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Em Busca de uma Comunicação Eficaz na Tomada de Decisão Envolvendo Riscos

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Academic year: 2021

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XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis

XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 19 a 23 de outubro de 2015

Em Busca de uma Comunicação Eficaz na Tomada de Decisão Envolvendo Riscos Priscila Goergen Brust-Renck1

José Roberto Goldim2

Márcia Santana Fernandes 3

1. Introdução

Comunicação de informações que envolvem riscos é um processo interativo no qual informações são apresentadas por uma parte detentora de conhecimento para uma parte que sabe pouco ou nada sobre o tema (FISCHHOFF, 2009; REYNA, 2008). Em linhas gerais, a palavra comunicação é reservado para situações em que a informação é compreendida, não apenas compartilhada com um ouvinte (BRUST-RENCK, ROYER, REYNA, 2013). Esse processo de comunicação é particularmente importante no contexto da saúde, em que decisões cruciais são tomadas com relação a prevenção, detecção e diagnóstico, e tratamento de doenças. No entanto, pesquisas ressaltam que a transmissão da informação sobre riscos frequentemente não resulta em compreensão. (BRUST-RENCK, REYNA, WILHELMS, LAZAR, NO PRELO).

Os estudos sobre comunicação de risco têm se dedicado a desvendar a forma como os seres humanos processam as informações e extraem sentido, porque nem sempre as operações mentais dos seres humanos correspondem a regras consistentes e lógicas (KAHNEMAN, 2003). A aparente falha das pessoas em raciocinar probabilisticamente em contextos experimentais tem levantado sérias preocupações a respeito da habilidade dos seres humanos de ser estritamente racionais em situações reais. Uma dessas falhas é a dificuldade dos indivíduos em lidar com números (i.e., numerosidade), responsável por falhas importantes na compreensão (REYNA, NELSON, HAN, DIECKMANN, 2009; REYNA, BRUST-RENCK, 2015).

Nos últimos anos, vários processos psicológicos têm sido estudados para explicar os fenômenos envolvidos no processo de comunicação que levam à compreensão de risco. Compreensão de risco é chave para a tomada de decisões informadas e evitar-se sub- ou super-estimação de riscos, que geralmente levam a decisões com efeitos negativos (FISCHOFF, 2009). Por exemplo, superestimar uma pequena chance de complicações de

1

Doutora em Psicologia, UniRitter e Hospital de Clínicas de Porto Alegre, pri.renck@gmail.com

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Doutor em Medicina, Hospital de Clínicas de Porto Alegre, jgoldim@hcpa.edu.br

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uma vacina pode levar à decisão de não tomar a vacina, mesmo que o risco real seja efetivamente muito baixo e as complicações, improváveis de ocorrer.

Em oposição à ideia de que compreensão depende da habilidade de analisar todas as informações de forma racional, uma série de visões alternativas foi proposta para incluir o papel da emoção e das intuições no processo de compreensão de risco. Uma visão proeminente é a da Teoria do Traço Difuso (REYNA, BRAINERD, 1995, 2011), para a qual a compreensão de risco é baseada em processos intuitivos ao invés de processos analíticos como sugerido por teorias tradicionais. Segundo a teoria, existem dois processos responsáveis para lidar com toda nova informação: um de essência (do inglês, gist) e outro literal (verbatim). O processo de essência envolve a extração de significado de forma intuitiva de uma informação com base em valores, cultura, e experiência, enquanto o processo literal é primariamente analítico e envolve a deliberação detalhada sobre todos os fatos apresentados.

A novidade trazida por esta teoria de dois processos é de que o novo conceito de intuicionismo4 é difuso, ocorre em paralelo e não em série, e não é consciente (é geralmente impensado), o que significa que a essência é utilizada de um modo inconsciente e não deliberado. Essência não é necessariamente o tipo primitivo, impulsivo, de baixo nível de tomada de decisão da visão clássica de intuição; em lugar disso, é baseado em sentido, na extração do significado das informações. Geralmente significado e intuição não ocorrem juntamente, mas, nesta abordagem, a essência encontra-se na interseção entre intuição e significado.

Portanto, o foco central do presente projeto é o estudo da comunicação de risco e subsequente compreensão da informação segundo os pressupostos da Teoria do Traço Difuso na área da saúde, na qual a falha de compreensão tem impacto direto na tomada de decisão que pode ter resultados fatais. Quando a comunicação é eficaz, espera-se que o paciente compreenda a informação sobre os riscos advindos de um tratamento proposto, por exemplo, e possa prover um consentimento informado para a realização do mesmo. 2. Metodologia

Este projeto utilizará métodos qualitativos e quantitativos para identificar o nível de compreensão de pacientes (ou familiares) frente a comunicação de informações fornecidas pela equipe médica sobre prevenção, diagnóstico, ou tratamento de doenças. Serão investigadas diferenças individuais na compreensão dos pacientes e diferentes métodos de comunicação utilizados pelas equipes. A abordagem qualitativa tem como um de seus objetivos compreender os fenômenos sociais em sua complexidade e especificidade. Já a

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abordagem quantitativa tem como um de seus objetivos testar as hipóteses levantadas por meio da observação qualitativa, especificamente, testar a diferença entre a forma observada de comunicação das equipes médicas com as formas sugeridas pela literatura como mais avançadas.

Todos os participantes do projeto de pesquisa terão o seu consentimento obtido previamente à coleta de dados. O projeto somente será iniciado após a sua aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital de Clínicas de Porto Alegre onde será conduzida a pesquisa.

3. Resultados e Discussão

Segundo a Teoria do Traço Difuso, comunicar informações de risco envolve identificar os fatos mais relevantes e tornar seu significado (Essência) compreensível para o público-alvo da mensagem (BRUST-RENCK e colegas, 2013). Comunicar não é apenas transmitir os fatos, mas transmitir o significado do risco por meio da identificação do significado dentro do contexto em que a informação se insere (REYNA, HAMILTON, 2001). Não é apenas o processo de traduzir os riscos em forma de conclusões simples, mas sim de transmitir o significado mais básico e relevante da informação (e.g., WOLFE e colegas, 2015).

Em uma revisão, BRUST-RENCK e colegas (2013) identificaram uma série de formatos para comunicar informações de forma relevante baseado na facilidade de compreensão de risco identificada pela Teoria do Traço Difuso. Segundo as autoras, esses formatos podem ser classificados em três categorias que facilitam a compreensão: (1) distinção verbal dos diferentes significados da informação, ou seja, dar sentido a informações numéricas “brutas” (e.g., o significado de 10% de risco de câncer de mama pode ser “baixo” risco ou “menor que a média, que é 12.2%”); (2) representação visual intuitiva, ou seja, utilizar diferentes formatos gráficos para transmitir mensagens específicas tendo em vista que cada formato propicia uma comparação diferente (e.g., gráfico de barra simples e gráfico de pizza facilitam comparação de magnitude relativa, gráfico empilhado de colunas facilita visualização e comparação de magnitudes absolutas, e gráfico de linha facilita observação ao longo do tempo); e (3) separação de classes para salientar relação entre alternativas inclusivas como intersecção entre dois eventos (e.g., usar tabelas 2 por 2 para mostrar o risco de pacientes com gene BRCA 1 ou BRCA 2 de efetivamente desenvolverem câncer de mama e pacientes com câncer de mama de efetivamente terem um dos marcadores genéticos).

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assunto para compreender informações sobre a doença e extrair seu próprio entendimento. No entanto, pacientes também não costumam fazer perguntas para esclarecer dúvidas sobre um diagnóstico ou efeitos colaterais de um tratamento que muitas vezes não são explicados pelos médicos (SLEATH e colegas, 1999, 2007).

Segundo a teoria do traço difuso, especialistas tem uma preferência em utilizar o processo de essência e buscar significados e padrões na informação, portanto, baseando sua compreensão essencialmente no significado do evento e não nos detalhes literais (REYNA, CHICK, CORBIN, HSIA, 2014). Os profissionais da saúde conseguem facilmente identificar informações sobre risco de doenças com as quais trabalham no dia-a-dia, tornando sua compreensão da gravidade de determinadas situações automática e rotineira. Por isto, espera-se que a equipe médica utilize-se desta noção de risco baseada em significado para comunicar informações.

4. Conclusões

Nem todas as pessoas são capazes de extrair claramente significado de informações complexas, e é o processo de comunicação que mantém a chave para uma compreensão adequada.

5. Palavras-chave

Comunicação de Risco; Tomada de Decisão; Numerosidade; Teoria do Traço Difuso; Consentimento Informado.

Referências bibliográficas

BRUST-RENCK, P. G.; REYNA, V. F.; WILHELMS, E. A.; LAZAR, A. N. Handbook of Health and Decision Science. 1 ed. New York: Springer, no prelo. A fuzzy-trace theory of judgment and decision making in healthcare: Explanation, prediction, and application.

BRUST-RENCK, P. G.; ROYER, C. E.; REYNA, V. F. Communicating numerical risk: Human factors that aid understanding in health care. Review of Human Factors and Ergonomics, 8, 1, 235-276, 2013.

FISCHHOFF, B. Oxford textbook of public health. 5 Ed. Oxford, UK: Oxford University Press, 2009. Risk perception and communication, 940-952.

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REYNA, V. F. A theory of medical decision making and health: Fuzzy-trace theory. Medical Decision Making, 28, 850-865, 2008.

REYNA, V. F.; BRAINERD, C. J. Fuzzy-trace theory: An interim synthesis. Learning and Individual Differences, 7, 1-75, 1995.

REYNA, V. F.; BRAINERD, C. J. Dual processes in decision making and developmental neuroscience: A fuzzy-trace model. Developmental Review, 31, 180-206, 2011.

REYNA, V. F.; BRUST-RENCK, P. G.; Numerical Reasoning in Judgments and Decision Making about Health. 1 ed. New York: Cambridge University Press. Capítulo 12: A review of theories of numeracy: Psychological mechanisms and implications for medical decision making, 215-251.

REYNA, V. F.; CHICK, C. F.; CORBIN, J. C.; HSIA, A. N. Developmental reversals in risky decision-making: Intelligence agents show larger decision biases than college students. Psychological Science, 25, 1, 76-84, 2014.

REYNA, V. F.; HAMILTON, A. J. The importance of memory in informed consent for surgical risk. Medical Decision Making, 21, 152-155, 2001.

REYNA, V. F.; NELSON, W.; HAN, P.; DIECKMANN, N. F. How numeracy influences risk comprehension and medical decision making. Psychological Bulletin, 135, 943-973, 2009. SLEATH, B.; ROTER, D.; CHEWING, B.; SVARSTAD, B. Asking questions about medication: Analysis of physician-patient interactions and physician perceptions. Medical Care, 37, 1169-1173, 1999.

SLEATH, B.; TULSKY, J. A.; PECK, B. M.; THORPE, J. Provider-patient communication about antidepressants among veterans with mental health conditions. American Journal of Geriatric Pharmacotharapy, 5, 9-17, 2007.

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