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A RELAÇÕES ECONÔMICAS ENTRE O BRASIL E A CHINA NOS ANOS 2000

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Academic year: 2021

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A RELAÇÕES ECONÔMICAS ENTRE O BRASIL E A CHINA NOS ANOS 2000

ELENA SOIHET*

RESUMO:

Este artigo tem como objetivo central compreender a inserção da China no comércio mundial bem como analisar a evolução da relação comercial entre o Brasil e a China nos anos 2002-2012. Para tanto, será apresentado o quadro histórico das relações comerciais chinesa, desde sua abertura comercial, à sua entrada na Organização Mundial do Comércio. Em seguida será estudada as relações comerciais Brasil- China tendo como base uma análise descritiva de dados dos dez anos (2002-2012). Pode-se verificar que o Brasil intensificou sua produção em commodities, além de ao final desse período ter a China como seu principal parceiro comercial.

Introdução

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*Professora Adjunta de Economia do Instituto Multidisciplinar da Universidade Federal Rural do Rio de

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A China vem oferecendo grandes vantagens para atrair os demais países para o eixo oriental principalmente devido a sua ampla população o que a torna um mercado em potencial ímpar, que atrai cada vez mais países para serem seus parceiros comerciais. Dois fatos culminaram para a multipolarização mundial atual: a partir de 2008, a crise do subprime deixou vulnerável os Estados Unidos, e em 2010 a crise europeia. Como consequência, grandes nações que antes dominavam o mercado internacional entraram em recessão, diminuindo seus níveis de produção, aumentando os níveis de desemprego locais e reduzindo significativamente o consumo interno. Desse modo, a China sem passar pelos graves problemas que seus concorrentes enfrentaram, aproveitou para avançar em mercados antes dependentes de economias como a norte-americana e europeia.

A partir de um recorte temporal de dez anos, entre 2002 e 2012, este artigo tem como objetivo central compreender a inserção da chinesa no cenário internacional bem como analisar a evolução da relação comercial entre o Brasil e a China neste período. Para tal, o artigo está estruturado da seguinte forma. Além da introdução, na segunda seção será apresentada as principais mudanças estruturais ocorridas na China após 1970. Primeiramente é analisada a abertura comercial, passando pela importância do fortalecimento Estatal após Deng Xiaoping assumir o poder e posteriormente, a sua entrada na OMC. Em sequência, a terceira seção se propõe a uma análise da pauta comercial entre o Brasil e a China a fim de verificar eventuais mudanças estruturais que afetaram o Brasil. Por fim tem-se a conclusão e as considerações adicionais.

2. A Estrutura econômica chinesa e sua inserção nos anos 2000

2.1 A Abertura Comercial

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mercado internacional começou de fato em meados da década de 1980, através de um grande planejamento estatal a fim de atrair investimentos estrangeiros diretos em setores chaves da economia, com foco na exportação e nas reformas estruturais na indústria de base. Essa indústria aos poucos seria reestruturada com ênfase em produtos de média e alta tecnologia, substituindo os produtos de baixo valor agregado. Neste processo de transição Deng Xiaoping teve que lidar com um paradoxo: de um lado o regime do comunista e de outro, a abertura comercial. Para isso foi criada as Zonas Econômicas Especiais (ZEEs). A partir de 1984, estas zonas puderam se estabelecer em pontos estratégicos, caracterizando um país diferente do resto da China. Instaladas em zonas portuárias, as ZEEs tinham suas próprias leis comerciais bem como legislação, e incentivos fiscais para a entrada de investimentos estrangeiros diretos. Tais investimentos foram fundamentais para alavancar o crescimento chinês, em um período de 30 anos. Estas zonas que estavam sediadas prioritariamente no litoral chinês foram: Shezen, Zhuhai, Shantou, Xiamen e Hainan. ( CAJUEIRO, B. 2013,p.22).

É possível dividir esse processo de abertura em cinco períodos distintos. De acordo com Acioly (2005, p.22-26), na primeira fase, entre 1976-1986, foram beneficiados os investimentos setores como os de serviço, indústria manufatureira de trabalho-intensivo, e prospecção geológica. Em uma segunda fase, entre 1986-1989, o governo mudou o foco para a indústria de transformação, alta tecnologia e setores exportadores. Nos anos 1990, período que compreendeu a terceira e quarta fases da abertura, algumas medidas mais intensas foram tomadas para aumentar a participação do investimento direto externo nas indústrias capital-intensivas. A prioridade foi o desenvolvimento e o fortalecimento da indústria química, de máquinas e equipamentos de transporte, eletrônicos e comunicações. Além do IDE, houve novas atividades no setor de serviços e maiores estímulos ao surgimento de setores de tecnologia de ponta e ao estabelecimento de centros de pesquisa e desenvolvimento no país. Na quinta fase China, no início dos anos 2000, a China se tornou o 143º membro da OMC, e sua entrada marcou a estrutura comercial mundial. Cabe lembrar que aliado ao processo de abertura, o regime de câmbio chinês foi constantemente administrado, convergindo para a desvalorização da moeda frente às demais fato que corroborou para o aumento da competitividade de seus produtos no comércio mundial.

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focados em biotecnologia, energia, tecnologia da informação e até mesmo tecnologia espacial. Os gastos militares da China tiveram um aumento aproximadamente U$$ 140 bilhões em vinte e três anos, passando de U$$ 20 bilhões em 1989 para U$$ 160 bilhões em 2012, A dualidade civil militar, ou seja, esse duplo uso tem demonstrado ser extremamente eficaz para investimentos em áreas como de previsão climática, oceânica e nos sistemas de comunicação.

A fim de compreender as relações entre defesa e desenvolvimento, vale citar um trecho do que do artigo Fiori (2012) sobre tal desenvolvimento:

O novo caminho tecnológico da China parece reforçar uma verdade antiga e obliterada sistematicamente, pela “ciência econômica”: que o ritmo e liderança da pesquisa e inovação de “ponta”, nos países que lideram a hierarquia internacional, não são determinados pelas forças de mercado. Nestes casos — e cada vez mais — as grandes inovações vieram de sua estratégia de defesa e de sua permanente “preparação para a guerra”. Goste-se ou não, foi Goste-sempre assim, e ainda mais no caso dos estados nacionais que criaram e lideraram, ou lutaram pela liderança do sistema interestatal capitalista, através dos séculos.” (FIORI, 2012)1.

2.2 A entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC)

A entrada da China na OMC em 2001 acarretou em uma série de compromissos acordados previamente com outros países, em função de acordos bilaterais tais como o fim dos subsídios agrícolas e à exportação e ampliação de acesso ao mercado. Neste período, a China revisou as leis e regulamentos, estabeleceu um sistema comercial com regras de mercado e abriu cada vez mais áreas de serviços. Em 2000, os investimentos chineses no exterior não chegavam a US$ 1 bilhão, mas em 2010 a cifra se aproximou de US$ 60 bilhões. (LIANG, 2011).

Em conjunto com a sua entrada na OMC, a China passou a ter mais visibilidade do mundo ocidental. Os dados do Banco Mundial mostram-nos que a China possui uma população de aproximadamente 1,4 bilhão de pessoas, um produto interno bruto (PIB) em 2014 de U$$ 10,4 trilhões, representando a segunda maior economia do mundo, somente atrás dos Estados Unidos2.

Todavia, apesar dos grandes números que a China representa no comércio e na a economia mundial, ela ainda possui grandes problemas a serem resolvidos. Atualmente há uma elevada desigualdade de renda na China, graves problemas ambientais, uma vez

1 Fiori (2012). Disponível em:< http://www.cartamaior.com.br/?/Coluna/Sobre-odesenvolvimento-chines-IV/28608>. Acesso : 8 de nov. de 2014.

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que a China é um dos maiores emissores de gás carbônico da terra. Outra questão relevante é a trabalhista, pois muitos operários não possuem condições mínimas de trabalho, sendo que grande parte vive em condições similares à escravista. Como consequência, a China recebe fortes críticas do Ocidente, já que a comunidade internacional acredita que o barateamento da mão-de-obra chinesa é a principal razão do país manter os produtos exportados a níveis de preços baixíssimos, e por isso extremamente competitivos no mercado internacional. A China continua sendo um país em desenvolvimento e com graves problemas sociais (sua renda per capita anual ainda é baixa e representa aproximadamente US$ 8.400 por ano e cerca de 13,4% da população ainda vive abaixo da linha da pobreza nacional.3

3. O impacto comercial da China no Brasil

As exportações do Brasil tiveram expressivo crescimento na última década, impulsionadas pela entrada da China na OMC que expandiu a demanda global e pressionou a alta dos preços de commodities agrícolas e minerais. As exportações brasileiras para China que eram de apenas 2,5 bilhões em 2002 passaram para 41,2 bilhões em 2012, um crescimento de quase 1600%. Destas, cerca de 80% foram referentes a produtos básicos (commodities agrícolas e minerais) e apenas 27% a produtos manufaturados e semimanufaturados. (Tabela 1)

Tabela 1- Exportações brasileira para a China por fator agregado.

Exportações Totais

para China Básicos Semimanufaturados Manufaturados

2002 2,5 1,6 0,4 0,5 2004 5,4 3,2 1,2 1,0 2006 8,4 6,2 1,3 0,9 2008 16,5 12,8 2,6 1,1 2010 30,8 25,8 3,6 1,4 2012 41,2 34,1 4,7 2,4

Fonte: SECEX/MDIC, Elaboração própria.

A tabela 2 a seguir, apresenta os principais produtos brasileiros exportados para a China nos anos de 2002 e 2012. Observa-se que prevaleceu ao longo do tempo uma tendência de produtos exportados de baixo valor agregado. A soja apresentou um crescimento de aproximadamente 1400% nesse período, enquanto o minério de ferro apresentou um crescimento de mais de 2300%.

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Tabela 2 . Principais produtos exportados para China em 2002 (em U$$ milhões)

2002 2012 % cresc.

SOJA MESMO TRITURADA 800 12000 1400

MINERIOS DE FERRO 600 14900 2380

PASTAS QUIMICAS DE MADEIRA 110 1200 991

OLEO DE SOJA EM BRUTO 120 900 650

Fonte: SECEX/MDIC, Elaboração própria.

3.2.Importações brasileiras

No caso das importações brasileiras provenientes da China, houve também um aumento a cada ano e a partir de 2011 a China ultrapassou os Estados Unidos como principal parceiro comercial.

Conforme visto no gráfico 1, o cenário das importações da China é o oposto em relação às exportações, já que os bens manufaturados são maioria quase que absoluta na pauta brasileira.

Graf.1 Importações brasileiras provenientes da China por fator agregado (U$$ bilhões)

Fonte: SECEX/MDIC, Elaboração própria.

Nota-se uma mudança significativa de 2002 para 2012, no que tange o percentual de participação dos fatores agregados. Em 2002 o Brasil importava 15% de produtos básicos e 85% de industrializados, ao passo que em 2012 importou apenas 2% de produtos básicos e 98% de produtos industrializados.

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Produtos industrializados

Importações

Totais da China Básicos Part.

% Semimanufaturados Manufaturados Part. %

2002 1,6 0,2 15% 0,0 1,3 85% 2004 3,7 0,4 10% 0,1 3,3 90% 2006 8,0 0,2 3% 0,1 7,7 97% 2008 20,0 0,9 4% 0,1 19,1 96% 2010 25,6 0,5 2% 0,1 25,0 98% 2012 34,3 0,7 2% 0,1 33,4 98%

Fonte: SECEX/MDIC, Elaboração própria.

Nota-se a clara diferença da pauta importadora da exportadora com a China. Conforme observado por Thorstensen (2011) tem-se de um lado, a concentração das exportações brasileiras em apenas três commodities e a vulnerabilidade da pauta brasileira quanto às variações dos preços internacionais. De outro, o crescimento e a diversificação da pauta chinesa, indicando a penetração tanto na área de consumo, de intermediários e equipamentos. (THORSTENSEN, 2011, p.3).

Vale Sai (2011) quando afirma que historicamente, a dependência de exportações de commodities tende a tornar os países vulneráveis externamente. A Argentina era um dos países mais ricos do mundo, com uma economia complementar à inglesa, a potência hegemônica da época. Com o deslocamento do centro dinâmico da economia mundial para os EUA, um país com forte setor agroindustrial, e a entrada de Austrália e Nova Zelândia nesse mercado, o preço de seus produtos de exportação desabaram.

Conclusão

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grande demanda chinesa e beneficiou-se desse mercado. Vale salientar que esse ganho é relativo uma vez que o Brasil conseguiu superávit nos anos 2000 tendo em vista a alta dos preços das commodities. Por outro lado, o país ficou refém da exportação desses produtos e como consequência tornando-se mais vulnerável aos preços internacionais. Por fim, os resultados encontrados para o comércio internacional brasileiro são de profundas transformações no período 2002-2012. A análise mostrou que por enquanto não há danos explícitos para o Brasil em relação à ascensão comercial chinesa. Porém, é imprescindível o país diversificar a pauta comercial exportadora, investir em novas tecnologias para reestruturação de sua indústria, a fim de torná-la mais competitiva.

Referências Bibliográficas

ACIOLY, Luciana. CHINA: Uma Inserção Externa Diferenciada. Economia Política

Internacional: Análise Estratégica. Centro de Estudos de Relações Econômicas

Internacionais – CERI, nº 7. Campinas: UNICAMP, Outubro de 2005.

BANCO MUNDIAL. Banco de dados. Disponível em

<http://databank.worldbank.org/data/views/reports/tableview.aspx> Acesso em 24/10/2014.

CAJUEIRO, Bruno, Chaves. Brasil e China – relação comercial e seus impactos para o Brasil no período 2002 a 2012. Monografia. Universidade Federal Rural do Rio

de Janeiro, Instituto Multidisciplinar, 2013.

LIANG, Shi. Entrada da China na OMC beneficia China e o resto do mundo. Disponível em http://portuguese.cri.cn/561/2011/01/28/1s131509.htm. Acesso em 01 nov.2014.

FIORI, José Luís. Sobre o Desenvolvimento Chinês. Disponível em: <http://www.cartamaior.com.br/?/Coluna/Sobre-o-desenvolvimento-chines-IV/28608>, acessado em 08 nov.2014.

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MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR – SECRETARIA DE COMÉRCIO EXTERIOR. Estatísticas de Comércio Exterior. Disponível <http://www.desenvolvimento.gov.br/ >, Acesso em 14 ago.2014.

SIAS, Rodrigo. Brasil Econômico (SP): Prebisch e as commodities

http://www.ipea.gov.br/, 2011. Acesso em 22. mar..2015.

THORSTENSEN, Vera. BRASIL E CHINA - De Conflitos de Interesses à Busca de

Uma Agenda Comum. Textos para Discussão/ Working Paper Series FGV – São

Paulo, nº 303, Novembro de 2011.

TREBAT, Nicholas Miller; DE MEDEIROS, Carlos Aguiar. Modernização Militar no

Referências

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