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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO

CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA EaD

CARLILLE WEBSTER SOUZA FERREIRA

A INSERÇÃO DO DIREITO A EDUCAÇÃO NA CONSTITUIÇÃO DE 1988: UMA LUTA POR SUA EFETIVIVAÇÃO MATERIAL

NATAL/RN

2021

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CARLILLE WEBSTER SOUZA FERREIRA

A INSERÇÃO DO DIREITO A EDUCAÇÃO NA CONSTITUIÇÃO DE 1988: UMA LUTA POR SUA EFETIVIVAÇÃO MATERIAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Licenciatura em Pedagogia EaD da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) como requisito para a obtenção do grau de Licenciado em Pedagogia.

Orientador: Prof. Dr. Azemar dos Santos Soares Júnior.

NATAL/RN

2021

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CARLILLE WEBSTER SOUZA FERREIRA

A INSERÇÃO DO DIREITO A EDUCAÇÃO NA CONSTITUIÇÃO DE 1988: UMA LUTA POR SUA EFETIVIVAÇÃO MATERIAL

Trabalho avaliado em 23 de fevereiro de 2021.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________________

Prof. Dr. Azemar dos Santos Soares Júnior - Orientador Departamento de Práticas Educacionais e Currículo - DPEC

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

______________________________________________________________

Prof. Ms. Eduardo Sebastião da Silva - Examinador Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)

_______________________________________________________________

Prof.ª Ms. Vânia Cristina da Silva - Examinadora

Universidade Federal de Goiás (UFG)

(4)

Agradecimentos

__________________________________________________________

A Deus que me permitiu a oportunidade da vida e de poder viver este momento de conclusão de um trabalho gratificante e propiciador de um passo importante na minha vida como ser humano e cidadão.

Ao meu Orientador o Prof. Dr Azemar dos Santos Soares Junior pela atenção, paciência e presteza. Por sempre prontamente me atender e sanar minhas dúvidas.

A banca examinadora, nas pessoas da Prof.ª Ms. Vânia Cristina da Silva e o Prof. Ms. Eduardo Sebastião da Silva pelas inúmeras atribuições desenvolvidas reservaram a disponibilidade de parcela do tempo de suas atividades para avaliarem este trabalho e contribuírem para o seu aperfeiçoamento com as críticas e reflexões necessárias.

Aos que de maneira direta ou indireta contribuíram para minha formação.

A Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que no seu papel de fomentadora do desenvolvimento educacional e social, na figura de todos os professores e técnicos administrativo e servidoras que a integram. E, que contribuiu muito para minha formação.

A todos que compõem o Polo Universitário da Cidade de Marcelino Vieira, na

figura de todos os seus servidores coordenados pela Prof.ª Meire Cesário

(Coordenadora do Polo).

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A INSERÇÃO DO DIREITO A EDUCAÇÃO NA CONSTITUIÇÃO DE 1988: UMA LUTA POR SUA EFETIVIVAÇÃO MATERIAL

Carlille Webster Souza Ferreira Universidade Federal do Rio Grande do Norte carlillew@gmail.com

Resumo: O direito à educação foi elevado ao status de direito fundamental social, e um dos preceitos do Estado Democrático de Direito, haja vista sua fundamentalidade no pleno desenvolvimento do ser humano e no exercício da cidadania. Afora a garantia constitucional estabelecida, muitos estudos ainda investigam se na realidade material, tal direito tem sido concretizado. É nessa esteira em que se assenta o objetivo desse estudo, que procurou analisar se no breve contexto pós Constituição de 1988 este direito se tornou realmente efetivo na realidade material do país. Para tanto, fundamentou-se em discussao discussão dialético-descritiva a partir de revisão bibliográfica realizada através de estudos pertinentes a temática proposta. Viu-se que houve um avanço significativo no que tange a proteção legal que se consolidou após a Constituição de 1988, mas esta não veio acompanhada da necessária realização de ações por parte do Estado para lhes dar efetividade.

Concluiu-se, portanto, que para cumprir as normatividades constitucionais e a própria manutenção de um Estado Democrático de Direito, o direito a educação deve cumprir, qualitativa e quantitativamente as obrigações que dele decorrem, produzindo ações políticas e serviços educacionais adequados à sua efetividade.

Palavras-chave: Direito à educação. Constituição. Efetividade.

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A INSERÇÃO DO DIREITO A EDUCAÇÃO NA CONSTITUIÇÃO DE 1988: UMA LUTA POR SUA EFETIVIVAÇÃO MATERIAL

1 Introdução

A educação é tratada como um dos preceitos do Estado Democrático de Direito, em detrimento de sua finalidade de garantir o progresso da sociedade, dada também sua conexão direta com o exercício da cidadania e o princípio da dignidade da pessoa humana.

Dito de forma didática, a essencialidade da educação consta de sua função no pleno desenvolvimento do ser humano, na formação dos valores, das habilidades, das aptidões trabalhistas, aspectos imprescindíveis quando se trata do alcance de uma sociedade justa, igualitária e democrática.

Nessa esteira, ao reinaugurar o Estado Democrático de Direito no Brasil, a Constituição Federal de 1988 (CF/88) proclamou a educação como direito social no artigo 6º, e enfatizou pelo art. 205 que a educação, “direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

Após o vigor constitucional adquirido, o acesso à educação de qualidade passou a ser garantido ainda por meio de leis infraconstitucionais, sempre em vistas ao alcance e materialização da existência digna do homem.

Sendo assim, por possuir natureza de direito social, o direito à educação deve confirmar-se em prestações positivas por parte do Estado e dos poderes constituídos, como meio de garantir a sua efetividade.

É certo que, o lapso histórico que registra não apenas as configurações das lutas pelo direito à educação e a forma como este foi sendo delineado nos textos constitucionais, revelam notórios avanços no que diz respeito a sua delimitação enquanto direito fundamental, a garantia de sua oferta pelo Estado, os princípios e todo arcabouço legal que tanto a legitimam como garantem sua segurança jurídica.

Todavia, é preciso analisar, do ponto de vista da materialidade desse direito,

se toda a conjuntura que vem sendo desenvolvida ao longo das décadas tem sido

suficiente e adequada para garantir sua real efetividade.

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Parte-se da inquietação que, inúmeras pesquisas institucionais ou não, trazem a evidência de que embora os avanços, a máxima efetividade desse direito tem sentido óbices a sua concretização, haja vista ainda ser possível apontar uma série de incongruências quando se compara o respaldo constitucional dado e a realidade fática. Sendo questionado então, que em muitas situações, os entes responsáveis não têm conseguido assistir as demandas existentes, acabando, por ventura, ferindo direito liquido e certo dos indivíduos.

Valendo-se então dessas premissas, o presente estudo toma como problemática de pesquisa a discussão atrelada à efetividade do direito à educação, enquanto direito fundamental social, pilar da ordem constitucional e do Estado Democrático de Direito.

Partindo disso, o objetivo principal é analisar se no breve contexto pós Constituição de 1988 este direito se tornou realmente efetivo na realidade material do país. Como objetivos específicos, tem-se: a) verificar como se deu a trajetória e tratamento do direito à educação nos textos constitucionais brasileiros; b) discutir acerca da matéria educacional presente na Constituição de 1988 e sua figuração no Estado Democrático de Direito, e c) identificar contextos de possibilidade de retrocessos que impactam a garantia da efetividade desse direito e sua fundamentalidade vinculada ao seu reconhecimento enquanto direito público subjetivo.

Do ponto de vista metodológico, a pesquisa empregou a técnica bibliográfica, cuja pesquisa privilegiou a análise de doutrina, artigos publicados em revistas científicas ou veiculados por meios eletrônicos, trabalhos de cunho científico/acadêmico, bem como documental, por meio da análise dos diplomas legais que trazem prescrições pertinentes ao estudo em questão. Desenvolveu-se, portanto, discussão dialético-descritiva de argumentos observados sobre o tema, juntamente com o confronto de ideias de autores, sem, contudo, esgotar a discussão ou chegar a um resultado definitivo.

Oportuno enfatizar a pertinência do estudo, pois, embora trate de discussão

que já se prolonga pelo tempo, o direito à educação escolar é um desses espaços

que não perderam e nem perderão sua atualidade, principalmente no que diz

respeito à análise de sua efetividade e dos desafios que prejudicam o seu status de

direito fundamental e de pressuposto e meta para o exercício do Estado

Democrático de Direito.

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A título de estruturação, para melhor enquadramento dos objetivos elencados, o estudo segue dividido em três seções teóricas, além desta introdução e das considerações finais. Na primeira seção, aborda-se brevemente o direito à educação na história das constituições nacionais, em detrimento de outros dispositivos legais que versam sobre o tema e reforçam as obrigações e garantias do direito à educação.

Na segunda, traz-se a apreciação do direito à educação enquanto direito fundamental social, e seu enquadramento como fundamento no Estado Democrático de Direito. Na última seção, o debate centra na análise da efetividade do direito fundamental à educação no país, ou seja, se as normas constitucionais que se ocupam de sua regulação refletem as atividades do Estado para sua realização.

2 Apontamentos da trajetória da proclamação do direito à educação nas constituições brasileiras

A educação pode-se dizer, é contemplada hodiernamente como um dos fatores indispensáveis para a edificação de uma sociedade. A sua essencialidade justifica a formação e o desenvolvimento do ser humano, o que contribui para o processo democrático e para o direcionamento da comunidade (PINTO, 2014).

Insta dizer ainda que, declarada sua importância para a concretização da dignidade da pessoa humana, a educação passou por um processo de positivação através do seu reconhecimento em dispositivos Constitucionais.

Mas, seu entendimento e oferta, assim como a própria humanidade, é fruto das reformulações de períodos históricos e de suas particularidades.

Se nos primórdios o processo educativo era altamente informal e totalmente integrado nas atividades diárias que visavam à sobrevivência do indivíduo e dos grupos, o avanço evolutivo sentido pelo ser humano e suas técnicas de desenvolvimento elevaram a educação a outro patamar. Passou-se gradualmente de uma educação baseada substancialmente em ensinamentos morais e de cunho comportamental, para um processo de ensinar e aprender formal desenvolvido em instituições escolares (LUNA; OLIVEIRA, 2017).

Contudo, a evolução da educação experimentou ainda um processo

segregatório, uma vez que inicialmente seu acesso foi limitado às classes

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dominantes, excluindo a população mais carente, que restava apenas à educação familiar informal.

Com uma série de acontecimentos que foram desde a influência da Igreja Católica, Renascimento, Iluminismo, teve início, uma tendência liberal e laica para as escolas. Assim, no século XVIII, ocorreu importante avanço na luta para estender a educação a todos os cidadãos, estabelecendo-se a obrigatoriedade e a gratuidade do ensino elementar. No entanto, ainda predominava a diferença na aplicação do ensino, existindo uma escola direcionada para a população pobre e outra escola para a burguesia (LUNA; OLIVEIRA, 2017).

Situando o Brasil nesse contexto, pode-se verificar que a história da educação também é, do mesmo modo, marcada pela precariedade, seletividade e desigualdades sociais (ARAÚJO, 2020). Nesse sentido, consentâneo analisar sob o recorte das constituições brasileiras como se deu o processo de construção do direito à educação, a fim de delinear, ainda que de forma sintetizada, como o tema foi tratado constitucionalmente, haja vista ser o texto constitucional documento- chave para compreender o contexto e os temas relevantes dos diferentes momentos históricos.

Segundo informa Machado e Ganzeli (2018), tendo a marca da ideologia dominante, todas as constituições brasileiras trataram do tema da educação, seja de maneira superficial, seja em tratamento mais amplo como a atual.

A primeira Constituição brasileira data do Império, a Constituição de 1824, que retrata o momento político subsequente à Independência, quando os anseios de autonomia convivem com ideias advindas da antiga Colônia. Dita carta previu o direito à educação, e conforme esclarece Teixeira (2016, p. 28), estabeleceu a garantia do ensino primário a todos os cidadãos e sua realização, preferencialmente, pela família e a igreja, bem como a criação de Colégios e Universidades, sem, contudo, aferir sobre a atribuição de competências específicas às Províncias para sua realização.

As normas desta constituição serviriam de base à organização do ensino no Brasil, com cumprimento vigente, com poucas alterações, até a proclamação da República em 1889. Segundo análise de Araújo (2020, p. 18):

[...] apesar da disciplina constitucional da matéria, não se desenvolveram

políticas públicas necessárias à efetiva implantação do ensino fundamental

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público e gratuito, de modo que se privilegiava, ainda, o ensino superior, ao qual somente tinha acesso as classes mais prestigiadas da sociedade.

Após a Proclamação da República foi promulgada a Constituição de 1891, com um texto que, teoricamente, não apresentava qualquer adição ao diploma anterior no que diz respeito ao direito à educação, sendo que sequer havia a afirmação da gratuidade do ensino primário (TEIXEIRA, 2016).

Viu-se somente a determinação da separação entre Estado e Igreja no campo da educação, introduzindo a laicidade como premissa do ensino a ser oferecido nas instituições de ensino. Propôs ainda uma tentativa de sistematização do tratamento conferido à educação, ao atribuir competência às pessoas políticas em matéria de educação. Assim, coube a União legislar sobre ensino superior enquanto aos Estados competia legislar sobre ensino secundário primário (RODRIGUES, 2018).

Não obstante esse cenário, a partir da Constituição de 1934 passa a ocorrer uma nova configuração do direito à educação, visto que foram privilegiadas considerações e diretrizes gerais específicas referentes ao mesmo, evidenciando, pela primeira vez, a preocupação com o sistema educacional.

Nesse intento, o artigo 149 da carta de 1934 afirma ser a educação direito de todos, devendo ser ministrada pela família e pelo poder público. Em adendo, pressupõe ser finalidade da educação, desenvolver a solidariedade humana (TEIXEIRA, 2016). Mais ainda, o texto da Constituição de 1934 estreou a determinação de fixação de receitas de cada ente da federação, destinadas à prestação da atividade educacional pelo Estado, bem como visando a assegurar a obrigatoriedade e a gratuidade do ensino primário.

Se a referida Constituição apresentou avanços no campo educacional, concernente à responsabilidade do Estado com a educação, em contrapartida, a Constituição de 1937 apresentou alguns retrocessos.

Fruto de um golpe de Estado que deu ensejo ao período histórico do país chamado de Estado Novo, a Constituição de 1937 perdeu o adjetivo pátrio

“República” no título e passou a chamar-se Constituição dos Estados Unidos do Brasil.

No que concerne à educação, o retrocesso deu-se, sobretudo, pelo fato de o

Estado Novo ter se utilizado da nova Constituição para se desobrigar da

responsabilidade da educação pública. Assim, a gratuidade do ensino garantido

pela constituição de 1934 foi transferida às instituições privadas, abrindo com isso,

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um grande vácuo ao acesso e a garantia da educação para os mais pobres (RODRIGUES, 2018).

Superado o Estado Novo, a Carta de 1946 traz um enfoque distinto daquele de 1937, e em relação à temática educação, assim como o texto de 1934 e de forma simples, indicou que cabia à União legislar sobre as bases e diretrizes da educação nacional (art. 5°, XV, ‘d’, CF/1946), reforçando a necessidade de unificar o sistema de ensino.

O golpe civil-militar de 1964 impeliu a elaboração de uma nova Constituição no ano de 1967 e, em seguida, a Emenda Constitucional nº 1, de 17 de outubro de 1969, alterou significativamente o texto original. O artigo 176 dispunha a educação como dever do Estado, definindo como princípio o ensino primário para todos, dos 7 aos 14 anos, bem como sua gratuidade nos estabelecimentos de ensino oficiais.

Afora isso, de forma negativa, acabou restringindo algumas condições básicas para o exercício do direito à educação, a exemplo da não obrigatoriedade de destinação de receitas para a educação e a fixação de que a gratuidade do ensino ulterior ao primário seria substituída, sempre que possível, pela concessão de bolsas de estudo, cujo reembolso seria exigido em se tratando do ensino superior (TEIXEIRA, 2016; ARAÚJO, 2020).

De forma sucinta, os estudos tendem a descrever as constituições brasileiras como modelos seletivos e elitistas, pois, malgrados alguns avanços, não houve nas disposições mudanças significativas capazes de modificar substancialmente o cenário da educação no país, ao passo que as desigualdades entre as diferentes classes sociais permaneciam evidentes em termos de acesso à educação (MACHADO; GANZELI, 2018).

Todavia, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, apelidada de Constituição Cidadã, e com a insurgência do Estado Democrático de Direito, também o direito a educação passou a ser tida sob uma nova roupagem e idealização, cujo principal feito foi sua elevação enquanto direito social fundamental.

Além do regramento minucioso, a grande inovação do modelo constitucional

de 1988 em relação ao direito à educação decorre de seu caráter democrático,

especialmente pela preocupação em prever instrumentos voltados para sua

efetividade.

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3 A educação como direito fundamental social à luz do estado democrático de direito

A fundamentabilidade do direito à educação decorre de um processo histórico que, no plano internacional, se iniciou com a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e seguiu sendo contemplada em tratados e acordos subsequentes

1

, todos ratificados posteriormente pelo Estado brasileiro (FIGUEIREDO; LINS JÚNIOR, 2018).

Por ser essencial ao desenvolvimento da pessoa humana, e indispensável para a própria viabilidade da democracia, a educação veio a merecer a proteção do direito, tendo sido acolhida na fórmula política do Estado Democrático de Direito, sob o manto do texto constitucional de 1988.

Um dos marcos da atual carta constitucional foi certamente a sistematização dos direitos sociais consolidada pela força normativa da constituição e a busca pela afetiva aplicabilidade de tais direitos nas bases de uma justiça social, por isso, consagrou, em seu artigo 6°, a educação como um direito social, e, portanto, constante no rol de direitos fundamentais.

Os direitos fundamentais, segundo José Afonso da Silva (2019, p. 178), “é expressão que designa, em nível do Direito Constitucional positivo, aquelas prerrogativas e instituições que ele concretiza em garantias de uma convivência digna, livre e igual de todas as pessoas”. Dessa forma, ao associar o termo direito fundamental social, inclina-se ao entendimento de que se trata de situações sem as quais a pessoa humana não se realiza, por isso a necessidade que sejam não apenas formalmente reconhecidos, mas concreta e materialmente efetivados.

Ainda sob a leitura de Silva (2019), por ser fruto das reivindicações e carências da sociedade, o direito à educação é dotado de caráter social, e estes por sua vez, correspondem a prestações positivas providas pelo Estado direta e indiretamente, que asseguram melhores condições de vida aos mais fracos, direitos que tendem a realizar a igualização de situações sociais desiguais.

Entende-se, pois, que decerto foi com fulcro nessas premissas que o texto constitucional de 1988, no artigo 214, dispôs serem objetivos da educação a erradicação do analfabetismo; a universalização do atendimento escolar; a melhoria

1

A exemplo da Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem de 1948, no Pacto

Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966, na Declaração Universal dos

Direitos da Criança de 1959 e na Convenção Americana sobre os Direitos Humanos de 1969,

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da qualidade do ensino; a formação do trabalho e a promoção humanística, científica e tecnológica do país (BRASIL, 1988).

Segundo Mendes e Branco (2014), a constituição firmou uma série de princípios norteadores da atividade do Estado com vistas a efetivar esse direito, tais como a igualdade, que reflete, na visão dos autores, a interação que o texto constitucional objetiva em reduzir as desigualdades sociais e regionais com a erradicação da marginalização e da pobreza.

Em detrimento disso, é assegurado constitucionalmente o ensino obrigatório e gratuito nos estabelecimentos oficiais, tendo por base a garantia de um ensino de qualidade para uma educação mais digna e democrática.

Inclusive, o artigo 208 da CF/88 traz claramente a obrigação do Estado em relação à educação básica gratuita e obrigatória dos 4 aos 17 anos de idade, a universalização do Ensino Médio e, principalmente, vem a estabelecer o atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência.

Sobre isso, Rodrigues (2013, p. 86) lembra que o Brasil, “um país marcado por desigualdades onde a distribuição de direitos espelha essa desigualdade, garantir o direito à educação é, sem dúvida, uma prioridade e um passo fundamental na consolidação da cidadania”.

Nesse sentido, oportuna a lição do sociólogo Thomas Marshall, que antes mesmo da promulgação da CF/88, em seu clássico “Cidadania, Classe Social e Status” (1967), afirmara que a educação estaria vinculada ao elemento social da cidadania, sendo o sistema educacional uma das instituições responsáveis por fazer exercer esse direito. Nas palavras do autor:

O direito à educação é um direito social de cidadania genuíno porque o objetivo da educação durante a infância é moldar o adulto em perspectiva.

Basicamente, deveria ser considerado não como um direito da criança frequentar a escola, mas como o direito do cidadão adulto ter sido educado.

(MARSHALL, 1967, p. 73).

Pela leitura acima, a educação envolve ao mesmo tempo um direito individual

e um dever público, pois o desenvolvimento da sociedade depende da educação de

seus membros. O rastro desse entendimento é refletido nas disposições da CF/88,

que ao estabelecer os deveres do Estado com a educação, declarou expressamente

que “o acesso ao ensino fundamental obrigatório e gratuito é direito público

subjetivo”, e que o “não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou

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sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente” (Art. 208,

§1º e 2º).

Assim, por ser caracterizada como um direito social cabe ao Estado conceder o suprimento necessário para o fomento da educação, através de aplicação de verbas públicas que sejam suficientes para a concretização das diretrizes educacionais e das políticas públicas que as envolvem.

Desse modo, as normas constitucionais elevam a educação à categoria de serviço público essencial e tem uma nítida preferência constitucional pelo ensino público, inclusive destinando recursos de repasse obrigatório (excepcionando um Princípio de direito financeiro de não vinculação da receita, insculpido no art.167, IV, CF/88) e impondo um sistema de ensino público e gratuito (OLIVEIRA, 2018).

Fundamenta-se essa questão no fato de que, na ideia de um Estado Democrático de Direito, a construção e vivência da democracia pressupõe a possibilidade de efetiva participação de todas as pessoas em prol dos valores que compõem o conteúdo do ideário democrático. E isso só se torna possível se a educação estiver ao alcance de todos.

Essa questão faz refletir sobre seu conceito, pois este deve ser compreendido como algo mais abrangente que o de mera instrução. Nesses moldes, Vieira (2014, p. 05) aponta que:

A educação objetiva propiciar a formação necessária ao desenvolvimento das aptidões, das potencialidades e da personalidade do educando. O processo educacional tem por meta: (a) qualificar o educando para o trabalho; e (b) prepará‐lo para o exercício consciente da cidadania. O acesso à educação é uma das formas de realização concreta do ideal democrático.

Essa é justamente a perspectiva adotada pela CF/88, que afirma em seu art.

205 que a educação tem por desígnio o desenvolvimento do indivíduo, a preparação para a cidadania efetiva e a sua qualificação como um profissional digno. Todavia, para que o direito educacional seja concretizado na sua forma mais justa e igualitária, é necessário que as suas diretrizes estejam determinadas e esboçadas em regulamentos normativos de devido alcance.

Diante disso, em seu art. 214, a CF/88 determinou a criação de um plano

nacional que organizasse o sistema nacional de educação, que visasse a contribuir

para a erradicação do analfabetismo, a melhoria na qualidade do ensino, a

profissionalização, dentre outras diretrizes educacionais.

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O primeiro Plano Nacional de Educação (PNE) vigorou de 2001 a 2010, estabelecendo diretrizes, metas e estratégias para a política educacional, a serem adotadas em regime de colaboração pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Contudo, pesquisas revelam que não se chegou a cumprir sequer 50%

das metas estabelecidas (TANAJURA, 2016).

Além do PNE, foram elaborados posteriormente inúmeros textos legislativos que agora integram o ordenamento jurídico brasileiro, regulamentando o direito à educação de maneira efetiva, sendo alguns desses textos legais, os descritos por Cury e Ferreira (2008, p. 04-05):

[...] Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069/90), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9.394/96), o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério – FUNDEF, agora substituído pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e da Valorização dos Profissionais da Educação – FUNDEB, e inúmeros decretos e resoluções que direcionam toda a atividade educacional, com reflexos diretos para os estabelecimentos escolares e os sistemas de ensino [...].

Como se denota, do ponto de vista legal, é inegável que o direito à educação evoluiu consideravelmente, haja vista a quantidade significativa de legislação envolvendo referido setor no país.

Contudo, em que pese o esforço legislativo do Estado em estabelecer tais regras legais para a concretização de educação de qualidade, este ideal não parece estar sendo cumprido com efetividade na sociedade atual. Diferentes estudos e pesquisas têm demonstrado que tais normas raras vezes são concretizadas.

Neste sentir, importante refletir que, apesar de existente e válida, a consagração constitucional à educação somente terá efetividade quando se alcançar, no plano fático, a materialização da garantia de que todos têm direito ao pleno desenvolvimento.

A efetividade nesse sentido, significa a concretização dos efeitos jurídicos no mundo dos fatos. Trata-se da realização, a materialização do Direito. Segundo Barroso (2009, p 83), a efetividade “simboliza a aproximação, tão íntima quanto possível, entre o dever ser normativo e o ser da realidade social”.

Não obstante, o questionamento que se exibe relaciona-se com a efetividade

do direito à educação estampado na Constituição, o que leva ao questionamento

sobre o real cumprimento das finalidades para o qual tal direito foi ali consagrado.

(16)

4 Efetividade do direito à educação na realidade material do país

Ao compreender que a materialização dos direitos sociais, e nesse caso, da educação, se dá por meio da ampliação da ação do Estado, através da implementação de políticas públicas, vê-se que a sociedade tem se deparado com a ineficiência de ações estatais para dar provimento às demandas sociais relacionadas ao setor, e dessa forma, tornar efetivo o direito à educação, conforme expresso nos textos legais.

Logo, a ideia de um direito à educação que seja efetivo,

Significa, em primeiro lugar, que o Estado tem que aparelhar-se para fornecer, a todos, os serviços educacionais, isto é, oferecer ensino, de acordo com os princípios estatuídos na Constituição (art. 206); que ele tem que ampliar cada vez mais as possibilidades de que todos venham a exercer igualmente este direito; e, em segundo lugar, que todas as normas da Constituição, sobre educação e ensino, hão que ser interpretadas em função daquela declaração e no sentido de sua plena e efetiva realização (PENAFIEL; PENAFIEL, 2014, p. 77).

Não basta, pois, o reconhecimento formal desse direito, sendo imprescindíveis os meios para concretizá-lo, por isso, assim como os demais direitos sociais, depende da elaboração e a implementação de políticas públicas, mas não somente isso, que elas sejam planejadas considerando um arcabouço de condicionantes, que vão além da oferta e acesso em si.

No entanto, conforme apontam Penafiel e Penafiel (2014) em sua análise, o que se verifica é que a educação tem sido repassada de mãos, numa realidade na qual o Estado passa a compartilhar (se não transferir), responsabilidades com a família, educadores, alunos ou a sociedade civil, em grandes projetos que acabam não alcançando em questões fundamentais, a exemplo das condições de vida e de trabalho da população e dos educadores, assim como a possibilidade de permanecer regularmente na escola sem que obstáculos provenientes das condições sociais ou das práticas escolares levem à exclusão ou à evasão escolar.

Desse modo, Penafiel e Penafiel (2014, p. 78) aludem que:

Para que o direito à educação seja cumprido com a máxima efetividade

possível, em respeito ao primado da justiça social, as ações tomadas no

âmbito educacional devem se pautar pelo reconhecimento das dimensões

sociais que o ensino exerce, principalmente na interação de ações humanas

que visam estimular a justiça social, para que o Estado brasileiro possa, de

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fato, alcançar uma sociedade “livre, justa e solidária” conforme preconiza o art. 3º, inciso I, da Constituição.

Depreende-se nesse caso, que as políticas públicas educacionais devem ser pensadas para alcançarem as demandas de forma quantitativa e qualitativa, visando a construção da cidadania e a realização dos valores que edificam à dignidade de cada um e a inclusão de todos, notadamente daqueles expostos às situações de vulnerabilidades, que se percebem entre as minorias marginalizadas e esquecidas pelo Poder Público, tendo os seus direitos e garantias constitucionais violados.

Para Vilas Boas e Soares (2019), uma educação que é promovida por um Estado Democrático de Direito e por entes e instituições comprometidas, que pretendem transmitir uma educação de qualidade, devem afastar situações de vulnerabilidade e de precariedade educacional, efetivando políticas públicas eficientes.

É nesse sentido que se pode construir o entendimento de educação de qualidade, sendo aquela que garante a igualdade de oportunidades e, sobretudo, a sua inclusão social, o qual por meio da aquisição do conhecimento e da participação social consegue entender-se como cidadão do mundo, corroborando a melhoria da qualidade da sua vida (PINTO, 2014).

Ou seja, o ensino não é suficiente para garantir em plenitude a dignidade do ser humano bem como o desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho, é essencial ainda que se garanta, entre outros aspectos, a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola e a garantia de padrão de qualidade (art. 206, incisos I, V e VII da CF), que devem ser compreendidos como integrantes da própria ideia de fundamentalidade do direito à educação.

Convém lembrar que, a importância da qualidade do ensino foi preocupação do próprio constituinte, visto que este definiu a garantia de padrão de qualidade entre os princípios com base nos quais o ensino seria ministrado (art. 206, VII) – dispositivo que se repete na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) em vigor (art. 3º, IX, Lei nº 9.394/1996).

Para firmar essa questão sobre a real necessidade de associar a

disponibilidade de ensino a sua oferta de forma qualitativa, tome-se como norte o

entendimento de Jean Piaget (2007, p. 34) ao afirmar que:

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[...] o direito da pessoa humana à educação é pois assumir uma responsabilidade muito mais pesada que a de assegurar a cada um a possibilidade da leitura, da escrita e do cálculo: significa, a rigor, garantir para toda criança o pleno desenvolvimento de suas funções mentais e a aquisição dos conhecimentos, bem como dos valores morais que correspondam ao exercício dessas funções, até a adaptação à vida social atual.

A descrição acima certamente coaduna com o que abrange o conceito, hodiernamente, de educação e do que ela demanda. Mais que isso, reflete o que se espera em um Estado Democrático de Direito, no qual sua lei maior determina a efetividade e qualidade de sua oferta.

Ocorre que, frente à insuficiência (ou omissão) do poder público na efetivação de direitos fundamentais de cunho social, tais como a educação, o Estado tem utilizado a alegação da cláusula da reserva do possível

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com o intuito de justificar os limites da sua atuação na ausência da concretização de tais direitos (TERRA; TRINDADE; MASSIERER, 2014).

Diante disso, existe uma espécie de pressão para que se entenda que a não efetivação das políticas educacionais traduz-se pelo fato do sistema educativo depender de recursos provindos do Estado como uma forma de garantir um ensino de qualidade e, dessa maneira, concretizar o direito social à educação amparado pela Constituição Federal.

Embora forçoso seja reconhecer que de fato o Estado precisa da disponibilidade de recursos públicos para desempenhar sua obrigação de afiançar a educação, teóricos apontam que o grande problema do Brasil não é ter pouco nem gastar pouco, mas gastar mal.

Com isso, ao lado da eminente precariedade dos recursos estatais destinados à garantia dos direitos sociais básicos, a falta de políticas públicas bem direcionadas debilitam à inobservância dos direitos fundamentais sociais, que por sua vez, acaba sendo refletido em um problema de aplicação da própria Constituição (RODRIGUES, 2013).

Não se pode deixar de mensurar ainda sobre o relativismo que existe no tratamento dado ao direito à educação quando se considera a interpretação e aplicação do mesmo. Isso pode ser demonstrado pela maior preocupação que

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“[…] o principio da reserva do possível regula a possibilidade e a extensão da atuação estatal no

que se refere à efetivação de alguns direitos sociais e fundamentais, condicionando a prestação do

Estado à existência de recursos públicos disponíveis” (SILVA, s.d., p. 26).

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alguns agentes políticos procuram manter com uma aparência de tutela do direito à educação do que com programas e práticas efetivas, que elevem o nível educacional da sociedade (BARBUGIANI; COELHO, 2018).

Assim, o que se deduz é que existe uma nítida dificuldade de garantir o direito à educação sem que a política de Estado efetivamente adotada seja coerente na implementação de todos os direitos sociais assegurados na Constituição Federal.

Tomando como ponto de análise o PNE em sua segunda vigência (2014- 2024), sob a orientação da CF/88, estabeleceu para a educação básica diretrizes tais como: a erradicação do analfabetismo; a universalização do atendimento escolar; a superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação; a melhoria da qualidade da educação; a promoção do princípio da gestão democrática da educação pública; a valorização dos (as) profissionais da educação; a promoção dos princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade socioambiental, dentre outras (BRASIL, 2014).

No entanto, ao confrontar tais objetivos com a realidade educacional vivenciada no país, pode se deduzir que estão distantes de serem plenamente alcançados. Basta tomar como exemplo o analfabetismo, que, diga-se de passagem, representa um dos principais efeitos que representam a luta histórica que os parâmetros educacionais visam combater.

Sobre isso, conforme apontaram dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2018, havia 11,3 milhões de pessoas analfabetas com 15 anos ou mais de idade, evidenciando um cenário ainda mais emblemático, se considerado o analfabetismo funcional, cujo índice percebe a capacidade de compreender e utilizar a informação escrita e refletir sobre ela, os números alcançam o patamar de 38 milhões de pessoas (ARAÚJO, 2020).

Junta-se a isso o problema da evasão escolar, consistente no decorrer dos anos, que embora já tenha sofrido diminuição, apresenta índices considerados ainda elevados, como demonstrado pelo IBGE, ao divulgar os dados do segundo trimestre de 2019, com um percentual equivalente a 51,2% da população de 25 anos ou mais no Brasil que não completaram a educação escolar básica.

Na mesma perspectiva, a Fundação Roberto Marinho realizou pesquisa na

qual revelou que, seguindo a tendência atual, 17,5% dos jovens que hoje têm 16

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anos não deverão concluir a educação básica, o que representa 575 mil jovens (ARAÚJO, 2020).

Por essa breve exposição, resta claro que existe um problema gradual que demonstra a desigualdade dos meios de acesso à educação no país, sendo consequência do processo gradual de reconhecimento da educação enquanto direito. Na análise de Araújo (2020, p.21):

[...] as oportunidades não têm sido iguais para todos, e este é um problema histórico, sobretudo pelo fato de que, conforme demonstrado por meio dos textos constitucionais antigos, por muitas décadas a educação nem sempre foi vista como um direito e foi fornecida de maneira restrita e ineficiente, problema esse que somente veio a ser corrigido, ao menos teoricamente, após a promulgação da Constituição Federal de 1988.

Dessa forma, não se pode deixar de deduzir que em decorrência da falta de efetividade real dos preceitos constitucionais estabelecidos em torno do direito à educação, as consequências recaem sobre a confirmação da desigualdade de acesso, de tratamento e de conhecimentos adquiridos, além de inferir diretamente sobre os índices de violência, desemprego e desenvolvimento econômico do país.

Dito isso, pode-se afirmar que passadas mais de três décadas de promulgação da CF/88 e de todo manejo normativo que se estruturou para garantir a concretização da educação com qualidade, ainda não se pode falar numa real efetivação, ainda que uma sucessão de políticas tenham sido implementadas.

Muitos desafios se fazem eminentes, governos proclamam sua incapacidade administrativa de expansão da oferta perante a obrigação jurídica expressa, e a sociedade se vê perante a não operacionalidade de questões básicas para exercício de seu direito à educação, tais como adequada condição estrutural das instituições de ensino, ensino de qualidade, quadro satisfatório de profissionais qualificados, valorização e incentivo profissional, além de assistência a aspectos sociais que são determinantes para a permanência do aluno na escola, sobretudo aqueles que se enquadra em um grupo mais vulnerável.

O ainda despreparo do Estado para prover uma educação de qualidade pode

ser sentida nos índices ainda elevados de questões como analfabetismo, evasão

escolar, desistência, na desestruturação dos currículos escolares que não

consideram a realidade fática das comunidades, má qualidade, na falta de

alinhamento as demandas tecnológicas como ferramentas de apoio ao ensino.

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Um exemplo claro desse cenário de desafios, pode ser extraído do atual contexto vivido pela sociedade em decorrência da pandemia da Covid-19, cujas principais medidas de contenção do avanço do vírus deram-se pelo isolamento social, provocando, por consequência, o fechamento das escolas. Tal realidade evidenciou de maneira incontestável a deficiência da oferta do direito à educação.

Isso, porque, conforme relata Araújo (2020), a adoção do ensino remoto trouxe a tona uma série de desafios para a manutenção da oferta do ensino de qualidade para crianças e adolescentes, sobretudo sob a perspectiva da democratização, de igualdade e acesso aos meios de instrução utilizados no cenário pandêmico.

O resultado foi que uma parcela significativa de alunos foi prejudicada durante o período pandêmico, pela ineficiência de o Estado prover condições para que estes mantivessem o processo de ensino aprendizagem ainda que de forma adversa do habitual.

Note-se ainda como fundamente argumentativo da falta de efetividade do direito à educação, a tendência da chamada judicialização

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envolvendo demandas no âmbito educacional. Pois, tem-se visto que a exigência individual pela concretização do direito à educação tem sido uma realidade na última década.

Nesse sentido, Munhoz (2015) cita estudo realizado pelo Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça Cível e de Tutela Coletiva do Ministério Público do Estado de São Paulo, que abrangeu todos os Tribunais do país, identificando, de um modo geral, a demanda pelo direito à educação e qual a posição dos Tribunais brasileiros em relação à matéria.

No referido estudo, mostrou-se evidente a constante busca por vagas em creches e em pré-escola (arts. 11, V, LDB; 208, I, IV, CF); pelo fornecimento de transporte escolar gratuito (art. 4º, VIII, LDB; 208, VII, da CF); pela regularização do quadro de professores, em razão da constante insuficiência na rede pública de ensino (arts. 205, VII, 208, §2º, CF).

Na mesma abordagem, Lord (2017) em seu estudo cita que a principal demanda judicializada diz respeito às vagas na educação infantil e especial, notadamente pelas periferias urbanas. Na leitura do autor:

3

Segundo Luís Roberto Barroso (2009): “Judicialização significa que algumas questões de larga

repercussão política ou social estão sendo decididas por órgãos do Poder Judiciário, e não pelas

instâncias políticas tradicionais [...]”.

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Ainda hoje, são as crianças de periferias, de pais operários ou grupos vulneráveis que mais ajuízam pedidos de atendimento em educação infantil.

O que difere atualmente é o espaço onde a demanda é buscada. Assim, a atuação do judiciário tem sido no sentido de mandar o poder público fazer o atendimento, de acordo com o que prescreve a lei (LORD, 2017, p. 305).

Disso, infere-se que, a judicialização da educação nada mais é do que o retrato da ineficácia das políticas púbicas já implementadas até então. Sendo assim, a busca pela efetivação do direito à educação através do Judiciário tem sido uma segurança jurídica amplamente usada. De certo que, não se pode permitir, em razão da importância que este direito revela para a edificação do Estado Democrático, que esteja adstrito a decisões de índole administrativa, sujeitas aos critérios de conveniência e oportunidade.

Afinal, a efetivação do direito à educação conforme proclamado pela ordem constitucional não pode ficar condicionada ou ameaçada pela erosão do instrumento do financiamento e do abuso da reserva do possível. Para Martins (2018), a prioridade dada ao direito à educação pelo constituinte e pelas emendas subsequentes impõe que se consolide a proibição do retrocesso nessa matéria, e impeça se torne um instrumento de manobras e manipulações políticas e econômicas.

Na lição de Cury (2002), existe uma espécie de desinteresse e de atuação estatal que acaba minimizando a importância da lei como um instrumento linear ou mecânico de realização de direitos sociais. Além disso, o autor cita que a inefetividade de um direito social desvaloriza a dimensão de luta que existe por trás de cada instrumento normativo que o regulariza.

No contexto da educação, todo o avanço da educação escolar além do ensino primário “foi fruto de lutas conduzidas por uma concepção democrática da sociedade em que se postula ou a igualdade de oportunidades ou mesmo a igualdade de condições sociais” (CURY, 2002, p. 247).

A todo modo, a legislação sempre será o melhor suporte para a ligação entre o direito à educação a democracia, e deverá ser invocada para obrigar o Estado como provedor desse bem.

O desiderato não é somente o reconhecimento do direito, mas o de garanti-lo.

Ou seja, a preocupação atual não pode se limitar a prever direitos, mas sim de

garantir que onde exista um direito exista o dever correspondente.

(23)

5 Considerações finais

A educação, enquanto dever do Estado e realidade social, não foge ao controle do Direito. A Constituição Federal de 1988 a declara como direito de todos, dever do Estado e da família, com a tríplice missão de certificar a plena realização do ser humano, inseri-lo no contexto do Estado Democrático e qualificá-lo para o mundo do trabalho.

Não obstante, ainda inquieta a observação da real efetividade desse direito, de modo que é justamente esse o impulso que norteou esse estudo, cujo objetivo foi analisar se no breve contexto pós Constituição de 1988 este direito se tornou realmente efetivo na realidade material do país.

Pela dscussao desenvolvida alicercada em pesquisa bibliográfica, revelou-se que o sistema educacional não tem se mostrado satisfatório ao cumprimento desse desiderato.

Embora seja significativa a consagração legal do direito à educação, uma vez que é ela que impulsiona e obriga a realização desse direito, é necessário implementar políticas públicas eficientes e de acordo com as necessidades e demandas reais da sociedade, para que o direito à educação se concretize e se torne efetivo.

Sem pretensão de enumerar em minucias todos os entraves que limitam a efetividade desse direito, viu-se pela realidade social vivenciada, que embora um avanço importante na regulação constitucional do tema, esta não veio acompanhada da necessária realização de ações por parte do Estado para lhes dar efetividade.

O fato é que, inúmeras políticas públicas foram implementadas, mas não se pode afirmar que elas foram direcionadas aos problemas existentes de forma correta, o que fez não lograrem o êxito desejado, sendo que muitas problemáticas educacionais persistem, a exemplo dos índices elevados de analfabetismo, evasão e desistência escolar. Em muitos casos, tem-se ainda a falta de vagas disponíveis para atender toda demanda, sobretudo da população infantil e alunos especiais.

Todo esse cenário tem dado ensejo ao aumento da procura da atuação do

Judiciário para garantir a concretização do direito constitucionalmente estabelecido,

fomentando um notório processo de judicialização da educação.

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Vê-se ainda que para se abster da responsabilidade, os entes responsáveis usam preponderantemente a alegação da reserva do possível, garantindo que a insuficiência de recurso tem sido o mais incisivo óbice para a oferta de um ensino de qualidade, e de todos os parâmetros recomendados para que o referido direito seja usufruído em sua inteireza.

Diante disso, conclui-se que a medida que existe esse enfraquecimento do direito à educação, seja pela falta de políticas públicas adequadas, seja pela incorreta ingerência desse direito por parte do Estado, por consequência, resta comprometido o ideário democrático, e continuará a existir disparidades nas oportunidades de acesso, permanência e de um ensino de qualidade.

Assim, exige-se uma nova postura e comprometimento estatal que não somente idealize, mas promova o planejamento necessário para dar concretude ao direito à educação, providenciando a melhoria das escolas, uma maior oferta de vagas e a melhoria da qualidade do ensino, buscando a garantia da justiça social e da dignidade humana.

Ademais, afirma-se que será possível cumprir as normatividades constitucionais e a própria manutenção de um Estado Democrático de Direito, quando o integral atendimento ao direito à educação signifique cumprir, qualitativa e quantitativamente as obrigações que dele decorrem, produzindo ações políticas e serviços educacionais adequados à plena formação do educando.

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