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Revisão textual em contexto editorial: Relatório de estágio de mestrado na Relógio d´Água Editores

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Academic year: 2021

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evisão Textual em Contexto Editorial

Relatório de Estágio realizado na Editora Relógio d’Água

Maria Inês Fernandes Rodrigues Cardoso Montenegro

Relatório de Estágio de Mestrado em Edição de Texto

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Agradecimentos

Ao professor Rui Zink pela orientação prestada e constante disponibilidade, inclusive pelos empurrões quando se fizeram necessários.

Ao editor Francisco Vale e à revisora Anabela Prates Carvalho, bem como a toda a equipa da Relógio d’Água, pela orientação editorial, integração, e abertura em colmatar as dúvidas e pedidos apresentados.

À minha família e amigos pela paciência e apoio incondicional. O meu mais sincero Obrigada.

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Resumo

O presente relatório tem como objectivo apresentar o trabalho desenvolvido durante o estágio realizado na editora Relógio d’Água, no âmbito do Mestrado de Edição de Texto da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Com duração de 400 horas, o estágio compreendeu o período entre Setembro e Dezembro de 2019, englobando actividades de revisão textual e de tradução, bem como a observância de demais funções editoriais.

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Abstract

The purpose of the following report is to expound the tasks and responsabilitites developed during the internship at the publishing house Relógio d’Água. This internship was integrated in the master’s degree of Edição de Texto, of Faculdade de Ciências Sociais e Humanas of Universidade Nova de Lisboa. With a total of 400 hours, the internship took place between September and December of 2019, and consisted in proofreading and translation, as long as other editorial duties.

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Índice

Introdução ………...…………... 11

Enquadramento do Estágio ………...………. 13

Tarefas Desenvolvidas ………...……. 14

A venda dos exemplares às livrarias ………...…… 14

Preparação dos e acompanhamento aos lançamentos …………... 16

Tradução de uma obra ………...……….. 18

Demais funções observadas ………...……….. 23

Revisão Textual ………...…….... 24

Enquadramento teórico ………... 24

Revisão e adequação de índices remissivos ………... 26

Revisão vocabular a pedido do autor ………... 28

Revisão de livros já publicados ………... 29

Conferência de emendas ………... 29

Revisão de traduções ………... 30

Equívocos e rectificações gerais ……… 34

A aplicação do Acordo de 1990: excepções consideradas pela Relógio d’Água .… 37 Considerações Finais ... 39 Bibliografia ... 43 Anexos ... 45 Anexo 1 ... 47 Anexo 2 ... 48 Anexo 3 ... 49 Anexo 4 ... 50 Anexo 5 ... 51 Anexo 6 ... 52 Anexo 7 ... 53

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Introdução

Durante os anos 80, Francisco Vale, Fernando Dacosta e Rogério Rodrigues resolveram criar uma editora.1 Diz Francisco Vale que escreveram “um manifesto, daqueles aguerridos... Éramos novos, tínhamos essa atenuante.”2 Assim surgiu a Relógio d’Água, em 1982, uma editora que se tem mantido estável e independente no panorama editorial português, tanto a nível financeiro quanto nas escolhas de catálogo, consistentes com as ideias dos fundadores, dos quais se mantém actualmente Francisco Vale. Deste modo, a Relógio d’Água é hoje considerada pela sua colecção de poesia, pelas escolhas nas publicações de ensaios, e pelo foco tanto em clássicos quanto em autores contemporâneos, que se tenham já evidenciado.

Ao considerar possibilidades para a candidatura de estágio, a aluna privilegiou editoras consideradas médias em detrimento de grandes grupos editorais pela oportunidade, deduz-se, de efectuar uma maior variedade de tarefas. Apesar de o interesse primordial se manter na revisão textual, não descurou a mais-valia e o enriquecimento pessoal que uma aprendizagem mais abrangente do funcionamento de uma editora traria. Simultaneamente, não se pode negar o papel do gosto pessoal nos catálogos editoriais de cada editora considerada.

O presente relatório tem por objectivo apresentar o trabalho efectuado durante o estágio curricular desenvolvido na Relógio d’Água, seleccionar algumas das situações e dilemas práticos enfrentados, bem como as opções e soluções encontradas em resposta, e demonstrar a aplicação prática dos conhecimentos adquiridos ao longo do mestrado de Edição de Texto, facultado pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa. Mais se adianta que a opção pelo estágio, ao invés das possibilidades de dissertação ou de um projecto de mestrado, se deveu tanto ao interesse do desenvolvimento das capacidades práticas, quanto ao de ingressar no mercado de trabalho. A Relógio d’Água, caracterizando-se pelo já acima anunciado, apresentou ainda a vantagem de se tratar de uma editora já estabelecida e considerada pelo público. Ao responder favoravelmente à proposta de estágio apresentada, permitiu o cumprimento dos objectivos anunciados, desenvolvidos no presente relatório.

1http://www.revistaestante.fnac.pt/francisco-vale-me-interessa-na-edicao-um-lado-risco/ (visto a

16/11/2019)

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No que respeita à organização estrutural, o capítulo 1 apresentará um breve enquadramento do estágio; no capítulo 2 abordaremos as tarefas nele desenvolvidas, com excepção da revisão, a qual, tendo sido a função primordial e de maior desenvolvimento, optamos por destacar no capítulo 3; no capítulo 4 abordaremos uma experiência singular no meio editorial português, a adopção do Acordo Ortográfico de 1990, com ressalvas determinadas pela editora. Por fim, desenvolveremos as considerações finais.

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1. Enquadramento do Estágio

O presente relatório aborda o trabalho realizado enquanto parte integrante da equipa da editora Relógio d’Água, com foco em funções de revisão e de tradução. Com a duração de 400 horas de trabalho, o estágio iniciou-se no dia 23 de Setembro e terminou a 6 de Dezembro, de 2019. O horário de trabalho consistiu em oito horas diárias, de segunda a sexta, começando às 9h e terminando às 18h, com o intervalo de uma hora para almoço. Todas as funções foram supervisionadas pela responsável de revisão, Anabela Carvalho, com o apoio do editor Francisco Vale. Realizado no âmbito de mestrado de Revisão Textual, da FCSH da Universidade Nova de Lisboa, o estágio foi orientado pelo professor Rui Zink. Com excepção das tarefas que pela sua natureza exigiam deslocamento a outros locais – vendas às livrarias ou assistência aos lançamentos –, o estágio desenrolou-se na sede da Relógio d’Água, em Lisboa.

Mais se adianta que o período compreendido pelo estágio se revelou de particular movimento editorial, com as respectivas consequências no respeitante a vendas, distribuição, lançamentos, e contactos com as gráficas. Tal deveu-se, na observação da estagiária, à conjunção dos seguintes eventos:

• A marcação de presença da editora no FOLIO – Festival Literário Internacional de Óbidos3, o qual decorreu entre 10 e 20 de Outubro de 2019;

• A atribuição do prémio Nobel da Literatura 2019 ao autor Peter Handke, cujas obras O Chinês da Dor e A Angústia do Guarda-Redes Antes do Penalty se encontram publicadas pela Relógio d’Água;

• A aproximação do período natalício, o qual se repercute num maior fluxo comercial a que o comércio livreiro não é indiferente.

A conjugação destes três elementos traduziu-se num aumento significativo a nível laboral, o que, enquanto permitiu o cumprimento das almejadas funções de revisão textual, dificultou também a disponibilidade desejável a uma orientação mais assídua.

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2. Tarefas Desenvolvidas

Apesar da natureza do mestrado e dos objectivos apresentados pela estagiária aquando a entrevista com a Relógio d’Água se focarem nas funções de revisão – as quais dominaram o estágio e serão desenvolvidas adiante –, tanto as necessidades de momento quanto os próprios interesses da estagiária levaram à expansão das funções realizadas, permitindo assim um alargar de competências e conhecimentos. Deste modo, incluiu-se também no âmbito de aprendizagem funções que, não sendo primariamente consideradas pela população exterior ao meio editorial, se revelam essenciais ao funcionamento editorial enquanto empresa. De entre estas, a estagiária opta por destacar as seguintes, nas quais acompanhou as respectivas responsáveis:

2.1 A venda de exemplares às livrarias

Entre as funções desempenhadas por uma equipa editorial encontra-se a da apresentação de novidades e relançamentos à rede de livrarias em acordo com a editora, com vista à aquisição de exemplares pelos livreiros – em consignação ou não, dependendo dos respectivos contratos – e sua posterior venda ao público. De acordo com as suas necessidades, a Relógio d’Água mantém dois funcionários cuja função primordial é este contacto entre a editora e os livreiros: um baseado no Porto, outro em Lisboa. Ante o pedido da estagiária, foi-lhe permitido acompanhar nestas funções a funcionária responsável pela rede em Lisboa, a qual demonstrou grande abertura no esclarecimento de dúvidas e prestação de explicações.

Naturalmente, o contacto com as livrarias exige uma preparação prévia. É necessário da parte da funcionária um conhecimento geral sobre as novas obras ou relançamentos em catálogo, o qual não se pode reduzir às respectivas sinopses. Apesar de a Relógio d’Água já ter conquistado um lugar de confiança no mercado, são expectáveis questões por parte dos livreiros em relação às novas obras, ou mesmo motivos para dar preferência, por exemplo, à impressão da editora de um clássico já em mercado em detrimento de uma da concorrência. Nesta etapa de preparação é crucial o apoio da equipa editorial, tanto na preparação visual das novidades a apresentar – organização das fichas técnicas, de cujos elementos se destacam capa, autor e sinopse –, quanto na partilha de informações por parte de quem trabalhou mais estreitamente com as obras, ou seja, o editor. Deste modo, é dada possibilidade à funcionária de

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complementar as suas ferramentas de trabalho. Esta seria a situação ideal de trabalho em equipa, a qual, conforme observado e por motivos diversos, nem sempre é possível. Quando tal ocorre, fica ao cargo da funcionária colmatar as possíveis falhas, usualmente através de pesquisa e questões aos revisores. Como é natural, trata-se de uma solução funcional apenas pela desenvoltura da funcionária em questão, e que lhe consome mais tempo laboral, pelo que será de evitar.

O contacto com os livreiros é feito de modo pessoal, havendo um deslocamento por parte da funcionária aos espaços físicos de comércio. De modo a tirar proveito do máximo de tempo possível, a funcionária organiza rotas atendendo à proximidade geográfica entre os locais, aos horários de funcionamento – no caso de grandes casas livreiras consideram-se não os horários de funcionamento, mas sim os períodos de tempo que as próprias determinam para estas interacções –, e os meios de locomoção utilizados, visto que a editora não disponibiliza viatura automóvel. Atendendo à rede alargada de livrarias em acordo com a Relógio d’Água, e aos horários de funcionamento, não é possível à funcionária percorrê-las num único dia, sendo-lhe necessário vários dias “no terreno” de modo a cumprir com a totalidade das suas funções. Podemos concluir, portanto, a existência de uma dependência em relação a elementos exteriores, gerada em particular pelos horários das livrarias e dos transportes públicos. Surge a questão se, a médio e longo prazo, não seria de mais-valia a disponibilização de uma viatura de empresa a ser utilizada no exercício destas funções, tornando os horários mais flexíveis e agilizando as rotas.

Uma vez concluída a preparação, o núcleo da função em mãos exige uma boa capacidade de interacção social. Como já aventado, a funcionária encarregue de apresentar e vender as novidades de catálogo é o elo visível entre a editora e as livrarias; com frequência, torna-se no veículo utilizado pelos livreiros para se exprimirem em relação não apenas aos exemplares – e quantidades – que pretendem adquirir, mas também no que respeita a possíveis campanhas, descontos e parcerias, cuja co-organização fica também a cargo da funcionária, uma vez obtida a concordância do editor. É inegável a importância das capacidades sociais e organizativas, visto que não apenas lida com o elemento humano do comércio, como é também o mediador entre as realidades das livrarias e da editora.

Por fim, uma vez apontadas as vendas feitas a cada livraria, a informação é reencaminhada aos armazéns, a partir dos quais serão entregues os exemplares.

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16 2.2 Preparação dos e acompanhamento aos lançamentos

Face à concorrência do mercado actual e à necessidade constante de divulgação, torna-se imprescindível organizar o lançamento de uma nova obra. Entenderemos neste relatório o lançamento como sendo o evento através do qual se oficializa a divulgação e colocação no mercado de uma nova obra.

Pelo que foi possível observar, o lançamento de um livro é encarado pela Relógio d’Água como um estreitar da relação entre autor e editora, na medida em que existe uma colaboração e comunicação contínuas na organização destes eventos. Visto ser a presença do autor ponto fulcral num lançamento – ou não fosse esse um dos interesses primários do público –, é natural que esta não seja uma ocorrência organizada a todas as novidades de catálogo: ou por serem já clássicos conhecidos do público, ou por se tratarem de traduções cujos autores internacionais não têm possibilidade de se deslocar a Portugal. Ainda assim, durante o período em que se desenvolveu o estágio verificaram-se três lançamentos de autores nacionais e um de autor internacional.

Uma vez mais, ante pedido da estagiária foi-lhe permitido acompanhar este processo, não apenas assistindo aos lançamentos propriamente ditos, mas principalmente informando-se em relação aos seus preparativos. Assim como anteriormente, também a responsável por este sector demonstrou grande simpatia e disponibilidade.

Poderíamos dizer que as únicas constantes de um lançamento serão a existência de um livro, a presença do autor – ou de um dos, caso sejam vários –, e a de um representante da editora. Trata-se, de resto, de um acontecimento de relativa flexibilidade: fora do âmbito do estágio, a estagiária já teve oportunidade de assistir a lançamentos onde se interligou a obra a uma apresentação do subgénero de nicho a que pertencia, onde se procedeu à declamação de poesia dita pelo autor como inspiração ao enredo, ou mesmo com inclusão de uma actuação de uma tuna académica, apenas por ser a autora ainda universitária e o ter requerido, sem outro motivo além do gosto pessoal e da disponibilidade dos envolvidos. No observado durante os lançamentos decorridos durante o estágio a que se refere este relatório ressaltaram os seguintes elementos:

1) Uma introdução tanto à obra quanto ao autor, de período de tempo variável, e que frequentemente se molda consoante a percepção do orador sobre a obra, a qual lhe é previamente facultada para leitura. Não é incomum partir

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do autor a escolha deste orador, atendendo principalmente à sua interligação com a temática da obra, mas também e por vezes a relações pessoais que com ele o autor possa ter. Encontrando-se o editor de acordo, é deste que parte o contacto com o orador, enviando-lhe o convite e, uma vez este aceite, a obra e as informações relativas ao lançamento.

2) Também na leitura de excertos da obra é permitido ao autor uma escolha, acordada pelo editor, seguindo-se as mesmas premissas que as tidas com o orador responsável pela introdução. Podendo coincidir, podem também ser duas pessoas distintas. Um exemplo a considerar ocorreu durante o lançamento de O gesto que fazemos para proteger a cabeça, de Ana Margarida de Carvalho, tendo sido o livro apresentado pelo escritor e repórter Paulo Moreira, com leitura de fragmentos pelo contador de histórias Jorge Serafim, o qual utilizou as ferramentas do seu ofício como enriquecimento à leitura, proporcionando ao público uma leitura onde inseriu canto alentejano, em consistência com o contexto geográfico e social da obra.

3) Antes de se terminar com uma sessão de autógrafos e fotografias, é reservado ainda um momento de interacção entre o autor e o público, durante o qual os presentes têm oportunidade de se exprimir sobre o escutado ou o que já conhecem sobre o autor e sua restante obra, ou ainda de colocar questões sobre a obra apresentada. Entende-se, geralmente, uma certa timidez por parte do público no que respeita à colocação de questões, o que leva a que nem sempre se desenvolva o fluxo desejável neste tipo de interacção. Acreditamos, contudo, que tal se deve mais ao facto de ainda não ter havido oportunidade de ler a obra em lançamento – não tendo, por conseguinte, conhecimentos sobre o assunto em evidência – do que acanhamento ou mesmo falta de interesse.

Não se tratando de elementos obrigatórios – inúmeros lançamentos são realizados sem leitura de excertos, ou ficando a introdução a cargo do editor, por exemplo –, não há dúvida do enriquecimento que podem emprestar a um evento. Há, no entanto, também a necessidade de um equilíbrio que evite a morosidade, equilíbrio esse que exige uma preparação prévia – levando a que a impulsividade e o improviso não sejam os únicos elementos utilizados pelo orador –, assim como uma capacidade de ler

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o público, permitindo o ajuste do discurso aos seus modos de estar. A leitura de um texto longo, por exemplo, que pouco mais faz do que resumir a obra em evidência não será o ideal, em particular havendo crianças presentes.

Prévia ao lançamento enquanto evento e aos elementos que o constituem é, ainda, a escolha do local. Também aqui se denota a colaboração entre autor e editor no que à Relógio d’Água diz respeito, sendo a escolha do local do lançamento determinada em conjunto. Já a organização do espaço físico, preparando-o tanto para o autor e oradores como para o público, evidencia a relação entre a editora e os responsáveis pelos locais do lançamento, mais uma vez variando conforme as necessidades. Durante o lançamento de O gesto que fazemos para proteger a cabeça, da autoria de Ana Margarida de Carvalho, por exemplo, a Livraria Ferin, espaço onde decorreu o evento, encarregou-se da preparação do local para a recepção do público e da mesa oradora – constituída por autora, editor, o repórter da apresentação e o leitor de excertos –, o que incluiu disposição de assentos, mesa, microfones, águas, sistemas técnicos e, naturalmente, um stand de vendas destacado à obra em lançamento.

Já aquando o lançamento de O Abismo de Fogo, de Mark Molesky, no Museu da Farmácia, tendo a preparação do auditório ficado a cargo do Museu, a organização do

stand de vendas e das transacções comerciais ficaram sob a responsabilidade da editora.

A própria escolha do local de lançamento demonstra uma flexibilidade conforme o género e temática da obra, as preferências do autor, disponibilidade dos locais, ou eventos temporários que de algum modo se ajustem.

Mais uma vez se conclui a lógica e a necessidade da natureza flexível do lançamento de uma obra, características a ter em conta também nas restantes acções de promoção da obra, como o envio do livro a críticos, divulgação em redes sociais, ou a concessão de entrevistas.

2.3 Tradução de uma obra

Como um dos projectos de longa duração em contexto de estágio, foi requerido à estagiária a tradução do inglês para o português da obra The Touchstone, de Edith Wharton. Com cerca de 27.000 palavras e 150.000 caracteres (incluindo espaços), trata-se de uma noveleta norte-americana publicada em 1900, cujo enredo trata-se centra no desenvolvimento psicológico da moral, traição, culpa, e fidelidade, bem como no preço humanitário a longo prazo que o ganho monetário imediato e sem escrúpulos acarreta.

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Não é um tema inusual à autora. Wharton nasceu numa família de posses e socialmente proeminente e, enquanto novelista, contista e dramaturga, desenvolveu uma representação realista dos costumes e das morais da alta sociedade nova-iorquina da chamada “Gilded Age”.4

The Touchstone trata-se de uma obra que não só se encontra em domínio

público, como também integra o Projecto Gutenberg, uma das mais antigas bibliotecas digitais – fundada em 1971 –, cujo acervo é maioritariamente constituído por textos em domínio público, digitalizados, arquivados e distribuídos num esforço voluntário. Deste modo, acordou-se entre o editor e a estagiária que a tradução em causa seria efectuada a partir da versão da obra disponível nesta ferramenta. As Figuras 1, 2 e 3 que em seguida expomos tratam-se de printscreens realizados à base de dados do Projecto Gutenberg, demonstrando as ferramentas base com as quais a estagiária trabalhou para a tradução em análise:

Figura 1

4 Na História dos Estados Unidos da América, a “Gilded Age” decorreu nos finais do século XIX,

sensivelmente entre 1870 e 1900. O termo foi cunhado por Mark Twain e Charles Dudley Wamer, com a obra The Gilded Age: A Tale of Today, a qual satiriza uma era de sérios problemas sociais, disfarçados sob uma leve camada dourada.

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Figura 2

Figura 3

Apesar de a tradução não ser o foco nem do mestrado nem do estágio aqui em consideração, é inegável a importância que assume na indústria livreira e editorial portuguesa, com grande percentagem dos novos lançamentos em mercado sendo literatura estrangeira traduzida. A isto alia-se a necessidade de versatilidade e de capacidade de desempenho de diversas funções inerente à esfera literária. Deste modo, o projecto de tradução desenvolvido revestiu-se de grande importância no que respeita às capacidades individuais e profissionais da estagiária, em particular por se ter tratado do

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primeiro contacto com a tradução de ficção: até ao momento a estagiária lidara apenas com a tradução e reversão de textos técnicos.

De entre as ferramentas utilizadas é de ressalvar a importância dos novos meios ao dispor do profissional de tradução. Por vasto que seja o conhecimento dos idiomas com os quais se trabalha, situações existem em que o uso de auxílios externos se torna imprescindível, seja por dúvida, confirmação, ou actualização de significados. Assim sendo, torna-se imprescindível o apoio de dicionários adequados e confiáveis. No caso, recorreu-se ao Oxford English Dictionary e ao dicionário electrónico Linguee5.

De grande importância foram também os conhecimentos adquiridos pela estagiária ao longo da licenciatura de Línguas, Literaturas e Culturas, vertente Português/Inglês, obtida na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP). Como já referido, a obra de Edith Wharton caracterizou-se pela representação de uma determinada classe social, num determinado tempo, num determinado país. The

Touchstone não é excepção. Assim sendo, torna-se evidente a interligação entre idioma,

cultura, e espaço geo-temporal: uma tradução fidedigna exige, portanto, um conhecimento por parte do tradutor que transcenda a linguagem. O seu ponto de partida é mais do que o idioma: é o idioma no momento em que foi escrito, no contexto em que foi escrito. Aceitando-se este entendimento, os conhecimentos adquiridos sobre a História e cultura norte-americanas durante a referida licenciatura – aliados a um interesse pessoal extracurricular – e as extraordinárias possibilidades de pesquisa que se encontram actualmente ao dispor do profissional revelaram-se fulcrais no desenvolvimento do projecto de tradução de The Touchstone.

Tidas em conta foram também as indicações gerais fornecidas pela Relógio d’Água aos tradutores com os quais trabalha. Não sendo restritivas ao trabalho do tradutor, referem-se essencialmente a aspectos visuais e de apresentação do conteúdo, visando facilitar o trabalho posterior de paginação, assim como alinhavar a apresentação das obras em catálogo. A título exemplificativo reproduzimos parte dessas indicações, tendo-se usado como critério de escolha a discrição necessária em relação ao funcionamento interno da editora enquanto empresa. Ou seja, todas as indicações aqui expressas e salientadas respeitam essa discrição, na medida em que uma observação atenta às obras disponibilizadas ao público pela editora as poderá concluir:

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⸙ Nos diálogos, devem usar-se aspas ao alto (exemplo: “ ”). Quando no original se usar travessão (exemplo: ⸺), deve usar-se meia-risca (exemplo: –). As aspas utilizadas noutros casos devem ser igualmente ao alto (“ ”), e as que surjam entre estas devem ser aspa única (exemplo: ‘ ’).

⸙ Os nomes de animais e as marcas devem ser, em geral, grafados em itálico, assim como as palavras estrangeiras, excepto as já com circulação habitual (whisky; jeans; T-shirt; cowboy).

⸙ Os prefácios, que não sejam do próprio autor, e os textos das contracapas não devem ser traduzidos (excepto quando tal for expressamente indicado).

⸙ As notas de tradutor devem vir com a indicação (N. T.) em itálico. ⸙ Por regra, as notas de pé de página não são usadas em ficção. Nos ensaios as notas podem vir em pé de página, no final do capítulo ou no final do livro, conforme o original ou o combinado previamente.

⸙ Os índices onomásticos ou temáticos devem ser feitos (quando se indicar), mas só devem ser acompanhados com a indicação da página no caso de o tradutor ter acesso às provas paginadas.

⸙ Os títulos dos livros mencionados devem sempre figurar na língua original (e não naquela de que é feita a tradução), sendo indicado, sempre que exista (em nota ou em parêntesis rectos), o título em português, respectiva editora, e ano de publicação.

⸙ Não dar entrada de parágrafo com tabulações (tab). Usar a formatação do parágrafo e dar um avanço na primeira linha do parágrafo.

⸙ Conjuntamente com a tradução deve ser enviada a contagem de caracteres com espaços.

A tradução em projecto teve, portanto, em conta as normas internas da editora, assim como o entendimento já avançado dos elementos e contextos exteriores à linguagem per si que não podem nem devem ser esquecidos. A prática é no entanto mais lenta que a teoria, pelo que naturalmente o projecto não se apresentou sem dificuldades. Em retorno à primeira versão apresentada pela estagiária da tradução em mãos, foram duas as principais críticas apontadas: o equilíbrio entre o idioma de partida e o idioma de chegada, e a manutenção do espírito do texto. Ou seja, algo que, de certo

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modo abstracto, se reveste de importância na distinção entre uma tradução mediana e uma de melhor qualidade, mais fiel ao texto original. Foi sugerido à estagiária, pelo editor, que considerasse a questão “O que Edith Wharton escreveria caso soubesse português?” Tal implica aprofundar os conhecimentos sobre o estilo e o universo da autora, ou seja, sobre a sua época e a sua restante literatura – o que resultou na leitura das demais obras de Wharton, tanto originais como já traduzidos em português, de modo a apreender o trabalho prévio de profissionais já estabelecidos no ramo.

Descartando a urgência que desnecessariamente permeara a primeira versão apresentada da tradução, e atendendo às críticas e conselhos do editor, a estagiária prosseguiu com o projecto, revendo e editando a tradução realizada da obra The

Touchstone, de modo a um melhoramento que, espera-se, venha a ser considerado pela

editora em contexto profissional.6

2.4 Demais funções observadas

Desde a manutenção das redes sociais – nos dias de hoje primordial em termos de divulgação e contacto com o público – à paginação das obras, do desenvolvimento das capas aos serviços administrativos decorrentes de qualquer empresa – os quais, no caso, se estendem não apenas aos funcionários da editora, como também aos seus contactos com livrarias, agentes, e autores –, e às funções ditas de armazém, onde são mantidos os livros e de onde partem as encomendadas, são múltiplas as funções nas quais a estagiária não tomou parte. A consciencialização do seu papel na estrutura editorial e empresarial tornou-se, contudo, numa mais-valia para momentos futuros. Consideramos a importância da menção a estas funções não apenas pelo reconhecimento da sua existência, mas também para salientar a diversidade de sectores no meio editorial, a qual frequentemente passa despercebida não apenas à generalidade do público, mas também aos que desejam entrar no mundo editorial.

6 A versão mais recente da tradução realizada pela estagiária encontra-se em avaliação pela editora,

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3. Revisão Textual

Por interesse particular da estagiária e necessidade da editora, a revisão textual foi o grosso do estágio desenvolvido. No total, foram realizados seis trabalhos de revisão textual – duas reimpressões e quatro lançamentos –, quatro de conferências de emendas, e um de ajuste de índice remissivo à obra em português. Apenas um dos textos de origem era de autoria portuguesa, tratando-se os restantes de traduções. Todos os trabalhos, à excepção de um, visto pelo editor Francisco Vale, foram conferidos pela revisora Anabela Carvalho, a qual auxiliou e orientou a estagiária no desenvolvimento e aprimorar das suas competências, quer através de indicações mais gerais, quer através da supervisão às interferências no texto realizadas pela estagiária, facultando-lhe as revisões supervisionadas para comparação.

Pretendemos neste capítulo clarificar de que modo as funções em estágio contribuíram para o alargar dos conhecimentos da aluna, aludindo a uma variedade de situações surgidas durante estes trabalhos de revisão.

3.1 Enquadramento teórico

Em crónica na Revista Época, Luís Fernando Veríssimo (1995: 36) disserta em relação ao revisor:

“ (…) a pessoa mais importante na vida de quem escreve. Ele tem o poder de vida ou de morte profissional sobre o autor. A inclusão ou omissão de uma letra ou vírgula no que sai impresso pode decidir se o autor vai ser entendido ou não, admirado ou ridicularizado, consagrado ou processado. Todo texto tem, na verdade, dois autores: quem o escreveu e quem o revisou. Toda vez que manda um texto para ser publicado, o autor se coloca nas mãos do revisor, esperando que seu parceiro não falhe. Não há escritor que não empregue palavras como, por exemplo: "ônus" ou "carvalho" e depois fique metaforicamente de malas feitas, pronto para fugir do país se as palavras não saírem impressas como no original, por um lapso do revisor. Ou por sabotagem. Sim, porque a paranoia autoral não tem limites. Muitos autores acreditam firmemente que existe uma conspiração de revisores contra eles. Quando os revisores não deixam passar erros de composição (hoje em dia, de digitação), fazem pior: não corrigem os erros ortográficos e gramaticais do próprio autor, deixando-o entregue às consequências dos seus próprios pecados de concordância, das suas crases indevidas e pronomes fora do lugar. O que é uma ignomínia. Ou será ignomia? Enfim, não se faz.”

Utilizando um carácter humorístico, Veríssimo expõe com clareza muitos dos elementos encontrados na relação entre revisor e autor, ou mesmo revisor e tradutor: o

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certo nível de parceria, a confiança na visão e conhecimento do outro, ou também a possibilidade de falhas ou desconfiança. A revisão não é, afinal, uma fórmula matemática, possui demasiados factores humanos, e por conseguinte cada relação entre autor e revisor difere entre si: o que funciona numa não funciona necessariamente noutra, e vice-versa. O trabalho de um revisor sobre o texto em mãos terá de se adaptar ao autor do referido texto, atender ao estilo e intenções próprios: o que não significa submissão, pois de outro modo o revisor não seria mais do que um corrector ortográfico; por vezes nem isso, atendendo às quebras intencionais de regras gramaticais e ortográficas realizadas por determinados autores. Em suma, e por consciência da aparente contradição, salientamos que no que respeita ao trabalho de revisão é necessária a percepção da diversidade de equilíbrios entre autor e revisor a considerar.

Seguindo o enunciado facultado pelo investigador Públio Athayde, definimos a revisão textual como “o conjunto das interferências não autorais no texto visando sua melhoria. Trata-se da reconsideração alheia a um texto original. As mudanças introduzidas desta reconsideração podem atingir palavras, frases ou parágrafos e ocorrem por supressões, inclusões, inversões ou deslocamento.” (2012:11)

É, portanto, e acima de tudo, a intervenção realizada por um segundo par de olhos, até aí exterior ao texto e por conseguinte mais apto a captar o que ao autor já passa despercebido, pelo intenso envolvimento textual em que se encontra: um par de olhos que, assim como ocorre na tradução, se caracteriza por um bom conhecimento linguístico do idioma com o qual trabalha e por uma boa compreensão da cultura e temática em que se insere a obra.

Em Manual do Revisor, Luiz Malta (2000: 16) inclui no seu conceito de revisor moderno uma lista de tarefas que lhe são inerentes. Reconhecendo nessa lista parte das funções realizadas em estágio, transcrevemo-la em seguida:

“– revisar os originais aprovados para edição pelas editoras;

– revisar (se tiver conhecimento de outros idiomas) as traduções, cotejando-as com os livros originais;

– revisar as primeiras provas, comparando-as com os originais;

– revisar as segundas provas, tomando como base as primeiras e, quando necessário, reportando-se aos originais (inclusive, ainda se preciso, ao livro); – revisar (menos comum, mas ocorre) terceiras provas, tendo como base as segundas;

– examinar (a palavra “revisar” não caberia bem aqui) as heliográficas (não é muito comum, mas se o revisor for funcionário de uma editora, acabará fazendo este trabalho);

– revisar (incomum, mas acontece) filmes que deram ou darão origem a heliográficas; e, finalmente;

(26)

26 – reler livros já publicados, em função de modificações que o autor quer

fazer para uma nova edição, ou quando se desconfia que a edição publicada contém erros.”

A lista de Malta é extensa por considerar o revisor de vários tipos de conteúdos, ao invés de se focar numa única faceta, como, por exemplo, o do revisor em contexto editorial. Trata-se, ademais, de uma lista já com duas décadas, período de tempo durante o qual novas ferramentas e posicionamentos levaram a que alguns pontos se tenham tornado obsoletos: por conseguinte, nem todos os profissionais de revisão exercem toda e cada uma das funções alinhavadas. No entanto, como referido, reconhecemos uma maioria.

3.2 Revisão e adequação de índices remissivos

Uma das primeiras tarefas atribuídas à estagiária referiu-se à revisão e adequação do índice remissivo da obra O Abismo de Fogo, de Mark Molesky. Trata-se de um livro não-ficcional referente ao terramoto de 1755, cujos efeitos devastaram Lisboa. Ainda que se centrando neste evento histórico, o autor aborda também os contextos sócio-políticos da época, as relações internacionais pré e pós terramoto, a literatura e debates então desenvolvidas, bem como as explicações científicas ou religiosas referentes a terramotos e maremotos. Dirigida tanto ao público geral quanto ao académico, é uma obra cujo cariz justifica e necessita de um índice remissivo, capaz de facilitar a busca ao leitor por informações em específico. Por conseguinte, torna-se primordial a correcta adaptação do índice ao conteúdo, visto que a tradução e reformatação do original ao mercado português cria um esperado desfasamento, o qual se verificou em dois níveis:

• Reorganização alfabética

Ao traduzir do idioma original (inglês) para o de chegada (português), a ordem alfabética que propicia ao leitor uma ordem de busca desregula-se: a temática arranged

weddings, por exemplo, que se encontrava sob a letra A, traduz-se no português para casamentos arranjados, passando a ficar sob a letra C. Simultaneamente, é necessário

ter em conta as subsecções de cada temática: um programa de alinhamento automático poderia desconsiderar este alinhamento, retirando, por exemplo, mito da da respectiva subsecção (Atlântida) e relocando-o, isolado e descontextualizado, sob a letra M.

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27

Ambos os exemplos se encontram no Anexo 1. Deste modo, verifica-se a necessidade de um reajuste por parte de um revisor, reorganizando o índice nos conformes do idioma de chegada: atendendo à reorganização alfabética das temáticas listadas.

• Reajuste ao número de página

Desde o tamanho de letra a uma nova formatação de página, da reestruturação de capítulos à reorganização de parágrafos, e mesmo às próprias alterações acarretadas pelo processo de transmitir uma mensagem num outro idioma, são vários os elementos que levam a um desfasamento, entre a obra original e a obra traduzida, das páginas em que poderemos encontrar desenvolvido determinado tema. Ou seja, a referência que na obra original se poderá hipoteticamente encontrar na página 41, na obra traduzida poderá estar na página 54. Assim sendo, e sempre com a facilidade de busca por parte do leitor em mente, é necessário um reajuste por parte do revisor de modo a que a obra traduzida reencaminhe para a página correcta a referência procurada. No cumprimento desta tarefa é de grande auxílio a posse da obra original – a qual serve de ponto de partida – e o acesso à obra traduzida num programa que permita a pesquisa por vocábulos. Imaginemos, por exemplo, que desejamos o reajuste da página onde se referencia casamentos arranjados. Ao aceder à página indicada na obra original é-nos possível verificar o contexto em que se encontra; utilizando a ferramenta de pesquisa do programa que suporta a obra original, já paginada conforme a sua versão final, torna-se relativamente fácil o reajuste da página à qual o índice remissivo deve remeter.

No caso de se tratar de uma temática cuja generalidade dificulte e atrase a pesquisa, a procura de algo não relacionado mas que sobressaia na página em que se encontra – ou numa das páginas próximas –, como por exemplo um título de capítulo, um local, ou um nome pouco referenciado noutras secções, poderá ser usado na ferramenta de pesquisa, pois apesar de não ter ligação directa com o pretendido, remete o revisor ou para a página contendo a temática que procura, ou para uma que lhe seja próxima. Uma vez delimitada a área de procura, deve o revisor verificar o contexto e confirmar a correcção da remissão, ajustando por fim a página indicada no índice remissivo. Naturalmente, é necessário ao revisor um bom conhecimento tanto da língua de partida quanto da de chegada; no caso, tratou-se de uma tradução do inglês para o português, sendo ambos os idiomas dominados pela estagiária.

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A revisão de um índice remissivo e respectiva adequação ao idioma de chegada é uma tarefa mecânica e morosa, contudo necessária e que não se pode ignorar. O facto de se tratar de algo minucioso exige plena atenção do revisor, a qual é desafiada pelo carácter repetitivo da tarefa. É, também, uma tarefa discreta: raramente, ao consultar uma obra, o leitor considera a necessidade deste género de reajustes e detalhes. Talvez apenas quando encontra uma falha o recorde, mas ainda assim será com certeza encarando-o apenas como um defeito, e não o trabalho em contexto geral.

O conhecimento dos idiomas em causa, todavia, e a aplicação do método acima descrito e desenvolvido pela estagiária levaram a concluir a tarefa com maior celeridade, mantendo os padrões de qualidade expectáveis à editora. Em simultâneo, revelou-se um exercício competente no que respeita à consciencialização dos detalhes editoriais despercebidos ao público geral, bem como à capacidade de concentração.

3.3 Revisão vocabular a pedido do autor

Embora norte-americano, Mark Molesky tem conhecimentos de língua portuguesa, compreendendo-a e falando-a. Deste modo, foi-lhe possível acompanhar o processo de tradução e de publicação da obra neste mercado de um modo próximo, e não acessível à maioria dos autores estrangeiros publicados em Portugal. Incomum, este factor levou a uma maior comunicação entre autor, revisora, e tradutora. Uma das sequências desta comunicação gerou um pedido por parte do autor de simplificação dos vocábulos utilizados pela tradutora: apesar de lhe identificar grande qualidade, era seu desejo tornar o texto mais acessível ao público geral. No seu entender, parte das escolhas vocabulares não eram tão acessíveis ao público em geral quanto seria desejável, chegando a proporcionar alguns exemplos, os quais, por motivos de privacidade e confidencialidade, não iremos reproduzir. No Anexo 2, todavia, exemplificamos o trabalho de revisão vocabular com vista à simplificação pedida pelo autor. Uma vez que se trata de algo subjectivo – pois é inevitável que o considerado “simples” ou “complexo” dependa em muito dos conhecimentos interiorizados da pessoa –, a revisão efectuada pela estagiária tratou-se de uma das componentes, à qual se seguiu a revisão da responsável de revisão na Relógio d’Água e conferência com a tradutora. Naturalmente, a totalidade dos ajustes realizados pela estagiária não chegou à versão final, como expectável ao tratar-se de algo, como já enunciamos, de carácter subjectivo, e cujo desenvolvimento inclui a consideração de vários profissionais.

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Trata-29

se de um exemplo do desenvolvimento em conjunto de uma função que frequentemente é encarada como isolada e individual. Ademais, reverte-se de dois factores de interesse, pelos quais consideramos a sua inclusão neste relatório: tratar-se de um pedido específico de um autor que, conhecendo a língua, não é nativo, e ter resultado numa revisão com um único foco – o de simplificação vocabular.

3.4 Revisão de livros já publicados

Breves Notas Sobre o Medo, de Gonçalo M. Tavares, foi publicado pela Relógio

d’Água em 2007, e relançado em 2019. Trata-se de uma obra de textos curtos, com um travo filosófico, nos quais o autor aventa sobre, como o título não deixa dúvidas, o medo. Como parte do processo de relançamento, a estagiária realizou uma nova revisão à obra já em catálogo. Uma vez que a cópia em mãos já havia passado por um processo de revisão anterior, sem motivos para que se considerasse a existência de erros, tratou-se de um trabalho de precaução, mais focado na procura de gralhas ou desactualizações linguísticas, não apresentando obstáculos de maior.

O mesmo sucedeu em relação à revisão de Djamila, de Chingiz Aitmatov, publicado pela Relógio d’Água em 1991. Também aqui o trabalho de revisão se focou na procura de gralhas e no reajuste às normas ortográficas e gramaticais que entretanto ocorreram, embora o objectivo se prendesse mais com uma actualização do material da editora que num relançamento em mercado propriamente dito. Em ambos os projectos não se assinalaram intervenções de maior.

3.5 Conferência de emendas

Uma das funções mais ingratas do revisor será, talvez, a conferência de emendas. Consiste, sucintamente, em verificar a implementação das intervenções aprovadas em revisão no exemplar que seguirá para a gráfica. Ao fazê-lo, deverá o revisor apontar aquelas que, por diversos motivos, terão passado despercebidas aos colegas da paginação, de modo a que possa ser rectificado. De modo a garantir que não haja já um “vício de leitura” por conta do entranhamento gerado pela quantidade de tempo e atenção dedicada ao texto, é aconselhável que esta conferência de emendas seja realizada por outro revisor que não o que trabalhou com o texto.

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Utilizamos aqui a palavra “ingrata” por um único motivo: apesar do pouco esforço intelectual requerido, é também uma tarefa morosa e padecedora de atenção. Exige tempo e concentração, em particular quando não é possível ser realizada por outra pessoa que não o revisor original, como seria ideal. No entanto, raramente é reconhecida, e frequentemente é esperado do revisor que a realize, sem considerar que, ao fazê-lo, terá de inevitavelmente lhe dedicar parte do seu tempo, durante o qual não poderá realizar as suas demais tarefas.

3.6 Revisão de traduções

Quando se fala em revisão textual é frequentemente apenas considerada a relação entre autor e revisor. No entanto, dada a grande parcela de traduções no mercado editorial português – e o facto de a grande maioria dos autores traduzidos desconhecerem a língua portuguesa, ou ser o agente que o representa o elemento envolvido nas negociações – esta relação acaba por também se desenvolver entre o revisor e o tradutor. Salientamos, aqui, a diferença entre uma revisão mais interventiva – abarcando construção de personagens, intervenção no desenvolvimento de enredo, e afins –, a que na Relógio d’Água se refere como edição, e uma revisão mais focada em pontuação, gramática, ortográfica, ou escolhas vocabulares. Tratando-se da revisão de uma tradução, ou seja, de uma obra que já se encontra editada e disponível no seu mercado de origem, a revisão a efectuar será a segunda referida.

Independentemente da qualidade e capacidade do tradutor, é inevitável que surjam na transposição de um idioma para outro situações às quais é necessário dar resposta, e nas quais é necessária a intervenção do revisor. Referimo-nos a mais do que a correcção de gralhas, como ficará em evidência:

• Registo oral no texto de origem

Ao procurar registar por escrito as pronúncias, desorganização, e desvios sociolinguísticos característicos do registo oral, e ainda mais de um grupo em particular, é frequente que o autor propositadamente escreva com o que se consideram erros ortográficos ou gramaticais. Dada a sua intenção, não se justifica uma interferência do revisor. Cabe, contudo, ao tradutor encontrar o que seria o melhor reflexo possível desse registo no idioma de chegada, uma função que não se pode considerar fácil, por se tratar

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de uma situação em que claramente a linguagem se encontra emaranhada numa cultura específica. Como reproduzir em português o inglês característico do interior de África, por exemplo?

Por sua vez, é necessário que o revisor tenha consciência deste contexto ao rever uma obra que contenha estes elementos. Torna-se imprescindível que tenha acesso ao texto original, bem como conhecimento das intenções do autor, não correndo o risco de começar a indicar que se corrija conforme a norma o que não se pretende normalizado. Simultaneamente, recai sobre os ombros do revisor verificar se o objectivo do texto original foi mantido durante a tradução, comparando ambos os textos, contextualizando com a cultura linguística do idioma de chegada, e sugerindo outras opções, caso necessário, num diálogo constante com o profissional de tradução.

A Figura 4, excerto da obra Leopardo Negro, Lobo Vermelho, de Marlon James, publicado em 2019 pela Relógio d’Água, exemplifica esta situação, sendo o excerto superior o texto de origem e o inferior o da tradução. É de salientar não ter tido a estagiária directa intervenção nesta faceta da revisão textual, tendo mantido um papel de observação.

Figura 4

• Consistência vocabular

Verificou-se, durante a revisão de uma das obras trabalhadas durante o estágio, terem sido as palavras “cock” e “balls” – ambas de recorrência amiúde na obra em questão – traduzidas com um determinado vocábulo durante cerca de metade do

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manuscrito, e com outro durante o restante. Ou seja, para uma só palavra no idioma de origem utilizaram-se duas no idioma de chegada. O facto de a divergência ocorrer sensivelmente a meio do manuscrito exclui a hipótese de ter sido com a intenção de evitar repetição e, por conseguinte, fugir a uma possível cacofonia durante a leitura. Também a contextualização do uso exclui a possibilidade de se tratarem de vocábulos que, utilizados no mesmo contexto no idioma original, sejam díspares no idioma de chegado, justificando uma adaptação linguística. Por conseguinte, ao rever a tradução surgiu a necessidade de apontar alterações vocabulares que restituíssem a coerência do idioma de origem, optando-se pelo vocábulo – único e consistente ao longo da totalidade da obra – que melhor se adequasse à narrativa. Uma vez mais ressalva-se a importância do conhecimento tanto da obra original quanto do idioma de chegada, ambos factores a considerar pelo revisor na escolha do vocábulo a utilizar, de modo a que a sua intervenção seja o mais precisa possível.

Ainda dentro do mesmo exemplo, podemos adiantar que a palavra “guizos” se tratou de uma das opções para a tradução de “balls”: uma escolha inadequada não apenas por a maior parte da população portuguesa não relacionar a palavra em questão com o significado pretendido, como também por provocar uma reacção cómica onde o contexto não o pretende. Trata-se, por conseguinte, de um exemplo dos elementos a serem tidos em conta pelo revisor aquando a necessidade de interferência na tradução com vista à consistência vocabular.

• Pontuação em diálogos

Actualmente a norma portuguesa admite como demarcação do discurso directo tanto a utilização de travessão (⸺) quanto de aspas ao alto (“ ”). Conforme se pode inferir nas normas enviadas pela editora aos tradutores com os quais trabalha (página 12 do presente relatório), a Relógio d’Água atribui preferência à sinalética constante no texto de origem, utilizando travessão ou aspas ao alto conforme o original. Em simultâneo, é de ressalvar que as aspas ao alto substituem, em caso de diálogo, a aspa única (‘ ’) utilizada no mercado anglófono, facto que salientamos por ser a literatura anglófona a que, no momento actual, domina o mercado de tradução no meio editorial português. As regras de pontuação no uso de aspas ao alto na literatura anglófona não são, todavia, as mesmas, registando diferenças quando se trata de literatura do Reino Unido (UK) ou de literatura dos Estados Unidos da América (US). Deste modo, o que

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no inglês britânico seria, por exemplo, ‘A waiting room, more or less’, she answered., no inglês norte-americano registar-se-ia como “A waiting room, more or less,” she

answered., verificando-se divergências tanto no tipo de aspas utilizado, quanto na

localização da pontuação: dentro ou fora de aspas.

Uma vez que a literatura portuguesa começou por utilizar apenas o travessão, tendo sido a inserção das aspas mais tardia – derivada na influência anglófona –, e que, como verificamos, existem duas fontes de influência com regras distintas, torna-se necessário especificar qual dos dois registos – UK ou US – deverão ser tidos em conta na adaptação ao português. De outro modo, gerar-se-á na literatura uma incongruência linguística potencialmente confusa para os usuários da língua.

Devido à influência da literatura norte-americana consumida pela estagiária, existia a crença prévia ao estágio de em discurso directo a pontuação correcta ser a utilizada nesse registo, ou seja, inserindo-se a pontuação dentro de aspas. A orientação da responsável de revisão na Relógio d’Água, todavia, permitiu rectificar o que se tratava de um erro. Deste modo, a norma seguida pela Relógio d’Água segue o sistema britânico: aspas ao alto (“ ”) e pontuação no exterior, como exemplificado na Figura 5, excerto da tradução de Leopardo Negro, Lobo Vermelho, de Marlon James:

Figura 5

• Revisão de uma peça teatral

Até ao momento temo-nos referido à revisão de textos em prosa. No entanto, um dos trabalhos de revisão desenvolvidos pela estagiária consistiu na peça O Rei João, de Shakespeare, dentro de um projecto de colecção editorial, em parceria com o CETAPS (Centre for English, Translation and Anglo-Portuguese Studies), pólo da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP). Não podemos deixar de incluir neste relatório algumas das situações notadas ou surgidas aquando a revisão elaborada, essencialmente pelo formato textual menos comum, o qual naturalmente acarreta elementos próprios. A

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revisão em análise necessitou de atenção tanto em detalhes que poderiam ser negligenciados por leitores mais desatentos – como o reajuste de parênteses rectos ao formato redondo, ao invés do itálico (conforme exemplificado no Anexo 3), ou a uniformização entre nomes próprios, quer se mantivessem conforme o original, quer se traduzissem para o português (como é o caso com figuras históricas) –, como em situações mais evidentes. Destacamos, dentro destas últimas, a necessidade de confirmação de consistência entre a tradução feita no texto em si e a apresentada em possíveis citações em outras secções da obra: conforme verificável nos Anexos 4 e 5, o tradutor cita na introdução à peça um trecho que, na obra em si, apresenta uma diferente escolha vocabular. Seja por lapso ou intenção de reajuste posterior, não pode o revisor permitir que a incongruência chegue ao público.

Outro factor de interesse a apontar prende-se com uma aparente inconsistência: a da contagem dos versos. Conforme se verifica no Anexo 6, caso o leitor acompanhe a numeração dos versos, poderá considerar ter sido esta o resultado de uma falha: não o é. Trata-se de manter a contagem dos versos originais, ao invés de a adaptar às mudanças que o processo de passagem de um idioma para outro naturalmente acarreta. Simultaneamente, é outro detalhe a ser tido em conta pelo revisor: nem sempre a contagem se encontra, de facto, correcta, necessitando da intervenção da revisão, como exemplificado no Anexo 7.

3.7 Equívocos e rectificações gerais

Ao longo do desenvolvimento deste relatório foram sendo enunciados os equívocos e respectivas rectificações realizados pela estagiária ao longo do seu período na editora. Por conseguinte, os que optamos por ressaltar neste subcapítulo tratam-se daqueles mais gerais, quase independentes do texto, e que precisamente por isso não foram ainda referenciados. A percepção da sua existência por parte da estagiária, contudo, e consequente aprimoramento revelou-se numa das maiores mais-valias do estágio, pelo que seria incongruente ignorá-la. Foi de suma importância a supervisão da revisora Anabela Carvalho.

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• Sinalética utilizada

Durante o primeiro ano de mestrado foi pedido pelos alunos, em contexto de uma aula de Técnicas de Edição, que se procedesse ao ensino dos sinais utilizados em revisão manuscrita. O professor acedeu, com a ressalva de que, apesar de elementos em comum, era frequente a variação de editora para editora, pelo que seria imprescindível a consciência da flexibilidade sinalética, e disposição do aluno em se adaptar ao já vigente na casa editorial com que pudesse vir a trabalhar. De facto, assim sucedeu durante o estágio a que se refere este relatório. Salvo duas ou três excepções, a sinalética utilizada pelos revisores da Relógio d’Água e a aprendida em aula divergiu: um exemplo será o da indicação do revisor para se ignorar uma intervenção previamente realizada. Enquanto em aula foi indicado s/ ef. (sem efeito), na Relógio d’Água utiliza-se vale, encontrando-se ambas correctas. Esta divergência – e por vezes até mesmo o desconhecimento de qual o sinal a utilizar – atrasou as primeiras revisões efectuadas pela estagiária, chegando mesmo a dificultar desnecessariamente o trabalho da paginação pelo número de sinalização riscada e refeita com o propósito de se adequar ao utilizado na editora. Neste quesito, podemos concluir que a editora optou por uma via mais prática de ensino: a da observação e prática, em vez de um destilar teórico. Apesar da prática gerada pelo tempo, e da disponibilidade das demais funcionárias da editora em auxiliar quando questionadas, a nível imediato esta opção gerou atrasos e as problemáticas acima mencionados, os quais poderiam ser evitados com a criação de uma base de dados referente à sinalética utilizada pela editora, a facultar a novos colaboradores.

• Reconhecimento de espaçamentos duplos

O que em documentos em formato electrónico é facilmente reconhecido – o espaçamento duplo – por ser indicado pelo próprio programa de suporte, em manuscrito torna-se mais árduo de identificar. É com facilidade, portanto, que um duplo espaçamento possa escapar a “olho nu”, em particular quando o revisor se encontra cansado ou se deixa escorregar para uma leitura mecânica. Não existindo fórmula matemática que impeça esta irregularidade, apenas a atenção – e leituras múltiplas em dias diversos – a poderá colmatar.

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• Revisão da bibliografia

É frequente, ao falar-se em revisão, pensar-se apenas no texto propriamente dito, esquecendo os demais elementos que podem constituir uma obra: notas de rodapé, epígrafes, agradecimentos, ou bibliografias. Sob a supervisão da responsável de revisão da Relógio d’Água, a estagiária apercebeu-se de cometer esta falha em relação à bibliografia, a qual se reveste de particular importância em obras de não-ficção. Deste modo, foi ressaltada a necessidade de confirmação na correcção de nomes de autores, na omissão de espaçamentos ou existência de espaçamento duplo, e mesmo na verificação do correcto uso de pontuação na norma bibliográfica em uso.

Assim como no reconhecimento de espaçamento duplo, também a rectificação bibliográfica depende de minúcia e atenção, facilitando-se pela consciência da omissão realizada até então.

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4. A aplicação do Acordo de 1990: as excepções consideradas pela

Relógio d’Água

O Acordo Ortográfico de 1990 é o que se encontra actualmente em vigência. Ao aplicá-lo, a Relógio d’Água utiliza o conversor Lince e, em caso de divergência na grafia, segue o Portal da Língua Portuguesa. No entanto, não deixa de conter obras no seu catálogo que seguem o Acordo Ortográfico de 1945: ou seja, trata-se de uma editora que ainda hoje trabalha com as normas de ambos os Acordos, sendo necessário que antes de se começar uma tradução ou revisão se estabeleça qual dos dois será considerado. Como exemplificado pela Figura 6, ao aplicar-se o Acordo de 1990 é acrescentada à ficha técnica uma nota informativa nesse sentido:

Figura 6

(Salientado a vermelho pela estagiária)

Pelo que é apreensível da posição de consumidor no mercado editorial português, trata-se de um posicionamento curioso em relação à maioria das casas editoriais, que opta por acrescentar uma nota informativa quando o texto segue o Acordo de 1945, ao invés do de 1990.

A aplicação do Acordo Ortográfico de 1990 realizou-se num clima de discórdia e controvérsia que ainda hoje se mantém, tanto nos meios académicos quanto empresariais, sendo bem vincada a opinião quer de quem se encontra a favor, quer de quem se encontra contra. No dia-a-dia, a grande maioria da população aplica ou não o

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“Novo Acordo” conforme a sua própria consideração, com excepção, talvez, quando se tratam de documentos relacionados com os organismos do Estado. Entre os próprios linguísticas e historiadores da língua não existe concórdia.

Por estes motivos, e na procura de uma solução a meio-termo que mantivesse a editora conectada ao público, mas também às alterações e avanços linguísticos, o Acordo Ortográfico de 1990 foi implementado pela Relógio d’Água com algumas excepções: palavras que, apesar da actualização, se consideraram na editora conforme a sua grafia anterior. Tanto ao tradutor quanto ao revisor se facultava esta listagem, constituída por palavras cuja alteração ortográfica se encontra pobremente justificada, sendo causa ainda de discussão entre os linguistas, ou entrave a uma leitura fluida:

Vêem Óptica Pêlo Crêem Espectador Recepção

Lêem Corrector Pára (forma verbal e nomes compostos)

Podemos, no entanto, afirmar tratar-se de uma experiência cujos resultados não se revelaram os expectáveis. As críticas recebidas foram pesadas – em particular nas redes sociais –, tanto de quem se encontra a favor do Acordo de 1990 como de quem se encontra contra, o que nos encaminha à conclusão de que, acima de tudo, o público leitor deseja consistência e uniformidade.

Não estando, todavia, no âmbito do revisor, trata-se de uma questão a ser considerada pelo editor.

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5. Considerações Finais

Durante o primeiro ano de mestrado em Edição de Texto na FCSH da Universidade Nova de Lisboa a necessidade de dotar o aluno de aptidões capazes de funcionar como ponto de partida ao seu crescimento laboral leva a que o regime escolar adoptado seja o de aulas teóricas. Simultaneamente, procura-se que nas disciplinas que compõem o programa lectivo se desenvolvam aptidões suficientemente diversas que permitam ao aluno a escolha entre várias áreas de actuação – editorial, bibliotecária, gráfica, académica, entre outras. Cremos que o segundo ano é a experiência em que o aluno não apenas consolida as aptidões adquiridas através da prática, como as desenvolve ao que melhor se coaduna às suas expectativas e capacidades, visto que quer apresente uma tese, quer opte por um estágio, a aprendizagem torna-se individual, adquirida pela experiência pessoal.

É a partir deste entendimento que consideramos quer o estágio realizado, quer o seu enquadramento em mestrado. Ou mesmo a adequação do programa de mestrado à realidade laboral. Não foram poucas as aptidões adquiridas durante as disciplinas leccionadas que foram aplicadas em estágio: um conhecimento básico da História do Livro ou da evolução linguística confere conteúdo e compreensão a decisões tomadas a nível editorial; a realização de trabalhos como a apresentação de uma proposta de venda, o desenvolvimento de capa e contracapa de um livro, ou a revisão de artigos de jornais – realizados no âmbito de Teoria da Edição – são de uma preparação prática exemplar. Ainda que não tenham sido aplicadas durante o estágio a que remete este relatório, torna-se evidente de que forma as aptidões adquiridas em Edição Electrónica são uma vantagem em funções de paginação ou mesmo de relação com a gráfica, enquanto as desenvolvidas em Crítica Textual se tornam fulcrais em áreas académicas, de estudos da língua e da literatura, e bibliotecas. Recorrendo a casos concretos: ao acompanhar a funcionária responsável pela venda de exemplares às livrarias, a estagiária recordou e reconheceu as capacidades necessárias – e desenvolvidas por erro e correcção – durante a realização do trabalho de apresentação de uma proposta de venda. Ao encarar, durante os vários trabalhos de revisão, a necessidade de flexibilidade e de considerar cada caso como um caso – até no que respeita a normas gramáticas e ortográficas, frequentemente pensadas como sendo fixas –, ressalva-se o que, mais do que a memorização de um elemento de uma só aula, é uma interiorização constante: tudo depende. Desde o tipo de vocábulo utilizado em determinada obra aos elementos

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que se considerarão para um lançamento, a demais situações que, por mero acaso, não se colocaram durante o estágio desenvolvido. Deste modo, o estágio tornou-se parte integrante do mestrado, ao permitir a colocação em prática de parte das aptidões previamente desenvolvidas.

Dizemos “parte”, contudo, e não “totalidade”, ou mesmo “grande parte”, e enquanto algumas não o foram pela sua própria natureza – identificar as origens de um manuscrito, por exemplo, não se coaduna com as funções primárias de uma editora –, outras tê-lo-ão sido por inexistência de tempo. No subcapítulo 2.4 apontamos algumas das funções notadas mas não exercidas ou acompanhadas pela estagiária, funções essas que são hoje em dia fulcrais ao funcionamento editorial e as quais, fosse o período de estágio mais longo, a estagiária gostaria de ter também desenvolvido: a área de paginação, por exemplo, para a qual Edição Electrónica fornece as bases.

Outra questão que apontamos prende-se com a necessidade de fortalecer a conexão entre a teoria das aulas com a prática do mercado laboral. Ainda que as aptidões adquiridas sejam uma boa base às funções práticas, não é incomum que o aluno passe por um desajuste ao ambiente laboral ao tornar-se um funcionário. Caso encaremos a utilidade académica como uma de preparação, não se pode ignorar esta desadequação. Cremos que entre as várias considerações a fazer com este propósito – de fortalecimento de uma conexão entre a academia e o mercado laboral – destacam-se:

• atender para que palestras e congressos com profissionais das diversas áreas de empregabilidade não coincidam com os horários de aulas, como se verificou com a grande maioria dos realizadas no ano lectivo de 2018/2019, uma situação que prejudica não apenas os alunos, os quais ficam numa situação de escolha em que de algum modo ficam sempre a perder, como também a organização e os convidados, que vêem diminuído grande parte do seu público;

• organização de visitas de estudo, como as realizadas às instalações da gráfica Oficina do Cego: acreditamos que, de modo a atender as expectativas laborais e de carreira dos diversos alunos, seria proveitoso expandir os locais de visita, considerando também livrarias, administrações de bibliotecas, centros de investigação académicos, armazéns de editoras e sedes editoriais (consideradas médias e grandes empresas), entre outros. Actualmente, as visitas de estudo, que permitem o contacto com o profissional na respectiva área de trabalho, encontram-se dependentes da vontade e rede de contactos de cada professor, o que sendo de mérito ao docente, não é uma situação academicamente ideal;

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