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O papel do gestor público municipal na segurança pública

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(1)Revista de Direito Vol. XI, Nº. 14, Ano 2008. O PAPEL DO GESTOR PÚBLICO MUNICIPAL NA SEGURANÇA PÚBLICA. RESUMO José Eduardo Cury Faculdade Comunitária de Campinas unidade 3 jecury@yahoo.com.br. O assunto em questão visa proporcionar um melhor entendimento sobre a participação de gestores públicos no trato com a Segurança Pública nos municípios e o aumento da violência nas cidades, principalmente naquelas que compõem as regiões metropolitanas. Define-se o papel das Guardas Municipais, suas tarefas e anseios. Busca-se posicionar o gestor público municipal no centro de sua sociedade estando apto a reconhecer seus problemas básicos, como por exemplo, a pavimentação asfáltica que permite um deslocamento ágil de viaturas policiais no encalço de marginais ou mesmo a melhoria na iluminação pública dos bairros mais carentes. Discute-se sobre a necessidade de maiores investimentos em equipamentos de segurança e na integração das instituições policiais com a comunidade e o terceiro setor. Palavras-Chave: Gestor municipal, segurança pública, investimentos, integração e comunidade.. ABSTRACT The subject in question aims to provide one better agreement about the participation of public managers in the treatment with the Public Security in its city and the increasing of the violence in the cities mainly in those compose the regions metropolitans. It is define about the paper of the Municipal Guards, its tasks and yearnings. One searches to locate the municipal public manager in the center of its society being apt to recognize its basic problems, as for example, the asphalt pavement that allows to an agile displacement the cars of police in the pursuit of delinquents or same the improvement in the public illumination of the quarters most devoid. It is discuss about the necessity of bigger investments in equipment of security and the integration of the police institutions with the community and the third sector. Keywords: Municipal manager, public security, investments and integration and community. Anhanguera Educacional S.A. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP. 13.278-181 rc.ipade@unianhanguera.edu.br Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Artigo Original Recebido em: 05/05/2008 Avaliado em: 04/07/2008 Publicação: 24 de outubro de 2008 71.

(2) 72. O papel do gestor público municipal na segurança pública. 1.. INTRODUÇÃO Desde a constituição promulgada em 1988, conhecida por Constituição Cidadã, os municípios a partir de então considerados entes da federação passaram a ter atribuições cada vez mais relevantes e importantes no aspecto social da comunidade. Por conseqüência houve aumento das transferências constitucionais de receitas aos municípios, mas, em contrapartida, alguns serviços que até então estavam sob única responsabilidade do Estado recaíram sob o encargo desses municípios, implicando um razoável aumento das despesas que comprometeram os orçamentos, principalmente no tocante aos investimentos básicos necessários. O Coordenador de Articulação Político-Institucional do IBAM - Instituto Brasileiro de Administração Municipal, François E.J. Bremaeker em um texto explicativo sobre o tema “Pacto Federativo”, faz o seguinte comentário sobre o assunto: [...] muito embora os municípios tenham conseguido um significativo aumento das transferências constitucionais, a ampliação dos seus encargos e daqueles transferidos pela União e pelo Estado vem fazendo com que os ganhos financeiros tenham se tornado insuficientes para garantir a prestação de todos os serviços que acabam ficando sob responsabilidade do poder local.. Dentre esses serviços está a segurança pública que antigamente era exclusivamente prestado pela União e Estados, por intermédio das instituições policiais, nos âmbitos federal e estadual, militares e civis, inclusive nas esferas rodoviária, ferroviária e ambiental, mas, porém, hoje os municípios contam com guardas municipais agindo similarmente às “polícias”, cuja atribuição constitucional concedida é a de proteção dos bens e logradouros públicos, mas vêm sendo ampliada por interpretação, ainda que de forma discutível, para prevenção e combate ao crime. Desta forma os municípios investiram no aumento de efetivo e equipamentos das guardas municipais e organização de secretarias, departamentos ou autarquias. Diante dessas reais mudanças na vida da sociedade e também com a violência ocupando os primeiros postos nas estatísticas, cabe ao gestor público municipal estar capacitado para compreender esses diversos aspectos e então administrar os recursos públicos com competência enquanto se discute um novo pacto federativo visando definir, com clareza, as atribuições de cada ente federado e a correspondente alocação desses recursos. Deverá o agente público estar apto a implantar um novo modelo de gestão administrativa, com responsabilidade social e fiscal, e sensibilidade suficiente para a consolidação de um novo municipalismo neste novo século.. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 14, Ano 2008 • p. 71-88.

(3) José Eduardo Cury. Com essa nova realidade, e a real necessidade de investimentos em segurança pública, os administradores precisam estar atentos às demandas locais e aplicar os recursos disponíveis conforme a sua realidade, com ações governamentais que visem garantir uma melhoria na qualidade de vida da população.. 2.. O CONCEITO DE SEGURANÇA PÚBLICA E SEUS ASPECTOS LEGAIS À VISTA DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL O grande, senão maior dos constituintes, Ulysses Guimarães disse certa feita sobre a Constituição de 1988: “Não é a Constituição perfeita, mas será útil, pioneira, desbravadora. Será luz, ainda que de lamparina, na noite dos desgraçados”. Quis o grande político demonstrar que as eventuais imperfeições contidas na nova carta constitucional não tirariam o brilho dos avanços conquistados, principalmente no tocante aos direitos e garantias individuais do cidadão, daí ser chamada “Constituição Cidadã”. A Segurança Pública está inserida no Título V da Carta Magna, “Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas”, Capítulo III, que no caput do artigo 144º, prescreve: “A Segurança Pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, e exercida para preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio [...]”. Na Constituição do Estado de São Paulo, os artigos 139º e seguintes discorrem no Capítulo III sobre o mesmo assunto, destacando-se a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros, com suas respectivas atribuições. Em ambas legislações há demonstração clara que o espírito do legislador era deixar por conta da União e dos Estados da Federação a incumbência da prestação do serviço de segurança pública, visando prevenir e combater a criminalidade e os criminosos, de forma a garantir ao cidadão uma vida de paz, sem violência, seja a urbana ou doméstica. Entretanto, as mesmas cartas constitucionais, prevêem a organização das chamadas guardas municipais, ou em alguns casos, as guardas civis municipais. O artigo 144º, parágrafo 8º, da Constituição Federal autoriza mediante lei própria a formação de milícias municipais para garantia dos seus bens, serviços e instalações. O artigo 147º da Constituição Estadual de São Paulo é idêntico e praticamente repete a redação da carta magna, mas remete à legislação federal os preceitos básicos de sua formação. Os municípios então, com base nas Constituições Federal e Estadual, criaram suas corporações com previsão legal estatuída nas denominadas Leis Orgânicas Municipais, cabendo aqui um comentário sobre os artigos mencionados, os quais por conta. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 14, Ano 2008 • p. 71-88. 73.

(4) 74. O papel do gestor público municipal na segurança pública. de sua redação falha, ao prisma de alguns estudiosos, não impede explicitamente a ação das guardas municipais no combate ao crime, mas, por outro lado, dá margem a que enquanto zeladores dos próprios municipais ajam inibindo ações de vândalos nos arredores desses locais, porquanto entendem que a via pública é patrimônio do povo e deve ser vigiada. Evidentemente há exageros de interpretação, mas na ânsia em se buscar o “poder de polícia” e garantir a segurança do povo, usam a tática da interpretação “vale tudo”, desde que atenda seus interesses.. 3.. AS GUARDAS MUNICIPAIS NO BRASIL E SEUS ASPECTOS HISTÓRICOS A origem das Guardas Municipais é antiga no mundo todo, e após algumas pesquisas confirma-se esta realidade, como comenta o historiador e pesquisador Benedito Antonio Aparecido de Moraes, em sua obra “Guarda Municipal e Segurança Pública”, quando escreve: Como parâmetro, para confirmar tal afirmativa, buscamos nas Ordenações do Reino de Portugal (Afonsinas de 1447, Manoelinas de 1521 e Filipinas de 1603), assim como em toda legislação relativa à polícia em Portugal, na época e, no Brasil Colonial.. Em alguns países europeus, à época, os bairros eram policiados pelos moradores, até que com o passar do tempo foram criados os Guardas Municipais Policiais. Esses preveniam, investigavam e combatiam crimes em suas áreas de atuação, efetuando prisões inclusive. No Brasil, após a chegada da família real, o modelo europeu da época foi implantado, até que em 26 de março de 1866, em São Paulo, o Presidente da Província, Joaquim Floriano de Toledo sancionou a Lei nº. 23 criando a Guarda Municipal. Há dados controversos obtidos na literatura sobre a organização das Guardas Municipais. O ex-prefeito e atual Deputado Estadual Celso Giglio em sua obra denominada: “Municípios e Municipalismo – História e Desafios para o Século XXI” leciona que as Guardas Municipais foram criadas por força de lei em 07/10/1883 e tinham remuneração fixada pelas Câmaras. Eram ainda subsidiadas por contribuições voluntárias dos moradores dos distritos. Passado um século as Guardas Municipal ou Civil, foram unificadas com a Força Pública Paulista, dando origem à Polícia Militar. Após o advento da Constituição Cidadã, como já mencionado, houve um crescimento no número de Guardas Municipais, mas importa ressaltar que mesmo com a criação facultativa das Guardas Municipais pela atual Carta Magna, o Instituto Brasi-. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 14, Ano 2008 • p. 71-88.

(5) José Eduardo Cury. leiro de Geografia e Estatística - IBGE apresentou resultado da Pesquisa de Informações Básicas Municipais - MUNIC 2001, após coleta de dados em todos os municípios do Brasil, demonstrando que 80% das cidades brasileiras não dispunham de corporações de segurança municipal. Dos mais de 5500 municípios em 2001, somente 1004 tinham guardas municipais constituídas, e distribuídas pelas regiões do Brasil.. 4.. O PAPEL CONSTITUCIONAL DAS GUARDAS MUNICIPAIS Não obstante ao entendimento de que as guardas são instituições criadas para cuidar e zelar pelo patrimônio, há pareceres de juristas, opiniões de estudiosos e propostas de políticos que buscam dar aos guardas um poder de polícia que vise prevenir e reprimir ações delituosas praticadas pelos cidadãos comuns. Este “poder” já é exercido de fato em muitas cidades, por conta de diversos fatores, dentre eles, inclusive, a ineficiência do serviço público prestado por quem deveria, ou seja, o Estado-membro da federação e a própria União. É de se ressaltar que o próprio Código de Processo Penal quando trata “Da prisão em flagrante”, em seu artigo 301º discorre da seguinte forma: “Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito”. Ora, a lei abre um precedente cujo exercício hermenêutico dá margem a considerações controversas. Em primeiro lugar o executor da prisão pode ser qualquer pessoa, ou seja, a autoridade policial, seus agentes ou qualquer do povo. Ora, se qualquer do povo pode, o guarda municipal na pior das hipóteses poderia ser reconhecido como “qualquer do povo”, mas, evidentemente quero crer que antes de ser um “qualquer do povo”, são os guardas agentes da autoridade policial, pois como servidores públicos prestam serviços à comunidade na área da segurança pública. O grande jurista Julio Fabbrini Mirabete, em sua obra “Código Penal Interpretado”, comentando o artigo 327º do mesmo diploma legal, diz: [...] funcionário público alude a todo aquele que exerce função pública, considerada esta a atribuição ou conjunto de atribuições que a Administração confere a cada categoria profissional, ou comete individualmente a determinados servidores para execução de serviços eventuais. Nesse conceito amplo, para efeitos penais são funcionários públicos o Presidente da República, o prefeito municipal, os membros das casas legislativas, o serventuário da Justiça de cartório não oficializado, o guarda municipal, o inspetor de quarteirão etc.. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 14, Ano 2008 • p. 71-88. 75.

(6) 76. O papel do gestor público municipal na segurança pública. Pois bem, se para efeitos penais o guarda municipal é considerado “funcionário público”, não há dúvida de que se trata de agente de autoridade policial, pois presta serviços atinentes àquela área de atuação, a saber, a segurança pública. As Guardas Municipais ocuparam a lacuna deixada pelas polícias em determinadas cidades, dado o número insuficiente de policiais civis e militares nesses municípios e não há como contestar que de fato as guardas municipais existem, tem aumentado seus contingentes, estão presentes em grandes centros urbanos e, portanto tem o direito de buscar, lícita e democraticamente, o poder de polícia pretendido, ainda que restrito ao âmbito territorial do município onde prestam serviços e para determinados crimes, principalmente como querem alguns, aqueles chamados de menor potencial ofensivo. Tramita no Congresso Nacional uma Proposta de Emenda Constitucional, PEC-87/99 de autoria do Senador Romeu Tuma, Delegado de Policia de carreira no Estado de São Paulo, que concede aos guardas municipais além das atribuições atuais, também a proteção das populações, eis aí o que se pode chamar de poder para agir como polícia. O avanço da legislação constitucional se faz notório por acrescer à redação atual as palavras, ”proteção às populações”. O legislador quer permitir que o zelo, a atenção e o serviço prestado pelo Guarda Municipal não sejam tão somente aos próprios e logradouros públicos, mas ao homem e à mulher, à criança e ao idoso, enfim ao ser humano, preservando sua integridade física e a vida. Muito há que se debater sobre o tema, e uma pergunta que não quer calar é: como serão essas novas instituições municipais? Está aí um dos temores dos estudiosos, pois se constituídas com poder de polícia, estas guardas poderiam não tendo o devido preparo, formação e aperfeiçoamento, tornarem-se milícias dos prefeitos e servir impelidas a oprimir a sociedade. Sobre este assunto o Governo Federal editou em fevereiro de 2002, um projeto denominado “Segurança Pública para o Brasil”, e reserva um de seus capítulos para tratar sobre a questão municipal. Aduzem assim os especialistas sobre as guardas municipais, com preocupação, dizendo: Hoje, muitas Guardas não têm metas claras e compartilhadas, não atuam segundo padrões comuns, não experimentam uma identidade institucional, que poderia ser a base para uma auto-estima coletiva elevada, e tampouco têm sido objeto de questionamento ou alvo de propostas reformadoras... sequer dispõem de um organograma bem composto... não têm hierarquia... Não há controle interno ou externo. Não há testes de rotinas ou recrutamento, formação e requalificação. Os equipamentos e a preparação física são precários [...] Os regimes de trabalho [...]. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 14, Ano 2008 • p. 71-88.

(7) José Eduardo Cury. não estão padronizados e não há uniformização nem mesmo no plano do vestuário ou no acesso a armamento [...]. Em resumo, as guardas municipais já constituídas estão desprovidas de um sistema único disciplinado para execução de seu mister. Faz-se necessário uma uniformização no trabalho visando o aprimoramento dos serviços, com vistas à melhoria na prestação de serviços e conseqüente segurança do cidadão. A criação de academias, ouvidorias e até presídios para guardas que descumpram a lei e sejam condenados ou encaminhados preventiva ou temporariamente para o cárcere, são também indicativos para aprimoramento da atividade. Há focos evidentes de resistência a essa idéia, e por conta disso alguns estudiosos passam a discutir se a atual federalização das discussões sobre segurança pública não deveria ser “estadualizada”. O termo “estadualização” refere-se à possível liberdade que os Estados teriam de, onde houver possibilidade, unificar as polícias civis e militares, e assim haver um comando único de ações, com uma polícia uniformizada e outra não, como nos moldes da polícia norte-americana. No mesmo diapasão, uma emenda constitucional autorizaria os Estados a criar suas instituições policiais unificadas e integradas em suas ações, o que poderia fortalecê-las. Também abririam um precedente para que as guardas municipais fossem treinadas e controladas por esta policia unificada, bem como, se reportariam a elas. Na verdade, o que mais importa é reconhecer que se se mantiver “estadualizada” ou se um dia tornar-se “municipalizada”, a segurança pública carece de ações e investimentos que, em sendo aplicadas, reflitam em melhoria de seus serviços e na qualidade de vida da população.. 5.. A MUNICIPALIZAÇÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA A discussão do novo papel das Guardas Municipais agindo como instituição policial, está inserido num contexto maior do que simplesmente o foco da instituição em si. Trata-se da “municipalização da segurança”. Os adeptos desta forma querem seguir modelo similar ao da educação e saúde, pois entendem alguns que com a municipalização da segurança os impostos gerados e arrecadados poderiam ser revertidos para o aparelhamento da “polícia municipal”, desvinculando-se dos constantes pedidos ao governo estadual por mais efetivo e equipamentos para as policias estaduais - civil e militar - e que, não raras vezes, por questões políticas priorizam determinadas regiões do estado. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 14, Ano 2008 • p. 71-88. 77.

(8) 78. O papel do gestor público municipal na segurança pública. em detrimento de outras indubitavelmente mais violentas, principalmente onde estão as cidades que compõe as regiões metropolitanas. O governante local muitas vezes é levado a ir com o se convencionou chamar de “pires à mão”, junto aos governantes estaduais, clamando por socorro por envio de recursos técnicos e humanos, ou seja, viaturas e armas, homens e mulheres para enfrentamento da criminalidade em seu município. O então Prefeito da cidade de São Bernardo do Campo, Mauricio Soares, em seu livro intitulado “A emoção de governar”, dedica um capítulo a demonstrar quais foram suas ações na área da segurança pública, e comenta sobre o assunto, desta forma: A municipalização da segurança pública é um tema recorrente em quase todas as discussões sobre essa matéria. Vou adiantar minha opinião. Sou amplamente a favor da municipalização. Tenho certeza de que o município, por estar mais perto do cidadão, por entender melhor suas necessidades, por ser fiscalizado mais de perto pela população pode, sem dúvida, prestar melhores serviços que o Estado que está distante e que a União que, para a maioria do povo, está em outro planeta. Os melhores exemplos estão na educação e na saúde.. Em regiões metropolitanas e conurbadas o esforço conjunto de prefeitos, vereadores, deputados e sociedade civil é enorme, uma vez que o problema atinge diretamente a todos os municípios envoltos em determinada região, e se não combatido uniformemente ele migra de um lado para o outro mais rapidamente.. 6.. INTEGRAÇÃO DAS FORÇAS DE SEGURANÇA É DEVER DE TODOS Imaginar as forças de segurança legalmente constituídas unificadas sob um único comando está longe da realidade atual da política nacional. Não há consenso por parte do comando das policiais militares e civis, quanto a se unirem em uma só polícia. A polícia civil não abre mão de sua prerrogativa constitucional de ser investigativa, ou seja, a chamada polícia judiciária que age após a prática delitiva e tem por obrigação investigar e esclarecer a autoria do delito. O comando da polícia militar, responsável pelas ações preventivas e ostensivas, acaba interferindo em ocorrências e cria serviços de investigações paralelos, prejudicando o trabalho da polícia civil. Não obstante o Ministério Público aproveita brecha da lei maior para também constituir feitos apuratórios e investigar crimes de maior complexidade, e conseqüentemente invadir área, em tese, de sua não competência. O imbróglio existente acha-se no Supremo Tribunal Federal e dá margem a usurpações de função tendo em vista o espírito da lei e do seu. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 14, Ano 2008 • p. 71-88.

(9) José Eduardo Cury. legislador quando da redação da matéria. Enquanto isso a violência cresce e se aprimora, e a população sofre. Muitos municípios no Brasil já deram exemplo de integração, mas não há um modelo único adotado, portanto, permita-me indicar alternativas. A primeira delas é a organização de Conselhos Municipais de Segurança, contando com a participação da Sociedade Civil organizada, Poder Executivo e Legislativo local, Guardas Municipais, Defesa Civil, Bombeiro, Polícia Civil, Policia Militar, Poder Judiciário, Ministério Público, Ordem dos Advogados do Brasil, Conselhos Municipais, inclusive os relativos à segurança de bairro, e demais organismos representativos das cidades. Evidentemente, não basta sua criação tão somente, mas o compromisso de se reunirem e discutirem as diretrizes de políticas públicas a serem adotadas na cidade, com respeito à segurança do cidadão. Nos governos democráticos e populares é possível colher resultados importantes, inclusive no tocante a busca de recursos junto ao empresariado, tanto aquele de serviços como o industrial. Há municípios que criam Secretarias de Segurança Municipal, que não deixa de ser uma demonstração de atenção especial à matéria, mas muitos implicam em “staff” para abrigar correligionários políticos e podem servir como “cabide de emprego”, pois são escolhidas pessoas despreparadas e desqualificadas para o assunto em questão, que demanda ações próprias para que a sensação de segurança perdure em meio à sociedade. Essa integração proposta demanda o compromisso de haver troca de informações e compilação delas em um único centro, para análise e então definição de ações. A troca de informações entre as instituições de segurança é um meio necessário e eficaz na prevenção e combate ao crime. Abordando o sistema ou centro unificado de informações, as reuniões regulares do conselho poderão detectar onde há maior incidência de crimes por classificação de prioridade. Homicídios em determinados bairros ocorrem por quê? Será que os bares (botequins e similares) não deveriam ser mais bem fiscalizados e até imposto limite de horário para funcionamento? E a segurança escolar? Será que as escolas não precisam de infiltração de agentes para combate aos vandalismos e tráficos de drogas. Sem contar inclusive com a atuação de conselhos tutelares e de prevenção às drogas para orientação específica. E os roubos e furtos de veículos? Não há crescimento dessas atividades por falta de ação conjunta em oficinas clandestinas e desmanches irregulares?. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 14, Ano 2008 • p. 71-88. 79.

(10) 80. O papel do gestor público municipal na segurança pública. São ações que demandam uma única tônica. Ter disponibilidade, sem vaidades, para discutir o problema. Outra questão a ser abordada é: será que segurança se faz só com viaturas, equipamentos e polícia? A resposta é não. Então o papel do novo gestor municipal, moderno e dinâmico, é definir, em conjunto, quais são as ações básicas e complementares para atuação dentro de sua realidade local.. 7.. SEGURANÇA DO CIDADÃO: AÇÕES BÁSICAS E COMPLEMENTARES O Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, que é associada à Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), editou uma entrevista de José Vicente da Silva concedida à revista Livre Mercado, com o seguinte título: “Bandido é assunto para prefeitos - Maior autoridade do Município deveria integrar ações da polícia e população”. O coronel José Vicente é um grande estudioso do tema e profere palestras sobre o assunto e defende explicitamente, com convicção que: “[...] segurança pública não é sinônimo de polícia e normalmente essa questão é debitada exclusivamente ao aparato policial”. Além das ações básicas já mencionadas, adstritas à competência legal de cada instituição, qual seja: a polícia militar de efetuar o policiamento ostensivo, fardado e repressivo nas ruas, visando coibir ações delituosas; a polícia civil de realizar investigações depois de ocorrido o delito e operações de policiamento preventivo especializado, objetivando apurar a autoria do delito; e a guarda municipal em zelar pelo patrimônio público especificamente, integrando-as, há outras ações importantes que demandam baixo custo em comparação ao resultado a ser obtido, com a meta de diminuir a violência com conseqüente melhoria na sensação de segurança do munícipe. Dentre elas, citamos a melhoria na iluminação pública da cidade, pois existem bairros que estão literalmente às escuras em muitos municípios do país. Não há dúvida que uma rua melhor iluminada é motivo para bandido se esconder e o cidadão de bem poder perambular com maior tranqüilidade. O acesso de viaturas e ambulância é mais tranqüilo e a visualização de qualquer uma é mais clara e nítida. A manutenção de áreas particulares e públicas é outra ação relevante, pois não são poucos os municípios que implantaram leis de incentivo aos moradores, com desconto no Imposto Predial e Territorial Urbano para aqueles proprietários de terrenos que mantiverem limpos, sem mato alto, e com muro baixo e calçada, suas propriedades, mesmo quando em construção a moradia. Há alíquotas diferenciadas para ter-. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 14, Ano 2008 • p. 71-88.

(11) José Eduardo Cury. renos baldios em relação a casas construídas e habitadas. Quanto aos espaços públicos as praças com bancos, iluminadas e paisagismo dão um caráter de beleza e “espantam” o mau elemento. Outra ação a ser implantada é a melhoria na sinalização vertical e horizontal das ruas, com placas indicativas de direcionamento a logradouros públicos e acesso a bairros. Os abrigos de coletivos devem ser cobertos e iluminados. Poder-se-ia citar dezenas de outras obras pequenas, mas que dão boa aparência e melhoram o aspecto de segurança. A limpeza urbana dá à cidade um aspecto de município ordeiro e bem comandado. A coleta de lixo feita por cooperativas de reciclagem geram emprego e cidadania. Há cidades que implantam taxa de coleta de lixo e não conseguem mantê-la limpa e nem baixar índices de criminalidade. Por isso as ações devem ser conexas. É evidente o aumento na incidência de vândalos que picham o patrimônio público e casas particulares com suas “artes”, cometendo crime contra o meio ambiente, devendo ser eles punidos, orientados e conscientizados. As ruas pavimentadas melhoram o acesso de veículos, inclusive de viaturas e ambulâncias, complementando essas ações de segurança. Em época de chuvas, ruas esburacadas são empecilhos para chegada de viaturas no atendimento de ocorrências ou no patrulhamento de rotina. Uma atitude correta do gestor público é não permitir loteamentos sem infra-estrutura mínima necessária, como, por exemplo, a pavimentação e conservação de suas ruas. A fiscalização a bares e oficinas de desmanche, casas de jogos ilegais, zonas de prostituição, podem inibir atos delitivos nestes locais. Mas, evidentemente, é importante destacar que as ações devem ser conjuntas. Um policial não tem poder de notificar ou lacrar um “boteco” que vende bebida alcoólica de consumo imediato no balcão. E, por outro lado, o fiscal também não irá notificar sozinho o proprietário e nem lacrar seu estabelecimento temendo ameaças e represálias. Há com certeza marginais envolvidos e o risco de serem esses agentes, alvo de violência é maior. Em casas de jogos e zonas de prostituição é comum a existência de menores de idade sendo corrompidos, daí a importância de se agir em conjunto com conselhos tutelares e o Poder Judiciário. Nas cidades em que são trocadas informações e há conselho atuante, as instituições policiais e guardas municipais podem definir ações de prevenção na entrada e saída de alunos das escolas, coibindo o assédio de traficantes e desocupados. Os postos ou bases operacionais podem controlar o fluxo e tráfego de veículos, inibindo o acesso de marginais, inclusive com câmeras filmadoras e aparelhos de reconhecida tecnologia. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 14, Ano 2008 • p. 71-88. 81.

(12) 82. O papel do gestor público municipal na segurança pública. para identificação deles e obstáculos para impedir fugas. Os equipamentos interligados com centrais podem captar placas de veículos à distância e pesquisar a procedência desses, barrando-os, se for o caso, por intermédio das instituições policiais. Em determinados municípios foram constituídas cabines elevadas para vigilância à distância de pessoas. É de se notar que polícia não se faz só com viaturas e policiais, mas com ações complementares que dão resultado positivo na prevenção e combate ao crime. Basta ao gestor público moderno incrementá-las.. 8.. A VIOLÊNCIA E SUAS CAUSAS SOCIAIS “O país mergulhou na insegurança e no medo. Ninguém está protegido contra a violência. O problema ocupa o centro das preocupações de todos nós e atravessa a sociedade de alto a baixo. Pobres e ricos sofrem com o avanço da violência e da barbárie. Populações inteiras na periferia das grandes cidades vivem sitiadas, sob o domínio de criminosos de todos os tipos, inseguras frente às graves deficiências das corporações policiais”. Este texto corresponde à mensagem do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, datado de 27 de fevereiro de 2002, em Brasília, e está inserido na apresentação do Projeto Segurança Pública para o Brasil, e sintetiza o sentimento de milhões de brasileiro quando abordam o assunto da violência neste país. Um estudo mais aprofundado da violência resulta opiniões diversas quanto aos muitos fatores que a geram e ao mesmo tempo em que estudiosos buscam diagnosticar suas causas, os governantes, verdadeiros gestores da coisa pública, devem estar atento e implantar ações. Há, porém, ações simples e outras demasiadamente complexas. Um simpósio acontecido há alguns anos atrás na Universidade Estadual de Campinas - Unicamp - debateu o tema “Segurança Urbana: Desafio Regional de Nacional”, com representantes de organizações não governamentais, universitários, docentes, grupos religiosos e políticos, além de autoridades constituídas. Um dos participantes, representando as entidades, confirma notícia dada por um famoso jornal da capital paulista, quando resume a questão da violência com a afirmação de que os municípios devem promover a inclusão social das pessoas na sociedade para diminuir as diferenças e então, minimizar a onda de violência. A pergunta é, como levando-se em conta que grande parte dos municípios não dispõe de recursos para investimentos em educação, habitação e saúde?. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 14, Ano 2008 • p. 71-88.

(13) José Eduardo Cury. Outro texto do mesmo matutino revela que uma das grandes preocupações do brasileiro reside no aumento da violência, e constatam que para diminuí-la é preciso combater o desemprego e melhorar o nível de educação. A corrupção associada à morosidade da justiça e conseqüente sentimento de impunidade, são também fatores que geram violência, principalmente por parte dos que levantam a bandeira da desigualdade como causa de injustiça social. A prevenção e o combate ao crime são iniciativas complementares e não excludentes como análise anterior. Entretanto, não se pode responsabilizar tão somente o gestor público municipal por essas ações, que carecem de participação dos demais entes federativos. Contudo, não se podem esquivar de suas responsabilidades. Omitir-se é pior que errar pelo excesso. Errar tentando acertar é indubitavelmente melhor. No plano da educação, ações includentes na orientação e prevenção às drogas são necessárias. Abrir o espaço físico das escolas para o esporte, cultura e lazer também. Desde a infância com a inclusão das crianças em creches, hoje denominadas escolas de educação infantil, além da pré-formação básica de ensino, os professores, monitores e agentes educadores podem formar verdadeiros cidadãos, com senso de responsabilidade e respeito pela coisa pública. Gestos de cidadania serão notados no curso da história. A geração de emprego, mesmo que com incentivos fiscais a empresas de pequeno, médio e grande porte, pode redundar em menos desocupados nas ruas e com a elevação da auto-estima desses cidadãos, a qualidade de vida melhora, inclusive de sua família. O incentivo ao trabalho em cooperativas pode ser a solução para a geração de emprego a famílias de baixa renda e pouco nível intelectual. Políticas municipais de inclusão de adolescentes e jovens em práticas de cultura, lazer e esporte são essenciais, sobretudo se simultaneamente aplicados cursos de formação profissional. A violência tem diminuído o número de anos de vida dos jovens que são hoje a principal vítima de homicídios no país. Em 2003, cerca de 60% das vítimas dos homicídios no primeiro semestre de Campinas estavam na faixa etária de 10 a 29 anos, conforme pesquisa realizada pela Secretaria de Saúde da Prefeitura daquela cidade. Para reduzir esses números que demonstram que a vida dos jovens está sendo abreviada, é preciso que gestores públicos, em conjunto com a sociedade, implantem as ações complementares já explanadas.. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 14, Ano 2008 • p. 71-88. 83.

(14) 84. O papel do gestor público municipal na segurança pública. 9.. A PARTICIPAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS NA SEGURANÇA A expressão: “Não vivemos numa ilha”, é importante para se analisar que com o avanço da criminalidade muitos acabam se enclausurando em suas casas, buscando aparatos de segurança envolvendo o espaço doméstico ou profissional em que se vive, e que aparentemente dão a sensação de segurança particular que deveria haver em todos os espaços públicos. A participação da sociedade é vital para o combate ao crime. Uma das formas é por intermédio das Organizações não-Governamentais, onde membros da sociedade constituem entidades que prestam serviços adicionais na área de segurança pública. É evidente que não só nessa área em específico. Como exemplo pode-se relatar uma entidade não governamental que criou na região de Campinas um serviço de “disque-denúncia”, e em parceria com as instituições policiais encaminham toda sorte de denúncias, críticas e sugestões aos comandantes dessas instituições, que após análise prévia determinam aos agentes que realizem investigações e ações preventivas de combate aos crimes delatados anonimamente na maioria das vezes. A sociedade participa e há inúmeros casos esclarecidos e muitos outros crimes evitados. Outra atividade desenvolvida é conhecida no município de Bragança Paulista, que age na cadeia local, dando assistência jurídica e social aos presos, bem como busca dar atendimento médico a eles e suas famílias, controlar os abusos por conta de direitos humanos eventualmente não respeitados. Tem programa voltado à reinserção desses presos na sociedade após cumprimento de suas penas, e o modelo foi copiado por muitos outros municípios. O poder público subsidia as entidades que prestam o serviço com mais credibilidade e eficiência. Os menores recebem especial atenção das organizações não governamentais e são muitas as entidades que cuidam para que eles não se tornem “meninos de rua”, e assim enveredem-se nos caminhos das drogas, dos roubos e enfim da marginalidade. São oferecidas oportunidades de emprego, estudo, atendimento médico e social à suas famílias, durante períodos do dia. Outras entidades preferem dar acompanhamento durante o período em que esses menores permanecem recolhidos em unidades próprias, recuperando-os para o convívio social.. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 14, Ano 2008 • p. 71-88.

(15) José Eduardo Cury. O gestor público precisa ter sensibilidade para entender que essas entidades são parceiras e criar formas de subsídios para manutenção de suas atividades. A criação de conselhos municipais com autonomia para acompanhar e fiscalizar essas entidades, detectando aquelas que prestam serviços de alcance social é uma forma moderna de administrar os recursos públicos e valorizar a participação popular.. 10. O GESTOR PÚBLICO MUNICIPAL E A SEGURANÇA DO CIDADAO O artigo 29º, inciso XII da Constituição da República Federativa do Brasil, prevê que dentro da elaboração de um planejamento municipal esteja inserida a participação de todos, e assim diz: “cooperação das associações representativas no planejamento municipal”, como preceito para a elaboração das Leis orgânicas Municipais. Assim, o novo modelo de administrar, ou governar é com participação popular. O novo municipalismo é exatamente a concepção da idéia de constituir assembléias, capacitar conselhos, incentivar a participação do povo. O gestor eleito pelo voto ou alçado à condição de funcionário contratado seja por concurso ou por cargo em comissão, deve ser transformado, para atingir esse modelo buscando após deglutir todo conhecimento sobre a realidade local, planejar as ações imediatas e mediatas do governo, ou seja, a curto e longo prazo, começando pelo plano diretor, incluindo o orçamento participativo e uma gestão conjunta de parcerias, onde se possa analisar erros e acertos, com vistas a equacionar os problemas e melhorar a qualidade de vida de todos. Na área da segurança pública, imprescindível a junção dos órgãos e instituições correlatas, principalmente com parcerias dos órgãos públicos com os particulares. O envolvimento da sociedade é salutar para se encontrar soluções para a problemática da violência sejam nos grandes ou pequenos centros urbanos. Com o advento da Lei nº. 101, de 04 de maio de 2001, denominada Lei de responsabilidade na gestão fiscal, o gestor público passou a ter um manual de regras que define como deve, enquanto gestor, gerir os recursos e as despesas públicas. Esta é a grande tarefa na modernização das gestões públicas para os próximos anos. Por conta de péssimas administrações, no decorrer da história do Brasil, diversos municípios ficaram endividados e com sua capacidade de crescimento reduzido. Assim, os novos administradores eleitos que sucediam governos, cujas responsabilidades. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 14, Ano 2008 • p. 71-88. 85.

(16) 86. O papel do gestor público municipal na segurança pública. nos gastos públicos foram desprezadas, se viam em situação crítica e, portanto, desmotivados no decorrer de sua gestão, pois não tinham condições de aplicar suas idéias. Muitas práticas lesaram o patrimônio público e retardaram o crescimento de municípios. Os recursos das cidades eram gastos sem qualquer planejamento. Os orçamentos eram desconhecidos da população e representavam uma “caixa preta” a ser desmistificada. Muitas eram as causas que levavam os municípios à “falência”, dentre elas a prática de nepotismo e clientelismo que se tornaram normais; a contratação de obras e serviços desnecessários ou sem cobertura de fontes de recursos adequadas e orçamentárias; a renúncia de receita, com isenções de impostos concedidos para fins políticos; a falta de cobrança da dívida ativa; o descontrole na arrecadação; a falta de instrumentos adequados de controle para a gestão pública; e ausência de transparência na gestão pública. O Governo Federal disponibilizou, por força desta lei, programas de aperfeiçoamento e modernização das gestões públicas, com destinação de recursos a esses municípios visando o cumprimento da lei de responsabilidade fiscal, sendo obrigação dos executivos municipais adquirirem esses programas e assim aprenderem a utilizar os recursos públicos que dispõem, com planejamento, controle e transparência. Por sinal, essas três palavras, “Planejamento, controle e transparência”, criam uma tricotomia necessária à gestão austera de qualquer administrador público. Numa gestão pública, com ênfase à segurança pública, é prudente que os órgãos se planejem. No artigo 48º da Lei nº. 101/2001, em seu parágrafo único esta transparência é assegurada mediante a realização de audiências públicas, devendo o gestor buscar incentivar sua participação, inclusive quando ainda na fase de discussão e elaboração dos planos orçamentários. O poder legislativo deve, como legítimo representante do povo, acompanhar essas atividades e quando o projeto de lei estiver em seu poder, chamar a coletividade para exposição e apresentação de emendas, bem como fiscalizar seu cumprimento, denunciando ao Tribunal de Contas e Ministério Público as eventuais irregularidades. Um planejamento bem realizado, com estudo de ações conjuntas e participação de entidades e particulares, pode ajudar o gestor público a encontrar soluções para a demanda incontrolável de violência que impera nos nossos dias em todas as camadas sociais.. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 14, Ano 2008 • p. 71-88.

(17) José Eduardo Cury. 11. CONSIDERAÇÕES FINAIS O ex-Ministro Olívio Dutra, militante do Partido dos Trabalhadores, ocupante por diversas vezes de cargos públicos eletivos no Rio Grande do Sul, e que dirigiu no Governo Lula a pasta do Ministério das Cidades, em participação num congresso disse o seguinte sobre o pacto federativo, na relação do estado da federação com o município: “Não vivemos uma relação fictícia do Estado como ente da Federação, mas numa realidade de Município, verdadeiro e palpável ente desta”. As cidades brasileiras são resultado de um crescimento de inchaço, desordenado e formador de bolsões de miséria ao longo dos anos. O povo foi retirado da área rural e colocado na área urbana sem a devida infra-estrutura e preparação. A distribuição de renda é falha, e a riqueza está concentrada na mão de poucos. Tudo isso é devido a uma clara falta de planejamento. Por ausência de gestores públicos preparados para suas habituais funções, qual seja a de gerir com competência a coisa pública, a fim de se alcançar bem estar social. É fundamental que a organização do espaço urbano, por meio do plano diretor, seus destinos, a produção de riquezas e bens, as áreas destinadas a outras finalidades sejam reordenados, como forma adicional de minimizar a incidência de crimes em espaços desorganizados e sem infra-estrutura, onde as instituições de segurança carecem de se desdobrar para dar atenção às pessoas. O novo gestor público deve ter um perfil moderno e inovador. Precisa conceber conhecimento em gestão financeira e orçamentária de uma gestão. Incentivar o orçamento participativo, dentro dos moldes de sua comunidade. Gerir o orçamento com licitações e contratos que não causem danos ao erário. Banir o superfaturamento de obras e serviços, prestando contas de todas elas. Um gestor municipalista sabe reconhecer as limitações de sua arrecadação e obedece aos ditames legais na aplicação dos recursos disponíveis e com teto mínimo como a educação e saúde. Não desperdiça investimentos e busca conscientizar a população sobre a arrecadação tributária em todas as esferas, incentivando-as à fiscalização na emissão de notas fiscais. Planeja o desenvolvimento local, inclusive com ênfase ao turismo ainda que o restrito aos negócios, vinculando-o ao comércio e as empresas a ele. Sabe as potencialidades de cada setor e das virtudes do povo e da geografia local. Um gestor moderno sabe reconhecer também que precisa modificar o perfil antigo de político ou técnico paternalista e patrimonialista, quando se dava ênfase à. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 14, Ano 2008 • p. 71-88. 87.

(18) 88. O papel do gestor público municipal na segurança pública. coisa pública como sendo sua e de mais ninguém não ofertando à comunidade de participar do planejamento do governo de sua cidade, transformando este gestor do passado, em agente moderno que dá oportunidade aos servidores de se envolverem na administração pública e mobiliza a sociedade na participação de cada decisão sobre a vida do município. O moderno gestor é a mistura do técnico, não totalmente burocrata, com o político, não simplesmente populista, mas realizador e empreendedor.. REFERÊNCIAS 15 ANOS CONSTITUIÇÃO CIDADÃ. Revista do PMDB. Publicação da Fundação Ulysses Guimarães. Edição Especial. out. 2003. BISCAIA, Antonio Carlos; MARIANO, Benedito Domingos; SOARES, Luis Eduardo; AGUIAR, Roberto Amando Ramos. Instituto Cidadania. Fundação Djalma Guimarães. Projeto Segurança Pública para o Brasil. 2002. CALIMAN, Auro Augusto. Assembléia Legislativa. Constituição do Estado de São Paulo. anotada e atualizada até 25 de junho de 2002. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado. 2002. GIGLIO, Celso. Municípios e municipalismo: história e desafios para o século XXI. Osasco, SP: Pancrom Indústria Gráfica. 2002. IBGE, Coordenação de População e Indicadores Sociais. Perfil dos municípios brasileiros: gestão pública 2001. Rio de Janeiro: IBGE. 2002. MENDES, Aquiles; MOREIRA, Mariana. Comentários à lei de responsabilidade na gestão fiscal: lei complementar 101, de 4 de maio de 2000. São Paulo: Fundação Prefeito Faria Lima CEPAM. 2001. MORAES, Benedito Aparecido A. A guarda municipal e a segurança pública. Piracicaba, SP: Degaspari Serviços Gráficos. 1995. OLIVEIRA, Juarez. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Organização dos textos, notas remissivas e índices. 3. ed. São Paulo: Saraiva. 1989. PAUTA DE REIVINDICAÇÕES (Manual). VII Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios. Confederação Nacional de Municípios. 2004. SOARES, Maurício. A Emoção de Governar. São Paulo: Impresso Grande ABC Editora Gráfica. 2003.. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 14, Ano 2008 • p. 71-88.

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