• Nenhum resultado encontrado

Novas Espacialidades no Processo de Urbanização: A Região Metropolitana de Campinas

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Novas Espacialidades no Processo de Urbanização: A Região Metropolitana de Campinas"

Copied!
32
0
0

Texto

(1)

Novas Espacialidades no Processo de Urbanização: A Região Metropolitana de Campinas1

Rosana Baeninger*

Renata Franco de Paula Gonçalves**

Introdução

O acelerado processo de urbanização verificado no País nas últimas décadas

gerou a predominância de deslocamentos populacionais entre áreas urbanas, marcando

transformações significativas na configuração dos espaços regionais. A nova face do

fenômeno urbano revela a constituição de espacialidades, onde o processo de

redistribuição interna da população vem (re)definindo as áreas que compõem essas

territorialidades.

O estudo recente acerca da Rede Urbana Brasileira (IPEA/NESUR/IBGE, 1999)

indicou a presença de 13 metrópoles no Brasil e outras 37 aglomerações urbanas

não-metropolitanas. A Região Metropolitana de Campinas inclui-se entre as metrópoles

nacionais.

Este texto procura resgatar a trajetória histórica do Município de Campinas,

apontando aspectos que já levariam esta área a configurar um espaço metropolitano, em

virtude do próprio processo de desenvolvimento que ali ocorreu. Nesse contexto, o

papel das migrações interestaduais, num primeiro momento; intra-estadual –

principalmente com o fluxo desencadeado da RMSP- posteriormente; e, recentemente, a

expansão da migração metropolitana, vêm delineando novas características e

especificidades para a área.

.

1

Este estudo beneficia-se das discussões e resultados do Projeto “Redistribuição da População e Meio Ambiente: São Paulo e Centro Oeste”, PRONEX/NEPO-UNICAMP.

* Professor Assistente Doutor no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas IFCH/UNICAMP e Pesquisador

do Núcleo de Estudos de População – NEPO/UNICAMP.

**

Mestre em Sociologia –Universidade de Metz-França. Assistente de Pesquisa do CNPq no Núcleo de Estudos de População – NEPO/UNICAMP.

(2)

1. Antecedentes Históricos

Desde fins do século XVIII, Campinas destaca-se no contexto estadual em função

de seu dinamismo econômico. Sua posição geográfica privilegiada permitiu-lhe, em

diferentes momentos da história, servir de ligação entre o interior e a capital. A indústria

açucareira aí instalou-se entre 1790 e 1795, constituindo o marco inicial de sua

prosperidade econômica e populacional.

“ Com a cana-de-açúcar a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Campinas, criada em 1774, logo firmou-se como uma das mais prosperas comunidades da Capitania de São Paulo.”2 Campinas tornou-se, de fato, uma das principais produtoras de cana da Capitania,

tendo contribuído para recompor as finanças da coroa portuguesa, abalada com problemas

internos e a queda na exploração do ouro nas Minas Gerais. O ciclo do açúcar,

impulsionado pelo trabalho escravo, trouxe um contingente significativo dessa população

para Campinas; esse número permaneceu elevado durante o Império, conferindo a cidade o

atributo de “maior centro escravocrata da Província de São Paulo.”3. Em 1836, mais da

metade da população era composta por escravos, o que representava 5% da população

escrava da Província, passando para quase 9% em 1874.4

O dinamismo da economia açucareira desempenhou importante papel na

diversificação e ampliação do sistema viário da Província de São Paulo, articulando-a

com o Vale do Paraíba, Rio de Janeiro e Curitiba. O impulso definitivo foi dado pela

inauguração da estrada de ferro Santos-Jundiaí5, e da ligação entre Jundiaí e Itu6, o que

contribuiu para um grande crescimento populacional nesse período.

Juntamente com a plantação da cana, a cultura do café foi tendo seu início a

partir de 1807-1809, mas somente a partir de 1835 seu cultivo tornou-se expressivo.7

Não existiu um marco divisório entre o ciclo do açúcar e o do café, pois “enquanto o

café surgia paulatinamente, o açúcar ainda prosperava”8 Assim, a implantação do café 2 MARTINS (2000) 3 PUPO (1973:36) 4 BAENINGER (1996: 23) 5

Onde o trecho entre Campinas e Jundiaí era realizado pela Companhia Paulista.

6

Realizada pela Companhia Ituana

7

PESTANA (1923) e PUPO (1969)

8

(3)

no oeste paulista9 data do início do oitocetismo, mas somente a partir da década de 30,

que se iniciou a substituição das plantações de cana pelo café.

Campinas foi um grande centro receptor de mão-de-obra estrangeira que tinha

como destino a lavoura de café. Essa mão-de-obra aumentou a produção do café

significativamente e introduziu algumas técnicas mais avançadas de cultivo e

beneficiamento da lavoura. No período de 1860-1870, Campinas foi considerada o

maior produtor de café da Província, e já era o município paulista mais rico,

considerado até capital agrícola da Província, ou mesmo metrópole agrícola10.

Nesse período, a produção cafeeira do município era a maior do Estado,

respondendo por 50% da produção total. A renda proveniente da agricultura

proporcionou à Campinas um crescimento urbano e industrial expressivo,

possibilitando o surgimento da indústria do algodão; essa atividade chegou a empregar

43% da população ativa da cidade em atividades urbanas.11 Além disso, o excedente

gerado pelo cultivo do café também permitiu a aplicação em investimentos urbanos

como expansão de ferrovias, empresas de serviços públicos, indústrias, bancos, sistema

de armazenagem e comunicação12.

Com a crise do café, em 1929, houve a diversificação das atividades agrícolas do

Município. Nos anos trinta do século XX assistiu-se o aumentou da produção de açúcar,

feijão, arroz, milho e algodão. Nesta época a industrialização começou a se desenvolver

no Estado intensificando o processo de urbanização em Campinas.

“Com a expansão industrial, o mercado de trabalho ampliou-se, propiciando também um crescimento em outros setores de atividade. O comércio e o transporte também se beneficiaram com essa expansão, bem como o setor terciário, que já representava, em 1920, 24,8% do total da população economicamente ativa ( PEA ); o setor secundário absorvia 18,7% e o setor primário predominava com 56,5% da PEA.” (CANO, 1977:40).

Aos poucos a economia de Campinas foi se modificando de uma base agrícola e

rural para uma cidade urbana e industrial. Além disso, no final da década de 30, com a

9

A definição de oeste paulista, no período cafeeiro, refere-se ao território próximo à capital, tendo como limites os municípios de Bragança Paulista, Sorocaba, Campinas e Piracicaba (Milliet, 1941).

10

Grifo nosso ; MELLO (1991:20).

11

GONÇALVES (1999:47)

(4)

diminuição dos cafezais, o algodão passou a ser o principal produto cultivado no

município, impulsionando a indústria têxtil, que passou a ter um peso maior na estrutura

industrial de Campinas.

Este processo de urbanização e industrialização representou a formação de uma

nova ordem social e econômica, proporcionando o crescimento da cidade de Campinas

e de sua região, resultando até no desmembramento de Cosmópolis, em 1944, Sumaré e

Valinhos, em 1954.

Com o aumento da concentração urbana, medidas urbanísticas se fizeram cada

vez mais necessárias. Assim, em 1938 Prestes Maia13 criou o Plano de Medidas

Urbanas, colocando em discussão a necessidade da criação de uma lei de zoneamento14

específica para o Município. Em 1951 foram criadas zonas de uso, que estabeleciam

restrições de altura, área, recuo, revestimento, impostos das edificações urbanas. Em

1959 foi criado o código de obras e urbanismo para o Município de Campinas, com um

capítulo específico para a lei de zoneamento.

No fim da década de 40 e início da 50, o deslanchar do processo de

industrialização, juntamente com a inauguração da via Anhangüera, foram fatorees que

contribuíram para a instalação de importantes indústrias de: equipamentos mecânicos,

material de transportes, material elétrico, produtos químicos, de borracha e papelão15,

provocando um processo multiplicador da área de comércio e de serviços e a

conseqüente formação de um grande setor terciário. Com este quadro, em 1950, 28,8%

da PEA de Campinas encontrava-se no setor secundário, 49,7% no setor terciário da

economia e 20,7% da PEA no setor primário.

13

Francisco Prestes Maia nasceu em Amparo, cidade do interior de São Paulo, engenheiro civil engajado nos problemas urbanos. Ele trabalhou por muito tempo no setor de trabalhos públicos na cidade de São Paulo.

14

Zoneamento é um estudo feito da cidade por normas técnicas e administrativas sobre a ocupação do solo com sua divisão em zonas, é a regulamentação do uso da propriedade do solo para o bem estar da população. (SILVA, 1996 )

15

Em 1951, instalaram-se no município a Singer do Brasil e a Duralex; em 1953,a Pirelli, a Hiplex e a IBRAS/CBO; em 1954, a Robert Bosh, que se juntou à General Eletric e à Rhodia, já instaladas em Campinas.15 Outras importantes industrias se instalaram nos municípios do entorno de Campinas como a Chicago Bridge, em Paulínia; a Riges e Clark, em Valinhos; e a Tema Terra, Wabco, 3M e IBM, em Sumaré.

(5)

Assim, Campinas já se projetava como um importante centro industrial e de forte

dinamismo, alterando completamente o cenário da antiga cidade cafeicultora,

firmando-se a transição definitiva de uma economia de base agrícola para uma

sociedade industrial.

Todo esse dinamismo refletiu-se no seu intenso crescimento populacional, com o

aumento nos volumes migratórios interestaduais e intra-estaduais, especialmente a partir

dos anos 50. No período 1950 a 1960, a migração representou 41,5% do incremento da

população.16 Nos anos 60, Campinas já conhecida como “cidade modelo”, recebeu

contingentes crescentes de migrantes de várias partes do interior paulista, do Paraná e de

Minas Gerais devido ao crescente êxodo rural em todo o País. Ainda, a criação da

Universidade Estadual de Campinas, o Aeroporto de Viracopos e a implantação da

refinaria de petróleo e do pólo petroquímico na cidade de Paulínia17, contribuíram para o

direcionamento de significativos fluxos migratórios para o Município e Região de

Campinas. Nesse período, Campinas apresentava um perfil de centro urbano médio, que

viria a se modificar substancialmente na década seguinte, quando o município assume

características de sede regional.

Com o fluxo migratório crescente, a população de 219.303 habitantes em 1960

alcançou 375.864 habitantes em 1970, o que representava 2,1% da população estadual e

4% da população do interior. Ainda, o grau de urbanização do município de 84,4%

apresentava-se muito acima da média estadual de 62,8%.

A dinâmica econômica e populacional do interior já começava a adquirir novas

características, que se intensificaram na década de 70, principalmente no que diz

respeito a subordinação da agricultura à industria (com a modernização agrícola,

aplicação de insumos químicos, aumento no uso de forças, aprimoramento de raças,

etc.). Esse processo de modernização e tecnificação da agricultura na região, sendo

16

BAENINGER (1996:48).

(6)

considerada uma das mais modernas e avançadas do país, gerou um forte segmento

industrial agroprocessador.

Nessa etapa, o crescimento populacional do Município de Campinas foi de 5,5%

a.a., entre 1960 e 1970, chegando a 5,9% a.a., na década de 70; a taxa de crescimento do

Estado e da Capital, no mesmo período foram de 5,4% a.a. e 4,6% a.a., respectivamente.

O crescimento urbano foi característica marcante nos anos 70 em Campinas e sua

região, onde seu grau de urbanização passou de 70% em 1950 para mais de 89% em

1980.18 Ainda, na década de 60, o saldo migratório de Campinas foi de quase 100 mil

pessoas, o que representou 62% do crescimento absoluto. Em 1970, a população

não-natural do município representava 52,6%, com um saldo migratório de 180 mil pessoas,

passando a representar 63% do incremento absoluto do Município. Já , em 1980 a

população não-natural era responsável por 61% do total da população de Campinas.19

Desse modo, Campinas chegou ao ano de 1980 contando com uma população de

664 mil habitantes, sendo o primeiro município do interior paulista a alcançar a classe

de tamanho de cidades com mais de 500 mil habitantes e ocupando a 12ª colocação no

ranking de população urbana no Brasil.

Nos anos 70 emergiram características metropolitanas na Região, tanto do ponto

de vista econômico quanto demográfico. Campinas foi um dos eixos da desconcentração

industrial a partir da Região Metropolitana de São Paulo, beneficiando-se de incentivos

governamentais para a área (Cano, 1988); fato que contribuiu para o direcionamento de

expressivos contingentes populacionais para a Região como um todo, imprimindo novas

feições ao Município e sua área de entorno.

2. A Emergência da Nova Área Metropolitana

A intensidade e a forma como se processaram a urbanização e a redistribuição da

população no Estado acentuaram a dinâmica de áreas que hoje, constituem os grandes

18

Dados dos Censos Demográficos de 1950 a 1980, IBGE.

(7)

eixos de expansão agrícola-industrial do Interior. O interesse pelo reflorescimento de

algumas regiões do Interior, já no final dos nos 60, conduziu a elaboração, pelos governos

estaduais, de várias políticas de desconcentração industrial, com a preocupação em

desenvolver regiões exteriores à Região Metropolitana de São Paulo (Negri, 1996).

O movimento de desconcentração industrial verificado no Estado de São Paulo,

particularmente na década de 70, e a conseqüente interiorização do desenvolvimento,

ocorreram nas áreas mais dinâmicas, tornando o Interior a segunda concentração industrial

do País.

Embora as políticas adotadas não estivessem voltadas explicitamente para uma

política migratória, a atuação governamental contribuiu para o direcionamento dos fluxos

migratórios. As regiões que mais concentraram atividades e população, nesse processo de

desconcentração industrial, foram as que se transformaram recentemente em áreas

metropolitanas: Campinas e Santos.

A discussão e diagnóstico a respeito do surgimento e consolidação de novas áreas

metropolitanas no interior do Estado de São Paulo tomou maior impulso a partir do final

dos anos 80. O estudo Organização Regional: Grande São Paulo, Campinas e Santos -

Proposições e Fundamentos (EMPLASA, 1990) aponta o caráter metropolitano das

regiões circunscritas às áreas de influência do chamado Complexo Metropolitano

Expandido - CME - que pretende abranger além da Região Metropolitana de São Paulo, as

configurações regionais urbanas vizinhas que constituem os grandes eixos de expansão

econômica do Estado: Baixada Santista, Vale do Paraíba, Sorocaba e Campinas.

No final do governo de Orestes Quércia (1987-1990) foi elaborado o Ante Projeto

de Lei Complementar que dispõe sobre as Regiões Metropolitanas de Campinas e da

Baixada Santista.

"A organização das áreas da Grande São Paulo, de Campinas e da Baixada Santista representa o desencadeamento de um processo avançado de tratamento da questão regional no Estado, com base nas inovações trazidas pela Constituição Federal de 15/10/1988 e pela Constituição Estadual de05/10/1989" (EMPLASA, 1990:9).

(8)

A nova Constituição do Estado de São Paulo estabelece que a administração

estadual seja integrada com os municípios agrupados em regiões metropolitanas,

aglomerados urbanos e microrregiões.

"A ênfase dada aos aspectos regionais da ação pública nos novos textos constitucionais e o novo sistema de distribuição de competências, especialmente executivas, entre União, Estado e Município, tornam imperiosa, de um lado, maior colaboração entre Estado e Município e, de outro, planejamento da ação governamental estadual de forma regionalizada" (Carta de Exposição de Motivos, Governador Orestes Quércia, 15/06/1990; apud EMPLASA, 1990).

Em 1989, o governo estadual propôs a oficialização da Região Metropolitana de

Campinas, aprovada pela Assembléia Legislativa do Estado em 24/05/200020. A criação

dessa área ainda vem sendo debatida, particularmente em virtude do pouco conhecimento

que se tem sobre os nexos dinâmicos entre os municípios que a compõem. Do ponto de

vista demográfico, no entanto, o componente migratório, e especialmente os

deslocamentos internos, é um dos elementos fundamentais na configuração dessa nova

espacialidade, bem como para o conhecimento do processo de metropolização em

Campinas. A estruturação da área, a distribuição espacial da população e o processo de

crescimento, expansão e ocupação do novo território metropolitano não podem ser

entendidos sem referência ao fenômeno migratório21.

O processo de industrialização e urbanização da Região de Campinas ocorreu de

forma diferenciada em relação ao das principais metrópoles nacionais. As

transformações geradas pelo intenso processo de interiorização da industrialização22 nos

anos 70 não se restringiram ao Município de Campinas, consolidando no seu entorno

importante aglomeração urbana. Além do pólo regional, os demais municípios foram

também capazes de estabelecer uma base econômica expressiva e dinâmica, tanto

industrial, quanto agrícola, configurando uma estrutura diferenciada daquela das demais

20

A Região Metropolitana da Baixada Santista foi instituída oficialmente, pela lei complementar estadual número 815, em 30/07/1996.

21

Dentre os critérios e parâmetros para definição das áreas metropolitanas no Interior, elaborados pela Empresa Metropolitana de Planejamento da Grande São Paulo S.A. - EMPLASA (1990), o componente migratório foi considerado tanto para definição de critérios demográficos quanto estruturais e de integração.

22

Em 1970 a RMSP participava em 43,5% da produção industrial nacional, enquanto que o interior participava com 14,7%. Com a desconcentração, em 1985 a participação da GSP caíra para 29,4% e o interior aumentara para 22,5%. (CANO, 1998)

(9)

regiões metropolitanas, caracterizada pela presença de um município rico cercado de

municípios dormitórios.

Ainda, em relação às demais regiões metropolitanas, Campinas apresenta uma

estrutura urbana com características próprias, em que a tendência de concentração

populacional no município sede é bem menos marcada, resultando em uma

conformação da rede urbana mais equilibrada, com a presença de centros secundários de

atividades econômica e com expressivo contingente populacional.

A Região Metropolitana de Campinas, aprovada pela Assembléia Legislativa,

compreende 19 municípios: Americana, Artur Nogueira, Engenheiro Coelho, Campinas,

Cosmópolis, Holambra, Hortolândia, Indaiatuba, Itatiba, Jaguariúna, Monte Mor, Nova

Odessa, Paulínia, Pedreira, Santa Bárbara D'Oeste, Santo Antônio de Posse, Sumaré,

Valinhos e Vinhedo. À exceção de Itatiba, os demais municípios já estavam presentes em

vários estudos sobre a Região Metropolitana de Campinas, tendo o estudo recente a

respeito da rede urbana brasileira (NESUR/IPEA/IBGE, 1999) confirmado essa

composição municipal. Assim, dos municípios que integram a Região de Governo de

Campinas, apenas Mogi-Mirim, Mogi-Guaçu e Itapira não compuseram a região

metropolitana oficial; há proposta de que esses formem uma microrregião específica23.

A institucionalização dessas áreas metropolitanas no Estado, para além das

questões políticas, é a expressão maior da complexidade que assumiu o processo de

urbanização, com a crescente emergência de áreas que se integram e se dinamizam em

territorialidades marcadas pela intensa redistribuição interna de suas populações.

3. Novas Características do Processo de Redistribuição da População em São Paulo: dos 70 aos 90

O processo de mudanças na estrutura produtiva do Estado, a partir dos anos 60, e,

especialmente, a desconcentração industrial a partir da Região Metropolitana de São Paulo

gerou a multiplicação de importantes pólos urbanos industrializados no Interior. Os

(10)

deslocamentos populacionais para essa área foi de tal magnitude que de um saldo

migratório negativo de 454.443 emigrantes, na década de 60, o Interior passou a um ganho

populacional de 752.318 pessoas nos anos 70.

Com a interiorização da indústria, a partir dos anos 70, a Região Metropolitana

de São Paulo repartiu seu dinamismo econômico e populacional com determinadas

regiões do Interior, muito embora continuasse a se destacar como o principal centro

financeiro e de serviços especializados do País. Nesse contexto, o processo de

redistribuição espacial da população no Estado já passava a assumir feições distintas.

De fato, a década de 70 foi marcada por intensos deslocamentos populacionais

em todo o Estado24, sendo que os principais volumes migratórios intra-estaduais foram

desencadeados a partir da Região Metropolitana de São Paulo em direção às áreas

interioranas mais dinâmicas, mobilizando quase 500 mil pessoas.

Apesar da importância desses fluxos em direção ao Interior no processo de

redistribuição da população paulista, considerava-se que essa tendência de "saída" de

população da metrópole era bastante incipiente25, particularmente em função dos

enormes volumes migratórios que chegavam de outros estados, especialmente do

Nordeste e, ainda nos anos 70, das áreas decadentes da fronteira agrícola do Paraná.

Ainda nos anos 70, havia se identificado no processo de urbanização paulista

importantes pólos de atração regional no Interior: Campinas, Sorocaba, São José dos

Campos, Ribeirão Preto, Bauru e São José do Rio Preto26, os quais, já naquele

momento, desempenharam papel fundamental no processo de desconcentração relativa

da população. Esses pólos, aliás, já demonstravam uma reorganização na configuração

24

Veja-se Cunha (1987), Fundação SEADE (1990), Patarra et alii (1990), entre outros.

25

Mesmo as projeções populacionais elaboradas no final da década de 80 (Fundação SEADE, 1988), portanto que já haviam incorporado a acentuada queda da fecundidade no Estado, ainda previam para a Região Metropolitana de São Paulo um saldo migratório de 1,9 milhão de pessoas no período 1980/1990 e de 1,7 milhão para a última década deste século; não se podia supor que a maior metrópole do País terminasse as duas últimas décadas deste século com perdas populacionais não expressivas, como se verá adiante.

26

Esses pólos foram definidos a partir de trocas migratórias estabelecidas, na década de 70, entre regiões circunvizinhas, a partir de tabulações especiais do Censo Demográfico de 1980. Paralelamente, com o auxílio da literatura econômica especializada, pôde-se observar que se tratavam de regiões dinamizadoras de atividades econômicas e urbanas. Veja-se Patarra e Baeninger (1989).

(11)

da rede de cidades, segundo seu tamanho; o dinamismo gerado a partir do

município-pólo dessas regiões, extravasando os limites administrativos, passava a atingir

municípios vizinhos, seja como áreas de expansão industrial, de insumos industriais ou

áreas para localização habitacional, resultando no crescimento e fortalecimento dos

pólos regionais. Desse modo, a dinâmica das cidades, já naquele momento, dependia

muito mais de sua proximidade ou ligação com um pólo do que de seu tamanho

populacional.

Além disso, embora a Região Metropolitana de São Paulo viesse se

apresentando como receptora de grandes contingentes populacionais, particularmente

interestaduais, há várias décadas, em 1970-1980 já se podia evidenciar um

arrefecimento no ritmo de crescimento dessa área, em função da acentuada queda da

fecundidade e do menor volume migratório oriundo do interior de São Paulo.

Os fortes indícios de um novo padrão de redistribuição da população em São

Paulo, apontados nos anos 70, podem ser assim resumidos:

a) fluxos migratórios significativos que partiam da Região Metropolitana em direção ao Interior;

b) emergência de pólos econômico-populacionais no Estado; c) crescimento de cidades de porte intermediário e pequeno; e

d) menor taxa de crescimento da Região Metropolitana de São Paulo nos anos 70, em comparação com a década anterior (4,5% a.a. contra 5,4% a.a., respectivamente).

Apesar dessas evidências, somente com os resultados do Censo de 1991 é que se

pôde verificar que a tendência predominante nacional dos anos 80 (menor ritmo de

crescimento das áreas metropolitanas, crescimento das cidades de porte intermediário,

recuperação demográfica das áreas pequenas etc.) já estavam nitidamente presentes em

São Paulo.

O importante a resgatar da década de 70 para São Paulo é que esta se

caracterizou como o ponto de partida do processo de desconcentração populacional no

(12)

Já no decorrer dos anos 70, o processo migratório no Estado havia assumido

características bastante peculiares, que se refletiam no menor volume de migrantes do

interior para a Região Metropolitana de São Paulo da década de 70 para a de 80. De um

fluxo de 576 mil* pessoas vindos do Interior para a metrópole, no período 1970-1980,

reduziu-se para 398.616* no período 1981-1991, diminuindo a entrada de migrantes em

177 mil pessoas, de uma para outra década.

Além dessa redução na emigração interiorana, nos anos 80, o fenômeno mais

contundente do processo de urbanização e de redistribuição espacial da população foi

manifestado pela reversão metropolitana no contexto do próprio estado: as perdas

populacionais27 da Região Metropolitana de São Paulo para as regiões do Interior

atingiram 289.366 pessoas.

Nos anos 70, nas trocas migratórias estabelecidas com as demais regiões do

Estado, a Região Metropolitana de São Paulo registrava saldos negativos,

principalmente, com regiões de sua fronteira metropolitana28, principalmente para

Campinas, Santos, Sorocaba e São José dos Campos que canalizaram quase a metade

desses emigrantes metropolitanos29; destaca-se que, já nesse período, esse processo de

desconcentração populacional dava indícios de alcançar regiões mais longínquas à

Região Metropolitana de São Paulo, com a Região de Governo de Ribeirão Preto

manifestando ganhos populacionais metropolitanos.

Essa tendência do fluxo metrópole-interior foi consolidada na década seguinte

com a Região Metropolitana de São Paulo perdendo população para todas as regiões do

Estado (Baeninger, 1999). A Região de Campinas obteve os maiores ganhos de

população da metrópole, correspondendo a 85.018 pessoas; seguem as regiões de Santos

*

Nestes volumes somente se consideram os migrantes não-naturais.

27

Diferença entre os volume dos fluxos de sentidos contrários estabelecidos entre duas regiões específicas.

28

São dessa década as discussões a respeito da formação da “Macrometrópole Paulista” ancorada no argumento do transbordamento da população e de atividades econômicas para essa franja metropolitana que compreendia as regiões de São José dos Campos, Sorocaba, Campinas e Santos (CAR/SEPLAN, 1984).

29

Análise completa dos movimentos migratórios no Estado de São Paulo, particularmente no Interior, encontram-se em Fundação SEADE (1990); Cunha (1987); Cunha e Rodrigues (1989); Patarra et al (1990) e Baeninger (1996).

(13)

(51.042 pessoas) e Sorocaba (41.613). Perdas populacionais da Região Metropolitana de

São Paulo entre 10 mil a 25 mil pessoas foram registradas com São José dos Campos,

Ribeirão Preto, Jundiaí, Bragança Paulista, São José do Rio Preto, Taubaté, São João da

Boa Vista, Piracicaba, Limeira, Itapetininga, Caraguatatuba e Araraquara; portanto,

ampliando o horizonte de expansão da dispersão populacional.

Os anos 80 presenciaram, assim, a expansão regional fora das fronteiras

metropolitanas ou de seu “campo aglomerativo”30, empresando o conceito de Azzoni

(1986) usado para espacializar a desconcentração industrial. A expansão dos espaços da

migração não traduz uma versão mais ampla da Região Metropolitana de São Paulo; os

longínquos destinos migratórios revelam novos padrões socioespaciais que se refletem

no processo de redistribuição da população. A metrópole desconcentrada manifesta os

efeitos da crise econômica, do processo de reestruturação produtiva, bem como a

generalização do próprio processo de urbanização por todo o Estado de São Paulo,

propiciando acesso à bens e serviços próximos aos dos grandes centros urbanos, mesmo

que em graus diferenciados31.

3.1. Movimentos Migratórios para a Região Metropolitana de Campinas: Anos 70, 80 e

início dos 90

Nos anos 70, o grande pólo de atração de população no Estado foi a Região de

Campinas. Constituindo um dos principais canais de expansão da desconcentração relativa

das atividades industriais a partir da Região Metropolitana de São Paulo, essa área atraiu

contingente significativo de migrantes.

Acompanhando-se a evolução da população da Região Metropolitana de

Campinas, entre 1970 e 1996 (Tabela 1), verifica-se que sua taxa de crescimento

30

O conceito de “campo aglomerativo” do autor inclui as cidades num raio, a partir da Região Metropolitana de São Paulo, de aproximadamente 150 quilômetros, constituindo um espaço mais abrangente da Região Metropolitana de São Paulo. Para uma crítica desse conceito, veja-se Negri (1996).

31

Nessa busca pelo Interior, para além das considerações econômicas, já parece estar bastante presente a preferência por um estilo de vida; 72% dos chefes de domicílios no Estado de São Paulo amostrados na Pesquisa Regional por Amostra Domiciliar (PRAD/FAPESP) e 85% dos da Região Metropolitana de São Paulo manifestaram sua preferência em viver em cidades médias.

(14)

populacional foi mais acentuada nos anos 70 (6,5% a. a.); esse ritmo de crescimento, no

entanto, não se sustentou nos períodos seguintes - 3,5% a.a., entre 1980-1991, e 2,4% a.a.,

de 1991-1996 -, em função, particularmente, da continuidade da queda da fecundidade e

dos menores volumes de migrantes, em especial paranaenses e mineiros, que se dirigiram

para a Região. De qualquer modo, essas taxas de crescimento foram superiores às

verificadas para o Estado (1,5% a.a.) e para o Interior (1,7% a.a.), no período 1991-1996.

A participação relativa de sua população no total do Estado, por sua vez, vêm

mostrando tendência crescente: de 3,8% em 1970 para 5,1% em 1980, atingindo 6,1%, em

1996. O componente migratório desempenhou papel fundamental na configuração

populacional da área, desde a consolidação da sede regional até a conformação e

estruturação do espaço metropolitano, mesmo com a tendência atual de menores volumes

de migrantes.

Tabela 1

População Total e Taxas de Crescimento Região Metropolitana de Campinas(*) 1970-1996

Anos População Total Participação

RG/Estado (%) Taxa Crescimento (%a.a.) Saldo Migratório 1970 680.826 3.83 6,49 356.171 1980 1.276.755 5,10 3,40 279.438 1991 1.863.609 5.90 2,36 99.232 1996 2.094.596 6,14

(*) Considera-se os 19 municípios, incluindo Itatiba.

Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 1970, 1980, 1991 e Contagem da População de 1996.

De fato, o saldo migratório da Região Metropolitana de Campinas, entre

1970-1980, chegou a um volume anual de 35.617 pessoas (totalizando 356.171, na década),

(15)

período), e chegando a 19.846, entre 1991-1996 (somando 99.232 o saldo migratório do

período). A participação do componente migratório no crescimento absoluto da população

metropolitana atingiu 60%, nos 70, diminuindo para 48%, entre 1980-1991, e 43%, entre

1991-1996. Embora apresentando menores volumes , a migração é um dos elementos

fundamentais para a configuração dessa nova espacialidade.

Em 1970, a população da Região Metropolitana de Campinas representava 7,1%

do total da população do Interior, chegando a 13,3%, em 1980, e mantendo-se em torno de

11% nos 90; esse decréscimo relativo no total da população do Interior deveu-se ao

crescimento de áreas antes marcadas pela evasão populacional (como São José do Rio

Preto, Bauru e Araçatuba), bem como a consolidação de outras (Sorocaba, Ribeirão Preto).

No contexto regional, o município-sede da área metropolitana (Campinas)

experimentou um crescimento absoluto de 533.042 pessoas no período de 26 anos, tendo

sido mais pronunciada sua taxa de crescimento nos anos 70: 5,9% a. a.; 2,2% a.a., entre

1980-1991 e 1,4% a.a., entre 1991-1996 (Tabela 2).

Características do crescimento populacional manifestadas nas antigas metrópoles nacionais já podiam ser visualizadas na Região Metropolitana de Campinas desde os anos 70:

a) taxas de crescimento mais elevada em determinados municípios do entorno em comparação com as do Município-sede;

b) decréscimo da participação relativa da população do Município-sede no total regional: de 55,2%, nos anos 70, para 43,4%, em 1996;

c) aumento da participação dos municípios de menor porte no crescimento da população regional (são os casos de Artur Nogueira - que passou de uma população de 10 mil habitantes em 1970 para 26 mil, em 1996, com uma taxa de crescimento de 6,1% a.a., entre 1991-1996 – e de Santa Bárbara D’Oeste – de 31 mil habitantes, em 1970, para 160 mil, em 1996, respondend por 7,7% da população metropolitana).

Destaca-se que no caso da Região Metropolitana de Campinas, já no período

1980-1991, pode-se evidenciar maior absorção migratória nos municípios do Entorno que

(16)

Tabela 2

População Total, Distribuição Relativa (%) e Taxas de Crescimento (% a.a.) Região Metropolitana de Campinas

1970-1996

Fonte: Fundação IBGE, Censos Demográficos de 1970, 1980 e 1991 e Contagem da População de 1996. * Municípios desmembrados a partir de dezembro de 1991.

Ainda nos anos 70, era nítida a força concentradora do Município-sede na atração

da migração regional, com Campinas registrando um saldo migratório de 188.596 pessoas;

seguiram os municípios de Sumaré (73.743), Santa Bárbara D’Oeste (39.048) e Americana

(35.729). Na verdade, esses municípios com os maiores saldos migratórios nesse período

já demonstravam suas potencialidades para a configuração dessa nova espacialidade, com

Sumaré configurando a ‘periferia’ de Campinas e Santa Bárbara D’Oeste, de Americana

(Baeninger, 1996).

RM CAMPIN AS POPULAÇÃO

população dis t. População tx cres c.

70 80 91 96 70 80 91 96 70-80 80-91 91-96 Americana 66316 122004 153779 167945 9,74 9,56 8,25 8,02 6,29 2,13 1,78 Artur N i 10171 15941 19306 26019 1,49 1,25 1,04 1,24 4,60 1,76 6,15 Camp inas 375864 664559 846434 908906 55,21 52,05 45,39 43,39 5,86 2,22 1,43 Cosmóp olis 12110 23232 35999 39880 1,78 1,82 1,93 1,90 6,73 4,06 2,07 Engenheiro C lh * * 6501 8736 * * 0,35 0,42 * * 6,09 Holambra * * 5410 6653 * * 0,29 0,32 * * 4,22 Hortolândia * * 85859 115720 * * 4,60 5,52 * * 6,15 Indaiatuba 30537 56237 100948 121906 4,49 4,40 5,41 5,82 6,30 5,46 3,84 Itatiba 28376 41631 61587 71590 4,17 3,26 3,30 3,42 3,91 3,62 3,06 Jaguariuna 10391 15210 22594 25399 1,53 1,19 1,21 1,21 3,88 3,66 2,37 Monte M or 7960 14020 25559 30849 1,17 1,10 1,37 1,47 5,82 5,61 3,83 Nova Odessa 8336 21893 34063 37424 1,22 1,71 1,83 1,79 10,14 4,10 1,90 Paulínia 10708 20755 36706 44431 1,57 1,63 1,97 2,12 6,84 5,32 3,89 Pedreira 15053 21383 27972 31890 2,21 1,67 1,50 1,52 3,57 2,47 2,66 Santa Barbara D´O t 31018 76621 145266 161060 4,56 6,00 7,79 7,69 9,46 5,99 2,09

Santo Anto da Posse 7799 10872 14253 14897 1,15 0,85 0,76 0,71 3,38 2,49 0,89

Sumaré 23074 101834 141011 168058 3,39 7,98 7,56 8,02 16,01 3,00 3,57 Valinhos 30775 48922 67886 74608 4,52 3,83 3,64 3,56 4,74 3,02 1,91 Vinhedo 12338 21641 33612 38625 1,81 1,70 1,80 1,84 5,78 4,08 2,82 Total Rm 680826 1276755 1864745 2094596 100,00 100,00 100,00 100,00 6,49 3,50 2,35 Outras Regiões SP17091122 23763957 29724180 32026290 3,35 2,06 1,50 Total Estado de SP17771948 25040712 31588925 34120886 3,49 2,13 1,55 rm/estado 3,83 5,10 5,90 6,14 Pop Interior 9637218 12451987 16143984 17537652 2,60 2,39 1,67 rm /interior 7,06 13,25 11,55 11,94

(17)

Tabela 3

Evolução dos Saldos Migratórios e Participação Relativa no Crescimento Absoluto (%) Região Metropolitana de Campinas

1970-1996

Áreas Saldos Migratórios+ Participação Relativa no Crescimento Absoluto da População 1970-1980 1980-1991 1991-1996 1970-1980 1980-1991 1991-1996 RM. Campinas 356.171 279.438 99.232 59,77 47,62 42,96 Americana 35.729 695 3.292 64,16 2,19 23,33 Artur Nogueira 4.266 8.745 5.135 73,93 72,25 76,49 Campinas 188.596 30.825 9.890 65,33 16,95 16,13 Cosmópolis 7.728 7.657 1.152 69,48 57,00 29,68 Engenheiro Coelho * * 1.743 * * 77,99 Holambra * * 783 * * 62,99 Hortolândia * * 21.579 * * 72,26 Indaiatuba 18598 29.380 12.398 72,37 65,91 59,16 Itatiba 7196 9.778 5.740 54,29 48,99 57,72 Jaguariuna 2077 6.010 1.109 43,10 61,38 39,54 Monte Mor 4135 7.131 2.885 68,23 62,04 54,54 Nova Odessa 11561 6.497 1.041 85,23 53,24 30,97 Paulínia 6764 10.165 4.474 67,32 64,14 57,92 Pedreira 3364 2.245 2.377 53,14 35,23 60,67 ST. B. D'Oeste 39.048 48.561 5.894 85,63 70,69 37,32 St. A. da Posse 1.296 836 -241 42,17 24,18 -37,42 Sumaré 73.743 95.737 14.465 93,63 76,96 53,48 Valinhos 12.035 8.811 2.874 66,37 46,51 42,76 Vinhedo 6.035 6.365 2.642 64,87 53,35 52,70 Fonte: Fundação SEADE (1993 e 1997).

Fundação SEADE (1993).

(+) Saldo Migratório obtido através do Método das Estatísticas Vitais, com correção de subregistros de nascimentos e óbitos segundo o local de residência.

* Municípios desmembrados a partir de dezembro de 1991.

Já na década seguinte, pode-se verificar outra configuração dos

movimentos migratórios na Região Metropolitana de Campinas; os centros urbanos de

maior porte – Campinas e Americana – registraram menores saldos migratórios (30.825 e

695 pessoas, respectivamente, entre 1980-1991), indicando o fortalecimento das áreas que

emergiram nos 70 como aquelas de forte absorção migratória, como Sumaré (com saldo

(18)

despontar de outras áreas, como Indaiatuba (29.380 pessoas), Paulínia (10.165) e mesmo

municípios menores, como Artur Nogueira (com saldo migratório de 8.745 pessoas) e

Monte Mor (7.131), que quase duplicaram seus saldos migratórios de uma para outra

década.

O início dos anos 90 consolidaram o papel do Entorno regional na absorção da

migração. Enquanto o Município de Campinas apresentou um saldo migratório anual de

1.978 pessoas entre 1991-1996 (para o período 1980-1991, este saldo anual era de 2.802

pessoas), Hortolândia registrou um saldo anual de 4.316 e Indaiatuba de 2.480 pessoas. Na

realidade, houve a expansão dos espaços da migração para os municípios do Entorno

metropolitano, contribuindo para que ainda nos anos 90 esse componente da dinâmica

demográfica respondesse por mais de 70% do crescimento absoluto dos recém-criados

municípios de Engenheiro Coelho e Hortolândia, assim como o de Artur Nogueira; e

ainda, por mais da metade do crescimento absoluto da população de Vinhedo, Sumaré,

Paulínia, Indaiatuba, Pedreira e, mesmo, Itatiba.

Considerando os fluxos migratórios oriundos de outros estados para a Região

Metropolitana de Campinas, ao longo do período 1970-1996, nota-se que os anos 70 foram

marcados pela participação dos paranaenses (96.801 migrantes) na composição da

migração interestadual, respondendo pela metade deste movimento (Tabela 4). O

Município de Campinas concentrou a maior parte desses migrantes (51.072 pessoas),

embora Sumaré já despontasse como um centro de recepção desses migrantes (15.035

pessoas).

A migração com origem no Estado de Minas Gerais totalizou, nos anos 70, a

segundo maior volume de migrantes para a Região Metropolitana de Campinas (44.044

pessoas), ocupando o Nordeste a terceira colocação (21.898 migrantes). No caso dos

migrantes de Minas Gerais, por se constituir num movimento de várias décadas, este

(19)

período 1970-1980 (61% do total para a RM); já os migrantes nordestinos, embora com

os maiores volumes na sede, apresentavam tendência a expansão regional.

Tabela 4

Principais Volumes Migratórios Interestaduais Região Metropolitana de Campinas

1970-1996 Procedência 1970-1980 % 1981-1991 % 1991-1996* % Total 192.497 100 195.401 100 83.884 100 Região Sudeste (-SP) 50.277 26,12 48.071 24,60 20.838 24,84 Minas Gerais 44.044 22,88 37.542 19,21 16.847 20,08 Região Norte 1.226 0,64 4.837 2,47 4.939 5,89 Região Nordeste 21.898 11,38 45.793 23,44 27.646 32,96 Bahia 7.510 3,90 17.466 8,94 11.747 14,00 Pernambuco 4.734 2,46 8.604 4,40 4.320 5,15 Região Sul 99.520 51,70 77.161 39,49 23.526 28,04 Paraná 96.801 50,29 72.681 37,19 21.551 25,69 Região Centro-Oeste 15.726 8,17 15.436 7,90 6.935 8,27 Sem especificação Exterior,sem decl. 3.850 2,00 4.103 2,10 ----

Fonte: Fundação IBGE, Censo Demográfico de 1980, 1991 e Contagem da População de 1996;Tabulações Especiais, NEPO/UNICAMP.

* Refere-se à migração 5 anos antes do levantamento.

De fato, os anos 80 trouxeram novas características aos deslocamentos

interestaduais da Região Metropolitana de Campinas. Em primeiro lugar, destaca-se o

aumento no volume de migrantes vindo de outros estados: de 192.497 migrantes, nos 70,

para 195.401, no período 1981-1991; contrário, portanto, ao que se pode assistir no

âmbito nacional, especialmente entre as regiões brasileiras (Baeninger, 1999). Essa

elevação correspondeu ao aumento da migração nordestina para a Região Metropolitana

de Campinas, a qual representava 11,4% do total da migração interestadual para a área,

nos 70, elevando-se para 23,4%, no período 1980-1991. Essa maior participação relativa

não se deveu apenas à retração dos fluxos migratórios do Paraná (72.681 migrantes) e de

(20)

migrantes com origem nos estados nordestinos: de 21.898 migrantes, nos 70, para 45.793,

entre 1981-1991; o fluxo migratório da Bahia passou de 7.510 migrantes para 17.466,

respectivamente. Nesse contexto, a migração nordestina passou a ocupar o primeiro lugar

dentre os fluxos interestaduais dos anos 80, seguido pela Paraná e Minas Gerais.

A migração nordestina para a área manifestou aumento em seu volume, de uma

para outra década, para todos os municípios que compõem a região, destacando-se os

municípios de Campinas (de 13.616 migrantes nordestinos, nos 70, para 22.885, no

período 1981-1991) e Sumaré (de 2.468 para 7.357, respectivamente).

Nos primeiros anos dos 90, entraram ao ano na Região Metropolitana de

Campinas 16.777 migrantes (totalizando 83.884 entre 1991-1996), contra 19.540 ao ano,

do período 1981-1991. A migração nordestina contribuiu com 33% dessa migração

recente, passando de um volume anual de 4.579 migrantes, entre 1981-1991, para 5.529

migrantes ao ano, entre 1991-1996. Já o fluxo com origem no Paraná seguiu a tendência

de menor participação (25,7% do total), sendo que Minas Gerais manteve estável sua

participação relativa (em torno de 20% do total dos migrantes que entraram no período).

A espacialização regional desses movimentos migratórios intertestaduais aponta

novas especificidades e características do fenômeno, especialmente no que se refere à

potencialidade de absorção migratória no âmbito metropolitano, com a consolidação do

entorno metropolitano na canalização desses fluxos (Tabela 5).

No período 1986-1991, o Município de Campinas havia recebido 47.270 migrantes vindos de outros estados, enquanto que seu Entorno 67.943; mesmo com a tendência a menores volumes migratórios no período seguinte (1991-1996), o do Entorno superou o da sede: 45.267 e 38.617 migrantes, respecitivamente. Ao mesmo tempo em que o Município de Campinas deixou de ser o destino primaz metropolitano da migração interestadual, no movimento de saída de população este se apresentou como a área de maior emigração interestadual da região: 17.358 emigrantes saíram de Campinas para outros estados, entre 1986-1991, e do entorno, 7.922.

(21)

Tabela 5

Movimento Imigratório e Emigratório Interestadual

Região Metropolitana de Campinas – Município de Campinas e Entorno 1986-1991 e 1991-1996. (continuação) RM de Campinas Anterior ÍNDICE IEM* REPOSIÇÃO Mun.Campin as

Entorno total Mun.Campi nas Entorno total 86-91 86-91 86-91 86-91 Norte 0,63 0,85 0,72 4,38 12,05 6,22 Nordeste 0,70 0,88 0,79 5,61 15,96 8,45 BA 0,75 0,86 0,81 7,07 13,20 9,50 PE 0,74 0,87 0,80 6,66 14,07 9,09 Sudeste 0,30 0,63 0,46 1,86 4,45 2,71 MG 0,28 0,62 0,46 1,80 4,29 2,68 RJ 0,39 0,71 0,50 2,30 5,87 3,00 Sul 0,53 0,87 0,75 3,22 14,86 6,86 PR 0,55 0,89 0,77 3,43 17,86 7,81 C.Oeste 0,02 0,62 0,35 1,04 4,26 2,09 total 0,46 0,79 0,64 2,72 8,58 4,56

Fonte: Fundação IBGE, Censo Demográfico de 1991 e Contagem da População de 1996; Tabulações Especiais- NEPO/UNICAMP.

* Índice de Eficácia Migratória

Assim, enquanto Campinas obteve um ganho populacional interestadual de

29.912 pessoas, o Entorno chegou a 60.021, no mesmo período. Ou seja, mesmo

Campinas ainda apresentando elevada capacidade de absorção migratória interestadual

Anterior Atual IMIGRAÇÃO INTERESTADUAL EMIGRAÇÃO TROCAS 86-91 Mun.Campina s

Entorno TOTAL Mun.Campina

s

Entorno TOTAL Mun.Campina s Entorno total 86-91 91-96 86-91 91-96 86-91 91-96 86-91 86-91 86-91 86-91 86-91 Norte 2459 2161 2132 2778 4591 4939 561 177 738 1898 1955 3853 Nordeste 14373 14234 15477 13412 29850 27646 2564 970 3534 11809 14507 26316 BA 5284 5934 6492 5813 11776 11747 747 492 1239 4537 6000 10537 PE 2709 2309 2799 2011 5508 4320 407 199 606 2302 2600 4902 Sudeste 13472 10494 15724 10344 29196 20838 7254 3534 10788 6218 12190 18408 MG 10135 8094 13277 8753 23412 16847 5643 3098 8741 4492 10179 14671 RJ 3282 2080 2073 1390 5355 3470 1430 353 1783 1852 1720 3572 Sul 13918 8404 29164 15122 43082 23526 4319 1963 6282 9599 27201 36800 PR 12404 7317 28097 14234 40501 21551 3613 1573 5186 8791 26524 35315 C.Oeste 2768 3324 5446 3611 8214 6935 2660 1278 3938 108 4168 4276 total 47270 38617 67943 45267 115213 83884 17358 7922 25280 29912 60021 89933

(22)

(IEM de 0,46), os municípios do Entorno metropolitano vêm demonstrando maior

potencialidade (IEM de 0,79).

Na realidade, o Município de Campinas diferencia-se dos do Entorno no que se

refere à capacidade de absorção dos migrantes vindos de Minas Gerais e Paraná (fluxos

mais antigos); enquanto o Município de Campinas registrava, entre 1986-1991, baixa

capacidade de absorção de migrantes procedentes de Minas Gerais (IEM de 0,28), o

Entorno caracterizava-se como área de forte absorção dessa migração (IEM de 0,62). No

caso da migração com origem no Paraná, apesar de Campinas apresentar um IEM de 0,55,

o Entorno chegou a um índice de 0,89; enquanto o Índice de Reposição Populacional com

relação ao fluxo de paranaense para o Município de Campinas era de 3 entradas para cada

uma das saídas, no entorno essa relação era de 18 para 1.

Ressalte-se que a tendência recente de absorção da migração do Centro-Oeste

para a Região, vem se consolidando no entorno metropolitano.

No contexto estadual, a Região de Governo de Campinas recebeu mais de

267.669 migrantes provenientes das demais Regiões de Governo do Estado, nos anos 70.

O principal volume migratório em direção a essa área teve como procedência a Região

Metropolitana de São Paulo, de onde saíram 67.185 pessoas em direção à Região de

Campinas, representando 25% do movimento migratório para a área. Nesse período, dentre

as regiões de governo, os fluxos mais expressivos foram provenientes das regiões situadas

a oeste do Estado, respondendo por 27% do movimento inter-regional para a Região.

Cerca de 70 mil pessoas deixaram essas áreas em direção à Região de Governo de

Campinas, principalmente das regiões de Jales, Andradina, Adamantina, Presidente

Prudente, Marília e Araçatuba. Volumes menores foram registrados pelos fluxos

migratórios que partiram de regiões próximas, como Jundiaí, Piracicaba, Limeira e São

João da Boas Vista (Baeninger, 1996).

Nos anos 80, o volume de migrantes vindos de outras regiões do próprio Estado

(23)

quais 95.688 foram migrantes provenientes da Região Metropolitana de São Paulo (Tabela

6). Portanto, houve um aumento desse fluxo no total da migração inter-regional, se

comparado à década anterior. Por outro lado, a migração com origem no oeste paulista

diminuiu seu volume (para cerca de 45 mil no período 1981-1991), sobressaindo os

volumes migratórios de regiões próximas (em torno de 40 mil migrantes), vindos de

Limeira, Piracicaba, Sorocaba etc.

Apesar de ter mantido a característica de canalizar o maior volume de imigrantes,

da Região Metropolitana de Campinas saíram 77.118 emigrantes, no período 1981-1991,

em direção as outras regiões paulistas, destacando-se que cerca de 20% desse fluxo

emigratório teve como destino a RMSP. Nas trocas migratórias inter-regionais, no entanto,

os ganhos populacionais da Região Metropolitana de Campinas foram de 163.976 pessoas,

sendo 50% representado pelos ganhos obtidos da RMSP (entraram da RMSP na

RMCampinas 95.688 migrantes, nos 80, e desta para a primeira, apenas 15.046 pessoas).

Com as regiões do Interior, vale destacar que a Região Metropolitana de Campinas chegou

a registrar perdas populacionais, já nos anos 80, com Ribeirão Preto, bem como baixos

saldos migratórios com regiões como Araraquara, São José do Rio Preto, São José dos

Campos demonstrando sinais de arrefecimento da centralidade da absorção da migração do

Interior; de fato, outras regiões tiveram capacidade de reversão migratória e se

despontaram no cenário migratório do Interior a partir dos anos 80 (Baeninger, 1999). A migração recebida pela Região de Campinas contribuiu significativamente para o seu crescimento econômico-populacional, tanto os movimentos migratórios de regiões menos dinâmicas como aqueles provenientes da Região Metropolitana de São Paulo. A confluência de uma migração da classe média composta por técnicos e cientistas de elevada qualificação - empregados nas indústrias de alta tecnologia, nos Centros de Pesquisa da UNICAMP, PUCC, TELEBRÁS, Instituto Agronômico, entre outros - com uma migração da população de baixa renda , geralmente absorvida pelas atividades da indústria da construção civil e pelo setor terciário, impulsionou o dinamismo e a integração das atividades econômicas regionais.

(24)

Tabela 6

Volume de Imigração e Emigração Inter-Regional –RG/SP Região Metropolitana de Campinas, 1981-1991

RG Anterior Imigração Emigração Trocas

Adamantina 5436 641 4795

São José do Rio Preto 3466 2725 741 Sáo João da Boa Vista 6804 3829 2975 Bragança Paulista 6134 3796 2338 Avaré 1055 551 504 Piracicaba 4990 4196 794 Bauru 3946 2275 1671 Presidente Prudente 3103 1129 1974 Barretos 1823 1232 591 Ribeirão Preto 3353 3587 -234 Araçatuba 3932 1604 2328 Votuporanga 1830 827 1003 Marília 4915 1219 3696 Araraquara 2631 1744 887 Rio Claro 2084 1474 610 Andradina 3035 765 2270 Itapetininga 1302 1102 200 Botucatu 678 410 268 Guaratinguetá 482 133 349 Jales 5927 1174 4753 Itapeva 996 715 281 Sorocaba 6439 3638 2801 Franca 1069 666 403 Limeira 6449 4908 1541 Cruzeiro 132 69 63 Catanduva 2074 592 1482 RMSP 95688 15046 80642 Assis 1534 555 979 Jaú 1147 664 483 Registro 622 397 225 Tupã 3212 472 2740 Ourinhos 1301 278 1023 Jundiaí 8430 5394 3036

São José dos Campos 2097 1418 679

Lins 1761 719 1042 Taubaté 744 657 87 Caraguatatuba 539 433 106 Santos 4437 3018 1419 São Carlos 1602 1301 301 Dracena 5120 1030 4090 Fernandópolis 2213 579 1634

São Joaquim da Barra 344 156 188 sem especificação 26218 0 26218 Total inter-regional 241094 77118 163976

intra-regional 101728 101728

total intra-estadual 342822 178846

(25)

Constituindo-se na mais importante área na rota da interiorização do

desenvolvimento no Estado, a Região de Campinas reforçou, nos anos 80, seu papel de

centralidade em relação às demais regiões do Interior pela "localização na cidade e região

de importante segmento fabril voltado para a agricultura; pela tendência a estabelecerem-se

na cidade (sede) escritórios e divisões administrativas das grandes empresas interiorizadas;

pela implantação de grandes unidades de comércio, serviços e intermediação financeira

ligadas à produção industrial e agrícola localizadas no Interior; pelo crescimento de

diversificado segmento de comércio varejista e de serviços em expansão"

(ZIMMERMANN & SEMEGHINI, 1988:65).

4. Reorganização da População no Espaço Metropolitano

Os movimentos intra-regionais mobilizaram 86.076 pessoas, nos anos 70,

elevando-se para 107.269, no período 1981-1991 (Tabela 7), demonstrando o vigor do

processo de redistribuição interna da população metropolitana. Os municípios que vêm se

constituindo em vetores do processo de expansão e ocupação regional foram marcados,

desde os anos 70, pela forte presença da migração com origem na sede metropolitana

(Município de Campinas); foram os casos de Sumaré (com a migração vinda de Campinas

respondendo por 84% da migração metropolitana do município) Indaiatuba (79,3%) e

Paulínia (74,5%) e , mais distante, Valinhos (69,1%), nos anos 70, estendendo-se para

Monte Mor, no período 1981-1991 (onde a migração vinda de Campinas representava

58,8%, no período 1970-1980), passando para 73,9%, nos 80). Os demais municípios

compõem e engrossam esses eixos de expansão metropolitanos; de fato, o dinamismo

dessas áreas está relacionado à proximidade de um pólo industrial, passando a

desempenhar funções importantes para a economia regional; os municípios vizinhos a

Campinas passaram a compor a dinâmica regional, seja como áreas de expansão industrial

e de insumos industriais ou como áreas para localização habitacional, propiciando intenso

(26)

metropolitana abrigam importantes indústrias; "a diferença do que se verifica em muitas

regiões metropolitanas do país, ali não se estabeleceu a configuração de um pólo

desenvolvido com um conjunto de 'satélites' (...) Ao contrário, mercê, por um lado, de seu

dinamismo no crescimento industrial e na atração das empresas modernas e, por outro, das

potencialidades de uma importante base agrícola, puderam os municípios da área manter

feições econômicas e sociais próprias que interagem com o centro regional, integrando-se

ao seu dinamismo" (Gonçalves e Semeghini, 1987:30).

Na Região Metropolitana de Campinas, a intensificação do movimento

urbano-urbano transformou o espaço, gerando o processo de "periferização" da população. Nesse

contexto, torna-se ainda mais evidente, a importância da migração intrametropolitana,

determinando os vetores de crescimento metropolitano, bem como indicando as formas de

reorganização da população nessa nova territorialidade, com os movimentos

intra-regionais contribuindo significativamente para o crescimento dos demais municípios da

região.

Isso pode ser melhor entendido quando se considera os processos envolvidos na

"periferização" da população na região. O processo de "expulsão" de população do

Município de Campinas para os municípios limítrofes ou próximos já havia sido

constatado na década de 70: Campinas foi responsável por mais de 50% dos migrantes

intra-regionais domiciliados nos principais municípios da área metropolitana. O volume

emigratório desencadeado a partir do Município de Campinas, passou de 36.825

migrantes, no período 1970-1980, 48.559, entre 1981-1991, em direção, principalmente

aos municípios limítrofes, que receberam com maior intensidade esse "repasse"

(27)

Tabela 7

Movimento Migratório Intra-Regional Municípis Região Metropolitana de Campinas 1970/1980 e 1981-1991 Município de Residência Atual Intrametropolita no (A) 1970-1980 1981-1991 Do Município de Campinas (B) 1970-1980 1981-1991 % B/A 70-80 % B/A 81-91 Americana 3547 4186 1481 857 41,75 20,47 Artur Nogueira 984 2887 216 283 21,95 9,80 Campinas 12295 9985 --- --- --- --- Cosmopólis 2500 2134 956 759 38,24 35,57 Indaiatuba 2682 2747 2127 1650 79,31 60,06 Jaguariúna 1984 3474 1084 1655 54,64 47,64 Monte Mor 1955 3649 1149 2695 58,77 73,86 Nova Odessa 4643 4624 349 380 7,52 8,22 Paulínia 3387 3806 2525 2727 74,55 71,65 Pedreira 657 749 388 446 59,06 59,58 S.B.D'Oeste 11523 15935 580 461 5,03 2,89 S.A.Posse 1041 1168 123 265 11,82 22,69 Sumaré 25002 38688 21044 31952 84,17 82,59 Valinhos 4257 3360 2943 2078 69,13 61,85 Vinhedo 1587 1855 475 414 29,93 22,32 Total 86076 107269 36825 48559 42,78 45,27

Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 1980; Tabulações Especiais, Fundação SEADE, 1989.

(*)Nesses valores intra-regionais totais não está incluído o Município de Itatiba, uma vez que a as incorporação na RM não estava presente nos estudos anteriores.

Esse fenômeno parece indicar que o Município de Campinas serviu de etapa

intermediária entre a procedência e a direção final dos migrantes que chegaram a Região

de Campinas. A etapa seguinte, que assumiu diversas configurações, foi a "expulsão" da

população de baixos rendimentos, incluindo tanto os migrantes mais pobres como os

naturais do município, para as áreas de mais baixo valor do solo urbano. O

empobrecimento da população - conseqüência da deteriorização do poder de compra dos

salários que já se prenunciava no final da década de 70 - aliado ao importante fluxo

(28)

A intensidade desse processo se manifestava através da "perda" populacional do

Município de Campinas para os demais municípios da área (Tabela 8), marcando a

formação do espaço urbano-metropolitano, no qual os limites municipais passam a ser

considerados, cada vez mais, apenas como divisão político-administrativo.

No balanço das trocas migratórias intrametropolitanas, o Município de Campinas

chegou a apresentar um saldo negativo de 23.541 pessoas, nos 70, passando a 38.575, entre

1981-1991; ou seja, "perdeu" população para a maioria dos municípios da região, enquanto

Sumaré apresentou nas trocas populacionais o saldo positivo mais elevado , nos 70 e 80:

21.949 pessoas e 33.776, respectivamente.

Para se ter uma idéia da magnitude desse processo de "expulsão" da população

para as demais áreas na região, basta observar que do total da migração intra-regional, nos

anos 70, 41,6% saíram da sede (Campinas) para o entorno; 45% das pessoas mudaram

entre os municípios do entorno; e apenas 13,4% foram dos municípios do entorno para a

sede. Nos anos 80, essa distribuição foi a seguinte: 45,3% saíram de Campinas para o

entorno; 45,4% se deslocaram no entorno metropolitano; e, apenas 9,3% do entorno para a

sede. Ou seja, houve um aumento no processo da emigração desencadeada a partir da sede

metropolitana em direção aos municípios do Entorno.

Na configuração do espaço metropolitano emerge a importância de subcentros na área.

Considerando-se a Região de Governo em seu conjunto, a sede regional redistribuiu

população principalmente para os municípios limítrofes, onde Sumaré destaca-se como

cidade-dormitório. Americana, constituindo o segundo pólo industrial da região, recriou

sua própria "periferia", "expulsando" população para seus municípios limítrofes. Nas

trocas líquidas populacionais intra-regionais, Americana registrou elevado saldo negativo;

estes fluxos dirigiram-se, principalmente, para Santa Bárbara D'Oeste, Nova Odessa e

(29)

Tabela 8

Movimento Migratório Intra-Regional Região Metropolitana de Campinas 1970/1980 e 1981-1991 Municípios Imigração 70-80 81-91 Emigração 70-80 81-91 Trocas Líquidas 70-80 81-91 Americana 3.547 4.186 16.871 21.098 -13.324 -16.912 Artur Nogueira 984 2.887 954 758 30 2.129 Campinas 12.295 9.985 35.836 48.560 -23.541 -38.575 Cosmopólis 2.500 2.134 1.090 1.552 1.410 582 Indaiatuba 2.682 2.747 2.305 2.033 377 714 Jaguariúna 1.984 3.474 2.469 2.086 -485 1.388 Monte Mor 1.955 3.649 1.433 2.088 522 1.561 Nova Odessa 4.643 4.624 1.659 3.864 2.984 760 Paulínia 3.387 3.806 2.363 1.777 1.024 2029 Pedreira 657 749 1.036 980 -379 -231 Santa Bárbara D'Oeste 11.523 15.935 1.604 2.478 9.919 13.457 Santo Antonio da Posse 1.041 1.168 1.178 1.426 -137 -258 Sumaré 25.002 38.688 3.053 4.912 21.949 33.776 Valinhos 4.257 3.360 3.198 3.624 1.059 -264 Vinhedo 1.587 1.855 1.481 1.492 106 363 Total 86.076 107.269 86.076 107.269 --- ---

Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 1980.

A configuração de subcentros regionais pode ser melhor caracterizada através do

movimento pendular que para eles se dirige diariamente32. Aliás, um dos impactos mais

fortes da redistribuição da população na Região refletiu-se no surgimento e intensificação

desses deslocamentos populacionais na área. Esse tipo de movimento envolveu,

particularmente, em 1980, pessoas não-naturais dos municípios da área, em especial as

pessoas com menos de dez anos de residência nessas localidades. O movimento pendular

na Região de Governo de Campinas, em 1980, foi de 57.277 pessoas , das quais 23%

32 Considera-se a pessoa que, em 1980, declarou trabalhar ou estudar em município diferente daquele de residência atual, independentemente de sua condição de naturalidade no município de residência. Esta informação não esteve presente no Censo Demográfico de 1991, por isso a referência apenas ao Censo de 1980.

(30)

apresentaram como local de residência o Município de Sumaré, 20% o de Campinas e 17%

o de Santa Bárbara D'Oeste. Destacaram-se como principais locais de trabalho ou estudo

os grandes centros da Região: Campinas e Americana, com volume superior a 10 mil

pessoas.

O movimento pendular constitui, hoje, um dos mais importantes fenômenos da

Região; esse tipo de movimento também diferencia-se quando consideradas as

características dos municípios no contexto econômico metropolitano e a inserção da

população ocupada neles residente. A integração do mercado de trabalho metropolitano

propicia esse fenômeno que, associado à necessidade de buscar locais de moradia mais

baratos, marca o cotidiano de grande número de trabalhadores. A integração do mercado

regional, a expansão da mancha urbana de todos os municípios da região, a localização das

indústrias ao longo das principais rodovias (Anhangüera, Bandeirantes, Dom Pedro I,

Santos Dumont, Campinas Mogi-Mirim) e nas proximidades do Aeroporto de Viracopos

foram fatores que impulsionaram a formação desse espaço urbano-metropolitano e

contribuíram para relativa desconcentração populacional do município-sede em relação aos

municípios vizinhos.

Nos anos 80 acentuou-se a tendência de conurbação em algumas direções na

Região, configurando os seguintes eixos de expansão: 1) Sumaré-Monte Mor-Nova

Odessa-Americana-Santa Bárbara D'Oeste; 2) Valinhos-Vinhedo; 3) Indaiatuba-Monte

Mor; e 4) Paulínia-Cosmópolis33. Na formação desses eixos, a localização dos conjuntos

habitacionais, a estrutura viária e a localização de grandes equipamentos urbanos foram os

fatores decisivos da expansão regional. Esses eixos vêm se caracterizando de maneira

distinta quanto à absorção da população segundo níveis de renda. O Município de

Campinas caracteriza-se pela absorção de segmentos médios/altos, expandindo-se até o

eixo Paulínia-Cosmópolis; no eixo de expansão de Sumaré a Santa Bárbara predomina a

33 Veja-se Relatório de Campo da Região de Governo de Campinas, Pesquisa "Migração no Interior do Estado de São Paulo", DAEP-Fundação SEADE/NEPO-UNICAMP, 1991 e o Relatório 5.5 da Pesquisa: São Paulo no Limiar do Século XXI - Campinas, IE-UNICAMP, nov. 1990.

(31)

população de baixa renda, principalmente entre Sumaré-Monte Mor; este segmento

populacional parece também caracterizar o eixo de Indaiatuba.

A continuidade do fluxo de baixa renda no contexto de menor dinamismo

econômico, que marcou os anos 80, vem agravando as carências sociais, com a

constituição de uma enorme zona periférica na área de contato de Campinas com Sumaré,

Indaiatuba, Valinhos e Monte Mor, bem como em Americana, Santa Bárbara D'Oeste e

Nova Odessa.

Considerações Finais

O acompanhamento da evolução do Município de Campinas, desde seus

antecedentes históricos, possibilita compreender sua configuração demográfica atual e a

relevância da dinâmica regional no processo de urbanização e metropolização em curso. A

migração constituiu a chave da dinâmica demográfica do Município nas distintas etapas de

sua trajetória, reforçando seu papel nas duas últimas décadas.

Nesse sentido, a questão do espaço constituiu dimensão importante a ser

incorporada na análise dos processos migratórios. O acelerado processo de urbanização

verificado nas duas últimas décadas marcou a explosão do crescimento das cidades,

transformando o espaço urbano. A emergência de uma nova área metropolitana no Estado

é um indicativo bastante forte das mudanças ocorridas. A gravidade desse processo já se

manifesta com a reprodução de fenômenos como o da "periferização" da população de

baixa renda e da formação de eixos de crescimento econômico-populacionais que se

diferenciam quanto ao tipo de população neles residentes.

Referências Bibliográficas

ARAÚJO FILHO, J.R. de. O café, riqueza paulista. Boletim Paulista de Geografia, n.23, Associação dos Geógrafos Brasileiros, São Paulo, 1956.

BERGÓ, M.E.A. Estudo geográfico da cidade de Campinas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA 10, 1952, São Paulo. Anais... São Paulo, v.3, 1952.

BRITO, J. História da cidade de Campinas. v.1 a v.42, Campinas, 1969.

BUARQUE DE HOLANDA, S. Raízes do Brasil. José Olympio Editora, 21.ed., 1989.

CAMARGO, J.F. Crescimento da população no Estado de São Paulo e seus aspectos econômicos. Estudos

Referências

Documentos relacionados

O objetivo do presente trabalho foi entender quais os benefícios alcançados por meio da parceria entre a COPASUL, uma empresa com esforços direcionados à comercialização

This was considered a unique case in Portugal, since power transformers are only available for this type of assessment, when a catastrophic failure occurs, preventing an analysis

Purpose: This thesis aims to describe dietary salt intake and to examine potential factors that could help to reduce salt intake. Thus aims to contribute to

Esse trabalho tem o objetivo de apresentar as funções destinadas ao pedagogo no meio empresarial, dando a valorização necessária, visto que muitas pessoas não sabem

Os principais resultados obtidos pelo modelo numérico foram que a implementação da metodologia baseada no risco (Cenário C) resultou numa descida média por disjuntor, de 38% no

Acrescenta que “a ‘fonte do direito’ é o próprio direito em sua passagem de um estado de fluidez e invisibilidade subterrânea ao estado de segurança e clareza” (Montoro, 2016,

Embora a solução seja bastante interessante como parte de uma política pública relacionada ao gerenciamento de dados de saúde dos usuários do sistema, esse

1 – Documentou-se a existência de um pequeno monumento megalítico, integralmente construído com monólitos de grauvaque, situável nos finais do IV milénio a.C., provido