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Relação interdisciplinar entre ortodontia e a fonoaudiologia

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ISSN 2179-9660 REVISTA FAIPE, v. 8, n. 1, p. 85-100, jan./jun. 2018

Relação interdisciplinar entre ortodontia e a

fonoaudiologia

Interdisciplinary relationship between orthodontics and

phonoaudiology

Rafael Ferreira FIGUEIREDO1

Bruna Lorena dos SANTOS2

Ana Paula AGUIAR3

Leonardo Monteiro da SILVA4

Maria de Lourdes Silva CREPALDI5

Adriana Aparecida CREPALDI6

RESUMO

A Fonoaudiologia e a Ortodontia são grandes aliados e se completam em várias propostas terapêuticas, mais especificamente na Motricidade Oral, nesta área o Fonoaudiólogo visa sobretudo prevenir, habilitar ou reabilitar as funções estomatognásticas (mastigação, respiração, deglutição, sucção) visando o equilíbrio miofuncional. Assim sendo, possuindo a mesma área de atuação, o sistema estomatognático, ortodontistas e fonoaudiólogos agregam a isso a responsabilidade de trabalhar em conjunto. As habilidades necessárias para que o profissional esteja apto, devem ser desenvolvidas desde a vida acadêmica, pois o profissional da saúde deve ter a consciência e ser capaz de produzir e desenvolver conhecimentos que tenham por norte os condicionantes biopsicosocioculturais do processo saúde doença e de promover a comunicação entre pacientes e demais profissionais. Apesar disso, muitos especialistas em ortodontia possuem dificuldades sobre quais casos necessitam de intervenção fonoaudiológica e o momento apropriado para a realização desta. O objetivo deste artigo é analisar a importância da interdisciplinaridade entre Odontologia e Fonoaudiologia.

Palavras-chave: Interdisciplinaridade. Ortodontia. Fonoaudiologia. ABSTRACT

Speech Therapy and Orthodontics are great allies and are complemented in several therapeutic proposals, more specifically in Oral Motricity, in this area the Speech Therapist is mainly aimed at preventing, enabling or rehabilitating the stomatognathic functions (chewing, breathing, swallowing, sucking) aiming at myofunctional balance. Thus, having the same area of action, the stomatognathic system, orthodontists and

1 Cirurgião dentista, aluno do curso de Esp. em Ortodontia e Ortopedia Facial, FAIPE. E-mail:

dr_rafaelff@hotmail.com

2 Mestre em Ortodontia, Prof.ª Especialização em Ortodontia, FAIPE. E-mail: brunalorena.ipe@hotmail.com 3 Mestre em Ortodontia, Prof.ª Especialização em Ortodontia, FAIPE. E-mail: paulaaguiarodonto@gmail.com 4 Esp. em Prótese e Endodontia, Prof. Especialização em Prótese Dentária, FAIPE, Prof. Graduação em

Odontologia, UNIVAG. E-mail: leonardomonteirodasilva@hotmail.com

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speech therapists add to this the responsibility of working together. The skills necessary for the professional to be able, must be developed since the academic life, since the health professional must be aware of and be able to produce and develop knowledge that has as a basis the biopsychosocial and cultural conditioning of the process health and to promote communication between patients and other professionals. Despite this, many orthodontic specialists have difficulties about which cases require speech-language intervention and the appropriate time to perform it. The aim of this article is to analyze the importance of interdisciplinarity between Dentistry and Speech Therapy.

Keywords: Interdisciplinarity. Orthodontics and Speech – Language. INTRODUÇÃO

Toda profissão existe por causa do consumo ou necessidade de uma população, e todas as profissões estão de certa forma interligadas em uma grande cadeia de produção, prestação de serviços e consumo. Na atualidade, os profissionais das diferentes áreas, geralmente não possuem ocupação de forma isolada no mercado. Seja em cadeias produtivas ou mesmo em relações ocasionais, muitas profissões se interligam em vários aspectos. Isso porque o paradigma dominante na ciência tem levado à continua divisão do conhecimento em disciplinas e subdisciplinas. A proliferação dos conhecimentos, se transformam rapidamente e com frequência se encontram divididos em áreas isoladas, passando a ser entendida por “disciplinaridade”, caracterizada pela fragmentação do objeto e pela crescente especialização do sujeito científico (VILELA; MENDES, 2003).

Com isso, trabalhar em equipe multidisciplinar se tornou de extrema importância e de necessidade para os profissionais da saúde decorrente de suas limitações em suas especialidades. No campo da saúde esse fator, é ainda mais evidente e indispensável, pois a experiência clínica demonstra a cada dia que uma patologia dificilmente tem origem unifatorial, ou seja, é comum que um paciente necessite consultar e se tratar com mais de um especialista em saúde para poder se curar de alguma enfermidade especifica (VILELA; MENDES, 2003).

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interdisciplinaridade, que de acordo com (PIAGET, 1973), trata-se do nível em que a interação entre várias disciplinas ou setores heterogêneos de uma mesma ciência conduz a interações reais, a uma certa reciprocidade no intercambio levando a um enriquecimento mútuo.

O trabalho em conjunto, interdisciplinar, de qualidade pode ser aplicado pelos profissionais, se o conhecimento for compartilhado de forma ética, buscando sempre os melhores resultados para os pacientes. Essa troca de informações e conhecimentos aspiram favorecer o crescimento profissional e proporcionar ao paciente um tratamento melhor assistido. Dessa forma, a atuação multiprofissional, exclui enfaticamente o modelo individualista, ampliando o trabalho em equipe, compartilhando o planejamento, a divisão de tarefas, cooperando para que o conjunto seja capaz de contribuir permanentemente para a sociedade, sobretudo no âmbito da saúde, onde pressupõe-se que todos os problemas são interdisciplinares (MORITA; KRIGER, 2004).

No caso da ortodontia, uma grande aliada é a fonoaudiologia, visto que ambas se completam em várias propostas terapêuticas, buscando sempre o equilíbrio miofuncional através da prevenção, habilitação ou reabilitação das funções estomatognástica (mastigação, respiração, deglutição, sucção). Qualquer alteração nesse sistema pode ocasionar modificações estruturais e funcionais no indivíduo, como crescimento facial, oclusão e estética. E as alterações dentárias e ósseas podem interferir significativamente nas funções de mastigar, deglutir, falar e até mesmo respirar (CARVALHO, 2004).

Por essa razão, sabendo-se que um bom funcionamento com integridade e equilíbrio do sistema estomatognático é o que se busca para os pacientes, a fonoaudiologia em conjunto com a ortodontia realiza importantes avaliações e tratamentos mortofuncionais na intenção de corrigir os desvios das funções do sistema estomatognático, e promover assim uma melhor qualidade de vida para esses pacientes (AMARAL et al., 2006).

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com enfoque na associação entre a Ortodontia e Fonoaudiologia para a promoção da saúde, bem como mostrar a relevância da abordagem interdisciplinar desde a vida acadêmica para a formação de profissionais mais habilitados e humanizados para o atendimento integral dos indivíduos, capazes de trabalhar em equipe.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

É importante constar que a saúde, por si só, já é uma área eminentemente interdisciplinar, e a integração de disciplinas no âmbito da formação dos recursos humanos para atuar nesse campo, certamente poderá levar à preparação de profissionais mais comprometidos com a realidade de saúde e com a sua transformação (VILELA; MENDES, 2003).

A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO INTERDISCIPLINAR

Para que o trabalho seja interdisciplinar é necessária uma relação de reciprocidade, de mutualidade, que pressupõe uma atitude diferente a ser assumida frente ao problema de conhecimento, isto é, substituir a concepção fragmentaria pela unitária do ser humano (SAMPAIO et al., 1989).

Demo (1997), defendeu que o trabalho em equipe é a verdadeira interdisciplinaridade, na qual os conhecimentos sempre especializados buscam a convergência e, possivelmente, a constituição de uma atividade única, realizada por muitas mãos. Ressalta-se ainda que nem todo grupo pode ser tomado como interdisciplinar, pois não é o número de pessoas no conjunto que traz a interdisciplinaridade, mas sua formação diversificada.

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diferentes.

Dentre os vários autores que tem estudado a interdisciplinaridade e a formação profissional, alguns dão maior ênfase para a análise dessas questões. Carrara (2001), a exemplo, enfatizou que o ensino superior, atualmente, é composto por duas naturezas distintas de universidades, a de consumo, configurando a grande maioria das escolas que se dedicam exclusivamente ao ensino como regra, em nível de graduação e, excepcionalmente, ministram cursos de extensão e aperfeiçoamento, e a de produção, constituídas por Centros de Excelência, que estão sempre procurando desenvolver pesquisas e ministrar cursos de pós graduação, articulando fontes externas em âmbitos político, econômico e cultural, identificando as necessidades manifestas pela sociedade. Percebendo-se inclusive que uma das demandas é a mediação entre as disciplinas e profissões em trabalho de equipe.

Isto é, a interdisciplinaridade pode ser entendida como um trabalho em comum, onde se consideram a interação das disciplinas cientificas, de conceitos, diretrizes, de sua metodologia e de seus procedimentos, buscando integrar as profissões de modo a torna-las comunicativas entre si. Segundo Fazenda (2002), o pensar interdisciplinar parte da premissa de que nenhuma forma de conhecimento é em si mesma racional, pois o diálogo com outras formas de conhecimento pode se complementar. Assim, por exemplo, aceita-se o conhecimento do senso comum como válido, pois é através do cotidiano que damos sentido à vida, e o ampliamos através do diálogo com conhecimento cientifico, tendendo a uma dimensão, ainda que utópica, capaz de permitir o enriquecimento da inter-relação entre as pessoas e o mundo.

Para Morita e Kriger (2004), o trabalho interdisciplinar garante maior interação entre os alunos, os professores, além de promover experiência e convívio grupal. A interdisciplinaridade, utiliza uma metodologia em prol da união escolar em torno do objetivo comum de formação de indivíduos sociais, apresentando aos acadêmicos possibilidades diferentes de observar para o mesmo fato.

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junto ao trabalho. Nesse sentido, a universidade possui um papel de extrema importância na formação de profissionais comprometidos com o seu trabalho, priorizando a qualidade do mesmo, tendo a consciência de que, para desenvolve-lo com êxito, é necessário a participação de uma equipe competente e disposta a caminhar junta (OLIVEIRA et al., 2005).

Além disso, o trabalho interdisciplinar implica responsabilidade, respeito aos colegas e suas atitudes. Não é apenas uma metodologia, mas uma filosofia de vida, pois o profissional realiza seu trabalho voltado para o grupo, buscando aprimoramento e novas formas de desenvolver suas atividades, de forma que a equipe cresça, principalmente na qualidade dos serviços oferecidos. Basta ver que a formação da equipe se faz em torno de um sujeito, ou objetivo, e a interdisciplinaridade deve ser compreendida como interlocução de várias disciplinas, com o mesmo objetivo, onde cada uma delas desenvolve seu trabalho de forma competente, para que todos possam contribuir, garantindo bons resultados dos trabalhos desempenhados pela equipe e a satisfação daqueles que dele necessita (OLIVEIRA et al., 2005).

Saupe (2006) achou contundente mencionar que interdisciplinaridade é o campo no qual atuam uma ou mais disciplinas ou ramos do conhecimento. No entanto, o trabalho interdisciplinar não exige apenas a coincidência de um mesmo objeto de estudo entre duas disciplinas e sim a integração de conteúdos e procedimentos, com vistas à formulação de um saber complementar desse objeto de estudo.

É importante ainda conhecer que a globalização, quebra de barreiras, estreitamento de relações são termos cada mais utilizados para resumir o atual momento de evolução e desenvolvimento que muitos países estão vivendo. No âmbito acadêmico, como consequência e extrema necessidade, surgiu uma nova situação: a interdisciplinaridade, que de acordo com Silva (2008), caracteriza-se por uma atitude de busca, de inclusão, de acordo e de sintonia diante do conhecimento. Logo, torna-se explicita ocorrência de uma globalização de conhecimentos para o bem comum de todos os envolvidos.

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dos registros e contemplação dos objetivos terapêuticos no atendimento aos pacientes, preferencialmente no mesmo espaço físico (RECH et al., 2015).

A FONOAUDIOLOGIA PARA A ORTODONTIA NA HISTÓRIA

A interação entre a Fonoaudiologia e a Odontologia vem se aperfeiçoando satisfatoriamente, fundamentada, entre outros aspectos, no interesse partilhado na saúde e fisiologia do sistema estomatognático. Por ser um sistema interdependente e desenvolver funções comuns, qualquer alteração em um de seus componentes acarretara um desarranjo geral. Todavia, não se justifica que os fonoaudiólogos conheçam apenas as estruturas ativas, da mesma forma que o dentista conheça apenas as estruturas passivas (CAMPOS et al., 2002).

A atuação entre o ortodontista e o fonoaudiólogo no tempo, está intimamente relacionada, pois a intervenção de um intercede e depende do trabalho do outro. Dessa maneira, estes profissionais buscam constantemente um atendimento globalizado, eficiente e adequado, com intuito de proporcionar uma melhor qualidade de vida ao paciente. Inclusive, muitos dentistas se dizem convencidos de que não existe um resultado satisfatório em um tratamento ortodôntico, sem que haja um trabalho associado com a fonoaudiologia, principalmente quando existe uma alteração miofuncional (CAVASSANI et al., 2003).

Coutinho et al. (2003) questionou uma equipe de cirurgiões dentistas, e constatou em sua pesquisa, que 75% dos entrevistados tinham a cultura de encaminhar seus pacientes para o tratamento fonoaudiológico. Estes profissionais consideram que os casos onde a avaliação fonoaudiológica é importante são a alteração na articulação dos sons, a deglutição atípica e a respiração bucal.

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ortodôntico/ortopédico não for capaz de corrigir a respiração oral, as chances de reincidência serão grandes. A vista disto alertam que antes do início de qualquer intervenção, o dentista deve prevenir o paciente sobre a necessidade de tratar a respiração oral com médicos e fonoaudiólogos, para obter resultados estáveis.

Ainda assim, Amaral et al. (2006), após muito estudar sobre a inter-relação entre a odontologia e a fonoaudiologia na motricidade orofacial, chegaram à conclusão de que ainda falta conhecimento por parte dos cirurgiões-dentistas sobre quais casos necessitam de intervenção fonoaudiológica e o momento apropriado para a realização da mesma.

De todo modo, não há como dissociar forma e função, pois a inter-relação existente entre as más oclusões e distúrbios oromiofuncionais pode ser causa ou consequência uma da outra. Esse é considerado o ponto sobre o qual fonoaudiólogos e ortodontistas devem pensar, a dificuldade em separar forma e função. Logo, torna-se impossível isolar esses tratamentos, os quais devem caminhar juntos para a melhora global do paciente. As alterações da forma e função promovem consequências de diversas ordens, que acarretam prejuízos para o ser humano e geram a necessidade de um diagnóstico e de um tratamento multidisciplinar (FILHO et al., 2006).

Sabe-se, contudo, que o ponto de encontro entre a odontologia e a fonoaudiologia é a cavidade oral, onde encontra-se órgãos que intervém em diferentes funções, que por sua vez mudam e amadurecem com o desenvolvimento do indivíduo. O trabalho com motricidade oral atua nas desordens miofuncionais para a obtenção de uma maior harmonia e restabelecimento das funções orofaciais. Na ortodontia, a duração da força é um fator mais importante que a intensidade. Pressões suaves e continuas são mais eficientes na mobilização dos dentes que forças intensas e breves. Dessa forma, a força da língua e dos lábios é um fator que atua na oclusão dental. A fonoaudiologia trabalha a função e a ortodontia a forma, em conjunto realizam um trabalho miofuncional de adequar os órgãos fonoarticulatórios e funções neurovegetativas (SOUZA, 2007).

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estejam integrados no propósito de beneficiar o paciente. A primeira vista pode não parecer muito óbvio, mas fonoaudiologia e odontologia, em conjunto, são áreas muito importante para os cuidados com os dentes e com a linguagem verbal. Isso porque, enquanto a ciência busca o restabelecimento das funções da fala, respiração, mastigação e deglutição, a fonoaudiologia dispõe de técnicas que auxiliam o trabalho da ortodontia. Isto posto, esses dois campos de conhecimento tendem a se ajudar mutuamente quando o dentista ou o fonoaudiólogo é capaz de identificar as necessidades do seu paciente no que se refere ao tratamento dessas duas áreas juntamente (VARANDAS et al., 2008).

No Brasil, a profissão de fonoaudiologia, foi regulamentada em 1981, porém ainda hoje necessita de maiores estudos, para de fato ser difundida e reconhecida como parte da Equipe de Saúde não só pelos profissionais atuais, mas também pela população. Em sua atuação, o fonoaudiólogo preocupa-se com o equilíbrio dos órgãos fonoarticulatórios, das funções estomatognásticas, bem como da musculatura associada, que constitui um sistema miofuncional (BARRETO; BARBOSA; FRIZZO, 2010).

Sabe-se ainda que o sistema estomatognático é formado por diversas estruturas estáticas e dinâmicas como ossos, músculos, nervos e articulações que trabalham em conjunto para realizar importantes funções como: fonação, mastigação, deglutição, respiração, entre outras. O trabalho harmônico deste sistema favorece o equilíbrio neuromuscular e oclusal, e o funcionamento adequado da articulação temporomandibular (ATM). Dessa forma o fonoaudiólogo pode vir a contribuir, após ou concomitante ao tratamento odontológico, reorganizando as funções alteradas pela disfunção, com exercícios musculares, que podem promover estabilidade e melhorias (BARRETO; BARBOSA; FRIZZO, 2010).

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está interferindo na função e a fonoaudiologia, quando as funções estão interferindo na forma. Por isso que, a parceria entre a fonoaudiologia e ortodontia é tão importante, cabendo aos profissionais envolvidos analisarem as prioridades de tratamento para cada paciente. A fonoaudiologia é, realmente, uma grande aliada da ortodontia, sendo que ambas as partes tem como objetivo principal o resultado que pode ser resumido num sistema estomatognático equilibrado, estável e uma face mais harmoniosa do ponto de vista estético (CARVALHO, 2015).

A ORTODONTIA E A FONOAUDIOLOGIA NA PRÁTICA CLÍNICA

A interdisciplinaridade é hoje uma realidade e cada vez mais se mostra como uma necessidade da área médica, possibilitando ao paciente maior segurança e confiabilidade na reabilitação. A odontologia e a fonoaudiologia vêm a cada dia concretizando as diversas possibilidades de atuação conjunta. Há muito tempo as visões multidisciplinares e interdisciplinares vem sendo discutidas e abordadas em diversos âmbitos na sociedade. Na área da saúde, não é diferente. A necessidade da integração profissional é a melhor forma de aperfeiçoar os processos de diagnóstico e intervenção. Na pratica clínica, essa demanda também pode ser observada (SILVA, 2004).

Vislumbra-se o quanto o trabalho em equipe composta por odontólogos e fonoaudiólogos cresceu consideravelmente nos últimos anos. Pereira e Felício (2005) informaram que as primeiras especialidades da Odontologia a interagirem com a Fonoaudiologia foram a Odontopediatria e a Ortodontia. Sequenciado, por Oclusão, Cirurgia Ortognática, Prótese e Periodontia que passaram a analisar o papel da musculatura e funções como fatores etiológicos, perpetuantes ou agravantes de dificuldades antes consideradas apenas de competência da Odontologia que, portanto, passaram a ser também alvo da Fonoaudiologia. Em casos de fissuras labiopalatinas, por exemplo, o ortodontista atua na correção dos desvios do crescimento facial e dos distúrbios oclusais e o fonoaudiólogo restabelece as funções estomatognásticas que são a fala, sucção, mastigação, deglutição e respiração. Além disso, ele e atua nas áreas de linguagem, voz e audição, quando alteradas.

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e, cada vez mais, a junção fono-odontológico vem sendo estabelecido com resultados clínicos promissores. Entretanto Pereira e Felício (2005) alertam que essa parceria precisa ser mais difundida para melhorar a integração e comunicação entre as áreas, garantindo que os benefícios dessa relação transpassem a teoria e, de fato, beneficiem a população.

O fonoaudiólogo em conjunto com o ortodontista, busca trabalhar de maneira ativa no tratamento e acompanhamento dos casos de más oclusões, pois normalmente a correção ortodôntica só se mantém adequada se harmonizada com o equilíbrio da musculatura do paciente. Sendo assim, consenso na literatura que o ortodontista deve aguardar a alta fonoaudiológica para a concessão da alta ortodôntica, visto que a estabilidade após a mesma é obtida depois do restabelecimento do equilíbrio muscular. Alguns autores, entretanto, relatam casos nos quais o reestabelecimento funcional se deu apenas com a correção ortodôntica, não necessitando de terapia miofuncional (AMARAL et al., 2006).

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uma discussão melhor dos casos, evitando uma intervenção tardia. A maioria dos encaminhamentos são realizados geralmente pelo mesmo motivo, entretanto, apenas uma parte dos pacientes buscam o tratamento fonoaudiológico após a indicação do especialista ortodôntico.

Um novo campo de atuação interdisciplinar entre essas profissões é a periodontia. Campos et al. (2010) relataram que a pressão incorreta da língua contra os dentes pode comprometer a saúde periodontal. Portadores de doença periodontal apresentam maiores chances de serem respiradores orais. Com isso, podem vir a apresentar também problemas na fala, já que podem ter dificuldade em articular melhor alguns fonemas.

Apesar disso e pelas dificuldades encontradas na pratica clínica, de acordo com a opinião de vários profissionais que atuam nesse âmbito, ainda é grande as dificuldades de comunicação e integração encontradas, pois muitos não consideram os benefícios da parceria, indicando a necessidade de ampliar a visão quanto à importância de trabalho interprofissional. A realização de uma pesquisa sobre a interação entre a odontologia e a fonoaudiologia em relação a motricidade orofacial na cidade de Maringá PR, e concluíram após entrevistar alguns especialistas de ambas profissões que a grande maioria dos ortodontistas desse município tem o conhecimento de que a Motricidade Orofacial é a área da Fonoaudiologia que mais colabora com o tratamento ortodôntico, porém demonstraram falta de informação, citando outras áreas da fonoaudiologia que não contribuem com o tratamento odontológico. Nesse município em questão, ocorre a iniciativa para trabalho integrado do cirurgião-dentista e fonoaudiólogo, principalmente quando durante o tratamento de pacientes ocorre o comprometimento das funções do sistema estomatognático, sendo necessários ainda ajustes quanto aos critérios de alta correlacionados e de avaliação das recidivas (AUDA et al., 2013).

CONCLUSÃO

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odontologia e a fonoaudiologia, por terem o campo de atuação em comum, devem estar preparados para trabalharem em conjunto, já que a habilidade interdisciplinar se tornou uma exigência no âmbito da saúde para o mercado de trabalho. Os profissionais contemporâneos devem ser capazes de trabalhar em equipe para que ofereçam melhores alternativas terapêuticas aos seus pacientes, com objetivo de ampliar o bem-estar dos mesmos e obter melhores resultados clínicos.

Não se pode negar que a ortodontia trabalhou sozinha por muitos anos e teve excelência nos tratamentos. No entanto, diante do avanço científico atual, pela possibilidade de juntar conhecimento visando principalmente à melhoria do paciente como um todo, prefere-se indicar o trabalho associado da odontologia com a fonoaudiologia (RODRIGUES et al., 2003).

Obviamente que, o desenvolvimento do trabalho e habilidade multidisciplinar não é uma tarefa tão fácil na prática quanto é na teoria. Aliás, diversos autores já relatam as muitas dificuldades encontradas pelos profissionais da saúde nesse contexto, visto a necessidade de ampliação de certos traços da personalidade, tais como: flexibilidade, humildade, confiança, paciência, intuição, capacidade de adaptação, sensibilidade em relação às demais pessoas, aceitação de riscos, aprender a agir na diversidade, aceitar novos papéis, entre outros (VILELA; MENDES, 2003).

Atualmente, a oferta de serviços de saúde é muito grande. Portanto, nesse contexto os pacientes estão, cada vez mais, exigindo competência, preparo e habilidades diferenciadas do profissional que os atendem. E por consequência a formação acadêmica desses profissionais deve ser completa, levando em consideração a preocupação com o desenvolvimento da consciência multidisciplinar e ressaltando a importância da opinião de outros profissionais da saúde com diferentes áreas de atuação (GARCIA et al., 2007).

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humanizados e completos, cientes do processo saúde-doença e levando em consideração o contexto biopsicossocial dos pacientes (SILVA, 2013).

Conclui-se, portanto, que a atuação conjunta destas especialidades é fundamental em todos os sentidos, sempre visando a obtenção de um equilíbrio muscular e ósseo adequado para o bom desempenho das funções orofaciais. O trabalho dessas especialidades é essencial no sentido de minimizar as recidivas ortodônticas, cabendo ao ortodontista saber a importância que o profissional da fonoaudiologia tem e que, a atuação dessas duas áreas, proporcionará um tratamento adequado e eficaz para seus pacientes.

Dessa forma, o trabalho em equipe continua sendo o melhor caminho para a integração desses profissionais visando ao tratamento apropriado do paciente. A relação entre essas ciências gera a harmonia do sistema, refletindo em saúde e bem-estar. A aproximação dessas áreas é relevante e crescente, objetivando complementação teórica e aperfeiçoamento profissional.

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Referências

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