o
CBAQ U E S E S A B E E O Q U E S E F A Z S O B R E A E D U C A Ç Ã O N O C O N-T E X -T O D O S A S S E N T A M E N T O S R U R A IS - C O L O C A N D O G Á S N A
L A M P A R IN A ....YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
(W H A T W E K N O W A N O W H A T W E D O O N E O U C A T IO N IN T H E C O N T E X T O F
T H E R U R A L S E T T L E M E N T S : L lT H E N IN G T H E S C H O O L )
R E S U M OZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
E s t e t r a b a l h o a p r e s e n t a u m a d i s c u s s ã o c a l c a -d a n a p r á t i c a d e u m a p e s q u i s a - i n t e r v e n ç ã o e m e s c o -l a s d e a s s e n t a m e n t o s r u r a i s , c o n t r i b u i n d o p a r a a c o m p r e e n s ã o d a i d e n t i d a d e d o c a m p o e a e s p e c i f i c i d a d e d a e d u c a ç ã o q u e e l e r e q u e r . S i t u a n d o a e s c o l a n e s t e e s p a ç o d e r i q u e z a c u l t u r a l e d e p o b r e -z a t e c n o l ô g i c a . v e r i f i c a - s e a a u s ê n c i a d e u m a f o r m a -ç ã o p o l í t i c a n e c e s s á r i o a o e x e r c í c i o c o n s c i e n t e e i n t e g r a d o r d a s p o s s i b i l i d a d e s d e u m a g e r a ç ã o , q u e n e l a d e p o s i t a r e s p o n s a b i l i d a d e s e d e s e j o s , e m d i r e -ç ã o a u m a n o v a o r d e m i n s t i t u c i o n a l e d e m o c r á t i c a d o s a b e r - p o d e r . A d i v e r s i d a d e d a e s c o l a , e s c o n d e e n t r e -t a n -t o , u m m o v i m e n t o s i l e n c i o s o d e s s e s s u j e i t o s q u e a í r e s i s t e m , m u n a t e n t a t i v a d e c o n s t r u ç ã o d e s a b e r e s n o v o s , p r e s e r v a ç ã o d e v a l o r e s e d a c u l t u r a d o p o v o ,
e m b u s c a d e u m a e s c o l a d o c a m p o .zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Palavras-Chaves: Assentamentos Rurais - Educação/
Escola - Do Campo/ No Campo - Pronera
A B S T R A C T
E
T h i s p a p e r d i s c u s s e s t h e p r a c t i c e o f a n a c t i o n -r e s e a -r c h d o n e i n t h e l a n d s e t t l e m e n t s s c h o o l s ' o f C e a -r á . T h i s c o -r u -r i b u t e s t o t h e u n d e -r s t a n d i n g o f t h e i d e n t i t y o i t h e r u r a l a r e a s a n d t o t h e k i n d o f e d u c a t i o n t h e y r e q u i r e . L o o k i n g a t t h e s c h o o l i n t h e c o n t e x t o f t h e i r c u l t u r a l r i c h e n e s s a n d t e c h n o l o g i c a l w e e k n e s s , o n e i d e n t i f y t h e l a c k o i p o l i t i c a l b a c k g r o u n d t h a t i s n e e d e d t o t h e p r a c t i c e o f c o u n s c i o u s a n d i n t e g r a t e d p o s s i b i l i t i e s o f a g e n e r a t i o n t h a t t r a n s f e r s t o t h e
s c h o o l , r e s p o n s a b i l i t i e s a n d d e s i r e s t o w a r d s a n e w i n s t i t u t i o n a l a n d d e m o c r a t i c k n o w l e d g e a n d p o w e r . n
j
EUANE DAYSE PONTES FURTADOl
MARIA DE LOURDES PEIXOTO BRANDÃ02
T h e c o m p l e x i t y o i t h e s c h o o l h i d e s a " s i l e n t " m o v e o f t h e s e a c t o r s w h o a r e r e s i s t e n t , t r y i n g t o b u i l d a n e w k n o w l e d g e , t o p r e s e r v e p e o p l e 's v a l u e s a n d c u l t u r e i n t h e s e a r c h o i a t r u l y r u r a l s c h o o l .
Key Words: R u r a l S c h o o l s ; L a n d s e t l e m e n t s ; E d u c a t i o n ; P R O N E R A .
IN T R O D U Ç Ã O
Predomina no pensamento educacional
contem-porâneo o entendimento da educação como um
pro-cesso continuado e permanente. Entretanto, o quadro
edücacional brasileiro é ainda bastante insatisfatório. O direito à educação foi, ao longo dos anos, negado às classes mais pobres da população brasileira, dando origem à luta por uma educação popular, que também alcança as áreas rurais, as mais atingidas pela exclu-são educacional.
Miguel Arroyo (1999), no prefácio ao livro de
Roseli Caldart sobre a pedagogia do Movimento sem
Terra, lembrá o discurso de um governador mineiro
dos anos vinte, que ao enfatizar a importância da
reformulação dos currículos para as cidades
minei-ras, fala da educação dos (as) trabalhadores (as) do
campo, dizendo que "para o cultivo da terra, para
mexer com a enxada e para cuidar do gado, não são necessárias muitas letras". Esta fala reflete muito bem
o que tem predominado na política educacional
bra-sileira, no que diz respeito à educação do campo, até
hoje relegada a segundo plano, limitando-se a
esco-la, ao ensino das primeiras letras, às classes
multiseriadas, ao planejamento à distância, à má
qualificação do professorado, ao alto índice de
evasão, entre outros problemas.
IPhD, Professora do Departamento de Estudos Especializados da Faculdade de Educação da UFC e Coordenadora do Programa de
Pós-Graduação em Educação Brasileira.
2Doutora, Professora do Departamento Teoria e Prática de Ensino da Faculdade de Educação da UFC.
Acompanhando o trabalho desenvolvido pelo
Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrá-ria-INCRA e o Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra-MST, percebe-se que a situação é agravante
no campo, pois dos trabalhadores que conseguiram
ser assentados, a maioria necessita de condições
bási-cas satisfatórias para a sobrevivência econômica,
saú-de, condições hidro-sanitárias e educação, entre outras, que atualmente ainda são precárias.
Ao se desenvolverem as atividades do
PRONERA3, a partir de janeiro de 1999, através da
capacitação de 63 monitores da alfabetização de
jo-vens e adultos, orientação e acompanhamento das
ati-vidades de 4 alunos bolsistas, que atuam no processo
de capacitação e escolarização dos monitores (23 já
estão em sala de aula e os 40 restantes iniciarão em abril de 2000), a real situação da educação no campo,
no Ceará foi ficando conhecida de todos do grupo.
Não há dado estatístico que diga verdadeiramente da
situação, quando comparado ao vivenciar de perto esta realidade. Há salas de aula que sequer possuem car-teiras ou quadro de giz. As crianças sentam-se no chão e escrevem com carvão. Livros, papel, lápis de cor, são objetos de sonho, que às vezes se concretiza, mas somente na metade do ano. Os jovens e adultos,.à luz da "lamparina", esforçam-se para acompanhar com
bastante dificuldade o que a professora escreve no
quadro, e, há ainda aqueles que não têm boa visão e
carecem de óculos. Entretanto, esta adversidade da
escola, esconde um movimento "silencioso" desses
sujeitos que aí resistem, numa tentativa de
constru-ção de saberes novos, preservaconstru-ção dos valores e da
cultura do povo.
Esta realidade precisa ser desvendada através
de estudos que considerem os sujeitos, atores das
des-cobertas das contradições da sua realidade e que os
possibilite ganhar voz. Isto propiciará uma
caminha-da "por dentro" caminha-da
escola no campo,
em busca deuma
escola do campo,
tão necessária e urgente.Daí, a necessidade que sentiu o grupo, de
sis-tematizar suas observações, aprofundar os estudos,
com uma pesquisa, ao mesmo tempo em que a inter-venção se dava. O grupo se ampliou e assim também o foco de interesse, que passou a cobrir as primeiras
séries da escola fundamental, além da modalidade
de jovens e adultos. Ela se dá nos assentamentos da
micro-região de Fortaleza, assistidos pelo Movimento
dos Sem- Terra.
Dessa forma, o grupo congrega interesses
ge-rais sobre como anda o ensino fundamental no
cam-po, no que tange ao currículo, aos saberes que circulam
e à formação dos seus educadores, além dos
interes-ses específicos das áreas de ensino. Tem-se buscado
olhar de forma multidimensional, porém integrada e
interdisciplinar ao tentar responder às nossas questões sobre esta realidade no sentido de contribuir para a
compreensão da identidade do meio rural e a
especi-ficidade da Educação que lhe deve ser propiciada. Este trabalho, apresenta uma discussão teórica calcada na prática cotidiana da pesquisa-intervenção,
nas escolas dos assentamentos. Guardamos para
ou-tra oportunidade, quando já tenhamos concluído a
coleta dos dados e feita sua análise, as revelações que o trabalho tem suscitado. Assim, o primeiro tópico fala do cenário mais amplo no qual se insere a educa-ção tradicionalmente chamada rural" , o segundo, tra-ta da educação no campo, em busca de uma educação
do
campo. Por fim, as conclusões e as referênciasbibliográficas.
o
CBAC E N Á R IO D A E D U C A Ç Ã O N O C A M P OA educação no campo deveria ser uma
edu-cação-específica e diferenciada que ajude na
for-mação humana, emancipadora e criativa, assumindo
de fato a identidade do meio rural. Identidade essa
que se expresse não só como forma cultural
dife-renciada, mas principalmente como ajuda efetiva
no contexto específico, no sentido não só da
elimi-nação do analfabetismo, da reintegração do jovem
e do adulto 'a escola regular, bem como da
constru-ção de um projeto de desenvolvimento que elimine
a fome e a miséria.
A interação campo-cidade faz parte do
desen-volvimento da sociedade brasileira, mas na realidade ela tem se dado via submissão. As ações concretas
visando o desenvolvimento, são sempre pensadas a
partir da cidade, não incorporando a visão daqueles
que vivem no campo e, muitas vezes sem uma análise mais rigorosa da própria realidade do campo. A edu-cação não foge à regra.
Um dos principais problemas ao se estudar a
educação no meio rural é a escassez de dados e
análi-se, especialmente a partir dos anos 70, como aponta
azareth Wanderley (1977) destacando o
desinteres-3Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária, desenvolvido pelo Ministério Extraordinário de Política Fundiária, através do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, em convênio com as universidades e os movimentos sociais do
campo.
4No texto, privilegiou-se utilizar a denominação "campo", embora se faça referência ao "rural".YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
se pelo tema, como seZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAo r u r a l , t i v e s s e p e r d i d o t o d a c o n s i s t ê n c i a h i s t ó r i c a e s o c i a l .
É importante citar alguns dos dados que se
quedam adormecidos nos anuários estatísticos. Os
dados do IBGE de 1995 apontam que 32,7% da popu-lação do meio rural, que tem acima de 15 anos, é
anal-fabeta. Segundo o I Censo da Reforma Agrária no
Brasil, realizado em 1996, o índice de analfabetismo
dos trabalhadores assentados alcança 43% na média
nacional, chegando em alguns Estados até 70%, e a prestação de serviços escolares é precária ou não exis-te. Há ainda muitas crianças fora da escola, mesmo tendo havido um aumento nos últimos cinco anos de 5,9% das matrículas no ensino rural. Embora o ensi-no fundamental absorva hoje, 36 milhões de crianças
"o quadro sócio-educacional continua a produzir
ex-cluídos dos ensinos fundamental e médio,
produzin-do jovens e adultos sem escolaridade obrigatória
completa" (Cury,199:2).
Igualmente importante é destacar algumas
in-formações sobre os assentamentos rurais do Nordeste
e mais especificamente os do Estado no Ceará.
Exis-tem 436 assentamentos (estaduais, federais e Cédula
da Terra), com 21.819 famílias numa área de 745.615
ha, de acordo com informações dos técnicos do
INCRA, Instituto de Desenvolvimento Agrário no
Ceará - IDACE e Secretária do Desenvolvimento
Ru-ral- SDR.
Assim, essa nova realidade surgida nos anos 90 toma vulto e exige atenção daqueles envolvidos
dire-ta ou indiredire-tamente no espaço rural, os
Assentamen-tos Rurais, que segundo Jara (1998:7),
s ã o u m a c o m p l e x i d a d e , u m a e s p e c i f i c i d a d e d e in te g r a ç ã o s o c i a l , u m f o r m a m u l t i f o r m e q u e i n c o r p o r a , n a m e s m a f i g u r a s o c i a l , u m a c o n -q u i s t a c o l e t i v a , u m p e q u e n o p a t r i m ô n i o p r o -d u t i v o -d i f e r e n c i a -d o e , t a m b é m u m a i n s t i t u i ç ã o t u t e l a d a e b u r o c r a t i z a d a .
São comunidades de agricultores, construídas
nos processos de luta pela terra e também de organi-zações formais, associações ou cooperativas, seus ins-trumentos de negociação com o poder. Eles apresentam um contexto singular, o que toma o quadro preocu-pante, como afirmam Furtado, E. D. e Furtado de Sou-za, J. R.(l998:60), pois:
c o n v i v e m c o m d o i s p r o j e t o s e m c o n f r o n t o : d e u m l a d o , o P r o j e t o d o G o v e r n o , A s s e n t a m e n -t o s R u r a i s , o f i c i a l m e n -t e d e n o m i n a d o d e R e -f o r m a A g r á r i a , d e o u t r o , Od o M o v i m e n t o d o s
T r a b a l h a d o r e s R u r a i s S e m T e r r a - M S T P o r t r á s d e s t e s , d u a s p o s t u r a s i d e o l ó g i c a s : a p r i -m e i r a , v o l t a d a e x c l u s i v a m e n t e p a r a a q u e s -t ã ofundiária,e n t e n d e n d o o d e s e n v o l v i m e n t o e m t e r m o s e c o n ô m i c o s , f i n a n c e i r o s , t e c n o l ó -g i c o s e c o m e r c i a i s , e a d o M S T , p r o p o n d o m u d a n ç a s e s t r u t u r a i s c o m b a s e n u m p r o j e t o s o c i a l i s t a , e x i g i n d o s e r e m p r o t a g o n i s t a s d e u m a m p l o p r o c e s s o d e e x p e r i m e n t a ç ã o s o c i a l .
Não é preciso insistir na compreensão do papel da educação neste contexto tão complexo e com um
índice de analfabetismo e exclusão tão elevados.
O Plano Nacional de Educação, embora não
apresente dados específicos sobre a exclusão no meio
rural, afirma que os maiores índices das crianças fora da escola estão concentrados n o s b o l s õ e s d e p o b r e z a e x i s t e n t e s n a s p e r i f e r i a s u r b a n a s e n a s á r e a s r u r a i s
(1997:31). Apesar disso, quando se pensou nos
parâmetros curriculares deixou-se de lado a
especificidade da zona rural. As políticas públicas têm priorizado a zona urbana, dado que as escolas no meio
rural são mais caras e tomam-se inviáveis. Daí ser
importante que se investigue que tipo de escola
públi-ca é oferecida à população do campo, que de modo
geral é uma escola relegada ao abandono.YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
É interessante analisar a passagem do livro
introdutório que apresenta os Parâmetros Curriculares Nacionais do MEC (1997: 18), revelando a forma com é tratada a escola rural:
a s e s c o l a s d e m a i o r p o r t e , q u e a t e n d e m e m m é d i a 6 6 9 ,7 a l u n o s e s t ã o l o c a l i z a d a s m a j o -r i t a -r i a m e n t e n a s á r e a s u r b a n a s , o q u e r e s u l -i a d o i n t e n s o p r o c e s s o d e u r b a n i z a ç ã o e x p e r i m e n t a d o p e l o p a í s n a s ú l t i m a s d é c a d a s ( . .. ) . N a v e r d a d e , e s s a s e s c o l a s c o n c e n t r a m -s e n a r e g i ã o N o r d e -s t e ( 5 0 % ) , n ã o s ó e m f u n -ç ã o d e s u a s c a r a c t e r í s t i c a s s o c i o e c o n õ m i c a s , m a s t a m b é m d e v i d o à a u s ê n c i a d e p l a n e j a -m e n t o n o p r o c e s s o d e e x p a n s ã o d a r e d e f í s i c a .
Essa realidade tem gerado, ao longo dos anos,
a situação de precariedade em que vive a escola do
campo, seus resultados pedagógicos insuficientes e
altos índices de evasão responsáveis em boa parte pelo contingente de pessoas jovens e adultas fora da
esco-la e ainda um grande contingente de pessoas não
alfa-betizadas. Entretanto, um nova realidade vem
emergindo, a sociedade civil vem se organizando e
empreendendo esforços no sentido de melhorar as
condições de vida e influir nas políticas e programas
governamentais. Diferentes grupos, os índios, os
ne-gros, os trabalhadores sem terra, por exemplo, vêm
afirmando sua identidade e dignidade ao descobrir,
redescobrir e potencializar seus conhecimentos e
cul-turas por meio da luta pela escola pública e de moda-lidades inovadoras de educação em suas próprias áreas. Imperativo humano de superar a injustiça e pobreza.
Apesar de algumas experiências já estarem
acontecendo e dando certo em alguns Estados do Bra-sil, a exemplo das escolas itinerantes dos
assentamen-tos, das escolas de formação de magistério e de
formação de técnicos agrícolas sob responsabilidade
do MST, das escolas em assentamentos para Jovens e
Adultos através do PRONERA, dos cursos de
forma-ção em Nível Superior em Pedagogia, como o que está
acontecendo em UNIJUÍ-Rio Grande do Sul, do
Cur-so de Formação de Professores na Universidade
Fe-deral da Paraíba, muito ainda há de se fazer, pois o
atendimento só alcança uma pequena parte desta
po-pulação. Como dizem Furtado e Jesus (1998: 4):ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
F r e n t e a e s t a r e a l i d a d e e à s e x i g ê n c i a s d o m e r c a d o a g r í c o l a c a d a v e z m a i s t e c n i f i c a d o e g l o b a l i z a d o , t o r n a m - s e a b s o l u t a m e n t e i n a c e i t á v e i s e s t e s í n d i c e s d e a n a l f q .b e t i s m o e u r g e n t e u m p l a n e j a m e n t o d a e d u c a ç ã o f u n -d a m e n t a l q u e c o n t e m p l e a s e s p e c i f i c i -d a -d e s -d o c a m p o e u m a p o l í t i c a p ú b l i c a d e e d u c a ç ã o d e j o v e n s e a d u l t o s q u e v i a b i l i ~ e a i n c l u s ã o d o s t r a b a l h a d o r e s , n u m a a b o r d a g e m q u e s e j a m a i s p e r t i n e n t e a d a E d u c a ç ã o P o p u l a r .CBA
C O N T E X T U A L IZ A N D O A E D U C A Ç Ã O
NO
C A M P O , E M B U S C A D E U M AE D U C A Ç Ã O DO C A M P O
Para iniciar esta discussão sobre a escola no
campo, tome-se como exemplo o que ocorre na
Edu-cação de jovens e adultos, que desde Paulo Freire,
trabalha calcada nos princípios da Educação Popular. Os materiais de leitura disponíveis no meio rural, são de uma ordem diferente, mas não menos importantes ou de qualidade inferior que a dos centros urbanos;
além disso há a presença maior da oralidade, expressa de maneiras variadas no cotidiano do homem do cam-po (relatos orais, cantorias, o 'cordel', os 'causos', as
cantigas, as manifestações culturais, entre outras).
Tanto o universo de materiais escritos disponíveis no
meio quanto o uso cotidiano de manifestações
calca-das na oralidade, devem servir como subsídios para a
prática alfabetizadora. Compreender os modos pelos
quais os jovens e adultos relacionam-se com estes
objetos é fundamental para se tentar estabelecer uma didática que se aproxime o máximo possível do pro-cesso de apreensão da lecto-escrita desses sujeitos que também têm o direito de ser cidadãos.
Entende-se que a seletividade que ainda
ocor-re, gera necessidades ideológicas e materiais que, no
seio da luta por uma educação para todos, faz com
que os sujeitos atribuam dimensões e características
que diferenciam a educação popular das visões
libe-rais da educação. Nesta última, a norma da leitura e da escrita e a transmissão de conteúdos nos processos
de alfabetização impõem mecanismos contra a noção
de cultura como uma esfera pública, na qual os
prin-cípios fundamentais e as práticas da democracia são
aprendidos em meio a lutas, diferenças e diálogo. A
educação popular se identifica por se concretizar
atra-vés da prática social do povo e não pela transmissão
de conhecimentos, por possuir uma dimensão
coleti-va porque são grupos, comunidades, categorias e
ou-tras formas associativas, que buscam juntos a sua
participação na sociedade, além do que ela é
globalizante, totalizadora e traz em seus pressupostos a idéia de um projeto sócio-político.
A busca dessa identidade social e política pres-supõe a necessidade de uma educação pública para os
PQVOS do campo. Este é um dos principais objetivos
educacionais quando se propõe a implantação e
implementação de escolas nos assentamentos. Isto tem sido objeto de luta por parte dos trabalhadores rurais: a luta pela conquista da escola, para que se apropriem
dos conhecimentos que lhes permitirão ter acesso às
novas tecnologias e disputar a hegemonia da socieda-de. Este aspecto tem instigado a um questionamento constante sobre a própria escola.
Situando a escola neste espaço de riqueza cultu-ral e de pobreza tecnológica, verifica-se a ausência de uma formação política necessária ao exercício
consci-ente e integrador das possibilidades de uma geração,
que nela deposita responsabilidades e desejos não atin-gidos historicamente pelos pais, em direção a uma nova ordem institucional e democrática do saber-poder.
Neste percurso, reafirma-se que a escola sediada
nos assentamentos rurais representa nesta relação de
poder a possibilidade real-oficial para o enfrentamento
das demandas científico-tecnológica e política
emer-gentes dos espaços produtivos que o aluno encontra
fora dela. Esta óptica redefine valores e saberes, mui-tas vezes aprisionados pelos saberes de formação dos professores, os quais não chegam ao nível institucional
da sala-de-aula, por serem delimitados pelos livros
didáticos e grades curriculares, que descaracterizamYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
os saberes emergentes das experiências e do cotidia-no das práticas sociais cotidia-no tempo e cotidia-no espaço da visão
modernista. Uma concepção em que os saberes são
instituídos pela seriação ou ciclos e reeditados histo-ricamente, no movimento contrário à dinâmica
apre-sentada por outros meios e formas de comunicação presentes no cotidiano rural, onde a escola passa a ser vista como espaço formativo.
Nesta projeção, a escola reconstrói o seu
domí-nio político, haja vista que cria espaços disciplinaresZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
i n t e l i g e n t e s deixando à margem outros saberes
con-cebidos como opacos, porque alienantes e sem signi-ficados, selecionados a partir de dinâmicas diferentes,
fora da esfera da cotidianidade e marcados pelo poder
oficial. A posse dos saberes científicos altera o ritmo da reprodução escolar, marcas da tradição pedagógi-ca, e cria novos espaços culturais de acesso a outros meios de produção, onde os atores sociais participam
como membros da transformação, conscientes de seus
riscos e lucros.
Trata-se de uma nova postura analítica como
indício de ruptura , interpretada no cerne da escola
rural como uma ação inovadora, organizada a partir
das possibilidades de atuação dos professores, ou seja, uma ordenação cultural exercida nos limites do
~spa-ço pedagógico a partir da ação de atores locais e da
participação popular, que espera vigilante a ocasião e
a possibilidade de se manifestar, imprimindo outra
racionalidade aos saberes a serem instituí~os na
pers-pectiva de desenvolvimento.
Assim, (...)
d e s n a t u r a l i z a r e h i s t o r i c i z a r o c u r r í c u l o e x i s -t e n -t e é u m p a s s o i m p o r t a n t e n a t a r e f a p o l í t i -c a d e e s t a b e l e -c e r o b j e t i v o s a l t e r n a t i v o s e a r r a n j o s c u r r i c u l a r e s q u e s e j a m t r a n s g r e s
-s i v o -s d a o r d e m c u r r i c u l a r e x i s t e n t e (MoreiraYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA &Silva,1994:31).
Reorganizando esta discussão no cenário da
educação rural, esta pressupõe idéias flutuantes que
oscilam entre discursos oficiais, impondo parâmetros comuns, desconsiderando a diversidade cultural; como
se viu, o estabelecimento da unidade na diversidade.
Eis o contexto analítico que permite interrogar
sobre as possibilidades reais e reconstrução de um
universo cultural, trazendo à discussão as relações
sociais e históricas que constróem nossas presentes
categorias de divisão e exclusão social.
Portanto, a discussão curricular articulada pela
óptica do campo, recoloca a questão agrária e a
escolarização como aspectos vinculados às lutas
tra-vadas pelos movimentos populares, diante da crise
instalada pela sociedade capitalista, onde se registra
o não acesso à terra como propriedade e uma
escolarização como saber-poder, onde se perpetuam
o discurso da ordem diante dos conflitos e desafios,
que requerem tanto uma formação crítica, quanto
ensinamentos científicos necessários ao exercício da
cidadania.
Segundo Bradão (1997)
e s t a d i m e n s ã o i n d i c a a c o n s t r u ç ã o d e p r i n c í -p i o s -p a r a a t r a n s f o r m a ç ã o , a s e r e m a s s u m i -d o s p e l o s s u j e i t o s n o c a m p o , o n d e a q u e s t ã o a g r á r i a p a s s a a s e r i n t e r p r e t a d a c o m o d a c l a s s e t r a b a l h a d o r a , p r e s e n t e e m t o d o s o s e s p a ç o s e d u c a t i v o s - p r o d u t i v o s , r e d e f i n i n d o u m c e n á r i o d e l u t a p e l a t e r r a , v i a r e f o r m a a g r á r i a , o n d e t a m b é m e m e r g e a l u t a p o r u m a e d u c a ç ã o e m s e u c o n c e i t o m a i s a m p l o , q u e e x t r a p o l e a e s f e r a d a e s c o l a p ú b l i c a e a v a n c e e m d i r e ç ã o a o s m o v i m e n t o s e m e r g e n t e s d o c o t i d i a n o n ã o r e p r e s e n t a d o p e l o c u r r í c u l o o f i c i a l ; u m c o n t e ú d o - c o t i d i a n o q u e n ã o f a z p a r t e d a h i s t ó r i a c u r r i c u l a r , e a s s i m s e n d o , n ã o c o n s i d e r a d o c o m o d a t a c o m e m o r a t i v a , m a s q u e d e f a t o r e p r e s e n t a e s i m b o l i z a a r e -s i -s t ê n c i a e a l u t a p o r c a u s a s s o c i a i s .
Como se vê, são anúncios que desafiam
educa-dores críticos diante da urgência de construções
co-letivas que promovam j u s t i ç a c u r r i c u l a r quanto à
distribuição das oportunidades educacionais. Nestas
condições de existência, estas devem possibilitar às
crianças e jovens a continuar na luta pelos seus direi-tos de cidadania, o que implica o direito à proprieda-de (terra para viver) e a escola (que dê condições para assumir desafios cada vez mais amplos na sociedade).
Nesta perspectiva, Caldart (1995:223), faz um breve comentário sobre esta escolarização:
C e r t a m e n t e n ã o s e r ã o a s d e g r a d a d a s e a l i e -n a d a s e s c o l a s p ú b l i c a s q u e p r e d o m i n a m e m n o s s o p a í s , e e s p e c i a l m e n t e n o m e i o r u r a l , q u e c o n s e g u i r ã o f a z e r f r e n t e a s n e c e s s i d a d e s d e e d u c a ç ã o d e s t e s n o v o s s u j e i t o s s o c i a i s q u e a l u t a p e l a r e f o r m a a g r á r i a v e m f o r j a n d o .
Delineiam-se, assim, novas bases de
produ-ção e exploraprodu-ção, alterando significativamente o
rit-mo da vida no campo, cuja produção passa a ser
controlada pelos padrões de qualidade dos produtos,
norteada pelas regras estabelecidas pelo tempo da modernização.
Esta crise, ocorrida no embalo e fluxo das
mi-grações, reflete mecanismos impostos pela sociedade
capitalista e eqüivale também à crise do modo de or-ganização do trabalho. Isto vem ocorrendo pela
inten-sificação de leituras diferenciadas manifestas pela
classe trabalhadora rural envolvida e dividida pela
produção, ou seja: por olhares manifestos nas
repre-sentações sobre este novo cotidiano, pelo homem do campo, que oscila entre o desejo da mudança e a re-sistência, em defesa da necessidade de sobrevivência,
simbolizada pelo discurso da sustentabilidade .
Apesar deste movimento que oscila entre a ex-pulsão e o confinamento do homem do campo, ainda persistem as brincadeiras populares, os jogos e as mani-festações lúdicas (bandeira, macaca, quadrilhas, forrós),
que traduzem uma identidade com a cultura popular que não pode ser descartada na dinâmica curricular.
Caso a escola se omita e continue à margem
das discussões do cotidiano vivido pelas crianças
trabalhadoras, toma-se mais difícil a emergência de
resistências conscientes e organizadas,
aumentan-do as possibilidades de controle, tomando-os
me-nos autônomas e menos competitivas para ~ disputa
no mercado. Assim, a eficiência e a produtividade
ultrapassam a esfera do domínio e das condições
de produção - antes estabeleci da e controlada pelo
Estado, através da oferta de sementes aos
peque-nos produtores, que, desarmados de in'formações
ci-entíficas e tecnológicas e sem financiamento, põem
em risco todo o investimento instruído pela
tradi-ção e onde os ensinamentos da escola não
conse-guiram penetrar. Estes, quando introduzidos nos
espaços educativo - produtivos por outros meios
de comunicação, tais como rádio, televisão,
folhe-tos e raros informes técnicos cedidos por esta
"cientificidade", representam o discurso da
frag-mentação, cheio de segredos e termos instituídos e
distribuídos em pequenas doses e fora do ritmo das
necessidades da classe trabalhadora. Estas são
pro-postas nos limites da manutenção da dependência,
carregado pelo discurso acentuado da
transferên-cia de tecnologias e que por se destinarem ao
ho-mem do campo, são imediatamente rotuladas como
alternativas destituídas dos elementos estruturantes,
necessários à superação dos problemas em sua
to-talidade. Este tipo de análise introduziu a
discus-são curricular, o poder da linguagem da cientificidade
e sua popularização, o que tomou possível a
inicia-ção de uma leitura crítica acerca dos saberes oficiais
no cotidiano escolar.
De que lado está a escola e, nesta, qual a ten-dência curricular como espaço de construção históri-ca e crítihistóri-ca?
Centremos agora essa discussão nas possibili-dades dos saberes embutidos nas formas de sociabili-dades exerci das pelos atores sociais junto aos espaços
produtivos-educativos e nas relações cotidianas no
campo, fora da escola, configurados nos espaços
ru-rais organizados e urbanizados pelo
desenvolvimen-to, incorporando a dimensão de "currículo em uso",5
em que o saber popular passa a ser trabalhado como
conteúdos significativos diante dos saberes
oficiali-zados pela cultura dominante, via escolarização.
Neste contexto, são repostosZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAo s d i s c u r s o s e a s f o r m a s d e e x p r e s s ã o p o p u l a r de alunos escolarizados,
submetidos à influência de outros saberes elaborados nas práticas sociais no campo - como auxiliares da agricultura familiar, tendo em vista poder atribuir sig-nificados aos pólos da mediação da cultura e, assim,
para poder argumentar com Giroux e Simon
(1994: 118), sobre questões do tipo:
( . . .) o q u e d e v e r í a m o s f a z e r p a r a e v i t a r q u e o s a l u n o s q u e v i v e m f o r a d a s p r á t i c a s d o m i -n a -n t e s s e s i -n t a m e x c l u í d o s , r e l e g a d o s àc o n -d i ç ã o -d e " o u t r o s " , q u a n d o e s t a m o s l e v a n d o a s é r i o j u s t a m e n t e o c o n h e c i m e n t o o r g a n i z a -d o n o s t e r m o s d e s u a s v i d a s d i á r i a s ? A l é m d i s s o , c o m o e n f r e n t a r f o r m a s d e r e s i s t ê n c i a s d o s a l u n o s a o q u e e l e s p e r c e b e m c o m o i n v a -s ã o , p e l o d i -s c u r -s o o f i c i a l d a e s c o l a , d a e s f e -r a p -r i v a d a e e x t r a - e s c o l a r d e s u a s v i d a s ?
Não se deve perder de vista as questões de
po-der e da política, que indicam a necessidade de
pre-servação dos ideais de uma sociedade mais justa, onde
a escola e, consequentemente, o currículo passam a
ser analisados como uma arena política-cultural; onde
experiências e subjetividades são contestadas e
pro-duzidas, tomando-se um poderoso instrumento a
fa-vor da transformação das condições de dominação e
opressão ocorridas nos espaços produtivos - mundo
vivido, indicando assim possibilidades para a cultura
popular vir a ser incorporada no processo de
escolarização, não como integrante apenas de um
ro-teiro de conteúdos, mas como um saber autônomo,
reflexivo, crítico e que fundamente um currículo
emancipador. Nesta perspectiva, o sentido da
eman-5A expressão c u r r í c u l o e m u s o é abordada aqui como mediações curriculares exercidas nos espaços produtivos, ou seja: os movi-mentos dos saberes nas relações cotidianas dentro e fora da escola.YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
cipação recupera a dimensão sócio-cultural da
escola-rização, favorecendo as mediações entre a cultura
popular e a escolarizada, nascidas das interações
en-tre os atores sociais e o currículo em uso, através do
qual se organizam identidades e possibilidades
cultu-rais passíveis de inserção no currículo oficial. Assim, reafirma-se a concepção de currículo apresentada por
Moreira e Silva (1994: 7-8) os quais anunciam que:ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
o c u r r í c u l o n ã o é u m e l e m e n t o n e u t r o d e t r a n s -m i s s ã o d e s i n t e r e s s a d a d o c o n h e c i m e n t o s o -c i a l . O -c u r r í -c u l o e s t á i m p l i c a d o e m r e l a ç õ e s d e p o d e r ( . .. ) p r o d u z i d e n t i d a d e s i n d i v i d u a i s e s o c i a i s p a r t i c u l a r e s ( . .. ) n ã o éu m e l e m e n t o t r a n s c e n d e n t e e a t e m p o r a l - e l e t e m u m a h i s -t ó r i a , v i n c u l a d a a f o r m a s e s p e c í f i c a s e c o n -t i n g e n -t e s d e o r g a n i z a ç ã o d a s o c i e d a d e e d a e d u c a ç ã o .
Dessa forma, o problema central é retomado a
partir do contexto atual de globalização associada ao
discurso neoliberal, que debate as formas e estruturas
da produção e transformação do saber e das políticas
públicas que,por sua vez, regulam as operações e atos
educativos-produtivos da escola/comunidade,
articu-ladas pela ideologia da eficiência e da produtividade
(qualidade técnica), como se não existissem outros
processos/meios de qualificação. Esse contexto
favo-rece a emergência de políticas educacionais de
con-trole do tipo - currículos nacionais, que ignoram as
diversidades sócio-culturais presentes nos espaços
urbano-rurais, prevalecendo o ponto-de-vista
merca-dológico da cultura, impondo unificação curricular,
determinada pelas idéias de ordem, progresso e
de-senvolvimento científico-tecnológicos, transcritos no
ritmo da modernidade e para onde se anuncia um novo
pragmatismo - d o a p r e n d e r a a p r e n d e r - f a z e n d o .
Diante desta abordagem, considera-se
impor-tante revelar o mito criado pelo neoconservadorismo,
presente nos discursos de equidade como elemento
de gestão de uma escola democrática e cidadã,
carre-gada de uma visão liberal de igualdade. Esta
discus-são está apoiada nos teóricos críticos GirouxYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA&Simon
(1994), Apple (1994) e McLaren (1997), os quais
alertam sobre o pensamento educacional conservador
que estava dormindo e que agora desperta como
mo-delo inquestionável pelas estruturas de poder,
refor-çando O mito da privação cultural diante da justiça
social.
esse contexto, reafirma-se a urgência de
re-ver o projeto político e pedagógico da escola no
cam-po para a educação das crianças e para formação
permanente de jovens e adultos revalorizada enquan-to instrumenenquan-to de afirmação das identidades
sociocul-turais das populações, difusão de valores éticos de
justiça e solidariedade, superação de preconceitos,
promoção de direitos humanos, formação para o exer-cício da cidadania, incentivo à participação
democrá-tica, ao controle cidadão sobre governos e do
desenvolvimento local. Configura-se um novo marco
conceitual, que valoriza processos de aprendizagem
formais e informais, escolares e extra escolares, o que requer antes de tudo, investigação, registro e sistema-tização dos saberes tradicionais e estilos de
aprendi-zagens peculiares aos grupos populares.
CONCLUSÃO
Foi portanto, CAMINHANDO "por dentro"
DA ESCOLA NO CAMPO, em busca de uma
ES-COLA DO CAMPO que asseguramos um debate
mais amplo sobre a educação endereçada 'as áreas de
assentamentos. Um debate presente nos movimentos
sociais no campo e ausente nos espaços universitários apesar de anunciarem referências para leitura de " u m n o v o m u n d o r u r a l " que desconsidera " a educação e
os assentados como produtores de saberes .... sem voz e vez" !negando assim as condições reais e necessárias para o esclarecimento histórico e de suas
possibilida-des diante do contexto da sustentabilidade. Eis as
ra-zões de buscarmos uma releitura do espaço rural
-cotidiano produtivo-educativo, para descobrirmos a
realidade da "educação no campo", como
forma/pro-testo de erguer uma ação política-cultural
comprome-tida com " u m n o v o p r o j e t o p o l í t i c o - p e d a g ó g i c o " ,
desoficializando, políticas públicas que restringem o
fortalecimento e expansão da educação fundamental
no campo. Portanto, uma ação educativa e política que torna real a "educação do campo", que a transforma
"em meio fundamental para se alcançar uma melhor
qualidade de vida, de cidadania plena e uma maior
participação nos processos produtivos", assim como, contribuir para o desenvolvimento local e sustentável.
Nesse sentido, as instituições que desenvolvem programas e projetos no campo, necessitam estar
aten-tas e serem chamadas a uma complementaridade de
ações (entre poderes públicos) entre si, e, sob o regime
de colaboração, exercerem uma ação mais ampla e
integrada. Isto porque as novas competências exigidas
pela transformação da base econômica da sociedade,
requerem cada vez mais o acesso ao saber.
Nessa direção a c e n d e m o s a l a m p a r i n a , redefi-nindo o conceito de educação de jovens e adultos e
todo o ensinYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA<1-m c :Z :;~ ir a Ino campo, no sentido de
garantir: p • ão de sujeitos sociais para
a construç democrática e processos
de fo que respondam criticamente
às deman .dade em contínua mudança e
possamos f educação do campo.CBA
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