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O GOVERNO LULA E A MÍDIA IMPRESSA – ESTUDO SOBRE A CONSTRUÇÃO DE UM PENSAMENTO HEGEMÔNICO

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(1)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

RODRIGO CARVALHO

O GOVERNO LULA E A MÍDIA IMPRESSA

ESTUDO SOBRE A

CONSTRUÇÃO DE UM PENSAMENTO HEGEMÔNICO

DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

(2)

RODRIGO CARVALHO

O GOVERNO LULA E A MÍDIA IMPRESSA

ESTUDO SOBRE A

CONSTRUÇÃO DE UM PENSAMENTO HEGEMÔNICO

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de DOUTOR em Ciências Sociais, sob orientação da Profª. Dra. Vera Chaia.

SÃO PAULO

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(4)

Para Márvia, por tudo!

(5)

AGRADECIMENTOS

Agradeço à Professora Dra.Vera Chaia, pelo incentivo, orientação e companheirismo.

(6)

RESUMO

O Brasil vive um rico processo de debate e embate político no qual as ideias e ideologias estão em franco processo de formulações e reformulações. A experiência do governo Lula enriquece a elaboração sobre ideologias e governos dentro de um cenário de luta política e de ideias na sociedade. A democracia contemporânea propicia a alternância, não apenas de partidos, forças políticas ou sujeitos históricos, mas, sobretudo a construção de reconstrução de pensamentos e linhas de ação do Estado e da sociedade. Os jornais cumprem um papel histórico na luta de posições e disputas por posições hegemônicas tradicionalmente alinhadas ao liberalismo. Por meio desse momento histórico e desses agentes políticos e sociais (tipos de governos e cobertura jornalística) pode-se identificar a construção e o comportamento do pensamento hegemônico liberal no Brasil. Esta tese tem por objetivo realizar a análise ideológica dos jornais e as contradições existentes nesses veículos. Também busca contribuir

em identificar as características da era Lula. Por meio dos editoriais dos jornais Folha de S.

Paulo e O Estado de S. Paulo foram realizadas pesquisadas quantitativas pelo método de valência e qualitativa por análise interpretativa e estudos bibliográficos. O conceito de Hegemonia abordada nessa tese é baseado na elaboração do filósofo italiano Antônio Gramsci

(7)

ABSTRACT

Brazil is going through a rich process of political debate and struggle in wich the ideas and ideologies are in an outspoken process of formulations and reformulations. The experience of Lula government improve the formulation about ideologies and governments within the scene of political and intelectual combat into the society. The contemporary democracy ensure the interchange, not just of political parties, political forces or historical personality, but above all the building and rebuilding of thinking and action line of the State and the society. The newspapers have a historical role in the status struggle and disputes for hegemonic positions traditionally aligned with liberalism. By means of this particular historical moment and those politicals and socials agents (government types and news coverage) can be identify the construction and the behavior of the hegemonic liberal thought in Brazil. This thesis aim to realize the ideological review of newspapers and the contradictions that there is in those channels. This thesis search also to contribute to identify the particulars of Lula age. Through

the editorials of the newspapers Folha de S. Paulo and O Estado de S. Paulo it were realized

quantitatives researches for method of valência and qualitative for interpretative research and bibliographic studies. The concept of Hegemony treated in this thesis is based on formulation of the Itlyan philosopher Antônio Gramsci.

(8)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Dados percentuais do comportamento do eleitorado do estado de São

Paulo entre 1994 e 2002 ... 34

Tabela 2 Resultado do primeiro turno eleitoral – 2002 ... 68

Tabela 3 Resultado do segundo turno eleitoral – 2002 ... 69

Tabela 4 Número de governadores eleitos, por partido, em 1998 e 2002 ... 71

Tabela 5 Número de deputados eleitos, por partido, em 1998 e 2002 ... 72

Tabela 6 Número de senadores eleitos, por partido, em 1998 e 2002 ... 73

Tabela 7 Resultado geral das eleições 2004, comparativos com 2000, em desempenho partidário ... 97

Tabela 8 Resultado das cidades com segundo turno nas eleições 2004, comparativos com 2000, em desempenho partidário ... 98

Tabela 9 Resultado das Capitais nas eleições 2004, comparativos com 2000, em desempenho partidário ... 98

Tabela 10 Comparativo do Índice de Inflação: IPCA e IGP-M entre os anos 1995 e 2006 ... 135

Tabela 11 Produto Interno Bruto entre 1995-1998 e 2003-2006 ... 137

Tabela 12 Comparativo do Superávit Primário entre 1995-1998 e 2003-2006 .... 138

Tabela 13 Variação Cambial entre 2003-2006 ... 140

Tabela 14 Dívida Pública Brasileira de 1994 a 2006 ... 142

Tabela 15 Redução da Pobreza (números totais) no Brasil ... 151

Tabela 16 Desembolso anual de empréstimos por Região entre 2003 e 2009 ... 155

Tabela 17 Relação crescimento econômico e emprego formal (2002-2010) por região ... 156

Tabela 18 Emprego formal na Indústria no Nordeste ... 157

Tabela 19 Estabelecimento da Indústria no Nordeste ... 157

Tabela 20 Número de Matrículas no ensino superior em 2000 e 2010 ... 158

Tabela 21 Participação das regiões no PIB de 1995 a 2010 ... 158

Tabela 22 Resultado das eleições do primeiro turno da eleição presidencial em 2006 ... 162

Tabela 23 A votação do segundo turno da eleição presidencial em 2006 ... 164

Tabela 24 Número de governadores eleitos, por partido, em 2002 e 2006 ... 166

(9)

Tabela 26 Número de senadores eleitos, por partido, em 2002 e 2006 ... 168

Tabela 27 Intenção de voto por renda familiar mensal no primeiro turno de 2006 ... 172

Tabela 28 Intenção de voto por renda familiar mensal no segundo turno de 2006 ... 172

Tabela 29 Resultado geral das eleições 2008, comparativos com 2004, em desempenho partidário ... 183

Tabela 30 Resultado das cidades com segundo turno nas eleições 2008, comparativos com 2004, em desempenho partidário ... 184

Tabela 31 Resultado das Capitais nas eleições 2008, comparativos com 2004, em desempenho partidário ... 184

Tabela 32 Capitais governadas pelos partidos a partir de 2008 ... 185

Tabela 33 Inflação comparativa (1999-2002 e 2007-2010) ... 201

Tabela 34 Produto Interno Bruto (1999-2002 e 2007-2010) ... 203

Tabela 35 Superávit Primário comparativo (1999-2002 e 2007-2010) ... 203

Tabela 36 Variação Cambial (1999-2002 e 2007-2010) ... 204

Tabela 37 Dívida Pública (2007-2010) ... 205

Tabela 38 Evolução do PIB nos países do mundo ... 215

Tabela 39 Resultado do primeiro turno da eleição presidencial em 2010 ... 221

Tabela 40 Resultado do segundo turno da eleição presidencial em 2010 ... 222

Tabela 41 Classificação dos editoriais do jornal O Estado de S. Paulo referentes ao primeiro mandato do governo Lula ... 266

Tabela 42 Classificação dos editoriais do jornal Folha de S. Paulo referentes ao primeiro mandato do governo Lula ... 268

Tabela 43 Classificação dos editoriais do jornal O Estado de S. Paulo referentes ao segundo mandato do governo Lula ... 270

Tabela 44 Classificação dos editoriais do jornal Folha de S. Paulo referentes ao segundo mandato do governo Lula ... 271

Tabela 45 Classificação dos editoriais do Jornal O Estado de S. Paulo – média comparativa entre o 1º e o 2º mandato do governo Lula ... 273

Tabela 46 Classificação dos editoriais do Jornal Folha de S. Paulo – média comparativa entre o 1º e o 2º mandato do governo Lula ... 273

(10)

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Relação dos governadores eleitos em 2002 ... 70

Quadro 2 Relação dos ministros indicados por Lula em 2003 ... 80

Quadro 3 Capitais governadas pelos partidos a partir de 2005 ... 99

Quadro 4 Relação dos governadores eleitos, por estado, em 2006 ... 165

(11)

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AC Acre

ADIN Ação Direta de Inconstitucionalidade

AL Alagoas

ALCA Área de Livre Comércio das Américas

ALN Aliança Nacional Libertadora

AM Amazonas

Ancinav Agência Nacional de Cinema e Audiovisual

Ancine Agência Nacional de Cinema

ANP Agência Nacional do Petróleo

AP Amapá

ARENA Aliança Nacional Renovadora

BA Bahia

BASA Banco da Amazônia

BC Banco Central do Brasil

BEC Banco do Estado do Ceará

BID Banco Internacional de Desenvolvimento

BIRD Banco Interamericano de Desenvolvimento

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

BRICS Brasil, Rússia, China, Índia, África do Sul

CE Ceará

Ceagesp Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo

CEU Centro Educacional Unificado

CEUs Centros Educacionais Unificados

CGU Corregedoria Geral da União

Cide Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico

CNI Confederação Nacional da Indústria

CNJ Conselho Nacional de Justiça

Comperj Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro

Contag Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

(12)

CPI Comissão Parlamentar de Inquérito

CPMF Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira

CPMI Comissão Parlamentar Mista de Inquérito

CUT Central Única dos Trabalhadores

DEM Democratas

DF Distrito Federal

DNIT Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes

DRU Desvinculação de Recursos da União

ES Espírito Santo

EUA Estados Unidos da América

FGV Fundação Getúlio Vargas

FHC Fernando Henrique Cardoso

Fies Financiamento estudantil

Fiesp Federação das Indústrias de São Paulo

Finep Financiadora de Estudos e Projetos

FMI Fundo Monetário Internacional

FNDC Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação

FPE Fundo de Participação dos Estados

FPM Fundo de Participação dos Municípios

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços

IESP Instituto de Estudos Sociais e Políticos

IGP-M Índice Geral de Preço do Mercado

Incra Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

IPCA Índice Nacional de Preços ao Consumidor

IPI Imposto sobre Produtos Industrializados

IR Imposto de Renda

IRB Instituto de Resseguros do Brasil

IURD Igreja Universal do Reino de Deus

IUPERJ Instituto Universitário de Pesquisa do Rio De Janeiro

Loterj Loterias do Estado do Rio de Janeiro

MDB Movimento Democrático Social

MEC Ministério da Educação

(13)

MG Minas Gerais

MINUSTAH Mission dês Nations Unies pour La Stabilisation em Haïti

MP Medida Provisória

MST Movimento dos Trabalhadores Sem Terra

OAB Ordem dos Advogados do Brasil

OEA Organização dos Estados Americanos

ONU Organização das Nações Unidas

OPEP Organização dos Países Produtores de Petróleo

PA Pará

PAN Partido dos Aposentados da Nação

PAC Programa de Aceleração do Crescimento

Parlasul Parlamento do Mercosul

PCB Partido Comunista Brasileiro

PCdoB Partido Comunista do Brasil

PCO Partido da Causa Operária

PDB Partido Democrático Brasileiro

PDP Política de Desenvolvimento Produtivo

PDS Partido Democrático Social

PDT Partido Democrático Trabalhista

PE Pernambuco

PEC Proposta de Emenda Constitucional

PED Programa Nacional de Desestatização

PFL Partido da Frente Liberal

PGR Procuradoria Geral da República

PGT Partido Geral dos Trabalhadores

PGU Procuradoria Geral da União

PHS Partido Humanista da Solidariedade

PI Piauí

PIB Produto Interno Bruto

PITCE Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior

PL Partido Liberal

PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro

PMN Partido da Mobilização Nacional

(14)

PPP Parceria Público-Privada

PPS Partido Popular Socialista

PR Partido da República

PRB Partido Republicano Brasileiro

PRONA Partido de Reedificação da Ordem Nacional

ProUni Programa Universidade para Todos

PSB Partido Socialista Brasileiro

PSDC Partido Social Democrata Cristão

PSOL Partido Socialismo e Liberdade

PSTU Partido Socialista dos Trabalhadores Unidos

PT Partidos dos Trabalhadores

PTB Partido Trabalhista Brasileiro

PTC Partido Trabalhista Cristão

PV Partido Verde

RE Resolução

RJ Rio de Janeiro

RO Rondônia

RR Roraima

RS Rio Grande do Sul

SAE Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos

SC Santa Catarina

STF Supremo Tribunal Federal

SP São Paulo

TCU Tribunal de Contas da União

TRT Tribunal Regional do Trabalho

TSE Tribunal Superior Eleitoral

TV Televisão

UBES União Brasileira dos Estudantes Secundaristas

UE União Europeia

UERJ Universidade Estadual do Rio de Janeiro

Unasul União das Nações Sul-americanas

(15)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 18

1 SOBRE A DEMOCRACIA NO BRASIL ... 28

1.1 SOBRE A DEMOCRACIA ... 29

1.2 INTERPRETAÇÕES SOBRE A RETOMADA DEMOCRÁTICA NO BRASIL ... 31

1.3 A DEMOCRACIA NO BRASIL ... 33

1.3.1 O voto como expressão política ... 33

1.3.2 Os partidos políticos ... 36

1.3.3 Presidencialismo de coalizão? ... 39

1.3.4 Qual reforma política? ... 41

1.4 POSSÍVEIS RETROCESSOS PARA A DEMOCRACIA NO BRASIL ... 50

2 A ERA LULA – DAS ELEIÇÕES E DOS GOVERNOS ... 60

2.1 A ELEIÇÃO DE 2002 ... 61

2.1.1 Outros resultados das urnas ... 69

2.1.2 O significado da vitória de Lula ... 74

2.2 O PRIMEIRO GOVERNO LULA ... 76

2.2.1 A Política no primeiro mandato do governo Lula ... 79

2.2.1.1 O Ministério de Lula ... 80

2.2.1.2 A base governista e as votações no Congresso ... 82

2.2.1.3 Ainda os ministérios: as reformas ministeriais, crises, rupturas e mudanças programáticas ... 90

2.2.1.4 Eleições municipais: um termômetro das forças políticas ... 96

2.2.1.5 Os escândalos políticos ... 99

2.2.1.5.1 Uma breve reflexão sobre o Estado e a corrupção ... 110

2.2.1.6 Os movimentos populares e o primeiro mandato ... 112

2.2.1.7 A política externa do governo ... 115

2.2.1.7.1 A guerra do Iraque ... 116

2.2.1.7.2 O Brasil e a ALCA ... 119

2.2.1.7.3 O Mercosul ... 122

(16)

2.2.1.7.5 Plano Nacional de Defesa ... 125

2.2.1.7.6 Multilateralidade Comercial ... 125

2.2.1.7.7 Missão de Paz no Haiti ... 127

2.2.1.7.8 O Conselho de Segurança da ONU ... 129

2.2.2 A economia no primeiro mandato de Lula ... 130

2.2.2.1 Desenvolvimento versus Monetarismo na orientação econômica: momento crítico ... 130

2.2.2.2 Inflação, Taxa de Juros, Superávit Primário, Crescimento do PIB e Câmbio: dados comparativos ... 134

2.2.2.3 Dívida Pública ... 141

2.2.2.4 Privatizações e Mudanças de Paradigmas ... 144

2.2.2.5 A retomada do papel do Estado na economia ... 148

2.3 A REELEIÇÃO DE LULA ... 159

2.3.1 Outros resultados das urnas ... 164

2.3.2 Outro significado da vitória de Lula ... 169

2.4 O SEGUNDO GOVERNO LULA ... 175

2.4.1 A política no segundo mandato de Lula ... 176

2.4.1.1 Os ministérios de Lula ... 177

2.4.1.2 A base governista e as votações no Congresso ... 180

2.4.1.3 Eleições municipais: acumulação de forças ... 183

2.4.1.4 Escândalos Políticos: crítica ao modelo tradicional de condução política ... 186

2.4.2 Os movimentos populares e o segundo mandato: capitulação ou unidade e luta? ... 190

2.4.2.1 A política externa do Governo: ousadia e polêmica ... 193

2.4.3 A economia e o segundo mandato de Lula ... 200

2.4.3.1 Inflação, Taxa de Juros, Superávit Primário, Crescimento do PIB e Câmbio: dados comparativos ... 201

2.4.3.2 Dívida Pública ... 204

2.4.3.3 A retomada do papel do Estado na economia: PAC, Minha Casa Minha Vida, Política Industrial, Pré-Sal ... 206

2.4.3.4 No meio do caminho tinha uma crise ... 213

2.4.3.5 Novo desenvolvimentismo? ... 216

(17)

2.6 A IDEOLOGIA ... 222

2.6.1 Conceito de Ideologia ... 223

2.6.2 Interpretações sobre a ideologia no governo Lula ... 225

2.6.2.1 O governo Lula e a continuidade do Neoliberalismo ... 226

2.6.2.2 Perry Anderson e Boris Fausto: unidade de contrários ... 228

2.6.2.3 Singer e a aproximação da tese popularista do governo Lula ... 229

2.6.2.4 O hibridismo como resposta à continuidade do modelo econômico ... 236

2.6.2.5 Uma interpretação desenvolvimentista ... 237

2.6.3 As características ideológicas do governo Lula ... 238

2.6.3.1 O governo Lula não é populista ... 238

2.6.3.2 O governo Lula não é liberal ... 241

2.6.3.3 O governo Lula é de natureza social-democrata ... 243

2.6.3.4 Uma orientação Furtadiana ... 245

3 OS JORNAIS IMPRESSOS E SEUS EDITORIAIS: CARACTERÍSTICAS HISTÓRICAS, CONCEPÇÕS IDEOLÓGICA E DISPUTAS POLITICAS ... 251

3.1 O JORNAL ... 251

3.2 OS JORNAIS E OS EDITORIAIS ... 257

3.3 A ANÁLISE QUANTITATIVA DOS EDITORIAIS ... 259

3.3.1 Sobre a aplicabilidade do estudo de valência ... 260

3.3.2 A pesquisa e seus resultados ... 264

3.4 A ANÁLISE QUALITATIVA DAS OPINIÕES DOS JORNAIS: A COMPREENSÃO HISTÓRICA, BIBLIOGRÁFICA E A SELEÇÃO DE TEMAS ... 275

3.4.1 O que dizem os editoriais ... 276

3.4.1.1 A posição dos jornais no primeiro mandato ... 278

3.4.1.2 A posição dos jornais no segundo mandato ... 335

CONCLUSÃO ... 368

(18)

INTRODUÇÃO

O Governo Lula e a Mídia Impressa – Estudo sobre a construção de um pensamento

hegemônico é um esforço para compreender um dos mais importantes períodos políticos contemporâneos do Brasil.

A partir da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 a frente partidária capitaneada pelo Partido dos Trabalhadores (PT) inaugura uma nova fase das construções políticas no Brasil.

O debate sobre as características da construção da democracia no Brasil decorrente desse acontecimento; o conceito de esquerda questionado pelos meios políticos, intelectuais e de comunicação; a construção de uma nova etapa de desenvolvimento para o País; as consequências das novas relações políticas e; a composição para se instaurar uma nova linha hegemônica no pensamento do País faz parte do arco das discussões nesta tese.

Em particular, a identificação do modelo de democracia, o perfil de mandatos e a conceituação ideológica do governo compõem a primeira etapa desse debate. O papel dos meios de comunicação, especificamente os jornais impressos, identificada, de modo preliminar, como uma das principais fontes de construção e repercussão de pensamentos políticos e ideológicos, é a parte da segunda etapa de estudo e demonstrações empíricas.

A resposta sobre o modelo de democracia, a identificação das condições e das diretrizes do governo Lula e seu caráter ideológico e a luta de ideias na sociedade tendo como ponto de vista a opinião dos jornais impressos mais importantes do Brasil são os elementos centrais deste estudo.

(19)

Os meios de comunicação impressos no país constituem um importante canal de divulgação e formulação de conceitos e ideias. Qual o papel dos meios de comunicação impressos no Brasil de hoje?

A tese tem por objetivo identificar quais matrizes ideológicas estão em disputa no Brasil contemporâneo, via análise do impacto das ações do governo Lula e da atuação dos meios de comunicação, em particular o papel dos jornais impressos. As duas matrizes desse estudo são: o significado do governo Lula e o papel dos jornais neste período.

As linhas editoriais dos jornais de grande circulação nacional, destacadamente a Folha

de S. Paulo e o Estado de S. Paulo. A análise da construção do pensamento hegemônico no Brasil e, respectivamente, a disseminação das ideias na sociedade e a condução política de seus diversos agentes estão influenciadas por esses meios de comunicação.

Importante destacar que na proposta original também esteve presente a análise dos

editoriais do jornal O Globo, mas por circunstâncias de difícil acesso ao conteúdo na

plataforma digital deste jornal, não foi possível incorporar esse material como elemento comparativo. Certamente uma perda de conteúdo importante, contudo, não irreparável para a continuidade dos estudos propostos.

Na política contemporânea, com a consolidação do sistema democrático no país, a diversidade de correntes políticas e de opinião propiciou alternâncias de governos. Essa nova realidade pode ter impactado na construção do pensamento hegemônico no Brasil e, diretamente, no papel que os jornais cumprem hoje na sociedade.

O conteúdo é dividido em três capítulos e uma conclusão. A linha de estudo será desenvolvida sob perspectiva simétrica, a saber: o conceito de democracia no Brasil, a análise do governo Lula baseado em elementos políticos, econômicos e ideológicos e a repercussão desses assuntos nos jornais, não sob o aspecto meramente da notícia e sua repercussão, mas essencialmente a opinião dos jornais, seus possíveis embates e apoios.

O primeiro capítulo é um panorama contemporâneo da democracia no Brasil, passo inicial para situar historicamente o contexto da luta de ideias. Busca-se desenvolver os fatores, circunstâncias e os fenômenos que propiciaram a vitória política e eleitoral de uma corrente política de esquerda e a chegada inédita de um operário à Presidência da República.

(20)

partidos políticos; conquista do voto e suas repercussões; construção dos blocos de aliança históricos e a sustentação de governos por meio da ideia de coalizões partidárias; modelo político e jurídico das regras democráticas e suas alterações nas chamadas reformas políticas e a identificação de possíveis retrocessos para a democracia, esses são os assuntos desenvolvidos para a abertura da análise da nova construção de ideias no País.

O segundo capítulo concerne na análise do governo Lula baseado em três temas centrais: político, econômico e ideológico, subdivididos em assuntos que possam demonstrar as principais ações do governo. Foi considerada para efeito histórico a temporalidade dos dois mandatos do presidente Lula. O primeiro percorre do resultado eleitoral em 2002, a posse e o

mandato 2003-2006. O segundo contempla o mesmo percurso (eleição – posse – mandato) no

período 2007-2010, encerrando-se com a eleição de Dilma Rousseff, sua sucessora e o encerramento de um ciclo político. Separar os dois momentos do governo Lula é importante para se identificar se há diferenças entre os mandatos e suas consequências.

Na política são analisadas as disputas e vitórias eleitorais de Lula e de sua sucessora Dilma Rousseff, seguindo a cronologia de 2002, 2006 e 2010. Desse modo efetua-se: 1) A análise da base de sustentação parlamentar e partidária nos dois mandatos do governo Lula: as fases de composição de governo; alianças com os partidos no Parlamento; a crise política de 2005; 2) O governo e os movimentos sociais e; 3) Qual a relação praticada por um governo de esquerda e o papel dos movimentos sociais nesse período.

Na economia, a polêmica entre as correntes desenvolvimentistas versus monetaristas, a

avaliação da linha da política econômica do governo, particularmente a análise do tripé

econômico: política cambial, controle de inflação e superávit primário. O comportamento da

dívida pública, a paralisação ou a mudança dos paradigmas do programa de privatizações e retomada do papel do Estado na economia, a crise econômica de 2007/2008 e a nova conjuntura econômica internacional e seu impacto no Brasil são as preocupações de análise desse tema.

Sob o aspecto ideológico, o debate é em torno de temas conhecidos no mundo político e intelectual, a continuidade ou interrupção do neoliberalismo? A definição do conceito de neoliberalismo; a confrontação da inexistência dessa ideologia e a verificação se o governo Lula interrompe a aplicação do modelo neoliberal na orientação das políticas públicas, na estruturação do Estado e na concepção de governo. O caráter ideológico do governo Lula, a

verificação de uma hipotética ideologia social democrata. O populismo versus popular e

(21)

perspectiva do confronto de duas definições históricas e características de intervenção do Estado na sociedade e a própria validade do conceito de populismo na atualidade.

A construção do capítulo preservou a continuidade da análise do primeiro e segundo mandatos para manter a unidade narrativa, embora sejam mandatos com distinções importantes há uma sequência de temas que ficam melhores situados na decorrência imediata dos fatos históricos e preserva as análises e a elaboração teórica nessa unidade proposta.

O terceiro capítulo aborda o caráter do jornal impresso no Brasil. Um estudo detido aos

jornais: Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, por estarem entre as maiores tiragens, pelo

alcance nacional, pela capacidade de pautarem outros meios de comunicação, particularmente os veículos de massa a Televisão (TV) e o Rádio. Os temas principais abordados para este capítulo são: o jornal no século XXI, seu papel histórico, o alcance e sua relação com outros meios de comunicação. Qual a posição dos jornais diante dos diversos assuntos relacionados aos governos? O caráter ideológico dos jornais, uma demonstração da inclinação à defesa do neoliberalismo, sua negação e o ajuste para a defesa dos princípios liberais.

Parte fundamental deste terceiro capítulo concerne aos estudos de caso e a demonstração das opiniões políticas, econômicas e ideológicas dos jornais por meio dos seus editoriais, sobre assuntos recortados e apresentados no primeiro capítulo. Este tópico, como sinaliza na metodologia, segue a lógica da demonstração dos editoriais e o levantamento dos assuntos considerados positivos, neutros ou negativos em relação às posições e decisões do governo Lula, por intermédio de estudos de valência.

A conclusão expõe a demonstração teórica da construção do pensamento hegemônico no Brasil a partir do papel dos jornais na sociedade. A definição do conceito de hegemonia em Antônio Gramsci e a defesa da utilização deste instrumento teórico para demonstrar o caráter ideológico dos jornais. Os jornais como porta-vozes das correntes políticas e ideológicas das frações de classes dominantes, as contradições e as disputas entre os jornais e entre as frações das classes dominantes.

Porque um estudo em torno da era Lula a partir de uma visão política e ideológica de governo e encontrar o embate de ideias e a construção de uma hegemonia de pensamento tendo por base as opiniões dos jornais impressos, buscando um possível contraponto ao governo?

(22)

experiência do governo Lula enriquece o debate da política e a luta de ideias na sociedade. A democracia contemporânea propicia a alternância, não apenas de partidos, forças políticas ou sujeitos históricos, mas, sobretudo a reconstrução de pensamentos e linhas de ação do Estado e da sociedade. Os jornais cumprem um papel histórico no desenvolvimento e divulgação dessas ideias. Por meio desse momento histórico e desses agentes políticos e sociais (tipos de governos e cobertura jornalística) pode-se identificar a construção e o comportamento do pensamento hegemônico liberal no Brasil.

Para analisar o papel do jornal será trabalhado o conceito de hegemonia e sociedade civil, particularmente desenvolvido pelo filósofo italiano Antonio Gramsci (1891-1937).

A originalidade de Gramsci contribuiu para a compreensão das sociedades modernas em suas diversas estruturais sociais. As diferenças nos níveis de desenvolvimento econômico e cultural foram ressaltadas e a construção de elementos comuns, como elementos centrais atuantes do capitalismo, também foram identificadas nessas sociedades. Falar de países desenvolvidos, como os Estados Unidos da América (EUA) e aqueles em fases de desenvolvimento, como a Rússia socialista, era um grande desafio para os pensadores da época. Mas é a Itália o laboratório de investigação do filósofo e dela são extraídos elementos norteadores que servem de exemplo para países como o Brasil.

Um dos elementos mais importantes do pensamento do comunista italiano está na ideia de hegemonia a partir de sua contribuição no desenvolvimento dos conceitos marxistas de superestrutura. Entende-se por superestrutura a base da consciência social e seus instrumentos para a construção de uma visão de maioria na sociedade.

Marx, ao longo de sua produção teórica elaborou as ideias de infraestrutura que é a base material das relações sociais, utilizando a definição dos valores produzidos na sociedade e invertendo a lógica liberal colocando a mão de obra como principal valor da produção e, superestrutura, baseados na forma de convencimento e imposição pela força para a manutenção de uma classe dominante sobre outra, no capitalismo, definido como exploração de classes.

(23)

minoria e executando a espoliação de classe, causando miséria e sofrimentos à maioria das mais diversificadas sociedades no mundo.

Para entender o exercício de hegemonia, o pensador italiano distinguiu na superestrutura os conceitos de sociedade civil e sociedade política.

Por sociedade civil, entende-se o conjunto de agentes sociais que exercem a influência ideológica na sociedade por meio de uma construção pelo consentimento, pela persuasão de opiniões, fatos e obras. Estão ligadas à sociedade civil, as estruturas que Gramsci denomina

como “aparelhos privados de hegemonia”, que são os partidos políticos, os sindicatos, a

comunicação (jornais, etc.), a educação, a religião (ou Igreja) e outros elementos da cultura.

A sociedade política é o Estado e sua função de fazer valer as regras estabelecidas na sociedade via coerção. O Estado tem como instrumentos os reconhecidos mecanismos de intervenção pela força da lei, por intermédio da justiça e dos tribunais, e pela força física por meio da polícia e das forças armadas.

Nas condições modernas, argumenta Gramsci, uma classe mantém seu domínio não simplesmente através de uma organização específica da força, mas por ser capaz de ir além de seus interesses corporativos estreitos, exercendo uma liderança moral e intelectual e fazendo concessões, dentro de certos limites, a uma variedade de aliados em blocos históricos (Portelli, 1978). Este bloco representa uma base de consentimento para uma certa ordem social, na qual a hegemonia de uma classe dominante é criada e recriada numa teia de instituições, relações sociais e ideias (BOTTOMORE; 1988, p. 177).

Portanto, a distinção entre sociedade civil e sociedade política é que a primeira funciona como elemento de convencimento e a segunda como coerção.

É importante destacar também o entendimento que Gramsci elaborou sobre o papel do intelectual na sociedade, em que denomina todas as pessoas como intelectuais, mas entende que nem todas desempenham na sociedade a função de intelectuais. Desta forma, nasce também a ideia de intelectual orgânico, aquele que pertence ou está exercendo tarefa de elaboração e convencimento para uma determinada classe social. Dito isto, a passagem em que o pensador italiano se refere à construção da teoria de hegemonia pode ser encontrada no

texto recolhido, dos Cadernos do cárcere intitulado “Os intelectuais e a Organização da

Cultura”:

(24)

diversas aspirações das várias categorias destas camadas determinam, ou dão forma, à produção dos diversos ramos de especialização intelectual [...] A relação entre os intelectuais e o mundo da produção não é imediata, como é o caso nos grupos sociais fundamentais, mas é “mediatizada”, em diversos graus, por todo contexto social, pelo conjunto das superestruturas, do qual os intelectuais são precisamente os “funcionários”. Poder-se-ia medir a “organicidade” dos diversos estratos intelectuais, sua mais ou menos estreita conexão com um grupo social fundamental, fixando uma gradação das funções e das superestruturas de baixo para cima (da base estrutural para cima). Por enquanto, podem-se fixar dois grandes “planos” superestruturais: o que pode ser chamado de “sociedade civil” (isto é, o conjunto de organismos chamados comumente de “privados”) e o da “sociedade política ou Estado”, que correspondem à função de hegemonia que o grupo dominante exerce em toda a sociedade e àquela de domínio direto ou de comando que se expressa no Estado e no governo “jurídico”. Estas funções são precisamente organizativas e conectivas. Os intelectuais são os “comissários” do grupo dominante para o exercício das funções subalternas da hegemonia social e do governo político, isto é: 1) do consenso “espontâneo” dado pelas grandes massas da população à orientação impressa pelo grupo fundamental dominante à vida social, consenso que nasce “historicamente” do prestígio (e, portanto, da confiança) que o grupo dominante obtém, por causa da sua posição e de sua função no mundo da produção; 2) do aparato de coerção estatal que assegura “legalmente” a disciplina dos grupos que não “consentem”, nem ativa nem passivamente, mas que é constituído para toda a sociedade, na previsão dos momentos de crise no comando e na direção, nos quais fracassa o consenso espontâneo (GRAMSCI, 1991, p. 10-1).

Gramsci oferece sua contribuição na compreensão do funcionamento da sociedade. O que a tese do pensador italiano permite esclarecer é que está na sociedade civil a disputa ideológica do sistema social.

Existem profundas diferenças interpretativas sobre a utilização da formulação do conceito de hegemonia que Gramsci procurou elaborar, seja para o acúmulo de uma linha mais próxima do leninismo na compreensão teórica, como defende Luciano Gruppi (2000), ou à expansão para uma nova compreensão, descolada do movimento comunista da época que possibilitou o advento de uma nova ideia da disputa da consciência social, como movimento fundamental em primeiro lugar para a posterior conquista do poder político, o que abriria para

uma ideia de “revolução passiva” na compreensão de Giuseppe Vacca (2012). Em que pese

concordar com a elaboração de Gruppi, não está em debate as disputas das consequências da elaboração teórica para a compreensão histórica daquela conjuntura política.

A elaboração do conceito de hegemonia e não os seus desdobramentos é que se procura validar nesta tese. Portanto, o mais importante é identificar o conceito de hegemonia, sua validade para a realidade atual e utilização como instrumento de compreensão teórica.

(25)

O papel ideológico dos jornais, especificamente no momento histórico da disputa pela hegemonia do pensamento de uma sociedade, nas características democráticas vividas pelo Brasil, no momento em que um pretenso governo de esquerda assume a poder político central é o centro da aplicabilidade da tese de Gramsci.

Sobre a metodologia científica a tese identifica dois instrumentos para alcançar o objetivo de apresentar uma nova interpretação sobre o governo Lula e o papel dos jornais impressos no Brasil.

A pesquisa bibliográfica por considerar a fórmula mais adequada para a análise do governo Lula e o estudo sobre o papel dos jornais por meio de literatura abrangente sobre o caráter político, econômico e ideológico e nos estudos comunicacionais para identificar a relação com os jornais.

Para a análise dos editoriais, além das fontes diretas dos jornais, portanto um estudo bibliográfico, também será disponibilizado o estudo de valência, tradicional instrumento de análise qualitativa e quantitativa por meio da conceituação de temas considerados positivos, negativos ou neutros dos editoriais dos jornais pesquisados.

A tese tem como sustentação a literatura política e sociológica para verificar as hipóteses que envolvem o governo Lula e os estudos comunicacionais que darão a base de sustentação às afirmações sobre a imprensa.

A pesquisa bibliográfica procura explicar um problema a partir de referências teóricas publicadas em documentos. Pode ser realizada independentemente ou como parte da pesquisa descritiva ou experimental. Em ambos os casos, buscam-se conhecer e analisar as contribuições culturais ou científicas do passado existentes sobre um determinado assunto, tema ou problema (BERVIAN; CERVO, 2002, p 65).

Para delinear a pesquisa bibliográfica foram utilizados os procedimentos de definição dos temas considerados mais importantes, circunscrevendo o conteúdo; via definição do objetivo são realizadas as coletas dos materiais; após a formulação do problema, destacados os argumentos mais importantes de análise dos materiais feita a sua interpretação, contrastando-os com a hipótese.

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fim, a leitura interpretativa, crítica e baseada nos elementos teóricos que o estudo se propôs a pontuar.

Já o estudo sobre valência ofereceu importantes dados quantitativos, em cruzamentos de dados sobre o comportamento dos jornais. O modelo de valência é utilizado por pesquisadores como Vera Chaia e Fernando Azevedo (2008) e desenvolvidos pelo Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro (IUPERJ) e pelo Laboratório Doxa, hoje ligado ao Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), para demonstrar empiricamente como são distribuídas as opiniões dos jornais.

Por sua vez, a classificação de valência é realizada por matéria, pois além de medir os espaços cedidos para os assuntos pesquisados, oferece uma dimensão a respeito do jornal a que se notícia o assunto. Embora, o estudo de valência seja muito utilizado para o acompanhamento jornalístico das campanhas eleitorais, para se verificar se há tendências de apoio a um ou outro candidato, a proposta da aplicabilidade desse método é para identificar a opinião dos jornais por meio dos editoriais sobre os assuntos de governo, em recorte as questões ligadas à política, economia e ideologia proposto no segundo capítulo desta tese. A classificação de valências é realizada de acordo com seu efeito potencial para o assunto em questão, notando-se ou não intenção de viés ou parcialidade jornalística. Desta forma, os principais critérios para identificar a valência da matéria, em relação a cada candidato, procuram esclarecer se ela beneficia ou prejudica o governo (SOUZA, 2010).

Seguindo a forma aplicada pelos estudos de valência, os editoriais foram definidos como: positivo, negativo ou neutro.

Tendo por positivo os editoriais favoráveis integral ou parcialmente em apoio ou reconhecimento de determinada ação de governo ou que exige sua intervenção. Assim como negativo os editoriais críticos às ações diretas de governo, as não ações ou as condições em que o governo se vê envolvido. E neutros, os editoriais que relacionam os assuntos ligados ao governo que demonstram apenas relatos e/ou opiniões de como o governo deveria agir sem conotações positivas ou negativas. Considera-se ainda por neutro, não a imparcialidade, mas a neutralidade para o posicionamento positivo ou negativo.

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Não foram considerados para efeito quantitativo os editoriais relacionados aos partidos políticos, movimentos sociais, assuntos legislativos e judiciários, internacionais, regionais e locais quando não são expressos os nomes do governo, do presidente Lula e seus ministros. Para todos esses elementos foi classificada a modalidade sem relação com essa pesquisa.

O estudo de valência também é questionado no meio acadêmico, como o contraponto

oferecido por Luís Felipe Miguel em “Quanto vale uma valência?”, no qual considera

inoportuna a abordagem desse método por distorcer seus resultados por consequência de sua superficialidade e da interpretação política duvidosa. O autor simplesmente considera não quantificável a posição dos jornais, por meio das matérias, tamanhos e manchetes desses veículos.

Em que pese à crítica oferecida por Luís Felipe Miguel, essa tese considera oportuno o método e possível de se quantificar os editoriais, uma vez que se apropria do seu conteúdo para se constituir a análise que se propõe a fazer. As críticas de Miguel tem relevância, principalmente para se verificar se há validade no estudo de valência. No tópico, a proposição

“Sobre a aplicabilidade do estudo de valência” haverá o devido diálogo sobre as críticas e a

aplicação do método nesta tese.

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CAPÍTULO I

SOBRE A DEMOCRACIA NO BRASIL

A democracia no Brasil atinge o seu período de maturidade após o processo de redemocratização nos anos 1980, passando pela reestruturação das instituições jurídicas e políticas, a Constituição de 1988 (BRASIL, 1988), as eleições presidenciais, governos estaduais, prefeituras e legislativos federais, estaduais e municipais.

O Brasil também viu a multiplicação dos movimentos sociais e políticos, da liberdade de imprensa, do direito às greves, autonomia sindical e das livres manifestações críticas aos governos e ao sistema político no geral.

Por meio da liberdade das escolhas políticas os brasileiros estiveram diante de algumas importantes escolhas que possibilitaram a realização de mudanças políticas, econômicas e sociais. Grupos políticos com identidades ideológicas e programáticas lutaram pelas opiniões da sociedade. Tais grupos não são apenas os partidos, mas também correntes de opinião, movimentos sociais organizados, empresariais e de trabalhadores, meios de comunicação, juristas e sistemas jurídicos, grupos de interesses nacionais e internacionais.

Não são poucos os movimentos e ações políticas restritivas para enquadrar a democracia a determinados projetos hegemonistas e, por vezes, a tentativa de retroceder em medidas autoritárias.

As considerações feitas partem do pressuposto que a democracia brasileira está amadurecida, consolidada sobre determinadas conquistas legais e legítimas, mas ainda em construção, pois a complexidade desse sistema não permite afirmar que se alcançou sua plenitude, uma vez que ainda não se atingiu um equilíbrio satisfatório de justiça social.

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1.1 SOBRE A DEMOCRACIA

Para buscar essa resposta optou-se por circunscrever à literatura acadêmica contemporânea, sem menosprezar o acúmulo filosófico da questão, mas se atentando em argumentos expressados na realidade atual da construção democrática.

Para o pensador italiano Norberto Bobbio, um dos mais conceituados debatedores sobre o conceito e as avaliações dos processos democráticos, esse sistema é de transformação

contínua em sua condição natural. Segundo o autor, “A democracia é dinâmica, o despotismo

é estático” (BOBBIO, 2011, p. 22). Um tanto óbvio para o acompanhamento histórico, mas

sempre útil para situar que sistemas sociais modernos recebem, obrigatoriamente, transformações do meio e se alteram, contudo, é preciso identificar se perdem o princípio ou a essência fundamental de sua existência.

A democracia, na compreensão de Bobbio (2011), é predominantemente um conjunto de regras reconhecidas pela sociedade, decorrência da herança contratualista (segundo o qual o cidadão abre mão de sua liberdade individual a favor de um poder comum capaz de garantir a liberdade e a vida), em que grupos políticos se organizam para a disputa do poder. Mas não apenas isso, a democracia requer a liberdade individual, que segundo o autor italiano, só é possível numa sociedade liberal. Os valores democráticos também pressupõe que as disputas e decisões tomadas sejam realizadas via atos não violentos; que ocorram renovações graduais da sociedade por intermédio do livre debate de ideias e das mudanças das mentalidades e o modo democrático deve tornar-se um costume da sociedade. Portanto, é preciso a conquista da cultura democrática de um povo e não apenas o modo reconhecido das disputas políticas.

Norberto Bobbio crê na universalização do voto como um sintoma importante das sociedades democráticas, um elemento fundamental para identificar a saúde política desse regime, ao mesmo tempo em que define a democracia real como a representativa em contraponto à democracia direta. Por ser um liberal, o autor considera que a concessão de direitos políticos é a consequência natural da concessão dos direitos de liberdade. O filósofo

italiano define o “sujeito político” como agrupamentos de pessoas em torno de organizações

políticas e sociais e não no indivíduo capaz de decidir, seja como déspota seja como o conceito radical do liberalismo de um sujeito um voto (BOBBIO, 2004).

O cientista político norte-americano Robert Dahl buscará no pensamento antigo a

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a forma de governo oposta a toda forma de despotismo” (apud BOBBIO, 2004, p. 323). O pensamento de Dahl utiliza o conceito de poliarquia, que segundo o autor, é um ordenamento institucional que prevê os governos constituídos a partir de uma maioria que se expressa por meio do voto, em disputas competitivas e reconhecidas. As eleições, ordem máxima do processo democrático, devem ser realizadas com amplitude e com o maior número possível de participantes.

A participação efetiva da sociedade, em que todos os membros devem ter oportunidades iguais para defenderem suas ideias e que elas sejam capazes de chegarem a todos os outros membros de sua sociedade; a igualdade do voto, como expressão da oportunidade entre iguais; o direito ao entendimento e esclarecimento para que todos os membros tenham condições de compreenderam os processos decisórios e suas consequências; o controle do programa e planejamento em que os membros devem ter oportunidade para decidir como e quais as questões que devem ser colocadas no planejamento, como critério de controle sobre a ação dos governantes; a inclusão dos adultos como a expressão de amplitude do processo de escolhas e legitimação da democracia. Esses são os critérios defendidos por Robert Dahl para se reconhecer uma sociedade e um sistema democrático.

As compreensões de democracia entre Norberto Bobbio e Robert Dahl se assemelham quanto à necessidade do estabelecimento e reconhecimento de regras para as disputas democráticas, que elas se dão expressamente por intermédio das eleições e do voto, com uma maior quantidade possível de pessoas envolvidas na sociedade e que os governos eleitos consigam promover o bem estar da sociedade. A diferença fundamental entre esses autores é a visão mais cética do italiano quanto às possibilidades da democracia e uma utopia de boas intenções construídas pelo norte-americano.

Na construção sobre qual conceito de democracia, a mais bem definida, é a

compreensão do economista Joseph Schumpeter que define o método democrático como “um

sistema institucional, para a tomada de decisões políticas, no qual o indivíduo adquire o poder

de decidir mediante uma luta competitiva pelos votos do eleitor” (SCHUMPETER, 1961, p.

328).

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melhor para todos. Portanto, o enunciado que a democracia é um sistema em que o indivíduo se reúne para escolher o líder que fará a vontade geral do povo é recusada por Schumpeter.

O contraponto será a compreensão das vontades gerais versus as vontades individuais

da sociedade, uma vez que a vontade de uma maioria não significa a vontade geral desta mesma sociedade. A questão dos direitos e das intenções individuais é muito caro e fundamental para o desenvolvimento do pensamento liberal moderno.

Prevalece a tese, portanto, de que a democracia é o exercício das disputas políticas na sociedade resolvidas por meio de um processo reconhecido pelos grupos políticos, vencendo a contenda quem obtiver a maioria dos votos.

1.2 INTERPRETAÇÕES SOBRE A RETOMADA DEMOCRÁTICA NO BRASIL

As disputas eleitorais no Brasil, como a maioria dos países democráticos ocidentais, tiveram processos evolutivos, dos quais se migrou de um sistema restritivo para a universalização do voto. As regras também evoluíram, pouco a pouco na experiência histórica, as manipulações diretas, a opressão e o uso da coação para se obter o voto foram substituídas por amplos debates, possibilidades de organizações populares influírem nas disputas em contraponto com o poderoso poder econômico. Isso não significa que o modelo atual de democracia no país seja totalmente livre, é possível aludir que nenhum sistema democrático o é, mas demonstra o amadurecimento de na experiência brasileira quanto aos processos eleitorais e o direito ao voto.

Desse modo, o recorte histórico para a análise da democracia no Brasil será a partir do período final da Ditadura Militar. No entanto, há interpretações históricas distintas sobre a redemocratização no país.

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interpretação os governos militares tiveram papel importante na transição para o retorno da democracia, particularmente o presidente Ernesto Geisel.

Outra corrente interpretativa considera que a redemocratização se inicia ou se consolida a partir da eleição de Tancredo Neves, o primeiro presidente civil, em janeiro de 1985, ainda que por eleição indireta. A vitória da oposição contra o governo militar, a Aliança Democrática, na qual parte da base de sustentação governista capitaneada por lideranças como José Sarney, então líder do governo, rompeu com o governo militar e a candidatura de Paulo Maluf se alinhando com a oposição propiciando a vitória presidencial no Congresso Nacional. A eleição de Tancredo Neves, candidato pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e a sequente substituição por José Sarney, que se filia ao PMDB, põe em curso um governo que inicia um conjunto de reformas para a consolidação democrática, entre elas ainda em maio de 1985, a decisão de eleições diretas nas capitais brasileiras e cidades consideradas de segurança nacional, que não tinham o direito de escolher seus prefeitos, bem como a eleição direta para Presidência da República, ainda que sem data determinada para ocorrer.

Uma terceira corrente de pensamento identificara que a retomada democrática somente é efetivada como marco jurídico a partir da Constituição Cidadã, convocada em 1986 e concluída em 1988. A nova Carta Magna representa todos os direitos constituídos para uma democracia no Brasil, evitando possíveis retrocessos autoritários e permitindo a livre participação do povo na vida política do País. A nova Constituição permitiu a livre expressão política e ideológica, a organização política via pluralismo partidário, a liberdade de imprensa e a livre organização de movimentos populares.

Por fim, uma quarta interpretação histórica, propõe que a democracia no Brasil se estabelece após um ciclo de mudanças que culmina em 1989 com a primeira eleição direta para Presidência da República. É importante destacar que a disputa foi única, com a participação de 21 candidatos de diversos partidos políticos e uma lei eleitoral aprovada no mesmo ano da eleição, em meio ao processo de escolhas das candidaturas.

(33)

1.3 A DEMOCRACIA NO BRASIL

A democracia no Brasil é de caráter representativo e se assemelha com a definição do processo, segundo o qual grupos políticos se organizam em alianças históricas e disputam, por intermédio de eleições reconhecidas política e juridicamente, nas quais quem obtiver o maior número de votos alcança o poder executivo em âmbito local, regional ou nacional. Essa é a definição proposta para compreender um regime democrático legítimo de caráter liberal e ocidental.

A ideia de democracia brasileira que acaba de ser identificada não traz um juízo de valor se é a melhor ou aquém do necessário para a sociedade. Busca, ao contrário, demonstrar apenas como elemento de interpretação sobre o processo político do país.

Frente essa definição do modelo que se julga reconhecido diante da sociedade brasileira, as eleições e a disputa do voto passam a ser central na compreensão das disputas políticas.

1.3.1 O voto como expressão política

O cientista político Jairo Nicolau identifica que o Brasil possui o quarto maior eleitorado no mundo, atrás somente da Índia, Estados Unidos e Indonésia (NICOLAU, 2012)

e considera o caso da democracia brasileira como “um sucesso”. A livre escolha de

representantes dos poderes executivo e legislativo nas esferas municipais, estaduais e federais; a ampla participação do povo nas eleições, em média quatro entre cinco brasileiros vão às urnas; a pluralidade de organização partidária com a liberdade da formação dos partidos (cerca de 30) e um modelo de regras, consolidado diminuindo a possibilidade de fraudes e o tempo de contagem dos votos mediado pelo uso da urna eletrônica são os elementos destacados para um resultado amplamente satisfatório para a vida democrática do Brasil.

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uma das maiores democracias liberais do mundo com leis mais amplas que permitem a participação popular em processos eleitorais.

Outro impacto importante foi o advento a urna eletrônica, a partir de 1996. Um sistema informatizado que reduziu a possibilidade de fraudes eleitorais e o tempo de apuração dos votos podendo obter o resultado em poucas horas e, principalmente, ampliou a quantidade dos votos válidos para as eleições proporcionais.

Se forem tomadas como exemplo as eleições no estado de São Paulo, que tem o maior número de eleitores é possível observar evolução na escolha de deputados federais e estaduais entre 1994 quando a votação ainda era no papel, 1998 quando a maioria dos eleitores passa a utilizar a votação eletrônica e 2002 quando a urna eletrônica já está consolidada. A Tabela 1, a seguir, apresenta em dados percentuais o comportamento do eleitorado nesse período:

Tabela 1 - Dados percentuais do comportamento do eleitorado do estado de São Paulo entre 1994 e 2002

Comportamento do eleitorado entre 1994 e 2002

Ano Votos Presidente Governador Deputado

Federal Deputado Estadual

1994

Válidos 84,56 76,22 57,86 58,79

Nulos 9,53 9,39 30,16 28,13

Brancos 5,91 14,38 11,98 13,08

Comparecimento 88,63 Abstenção 11,37

Total 100

1998

Válidos 83,50 85,31 80,16 80,89

Nulos 10,18 7,15 9,88 9,47

Brancos 6,31 7,52 9,95 9,63

Comparecimento 83,48 Abstenção 16,51

Total 100

2002

Válidos 91,56 90,90 90,95 90,68

Nulos 5,10 4,95 3,53 3,48

Brancos 3,32 4,13 5,51 5,83

Comparecimento 84,08 Abstenção 15,93

Total 100

Fonte: elaborada com base nos dados disponibilizados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE)

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A eleição proporcional é mais dispersa e a concorrência ao Parlamento tem outras características que reduzem a atenção e o interesse do eleitorado. Observa-se na Tabela 1que em 1994, último ano que as votações foram realizadas em cédulas de papel, na qual o eleitor precisava escrever o nome ou número do candidato ou do partido, a escolha de deputados estaduais obteve no estado de São Paulo um total de 58,79% dos votos válidos e deputados federais 57,86% do eleitorado. Essa é uma prática comum também em períodos anteriores.

A partir de 1998 quando a votação eletrônica foi aplicada nas cidades com mais de 50 mil eleitores, portanto, a maioria do eleitorado no Brasil, os resultados no estado de São Paulo foram de 80,89% de votos válidos para deputados estaduais e 80,16% para deputados federais. Já, em 2002, quando as eleições para deputados foram realizadas na totalidade das cidades com a urna eletrônica, a votação de deputados estaduais saltou para 90,68% e para deputados federais 90,95%.

O advento da urna eletrônica criou também fenômenos eleitorais, alguns candidatos obtiveram votações extraordinárias por se constituírem personalidades caricatas, como o caso de Enéas Carneiro filiado ao Partido de Reedificação da Ordem Nacional (PRONA/SP) que se elegeu deputado federal em 2002 com 1.537.642 votos, a maior da História do Brasil. Enéas Carneiro se reelegeu em 2006 com 386.905. Outro fenômeno foi o humorista Tiririca, do Partido da República (PR/SP) eleito em 2010 com 1.348.295 votos e reeleito em 2014 com 1.016.796 votos. Há alguns fatores que podem explicar essas votações, um deles é que a substituição da cédula na qual o eleitor expressava o voto por meio da escrita restringiu uma ação direta de protesto ou sátira. A urna eletrônica minimizou o ímpeto do protesto, ou ainda, a expressão do protesto ou da sátira se transformou na escolha de determinados candidatos com essas características.

A qualidade do voto é um tema importante e recorrente nos estudos políticos e nas análises feitas pelos meios de comunicação, na Academia e na sociedade em geral, destacadamente estudos de Antônio Lavareda (1991), Maria Victória Benevides e outros (2003), Marcus Figueiredo (2008) e Jairo Nicolau (2012). Quando se oferecem a crítica ao tipo de votação em personagens caricatos, que pode caracterizar uma despolitização do eleitor, talvez não se considere que significam fenômenos próprios de uma democracia aberta, na qual se permite esse tipo de expressão. Mas não significa nem de perto a maioria do eleitorado, quanto menos a constituição de parlamentares com essas características.

Norberto Bobbio registra a seguinte expressão sobre os perigos do domínio das

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ao melhor ofertante” (BOBBIO, 2011, p. 22). O poder econômico é uma das principais dificuldades para se estabelecer uma democracia capaz de expressar a real vontade popular. Ao mesmo tempo em que essa expressão, torna-se também, a mais transparente em uma democracia de caráter liberal.

1.3.2 Os partidos políticos

A definição de partido político pode ser entendida como agrupamentos de pessoas ligadas por ideologias ou programas que assemelham o modo de pensamento com a finalidade de alcançarem o poder político (BOBBIO, 2004). Ou ainda, uma organização movida por interesses particulares, por força de liderança ou por critério ideológico, associados pelo objetivo de tomar e/ou deter o poder político de modo hegemônico ou associado por aliança histórica (WEBBER, 1993).

Na estrutura política brasileira uma das maiores críticas que se pode encontrar é a existência de muitas agremiações partidárias. Em geral, consideram que não há a necessidade de tantos partidos, pois não há a mesma proporção de ideologias e programas que diferenciam uns dos outros, mas principalmente o interesse financeiro na maioria deles. A crônica política encontrada na maioria dos meios de comunicação e parte considerável do meio acadêmico ligado às questões políticas defenderá a restrição da existência de partidos como uma forma

de “moralizar” o sistema político brasileiro.

No balanço de 2014 há 32 partidos políticos, organizados e registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), aptos a participarem de processos eleitorais, outros partidos estão em fase de organização para requerimento de registros e legalização perante a justiça. Além de diversas agremiações, coletivos, frentes políticas que atuam de modo e optaram por não constituírem-se na condição de partidos.

O cientista político Leôncio Martins Rodrigues recorre aos estudos de outros

acadêmicos como o brasilianista Scott Mainwaring que cunhou o termo “subdesenvolvimento partidário” ao se referir sobre o sistema político brasileiro, alegando falta de identidade

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A formação política dos partidos, nessa compreensão obedece mais uma lógica de disputas e influência de lideranças regionais que uma unidade de ação organizada em torno de ideias. Essa crítica é recorrente na sociedade atual o que oferece a alternativa da restrição do funcionamento dos partidos sob a verificação comum não há tantas ideologias para tantos partidos.

Rodrigues (2002) considera que a existência de vários partidos políticos é um problema grave para a estabilidade governamental e para a própria democracia. A restrição ao funcionamento de partidos políticos atenderia a uma necessidade da governabilidade.

Essa tese leva a menor participação partidária e se possível instituindo o bipartidarismo, ou seja, um partido do governo e outro de oposição. Nestas condições, o governo teria maior estabilidade para governar e não dependeria de composições multipartidárias ou de frentes de partidos para compor uma maioria.

Nos estudos de parte importante dos cientistas políticos, como Fernando Limongi e Argelina Figueiredo (1999), André Singer (2000) e Leôncio Martins Rodrigues (2002), analistas e ativistas do quadro partidário brasileiro leva a compreensão sobre o funcionamento dos partidos políticos nas instituições públicas, como o Congresso Nacional, em sua maioria e não consideram, com evidentes exceções, o seu funcionamento fora do âmbito parlamentar e institucional. Partidos também atuam e demonstram forças relativas nos movimentos populares e sindicais, associações patronais e de segmentos econômicos, nas universidades e centros de conhecimento, etc. Ocorre, provavelmente, que esse esforço de atuação política culmine no centro das disputas políticas numa democracia liberal que são as eleições e seus resultados.

Uma compreensão importante sobre a interpretação da atuação dos partidos políticos na sociedade é a definição de Fernando Henrique Cardoso em entrevista a Roberto Pompeu de Toledo.

[...] A opinião pública, a intelectualidade, a mídia, ainda veem os partidos à moda antiga e ainda depositam sobre eles expectativas que não podem cumprir. Veem o partido como uma alavanca da sociedade e ele não é mais. [...] Os partidos ainda pensam que podem impor suas regras à sociedade por meio do Estado, e não podem. E sociedade não aprendeu a mobilizar suficientemente os recursos não estatais e não partidários que tem hoje à disposição, para chegar a seus objetivos (apud TOLEDO, 1998, p. 243).

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política via entidades e até individualmente e não apenas nos partidos. O ex-presidente também comunga da opinião que a sociedade deve comportar tantos partidos quantas ideias houver.

O contraponto à tese de Rodrigues é o estudo realizado por Fernando Limongi e

Argelina Figueiredo “Executivo e Legislativo na Nova Ordem Constitucional” no qual

abordam a convivência dos partidos e o governo:

A literatura especializada tem insistido em apontar a fragilidade da estrutura partidária brasileira e, de forma mais ou menos direta, em identificar nessa fragilidade as raízes dos problemas políticos enfrentados pelo país. Partidos não passam de agrupamentos frouxos, onde os deputados se reúnem em função de seus interesses de ocasião. De acordo com a explicação dominante, a crescente fragmentação partidária, também decorrente dos interesses individuais dos deputados, impossibilitaria esperar qualquer comportamento previsível e estruturado dos parlamentares. Além disso, a filiação partidária dos deputados nada nos diria sobre o comportamento. A fragmentação partidária nominal esconderia uma fragmentação real que seria ainda maior.

Tais julgamentos são infundados. A fragilidade dos partidos não se manifesta onde mais se esperar, isto é, no plenário da Câmara dos Deputados, onde os deputados exercem seu direito individual de voto. Os partidos políticos na Câmara não são peças de ficção. A filiação partidária nos diz muito a respeito do voto provável do parlamentar. As votações costumam dividir o plenário de acordo com padrões ideológicos clássicos: há uma direita, um centro e uma esquerda. Além disso, há uma centro-direita e uma centro-esquerda. Dito de outra maneira: o que temos é uma alta fragmentação nominal a esconder uma baixa fragmentação real (LIMONGI; FIGUEIREDO, 1999, p. 93).

Para os autores, a tese de que muitos partidos geram instabilidade governamental é falsa, pois quem determina as vitórias políticas das votações na Câmara dos Deputados são os maiores partidos e estes são ideologicamente definidos, ou seja, os deputados pertencentes aos partidos têm alto índice de fidelidade e são coerentes às correntes que participam, de acordo com estudos do comportamento das votações em plenário. Os dados apresentados pelos estudiosos também demonstram que não são os pequenos partidos que obstruem ou dificultam os resultados das votações, o que determina o resultado das votações são os grandes partidos.

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Mesmo com uma quantidade aparentemente excessiva de partidos legalizados e a possibilidade de surgimento de outros, esse não parece ser um problema propriamente para a existência democrática e o funcionamento de um sistema político liberal. A existência de diversos partidos políticos é uma tradição no Brasil desde a formação da República. O multipartidarismo somente foi restringido nas Ditaduras.

De fato não há tantas ideologias e programas para diferenciar o funcionamento de tantos partidos a não ser pelas lideranças políticas regionais e o jogo eleitoral na formação de coligações ou alianças históricas para a disputa do poder político local, regional ou nacional.

A existência de muitos partidos políticos e, possivelmente, diversas candidaturas majoritárias que se utilizam de recursos públicos partidários, tempo de televisão e participação em debates promovidos pelos meios de comunicação pode parecer um problema, mas não afeta o funcionamento do sistema político e eleitoral. Esse é um custo relativamente simples para a manutenção das liberdades democráticas dentro das limitações que um modelo liberal pode oferecer para a sociedade.

Os partidos políticos são a expressão da compreensão política do povo brasileiro. A existência desse sistema político e eleitoral é reflexo da opção que as lideranças políticas, as organizações sociais e a própria sociedade construiu desde o fim da Ditadura Militar.

1.3.3 Presidencialismo de Coalizão?

A definição do sistema político eleitoral brasileiro ganhou a expressão

“presidencialismo de coalizão” a partir do artigo “Presidencialismo de Coalizão: O Dilema

Institucional Brasileiro”, publicado em 1988 na revista acadêmica Dados pelo sociólogo

Sérgio Abranches. Um modelo, segundo o autor, único no mundo porque é composto pela representação proporcional, o multipartidarismo e o presidencialismo.

Apenas uma característica, associada à experiência brasileira, ressalta como uma singularidade: o Brasil é o único país que, além de combinar a proporcionalidade, o

multipartidarismo e o “presidencialismo imperial”, organiza o Executivo com base

em grandes coligações. A esse traço peculiar da institucionalidade concreta brasileira, chamarei, à falta de melhor nome, “presidencialismo de coalisão” (ABRANCHES, 1988, p. 21-2).

O surgimento desse conceito fez parte de uma análise construída pela interpretação de

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Tabela 1 - Dados percentuais do comportamento do eleitorado do estado de São Paulo entre   1994 e 2002
Tabela 2 - Resultado do primeiro turno eleitoral - 2002
Tabela 3 - Resultado do segundo turno eleitoral - 2002
Tabela 4 - Número de governadores eleitos, por partido, em 1998 e 2002
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Referências

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