• Nenhum resultado encontrado

As subculturas urbanas e as sociedades contemporâneas: impacto sociocultural

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "As subculturas urbanas e as sociedades contemporâneas: impacto sociocultural"

Copied!
167
0
0

Texto

(1)

DEPARTAMENTO DE LETRAS, ARTES E COMUNICAÇÃO

Mestrado em Ciências da Cultura

Dissertação de Mestrado

As Subculturas Urbanas e as Sociedades Contemporâneas:

Impacto Sociocultural

Dissertação de Mestrado em Ciências da Cultura apresentada à Universidade Trás-os-Montes e Alto Douro, desenvolvida sob a Orientação da Prof. Doutora Orquídea Ribeiro.

Elisa das Dores Martins Castanheira

(2)

3

À memoria do meu Pai, a estrela mais brilhante do céu.

(3)

4

Agradecimentos

Todo o trabalho de investigação requer muito empenhamento e dedicação, e muitas vezes é necessário abdicarmos da companhia de certas e determinadas pessoas, abdicarmos de alguns momentos importantes. Por todos estes motivos, o apoio de algumas pessoas para a realização deste trabalho de investigação foi, não só importante, como imprescindível.

Quero agradecer à minha orientadora de dissertação, Professora Doutora Orquídea Ribeiro, por ter aceite ser minha orientadora, por todo o empenho, colaboração, profissionalismo, pela amabilidade com que sempre me recebeu e se disponibilizou para ajudar no que fosse preciso, a minha gratidão.

As minhas amigas e companheiras de Mestrado, as manas Sofia e Sandra Teixeira que mais de perto me acompanharam, agradeço o apoio dispensado, as palavras de incentivo, e as gargalhadas partilhadas…

Para terminar, o meu mais profundo agradecimento vai para a minha mãe e para o meu irmão; agradeço-lhes o apoio incondicional em todos os momentos, as palavras de força e coragem para que nunca deixasse de me empenhar nesta tarefa.

A todos o meu muito obrigado! Elisa das Dores Martins Castanheira

(4)

5

Índice Geral

Agradecimentos……….……... 4 Índice de Quadros………... 7 Resumo ... 8 Abstract ... 9 Introdução... 10 Capítulo 1 1.1 Cultura, subcultura e identidade cultural ………13

Capítulo 2 2.1 Subculturas Urbanas – Tribos Urbanas………...………… 18

2.2 Primeiras reflexões nas diferentes áreas/ disciplinas sobre as subculturas e seus comportamentos ………. 22

2.3Analisando as subculturas na sociedade contemporânea……….. 23

2.4 Principais características das Subculturas Urbanas ….………….…...……26

2.5 Valores específicos das Subculturas……….28

2.6 Subculturas Urbanas: Dimensão Espacial e Temporal ………... 28

2.7 Formas de reconhecimento de subculturas urbanas ………...…..30

2.8. A busca de identidade …….………33

2.9.Quadro da evolução do aparecimento das subculturas .………...35

Capítulo 3 3.1.Subcultura Mod ……….………... 38 3.1.1 A Subcultura Mod ...……….. 38 3.1.2 Mod em Portugal……… 41 3.2.Subcultura Gótica ……….………... 43 3.2.1 A Subcultura Gótica………... 43 3.2.2 Gótico em Portugal……….... 50 3.3.Subcultura Punk ………... 52 3.3.1 A Subcultura Punk……….… 52 3.3.2 Punk em Portugal……...……… 55 3.4.Subcultura Rastafari……….. 57 3.4.1 A Subcultura Rastafari………... 57 3.4.2 Rastafari em Portugal ……….62 3.5.Subcultura Hippie ………...………..………... 63 3.5.1 A Subcultura Hippie ………... 63 3.5.2 Hippies em Portugal …...……….. 67 3.6.Subcultura Headbanger ……….……... 68 3.6.1 A Subcultura Haedbanger .…………...………. 68 3.6.2 Headbanger em Portugal ……...………..…..71 3.7.Subcultura skinhead ……….…...……….……….... 72 3.7.1 A Subcultura Skinhead……….….………...72 3.7.2 Skinhead em Portugal …...………... ……….78 3.8.Subcultura Okupa ……….………80 3.8.1 A Subcultura Okupa………... 80 3.8.2 Okupas em Portugal ………... 83

(5)

6

3.9.1 A Subcultura Hip Hop…………...……….... 85

3.9.2 Hip hop em Portugal …...88

3.10.Subcultura Grafite ……….….………….…89

3.10.1 A Subcultura Grafite…….………89

3.10.2 Grafite em Portugal...92

Capítulo 4 4.1 Impacto sociocultural das subculturas Urbanas face à cultura dominante .. 94

Conclusão...98

Bibliografia ...101

Anexos Índice de Anexos ………...….. 107

Anexo 1 – Símbolos dos Mods …………...……….………… 109

Anexo 2 – Poema Gótico ………...…………..……… 110

Anexo 3 – Música Gótica………...………..………..…... 111

Anexo 4 – Símbolos Góticos ………...……… 113

Anexo 5 – Música Punk……….……….. 116

Anexo 6 – Símbolos Punks…….……….………...………... 117

Anexo 7 – Vocabulário Rastafari……….……….…… 120

Anexo 8 – Música Rastafari……….………. 121

Anexo 9 – Símbolos Rastafaris………..………... 123

Anexo 10 – Saudação Rastafari ………... 124

Anexo 11 – Música Hippie ………...……... 125

Anexo 12 – Símbolos Hippie ……..………..…………127

Anexo 13 – Música Headbanger ……….……….….128

Anexo 14 – Símbolos dos Headbangers .………...………130

Anexo 15 – Símbolos de Skinheads ……….…………..…...……131

Anexo 16 – Bandeiras Skinheads ………...………..133

Anexo 17 – Saudações Skinheads ……….………..……….134

Anexo 18 – Símbolos dos Okupas ………..………..………135

Anexo 19 – Música Hip Hop ………..………..136

Anexo 20 – Vocabulário Hip hop ………...…137

Anexo 21 – Símbolos do Hip hop ………...………..138

Anexo 22 – Estilos de Grafites …..………... 139

Anexo 23 – Vocabulário dos Grafites ………...………....140

Anexo 24 – Imagens de Mods ………... 141

Anexo 25 – Imagens de Góticos………142

Anexo 26 – Imagens de Punks……….. 143

Anexo 27 – Imagens de Rastafaris ……….……. 144

Anexo 28 – Imagens de Hippies ...……..………. 145

Anexo 29 – Imagens de Headbangers ………..……… 146

Anexo 30 – Imagens de Skinheads ………...………... 147

Anexo 31 – Imagens de Okupas………...……….... 148

Anexo 32 – Imagens de Hip Hoppers………... 149

Anexo 33 – Imagens de Grafiteiros em açao………...…………...…150

Anexo 34 – Blogue Gótico……….………..….…...151

Anexo 35 – Blogue Tribos Urbanas- Headbangers……….…...152

Anexo 36 – Blogue Tribos Urbanas – Hippies…………...……….. 153

Anexo 37 – Blogue Rastafari………...….….154

Anexo 38 – Blogue Rastafari………...155

(6)

7

Anexo 40 – Blogue Gótico……….…... 157

Anexo 41 – Notícia “Graffiters com licença para dar cor a Lisboa” ... 158

Anexo 42 – Notícia “Heróis de Tribos Urbanas eternas”………..….…...159

Anexo 43 – Blogue Carecas do Brasil – Skinheads……….….160

Anexo 44 – Blogue Gótico……….…...161

Anexo 45 – Blogue Tribus Urbanas- Mods……….…. 162

Anexo 46 - Blogue Hip Hop………...…….…… 163

Anexo 47 – Notícia Okupas de Lisboa……… 164

Anexo 48 – Blogue Punk……….……. 165

Anexo 49 – Notícia Rastafaris em Portugal………... ……….. 166

Anexo 50 – Blogue Rastafari……….……167

Anexo 51 – Notícia Extrema Direita – Skinhead .….………….……...…... 168

k

Índice de quadros

Quadro 1 – Fatores que intervêm na formação de Subculturas ……..…………..….… 24

Quadro 2 – Reflexões nas diversas áreas ………..……….…………... 25

Quadro 3 – Espaços Simbólicos ………... 29

(7)

8

Resumo

O presente estudo tem como principal objetivo compreender o que se entende por subculturas, e quais as suas particularidades para uma maior e melhor relação com as culturas urbanas, tendo em conta que, na atualidade, há um acréscimo do número de subculturas na sociedade.

As subculturas urbanas, também denominadas tribos urbanas, são constituídas por grupos que têm como principal objetivo estabelecer redes de amigos com base em interesses comuns. Essas agregações apresentam uma conformidade de pensamentos, hábitos e maneiras de vestir e agir. Nas grandes cidades, principalmente, encontram-se subculturas juvenis tais como os Mods, Góticos, Punks, Rastafaris, Headbangers,

Skinheads ,Hippies, Okupas, Hip Hoppers, Grafites, entre outros, grupos que se

distinguem uns dos outros, dependendo das suas ideologias. Os membros pertencentes às diversas subculturas estão, assim, unidos por um conjunto de características, pensamentos, modas e interesses comuns, que formam uma pequena comunidade com identidade própria. O que se propõe na presente dissertação é a apresentação das diversas subculturas existentes, ou seja, a análise das suas origens, características, ideologias, símbolos etc., que serão expostas de uma forma circunstanciada, onde se evidenciará as particularidades de várias subculturas. O impacto sociocultural das subculturas na sociedade também será dissecado de forma a compreender qual é a opinião da sociedade dominante relativamente às subculturas, analisando os estereótipos e preconceitos imputados as subculturas urbanas.

Palavras-chaves:

(8)

9

Abstract

This study has as main objetive the understanding of subcultures and its characteristics for a greater and better understanding of the relations with urban cultures, taking into account that, at present, the number of subcultures in society is increasing.

The urban subcultures, also called urban tribes, are groups whose main objetive is to establish networks of friends based on common interests. These have specific thoughts, habits and ways of dressing and acting. Youth subcultures such as Mods,

Gothic, Punks, Rastafaris, Headbangers, Skinheads, Hippies, Okupas, Hip Hoppers, Grafiters, abound in large cities, these groups are different from each other, depending

on the their ideologies. The members of the various subcultures are united by a set of features, thoughts, trends and common interests that form a small community with its own identity. What is proposed in this work is the attempt to differentiate the existence of various subcultures, the analysis of their origins, characteristics, ideologies, symbols, etc. Which will be explained in detail, to reveal the particularities of various subcultures. The sociocultural impact of subcultures in society will also be dissected in order to understand what the dominant society's view regarding subcultures, examining stereotypes and prejudices of the mentioned urban subcultures.

Keywords:

(9)

10

Introdução

A escolha de um tema para uma dissertação é sempre uma tarefa difícil. Trata-se de encontrar um assunto que corresponda ao interesse do aluno, e que ao mesmo tempo seja inovador e realizável. Elegeu-se, assim, como objeto de estudo as Subculturas Urbanas e as Sociedades Contemporâneas: Impacto Sociocultural.

Partindo desse pressuposto, a presente dissertação visa fomentar um melhor conhecimento relativamente às subculturas e as relações destas com a cultura dominante dando um contributo para uma melhor perceção das culturas juvenis existentes na sociedade ao investigar e divulgar algumas das ideologias e particularidades das diversas subculturas existentes, refletir sobre a necessidade dos jovens se associarem e identificarem com os grupos, e mostrar qual o posicionamento que cada subcultura ocupa em Portugal.

Visto que uma cultura corresponde a práticas que seguem um determinado padrão associadas ao espaço e ao tempo, as subculturas derivam das culturas dominantes existentes, em que grupos de pessoas com particularidades e ideologias distintas, se distinguem da cultura dominante, criando uma subcultura que os identifica como grupo e os distingue da restante sociedade.

Numa sociedade onde prevalece a multiplicidade e a liberdade de estilos e crenças, as subculturas ganham terreno, principalmente nos meios urbanos, onde existe um maior número de população concentrada de origens diferentes, e onde a vontade de ser “diferente” e a vontade de se manifestar no meio de tantos outros é extremamente desejada. Nascem, assim, as subculturas urbanas, que numa grande metrópole levam os jovens a formar grupos coesos, com gostos musicais semelhantes, indumentárias e hábitos parecidos, com estilo de vida próprio, com ideologias, filosofias de vida e características que os definem.

Algumas das subculturas a analisar nesta dissertação são os Mods, os Góticos, os Punks, os Rastafaris, os Headbangers, os Hippies, os Skinheads, os Okupas, os Hip Hop e os Grafites.

Na parte inicial desta dissertação fazer-se-á referência aos termos cultura, subcultura e identidade cultural, visto que a definição destes termos é bastante vasta e de extrema relevância para o desenvolvimento deste trabalho. Seguidamente irá realçar-se as origens, teorias, definições das subculturas urbanas, também denominadas de

(10)

11 “Tribos Urbanas”, e procuram apresentar quais as primeiras reflexões nas diversas áreas/ disciplinas sobre as subculturas e seus comportamentos, enumerando-se características, os valores específicos, a dimensão espacial e temporal, as formas de ntambém uma tabela evolutiva do aparecimento das subculturas ao longo dos anos (1920 até 2000).

Na segunda parte, efetuar-se-á uma análise aprofundada de dez subculturas, que se destacam das diversas subculturas existentes na sociedade, pelas suas ideologias e visibilidade adquirida. A análise de cada subcultura iniciar-se-á pela abordagem à origem/história, para que seja possível haver uma melhor compreensão da procedência de cada subcultura, as características sociológicas, interesses, particularidades e atividades serão também expostas. Serão, igualmente, apresentados os gostos literários e musicais, bem como a linguagem e os símbolos pertencentes a esse grupo. No fim da análise individual a cada subcultura será referido qual o posicionamento ou implantação desta no território português.

O último capítulo dará destaque ao impacto das subculturas na sociedade, tendo em conta as diversas opiniões existentes, positivas ou negativas, na tentativa de compreender os fundamentos para tais conceções e perceber a ligação destas com a cultura dominante.

Torna-se necessário adotar uma metodologia específica que sirva de orientação na trajetória de um projeto de investigação. Quivy considera que “uma investigação é, por definição, algo que se procura. É um caminhar para um melhor conhecimento e deve ser aceite como tal, com todas as hesitações, os desvios e as incertezas que isto implica.” (Quivy e Campenhoudt 2005: 32). Deste modo, torna-se imprescindível utilizar uma metodologia que permita obter uma visão, a mais fidedigna possível, para atingir os objetivos inicialmente propostos.

Neste trabalho aplicou-se uma investigação qualitativa, baseada em fontes documentais, livros, jornais e sítios na internet, uma vez que a intenção é explorar as características e ideologias das subculturas existentes. Apelar-se-á ainda à metodologia comum das Ciências Sócias e Humanas: métodos tradicionais e modernos de pesquisa, análise, comparação e tratamento de dados relevantes sobre as subculturas que foram surgindo ao longo dos anos. Tornou-se necessário efetuar uma pesquisa mais alargada, não recorrendo apenas a livros, ou documentos publicados, visto que uma grande parte da informação relativamente as subculturas encontra-se em blogues/sítios, tendo em conta que a internet é a principal forma das subculturas se expressar.

(11)

12

Capítulo 1

O bairro é a pátria; a música, o idioma; a roupa, a bandeira. Cada um é cada um, mas todos pertencem a alguma tribo, rappers, punks…, convivem num território com fronteiras de asfalto e cores cúmplices. As tribos mandam nas ruas, onde os inimigos estimulam, e os companheiros são irmãos. (Vaquero apud Berzosa 2000:s/p)

(12)

13

1. Cultura, Subcultura e Identidade cultural

Será pertinente iniciar este estudo tentando contribuir para a clarificação dos termos que se manifestam de extrema relevância para a apresentação de resultados da pesquisa efetuada, através da leitura e interpretação de estudo elaborados por sociólogos e antropólogos e outros estudiosos. Definir o conceito de “cultura” é algo que se pode tornar numa tarefa sem fim, já que o termo cultura é extremamente abrangente. O conceito de cultura foi adotado principalmente a partir do campo da antropologia, onde tem sido definido de maneiras e perspetivas e diferentes (Kroeber e Kluckhohn apud Sackmann 1992: s/d). Segundo o sociólogo Benedito Pires, cultura pode ser definida como:

Um conjunto coerente e interdependente de normas, crenças e valores que configuram o modo de vida característica de uma sociedade. Pode ser herdada dos nossos ascendentes, sendo alterada de acordo com o contributo dos novos agentes da sociedade. Cada sociedade é caracterizada por uma certa cultura que lhe confere uma marca específica. Na base da identidade cultural existem valores que vão dar coesão aos membros já que são partilhados e aprendidos por todos. Esses valores transformam-se em normas que devem ser cumpridas, caso não o façam constituem um comportamento desviante sujeito às sanções impostas (Pires s/d: s/p).

Outra definição, não menos interessante, é a de Anthony Giddens, que define o termo cultura como sendo uma das noções mais amplamente usadas nos estudos sociológicos:

O conceito de cultura, tal como o de sociedade, é uma das noções mais amplamente usadas em Sociologia. A cultura consiste nos valores de um dado grupo de pessoas, nas normas que seguem e nos bens materiais que criam. Os valores são ideias abstratas, enquanto as normas são princípios definidos ou regras que se espera que o povo cumpra. As normas representam o “permitido” e o “interdito” da vida social…A cultura refere-se aos modos de vida dos membros de uma sociedade, ou de grupos dessa sociedade. Inclui a forma como se vestem, os costumes de casamento e de vida familiar, as formas de trabalho, as cerimónias religiosas e as ocupações dos tempos livres. Abrange também os bens que criam e que se tornam portadores de sentido para eles (Giddens 2004: 45).

Giddens alega que no nosso dia a dia, existe ainda uma conotação muito limitada deste conceito, pois, por vezes, relaciona-se unicamente com o mundo intelectual, ligada a coisas da arte, da literatura: “Pensamos muitas vezes na cultura como equivalente às coisas mais elevadas do espírito – arte, literatura, música e pintura. Os sociólogos incluem no conceito estas atividades, mas também muito mais” (Giddens 2004: 45).

(13)

14 A cultura tem vertentes imateriais e materiais. A primeira parte estará ligada às crenças, às ideias, aos conhecimentos adquiridos, crenças populares, valores partilhados pela sociedade, valores dominantes (religiosos, económicos e sociopolíticos), aprendizagens, por vezes herdadas, e modelos de comportamento, ou seja, as regras comportamentais. A cultura material é o mundo físico, como, por exemplo, obras realizadas (infraestruturas, acessibilidade, etc…), e as técnicas, ou seja, as formas de produzir os materiais, as técnicas utilizadas para fabricar utensílios, instrumentos, etc.

O estudo da cultura jovem começou nos Estados Unidos da América na primeira metade do século XX, momento em que a criminalidade e delinquência se começaram a manifestar nos jovens, como consequência do descontentamento dos jovem relativamente à sociedade dominante. Estes estudos iniciais na área da sociologia, não tiveram uma preocupação direta com os jovens, mas sim, com o que mais tarde se chamou de subculturas desviantes (Bucholtz 2002:536). O termo subcultura surge para definir um grupo de pessoas com um conjunto distinto de comportamentos e crenças que se diferencia da cultura dominante na sociedade em que se insere, um micro grupo que pode coexistir com a cultura em que esta inserida, possuindo modos de agir muito particulares, e procedimentos muito específicos. Os micro grupos estão normalmente ligados a jovens que têm preferências similares, pois, por vezes, as subculturas são simplesmente grupos de adolescentes com gostos comuns1.

Cohen define subcultura como “um grupo mais pequeno que uma sociedade, e se relaciona com a cultura mais ampla no sentido que aceita várias normas desta, mas a subcultura também se diferencia por ter normas que lhe são próprias” (Cohen apud Madrid 2008: 15-16). Deduz-se desta afirmação que as subculturas aceitam as normas impostas pela sociedade dominante, embora elas possuam os seus próprios princípios e regulamentos.

De acordo com Dick Hebdige, os elementos de uma subcultura assinalam com frequência a subcultura a que pertencem, através do uso de um estilo, crenças e símbolos pertencentes à subcultura a que estão ligados, ou seja, o estudo de uma subcultura consiste no estudo do simbolismo associado à indumentária, à música, à estética corporal e a outros costumes de seus membros, e nas formas como estes mesmos símbolos são interpretados por membros da cultura dominante (Hebdige apud Costa et al 1996: 61). Bernhard Schäffers afirma que a subcultura poderá ser vista como

1

http://pt.shvoong.com/social-sciences/sociology/1759259-sociologia-em-ac%C3%A7%C3%A3o-12-cap/, consultado dia 16 de fevereiro de 2011

(14)

15 uma “cultura juvenil”, como parte da cultura de uma sociedade que ao longo do tempo se foi ampliando na medida em que a juventude passou a ser vista como uma categoria social (Schäffers apud Weller 2005:119).

Embora o conceito de subcultura não exista de forma clara, especifica e concreta, como afirma Denys Cuche, é possível entendê-la como pertencente a uma cultura alternativa, mas também como um engrandecimento do próprio conceito de cultura, que não estaria, assim, ligado somente a um conjunto de valores, normas e tradições predominantes numa determinada sociedade, mas que abarcaria todos os aspetos da vida diária de um determinado grupo (Cuche apud Weller 2005:s/p).

O conceito de subcultura não é propriamente um conceito consensual. É comum os livros de sociologia apresentarem uma definição do conceito de subcultura ligado à multiplicidade de subculturas em que um membro do grupo individual pode pertencer a qualquer momento ou em diferentes vezes a sua vida” (Eshleman,Cashion e Basirico

apud Drowd & Drowd 2003:21). Para críticos como Wilfried Ferchhoff e Georg

Neubauer, o termo subcultura é apontado como uma designação errada, pois o termo subcultura sugere a presença de uma cultura superior, e tendo em conta a atualidade em que vivemos, esta noção deixará de fazer sentido diante da multiplicidade de modos ou estilos, que não são mais próprios de uma dada cultura, uma vez que se exteriorizam em distintas sítios e em continentes divergentes. Segundo este autores, o termo deveria ser modificado para “cultura juvenil” ou “culturas juvenis”, porque esta nova denominação amplifica a capacidade de compreensão das diversas manifestações juvenis, os estilos ou modos de vida que vêm sendo criados e reproduzidos em divergentes lugares e contextos sociais (Ferchhoff & Neubauer apud Weller 2005:s/p).

Fundamental para uma compreensão das subculturas é a questão de identidade cultural. Para Mónica Serra, a identidade cultural está intimamente ligada à convivência, já que “a identidade cultural, move os sentimentos, os valores, o fólclore e uma infinidade de itens impregnados nas mais variadas sociedades do mundo e apresenta o reflexo da convivência.” (Serra apud Loureiro 2009:13). Rainer Sousa engloba na sua definição o património e os valores da comunidade como parte da identidade cultural, afirmando que “a identidade cultural é um conjunto vivo de relações sociais e patrimoniais símbolos historicamente compartilhados que estabelece a comunhão de determinados valores entre membros de uma sociedade (Sousa s/d: s/p).” Alega ainda que a identidade cultural não pode ser vista como sendo um conjunto de valores fixos e imutáveis que definem o indivíduo e a coletividade da qual ele faz parte. Stuart Hall

(15)

16 entende que a identidade cultural está a perder a sua essência, ou seja, o seu valor ou características iniciais, mencionando que uma identidade cultural enfatiza aspetos relacionados com a nossa presença a culturas étnicas, raciais, linguísticos, religiosas e/ou nacionais. Este autor refere ainda que há uma perda de identidade, uma “crise de identidade”, devido aos processos de mudanças ocorridas na sociedade moderna que implica um deslocamento das estruturas e processos dessas sociedades, que irão abalar os antigos quadros referenciais da estabilidade no mundo social, pois a modernidade proporciona a “fragmentação da identidade.” (Hall s/d: s/p)

(16)

17

Capítulo 2

Uma subcultura é um segmento da sociedade que difere do padrão da sociedade maior. De certa forma, uma subcultura pode ser vista como uma cultura que existe dentro de uma cultura maior dominante. (Schaefer 2006:69)

(17)

18

2.1 Subculturas Urbanas - Tribos urbanas

Teorias, Origens e Definições.

Embora o objetivo deste trabalho sejam as Subculturas Urbanas, a designação de “tribos urbanas” poderá surgir, a comutar com o termo subculturas, visto que o significado é análogo. A designação “tribos urbanas” foi apresentada inicialmente por Michel Maffesoli, que no seu livro O Tempo das Tribos: O declínio do individualismo

nas sociedades de massa (1988), substituiu a designação “subculturas urbanas” por

“tribos urbanas”, embora não distinga entre os significado e ambas as designações apresentam a mesma interpretação. É necessário lembrar que esta denominação “tribo urbana” é meramente figurativa, visto que a designação “tribo” semanticamente quererá dizer:

Tribo: Cada uma das divisões dos povos da Antiguidade; Conjunto de famílias que provêm de um ascendente cujo tronco constitui vários ramos; Conjunto de famílias que constituem uma das divisões dos povos nómadas e de alguns povos bárbaros; Divisão de famílias.2

Assim, e segundo esta definição, é necessária uma ligação familiar, um laço de sangue, para que se possa designar o grupo por tribo. O termo “Tribos Urbanas” surge como uma metáfora, “tribo” evoca metaforicamente um lado primitivo, selvagem, natural, comunitário, e inclui particularidades que se julga estarem relacionadas, corretamente ou não, com o modo de vida de povos que exibem, num certo nível, uma organização tribal.

O termo “tribo urbana” de Mafessoli surge para dar conta das formas supostamente novas de associação entre os indivíduos na sociedade pós-moderna, já que este autor fala em “neotribalismo”, noção que remete para a massificação das relações sociais baseadas no individualismo e marcada pela aparência física, pelos usos do corpo e do vestuário, e acabaria, devido à sua sociabilidade, por contestar o próprio individualismo vigente no mundo contemporâneo (Pais & Blass 2004: 234).

Tendo em conta um estudo realizado na área da antropologia da Universidade de São Paulo é de salientar o facto de que o termo tribo poder evocar o primitivo quando designa pequenos grupos concretos realçando elementos que os seus membros

2

(18)

19 integrantes usam para estabelecer disparidades com a conduta normal: os cortes de cabelo, tatuagens, roupa etc. O termo tribo poderá ainda evocar o selvagem, designando o termo principalmente um comportamento agressivo, contestatário e “antissocial” desses grupos, bem como as práticas de vandalismo e violência (Magnani 1993: s/p).

A primeira noção de subculturas juvenis, segundo Christiane Pinheiro, surge com a ideia de que, na sociedade moderna, os grupos de jovens assumem um sistema de valores e padrões de comportamento próprios, como uma forma de resposta à cultura dominante. Estes grupos de jovens procuram diferenciar-se da sociedade dominante, tendo como suporte a referência de um grupo (Pinheiro 2010:16).

O conceituado sociólogo Michel Maffesoli e o antropólogo José Magnani realizaram estudos acerca deste fenómeno cada vez mais crescente na nossa sociedade. As diferentes subculturas que se vão implantando nas cidades contemporâneas como os Góticos, Punks, Rastafaris, e muitas outras, estão geralmente ligadas a referências culturais cada vez mais globalizadas. Estas subculturas não são um fenómeno completamente novo, já que desde o fim do século XIX que há um multiplicar destes fenómenos na Europa e no resto do mundo.

A convergência dos jovens com o mercado e consumo após o fim da segunda guerra mundial, evidenciou uma multidão de pessoas frustradas com o modo de vida que haviam tido até ao momento. A música, a moda e o comportamento foram alterados e influenciados pelo consumo cultural, facilitado pelo surgimento de uma cultura de massas. A cultura de massas implica um comportamento pré-definido pela sociedade, como sugere Israel Alexandria:

Um movimento no qual grande quantidade de indivíduos distintos vai perdendo a espontaneidade, a capacidade de ação, de usar as palavras para comunicar entre si, e passa a comportar-se sem discutir, passivamente, de tal forma que o conjunto resulta numa massa homogeneizada. O indivíduo que integra uma massa não age mais, apenas reage de forma padronizada a estímulos externos (Alexandria 2002:s/p).

Esta multidão frustrada adere a uma cultura de massas onde os indivíduos não seguiam as vontades próprias, mas seguiam ideais criados por outros; exemplo disso, são as vedetas musicais dos anos 60, Beatles e Rolling Stones que associados a uma rebeldia e revolta, criaram um novo padrão, ou seja, novos estilos, que deram origem a novas bandas, novas estilos de vestir, acessórios e uma sucessão de produtos,

(19)

20 designados de “nova onda”, surgindo uma avalanche de subculturas, tal como aconteceu no período pós guerra.

Maffesoli afirmou que a população vive num período empático, em que prevalece a indiferença perante uma vontade individual. O que realmente importava para as subculturas/ tribos urbanas é o facto de estarem em comunidade emocional, a vontade de conviverem, em que todos possuem o mesmo sentido, os mesmos gostos. Alegou ainda que a ligação a uma subcultura/tribo é algo fugaz, ou seja, pouco duradouro devido à não existência de um alicerce sólido para haver uma continuidade. A ligação às tribos urbanas consiste unicamente de uma rede de amizade momentânea, em que a ligação surge para reafirmar um sentimento (Maffesoli 1987: 16,17). Assim sendo, Maffesoli conclui que as subculturas são constituídas por micro grupos que têm como objetivo principal o estabelecimento de redes de amigos com base em interesses comuns.

Maffesoli busca incutir no conceito de tribalismo o “estar junto” como particularidade essencial da constituição da socialidade, em que a “partilha do sentimento é o verdadeiro cimento social” (Maffesoli apud Torres 2008: 69). Baseando-se nos estudos elaborados por Maffesoli, Feitosa declara:

É para dar conta desse conjunto complexo que proponho o uso, como metáfora, dos termos de “tribo” ou de “tribalismo”. Sem adorná-los, cada vez, de aspas, pretendo insistir no aspeto “coesivo” da partilha sentimental de valores, de lugares ou de ideais que estão, ao mesmo tempo, absolutamente circunscritos (localismo) e que são encontrados, sob diversas modulações, em numerosas experiências sociais (Feitosa apud Kirsch 2009: s/p).

Para Maffesoli, aos traços básicos do processo de neotribalização contemporâneo estão associados tópicos como as comunidades emocionais em que o determinante deste elemento se vincula ao caráter predominantemente afetivo/emotivo que se esconde no interior destes grupos, que predomina a tempestade das grandes metrópoles contemporâneas; energia subterrânea com a inércia, a verticalidade e a uniformidade que caracteriza a sociedade atual e que se vê danificada por uma multiplicidade de léxicos - práticas sociais polissémicas e alternativas que se expressam através de grupos que fogem ao individualismo; e o espaço físico, a cidade que se transforma num fator determinante na conformação de quadro biográfico intersubjetivo. O espaço como artifício cultural que permite “formatar” a dimensão existencial do ser, já que quanto maior a globalização e o cosmopolitismo metropolitano, maior será o desejo de identificação espacial (Maffesoli apud Costa et al 1996:54-58). Tendo em

(20)

21 conta os traços básicos anteriormente referidos, Sofia Zimmermann refletiu sobre os fatores que intervêm para a formação de subculturas juvenis, delineando assim os fatores apresentados no quadro que se segue:

Fator Explicação

Emancipação da família

O jovem desenraíza-se da família, ou seja, dos laços sanguíneos, e volta-se para um grupo de amigos/ companheiros, por vezes com problemas similares aos seus

A insegurança de estatuto

Em que o jovem se sente inseguro perante o papel que desempenha, sentindo-se deslocado, privado de reconhecimento social, e ao mesmo tempo é submetido a uma série de regras contraditórias

Noção de masculinidade

É causada pelo desconhecimento do ambiente social e dos problemas dos jovens, neste caso os jovens recorrem a atos de virilidade para atrair a atenção e se encontrarem

Conflito de gerações

O jovem sente-se desenraizado no ambiente de carência em que habita e, em seguida, refugia-se no grupo de colegas na mesma situação, chegando a criar uma subcultura

Quadro 1 – Fatores que intervêm na formação de Subculturas. (Zimmermann 1995: s/p)

Podemos dizer que as tribos representam um relevante contexto sócio-afetivo alternativo. Quando o adolescente procura uma maior independência em relação aos pais na adolescência, os grupos de pares surgem como fonte importante de reconhecimento e referência comportamental dos jovens. (este tema será analisado de uma forma mais profunda no subcapítulo 2.7)

Assim sendo, as subculturas urbanas configuram-se como importantes contextos de desenvolvimento social na adolescência. A sua estruturação ajuda a compreender como se articula a experiência social de formação de tribos juvenis e os processos de

(21)

22 construção de identidade e as relações de alteridade nessa fase do desenvolvimento humano (Oliveira 1996:s/p).

2.2 Primeiras reflexões nas diferentes áreas/ disciplinas sobre as

subculturas e seus comportamentos

Muitas são as formas de interpretação das subculturas; desde a medicina à comunicologia, passando pela sociologia, etologia as interpretações e explicações vão variando consoante as áreas. No quadro que se segue encontram-se agrupadas as várias análises em diferentes áreas, a cada um dos setores corresponderá um comentário sintetizado sobre as distintas posições e opiniões. Este estudo foi elaborado por Pere- Oriol Costa, na tentativa de demonstração de como as explicações do surgimento do fenómeno das subculturas podem ser divergentes.

Área / Disciplina Conceitos

Medicina Distúrbios neurológicos.

Neuropsiquiatria Sindroma paranoico e esquizoides.

Patologias mentais e relacionais.

Criminologia Condutas desviantes. Medidas preventivas e

repressivas.

Discurso policial e tipologias penais.

Psicologia social Desvio. Autodestruição. Marginalização.

Sociologia Grupos gregários e líderes carismáticos.

Anomalia. Construção social da realidade. Violência instrumental e expressiva.

Antropologia Conflito inter-racial. Violência simbólica.

Intensidade racional. Territorialidade e vínculo. Sistemas culturais: produção e transmissão.

Etologia Território, marcas e sinais. Conflitos

hierárquicos, grupos, quadrilhas e outras formas organizativas.

(22)

23

Quadro 2 – Reflexões nas diversas áreas (Costa et al 1996:16-17)

2.3 Analisando as subculturas na sociedade contemporânea

Tendo em conta que o tema é “Subculturas Urbanas e as Sociedades Contemporâneas: Impacto Sociocultural”, é apropriado começar por tentativas de definição do conceito “cultura”, visto que “subcultura” está relacionada com cultura. Analisando a definição de cultura de Benedito Pires e A. Giddens poderá dizer-se que se entende por cultura todos os valores e normas que um grupo de pessoas segue, os bens materiais que criam, ou seja, que grande parte daquilo que nos rodeia faz parte da nossa cultura.

Após a segunda guerra mundial surgiram diversas manifestações culturais ligadas às novas condições juvenis. Estas novas formas de expressão, práticas, atitudes e comportamentos diferenciados de grupos de jovens reunidos em volta de um estilo e interesses comuns foram caracterizados ao longo dos anos por “subculturas”, havendo, para este termo, diferentes definições, salientando-se as definições de Cohen que alega a aceitação por parte das subculturas das normas da cultura vigente, mas que ao mesmo tempo possuem também elas as suas próprias normas. Dick Hebdige refere que as subculturas devem ser vistas como um todo, alegando, ainda, que só é possível definir e classificar uma subcultura através de uma análise aprofundada da indumentária, das ideologias e do grau de aceitação da cultura dominante; Bernhard Schäffers menciona que as subculturas são culturas juvenis que se foram alargando ao longo do tempo e já

Semiótica Construção discursiva da identidade.

Circulação do sentido. Manipulações e interpretações de textos. Atuações e representações.

Comunicologia Estratégias e táticas comunicativas, difusão

e propagação de modelos, mensagens e receções, relações e influências entre indivíduos e grupos.

Discurso mediático Mistura de todos os outros discursos e

(23)

24 Denys Cuche refere-se às subculturas como culturas alternativas; por último, Wilfried Ferchhoff e Georg Neubauer contestam a denominação de subcultura, pois esta denominação sugere a existência de uma cultura superior, e por isso sugerem uma nova designação, a de “culturas juvenis”.

Um grande estudioso deste tema foi Michel Maffesoli, que na obra O Tempo das

Tribos: O declínio do individualismo nas sociedades de massa”, substituiu a designação

“subcultura urbanas” por “tribos urbanas", alegando haver uma transformação das sociedades modernas e uma mutação dos valores, estando a sociedade numa época de tribos urbanas, de grupos e redes de jovens de uniões efémeras.

As subculturas com que nos vamos deparando diariamente são cada vez em maior número, tendo em conta que várias subculturas poderão estar presentes num pequeno espaço. Poderá dizer-se que assistimos no nosso universo urbano a uma disseminação incessante de subculturas (tribos urbanas), tais como Mod, Gótico, Punk ,

Rastafari, Hippie, Headbanger, Skinhead, Okupas, Hip hop, Grafite, etc…, que se

distinguem umas das outras principalmente por características distintas na imagem/ estética dos seus membros, desde as roupas, penteados, acessórios, mais ou menos vistosos, consoante as ideologias de cada subcultura.

Podemos verificar no livro Tribus Urbanas. Guia Para Moverse Con Soltura

Entre Frikis, Solidarios, Cool, Hiphoperos, Tuneros, de Lola Delgado e Daniel Lozano

que estes abordam a estética das subculturas em termos de gostos musicais, das características mais peculiares e da forma mais correta de conviver no dia a dia com cada uma delas. O livro Tribus Urbanas- Cazadores de Identidade de Constanza Caffarelli trata o fenómeno das tribos urbanas de uma forma clara numa tentativa de dar respostas a questões que, por vezes, surgem relativamente aos jovens membros das subculturas. Já Tribus Urbanas de Pere-Oriol Costa, José Tornero e Fábio Tropea consiste num desfilar de subculturas analisadas criteriosamente, onde a necessidade por parte dos jovens de se agruparem em subculturas surge justificada por uma ânsia de novas forma de expressão e de se distanciar de uma normalidade não desejada. Tribus

Urbans- produção artísticas e identidades de José Machado Pais e Leila Blass expõe

uma reflexão de sociólogos portugueses e brasileiros sobre as subculturas urbanas, com várias subculturas a serem analisadas de perto, focando a estética corporal e os movimentos musicais. David Madrid surge com o livro Tribus Urbanas – Ritos,

símbolos y costumbes fruto de uma investigação exaustiva, onde várias subculturas

(24)

25 símbolos a ideologias e gostos de forma a compreender o mundo complexo das subculturas urbanas. De todos os livros analisados existe o consenso que, para haver uma compreensão das subculturas é imprescindível apreender primeiramente as suas ideologias, pois elas diferem tanto no aspeto exterior, tendo em conta as suas indumentárias, como no aspeto interior, com os ideais, as convicções e os gostos.

Como é relatado em vários livros anteriormente referidos, e em diversos sites ligados ao tema, as subculturas estão cá e não é possível fugir nem fingir que elas não existem. São analisados os Mods, Góticos, Punks, Hippies, Skinheads, Rastafaris, etc… indicando que as subculturas se distinguem entre elas, nas crenças, nas ideologias, na indumentaria e nos acessórios. Poderá também verificar-se que há subculturas mais irreverentes, tais como os Góticos e os Punks, que com a sua aparência física “dão mais nas vistas”; os Góticos com o seu traje escuro por vezes assustador, e os Punks com o seus penteados irreverentes, que tão bem os caracterizam e de que tanto se orgulham, (notável em sites por eles elaborados para se dar a conhecer e para desmistificar algumas opiniões).

Outras subculturas que também se distinguem, não pela sua irreverência, mas pela sua pacificidade e serenidade são os Hippies, como explica Raul Berzosa, quando no seu livro Que es esso de las tribus urbanas?, realça a frase que define esta subcultura “ Hagamos el Amor y no la guerra”3

, e os Rastaffaris que, como é referido em diversos sites, são apologistas do amor ao próximo e do desapego ao mundano.

Por último, destacam-se os Skinheads pela sua agressividade, cujo racismo é por vezes notável de uma forma brutal; estes são vulgarmente ligados ao fascismo e a grupos neonazis, embora seja de realçar que nos dias de hoje existem muitos grupos de Skinheads que não se identificam com tais atos, dependendo do tipo de grupo a que pertencem, como afirma David Madrid no seu livro Tribus Urbanas - Ritos, símbolos y

costumbres e Blackmore em Skinheads are human in New Society.

Tentar-se-á ainda compreender qual a aceitação ou rejeição de subculturas urbanas na sociedade, visto que a aceitação de subculturas varia de país, para país consoante a cultura dominante e outros fatores culturais.

3

(25)

26

2.4 Principais características das Subculturas Urbanas

As uniões de jovens expõem uma harmonia de pensamentos, hábitos e maneiras de se vestir. Os fatores que incentivam a formação das subculturas urbanas são diversos, desde a existência de grupos de conexões e de interesses e laços de vizinhança. Uma subcultura pode também ser definida por uma sociabilidade fraca, pela sua lógica e pelo não compromisso com a continuidade na linha do tempo, expressa na valorização do aqui e agora. A sua identidade é definida por marcadores imaginários: a roupa, o cabelo e os acessórios que compõem a estética do grupo (Coutinho apud Ribeiro s/d: s/p).

O partilhar de códigos (vocábulos, música, comportamentos), de elementos estéticos (estilos de vestir e expressão corporal) e de práticas sociais (relativas ao comportamento político e às formas de lazer, de circulação e apropriação do espaço urbano e da cultura) contribui para definir a imagem social de cada tribo. Segundo Stuart Hall, a adaptação duma imagem é o que confere aos membros a ilusão de identidade, apoiada pela aposta subjetiva de cada um na representação de uma comunidade de semelhantes. (Hall apud Castela 2008:65)

Como é possível verificar, as subculturas urbanas são por vezes entendidas de formas diferentes e ao longo do tempo foram adquirindo um sentido negativo, uma conotação mais desagradável, como afirma Sofía Zimmermann: “Hoje em dias são associadas a grupos violentos, algumas das ideologias fascistas ou neo-nazista, na qualidade de selvajaria, sem restrições, sem levar em conta as regras e, onde o que prevalece é a lei do mais forte”(Zimmermann 1995: s/p).

As subculturas urbanas são, por vezes, entendidas como um fenómeno que poderá prejudicar a sociedade, na medida em que poderão desencadear distúrbios. Este pensamento poderá ser considerado válido tendo em conta a subcultura Skinhead. Mas é necessário ter em conta que este pensamento não tem veracidade, se observarmos a subcultura Hippie, visto que esta subcultura reivindica a paz e o amor.

É possível dizer-se que as subculturas tem como principal função mostrar um determinado desagrado perante a cultura dominante, não sendo contracultura, mas um “nós existimos” no meio de uma sociedade muitas vezes individualista, como sugere Dick Hebdige,

(26)

27

Subculturas são, formas expressivas, mas o que elas expressam é, em última instância, uma tensão fundamental entre aqueles que estão no poder e aqueles condenados a posições subordinadas e vidas de segunda classe. Essa tensão é exposta figurativamente na forma de estilo subcultural. Subcultura vista como uma forma de resistência. (Hebdige apud Feitosa s/d:s/p)

Segundo Pere-Oriol Costa as principais características das subculturas urbanas a salientar são:

a) As tribos/subculturas constituem-se com um conjunto de regras específicas e diferenciadas, onde os jovens decidem confiar a sua imagem parcial ou global e níveis de implicação pessoal.

b) Funcionam como uma pequena mitologia onde os seus membros podem construir com relativa claridade uma imagem, um esquema de atitudes e comportamentos, que lhe conferem uma saída do anonimato, um sentido de identidade refinado e reforçado.

c) Existem nas subculturas/ tribos jogos de representação que por norma não se realizam na sociedade dominante, ou dita “normal”, pertencer a uma subcultura é uma opção minoritária na realidade urbana, mas consegue chamar a atenção, por ser excessiva, visto que se excedem, superar as limitações e decidir as regras da sociedade dominante e uniformizadora.

d) Consoante a subcultura se reafirma a contraditória operação da sua identidade, quer escapar da uniformidade, não hesita em vestir um uniforme. Trata-se de impertinentes símbolos de pertença, um jogo entre mascaras e essências.

e) Todas as subculturas urbanas são um fator potencial de desordem e agitação social, sendo que, o seu próprio ato de formação representa simbolicamente “ um surgimento de guerra” contra a sociedade dominante, da qual se recusa fazer parte. f) Um look mais extremo e menos convencional revela uma atitude e uma necessidade

auto expressiva mais intensa do habitual, e em consequência também mais ativa, podendo por vezes, manifestar-se de uma forma mais agressiva e violenta.

g) A relação de pertença do indivíduo do grupo é intensa, globalizadora e acarreta um sentido existencial. Todas as suas manobras e atuações parecem estar dirigidas e justificadas em função dessa pertença. Assistimos assim a um evidente processo de desresponsabilização pessoal dos seus atos.

h) Os Punks (num passado recente) e os Skinheads (no presente) são as subculturas que mais correspondem aos aspetos anteriormente referidos, e representam também pólos opostos e complementares, solidificados.

i) Quando se tenta clarificar os meios e as modalidades expressam-se essas atitudes vitalistas e agressivas, resulta evidente que música e espetáculos desportivos constituem os meios e as fontes de inspiração mais frequentes. Seguramente pelo seu potencial de agregação massiva e da intensidade emocional.

j) Sistematicamente, as atitudes mais violências acompanham-se de uma “imagem de marca”, fácil de reconhecer, um uniforme cerimonial, uma espécie de instrumento simbólico para quem quer distinguir-se pelos seus atos e pelo seu vestuário (Costa et al 1996: 91-92).

Como já foi referido, as subculturas podem ser caracterizadas como um fenómeno juvenil dos grandes centros urbanos, mas que dia após dia, se vai alargando por toda a parte, à medida que se vão agrupando em torno de diferentes tendências tal como música, modas e hábitos.

(27)

28

2.5 Valores específicos das Subculturas

Segundo Pere-Oriol Costa, à margem da sociedade convencional, estes jovens surgem das fontes subterrâneas e primitivas da sociedade (dai a designação de neotribalismo de Maffesoli), que os relacionam com a sensibilidade mais apaixonada, vital e mais tensa. Apontam-se os seguintes valores específicos destas subculturas:

 Afirmação do eu, em e com o grupo:

 Defesa de valores e territórios próprios e exclusivos,

 Estabelecimento de passeios ativos na cidade, segundo uma lógica sentir e tocar (Costa et al 1996: 34).

Estes valores salientam a necessidade dos jovens integrantes das subculturas reivindicarem a sua auto afirmação, tendo direito ao seu próprio espaço, destacando-se como um ser único e diferente numa sociedade que não comunga com os seus ideais.

2.6 Subculturas Urbanas: Dimensão Espacial e Temporal

Segundo Pere-Oriol Costa, uma Subcultura é, acima de tudo, uma coletividade que ocupa uma subdivisão de uma unidade maior, que, assim sendo, se vê sujeita a uma posição relativamente a um espaço vital, sendo necessário um espaço na dimensão espacial e na dimensão temporal, que se completam entre si.

As subculturas centram a sua afirmação numa conquista de certos territórios: locais, praças, ruas, bairros. Mas a posse e uso do território tem de ser persistente, cujo significado se situa tanto a nível físico como num sentido simbólico, como por exemplo, quando um jovem se refere à “sua” discoteca ou “seu” bar, havendo um sentimento de pertença. Mas a tradução física desse sentimento, envolve, por vezes, uma problemática num contexto metropolitano, visto que os espaços estão ocupados pela sociedade dominante, onde o jovem da subcultura não quer viver, daí a importância atribuída à territorialidade simbólica. Pere-Oriol Costa refere ainda que as subculturas urbanas tentam adaptar-se ao contexto urbano, tendo diferentes espaços simbólicos adequados às seguintes funções expressivas de pertença, representação e atuação, como se pode verificar no quadro que se segue:

(28)

29

Espaços simbólicos Funções

Pertença

Os lugares especiais em que pertenço e que por isso me pertencem. Pontos de referência territorial para todos os membros da subcultura, estes lugares especiais suscitam um sentimento especial, de possessão mas também como um porto seguro, em que a tribo/ subcultura exerce um controle mais direto e eficaz dos acontecimentos. Como, por exemplo, um bar

Punk, para os Punks, ou um estádio de futebol para os Hooligans.

Representação

Os lugares em que me apresento como membro de uma tribo/subcultura, similar a todos os seus membros, mas diferente de todos os outros. Um lugar onde se exibe o aspeto mais superficial, espetacular, de identidade, através de uma disfarce/ máscara. Sitio este, onde se mostra o uniforme completo na tentativa de ser cada vez melhor e mais representativo. Estes espaços surgem como local de ostentação, como, por exemplo, as salas de concerto.

Atuação

Os lugares onde se perseguem os objetivos lúdicos, e existenciais do grupo. São espaços que podem coincidir parcialmente com os espaços anteriores, é o território de atuação, podendo ser também o da representação da identidade. Como por exemplo um skinhead numa manifestação escoltado pela policia, onde se exibem a sua identidade e ideologias.

Quadro3 - Espaços Simbólicos (Costa et al 1996: 128 -129)

O momento de identificar um território de representação e de atuação dependerá dos rituais e das cerimónias que o grupo decide adotar. Alguns preferem escolher locais mais excêntricos, fora dos espaços que lhes pertencem, como, por exemplo, os Motards, nas concentrações. Outros, como os Punks, optam pela atuação numa parte mais antiga da cidade, onde chegam de vários bairros, para se manifestarem próximo do local onde

(29)

30 residem, com a finalidade se evidenciarem perante a vizinhança, para que estes constatem a presença da subcultura, independentemente de serem ou não aceites.

Segundo Pere-Oril Costa, os momentos principais da identidade de uma subcultura, a sua atuação e pertença, podem agrupar-se considerando o quotidiano, o fim de semana e o excecional.

O quotidiano: consiste num tempo morto, um tempo literalmente vazio, entre os eventos significativos, sendo a única forma de projetar o tempo a espera de um acontecimento significativo, ou seja, um fim de semana, ou uma ocasião especial. Quando um elemento pertencente a uma subcultura urbana não se encontra integrado na sociedade dominante, na sociedade produtiva, o tempo transforma-se em um tempo pouco lucrativo ou relevante. Alguns membros ocupam-se no quotidiano a elaborar revistas “caseiras”, sobre a sua própria subcultura urbana.

O fim de semana: Os fins de semana são momentos de atuação e de convívio entre membros do grupo, momento de renovar, de modo simbólico e imaginário, a identidade individual e a identidade do grupo. É um tempo vivido de uma forma intensa, um tempo que está intimamente ligado ao grupo, iniciando-se num bar, ou num bairro que serve de ponto de referência e de reunião para os membros do grupo. É este o tempo que dá sentido ao quotidiano, estes momentos vividos aos fins de semana, dão “força” para o grupo enfrentar melhor o quotidiano. Poderá dizer-se que o fim de semana é a vingança dos dias de rotina na vida que a sociedade predominante lhe oferece.

O excecional: Os eventos são verdadeiras cerimónias que se realizam de vez em quando, grandes festejos de momentos importantes, desde concertos de verão, jogos de futebol importantes, concentração de motards, variando consoante as ideologias de cada subcultura. O quotidiano é uma cota diária de normalidade, o que é extraordinário é o oposto, o que foge a rotina e ao comum às subculturas representam distintas formas de manifestação desses momentos especiais. Este tempo é uma rutura com o quotidiano, uma explosão de ansiedade pelo momento esperado (Costa et al, 2006: 134-135).

Daqui se depreende que estas três dimensões temporais contribuem para a fixação da identidade de uma subcultura.

2.7 Formas de reconhecimento de subculturas urbanas

A importância das formas de reconhecimento e de aparência é essencialmente mostrar quanto as subculturas se separam do normal, ou seja, do comum na sociedade dominante. Cada subcultura expressa, de modo mais ou menos convincente, um desprendimento pelo modo de vida tradicional, uma rebeldia estética.

O modo de vestir, os uniformes a aparência externa constituem indícios de afastamento e separação, evidenciando notoriamente a distância entre o grupo e a sociedade convencional. José Pais e Leila Blass salientam que o visual é também

(30)

31 trabalhado como fator de identificação, numa comunicação em que o corpo linguareja os seus próprios símbolos de pertença, quer na rotina do quotidiano, quer principalmente quando estão em público, sendo, por vezes, frequente um envolvimento em leituras corporais que se apoiam numa espécie de simbólico - adição onde o corpo é usado para expressar, identificar, simbolizar (Pais & Blass 2004:29).

Os desvios em relação a determinados sistemas de comportamentos e a afirmação de um modo de vida, de uma filosofia, de uma identidade grupal, revela-se também na aparência corporal. É preciso não esquecer, como afirma Mike Featherstone, que vivemos numa época em que o discurso tende cada vez mais a ser substituído pelo figurativo - as imagens. Segundo este autor, “no âmbito da cultura de consumo, o indivíduo moderno tem consciência de que se comunica não apenas por meio das suas roupas, mas também através das suas atitudes e pertences” (Featherstone apud Pais & Blass 2004:137).

O vestuário dos grupos que rejeitam e se opõem à chamada “boa aparência”, constitui um ponto de observação essencial para a compreensão de uma subcultura juvenil, incluindo algumas das suas atitudes. O vestuário protótipo, ou seja, o uniforme oficial do grupo, e só do grupo, identifica, assim, o jovem como membro coletivo, em dois sentidos, visto que o integra como membro do grupo, sendo idêntico aos demais membros, e ao mesmo tempo confere-lhe uma identidade pessoal.

O vestuário mostra-se de extrema importância para os membros das subculturas, criando algumas desavenças por vezes: por exemplo, uma das razões frequentes de agressões dos Skinheads, refere-se ao alegado mau uso da indumentária do grupo por parte da vítima, havendo uma espécie de vigilância do vestuário por parte dos restantes membros, que se consideram autênticos.

A indumentária utilizada pelo grupo é um indicador importante das características e das atuações do grupo, já que a utilização desta indumentária segue uma trajetória, segundo Pere-Oril Costa, nas primeiras fases da identidade do grupo, em que há uma tentativa de adaptação ao grupo, um cuidado especial com os detalhes que se identificam como sendo do grupo. Numa segunda fase, consoante a integração do indivíduo no grupo, o aspeto que exibe desenvolve-se de uma forma mais pessoal, em que são permitidas mais informalidades.

“A maneira em que um sujeito que pertence a uma subcultura/ tribo urbana exibe um vestuário pode proporcionar uma valiosa fonte de informação sobre: um grau de identificação com o grupo; o nível hierárquico alcançado dentro do grupo.” ( Costa et al

(31)

32 1995: 140). São geralmente os membros mais jovens do grupo que tendem a ter um cuidado mais zeloso com a sua imagem, imagem esta que adquiriram quando decidiram fazer parte das subculturas. Com esta atitude o jovem não só ganha a confiança do restante grupo, como também poderá manifestar-se perante a sociedade dominante, como sendo membro integrante e aceite pela subcultura.

Quando se fala de marcas corporais, refere-se a um conjunto de práticas ornamentais do corpo que têm a particularidade de serem literalmente incorporadas, para serem marcas com recurso a um complexo e diversificado conjunto de objetos materiais e técnicas de aplicação. As mais recorrentes, atualmente, nas subculturas urbanas, são as formas de perfuração epidérmica, como a tatuagem e o body piercing (Pais & Blass 2004:85-74).

As tatuagens consistem na inscrição de desenhos ou símbolos na profundidade da derme através da injeção mecânica de tinta. Os desenhos das tatuagens causam uma certa perplexidade, os desenhos despertaram admiração e consternação. Muitos perguntam-se o que poderá levar alguém a submeter-se à dor e a derramar um pouco do próprio sangue para gravar desenhos na pele. Mas quem as possui atribui-lhes um importante significado alegando que a tatuagem é uma forma de comunicação não verbal que oferece informação instantânea. Quando é feita voluntariamente, é uma evidência física da lealdade do indivíduo a um grupo. Por vezes a tatuagem é usada como sinal de identificação de subculturas, comum nos Skinheads, Góticos, Punks,

Motards, entre outros. Entre as pessoas que se tatuam, existem ainda as místicas que

acreditam que certos desenhos lhe conferem proteção mágica. Uns usam a tatuagem como forma de protesto ou de patriotismo, como é o caso dos Skinheads, outros exibem-nas para simbolizar a amizade ou o amor.4

O body piercing consiste na aplicação de uma peça de joalharia em determinada parte do corpo, sendo em geral peças simples, como barras ou argolas. Não existe um perfil definido ou uma razão muito justificada para o uso de piercings. Mas este tipo de adorno do corpo conquista a simpatia de um número crescente de pessoas, convertendo-se, muitas vezes, numa marca registada de quem os usa. A atitude de espalhar brincos em partes não convencionais do corpo revela uma personalidade própria de rebeldia, determinação e, muitas vezes, essa personalidade revela uma tentativa de afirmação demagógica. A escolha do piercing traduz o diferenciamento da pessoa na sociedade. Os

4

http://cintia1971.wordpress.com/2008/09/09/o-que-existe-por-tras-de-uma-tatuagem/ consultado dia 12 de janeiro de 2011

(32)

33 piercings podem ser colocados em vários locais do corpo. Os mais usuais são na sobrancelha, orelhas, língua, umbigo, queixo e nariz. Mas também existem aqueles que os usam nos dentes, face, órgão genital e pés (Pereira s/d: s/p)

As maiores marcas visíveis nas nossas cidades são os famosos grafites, definidos por antropólogos como sendo, o “delírio sinalizador” utilizado por algumas subculturas, essencialmente os graffiters (ramificação dos hip hoppers). Usam os grafites, como marca da sua existência e é possível encontrar nesses grafites algumas pinturas, desenhos e assinaturas bastante peculiares. O principal objetivo de quem o realiza é sobretudo, mostrar que está presente na sociedade “Eu estou aqui, eu existo”, e através dos seus desenhos exprime os seus sentimentos.

Brewer chamou aos indivíduos que praticavam este ato “espadachins urbanos”, visto que o spray é a sua poderosa arma, o graffiter possui uma estética modernista, que exibe discretamente como sendo um escritor profissional da paisagem urbana (Brewer 1990: 345).

Este fenómeno urbano está muito difundido nos bairros populares das nossas cidades, com estes poetas urbanos dispostos a desafiar as instituições. Não sendo apenas o poder de se apropriar simbolicamente de um espaço, mas também como objetivo lúdico e existencial, sendo que o lúdico se transforma numa forma de desfrutar do convívio de grupo através deste ritual. O existencial aparece num nível mais básico, deixando a sua marca, ou passada constante, um despertar para a sua existência na cidade.

2.8 A busca de identidade

A energia da vida atual e a fortificação dos fluxos humanos parecem ter agregado maior interesse dos grupos de adolescentes e jovens. O grupo parece apresentar uma fonte de socialização menos opressiva que a própria família, desempenhando, assim, um valorizado papel como fonte de referência social. Entre grupos, com frequência, são impostas aos jovens exigências, mas encontram possibilidade de validar os próprios sentimentos e visões de mundo, seguidos pela intensa identificação, entendimento e acolhimento pelo grupo (Marques et al 2011: s/p).

(33)

34 ingenuamente em tudo o que os nossos pais nos dizem, ou seja, o mundo é o que os pais nos expõem, vemos o mundo através dos olhos de nossos pais. A adolescência é o instante em que o jovem fabrica a sua própria identidade, procurando os seus próprios valores perante a sociedade e para isso necessita de pôr em causa ou, muitas vezes, negar os valores, os conceitos e o modo de vida de seus pais lhe incutiram. Por vezes, corresponde a um negar de todos os valores que aprendeu até então, passando a contestar e discutir cada palavra e ordem de seus pais. Faz parte da fase da adolescência estar em grupo, pois é nessa fase da vida que os jovens moldam os seus valores e determinam o que querem e o que não querem. Assim, nesta fase o jovem sente vontade de experimentar tudo para poder estabelecer o que é o melhor para si mesmo; é uma fase de mutação, onde procura um lugar próprio, um lugar onde possa estar, onde se possa integrar, onde se possa sentir pleno. Como o adolescente ainda não tem a sua identidade completamente arquitetada, ele busca andar em grupos para se sentir totalizado e para apreciar diferentes valores, noções, ideias, procedimentos, etc., daí a inserção, por vezes, em subculturas com as quais se identifica. (Tessani 2005: s/p)

Bodstein refere que Freud aponta que, no caso dos grupos, “o indivíduo abandona seu ideal do ego e o substitui pelo ideal do grupo” (Bodstein 2006: s/p). O ideal do grupo é o líder, com quem os membros têm uma ligação libidinal inibida nos seus fins que produz reconhecimento. Desta forma, Freud produz a seguinte explicação de grupo: “Um grupo primário desse tipo é um certo número de indivíduos que colocaram um só e mesmo objeto no lugar de seu ideal do ego e, consequentemente, se identificaram uns com os outros em seu ego” (Freud apud Coutinho 2001: s/p). Assim para Freud, a ligação dos jovens às subculturas é causada pela situação de desamparo emocional em que se depara o sujeito da sociedade contemporânea. Esta posição, converte-se em intimação à existência e à virtude do ego, efeito espelho narcísico, muito mais do que procurar cúmplices para lutar por uma causa comum. A causa comum é defender a continuidade dos próprios egos e o recurso empregue é o investimento na sua imagem, partilhada nas subculturas através do uso de vestes e adornos comuns5.

5

http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0310346_08_cap_01.pdf , consultado em 7 de fevereiro de 1011.

(34)

35

2.9 Quadro do aparecimento das subculturas

Pere-Oriol Costa elaborou um quadro do aparecimento das subculturas com a finalidade de datar o aparecimento das diferentes subculturas tendo em conta os anos aproximados do seu surgimento.

Anos Subculturas

1920- 1930 Rastafaris

1940-1950 Western style, Zazous ,Bikers, Zooties

1950 - 1960 Rockabillies, Teddy Boys, Folkies, Surfistas

1960 - 1970 Hippie, Funk, Mod, Headbanger, Skinhead, Punk, Okupas

1970 - 1980 Hip hop, Gótico, Grunge, Graffiter, Glam

1980 - 1990 Clubber, Raves, Traceuses, Technos

1990 - 2000 Tectonic, Pitboy

Quadro 4 – Aparecimento das subculturas. (Costa et al 1996: 124)

São muitas as particularidades que as subculturas oferecem aos investigadores para estes poderem realizar uma classificação mais detalhada. O seu perfil psicológico, as suas ideologias, o vestuário, os gostos musicais, ideologias, entre outros, podem ajudar a construir e analisar as subculturas existentes. Uma das características mais notáveis nas subculturas é a variação constante. Se analisarmos a composição interna da cada subcultura, encontraremos em quase todas um dinamismo interno que lhes confere ramificações e variações.

Nos pontos que se seguem, será feita uma seleção de apenas dez das subculturas mais comuns e com particularidades mais exclusivas, tendo em conta vários fatores, desde origem/história, características, particularidades, símbolos, entre outros, fazendo referência a existência de cada subcultura em Portugal.

(35)

36 É necessário lembrar a sua constante mutação como anteriormente foi referido, mas em nenhum caso se pretende dar uma classificação definitiva de cada subcultura.

(36)

37

Referências

Documentos relacionados

O presente trabalho teve os seguintes objetivos: (1) determinar as alterações na composição químico-bromatológica e nas frações protéicas e de carboidratos, determinar as taxas

• Buscar uma solução para Campus Inteligente capaz de oferecer opções para minimizar os problemas apontados: financeiro, interoperabilidade

Ambas as versões do dinheiro analisados em relação à oposição tipológica entre teranga e business emergem protagonistas de alguns dos agenciamentos (CALLON, 2013) que

1 - Com o fim de examinar os progressos realizados na aplicação da presente Convenção, é constituído um Comité para a Eliminação da Discriminação contra as Mulheres (em seguida

AC AC TROMBONE II a VIII JLA JLA METAIS 4. AC AC

Os alunos que concluam com aproveitamento este curso, ficam habilitados com o 9.º ano de escolaridade e certificação profissional, podem prosseguir estudos em cursos vocacionais

Mesmo com a maioria dos centenários apresentando elevado percepção qualidade de vida, viu-se que o nível de atividade física e a média de número passo/dia, foram inferiores

Com efeito, Portugal é o país europeu com a mais longa história de intercâmbio com o Japão e, na expectativa de reforçar e desenvolver para o futuro os laços de amizade destes 470