Antnio
Marques
A
noo
mais intuitiva derepresentao
liga-se
faculdade subjectiva
de umsujeito
tomar conhecimento do mundo ou dosobjectos
que o rodeiam.
Apenas
num sentido derivado transitamos para umarepresentao
no sentido semitico: arepresenta
b para umsujeito
s.Repare-se
que, em todo o caso, arelao
derepresentao
em ltimaanlise mediada por um
sujeito.
Isso mesmo o que sustentado naformulao
tridica derepresentao, segundo
Peirce,
aqual estipula
apriori
uminterpretante,
que sempre da ordem do mental e querelaciona a com
b,
fazendo com que esteseja
representado
poraquele.
Numa
acepo
no derivada o termorepresentao
pressupe
umarelao
sujeito/
objecto,
constituindo arepresentao
umainterface,
que a filosofia clssica sempre colocou na esfera do
sujeito.
Masprecisamente
porque arepresentao
pertence
esfera do mental ouainda do
psicolgico,
que a filosofiacontempornea
dalinguagem
adesqualificou
como conceitooperatrio
no contexto de uma teoriaconsistente acerca das
relaes
entremundo,
linguagem
e mente. Se a filosofiapretende
descrever as leisobjectivas,
tanto dopensamento
como do ser, ento essa carga desubjectividade,
dementalismo,
aliada ao conceito no forneceria base slida de trabalho.
Nesta
desqualificao juntam-se
linhas filosficas muito diferentes e at
antagnicas,
bastando pensar nohegelianismo,
para oqual
a filosofia darepresentao
nopoder
nunca dar conta das verdadeirasleis do
esprito,
asquais
so leis reais e nomentais,
assim como na filosofia dalinguagem
inaugurada
porFrege.
Este estava interessadoRevista daFaculdadede Cincias SociaiseHumanas, n." 10,Lisboa, Edies Colibri, 1997, pp. 13-23.
O Conceito de
Representao
em
primeiro lugar
em pensamentos, osquais
so o mesmo que o sentido
(Sinn)
deproposies
ou frases declarativas.Apenas
destas sepode
dizer que so da ordem dopblico
e no doprivado,
por issosusceptveis
de ser consideradas verdadeiras ou falsas. Pelo contrrio, asrepresentaes
(Vorstellung)
so sempreprivadas, dependentes
dosujeito
e dealgum
modo intransmissveis. No posso substituir aminha
representao
por uma outra dealgum,
por mais coincidentes quesejam
os pontos de vista e por mais semelhantes que fisicamente seimaginem
ossujeitos.
Porm devopoder
substituir uma frase dotipo
"A catedral de Colnia fica na Alemanha" por uma outra, porexemplo
emalemo,
desde que correctamente traduzida.Acontece que a minha
representao
da catedral de Colniaprivada,
ainda que, poranalogia, seja possvel imaginar
que outra pessoa possa ter umarepresentao
sua,privada,
muito semelhante.Assim entendidada a
representao
surgemconsequncias importan
tes para uma teoria da verdade.
Frege
dir que perguntarmo-nospela
verdade desta
representao
-por
exemplo,
"a catedral de Colniafica na Alemanha"
-no conduziria a nada mais do que eventualmen
te
aproximar
o maispossvel
arepresentao
doobjecto representado,
at queaquela seja praticamente cpia
deste,
coisa que no no sepretende
pois
que sempre, pordefinio, aquilo
que representadiferente do que
representado.
Por outrolado,
segunda consequn
cia,
cadarepresentao
representasegundo
este ouaquele
aspecto oobjecto
representado,
de modo que nunca sepoderia
falar de umaverdade total da
representao.
Maspoder
a verdade seralgo
que admite o mais ou o menos? No pareceplausvel,
porque ao
qualifi
carmosalgo
comoverdadeiro,
estamos a dizer que assim de um modo absoluto e no relativo. Mas no caso darepresentao,
ou existesempre uma
desadequao,
mesmoque
mnima,
darepresentao
relativamente ao
representado,
ou, como sereferiu,
aadequao
total e nesse caso no haver
diferena
entrerepresentao
e representado,
o que contraria oprprio
conceito derepresentao.
Assim dificilmente arepresentao
seralgo
relevante para afilosofia,
quepretende
em todo o casoapurar
a verdade eobjectividade
do pensamento e dos enunciados. E por isso
que
Frege
radicaliza adistino
entre
representao
e pensamento, ao afirmar o estatutoimpessoal
epblico
deste,
poroposio
ao estatutopessoal
eprivado
da representao.
Dealgum
modopode
dizer-se que opensamento no necessita
de
portador
e que secontrafactualmente
admitirmosum
sujeito
ou uma mente como"lugar"
do pensamento,incorreremos
contradi-es
insustentveis. Naterminologia
deFrege
umpensamento
osentido expresso numa
proposio,
umaproposio
que devepoder
ser usada para realizar umaassero
ou umainterrogao.
Ainda, poroutras
palavras,
um pensamento o mesmo que aapreenso (fassen),
do sentido de unia
proposio,
o que, por sua vez, o mesmo queconhecer as
condies
sob asquais
essaproposio
verdadeira oufalsa. A
supremacia
doponto
de vistaepistemolgico
dopensamento
sobre arepresentao
porexemplo
assim atestada porFrege:
"Se opensamento
fossealgo
interior,
espiritual,
tal como arepresentao,
ento a sua verdade
poderia
consistir certamente numarelao
comalgo
que no fosse em absoluto nenhuminterior,
espiritual.
Sempre
que
algum
desejasse
saber se umpensamento
eraverdadeiro,
ter-se--ia que
perguntar
se essarelao
terialugar,
porconseguinte,
se eraverdadeiro o
pensamento
em que estarelao
ocorresse. E assim ficaramos na
situao
de um homem numa escada rolante. D um passopara diante e para cima mas o
degrau
a que elesobe,
torna a descer, eele acaba por descer ao
degrau
anterior. Opensamento
algo
deimpessoal.
Se escrevermos numaparede
a frase "2+3=5",
conhece mos desse modo de uma formacompleta
opensamento
expresso eabsolutamente indiferente para a
compreenso
saber quem a escre veu"1.A
desvalorizao
epistemolgica
darepresentao
e a correlativavalorizao
daexpresso
proposicional
dopensamento,
como unicamente
aquilo
a quepodemos
atribuir um valor de verdade, parece ser uma tendncia irreversvel da filosofiacontempornea2
eFrege
aparece-nosaqui
como um autor decisivo naorigem
dessa atitudegeral.
O que est em causa para o fundador da filosofia analtica ocarcter irredutivelmente
subjectivo
dasrepresentaes,
operigo
detransformar a filosofia num
psicologismo
incapaz
sequer de formular asquestes
clssicas da filosofia.Ser instrutivo verificar como um dos mais
importantes
filsofosda actual filosofia da
linguagem prope
um programa que continua essadesvalorizao
dolugar
que arepresentao
ocupou na histriada filosofia. Referimo-nos a Donald Davidson e sua sua teoria
'
Frege, 1969, 146.
2 No apenas a filosofia analtica que seguiu este
princpio
metodolgico de abandono da
representao
e da conscincia. Tambm parte importante da chamadafilosofia continental o fez, em
especial
nas variantes da hermenutica e a partirdas>,
O Conceito de
Representao
semntica das
linguagens
naturais. Davidson interessa-sepelo
conceito de esquema
conceptual,
oqual
equivale
grosso modo ao de representao
no sentido em que temos vindo a utilizar o termo, essencialmente para mostrar que admitir um dualismo esquema
conceptual,
por umlado,
eexperincia
tornadacompreensvel
por esse esquema, poroutro
lado,
repousa numduplo
erro: que h emprimeiro
lugar algo
deinforme
(dados
dos sentidos,sensaes, estmulos)
queadquire
formapela aplicao
de uma estruturaconceptual
e, emsegundo lugar,
quepossvel
umalinguagem
neutra,independente
de umalinguagem
familiar,
atravs daqual
se possam comparar esquemas diferentes noque
respeita
compreenso
das incontornveispotencialidades
ontolgicas
dalinguagem
naturalDiga-se
desdej
que aargumentao
deDavidson tem
aqui
umobjectivo:
mostrar que a natureza dalingua
gem noprioritariamente
a depreencher
certasfunes epistemol
gicas
comoorganizar
aexperincia,
representarfactos,
etc, mas sim oda
prtica
comunicacional entresujeitos, cuja
tarefa terica eprtica
principal
consistir emproduzir
formas detraduo
e deinterpretao
eficazes.
Faamos aqui
um parntese para lembrar como esta perspectiva se
aproximar
dos pontos de vista defendidos porRorty,
aodefender a
predominncia
de uma filosofiaconversacional,
emlugar
de uma filosofia por assim dizer assente nos valores
epistemolgicos
clssicos,
como a verdade e aobjectividade.
Por razes bem diferentes de
Frege,
a moderna(ou
parteimportante)
da moderna filosofia dalinguagem
retirarepresentao
uma relevnciaprimria
nafilosofia,
agora no apenas porque a
representao
noseja adequada
a umateoria
objectiva
dosentido,
mas porque aprpria
ideia de verdade ede
objectividade
que deslocada para outroplano,
no mais fundamental. Noutros termos,
podemos
dizer que isso acontece porque aprpria
noo
de verdade setrivializa,
se tornaalgo
redundante,
emfuno daquilo
que passa verdadeiramente ainteressar,
ouseja
umateoria da
traduo
e dainterpretao.
Nosignifica
isto que se deixede utilizar nestas teorias o conceito de
verdade,
mas sim que estemais um pressuposto para a
traduo/
interpretao
de enunciados doque um desideratum ltimo da teoria.
O que so
pois
esquemasconceptuais?
Alguns
filsofosenten-dem-nos como modos de
organizar
aexperincia,
sistemas de categorias que do forma aos dados dos sentidos. Assim o esquema concep
tual recupera o valor
epistmico
e afuno
darepresentao:
estafuncionalmente um interface entre
sujeito
eobjecto
e apenas essade uma
concepo
de verdade comocorrespondncia,
diremos que umarepresentao
verdadeira se e apenas se aos termos da representao
corresponderem
entidades domundo3,
assim como acontece entre umquadro
ou umafotografia
e as entidades que estas suposta menterepresentaro.
No se deveconfundir,
apropsito,
representao
com a merapercepo,
nalinguagem
tcnica dafilosofia,
a representao
mais do que isso: arepresentao
verdadeiramenteaquilo
que o
sujeito
coloca diante de si e entre si e a realiadde e que por issoenvolve uma actividade
terico-prtica.
No quer isto dizer que arepresentao
seja
maiscomplexa
do que apercepo.
O que aconteceque a filosofia tende a emprestar um carcter normativo represen
tao,
enquanto reserva o estudo dapercepo
para apsicologia
e as suasexplicaes
causais. O esquemaconceptual
aparecepois aqui
como uma interfacelingustica,
constituda por coisas to diferentes como formassubstantivas,
formasverbais, demonstrativos,
indexicais ouquantificadores
comotodo,
cada um,alguns.
Num
artigo
famoso intitulado "On the very idea of aconceptual
scheme"
(D.
Davidson, 1984,
pp.183-198)
Davidson examina otipo
de
relao
que umalinguagem
(sem
distino
entrelinguagem
natural eartificial)
dever ter com a realidade parapreencher
asfunes
deum verdadeiro esquema
conceptual.
"A ideiapois
quealgo
umalngua
e associado com com um esquemaconceptual,
quer o possa mos traduzir ou no, se se encontra numa certarelao
com(predizen
do,
organizando,
confrontando ouadequando-se)
com aexperincia
(natureza,
realidade,
estmulossensoriais).
Oproblema
dizer querelao
essa e ser claro acerca das entidades relacionadas"
(D.
Davidson,
1984,
191).
Alinguagem
queaqui
os filsofos defensores do valor doesquema
conceptual
utlizam metafrica e asimagens
dividem-se em doisgrandes
grupos: ou se diz que os esquemasconceptuais
organi
zam ou que se
adequam (tofit)
experincia.
Se examinarmos convenientemente a
primeira
imagem chegaremos
concluso que ela node
grande ajuda
paracompreender
o funcionamento de um esquemaconceptual
no sentido atrsexposto.
como sequisssemos
trabalhar com umdualismo,
noqual
tivssemos por um ladoalgo
(a
realidade,
a3 Um bom exemplo desta concepo
correspondencional
da verdade fornecidapelo Wittgenstein do Tractatus, 4.0311: "(Na
proposio)
Um nome est em vezde uma coisa, um outro em vez de outra e entre si eles esto ligados, assim o todo
apresenta o estado de coisas como uma imagem viva" e ainda 4.0312: "A possibi
lidade daproposio fundamenta-se no
princpio
dos sinais serem mandatrios dosO Conceitode
Representao
natureza, o fluxo das
sensaes)
aorganizar
e por outroalgo
(uma
lngua que no
dependesse
datraduo
noutroidioma)
queorganiza
segundo
certos critrios. Mas a verdade que,argumenta
Davidson,
impossvel organizar
o que quer queseja
independentemente
de critrios
familiares,
j
existentes nalngua,
isto com conceitos familiaresque individuam
objectos.
"Anoo
deorganizao aplica-se
apenas apluralidades.
Masqualquer
queseja
apluralidade
que tenhamos emvista - acontecimentos
como
perder
um boto ou coar um dedo dop,
terumasensao
de calor ou ouvir um obo-temos que os indivi
duar de acordo com com
princpios
familiares. Umalinguagem
queorganiza
tais entidades tem que ser umalinguagem
muito semelhantenossa"
(D. Davidson, 1984,
192).
Assim no haver critrios deorganizao
fora
de umalinguagem familiar
e oargumento
consistebasicamente em mostrar que no tem sentido um dualismo entre
esquema
conceptual
e contedosorganizados
apartir
de uma massainorganizadada.
Por outraspalavras,
os nossos esquemasconceptuais
so
j
partes dalngua
natural,
quepartilhamos
com quem nos enten demos.Ser que a ideia de
adequao
de esquema aos dados da experincia mais til para
compreendermos
como se relaciona o esquemaconceptual
com aexperincia?
Neste ponto aargumentao
deDavidson consiste em mostrar que
aquilo
que o filsofo e o metafsicodevem considerar que
partilhar
umalinguagem
numasituao geral
de
comunicao
pressupe
apartilha
de um mundo que, nos seus traos maisrelevantes,
deve ser verdadeiro. Os interlocutores devempressupor a verdade dos enunciados e nessa
pressuposio
que semostra
j
a estrutura de umalinguagem qualquer.
A ideia que se umenunciado tem sentido porque
pressuponho
a sua verdade ou a suaverdade em
princpio.
Face a um enunciadoqualquer
o interlocutorno procura por
isso,
emprimeira
instncia,
saber seaquele
seadequa
oucorresponde
experincia,
mas tradu-lo ouinterpreta-o
na sua linguagem, quer esta
seja
a mesma do interlocutor ou outra na pressuposio
da verdade. Entreinterlocutores,
s com um pano de fundo deum
largo
acordo relativamente a crenas e sentidos de termospossvel
o entendimento e mesmo o erroobjectivo.
Davidson no defende a ideiasimplista
que a verdadegarantida
por um acordo pormais
amplo
que esteseja.
O que ele defende que "muito do queacordado deve ser
verdade,
sealgo
do que acordado falso"(D.
Davidson, The MethodofTruth
inMetaphysis,
1984,
200).
Para comcomo ele
aplica
sua semntica dalngua
natural a teoria da verdadede
Tarski,
isto aconveno
T para aslinguagens
formais. Esta corresponde
a umaequivalncia
entrefrases,
em que uma(a
dadireita)
traduz ou
interpreta
outra(a
daesquerda)
entre aspas, numalngua
L.Essa
equivalncia possui
aseguinte
forma: "f" verdadeira em L se esomente se p. Por
exemplo
a frase "a neve branca" verdadeira se esomente se a neve branca ou, no caso de "f" ser em
ingls
e L continuar a ser
portugus,
"snow is white" verdadeira se e somente se a neve branca. A verdade de "f" apenaspode
ser reconhecida natraduo
por outra frase pertencente a L: no caso de ser e a redun dncia que nopode
deixar de ser notada apenas indica que a verdadede um
enunciado,
qualquer
que eleseja, depende
antes de mais da suatradutibilidade. A necessidade da
pressuposio
deverdade,
segundo
Davidson,
a de mostrarquais
ascondies
em que a frase "f"pode
ser verdadeira em L e assiminterpretar
ou traduzir "f". Mas "f" noverdadeira porque eu a traduzo ou reduzo a um esquema
conceptual
que eu
estipulo
apriori
como sendoaquele
a que a frase se devesubordinar para que a sua verdade
(ou
a suafalsidade)
seja
possvel.
De
facto,
se eu fr defensor de umapriorismo
do esquemaconceptual,
para saber se uma frase como "a neve branca" verdadeira devo
exigir
algumas condies
quejulgo
necessrias,
tais como: o termo dosujeito
ser identificvelespacio-temporalmente,
critrios de identidade para as entidades de que
falo,
critrios deespecificao
de instncias
particulares
relativamente a conceitosgerais,
isto saberquando
que me refiro a
algo
como instncia ouexemplo
de um conceitogeral,
etc. Ora para Davidson a filosofia no tem que se preocupar emdeterminar tais esquemas
conceptuais,
mas sim em revelar os traosmais
gerais
de um mundopartilhado
entresujeitos
que pressupem massivamente a verdade dasrespectivas
asseres
e no o erro massivo dessas
asseres.
Isso no feitoprecisamente
atravs da construo
apriorstica
de esquemasconceptuais
(um
empreendimento
quefoi o de Kant, mas tambm com
diferenas
o dealguns
filsofos dalinguagem
contemporneos,
como P.F.Strawson).
A teoria da verdade davidsonianapretende
arevelao
da estrutura semntica daslingua
gens, estrutura semntica essa que por sua vez revela a
ontologia
domundo,
nos seus traos maisgerais.
conveniente no entanto subli nharprecisamente
que nos seus traos maisgerais
que aontologia
do mundo se revela e o
prprio
Davidson lembra que"aquilo
que umateoria da verdade descreve o que o
padro
da verdade(pattern truth)
tem que fazer entre os
enunciados,
sem nos dizer onde caiO Conceito de
Representao
padro.
"Assim,
porexemplo,
eu acho que um nmero muito vastodas nossas
asseres
mais comuns acerca do mundo nopodem
ser verdadeiras a no ser quehaja
acontecimentos. Mas uma teoria daverdade,
mesmo que tome a forma que euproponho,
noespecificaria
que acontecimentos
existem,
nem mesmo sealguns
existem.Contudo,
se estou certo acerca da formalgica
de enunciadosrespeitantes
mudana,
ento a no ser quehaja
acontecimentos, no h acontecimentos comuns que se refirama
mudanas"
(D.
Davidson,1984,
214).
Acontece que a
tradio
clssica mais relevante nunca separou oconceito de
representao
daexpresso
lingustica,
particularmente
nunca a separou do
juzo.
Na Crtica da RazoPura,
porexemplo,
aprimeira deduo
que Kant faz dascategorias
do entendimento feitaa
partir
de umquadro
dasprincipais
formaslgicas
dojuzo.
Se toda arelao
de conceitos comobjectos
se faz por meio dojuzo, segundo
as suas vriasformas,
natural que apenas noquadro
dojuzo
tenhasentido falar-se da
representao
qua entidade com valorcognitivo.
Numa
formulao
consagrada
o"juzo
o conhecimento mediato de umobjecto,
portanto arepresentao
de umarepresentao,
referindo--se esta ltima imediatamente aoobjecto"4
(Kant,
1985,
102).
Diver sosproblemas podem
cruzar-se neste ponto, nomeadamente sabercomo existem as
representaes
deprimeiro
nvel ou imediatas-na
terminologia
deKant,
intuies empricas
-ou se estas devem consi-derar-se uma mera
estipulao
paraexplicar
como se gera o conhecimento, o
qual
nuncaprescinde
de conceitos relacionados comqualquer
coisa,
um datumprimitivo.
O que no entanto se deve ressaltar o facto do
juzo,
enquantoligao
deobjectos
e conceitos eactividade
primordial
da vidacognitiva,
nopoder
deixar de ser umamediao
derepresentaes,
"umarepresentao
derepresentaes",
diziaKant,
e, por outrolado,
como essaligao
ao mesmotempo
umquadro organizativo,
um fremework queconfigura
e sustenta. Naverdade o que acontece que a filosofia se interessou
pela
representao,
na medida em que esta tenha relevncia no conhecimentoobjec
tivo do mundo e tambm na medida em que supostamente intervm na
estrutura
conceptual.
Nesse caso no a continuamos a considerarisoladamente e deixa de fazer sentido falar de
representao,
indepen
dente do
juzo
ou dapredicao
ou de umadescrio lingustica parti
cular.
Imagine-se algum
diante de umobjecto
de arte numaexposi
o.
O nico quepoder
ser considerado relevantepara a anlise
filosfica
qualquer
comportamentolingustico
por parte do observa-4
dor e no as
representaes
mentaisinteriores, espirituais
de que falavaFrege.
Dealgum
modo estas so lidas naexpresso
verbal, que,por assim
dizer,
as transforma em material acessvel e comsignifica
do. As
representaes
lingusticas
de que falamos sosempre o resul
tado de comportamentos
cognitivos
de utilizadores de conceitos e de formadores dejuzos,
naterminologia
de P.F. Strawson.Qual
, paraestes utilizadores de conceitos e formadores de
juzos,
a estruturaelementar das suas
representaes
lingusticas? Segundo
Strawson essa estrutura "umaimagem (picture)
domundo,
noqual
coisasesto
separadas
e relacionadas no espao e notempo;
noqual
diferentes
objectos particulares
coexistem e tmhistrias;
naqual
diferentesacontecimentos
particulares
acontecem sucessivamente e simultaneamente; no
qual
diferentes processos secompletam
a si mesmos notempo"5.
aintroduo
dasnoes
de espao e detempo que
permite
que a
representao
lingustica
ou ojuzo
tenha uma referncia aomundo
objectivo.
O cruzamento do espao e dotempo
comocondio
essencial.
Aquilo pois
que nasexpresses
lingusticas
marcadopelos
indexicais ou demonstrativos"este",
"aquele", "agora",
etc, vaidiferenci-las quanto ao estatuto
cognitivo.
Para Strawson tempri
mazia
epistemolgica
(e
tambmontolgica)
arepresentao
que, porintermdio de
demonstrativos,
permite
aidentificao
departiculares.
Toda a
representao
com valor informativo sobre a realidadeobjec
tiva apresenta a caracterstica fundamental da
identificao
departi
culares em
expresses
formadaspelos
marcadoresespacio-temporais.
So estes que confirmam a
qualidade
daexpresso
lingustica
comorepresentao
acerca domundo,
noqual
os utlizadores de conceitos eformadores de
juzos
se encontram. Masprecisamente
asexpresses
constitudas por conceitos
gerais
no devero ser consideradas maiscompreensivas,
no fornecem maisamplo
conhecimento acerca domundo?
Expresses
marcadas por demonstrativos ou indexicais no so afinal apenas instncias deexpresses
formadas por conceitosgerais?
Aresposta
dever ser que umarepresentao lingustica,
emque o espao e o
tempo
nodesempenhem
nenhumpapel,
s ilusoriamente fornece mais
amplo
conhecimento do que umarepresentao
indexicalmente constituda. Acrescenta-se ainda que o sentido das
primeiras depende
em ltima instncia de uma refernciapossvel
aqualquer
instnciaparticular
de conceitosgerais.
Acompreeenso
deum conceito
geral
supe
o conhecimentoprvio
das suas instncias.Por
isso,
juzos
oudescries lingusticas
que nocontenham,
aindaO Conceito de
Representao
que
implicitamente
elementos indexicais, serodesprovidos
de umponto de vista que
precede
ageneralidade
semponto
de vista. Autores como Strawson sublinham a natureza apriori
dosjuzos
com contedo
indexical,
enquantorepresentaes
de instnciasparticulares.
Sojuzos
deperspectiva
ou ponto de vistaaqueles
que tambmpermitem
qualquer
reconhecimento ouidentificao
departiculares.
Maispreci
samente so
juzos
que incluem aperspectiva
da Ia pessoa. Oprinc
pio
de umjuzo
deperspectiva, cognitivamente
relevante, o da possibilidade da
identificao
/ reconhecimento de um ou maisparticula
res. Talprincpio
articula-se com outroprincpio
apriori,
isto adistino ontolgica
entre individuaisespcio-temporais (sujeitos
depredicao)
e conceitosgerais (predicados).
Assim,
sempre quehaja
necessidade de esclarecer umjuzo
ouproposio
para umouvinte,
aquilo
que o falante faz referir os conceitos que utiliza a instncias mais
particulares.
Strawson argumenta afavor da existncia de
particulares
bsicos,
que socondies
apriori
para
representaes
cognitivamente
relevantes(com
significado
emprico).
Grande parte daargumentao
transcendental de Strawsontem como
objectivo
demonstrar a natureza apriori
de taisparticulares
bsicos,
pelo
que, em certosentido,
oproblema
darepresentao
noslimites do
juzo
ser esclarecido no mbito de uma discusso acercada existncia de tais
particulares
bsicos. Dequalquer
modo,
a compreenso
de umarepresentao
simblica de conceitosgerais,
por
exemplo
doconjunto
de smbolos numaalegoria,
supe
apossibilida
de de
representao
de instnciasparticulares
menos sofisticadas deque
dependem.
O processo de discusso e esclarecimento entrefalantes e ouvintes desenvolve-se por isso em
grande
medida nas for mas deinstanciao
dos conceitosgerais
e nadefinio
do quesejam
particulares
fundamentais.Em concluso para os defensores do esquema
conceptual
noparece
plausvel
que a filosofia possa considerar a verdade comoapenas um pressuposto da
compreenso
no terreno datraduo
e dainterpretao.
Precisamente aconveno
T tarskiana uma teoria daverdade para
linguagens
formais: a suaaplicao
slinguagens
naturais ser
pelo
menosproblemtica,
noapenas porque no
lquido
queseja
o pressuposto da verdade quepossibilita
acompreen so
mtua,
mas porque sobretudo aslnguas
naturaisimplicam,
no seuuso, um
compromisso
ontolgico
que a filosofia tem o dever de escla
Bibliografia:
D. DAVIDSON-Inquiries
into Truth andInterpretation
(Oxford: ClarendonPress, 1984)
FREGE-
Nachgelassene
Schriften (Hamburg:
Flix MeinerVerlag,
1969)KANT
-Crtica da Razo Pura (Lisboa:
Fundao
Calouste Gulbenkian,1985)
P. F. STRAWSON - Individuais
-An essay in
descriptive metaphysics
(London: Methuen, 1959)WITTGENSTEIN
-Tratado