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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL: SUSTENTABILIDADE NA ESCOLA

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Academic year: 2021

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL: SUSTENTABILIDADE

NA ESCOLA

Alexandre de Jesus Pereira* Fabio Narduchi**

UNISUAM UNIGRANRIO

ajsemed@bol.com.br fabionarduchi@uol.com.br

Eduardo Barbuto Bicalho*** Maria Geralda de Miranda****

CCJF UNISUAM/USU

eduardobarbuto@yahoo.com.br mgeraldamiranda@gmail.com

RESUMO

O presente artigo traz um recorte da minha dissertação de mestrado intitulada Educação

Ambiental e Ações de Sustentabilidade na Escola, pesquisa que teve como objetivo analisar

as experiências no âmbito de uma horta escolar, utilizada como estratégia pedagógica e interdisciplinar para o aprendizado de questões ambientais. A referida pesquisa partiu do pressuposto de que a presença de uma horta escolar pode servir como estratégia para despertar o interesse em alunos e professores sobre questões relativas à educação ambiental (EA), além de possibilitar o desenvolvimento de diversas atividades pedagógicas relacionadas ao assunto. A pesquisa foi realizada na Escola Municipal Vereador Américo dos Santos, localizada na Cidade de Mesquita, na Baixada Fluminense - Rio de Janeiro. Surgiu, em 2015, com o objetivo de auxiliar a formação dos alunos e da comunidade escolar em relação à educação ambiental. O Projeto envolve professores e alunos da primeira e da segunda etapa do Ensino Fundamental. O projeto de construção da horta foi desenvolvido em parceria com professores e alunos do Ensino Fundamental, buscando uma proposta de ação coletiva e organizada, com aportes de diferentes saberes e fazeres, com vistas à conscientização de alunos e de professores para a preservação do meio ambiente e para o desenvolvimento sustentável. A horta escolar se insere, portanto, nesse contexto, como

* Possui graduação em Educação Física pelo Centro Universitário Augusto Motta(2012). Atualmente é Diretor Geral da Prefeitura Municipal de Mesquita.

** Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Humanidades, Culturas e Artes da Universidade do Grande Rio - UNIGRANRIO (Bolsista da Capes). Possui graduação (Licenciatura/Bacharelado) em Educação Física pela Universidade Estácio de Sá. Pós-graduado em Língua Portuguesa e em Supervisão e Orientação Educacional pela Universidade Cidade de São Paulo - UNICID. Atualmente, é docente das prefeituras de Nova Iguaçu e da cidade do Rio de Janeiro.

*** Graduado em Direito pela UFRJ (2007), Especialista em Direito Público pela Universidade Cândido Mendes (UCAM), Mestre em Direito e Políticas Públicas pela UNIRIO. Atualmente é Chefe do Setor de Publicações do Centro Cultural Justiça Federal (CCJF) e Editor-Gerente das revistas LexCult: Revista Eletrônica do CCJF e Auditorium: Revista da Seção Judiciária do Rio de Janeiro.

****

Professora da Graduação e Mestrado em Desenvolvimento Local do Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM). Pós-doutora em Estudos de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa pela UFRJ. Doutora em Letras com ênfase em estudos pós-coloniais pela UFF, especialista em Literaturas Vernáculas pela UERJ e mestre em Literatura Comparada com ênfase nos estudos culturais pela UFF.

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ferramenta para a escola, que está entre os agentes mais importantes no processo de conscientização.

Palavras-Chave: Meio ambiente. Educação Básica. Educação ambiental.

SOCIAL REPRESENTATIONS IN ENVIRONMENTAL EDUCATION:

SUSTAINABILITY AT SCHOOL

ABSTRACT

This article presents a review of my master’s dissertation entitled Environmental Education and Sustainability Actions in the School, a research that had the objective of analyzing the experiences within a school garden, used as a pedagogical and interdisciplinary strategy for the learning of environmental issues. This research started from the assumption that the presence of a school garden can serve as a strategy to awaken the interest in students and teachers on issues related to environmental education (EA), in addition to enabling the development of various pedagogical activities related to the subject. The research was carried out at the Municipal School Vereador Américo dos Santos, located in the City of Mesquita, in the Baixada Fluminense - Rio de Janeiro. It emerged, in 2015, with the objective of assisting the training of students and the school community in relation to environmental education. The Project involves teachers and students of the first and second stage of Primary Education. The project of construction of the vegetable garden was developed in partnership with teachers and students of Elementary School, seeking a proposal of collective and organized action, with contributions of different knowledges and actions, with a view to raising awareness among students and teachers for the preservation of the environment and sustainable development. In this context, the school garden is therefore a tool for the school, which is one of the most important agents in the process of raising awareness.

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1 INTRODUÇÃO

A Educação Ambiental, vista como um conjunto de ações que visa à modificação de valores e de atitudes que nos levem à construção de uma sociedade ambientalmente sustentável adquire, neste momento, principalmente através de instituições educacionais, papel fundamental na mudança das representações sociais – RS- que caracterizam nossa sociedade. Essas representações, como forma de conhecimento socialmente elaborada e partilhada, apresentam um caráter dinâmico e aberto, o que nos permite atuar de maneira ativa em sua modificação (ARRUDA, 1995).

Em nosso levantamento das investigações sobre as RS de Meio Ambiente, vimos que, desde a década de 1980, a noção de RS ampliou sua presença em trabalhos do campo ambiental. Com efeito, a ideia de RS está, hoje, presente nas ciências humanas e não é patrimônio de uma área em particular. As representações sociais do meio ambiente, assim como os valores atuais que contemplam as relações humanas, têm sido foco de pesquisas por parte de órgãos governamentais e educadores, sensibilizados com a importância da EA no Brasil (ARRUDA, 2002).

2 A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A Teoria das Representações Sociais (TRS), desenvolvida pelo teórico francês Serge Moscovici foi o aporte teórico utilizado no trabalho, para o levantamento das impressões dos sujeitos pesquisados sobre as estratégias e ações para educação ambiental e desenvolvimento sustentável, pois essa teoria procura adentrar na cotidianidade dos sujeitos e filtrar as sínteses entre o cognitivo e o social. A referida teoria parte do princípio de que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar, reguladas por objetivos diferentes, formas que são dinâmicas. Moscovici (2004, p.48) afirma que:

As representações sociais são conjuntos dinâmicos, seu status é o de uma produção de comportamentos e relações com o meio, o de uma ação que modifica uns e outros, e não o de uma reprodução, nem o de uma reação a um estímulo exterior determinado. São sistemas que têm uma lógica própria e uma linguagem particular, uma estrutura de implicações que se referem tanto a valores como a conceitos [com] um estilo de discurso próprio. (MOSCOVICI, 2004, p.48)

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De acordo com Farr (1995), Moscovici encontrou em Emile Durkheim o fundamento para a construção de sua teoria, dando uma clara continuidade aos estudos das representações coletivas do sociólogo francês, que, por muito tempo, ficaram esquecidas do meio científico/acadêmico.

Durkheim utilizou, pela primeira vez, o termo “representação coletiva” no prefácio da segunda edição do seu livro As regras do método sociológico. O sociólogo utilizou o termo “representações coletivas” para explicar uma forma de ideação social, a qual se opõe à representação individual. Esse termo foi por ele aplicado a sociedades estáticas, tradicionais, ou seja, não estavam sujeitas a inovações. Dessa forma, compreendiam-se como representação social diversos tipos de produções mentais e sociais (como a ciência, a religião, a ideologia, os mitos e outros). Observa-se que Durkheim concebia leis da ideação social no jogo que se mantém entre elas, abstendo-se de discutir os aspectos cognitivos da representação e a sua produção pelos grupos sociais.

Moscovici (2003) dá às representações coletivas uma configuração completamente diferente, visto não estar comprometido com a filosofia positivista da ciência, como Durkheim. Em seu livro A psicanálise, sua imagem e seu público, Moscovici retoma o ponto de vista de Durkheim em relação à sociedade e soma a essa perspectiva novas especificações. O autor também indica que é possível a construção de um conhecimento válido pelo senso comum e que se pode apreender o conhecimento em uma dimensão psicossociológica.

O teórico vai mais além e se debruça sobre uma forma de conhecimento, apropriada ao mundo contemporâneo, na qual predominam mudanças constantes e o pluralismo de ideias e de doutrinas, quer políticas, quer religiosas, filosóficas e morais, em uma sociedade em que essa dinâmica convive com uma ciência isolada e elitista que fala uma linguagem esotérica, sem dar conta da diversidade e da mobilidade dos diversos grupos sociais e dos indivíduos que os compõem.

Estudando a psicanálise, uma teoria científica, Moscovici (2003) mostra que a mesma se modifica à medida que penetra na sociedade e é apropriada pelos diferentes grupos sociais escolhidos, segundo a sua posição social, suas visões políticas e seu nível

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sociocultural. Isso demonstra que o saber científico é transformado em uma dimensão de senso comum, pelos diversos grupos estudados.

Por isso, o avanço da teoria de Moscovici em relação à proposta de Durkheim permite-nos melhor entendimento da dinâmica da sociedade moderna e de sua pluralidade, pelo fato das interações sócio-culturais serem decisivas na biografia individual, que lançam o indivíduo num mundo de relações sociais pré-existentes, permitindo a apropriação dos universos simbólicos relacionados ao seu contexto, e sua construção junto a esse coletivo das representações sociais (JODELET, 2001).

Essa multiplicidade de relações com disciplinas próximas confere ao tratamento psicossociológico da representação como estatuto transverso que interpreta e articula diversos campos de pesquisa, reclamando não uma justaposição, mas uma real coordenação de seus pontos de vista. (JODELET, 2001, p.22).

Moscovici (2003) afirma a existência de dois universos: o consensual e o reificado. No universo consensual, a sociedade é uma criação aparente, contínua, penetrada de sentido e finalidade, contendo uma voz humana de acordo com a existência humana, agindo e reagindo como um ser humano. Em outras palavras, o ser humano é, aqui, a medida de todas as coisas. No universo reificado, a sociedade é transformada em um sistema de entidades estáveis e invariáveis, que são indiferentes à individualidade. Essa sociedade passa a ignorar a si mesma e as suas criações, que ela considera somente como objetos isolados, tais como pessoas, ideias e atividades. Nessa perspectiva, a sociedade também é vista como um sistema de diferentes papéis e classes, cujos membros são desiguais e somente a competência adquirida estabelece seu grau de participação de acordo com o mérito.

Representação social é uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social. Igualmente designada como saber de senso comum ou ainda saber ingênuo, natural, esta forma de conhecimento é diferenciada, entre outras, do conhecimento científico (JODELET, 2001, p.22).

Jodelet (2001) afirma que não é fácil transformar palavras não familiares em palavras usuais. A autora afirma que é necessário, para dar-lhes uma feição familiar, pôr em funcionamento os dois mecanismos de um processo de pensamento baseado na memória e

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em conclusões passadas e o primeiro mecanismo tenta ancorar ideias estranhas, reduzi-las a categorias e a imagens comuns, ou seja, colocá-las num contexto familiar.

Segundo Moscovici (2003), esse mecanismo é chamado de ancoragem. Através da ancoragem damos nomes e classificamos as coisas, pois coisas que não são classificadas e não possuam nomes são estranhas, não existentes e ao mesmo tempo ameaçadoras. Nós experimentamos uma resistência, um distanciamento, quando não somos capazes de avaliar algo, de descrevê-lo a nós mesmos e a outras pessoas. O segundo mecanismo tem a função de objetivar, ou seja, transformar algo abstrato em algo quase concreto, transferir o que está na mente em algo que exista no mundo físico.

A análise das representações sociais que alunos e professores fazem sobre uma horta escolar enquanto estratégia pedagógica e interdisciplinar para o aprendizado de questões ambientais parece ser uma ferramenta importante para avaliar as possíveis ancoragens e objetivações feitas por eles durante o estudo dos temas propostos. Além disso, através das representações sociais do grupo em questão, acreditamos que seja possível obter dados a respeito das ideias circulantes, relacionadas ao tema, que apresentam maior aceitação de plausibilidade e aquelas que parecem ser mais rejeitadas, devido às representações sociais que o grupo pesquisado possui em relação ao tema em questão.

3 O CAMPO PRÁTICO DA PESQUISA

Esta pesquisa foi desenvolvida na Escola Municipal Vereador Américo dos Santos, localizada na Cidade de Mesquita, na Baixada Fluminense - Rio de Janeiro. Essa instituição atende, em grande parte, aos alunos moradores do entorno da escola, em sua maioria de classe pobre. A Escola Municipal foi inaugurada, em 04 de fevereiro de 2001, num galpão que pertencia a uma fábrica de móveis, a fim de atender a necessidade da população de Banco de Areia, Mesquita, Rio de Janeiro.

Em 2008, o prédio novo foi inaugurado e, atualmente, a escola atende do 1° ao 9° ano do Ensino Fundamental, inclusive com a modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA), possuindo 1149 alunos, divididos em 36 turmas - 14 do 1º segmento e 22 do 2º segmento. A instituição possui 164 funcionários.

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O Colégio possui laboratório de ciências, sala de informática com acesso à internet, uma biblioteca, quadra de esportes coberta, alimentação escolar para os alunos, dependências e Sala de recursos multifuncionais para Atendimento Educacional Especializado (AEE), 20 salas de aulas e sala de professores, lanchonete e auditório para reuniões.

O presente trabalho foi elaborado no momento em que se discutiam alternativas que ajudassem a criar estratégias pedagógicas e interdisciplinares para o aprendizado de questões ambientais. Dessa forma, a intervenção realizada foi proposta em duas etapas: A primeira delas foi a implantação da horta escolar com a participação de toda a comunidade escolar; a segunda etapa foi a elaboração de práticas que permitissem demonstrar as possibilidades do uso da horta escolar no ensino das diversas disciplinas oferecidas pela escola.

A horta implantada na Escola Municipal Vereador Américo dos Santos teve, para sua realização, o envolvimento de toda a comunidade escolar; alunos do 1º ao 9º ano, professores, funcionários e voluntários. A proposta do projeto foi levada ao conhecimento da direção e ao conselho deliberativo da escola, sendo a mesma aprovada, depositando, nos envolvida, toda a autonomia e a credibilidade na realização do projeto.

O local, para a implantação do projeto, foi um terreno fora da escola cedido pela Secretaria Municipal de Educação de Mesquita (SEMED). Trata-se de área adequada para a implantação da horta. O espaço possui arborização, que produz sombreamento natural, proximidade com maior número de unidades escolares da rede e fornecimento de água adequado.

Para a realização da implantação da horta, as ações iniciaram-se no mês de março de 2016, tomando, como partida, a sensibilização de toda a comunidade escolar acerca da importância da construção da horta, dos objetivos, bem como esclarecendo algumas dúvidas relacionadas a esse projeto.

Quanto à aquisição de materiais, pais de alunos doaram o esterco; com isso, foi organizado um dia da semana para buscar esse material; para tanto, necessitou-se do uso de enxadas e sacos para a coleta do esterco. Foi também doado, pelo secretário de agricultura

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do município, vários tipos de sementes, como alface, couve, coentro, rúcula, salsa e cebolinha.

Os recursos materiais necessários para a realização da horta foram: enxadas, enxadões, rastelo, mangueira, caixa para depósito da água, girador, esterco, regradores, sementes e mudas de hortaliças. Com esses materiais em mãos, todos os alunos do 1º ao 9º ano e professores foram fazer a limpeza do local e definir o tamanho e a posição de cada canteiro. Em outro momento, fizeram os canteiros e prepararam para utilização didática da mesma.

4 OS PARTICIPANTES

Para a análise, foram entrevistados 30 estudantes da turma do quinto ano do Ensino Fundamental no período de agosto a setembro de 2016. O questionário, respondido individualmente, contendo nove questões, visou detectar, de forma coerente e objetiva, as Representações Sociais dos estudantes dentro do projeto Horta Escolar. Inicialmente, utilizamos algumas questões fechadas. Logo a seguir, foram aplicadas perguntas abertas aos alunos participantes da entrevista.

5 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS

A pesquisa apresentou uma abordagem qualiquantitativa de caráter descritivo. A abordagem qualitativa se desenvolveu de acordo com a pesquisa dos fenômenos do próprio contexto do ambiente escolar - significados socioculturais - obtendo complementação da abordagem quantitativa em alguns resultados obtidos relacionados a perguntas de questionários como método de coleta de dados. O Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) proposto por Lefèvre; Lefèvre (2003) guiou a interpretação dos dados.

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6 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A seguir, são apresentados os quadros relativos às questões empregadas na pesquisa e os discursos que revelaram a representação social dos estudantes. Inicialmente, utilizamos algumas questões fechadas. Logo a seguir, foram feitas perguntas abertas aplicadas na turma do quinto ano.

Questão 01: Você participou do projeto Horta Escola na escola? ( ) sim ( ) não

Gráfico 1: Análise da pergunta 1 .

Com as respostas à questão 1 do questionário, foi traçado o gráfico 1, onde podemos observar que 78% dos alunos começaram a participar do projeto quando estavam no inicio do quinto ano do Ensino Fundamental. Os outros 22% dos alunos não participaram do projeto.

Questão 02: Você considera de grande importância que a escola tenha uma horta? ( ) sim ( ) não

Gráfico 2: Análise da pergunta 2

Com as respostas à questão 2 do questionário, foi traçado o gráfico 2. Esse gráfico demonstra que 97% dos entrevistados consideram de grande importância que a escola

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tenha uma horta para a obtenção de hortaliças frescas e saudáveis, levando os alunos ao contato com o solo, aprendendo a desenvolver trabalho em equipe e, através do envolvimento desses alunos no cultivo dessas hortaliças, incentiva-se a consumi-la, beneficiando-lhes a saúde.

Questão 03: O projeto horta escolar ajudou você a entender os conceitos relacionados à disciplina de Ciências? ( ) sim ( ) não

Gráfico 3: Análise da pergunta 3

Com as respostas à questão 3 do questionário apresentadas a seguir, foi traçado o gráfico 3. O gráfico mostra que 87% dos alunos acham que o projeto os ajudou a entenderem as aulas de ciências.

O maior destaque foi dado às aulas práticas, indicando que elas são uma maneira de sair da rotina de sala de aula, onde eles podem vivenciar e aprender utilizando elementos simples do cotidiano. O uso de recursos didáticos diferentes faz com que a aprendizagem se torne mais significativa, ou seja, mais atrativa. Como feito nas aulas de Ciências, elas foram todas práticas, envolvendo os alunos. Como, por exemplo, a aula sobre a preservação e a decomposição dos solos (permeabilização, fertilidade, erosão); a água, o ar e a interação do ambiente com os seres vivos; constituição e nutrientes do solo; espécies vegetais e desenvolvimento das plantas, luminosidade, temperatura e fotossíntese; insetos. Essa integração dos alunos, nas aulas práticas, faz com que eles entendam situações que não entendiam antes, pelo simples fato de utilizar elementos do cotidiano. Isso incentiva o aluno a querer aprender mais e melhora o ensino (BRASIL, 1999).

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Os dados relativos às outras questões foram submetidos à metodologia qualiquantitativa do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) conforme proposto por Lefèvre; Lefèvre (2003). Os alunos foram identificados por A1, A2, A3, nessa ordem.

TABELAS PARA CATEGORIZAÇÃO DAS RESPOSTAS Tabela 01. Categorização das respostas à questão 01:

Qual a importância da Horta Escolar para você?

Categorias Respostas dos alunos

Conservação do meio ambiente A1, A4, A6, A7, A8, A10, A11, A12, A13, A18, A19, A22, A28, A29, A30 1 Preservação ecológica A5, A9, A2, A20, A23, A26

Interação com a natureza A14, A15, A16, A17, A24, A25 Desenvolvimento Sustentável A2, A3, A24

Fonte: Elaborada pelo autor.

Na questão 1, o discurso acerca da “conservação do meio ambiente” apresentou maior adesão, aparecendo de forma mais contundente, indicando que os alunos entenderam o porquê de ter uma horta, ou seja, da cultivação desta. Valorizou-se a importância do alimento para consumo próprio, incentivando o aluno a adotar hábitos saudáveis. Essas ações integram o cotidiano do aluno na escola e em casa.

A cultivação da horta mostra a importância de direcionar o aluno para o futuro, ou seja, faz com que ele desenvolva outras atividades voltadas para o trabalho e para a cidadania (BRASIL, 1996).

A seguir, são apresentadas algumas respostas dos alunos:

A2: “É uma iniciativa interessante onde podemos obter diversos conhecimentos sobre ciências, matemática, geografia, entre outros. Diversos conteúdos que podem ser aplicados na horta”.

A7: “A experiência com uma horta escolar, além de incentivar a plantação de verduras com menos agrotóxicos trouxe colaborações para compreendermos o que é o desenvolvimento sustentável”.

Tabela 02. Categorização das respostas à questão 02.

O que mais ajudou você no processo de aprendizagem na experiência com a Horta Escolar?

Categorias Respostas dos alunos

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Aprendi a cuidar de uma plantação A20,A21,A22,A23,A24,A25, 27

Trabalho em equipe A1, A9, A10,A12,A16,A18, A19, A26, A6, 28

Fonte: Elaborada pelo autor.

Na questão 2, o discurso de maior adesão foi o da “interdisciplinaridade”, indicando que os alunos entendem que o projeto envolve várias disciplinas e que isso facilita o entendimento delas. Eles conseguiram conectar as disciplinas e viram a importância da interdisciplinaridade. De acordo com Santomé (1998), isso favorece uma relação de igualdade, ou seja, são conhecimentos que compartilham artifícios de estudos. Faz também com que os alunos tenham uma formação mais ampla do conhecimento, ou seja, um aprimoramento como pessoa humana e a compreensão de determinados fenômenos (BRASIL, 1999).

Tabela 03. Categorização das respostas à questão 03:

Qual o tema de geografia que você mais gostou na experiência com a Horta Escolar?

Categorias Respostas dos alunos

Estudo dos Tipos de solo A10,A23,A24, A20,A21,A26

Preservação dos espaços verdes A4,A6,A7,A12,A14,A16,A17,A18,A19, A30 Mexer na terra e plantar A2, A3,A8,A9,A11, A27, A29

Coleta do solo A1,A5,A13,A15,A22,A25,A28

Fonte: Elaborada pelo autor.

Na questão 3, o discurso de maior adesão foi o seguinte: o aprendizado sobre a “Preservação dos espaços verdes” é a questão mais importante. Percebe-se que alguns alunos gostaram da primeira aula que foi sobre a coleta do solo. Nessa aula, eles estudaram a densidade do solo. A utilização de espaços não formais estimula a aprendizagem de maneira diferenciada do espaço da sala de aula. Foi possível observar que os alunos participam de forma descontraída e que a curiosidade é constante. As possíveis perguntas surgem dessa curiosidade, são espontâneas e as respostas dadas pelos professores podem agregar outros conhecimentos àqueles já adquiridos pelos discentes na sala de aula formal,

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favorecendo que eles estabeleçam relações com as diferentes áreas do conhecimento (PAVIANI, 2008).

Tabela 04 . Categorização das respostas à questão 04:

O que você aprendeu na Horta Escolar que lhe tem sido útil no dia a dia?

Categorias Respostas dos alunos

Entender mais sobre a horta A2,A4,A11,A20,A22,A25, A28 Promover hábitos saudáveis A1,A5,A7,A9,A10,A13,A17,A21, A30 Plantar e cultivar A3,A6,A8,A14,A15,A16,A18,A23,A24,A26 O perigo do uso de agrotóxicos A12,A19,A27, A29,

Fonte: Elaborada pelo autor.

A seguir, são apresentadas algumas respostas dos alunos:

A15: “A plantar e cultivar legumes e verduras com qualidade”.

A19: “Que é necessário ter uma alimentação saudável e se conscientizar sobre o mal que os agrotóxicos fazem“.

Na questão 4, o discurso de maior adesão foi o de “plantar e cultivar”, que indica que a maioria dos alunos acredita que cultivar e plantar alimentos em casa é muito importante devido à facilidade de cuidar de uma horta. Na aula sobre os tipos de solo, eles entenderam qual solo é bom para cultivar uma horta. E, na aula de pH, foi mostrado como o solo deve ser preparado para o cultivo de uma horta. De acordo com Chaves (2004), percebe-se como é importante abordar um tema de forma integrada, ou seja, a interdisciplinaridade pode ser uma importante contribuição para a educação, não só na escola como para a vida.

Tabela 05 . Categorização das respostas à questão 05:

Qual a importância dos conhecimentos científicos para se cuidar adequadamente de uma horta?

Categorias Respostas dos alunos

Solo fértil A8,A11,A17, A26,A27, A29

Crescer bons frutos A1,A2,A4,A10,A12,A13,A22, A28 Não respondeu A3,A5,A6,A7,A18,A20,A21

Agrotóxicos A9,A14,A15,A16,A19,A23,A24,A25,A30

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A seguir, são apresentadas algumas respostas dos alunos:

A8: “Saber como manter o solo fértil, sem usar produtos que podem deixar o alimento contaminado”.

A19: “Conhecermos os produtos químicos que estamos utilizando”.

O termo agrotóxico aparece de forma mais marcante no sentido de que eles não devem utilizá-lo, porque causa uma série de doenças, por isso, o valor de se ter uma horta em casa. Tal observação mostra a importância dos professores de Química não ficarem apenas no modelo tradicional e, sim, levarem em consideração outras formas de ensino, como, por exemplo, a interdisciplinaridade que é um complemento no conhecimento escolar e corrobora para a construção de uma visão mais contextualizada (BRASIL, 2006).

Durante a entrevista, todos os alunos demonstraram interesse em responder ao que se perguntava e em justificar suas respostas. Eles também demonstraram ânimo e envolvimento, respondendo com clareza e, às vezes, até exemplificando.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Concluímos que a horta, inserida no ambiente escolar, torna-se um laboratório vivo que possibilita o desenvolvimento de diversas atividades pedagógicas na educação. A união teoria e prática de forma contextualizada auxiliam no processo de ensino-aprendizagem. As relações estreitam-se através da promoção do trabalho coletivo e cooperado entre os agentes sociais envolvidos, tendo um papel bastante importante, pois auxilia a comunidade escolar, levando, até ela, princípios de horticultura orgânica, compostagem, formas de produção dos alimentos, o solo como fonte de vida, relação campo-cidade, entre outros.

Inserida no ambiente, a horta escolar foi uma possibilidade para a abordagem da educação no campo do ensino formal e para a prática da interdisciplinaridade, podendo ser uma ferramenta bastante eficaz na formação integral do estudante, uma vez que o tema exposto aborda diversas áreas de conhecimento, podendo ser desenvolvido durante todo o processo de ensino/aprendizagem.

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REFERÊNCIAS

ARRUDA, A. Ecologia e desenvolvimento: representações de especialistas em formação. . IN: SPINK, M.J. (org.). O conhecimento no cotidiano: As Representações sociais na perspectiva

da Psicologia Social. São Paulo: Brasiliense, 1995. p. 235-265.

ARRUDA, A. O ambiente natural e seus habitantes no imaginário brasileiro. In ARRUDA, A. (org.) Representando a alteridade. Petrópolis/RJ: Vozes. 2. ed. 2002.164p.

JODELET, Denise. As representações Sociais. Rio de Janeiro: UERJ, 2001.

LEFÈVRE, F. e LEFÈVRE, A.M.C. O discurso do sujeito coletivo: um novo enfoque em

pesquisa qualitativa (desdobramentos). Caxias do Sul: EDUSC.

MOSCOVICI, Serge. Representações sociais: investigações em psicologia social. Petrópolis: Vozes. 2003. 40.

Imagem

Gráfico 1: Análise da pergunta 1 .
Gráfico 3: Análise da pergunta 3
Tabela 01. Categorização das respostas à questão 01:
Tabela 03. Categorização das respostas à questão 03:

Referências

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tanto ele como os outros serviços, nessa aceitação, nesse trabalho de família, você trabalhar com a criança é muito bom, o que vai dificultar mais são os adultos que estão