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Os efeitos da crise econômica do biênio 2015-2016 sobre o mercado de trabalho brasileiro considerando o recorte populacional por cor ou raça

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Academic year: 2021

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Os efeitos da crise econômica do biênio 2015-2016 sobre o mercado de trabalho brasileiro considerando o recorte populacional por cor ou raça

Resumo

Os anos decorridos entre 2012 e 2016 foram marcantes negativamente para a economia e para o mercado de trabalho brasileiro, com impactos distintos para os segmentos populacionais e piora na qualidade de vida da população como um todo. O presente estudo examina os indicadores da força de trabalho de forma desagregada, por cor ou raça e suas subdesagregações – faixa etária, sexo, nível de instrução, região geográfica e atividades econômicas para a avaliação diferenciada dos efeitos da crise segundo cor ou raça. Tem-se como hipótese que os segmentos tradicionalmente mais vulneráveis, composto pela população de pretos ou pardos, tenham sido mais afetados. Dois objetivos são pretendidos: (i) revelar a inserção diferenciada dos trabalhadores no mercado de trabalho; e (ii) mensurar os efeitos da conjuntura adversa em seus resultados. Como primeiros resultados, verificou-se que a taxa de desocupação, que era de 5,5% para os brancos e de 8,0% para os pretos ou pardos em 2014, subiu para 9,1% e 13,2%, respectivamente, em 2016. Neste mesmo intervalo, o rendimento médio dos trabalhadores brancos caiu de R$ 2.640 para R$ 2.629 (-0,4%), enquanto o dos pretos ou pardos, de R$ 1.526 para R$ 1.455 (-4,6%).

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Os efeitos da crise econômica do biênio 2015-2016 sobre o mercado de trabalho brasileiro considerando o recorte populacional por cor ou raça

Introdução

Os anos decorridos entre 2012 e 2016 foram marcantes negativamente para a economia brasileira e trouxeram reflexos significativos para seu mercado de trabalho, com impactos diferenciados dentre os segmentos populacionais. Após um período, que se inicia em 2004, com resultados em geral positivos na atividade econômica, o crescimento da renda e do emprego sofreu um processo de esgotamento, com estabilidade e posterior regressão. No biênio 2015-16, a crise se intensificou e atingiu fortemente o mercado de trabalho brasileiro, com impactos muito negativos nos indicadores de renda e de emprego.

A conjuntura econômica do período merece destaque por conta da interrupção e da radical reversão da ascensão econômica que vinha sendo observada desde meados da década de 2000. Resultados macroeconômicos, tais como a taxa de variação do Produto Interno Bruto (PIB) e do PIB per capita, o consumo das famílias e a taxa de investimento sofreram intensas quedas já a partir de 2014. A taxa de desocupação e os rendimentos do trabalho, bem como a proporção de empregos formais ou com proteção previdenciária, a partir de 2015, passaram a apresentar trajetória desfavorável aos trabalhadores – impactando negativamente na qualidade de vida da população.

Recentemente, até aproximadamente o ano de 2008, o primeiro período de crescimento da economia e de consequente melhoria no mercado de trabalho, é usualmente atribuído ao cenário externo favorável, com o crescimento mundial que impulsionou as exportações brasileiras e dinamizou a economia doméstica. Nos anos seguintes à crise econômica internacional de 2008 e até 2014, as políticas públicas voltadas para a expansão da demanda interna e o aquecimento do mercado de trabalho brasileiro, sustentaram o crescimento da economia brasileira. Entretanto, em 2015 e 2016, houve e esgotamento e modificação nesta estratégia que, aliada a reversão do ciclo econômico, resultou na deterioração dos indicadores econômicos, notadamente de renda, de consumo e de emprego.

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O presente trabalho lança o olhar sobre a evolução dos indicadores de mercado de trabalho para o total da população, e para grupos populacionais específicos, destacando o recorte por cor ou raça. A análise desenvolvida neste estudo permite, ainda, destacar as notáveis diferenças estruturais da inserção das categorias de brancos e pretos ou pardos no mercado de trabalho brasileiro.

Métodos

O estudo utiliza majoritariamente como fonte primária as bases de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), do IBGE, para a análise descritiva das características dos grupos populacionais específicos brancos e pretos ou pardos no mercado de trabalho. Para os resultados macroeconômicos, utilizam-se principalmente as bases do Sistema de Contas Nacionais (SCN), também do IBGE.

O período analisado, de 2012 a 2016, que é denominado pelos autores como “especial”, será caracterizado por meio dos seguintes indicadores: taxa de variação do PIB e do PIB per capita, consumo das famílias, taxa de investimento. No mercado de trabalho, considerando o recorte por cor ou raça, as principais variáveis consideradas na análise serão: taxa de desocupação, rendimento do trabalho, proporção de empregos formais, proporção de empregos com proteção previdenciária1. Os recortes por faixa etária, sexo, nível de instrução, região geográfica e atividades econômicas também serão realizados.

Resultados

Desigualdades estruturais que afetam a população preta e parda no mercado de trabalho foram agravadas com a crise econômica que se instalou no país, conforme apontam os indicadores construídos a partir dos dados obtidos pela PNAD Contínua. Neste resumo expandido, apresentamos alguns dos principais resultados que corroboram essa afirmação. Outros resultados que agregam recorte geográfico, por sexo e faixa etária à analise das desigualdades serão apresentados na versão completa.

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Um primeiro indicador que reflete esse cenário de crise e desigualdade é a taxa de desocupação, que era de 5,5% para os brancos e de 8,0% para os pretos ou pardos em 2014 e subiu para 9,1% e 13,2%, respectivamente, em 2016. A maior diferença se verificou entre as pessoas que tinham como maior nível de instrução alcançado o ensino fundamental completo ou médio incompleto: a taxa de desocupação era de 12,1% entre os brancos e 18,1% entre os pretos ou pardos.

A proporção de ocupados em trabalhos formais, que vinha crescendo entre 2012 e 2014, ficou estagnada a partir de então, chegando em 2016 – frise-se, antes da entrada em vigor da reforma trabalhista – no mesmo patamar de 2014, de 68,5%. Porém, a diferença entre os brancos e os pretos ou pardos merece destaque. Em 2016, entre as pessoas brancas ocupadas, 68,6% estavam em ocupações formais. Entre os pretos ou pardos, esse percentual era de 54,6%. Trata-se, portanto, de um grupo mais vulnerável no que tange à proteção social.

Outro indicador que reflete tanto os efeitos da crise econômica sobre o mercado de trabalho em geral, quanto a maior suscetibilidade da população preta ou parda a esses efeitos é o rendimento médio do trabalho principal. O rendimento médio do trabalho principal do trabalhador brasileiro era de R$ 1.945 em 2012, chegou a R$ 2.081 em 2014, mas caiu para R$ 2.021 em 2016, uma queda que representa 3% de perda real. No entanto, nesse mesmo intervalo de dois anos, o rendimento dos trabalhadores brancos caiu de R$ 2.640 para R$ 2.629 (-0,4%), enquanto o dos pretos ou pardos, de R$ 1.526 para R$ 1.455 (-4,6%).

A discrepância de rendimentos entre os trabalhadores brancos e os pretos ou pardos foi constatada mesmo quando se controlou a natureza formal ou informal do trabalho. Em 2016, entre os trabalhadores formais, o rendimento médio do trabalho principal era de R$ 2.971 entre os brancos e de R$ 1.824 entre os pretos ou pardos. Já entre os trabalhadores informais, tais valores eram de R$ 1.638 para os brancos e R$ 891 para os pretos ou pardos. Os pretos ou pardos ocupados em trabalhos informais foram os mais afetados pela crise, com uma perda de mais de 10% com relação aos R$ 994 que recebiam em 2014.

Nesse sentido, controlando as horas trabalhadas e o nível de instrução da população, as diferenças encontradas entre os rendimentos dos trabalhadores foram

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significativas. O rendimento-hora médio no trabalho principal dos trabalhadores brancos era de R$ 18,1 e o dos pretos ou pardos R$ 10,2, desvantagem que se repetiu em todos os grupos com mesmo nível de instrução. O maior desnível foi encontrado entre os trabalhadores com nível superior completo: enquanto os brancos tinham rendimento-hora médio de R$ 36,6, os pretos ou pardos, R$ 25,2.

Referências bibliográficas

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SABOIA, J. Baixo crescimento econômico e melhora do mercado de trabalho - Como entender a aparente contradição? Estudos Avançados, v. 28, n. 81, 2014

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