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As representações sociais no casamento

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Academic year: 2017

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Brasília, 2013

Dissertação de autoria de Angela Maria Guarilha Alves intitulada “REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO CASAMENTO POR PARTE DE CÔNJUGES”, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Psicologia pela Universidade Católica de Brasília, defendida e aprovada em 17 de agosto de 2013, pela Banca Examinadora abaixo assinada:

Prof. Dr. Vicente de Paula Faleiros

Orientador – UCB

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu Mestrado em

Psicologia

AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NO CASAMENTO

Brasília - DF

2013

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ANGELA MARIA GUARILHA ALVES

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NO CASAMENTO

Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade Católica de Brasília, como requisito para obtenção do título de Mestre em Psicologia.

Orientador: Prof. Dr. Vicente de Paula Faleiros

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12,5 cm

7,5 cm 7,5cm

Ficha elaborada pela Biblioteca Pós-Graduação da UCB 01/10/2013

A474r Alves, Angela Maria Guarilha.

As representações sociais no casamento. / Angela Maria Guarilha Alves – 2013.

81 f. ; 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2013. Orientação: Prof. Dr. Vicente de Paula Faleiros

1. Psicologia social. 2. Casamento. 3. Relações humanas. 4. Papel social. I. Faleiros, Vicente de Paula, orient. II. Título.

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“REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NO CASAMENTO”, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Psicologia pela Universidade Católica de Brasília, defendida e aprovada em 23 de agosto de 2013, pela Banca Examinadora abaixo assinada:

Prof. Dr. Vicente de Paula Faleiros Orientador – UCB

Prof. Dra. Divaneide Lira Lima Paixão Examinadora Interna – UCB

Prof. Dra. Leda Gonçalves de Freitas Examinadora Interna - UCB

Prof. Dra Juliana Pacheco Examinadora Externa - SES / DF

Profa. Dra. Maria Inês Gandolfo Conceicao Examinadora Externa – UNB

Brasília

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AGRADECIMENTOS

A Deus, na figura de Cristo que trago dentro de mim.

Aos meus pais, Carlos da Fonseca Guarilha (in memorium) e Geny Srur Guarilha (in memorium) por me nortearem, com valores de amor ao próximo.

Aos meus filhos, Nathalia, Vinicius e Laura que sempre foram luzes no meu caminho.

Ao meu professor e orientador, Prof. Dr. Vicente de Paula Faleiros que com seu conhecimento e habilidade me ensinou a ordenar as idéias para que eu pudesse alcançar meu objetivo.

A todos os pacientes que no atendimento clínico contribuíram para que eu pudesse compreender o ser humano em sua complexidade.

A minha querida e fiel amiga, Ângela Diva que me estimulou nos momentos mais difíceis a prosseguir.

A Direção e aos professores do Mestrado em Psicologia, pela atenção e dedicação no decorrer de todo o curso.

Aos colegas do Mestrado em Psicologia, pelo apoio e coleguismo ao longo de todo o curso.

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RESUMO

Alves, Angela Maria Guarilha. As representações sociais no casamento. 2013. 75 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia). Universidade Católica de Brasília, Brasília, DF, 2013.

A relevância dessa pesquisa está relacionada com a questão socialmente presente no imaginário e na vida cotidiana da população que é o casamento, o que se expressa tanto pelo aumento crescente de uniões, assim como de divórcios. Uniões e separações revelam-se indissociáveis e percebidas de forma significativa tanto por homens, como por mulheres, constituindo assim, objetos de representações sociais. A Teoria das Representações Sociais de Serge Moscovici serviu de embasamento teórico ao estudo. Esta pesquisa teve por objetivo, compreender as representações sociais do casamento, por parte de quatro cônjuges heterossexuais, procurando entender os motivos que deram origem ao casamento, assim como ressaltar as representações pelas quais, os casais mantêm-se casados, identificando questões e vivências do mesmo. A coleta de dados qualitativos foi realizada através do roteiro da entrevista semiestruturada, enfocando a análise de temas relacionados às percepções dos casais tais como: trabalho, filhos, sexo, dinheiro, vida familiar e social, que foram interpretados sob a epistemologia da subjetividade na pesquisa qualitativa de Fernando González Rey. A discussão dos resultados mostrou que há representações de união no casamento assim como representações relacionadas de aprovação familiar do cônjuge, a divisão de tarefas domésticas, a diminuição da prática sexual após o nascimento dos filhos, a administração do dinheiro e a negociação para resolver os conflitos.

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ABSTRACT

The relevance of this research is related to the question in this social imaginary and the everyday life of the population that is marriage, which is expressed both by the increasing number of marriages, and divorces. Unions and separations reveal themselves inseparable and perceived significantly both by men as by women, thus, objects of social representations. The Theory of Social Representations Serge Moscovici served as the theoretical study. This research aimed to understand the social representations of marriage by four heterosexual spouses, trying to understand the reasons that led to marriage, as well as highlight the representations by which the couples remain married, identifying issues and experiences of same. The qualitative data collection was performed using semi-structured interview script, focusing on the analysis of issues related to perceptions of couples such as: work, kids, sex, money, family and social life, which were interpreted under the epistemology of subjectivity in qualitative research Fernando González Rey the discussion of the results showed that there are representations of unity in marriage as well as representations related to family approval of the spouse, the division of labor, sexual practice after the birth of children, money management and how to resolve conflicts.

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INTRODUÇÃO 8 

1  OBJETIVOS ... 12 

1.1  OBJETIVO GERAL ... 12 

1.2  OBJETIVOS ESPECÍFICOS ... 12 

2  REFERENCIAL TEÓRICO: O ENAMORAMENTO, A UNIÃO CONJUGAL, AS FORMAS JURÍDICAS E AS TEORIAS PSICOSSOCIAIS ... 13 

2.2  O CASAMENTO COMO CONTRATO JURÍDICO E EM SUA COMPLEXIDADE SOCIAL ... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.  3  A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE SERGE MOSCOVICI ... 35 

4  MÉTODO DA PEQUISA ... 40 

4.1  PARTICIPANTES ... 43 

4.2  INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS ... 43 

4.3  PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS ... 44 

5  RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 45

5.1.1 "O QUE ME CHAMOU A ATENÇÃO, FOI O JEITO DELA, O JEITO DELE".... 5.1.2 "MINHA FAMÍLIA GOSTOU, RESISTIU AO NEGRO E À GRAVIDEZ"... 5.1.3 "SEXO A FREQÜÊNCIA SE REDUZ, MAS PODE SER PRIORIDADE"... 5.1.4 "NOSSA VIDA É A FAMÍLIA, MAS O TRABALHO DOMÉSTICO É MAIS DA MULHER"... 5.1.5 "CADA UM PAGA, O DINHEIRO É DOS DOIS, MAS ELE ADMINISTRA"... 5.1.6 "A GENTE BRIGA, MAS DESCONVERSA?"... 6  CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 64 

REFERÊNCIAS ... 69 

APÊNDICE A – ROTEIRO DA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA ... 75 

APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ... 76 

APÊNDICE C - DECLARAÇÃO DO PESQUISADOR ... 77 

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INTRODUÇÃO

Esta pesquisa decorreu do interesse em estudar o casamento motivado pelo atendimento psicoterápico a adultos e casais e se justifica por revelar-se importante tanto para homens como para mulheres por tratar-se de uma questão socialmente presente na vida cotidiana da população sendo dessa forma objeto de representações sociais.

Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa (LAROUSSE, 1992), casamento é a união legítima de um homem e de uma mulher que decidem unir-se legalmente. É o mesmo que matrimônio, combinação, união, aliança. Para a antropologia social, casamento é uma união de cunho sexual, mais ou menos formal e duradoura de um ou mais homens com uma ou mais mulheres, em cohabitação. Considera-se o casamento como sendo o que é celebrado publicamente ante o juiz, enquanto o casamento religioso é aquele celebrado na presença de um padre ou outro líder religioso. É considerado um sacramento na religião católica, exigindo assim livre consentimento e não podendo ser anulado. Quando muito, pode haver reconhecimento oficial de sua nulidade, desde que haja motivos jurídicos para tal, como a descoberta de falsidade ideológica de um dos cônjuges.

Os usos e interdições em matéria matrimonial variam bastante entre os diversos povos. Os ritos religiosos tiveram sempre uma grande importância; entre os gregos e os romanos a cerimônia refletia os antigos ritos da integração da esposa com a tribo. Em Roma distinguia-se o casamento por contarreatio reservado aos

patrícios, o casamento plebeu por usus, que era a homologação de um concubinato

de um ano. Além destes, existia o casamento e sinemanu que foi quase o único em

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O casamento definido legalmente é um contrato entre duas pessoas tradicionalmente com o objetivo de constituir família. A Constituição Federal – artigo 226, parágrafo 3 (BRASIL, 1988) – define união estável como sendo a entidade familiar entre um homem e uma mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família. O casamento legal e a união estável são sancionadas entre um homem e uma mulher (com ou sem filhos), mediante comunhão de vida e bens. O casamento é um expediente legal hábil para a constituição da família, conforme afirma Cahali (2002).

A definição de separação segundo o Dicionário da Língua Portuguesa (LAROUSSE, 1992), é: partição, divisão, desunião. O rompimento do vínculo do casamento foi instituído oficialmente no Brasil com a Emenda Constitucional (EC) n.9, de 28 de junho de 1977, regulamentada pela Lei n. 6515, de 26 de dezembro de 1977. A Nova Lei do Divórcio promulgada no dia 13 de julho de 2010, alterou o parágrafo 6 do artigo 226, da Constituição da República, que passou a ter a seguinte redação: “o casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio” extinguindo assim, o prazo para a efetivação do divórcio que era de dois anos após a separação judicial da ordem constitucional. A referida Lei facilitou a dissolução do casamento civil, eliminando a exigência de separação de fato por mais de dois anos para a obtenção do divórcio e o acesso à legalização de uma nova união conjugal.

A compreensão do casamento e da separação implica no entendimento das influências sociais e culturais, pois estas permeiam o campo sóciocultural da realização de ambos. O senso comum percebe a complexidade dessas instituições e indica o que pensam os grupos sociais e os indivíduos sobre questões fundamentais do mundo social. Da mesma forma que existem pressupostos para o casal tomar a decisão de casar-se, também há motivos e vivências que originam a dissolução do vínculo conjugal. Por ser uma decisão tomada por duas pessoas, com freqüência, diferentemente do casamento, a separação passa por um grande desgaste.

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A cada 1000 habitantes dentre os Estados em que mais se casa são: Rondônia, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás e São Paulo. Os Estados em que menos há casamento, a cada 1000 habitantes são: Amapá, Maranhão e Rio Grande do Sul.

Foram registrados 351.153 divórcios em 2011, com crescimento de 45,6% em relação a 2010.

Segundo pesquisa do IBGE (2011), os brasileiros estão se casando cada vez mais tarde. A idade média dos homens solteiros na data do casamento foi de 26 anos. Já as mulheres tinham, em média, 28 anos, dois anos a mais do que dez anos antes.

Segundo o IBGE (2011), o Brasil alcançou um recorde de divórcios, mas também teve o maior número de casamentos do século.

Verifica-se, portanto, um índice de crescimento de casamento, assim como na taxa de separação, o que corrobora para a relevância desta pesquisa, que tem como objetivo compreender as representações sociais do casamento com suas cognições, crenças, ideologia, valores e estereótipos atribuídos ao casamento considerando os motivos pelos quais homens e mulheres se casam e os motivos que os levam a permanecerem no casamento com a complexidade de tais relações. Constituindo objeto de representações sociais tal pesquisa pode contribuir significativamente no exercício da prática clínica psicoterápica além de possibilitar o aprofundamento do tema em estudos futuros.

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Para Badinter (1986), o casamento não sendo mais um laço divino, nem a aliança de duas famílias, nem uma união econômica, é para os que o praticam, uma última prova de ternura. O casamento é freqüentemente ligado ao desejo de filhos, é fruto de uma longa maturação e não o resultado de um desatino passional. A coabitação tornando-se uma maneira banalizada de viver como casal, o momento do casamento sendo cada vez mais adiado, é fácil conceber que o tempo das primeiras paixões não é o da Instituição. Para aqueles, a tradicional lua-de-mel, que devia preparar a vida conjugal, não tem mais sentido. Segundo Badinter (1986), agora esposa-se um amante que se conhece bem por assim dizer, o amigo privilegiado.

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1 OBJETIVOS

1.1 OBJETIVO GERAL

Identificar e compreender as representações sociais vivenciados no casamento por parte de cônjuges heterossexuais.

1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Identificar as representações sociais dos motivos para a união conjugal Compreender as representações sociais da convivência conjugal

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2 REFERENCIAL TEÓRICO: O ENAMORAMENTO, A UNIÃO CONJUGAL, AS FORMAS JURÍDICAS E AS TEORIAS PSICOSSOCIAIS

Este capítulo considera as reflexões sobre o casamento em três dimensões: as representações do desejo, do amor, do contrato, da união. Em seguida tratamos da visão jurídica em especial e por último das teorias psicossociais do casamento.

2.1 AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA UNIÃO CONJUGAL

O casamento é visto tanto como enamoramento (desejo), como contrato, especialmente na forma jurídica e como compartilhamento da individualidade e da conjugalidade. Ele implica a união de indivíduos/pessoas, mas está socialmente estruturado num imaginário e em rituais sociais.

No imaginário, talvez no início, esteja o namoro. Para Alberoni (1988), o atributo do enamoramento é fundamento da existência. Esse atributo nos acompanha desde o nascimento e é expresso na troca de olhares entre mãe e filho e perdura por toda a nossa vida, no desejo do adulto de ser tomado e confirmado pelo outro, fugindo-se do racional, pertencente ao desejo de compartilhar a vida com um parceiro (a). Tal desejo orienta condutas na busca da união conjugal e tem como uma das premissas para a concretização do casamento o estado de enamoramento. Segundo Alberoni (1988, p. 5):

O enamoramento é o estado nascente de um movimento coletivo a dois [...]. É um fenômeno que pode ser incluído dentro de uma classe já bem conhecida – a dos fenômenos coletivos. Entre esses fenômenos, o enamoramento tem uma individualidade inegável, não se confundindo com outros tipos de movimentos coletivos [...].

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valores e afetos não conseguimos captar a história contida em cada coisa que estiver acontecendo no mundo do enamoramento.

Assim a biografia da relação do casal é repleta de uma infinidade de conteúdos e qualquer percepção a eles direcionada não consegue captar a imensidão de particularidades daquela relação por não ser parte integrante da mesma.

Para Bosi (2003), a memória da relação a dois é individual, somente vivida naquele tempo cronológico e subjetivo. Essa unicidade torna cada relação conjugal um universo particular com suas especificidades.

Existe uma predisposição ao enamoramento segundo Alberoni (1988), que começa com um profundo desencantamento conosco ou com aquilo que já amamos. No espaço psicológico que habitamos desde cedo, vivemos tensão e frustrações, através do objeto de amor numa base ambivalente de sentimentos. Para conservarmos o objeto amoroso intocável, segundo o autor, dirigimos nossa agressividade para nós mesmos, ora elaborando-a como sentimento de culpa, ora tentando explicar sentimentos antagônicos como culpa de inimigos externos. Assim o objeto de amor é conservado de forma idealizada, passando por mutações no nosso desenvolvimento psicológico. Essa sobrecarga depressiva, está contida em todos os movimentos coletivos e também no enamoramento. Tal tristeza faz com que recolhidos em nós mesmos, a felicidade alheia passa a ser algo inacessível e invejado.

Citando Jablonski (2001), a sociedade cria nos indivíduos uma expectativa muito difícil de ser alcançada, ao tornar sinônimos amor-paixão e casamento, gerando desejos que não poderão cumprir, pois as práticas referentes ao casamento variam conforme o contexto sócio-histórico-cultural e a etapa do ciclo vital dos indivíduos os quais, alteram o sentido, os motivos e as expectativas com relação ao casamento.

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Segundo Costa (1998), os excluídos do amor romântico não se constituíram ainda como “minorias identitárias”. Em contrapartida, aprenderam a se considerar “infelizes”, “azarados”, “irrealizados”, “frustrados” e outros estigmas auto-aplicados. Um dos motivos pelos quais os indivíduos conseguem imaginar soluções para seus conflitos amorosos é a maneira como se tornam “sujeitos do amor”ou “sujeitos afetivos”.

O enamoramento surge do vazio da vida cotidiana, da necessidade de preencher a existência do próprio sentimento de não se ter nada que nos faça viver o extraordinário. A forma de acessar esse extraordinário reflete o que Morin (1997), define como sendo um movimento complexo e profundo do individualismo moderno que é de tentar desesperadamente comunicar-se com o outro semelhante e estranho – ser reconhecido e reconhecer, perder-se e afirmar-se numa aventura privada do mundo burocrático – o que efetivamente na linguagem burguesa, ele chama de “aventura”.

A ideia de que os dois se transformarão num só com a exigência de exclusividade é a proposta que o enamoramento encerra e presume-se que as pessoas encontram-se distraídas e não preparadas para tal, o que acontece de súbito e com o máximo de força, seja a primeira vista, seja logo após e sem possibilidade de defesa, fazendo com que o enamoramento prevaleça. A ideia é de que o amor é “cego” e que a pessoa que está enamorada não observa as imperfeições da pessoa amada, seja de caráter, seja de beleza e nem admite quando lhe são apontadas. O desejo se estende ao outro, tornando sua natureza social, na medida em que busca união e convívio social. Nessa perspectiva, a reação de um casal contribui para a origem da cultura, pois reflete um ato social norteado por regras e princípios particulares de um funcionamento social.

De acordo com Bourdieu (1987), na preparação de uniões por meio de antecipação de estratégias, é notória a intervenção dos pais durante o decorrer da vida de seus filhos, propondo espaços sociais nos quais eles terão mais chances de encontrar eventuais parceiros do mesmo grupo social.

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realidade do mundo trazendo em si uma necessidade de eternidade que rompe com um mundo em que tudo é transitório; insere-se num final feliz enquanto imagem mitológica, porque supera todos os conflitos, escamoteia o próprio tempo.

Pela vida do cotidiano se apresentar sob a forma do tempo linear do relógio, Elias (1998), considera que no enamoramento o impulso vital explora fronteiras do impossível, do imaginário, da vida, do extraordinário. O tempo dos calendários diz respeito a um pertencimento do homem ao mundo onde na convivência com outros seres humanos, faz parte de um mundo natural, está inserido num contexto social e a uma multiplicidade de fatores físicos. No enamoramento, há a convicção de que para cada indivíduo existe uma pessoa certa, que também é considerada única no mundo, à espera de ser encontrada. ”Em algum lugar eu o encontrarei”, e “em algum lugar, deste mundo há alguém a espera” são apenas duas das várias centenas de expressões familiares dessa crença.

O imaginário do enamoramento está contido nas dimensões interativas da fala, do contato, de conquista de parceria para a construção de uma relação afetiva e é considerado como requisito fundamental para a união conjugal, muito embora segundo Henchoz (2008), há vários tipos de casamento, originários de vários motivos tais como: atração erótica, sentimento que um completa o outro, poder econômico, a beleza, expectativas pessoais postas no casamento, pressão social, medo da solidão, desejo de ter filhos, qualidades positivas do parceiro entre outros motivos. O enamoramento se traduz num ato social, num ritual, conforme a cultura. Na concretização da cerimônia do casamento embora obedecendo a padrões socioeconômicos e culturais, os casais, de modo geral, comemoram a nova união das famílias que passam a integrar e o casal passa a ter uma identidade enquanto tal.

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e rituais familiares que serão mantidos e aqueles que o casal desenvolverá sozinho. Os cônjuges terão que renegociar o relacionamento com suas famílias de origem a partir do casamento, pois as situações e necessidades são restritas ao casal. Essas decisões não podem mais ser determinadas unicamente numa base individual.

O relacionamento amoroso do casal apesar de ser um ato de liberdade no qual eles optam por permanecerem juntos, há pressão social para tal na medida dos compromissos sociais, familiares e financeiros assumidos pelo casal. Pelo senso comum, espera-se que as partes já saibam a que estão se vinculando e que expectativas criar ao optar por relacionarem-se em especial em razão de existir expressa previsão legal dos deveres e direitos dos cônjuges nos artigos 1.565 1.566 do Código Civil (BRASIL, 2002):

Art. 1565. Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a condição de consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da família.

Parágrafo 1. Quando dos nubentes, querendo poderá acrescentar ao seu o sobrenome do outro.

Parágrafo 2. O planejamento familiar é de livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e financeiros para o exercício desse tipo de coerção por parte de instituições privadas ou públicas.

Art. 1566. São deveres de ambos os cônjuges: Fidelidade recíproca;

Vida em comum, no domicílio conjugal; Mútua assistência;

Sustento, guarda e educação dos filhos; Respeito e consideração mútuos.

Estes artigos prevêem que o casamento vai além de um simples contrato celebrado entre as partes, cada um sabe de seus deveres e de seus direitos. Esse instituto, para o Direito Civil, é o acordo comum e voluntário em que duas pessoas demonstram suas intenções em estabelecer ampla e total solidariedade e comunhão de vida, caracterizando-se por respeito, assistência, consideração, fidelidade e companheirismo mútuos, bem como renúncia à concepção individualista em prol do grupo familiar, da célula do coletivo.

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perspectivados em oito estágios que oferecem compreensão para a interação da pessoa com o meio, que começam com o nascimento e culminam até a morte, pertencendo às quatro primeiras ao período de bebê e de infância, e as três últimas aos anos adultos e a velhice. Cada estágio é atravessado por uma crise psicossocial entre uma vertente positiva e uma negativa, sendo que as duas vertentes são necessárias, mas é essencial que a positiva se sobreponha à negativa. A forma como cada crise é ultrapassada irá influenciar a capacidade para se resolverem conflitos inerentes à vida pessoal, podendo-se projetar para a interação da vida a dois e ao mundo social.

Erikson (1976), com sua teoria sobre o sexto estágio trata especificamente da intimidade ou possibilidade de isolamento, que ocorre entre os 20 e os 35 anos, aproximadamente, idade em que há o estabelecimento de relações íntimas configurando a fase em que o homem e a mulher começam a pensar sobre a possibilidade de casarem-se ou não; estabelecendo relações afetivas que lhes servirão de parâmetro sobre a possibilidade de manterem relações de continuidade e intimidade amorosa.

Para o autor, os casais cujas idades variam entre 35 e 60 anos, apresentam aspectos mutáveis e de estagnação e se caracterizam pela necessidade de orientar o núcleo familiar, oferecendo apoio e incentivo às próximas gerações, posicionando-se no mundo com auto responsabilidade quanto ao mundo do trabalho e da família. Nessa fase quando um dos membros se nega ao crescimento intra e interpessoal, gera sentimentos de impotência e fracasso no outro com possibilidade de afastamento entre o casal e interrupção da conjugalidade.

O oitavo estágio da teoria de Erikson está relacionado à integridade ou desespero, ocorrendo a partir dos 60 anos aproximadamente e nesse período o casal com mais experiência de vida avalia sua interação com a vida, com relação às realizações e fracassos. O questionamento existencial é vivido individualmente e enquanto casal de forma a se prepararem para aceitar a idade mais avançada e suas conseqüências.

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adulto e do casal resulta da aplicação de todas as competências adquiridas ao longo da vida.

Para Féres-Carneiro (1995), o casal contemporâneo é confrontado por duas forças paradoxais de tensão entre a individualidade e a conjugalidade

Todo fascínio e toda dificuldade de ser casal reside no fato de o casal encerrar, ao mesmo tempo, na sua dinâmica, duas individualidades e uma conjugalidade, ou seja, de o casal conter dois sujeitos, dois desejos, duas inserções no mundo, duas percepções do mundo, duas histórias de vida, dois projetos de vida, duas identidades individuais que, na relação amorosa, convivem com uma conjugalidade, que contém um desejo conjunto, uma história de vida conjugal, um projeto de vida de casal, uma identidade conjugal. Como ser dois em um? Como ser um sendo dois?

O casal contemporâneo vive um dilema para administrar a vida no cotidiano, considerando que na medida em que as condições socioeconômicas culturais mudaram, suas necessidades e desejos são ofertados numa maior diversidade no mundo social, originando conflitos não só no seu dia a dia, assim como na escolha entre viver a conjugalidade e a individualidade no casamento. Para viver a conjugalidade, a escolha do parceiro, segundo Maldonado (1995), obedece a fatores nem sempre conscientes não sendo sempre o amor que faz com que as pessoas se casem ou permaneçam casadas ou mesmo seus projetos sejam compatíveis entre elas.

A continuidade do casamento requer disponibilidade para negociar um convívio mais íntimo que com as transformações econômicas, sociais e culturais pelas quais a sociedade apresenta no decorrer de sua evolução, gera mudanças de hábitos que atingem os modelos de família vigentes. Dentre as quais o tempo de dedicação mútua do casal, poderia ser enumerado como fator de interferência nas relações conjugais, gerados pela necessidade de maior tempo de dedicação ao trabalho com o objetivo de alcançar melhores condições de vida financeira.

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da mulher e no controle do marido sobre sua mobilidade, suas decisões e seu trabalho. São os caracteres do patriarcado acima descritos faziam com que as mulheres se dedicassem integralmente ao marido e aos filhos, sendo de sua responsabilidade a administração da casa e as tarefas relacionadas aos filhos. A dependência econômica e financeira da mulher restringia sua atuação social por não ter expressão participativa na sociedade. Com a revolução sexual e o advento dos métodos contraceptivos, surgiram novas formas de posicionamento da mulher, principalmente nos aspectos relacionados à sexualidade. Para Therborn (2006), diversos tabus sobre sexo desapareceram e há agora o sexo mais precoce, mais frequente e aparentemente melhor do que antes. Muito embora a nova abertura sexual não tenha impedido a busca por laços emocionais profundos, duradouros e exclusivos, segundo o autor.

Therborn (2006) menciona a autonomia sexual da mulher que passou a fazer escolhas de parceiros com mais liberdade, o que lhe conferiu maior possibilidade de optar sobre as questões relacionadas à maternidade, acarretando uma mudança no modelo de casamento vigente, a partir do direito de opção da mulher quanto ao momento de ter filhos e quanto ao número de filhos no casamento.

As pesquisas, segundo Therborn (2006), demonstram a existência de forte desejo da mulher em ter uma carreira e de formar uma família, incluindo-se o de ter filhos. Como combiná-los, porém, é uma tarefa difícil que muitos casais não conseguiram resolver satisfatoriamente.

Para Foucault (1988), a sociedade que se desenvolveu a partir do século XVII – sociedade burguesa, capitalista ou industrial – deu início a uma época de repressão à sexualidade não como proibição em si, mas através da incitação dos discursos. Essa sociedade não reagiu ao sexo como uma recusa em reconhecê-lo, ao contrário, instaurou todo um aparelho para produzir verdadeiros discursos sobre ele. Nas sociedades dessa época, não somente se falou muito sobre sexo e se forçou todo o mundo a se falar sobre o assunto como também foi instituída uma verdade regulada sobre a sexualidade.

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matrimonial e no século XX, os mecanismos de repressão foram afrouxados e houve uma relativa tolerância a propósito das relações pré-nupciais ou extraconjugais. Os estudos de Foucault (1988) afirmam que a sexualidade, longe de ser um fenômeno natural, é, ao contrário, profundamente suscetível às influências sociais e culturais.

É produto de forças sociais e históricas. É a sociedade e a cultura que designam se determinadas práticas sexuais são apropriadas ou não, morais ou imorais, saudáveis ou doentias. A história da nossa concepção de corpo e sexualidade é a história dos sistemas de valores fundamentais em cada sociedade (FOUCAULT, 1988, p. 109).

Para Therborn (2006), com maior expressão na família e na sociedade, a mulher buscou acessar o mercado de trabalho procurando independência financeira, o que gerou competitividade entre os casais, pela posição que as mulheres passaram a ter na sociedade e no mercado de trabalho antes restrito aos homens. As melhores condições financeiras conquistadas pelas mulheres, apesar das diferenças marcantes quanto às discrepâncias salariais entre homens e mulheres, até hoje constatadas têm sido motivos de conflitos entre os casais.

Quanto à questão financeira ela está presente no cotidiano do casal e segundo pesquisa da socióloga Henchoz (2008), os casais embora não coloquem em evidência processos de negociação o fazem mesmo quando não pensam que estão fazendo; a instalação do casal no tempo e a chegada dos filhos são fatores que parecem favorecer esse processo de negociação. Com o tempo de coabitação, poucos casais, segundo ela, conseguem manter uma forma de gestão individual dos recursos e das despesas. Cada um pode continuar a utilizar seu próprio dinheiro, principalmente para dar presentes ao parceiro. Ao mesmo tempo, as despesas ligadas à vida em comum são divididas, muitas vezes em partes iguais quando os dois têm renda, mas também a partir de cálculos através da qual cada um contribui proporcionalmente de acordo com seus rendimentos. O dinheiro passou a fazer parte da relação conjugal e a exigir que o casal encontre formas de administrá-lo de maneira a significá-lo objeto de facilitação na busca de melhores condições de vida para eles e para a família, conforme dados da pesquisa de Henchoz (2008).

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dinheiro faz surgir uma nova modalidade de relação: o amor moderno, fabricado, interessado, que não se sustenta sem a base do dinheiro. O elemento monetário modifica as relações e, na sociedade ele tem forte influência sobre o comportamento das pessoas e sobre as relações conjugais. Segundo dados de sua pesquisa, o dinheiro no casamento está sujeito a valores, humores e reações entre o casal.

Para Simmel (1971), a sociedade é uma rede de associações, tecidas incessantemente de tal forma que de qualquer ângulo é possível alcançar qualquer ponto do ambiente social. Sentimentos, amor e dinheiro não estão completamente separados, mas aproximam-se em alguns momentos e, ao se tocarem, modificam-se mutuamente. Para ele, na sociedade onde predominam relações monetárias, o amor assume características peculiares. Ele continua discorrendo sobre a relação do amor com o dinheiro, relacionando-o ao fortalecimento da individualidade, como sendo uma característica do mundo moderno amparado no desenvolvimento da economia monetária. O dinheiro, segundo ele, acarreta possibilidades para que os interesses individuais se sobreponham ao coletivo e, com isso, contribui para o surgimento de um tipo específico de amor como esfera pertencente exclusivamente ao indivíduo, gerando conflitos na relação de conjugalidade.

Segundo Araújo (2002), em torno do ideal de conjugalidade instaurado, criaram-se expectativas e idealizações, entre elas a ideia de casamento como lugar de felicidade onde o amor e a sexualidade são fundamentais. Desde então, a instituição casamento, moldada pelas determinações econômicas, sociais, culturais, de classe e gênero têm assumido inúmeras formas. Ela continua discorrendo que hoje, os mesmos movimentos de mudança levaram os casais a reverem suas idealizações sobre o casamento, o amor e a sexualidade. Novas formas de amar e se relacionar estão sendo construídas para responder as exigências de uma sociedade onde os valores e as regras econômicas e sociais estão sempre em mutação.

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têm como base a igualdade e os princípios democráticos. Giddens discorre sobre o tema e lança mão de três categorias básicas que são :

- O amor confluente como sendo mais real que o amor romântico, por não se pautar pelas identificações projetivas e fantasias de completude. Presume igualdade na relação de trocas afetivas e no envolvimento emocional. O amor confluente introduz erotismo no cerne do relacionamento conjugal e transforma a realização do prazer sexual recíproco em um elemento chave na manutenção ou dissolução do relacionamento. Desenvolve-se como um ideal em uma sociedade onde quase todos têm a oportunidade de se tornarem sexualmente realizados. Ao contrário do amor romântico, o amor confluente não é monogâmico, - A sexualidade plástica é uma sexualidade descentralizada, liberta das

necessidades de reprodução. Tem origem na tendência à redução da família, iniciada no final do século XVIII, e desenvolve-se mais tarde com o movimento contraceptivo com as novas tecnologias reprodutivas. A emergência da sexualidade plástica é fundamental para a emancipação implícita no relacionamento puro assim como para a reivindicação da mulher ao prazer sexual.

- O relacionamento puro é um relacionamento centrado no compromisso, na confiança e na intimidade. Implica em desenvolver uma história compartilhada em que cada um deve proporcionar ao outro, por palavras e atos, algum tipo de garantia de que o relacionamento deve ser mantido por um período indefinido. É um relacionamento diferente da idéia de casamento como condição natural, cuja durabilidade pode ser assumida como certa, exceto em algumas circunstâncias extremas.

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Nesse tipo de relacionamento, o que conta é a própria relação, e a sua continuidade depende do nível de satisfação que cada uma das partes pode extrair da mesma.

As origens do relacionamento puro, segundo Giddens (1993), podem ser encontradas na ascensão do amor romântico, que criou a possibilidade de estabelecer um vínculo emocional durável. No entanto para o autor, embora o amor romântico suponha uma igualdade de envolvimento emocional entre duas pessoas, durante muito tempo as mulheres foram mais afetadas pelos seus ideais, sendo conduzidas pelos sonhos do amor romântico levando-as a uma severa sujeição doméstica. O ethos do amor romântico teve um impacto duplo sobre a situação das mulheres, pois além de ajudar as mulheres a centralizar a dedicação ao lar e a família, reforçou o compromisso com o machismo ativo e radical da sociedade moderna.

Para Giddens (1993), os ideais do amor romântico começaram a se fragmentar com a emancipação sexual e a autonomia feminina. O declínio do controle sexual dos homens sobre as mulheres colocou possibilidades de transformações da intimidade entre os casais. Embora a intimidade possa ser opressiva se for encarada como uma exigência de relação emocional, ela pode, no entanto, ser considerada como uma negociação transacional de vínculos pessoais estabelecida pelo casal. “A intimidade implica uma total democratização do domínio interpessoal, de uma maneira plenamente compatível com a democracia na esfera pública.” (GIDDENS, 1993, p. 11).

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Segundo Giddens (1993), a intimidade passa necessariamente por uma análise de gênero. Para o autor, os homens têm mais problemas com a intimidade do que as mulheres. A intimidade segundo ele é acima de tudo uma questão de comunicação pessoal, com os outros e consigo mesmo, em um contexto de igualdade interpessoal. Ele continua discorrendo que as mulheres tiveram um papel fundamental ao preparar o caminho para a expansão da intimidade através de disposições psicológicas gerando mudanças materiais e sociais nas relações de gênero.

Para Badinter (1986, p. 314), o amor ideal é a experiência emocional “[...cuja primeira virtude é proteger-nos contra a solidão...]”. A autora afirma que essa regra do jogo amoroso vem sendo destronada pelos costumes atuais. Vivemos numa cultura narcísica, inibidora da experiência amorosa. Aprendemos a “querer tudo” porque nos julgamos uma totalidade que não pode apresentar “fraturas”. O outro só é desejado se enriquece nosso ser. Se, ao contrário, nos pede sacrifícios, é rejeitado de pronto. O eu, continua Badinter (1986), tornou-se o nosso mais precioso bem, pois tem, ao mesmo tempo, valor estético, econômico e moral. Outrora, era, mal-educado falar de si e repreensível fazer de si o fundamento de sua existência. Era necessário, a qualquer preço, deixar passar o sentimento de que o Outro era mais importante do que Eu. As novas gerações não exploram tanto o Outro, mas sim a si próprio tanto quanto possível.

Sendo assim, “Os objetivos mudaram radicalmente, não pensamos senão em gerir o tempo de vida e utilizar todas as nossas capacidades. Deixar escapar algumas destas potencialidades é um crime imperdoável contra o novo capitalismo do Eu”. (BADINTER, 1986, p. 269)

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valores e das novas formas de convivência conjugal, a tendência da sociedade é tornar-se cada vez mais flexível para acolher as novas configurações das relações amorosas.

Com a nova lei, o divórcio significa a dissolução do casamento, ou seja, separação do marido e da mulher conferindo às partes o direito do novo casamento civil.

Segundo Gomes (2000), para o entendimento dessa realidade pós-moderna é preciso criar uma “desconstrução” do conceito de casamento atrelado à constituição de uma família, já que o desenvolvimento da ciência permite a possibilidade da concepção “in vitro”, o que gera novos padrões de estrutura familiar.

Para Bauman (2004), a concepção dos relacionamentos se evidencia na emergência da superficialidade na relação afetiva, caracterizada pela paixão intensa, porém efêmera. Essa é a concepção do que ele denomina amor líquido, como reflexo da fragilidade dos vínculos humanos na contemporaneidade, caracterizados por conflitos em querer aumentar o vínculo e ao mesmo tempo mantê-los na superficialidade. Segundo Bauman (2004), os casamentos tornam-se mais fugazes e frente às dificuldades da vida conjugal é mais comum a dissolução do vínculo do que a perseverança na busca de alternativas para a resolução de estreitar o vínculo afetivo com o cônjuge.

As expectativas com relação ao outro, citando Simmel (1971), estão relacionadas ao desejo de ter o outro por inteiro e à tentativa de intimidade por completo entre os casais. Segundo Simmel, são propulsoras de conteúdos psicológicos latentes em que a satisfação da entrega total pode produzir sensação de esvaziamento psicológico. O que aumenta as expectativas com relação ao outro com uma extrema idealização do cônjuge, assim como um super exigência com relação a si mesmo, sendo geradores de tensão e conflito entre o casal.

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casamento, com o qual o casal se compromete com a monogamia ou propõe uma discreta poligamia. Desde que não sejam ultrapassadas as normas de conduta sociais do casamento estabelecidas pelo contexto cultural e pelo casal.

Para o Tribunal de Justiça de São Paulo, no autor do processo n 2011/0079349-3 o dever de fidelidade recíproca é importante porque:

O casamento que obriga cumprir o dever legal da fidelidade é aquele que se alimenta na aliança protegida pela honestidade e pelo comportamento social pautado na ética e pela boa-fé, valores que quando se discute a culpa unilateral: A fidelidade somente existe quando é mútua e quando é compartilhada com a mesma intensidade.

A partir do século XVIII, quando o amor romântico se torna o ideal de casamento, o erotismo introduz outro aspecto, colocando à prova a duração do casamento. O amor paixão em geral não dura, o amor conjugal ligado a ele também não dura. O divórcio então, passou a constituir uma possibilidade, não como forma de reparar o erro, mas como a sanção normal de um sentimento que não pode nem deve durar e que deve dar lugar à relação seguinte, que segundo Ariès (1978), é uma das principais características do casamento moderno, constituindo-se como o grande desafio que os casais modernos enfrentam e que os leva a definir expectativas e idealizações sobre o casamento.

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para a ordem da sexualidade. Segundo o autor, a família além de manter o equilíbrio do corpo social se tornou um lugar obrigatório dos afetos, dos sentimentos, do amor, além de ser também o principal ponto de eclosão da sexualidade.

Foucault (1979), apresenta a concepção moderna de sexualidade ao designar uma série de fenômenos que englobam tanto os mecanismos biológicos da reprodução como as variantes individuais e sociais do comportamento, a instauração de regras e normas apoiadas em instituições religiosas, judiciárias, pedagógicas e médicas e também as mudanças no modo pelo qual os indivíduos são levados a dar valor a sua conduta, seus deveres, prazeres e sentimentos. Considera a sexualidade como uma construção social que engloba o conjunto dos efeitos produzidos nos corpos, nos comportamentos e nas relações sociais. É a sociedade e a cultura, segundo Foucault (1979), que designam se determinadas práticas sexuais são apropriadas ou não, morais ou imorais, saudáveis ou não. A história da nossa concepção de corpo e sexualidade é a história dos sistemas de valores fundamentais em cada sociedade.

Aspectos tais como sexo, fidelidade e dinheiro constituem a relação conjugal e seu funcionamento precisa estar adaptado à forma como cada casal constrói sua conjugalidade com seus valores e idealizações. As alterações vividas nesses aspectos constituem riscos à continuidade do casamento, caso o casal não encontre formas de conviver com as novas situações.

Gomes (2000; 2003), em seu trabalho de análise da dinâmica do casal ante o surgimento de conflitos entre o casal, aponta as dificuldades no estabelecimento dos papéis do homem e da mulher nos casamentos atuais. O homem, segundo Gomes (2000; 2003), se torna frágil perante uma sociedade competitiva e estressante, na qual vai ficando cada vez mais difícil desempenhar o papel de provedor da família pelas condições socioeconômicas e não somente pela disputa da mulher no espaço externo do lar. A mulher também entra em sérios conflitos na escolha entre a maternidade e ou ascensão profissional, o que permite, hoje, o estabelecimento de casamento sem filhos, por opção pessoal.

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interesse, de ser menos importante, de projetos comuns e de sexualidade na busca de “vida de casal” diante da realidade que se apresenta.

Do ponto de vista jurídico coloca-se a questão do casamento, em primeiro lugar à luz das teorias jurídicas do contrato, mas vamos tratar do tema sumariamente. Em seguida aborda-se a questão do casamento na teoria da perspectiva teórica e analítica da relação intersubjetiva e social que estabelece vínculos afetivos e de convivência que se denomina de família.

O Código civil de 2002 disciplinou o instituto a partir do artigo 1.511, estabelecendo o matrimônio como gerador de comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres entre os cônjuges. Tem como finalidade a instituição da família matrimonial, a procriação dos filhos, a legalização das relações sexuais, a prestação de auxílio mútuo, o estabelecimento de deveres entre os cônjuges, a educação da prole, a regularização de relações econômicas e legalização de estados de fato.

O Direito de família está no Código Civil / 2002, artigos 1511 1783 e consiste em três Naturezas Jurídicas:

1- Teoria Contratual: o casamento é um contrato, pois acontece de acordo com a vontade do homem e da mulher.

2- Teoria Eclética: é a teoria dominante, pois considera o contrato como um ingresso à instituição social.

3- Teoria Institucionalista: o casamento é uma organização social, preestabelecida como modelo vigente.

A Carta Magna no art. 226 definiu os modelos mais comuns de entidades familiares, sendo estes a família mono parental, composta por um dos pais e sua prole, o casamento civil e religioso com efeito civil, nos termos da lei, e a união estável entre homem e mulher

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capítulo os deveres dos companheiros, quais sejam a lealdade, o respeito e assistência e o de guarda.

O Direito de Família brasileira, segundo Cachapuz (2003, p. 90)

Baseia-se em normas de Direito Público e Privado que trata a família como um organismo social e intermediário entre o Estado e o indivíduo, o que limita a autonomia da vontade e impõe ‘normas cogentes, objetivando uma regulamentação uniforme para as relações que se estabelecem no âmbito do direito de família’.

2.2 O CASAMENTO COMO CONTRATO JURÍDICO E EM SUA COMPLEXIDADE SOCIAL

A relevância institucional do casamento para Berger e Kellner (1970 apud FÉRES-CARNEIRO, 1987), é a de criar para o indivíduo uma determinada ordem, para que ele possa experimentar a vida com sentido, através do diálogo com pessoas significativas. O casamento é uma dessas relações validadas pelos adultos em nosso meio cultural. Apresenta complexidade pelo fato de dois estranhos com passados individuais diferentes, se encontrarem e definirem um projeto comum. Por ser socialmente legitimado o casamento é prescrito desde a mais tenra idade de cada um nas imagens e discursos ao longo da vida, pelas regras sociais e familiares passadas de gerações a gerações. O casal encerra a realidade subjetiva do mundo, confirmando e reconfirmando a realidade objetiva internalizada por eles. Assim, o casal constrói não somente a realidade presente, mas ressignifica a realidade passada, originando uma memória comum que integra os dois passados individuais.

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que as famílias faziam para servir de base a alianças, dentre as quais a reprodução, cuja importância se sobrepunha ao amor e à sexualidade.

As grandes mudanças, segundo Ariès (1978), se iniciam com a modernidade, com a valorização do amor individual presente na ideologia burguesa que estabelece o casamento por amor, amor-paixão, com predomínio do erotismo na relação conjugal. Esse novo ideal impõe aos cônjuges que se amem ou que pareçam se amar e que tenham expectativas a respeito do amor e da felicidade no casamento.

O casamento é motivo de questionamentos, em função das transformações nas suas características. Do modelo considerado tradicional no qual os casais passavam através do processo de namoro até chegar ao casamento às diversas formas de casamento atuais, as mudanças nos papéis conjugais e nas expectativas frente ao casamento originaram formas atuais de casamento e novas expressões na forma de relacionamento entre os casais.

Para Araújo (2002), a instituição casamento, constituída ao longo do tempo, tem sido moldada pelas determinações econômicas, sociais, culturais, de classe e gênero.

O casamento traz implícita em sua conceituação uma série de características questionadas na contemporaneidade. O conceito de casamento traz em sua concepção pressupostos da formalidade, da união heterossexual, do estado de aptidão e competência do casal e da necessidade de autorização civil podendo ou não receber autorização religiosa o que depende da relação do casal e ou da família com a religião a que estiver ou estiverem ligados por afinidade ou ideologia.

A visão do casamento atual decorrente da evolução social, da emancipação feminina, da revolução sexual, do aperfeiçoamento dos métodos anticoncepcionais e das técnicas de reprodução, entre outros fatores, modificou o conceito e a posição ocupada pelo casamento em nosso contexto.

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sexualidade, na reprodução e no trabalho. As mulheres estão optando por casar e ter filhos mais tarde, priorizando a vida profissional.

Para Carter e Mc Goldrick (2001), há um prolongamento da fase de adulto jovem, que no contexto do sociocultural médio brasileiro, parece estar associado à dificuldade de inserção no mercado de trabalho.

Uma pesquisa realizada em Porto Alegre por Zordan, Falcke e Wagner (2009) com jovens, de nível socioeconômico médio, cursando escolas particulares e públicas, constatou-se que o casamento já não ocupa um lugar de destaque entre os projetos de vida dos jovens. Seus planos estavam mais voltados para a busca de felicidade da realização pessoal e da realização profissional.

A conjugalidade contemporânea adota como ideal a preservação da autonomia individual criando espaços para a individualidade com preservação do tempo e / ou espaço compartilhados.

Na prática clínica psicoterápica da pesquisadora, seja no atendimento individual ou de casais, observa-se que muitas das queixas apresentadas pelos indivíduos estão associadas a problemas de relacionamento, envolvendo os filhos, a discrepância existente entre a idealização e a realidade da vida a dois, os tipos de escolhas amorosas, as separações e divórcios. Todas essas situações têm um denominador comum, que é a impossibilidade de perceber o outro como ele é, como alguém diferente, de maneira a gerar um relacionamento livre de tantas projeções e fantasias, que promovam uma vivência de respeito à coexistência de subjetividades de cada um dos cônjuges.

Sendo assim, na construção do casamento, assim como na separação, vários componentes fazem parte na elaboração de tais processos, considerando-os objetos de representações sociais.

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Também para Andolfi, Ângelo e Saccu (1995), os valores e as funções que cada indivíduo traz de suas famílias são transmitidos, assim como as características que devem estar presentes no parceiro escolhido. Segundo ele, há um processo de identificação na escolha conjugal. Ao tomar como modelo os pais, o indivíduo constrói um modo de se relacionar com o parceiro. A família de origem descreve como os filhos aprendem padrões de interação, expectativas, atitudes, orientações e conceitos considerados funcionais ou não funcionais. Essas aprendizagens têm conseqüências, que podem interferir nos comportamentos e nas escolhas destes indivíduos, em seus relacionamentos íntimos.

Féres-Carneiro (2005), apresenta a coexistência de modelos tradicionais de casamento e novas formas de relacionar-se construídas para responder as exigências econômicas e sociais, sempre em mutação. Historicamente, o surgimento do casamento como instituição esteve ligada à regulamentação das atividades biológicas, tais como a reprodução e o sexo.

Segundo Sarraceno e Naldini (2003), durante muito tempo o casamento assumiu a função de legitimar a perpetuação da espécie. Ao longo da história, no entanto, o casamento assumiu outras funções de ordem econômica e social. A evolução social, a emancipação feminina, a revolução sexual, o aperfeiçoamento dos métodos contraceptivos e das técnicas de reprodução aliados a várias mudanças econômicas, sociais e culturais têm provocado mudanças na posição do casamento em nosso contexto.

O que caracteriza o casamento do século XXI é a pluralidade de modelos de conjugalidade. Gomes (2003) afirma que o casamento na Pós-Modernidade deve estar ligado a uma noção de mudança, transformação, flexibilidade em relação ao novo e ao diferente, destacando que esse deve constituir-se num espaço de desenvolvimento interpessoal e de criatividade. No âmbito da Psicologia, ainda se considera a importância do casamento para o bem - estar das pessoas, colocando-o como uma das tarefas da vida de adulto (CARTER; MC GOLDRICK, 2001; ERIKSON; ERIKSON, 1998; FÉRES-CARNEIRO, 2003).

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estão iniciando sua vida sexual mais cedo e casando-se mais tarde, permanecendo mais tempo na casa dos pais.

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3 A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE SERGE MOSCOVICI

De acordo com Moscovici (2003), o conceito de representação social deriva do conceito de “representação coletiva” de Durkheim (1986 apud MOSCOVICI, 2003). Desse modo, ele afirma sua filiação em relação à sociologia de Durkheim. No entanto defende, em relação a ela, algumas diferenças.

Durkheim (1986 apud MOSCOVICI, 2003), propôs através do conceito de representações sociais, uma matriz subjacente às nossas crenças, conhecimento e linguagem. Neste ponto há uma aproximação entre o conceito de Durkheim e o de Moscovici. No entanto, como Durkheim (1986 apud MOSCOVICI, 2003), estava preocupado em estabelecer a sociologia como uma ciência autônoma, ele acabou defendendo uma separação radical entre representações individuais e representações coletivas. Segundo ele, caberia à Psicologia o estudo das primeiras, enquanto a sociologia ficaria encarregada de estudar as últimas. Ao separar as representações individuais das representações coletivas, Durkheim (1986 apud MOSCOVICI, 2003), acabou impossibilitando que os processos de transformação e mudança das representações coletivas fossem examinados. É importante destacar, contudo, que a questão da dinâmica de transformação das representações não era foco de interesse de Durkheim (1986 apud MOSCOVICI, 2003).

Através do conceito de representações coletivas o autor queria apenas explicar como a sociedade se mantém coesa, como ela se conserva. É Moscovici (2003), que com o conceito de representações sociais começa a interrogar sobre a dinâmica e transformação das representações.

Moscovici (2003) quer entender e explicar como as coisas mudam na sociedade. Portanto diferentemente de Durkheim, que parte das representações coletivas para explicar a sociedade, Moscovici (2003) explica o processo de construção das representações sociais.

Segundo Duveen (2003, p. 15):

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diferenças refletem uma distribuição desigual de poder e geram uma heterogeneidade de representações.

Para Durkheim (1986 apud MOSCOVICI, 2003), as representações coletivas teriam uma existência concreta, uma “materialidade” que se manifestaria não apenas no comportamento dos membros de uma sociedade, por meio da socialização e de assimilação de valores, mas sim na estrutura jurídica e organizacional de uma formação social, nos mecanismos de controle social, nos critérios e formas de sanção e recompensa. As representações coletivas dariam sustentação a uma moral específica, “necessária ao corpo social”, materializando-a, objetivando-a e naturalizando-a. Desempenhando, assim o papel de aplacar ou eliminar a contradição entre o individual e o coletivo, mantendo ordem e equilíbrio social.

Durkheim (1986 apud MOSCOVICI, 2003), define uma linha rígida entre o individual e o social, com prevalência do segundo sobre o primeiro, na explicação dos fenômenos e da ação social. A construção na interação social é negligenciada. O tema é abordado exclusivamente em termos de “reprodução” e a “produção” de significados fica como lacuna. O plano simbólico torna-se assim, tão pouco dinâmico quanto pouco conflituoso. Se dá entre indivíduo e sociedade de forma meramente conceitual.

Para Perrusi (1995), Moscovici apropriou-se do conceito durkhemiano, modificando-o e utilizando-o como conceito fundador de um novo continente de pesquisas. Ele continua discorrendo seus pontos de vista:

- Retirou do conceito de Durkheim o peso da ontologia social, mudando seu campo de aplicação agora situado a meio caminho entre o social e o psicológico;

- Inscreveu no conceito uma consistência cognitiva bastante acentuada; - Delimitou especificamente o seu campo de ação, ou seja, o cotidiano; - Especificou a representação como uma forma de conhecimento particular,

relacionada com o senso comum, com a interação social e com a socialização.

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mesmo, mas apenas em relação ao sujeito (indivíduo ou grupo); é a relação sujeito objeto que determina o próprio objeto. Ao formar a representação de um objeto, o sujeito, de certa forma, o constitui e o reconstrói em seu sistema cognitivo, de modo a adequá-lo ao seu sistema de valores, o qual, por sua vez, depende de sua história e do contexto social e ideológico no qual está inserido.

A ruptura com a clássica dicotomia entre objeto e sujeito do conhecimento que confere consistência epistemológica à teoria das representações sociais leva a concluir que o objeto pensado e falado é, portanto, fruto de atividade humana, ou seja, uma réplica interiorização da ação.

Para compreender o casamento e a separação, a presente pesquisa, por meio da teoria das representações sociais, busca conhecer o que pensam as pessoas casadas sobre questões que originam e mantém o casamento. Acessar a realidade das representações é apreender um conhecimento que está no campo das comunicações, das interações, dos valores e das ideias presentes na sociedade compartilhadas pelos grupos. O conceito de representações sociais na Psicologia foi mencionado, pela primeira vez por Serge Moscovici, em seu estudo seminal sobre a representação social da psicanálise difundido em 1961. Nessa obra, Moscovici tenta compreender de que forma a psicanálise é ressignificada pelos grupos populares. Moscovici (1978) resolveu desenvolver o estudo das representações sociais na psicanálise por sua crítica aos pressupostos positivistas e funcionalistas das demais teorias que não davam conta de explicar a realidade em outras dimensões, principalmente na sua dimensão históricocrítica e pela ótica do senso comum.

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Nesse contexto, segundo Moscovici (2003), a representação é produzida através da interação e comunicação e sua demonstração está sempre ligada aos interesses que estão neles implicados. O conhecimento, por sua vez emerge do mundo onde as pessoas se encontram e interagem, das necessidades e desejos da expressão, satisfação ou frustração. Por isso, esse conhecimento nunca é desinteressado, ao contrário, ele é sempre produto de um grupo específico de pessoas que se encontram em circunstâncias específicas.

Assim, o estado dos fenômenos de representações é simbólico, estabelece-se em um vínculo, construindo uma imagem, evocando, comunicando e partilhando um significado por meio de algumas proposições transmissíveis e dessa forma vai formando um clichê que se torna um emblema.

Moscovici (1976), em sua perspectiva metodológica elaborou dois conceitos, objetivação e ancoragem, fundamentais na formação de uma representação social, ao mostrar que a gênese de uma representação social implica em uma atividade de transformação do não familiar, de um saber (um saber científico), em outro saber (um saber de senso comum útil ao grande público). Ele elaborou estes dois conceitos para explicar como se processa esta atividade.

Considerando o casamento como objeto de representação social, a proposta teórica de Moscovici (2011) transforma tal conceito em imagens concretas e significativas através dos processos sócio-cognitivos que atuam dialeticamente, na formação das representações sociais: a objetivação e a ancoragem.

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homogeneização reificadas as quais são mediadas pela realização de ações concretas, basicamente resistentes a mudanças.

O conceito de ancoragem proposto por Moscovici (2011) classifica o casamento como objeto da representação através de um sistema de valores que lhe é próprio, denominando e classificando-o em função dos laços que o objeto mantém em sua inserção social. O casamento passa a fazer parte de um sistema de categorias já existentes, mediante alguns ajustes, considerando o contexto socioeconômico e cultural no qual está inserido.

Pelo processo de ancoragem, a sociedade transforma o objeto social em um instrumento que ela pode dispor, e este objeto é colocado sobre uma escala de preferências nas relações sociais existentes. Podemos dizer que a ancoragem transforma a ciência em um quadro de referência e em rede de significações (MOSCOVICI, 1978; 2011, p. 170-171).

A ancoragem segundo Moscovici (2011), tem um papel fundamental no estudo das representações sociais e no desenvolvimento da consciência, Consiste no processo de integração cognitiva do objeto representado para um sistema de pensamento social preexistente e para as transformações histórica e culturalmente situadas, implícitas em tal processo.

Para Moscovici (2003), as representações são elaborações mentais construídas socialmente a partir da dinâmica que se estabelece entre a atividade psíquica do sujeito e o objeto do conhecimento. Relação que se dá na prática social e histórica da humanidade e que se generaliza pela linguagem. Assim o casamento ganha forma no contexto social, através das diversas maneiras de se tornarem objetos representacionais na sociedade.

Para estudar as representações sociais é indispensável conhecer as condições do contexto em que os indivíduos estão inseridos mediante a realização de uma cuidadosa análise contextual, o que Moscovici (2003) reitera ao afirmar que as representações sociais são historicamente construídas e estão estreitamente vinculadas aos diferentes grupos sócioeconômicos, culturais e étnicos que as expressam por meio de mensagens refletidas nos diferentes atos e nas diversas práticas sociais.

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advindas do senso comum, sempre refletem as condições contextuais dos sujeitos que as elaboram, ou seja, suas condições socioeconômicas e culturais. Daí a importância de conhecer seus emissores não somente em termos de suas condições de subsistência ou de sua situação educacional ou ocupacional. É preciso ampliar esse conhecimento pela compreensão de um ser histórico, inserido em uma determinada realidade familiar com experiências diversificadas, diferenças vivenciais e diferentes níveis de apreensão crítica da realidade.

4 MÉTODO DA PESQUISA

A escolha por trabalhar com a metodologia qualitativa foi devida principalmente a dois fatores: o primeiro porque dá ênfase aos aspectos subjetivos do comportamento humano e tem, por núcleo de atenção, o mundo dos participantes.

Dessa forma, a metodologia qualitativa permite a investigação de sentimentos, opiniões e conflitos dos participantes em profundidade e com maior singularidade em relação a possíveis transformações subjetivas.

Para Minayo (1996), a pesquisa qualitativa responde as questões muito particulares. Ela se preocupa nas ciências sociais, com um nível de realidade que não é quantificado, mas sim, considera, o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos a operacionalização de variáveis.

Ludke e André (1986), apontam cinco características da pesquisa qualitativa. São elas:

1. A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento;

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3. O “significado” que as pessoas dão às coisas e a sua vida representam o foco principal do pesquisador;

4. A análise dos dados tende a seguir um processo indutivo;

5. As abstrações se consolidam basicamente a partir das informações constituídas.

Na pesquisa qualitativa o pesquisador é considerado como um instrutor de informações, na medida em que utiliza os instrumentos de coleta de dados como indutores da interação entre pesquisador e pesquisado. Desta forma, a construção ocorre simultaneamente à produção de informações.

A metodologia qualitativa, segundo González Rey (2005) apresenta o enfoque histórico cultural da epistemologia da subjetividade que começou com o estudo da personalidade e da motivação humana. Vendo-se frente a conflitos e contradições vivenciadas em Cuba com relação à expressão individual, decorrentes da institucionalização de interesses hegemônicos das forças no poder do país, buscou resgatar o sujeito excluído do projeto social que, de alguma forma se reconhecia como sujeito perdido em sua própria vida individual.

O uso de instrumentos, segundo González Rey (2005), representa um momento na dinâmica na qual, para as pessoas pesquisadas, o espaço social da pesquisa se converte em espaço portador de sentido subjetivo.

González Rey (2005) discorre sobre o espaço de pesquisa que gera novas necessidades, o que implica numa relação permanente entre o profissional, o científico e o pessoal no interior desses espaços. Os sistemas conversacionais permitem ao pesquisador deslocar-se do lugar central das perguntas integrando-se em uma dinâmica de conversação que toma diversas formas e que é responsável pela produção de um tecido de informação, o qual implica que com naturalidade forneça elementos que indicam a qualidade da informação que surge.

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Foi utilizado o método qualitativo, sob enfoque de González Rey (2005), com quatro casais, casados há pelo menos 3 anos, com idades entre 35 e 55 anos, com filhos em idades variadas. Um dos objetivos específicos, é o de desvelar os motivos que originaram o enamoramento, a forma como vivem, a rotina do casamento e os motivos que fazem com que permaneçam casados. Buscou-se, portanto, os conteúdos intra e interpessoal vivenciados na produção do enamoramento. As perguntas versaram sobre a forma como se conheceram e os motivos que lhes despertaram o interesse para o enamoramento. Nas questões relacionadas ao cotidiano da vida dos casais as perguntas trataram das questões sobre filhos, sexualidade, vida social e familiar e dinheiro. Quanto aos motivos que fazem com que o casamento continue, as perguntas trataram da forma como elaboram os conflitos, a vida na conjugalidade e na família.

Os pontos de vista subjetivos, foram coletados através das entrevistas semi-estruturadas e as análises possibilitaram a pesquisadora observar, descrever, compreender e atribuir significado aos temas abordados em contínua interação com os participantes.

A classificação, análise e categorização no processo de análise dos dados buscou dar um sentido ao conteúdo de significados através de categorias que possibilitaram a narrativa analítica.

A proposta de González Rey (2005) oferece especificidade a um posicionamento epistemológico em relação ao estudo da subjetividade que em sua definição ontológica é considerada como um sistema de produção e de organização de sentidos e permeia todas as atividades humanas, sendo objeto de todas as áreas da psicologia, as quais se relacionam entre si nessa produção.

Para González Rey (2005), a condição de sujeito atualiza-se permanentemente na relação produzida a partir das contradições entre suas configurações subjetivas individuais e os sentidos subjetivos produzidos em sua interação nas atividades compartilhadas nos diferentes espaços sociais.

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subjetivas, segundo González Rey (2005), seriam as responsáveis pelas formas de organização da subjetividade como sistema. É baseado nesse momento empírico que o modelo teórico da subjetividade tem sua expressão. Para González Rey (2005), tal modelo representa sempre uma forma de inteligibilidade sobre a realidade, e não uma correspondência com a realidade vivida do sujeito enquanto registros que não se reduzem aos conceitos produzidos no sistema de conhecimento, o qual deve ter a capacidade de estar inserido nessa realidade e, portanto, constituído nela.

4.1 PARTICIPANTES

A seleção dos participantes foi feita por conveniência, a partir de contatos da pesquisadora. A pesquisa foi realizada com quatro casais, sendo casados há pelo menos 3 anos, com idades entre 35 e 55 anos e tendo filhos de diferentes idades. A escolha dos participantes se baseou na forma como casais com idades diferentes, com níveis socioeconômicos diversos, e que estão em diferentes fases do casamento constroem suas representações sociais do casamento.

4.2 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

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foi dirigido a quatro homens e quatro mulheres, com filhos, com renda familiar diferente entre os participantes, sendo que ambos trabalham. O encontro com a pesquisadora foi realizado separadamente e o questionário elaborado a partir de um perfil de idade, escolaridade, renda familiar, ano de casamento, trabalho e filhos com diferentes idades.

4.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS

Após a avaliação e aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em pesquisa da Universidade Católica, pelo Parecer n/ 14430913.7.0000.0029, foi feito contato por telefone e pessoalmente, com os participantes, convidando-os a participarem da entrevista, bem como foi agendada data, horário e local para a realização da mesma.

Referências

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