma aldeia, significando resistência à influência do povo exógeno, testemunhada pelos grupos remanescentes que ainda habitam a região.

Os missionários também contribuíram para esse status quo, pois apesar de objetivarem a extirpação dos costumes nativos, serviram de anteparo à implantação das fazendas de gado em detrimento das aldeias. Mais que destrutivas, as missões tornaram-se um fator de prolongamento da cultura nativa no sertão. A presença das missões até tardiamente na região do médio São Francisco foi decisiva na permanência de alguns grupos indígenas que até hoje vivem na área.

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6 Com isso, não queremos afirmar que os missionários não procurassem com empenho modificar os hábitos culturais dos nativos, especificamente os espirituais e morais, mas as práticas funerárias dos indígenas demonstram uma certa tolerância com esses costumes. A presença dos religiosos, de certo retardou o avanço destrutivo da civilização dos currais, impla ntada no rastro da pecuária extensiva.

Materialmente, a falta de implementos pelo custo e distância do centro fornecedor, na Colônia ou na Metrópole, induziu a missionários e colonos no sertão a utilizarem o instrumental indígena. Quanto aos nativos, arte fatos da tecnologia exógena estiveram a seu alcance, provavelmente, com maior freqüência os que agilizavam as tarefas cotidianas, como os de metal, que foram aos poucos substituindo os implementos de pedra. De ambos os lados, portanto, novos costumes foram adotados, e o que aconteceu em termos de processo histórico no sertão, para que se estabelecesse uma continuidade cultural, foi a assimilação do sistema imposto aos nativos apenas no aspecto externo, que permaneciam outros, enquanto infiltrados nele, modificavam- no sem abandoná-lo. A adoção de costumes e artefatos indígenas pelo colonizador e do modo de vida do europeu pelas populações autóctones, evidentemente não aconteceram sem resistências perceptíveis.

Com essa tese não pretendemos fechar o tema, ao contrário formulamos hipóteses como resultados, uma vez que nos estudos arqueológicos as conclusões são indagações que estimulam a continuidade da pesquisa.

Os resultados do desenvolvimento dessa tese, enfim, da análise e interpretação do material arqueológico e histórico, foram ordenados de modo que as informações dos grupos indígenas do período da conquista participem da explicação nesse momento da história da região e contribuam para o estudo das populações pré-históricas, como referência etno - histórica e até mesmo etnográfica, conforme se pode verificar pela disposição dos assuntos em capítulos.

Esclarecemos, que no ordenamento do trabalho privilegiamos a apresentação dos subtemas, a qual reflete um “desmonte arqueológico” do processo histórico das populações indígenas sanfranciscanas, começando pelo período mais recente em direção ao mais antigo, como em um procedimento de decapagem do espaço Itaparica-sertão dos Rodelas.

Capítulo 1.

Neste capítulo, que trata dos fundamentos teóricos e metodológicos que nortearam esta pesquisa, partimos do pressuposto de que o homem em qualquer tempo e época constrói a sua história, enquanto domina o meio natural, estabelecendo duas ordens de ambiente, o cultural e o natural. Isto ele o faz elaborando instrumentos, modificando o meio físico, fazendo parte de uma coletividade, no seio da qual interage através de normas sociais, institucionalizadas, reguladoras das relações com o meio social e o natural que lhe atribuem uma identidade que é a da própria coletividade. Particularmente, nesta pesquisa, adotamos o termo instrumento no seu significado mais restrito, o de extensão do corpo humano, na superação de suas deficiências enquanto equipamento de adaptação à natureza e, portanto, de suas necessidades; complementar a este, artefato foi usado como o termo mais abrangente, ou seja, de meio usado pelo homem para dominar ambos os ambientes, o natural e o social. Em decorrência, uma modificação qualquer no ambiente teria como resultado, um artefato. Dominar a natureza ou o próprio meio social seria equivalente a adaptar-se, ou seja, superar necessidades, o que dependeria da apropriação cognitiva de um espaço físico e da implantação nele de um espaço cultural e social, atribuindo-lhes significados simbólicos.

Para operacionalização desses pressupostos no desenvolvimento de nossa pesquisa, baseamo -nos nos vestígios arqueológicos, especificamente no estudo dos artefatos de pedra, usando uma abordagem teórico-metodológica condizente com essa linha de

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pensamento, o contextualismo. Esse enfoque, que é uma síntese da ecologia , do estruturalismo simbólico e da teoria de sistemas culturais, analisa os artefatos pré- históricos do ponto de vista do nível do conhecimento e utilização do ambiente, abrangendo significados (simbólicos) e varia bilidade, observável nas variáveis tempo, espaço, localização ou deposição (estrato) e técnica (tipologia, tomada como categoria classificatória), em que similitudes e diferenças têm importância igual no nível interpretativo dos dados obtidos sobre o material analisado.

Ao tratarmos da aplicação prática da teoria no estudo dos objetos, focalizamos de modo resumido as correntes de pensamento que fundamentam o contextualismo, o estruturalismo e a teoria de sistemas culturais, tratando o aspecto da ecologia diretamente como contexto, em que os ambientes natural e social constituem um texto que pode ser lido. As categorias mais relevantes de cada corrente foram abordadas, sobretudo as já consagradas na arqueologia, além das que necessariamente são mencionadas no trabalho, embora não façam parte do esquema teórico utilizado: território e lugar, cultura, grupo cultural e tradição, padronização, estrutura, conhecimento, identidade, indivíduo, mito e magia, além das categorias analíticas e interpretativas do conte xtualismo, já mencionadas, e outras que com elas se relacionam, como tecnologia, técnicas e variabilidade técnica e instrumento.

No esquema que adaptamos da arqueologia analítica, os dados levantados a partir do ato técnico podem identificar até crenças e costumes, caso sejam considerados suficientes, embora em uma análise qualitativa, um só dado possa sinalizar a existência dessas ocorrências culturais.

O controle de dados foi feito a partir da definição de níveis técnicos, que abrangem os conceitos de te mpo técnico e etapas de confecção, como categoria cultural crono- espacial, definidora de um grupo social, de uma etnia, quando contribui para a configuração de um nível tecnológico em uma determinada área geográfica. As etapas de confecção representam a cadeia operacional ou ritmo de confecção dos artefatos, cujas características indicam o nível técnico, que se situa entre a prática de um conjunto de procedimentos técnicos até a introdução de um novo, seja por criação, invenção, adoção ou reinterpretação, ao mesmo tempo, significando também um nível de conhecimento e exploração do meio. Aos níveis técnicos, determinados pelas técnicas de confecção dos artefatos, representamos por códigos, levantados por nós a partir de trabalho anterior, afim de que pudéssemos comparar os diferentes grupos de artefatos, observando a variabilidade e o significado prático e, quando possível, o simbólico, sem perder de vista sua localização no sítio ao colocá-los em um nível temporal e espacial. Com esse significado, tempo técnico seria utilizado apenas para as variáveis sem possibilidade de datação. Para que esses dados fossem levantados, foi realizada uma análise de elementos sobre os aspectos tecno -morfológicos de cada artefato de pedra, registrados em planilha e fichas individuais.

Capítulo 2.

Na abordagem contextual, a apropriação do mundo objetivo ocorre através do processo de compreensão da realidade ambiental e de reflexão consciente sobre ela.

Entendemos então, que as transformações bruscas no espaço criam no homem a necessidade de migrar para outro lugar sob condição diferente, o que se reflete no conhecimento do grupo, perceptível nas modificações que se verificam nas técnicas, usos e costumes. Mesmo que não haja transferência de ambiente, quando uma adaptação ao meio se faz necessária, exige a aquisição de novos conhecimentos.

Sob esse ponto de vista, neste capítulo descrevemos o meio físico da área de pesquisa de Itaparica, inserida na região do médio São Francisco, referenciada na historiografia desde os primeiros tempos da Colônia. As feições fisiográficas permitiram

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8 que a zoneássemos em quatro compartimentos topográficos de características particulares, em função dos dados arqueológicos, ressaltando os terraços fluviais, locais ocupados preferencialmente pelos grupos pré-históricos da região. Igualmente, levantamos as características dos solos, condições climáticas e recursos hídricos, com destaque para os brejos devido à sua importância em uma região de caatinga. Como condição complementar à vida do homem, focalizamos as condições bióticas, do ponto de vista da fauna e da vegetação, esta natural e domesticada, tomando como referência os procedimentos estudados entre os grupos nativos do Brasil Central, aparentados etnicamente dos grupos sanfranciscanos, embora sem podermos estabelecer uma conexão entre aqueles e os grupos pré-históricos dessa ribeira, de épocas mais recuadas. Ressaltamos que nesse levantamento do meio ambiente tivemos em mira tanto o homem pré-histórico como o colonizador.

Contemplamos ainda neste capítulo, os dados que existem e que entendemos significativos para um contexto ambiental, não só no período colonial. Sua indicação para um período subatual considera que as transformações no ambiente nordestino, nos últimos 6.000 anos, de um modo geral, teriam sido pouco radicais. Por outro lado, as pesquisas arqueológicas na margem baiana apontam para uma exploração de ambientes que se estendem de pés-de-serra a dunas, o que veio reforçar a necessidade do levantamento de dados sobre as características amb ientais da área, na margem pernambucana.

Os dados sobre o paleoambiente, embora sobre o entorno da área, e ainda assim fragmentários, demonstram a interferência antrópica nos pontos pesquisados – lado oeste da bacia no médio São Francisco – na faixa de tempo supra mencionada, relativamente contemporânea ao início da ocupação humana em Itaparica, na margem pernambucana.

Outros dados sobre o paleoambiente foram levantados em regiões próximas ou até mesmo distantes no continente sul-americano, a fim de podermos verificar a existência de mudanças climáticas significativas que pudessem ter interferido no ambiente.

Outro ponto que abordamos nesse capítulo refere-se ao manejo de solos e exploração da vegetação por grupos nativos do Nordeste e regiões do entorno, e até de áreas mais distantes do continente sul-americano, a fim de que não percamos a referência das inúmeras possibilidades de uso do meio por esses grupos e de como esse conhecimento passou à população transmigrada nos primeiros tempos de colonização.

Capítulo 3.

Com este capítulo iniciamos a decapagem do estrato espaço-temporal, eminentemente de caráter social, em que povos nativos e europeu se defrontam e formam a sociedade neobrasileira. Consta esse estrato, portanto, das relações que o colonizador branco estabeleceu na apropriação da terra, da qual os nativos faziam parte, com as particularidades locais que as normas do conquistador imprimiu ao sistema colonial. De um modo geral, tratamos as estratégias de conquista e dominação da terra, com a alteração das estruturas sociais das populações nativas, através de expedições de guerra de expulsão ou extermínio para os rebeldes, imposição de laços de consangüinidade na mesclagem étnica, proibição de usos e costumes tradicionais e imposição de outros pela catequese -, enfim do desenraizamento cultural das populações autóctones, que queria o colonizador se fizesse rápido, mas transcorreu lentamente.

Especificamente, esse processo que envolveu os representantes da população transmigrada – colonos, funcionários e missionários, enfim o componente europeu analisado rapidamente em seus costumes e maneira de pensar - abrange as conexões entre o governo da Metrópole e os agentes colonizadores, lastreadas nos interesses comuns que os uniam, mas que também podiam distanciar-se quando colonos e funcionários sentiam-se prejudicados pelas determinações da Coroa, tendo como resultado a desobediência legal.

Isto porque, os dispositivos legais quase sempre procuravam cercear a exorbitância no uso

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de direitos e prerrogativas adquiridos pelos portugueses e enquadrá-los nos objetivos do plano colonial, aos quais não receavam contrariar. Para um melhor entendimento do processo de superação de uma cultura por outra, abordamos também os instrumentos e estratégias de dominação, sustentados pelo arsenal legal de que se cercou a administração portuguesa.

Nesse aspecto, a ação dos senhores da Casa da Torre na conquista de quase um terço do território brasileiro, ou seja, quase todo o nordeste, atribuiu ao sistema colonial brasileiro características próprias a essa região. A terra e tudo nela existente constituíam a base do poder e as estruturas de poder fundadas na propriedade da terra, em grande parte, determinaram as formas de relação social que se estabeleceram na sociedade neobrasileira nessa região.

Na estratégia da colonização, procuramos ressaltar também a ação dos missionários não só na atividade catequética, como na política, devido às peculiares interpenetrações do sistema administrativo nos interesses da Igreja e vice-versa. Com relação às populações de origem local, destacamos o papel dos religiosos como mediadores no plano de dominação, nos conflitos com colonos em torno do uso dos indígenas como mão-de-obra escrava ou semi-escrava Contribuíram para a aplicação da política portuguesa no espaço indígena, enquanto zelosamente executavam as estratégias estabelecidas para a consecução dos objetivos particulares da Igreja, embora fossem tolerantes com alguns costumes nativos, como revelou a pesquisa arqueológica. De um modo geral, aos missionários coube a tarefa de destribalização das populações nativas com a criação das aldeias artificiais, com os descimentos, e a uniformização cultural, com a anulação dos idiomas substituídos pela língua geral, mas particularmente no sertão sanfranciscano alguns religiosos preocuparam- se em aprender a língua dos Cariri. Contraditoriamente, devido a essas particularidades, a cristianização dos povoados indígenas sanfranciscanos retardou esse processo, que teria sido mais rápido sem o anteparo da presença dos catequistas e se relegado só aos curraleiros.

Da catequese, principalmente, dependeria a formação do tecido social da Colônia, essencial para a realização do projeto colonial português organizado em quatro etapas: o da exploração econômica; o da implantação da máquina administrativa do sistema colonial, em que a Colônia tornou-se uma extensão da Metrópole, com deveres, mas sem garantias de direitos, menos ainda de privilégios; o da organização de uma sociedade local consumidora, da qual participaria o elemento nativo; e, por último, o da implantação de um modelo administrativo que gerisse uma colônia auto-suficiente.

Capítulo 4.

No quarto capítulo, enfocamos o terceiro componente do estrato espaço-temporal histórico, o indígena. O estrato neobrasileiro é tratado como o momento da reelaboração da herança cultural dos povos pré-históricos pelos nativos em contato com a cultura européia, enquanto esta ia adquirindo novos aspectos com as aquisições culturais dos povos autóctones, síntese portanto de conhecimentos e costumes de diferentes populações, representadas pelo componente indígena, nativo, e pelo estrangeiro, branco, europeu. Um, portador de tecnologia incipiente e de um modo de vida determinado por normas consensuais reguladoras das atividades cotidianas, tanto as que supriam as necessidades de subsistência, como as relacionadas ao universo de crenças, suporte de sua organização social; e o outro, possuidor da tecnologia mais avançada da sua época, na qual apoiava a consecução de seus objetivos, ou seja, a produção de bens excedentes para abastecer o mercado mundial com o fim único e precípuo de acumular riquezas. A presença de ambos em um mesmo espaço, exigindo uma reordenação não só espacial como cultural, não

Referências

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