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Relações com a Santa Sé

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Academic year: 2021

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(1)

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DICIONTARIO

DE

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VOLUME

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Centenário da Repúbìica .A$cmblcia da Rcpública

(2)

FICHA TÉCNICA

Título Dicionário de História da I República e do Republicanismo' Volume III - N-Z

ÍNprcr

cERAL

Coordenação científica

Ana Paula Pires (Instituto de História Contemporânca da Universidade Nova de Lisboa) Carlos Cordeiro (Centro de Estudos Gaspar Frutuoso da Universidade dos Açores) David Luna de Carvalho (Centro de Estudos rle História Contemporânea do ISCTE) Ernesto Castro Leal (Centro de História da Universidade de Lisboa)

HélderAdegarFonseca(NICPRI_NúclcodelnvestigaçãoemCiênciaPolíticaeRelaçõeslnternacionals) ManuelLoff(InstitutodeHiStóIiaContemporâneadaUniversidadeNovadeLisboaeFaculdadedeLetras da Universidade do Porto)

Maria Fernanda Rollo (Instituto de FIistória Contemporânea da Ilniversidade Nova de Lisboa) Paulo Fontes (Centro de Estudos de FIistória Religiosa da Universidade Católica Portuguesa) Rui Ramos (Instituto de Ciências Sociais)

Vítor Neto (Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra)

Introdução

.. Textos

(N-Z)

7 11

Índices

1155 1157 1163 1167 1189 7195 1205 Indice de textos. Índice de autores... Índice de entidades...

Índice de publicações periódicas... Indice geográfico ...

Indice onomástico ...

Coordenação gcral

Maria Fe rnanda Rollo (Instituto dc FIistória Contemporâne a da Universidade Nova de Lisboa) Edição Assembleia da República - Divisão de Edições

Revisão c índices Assembleia da República - Divisão de Edições (Conceição Garvão, Maria da Luz Dias' Noémia Bernardo, Paula Crespo, Susana Oliveira, Teresa Fonseca)

Capa e design Nuno Timóteo

Paginação e pré-impressão Textype e Ana Rita Charola Impressão Raínho &Neves, Lda

Tiragem 600 exemPlares

ISBN 978-972-556-556-8 (obra completa)

ISBN 97S-972-556-559-9 (volume III) Dcpósito lcgal 366 58ól13

Lisboa, outubro 2014

O Assembleia da RePública

Direitos ¡eservados nos termos do artigo 52." da I ei n." 28/2003, de 30 de julho'

(3)

ss6

|

RELAçÖESCOMASANTASÉ

Um

facto relevante que ilustra

o

seu distanciamento face à

política

pâtria é o

seguinte: embora Leão tenha saído de Portugal com fama de radical no seio do PRP,

no entanto, poucos anos depois, em 1977-7928, não se

demitiu

nem

foi

demitido pelo sidonismo. Aliás, os seus oficios diplomáticos mostram que acolheu, até com interesse

e mesmo ocasional simpatia, a ascensão

do

fascismo ao poder

em

ltália, em

1922, encontrando nele ecos

do

nacionalismo radical, revolucionário

e

até

de

antimonar-quismo (taticamente adiado) que aproximavam os fascistas de

Mussolini

dos

republi-canos portugueses. Refere-se Eusébio Leão a

Mussolini

em termos elogiosos do seu

talento e energia, e à corrente política liderada pelo Duce ora como um serviço

patrió-tico,

ora também como

um

potencial perigo.

No

entanto,

taI

avaliação ambígua de

uma ditadura

fascista

ainda

emergente

-

recorde-se

que inicialmente Mussolini

governou, ainda

que

cada vez mais ditatorialmente, com Parlamento e Constituição

existentes

-

não foi transferida para apolitica portuguesa. Este fundador da

I

República,

pois

foi

um

dos que a proclamou da varanda

da

Cãmara

Municipal

da Lisboa, não deu o beneficio da dúvida à Ditadura

Militar

saída do golpe do 28 de

Maio

de 7926, demitindo-se

do

seu posto em Roma, que ocupou durante quase toda a duração da

I

República.

Em

suma, as relações entre

Portugal e

a

ltâIia no

período

da

I

República, depois de

um

incidente

inicial

relevador da

hostil frieza

com que

o

novo regime

foi

acolhido pelas elites europeias, tenderam anormalizar-se.Tal facto terá sido facilitado pela durabilidade da República, pela representação

oficial do

governo português nos

funerais de Estado dados pela

Itâlia

à rainha

D. Maria

Pia

em

julho

de

1911, pela

longa presença de Eusébio Leão na chefia da legação portuguesâ

junto

do

governo

italiano

e a sua inteligente captação das elites jornalísticas mais progressistas e pelo

facto de a proximidade das duas famílias reais poder ser substituída ao nível do sim-bólico pelo argumento então

muito

propalado da proximidade civilizacionai e racial entre povos latinos.

[Bruno Cardoso Reis]

RELAçOES COM

A

SANTA

As

relações entre Portugal e a Santa Sé ocuparam

um

lugar fundamental na

política

externa da

I

República.

O

que

ê

pa:ø:doxal

visto

que

durante

metade da

existência

do primeiro

regime republicano português

-

entre

1910

e

1,91"8

-

não

existiu uma relação

diplomática normal

entre as duas potências.

Mas talvez

ainda mais paradoxal seja não só

o

estabelecimento

formal

dessas relações diplomáticas

logo em

1918,

por

Sidónio

Pais, mas sobretudo

a

sua manutenção pela chamada

Nova

República Velha, de novo dominada pelo PRP

de

7979 em diante, apesar do

peso

do

anticatolicismo

militante

no movimento

republicano, e de só

emt929,

depois

do final

da

I

República,

o

papado

ter

recuperado,

por via

dos acordos de

Latrã.o,

uma

soberania

territorial

estatal incontestável

ainda que

agora

limitada

à

Cidade-Estado do Vaticano.

RELAçOESCOMASANTASÉ

I

557

Porém, o certo é que

o

relacionamento entre o novo governo republicano e o

velho

papado

-

bom ou

mau,

formal ou

informalmente interrompido,

secreta ou abertamente restabelecido

-

foi

uma parte essencial da gestãò da relação acidentada entre as revolucionárias instituições republicanas e a multissecular Igreja Católica, ou seja,

do

que se costumou designar como a questão religiosa na

I

República.

E

não

deixou também de

ter

algum impacto na imagem externa do novo regime, de forma

talvez mais visível, inclusive na correspondência diplomática,

no

caso de países como

a

Itâlia

e a

Espanha, mas mesmo nos setores mais conservadores de outros países

europeus e latino-americanos. Por outras palavras, a decisão de romper com a Santa

Sé até 7918 e, depois dessa data, de

tentar

mânter relações cordiais

com o

papado

corresponderam a

um

desejo

de

revolução

ou

de

normalização

com

um

impacto importante na política interna republicana, mas também com alguma relevância nas suas relações externas.

As

relações entre Portugal e a Santa Sé estiveram interrompidas, embora não

formalmente cortadas, praticamente desde a proclamação da República.

Foi

em

julho

de 7973 que o

primeiro

governo, completamente dominado por Afonso Costa e seus

seguidores do PRP

-

Partido Democrático, decretou formalmente a extinção da mais

antiga das embaixadas portuguesas.l Recorde-se que nesta época

o

nível normal das

representações diplomáticas portuguesas era ainda o de simples legação.

O

embaixador

português

junto

da Santa Sé do tempo da Monarquia, conde de Lagoaça, no entanto,

não se

demitira

nem

foi

demitido

após

o

5

de

Outubro

de 1910. Simplesmente, na prâtica, terá deixado de exercer essas funções, mesmo antes

de

se

retirar

de Roma,

alegadamente

por

dívidas de

jogo.

Ao

ser-lhe pedida

a

documentação diplomática

relevante relativa a este período terá respondido que não havia nada relevante

a

náo ser o relativo

"o,

pugu-èntos

vindos do

Ministério

dos Negócios Estrangeiros!2

O

governo de

Afonso

Costa não terá considerado necessário comunicar este

corte de relações à Santa Sé, pelo que a diplomacia papal considerou

-

como se pode

verificar nos anuários pontifTcios

-

que continuava a

existir uma

embaixada

portu-guesa, simplesmente tinha deixado de ter titular. Esta era uma forma de gerir a questão do lado do governo português, que expressava

o

entendimento republicano de que o

papado

tinha

deixado de ser um Estado, pelo menos desde 1870, quando da ocupação

de Roma pelo novo reino de Itália, apesar de mesmo esta

última

continuâr a reconhe-cer

o

papa como

um

soberano dotado dos atributos tradicionais de legação ativa e passiva, isto é, de enviar e receber diplomatas.

No

entanto, de acordo com a conceção

positivista da

História

central

no

credo

da

nova

elite

republicana,

o

papado nunca deveria

ter

sido

um

Estado e

o

seu

fim

corresponderia a uma necessidade histórica, resultante de uma

lei

inexorável do progresso, que ditava que as religiões se extingui-riam e deveriam ser privadas de qualquer papel público no mais cLrfto

pnzo

de tempo

possível.

É

esta crença que explica a îat:ufeza da Separação decretada em abril de 791'1 1

Ditirio

do Gooerno, 159 de 7973,1ei 30 de 70-07-1913.

Foi

também decidida a Iaicizaçáo e entregâ à legação em Itália do Instituto de S.

A¡tónio

dos Porrugueses,cf. Diório

do Governo,777 de 1913, decreto de 3I-07-1913.

2 Emídio Garcia, (Jm Republicano nø Cidatle dos Pøpas: Crtinica de o*n Époto vioida em Roma

(4)

sss

I

RELAçOESCOMASANTASÉ

entre

o

Estado e a Igreja

catolica,

que passou pero

fim

da personalidade

jurídica

da

Igreja católica, pela

naciona)ização

de

todos

ó,

,.r.r,

bensl

pelo

encerramento dos seminários, pelo estabelecimento de comissões cultuais eleitas

-

portanto,

potencial-mente

controladas

pelos

republicanos

-

para.

reger os

restos

ào

catolicismo

em Portugal.

Uma forte

censura papal, se

eia provárvel face à violência anticlerical da

revolução republicana, que resultou na prisão e exílio de muitos padres, e até no

assas-sínio de alguns, tornou-se inevitável face a esta revolucionária iniromissão republicana

1r-o.9{olicismo porruguês. Ela assumiu a forma dabulaJamdudum in

Lusitaiiade

pio

x(1904-7974),

também

de

7977,em que

o

paparecordava o longo passado do

cato-licismo em Portugal e a sua valiosa coniribuiçaå em múltiplos doñrírrior, num choque

direto com as teses decadentistas dominantes entre a elite

ãnticleri.al

republicanr, qu" atribuíam a decadência portuguesa sobretudo ao papel da Igreja

católica,

até mais do

que ao da Monarquia.

A

partir

de então consolidou-se uma reação crescente da

militância

e do clero católicos ao que consideravam ser as violências e os abusos republicanos.

Tal foi

feito com

o

apoio e

o

encorajamento

do

papado, que manteve

umi

ligaçao com

o

catoli_

cismo português mais determinante ainda do que antes da separaçáo e de o laicismo

militante

do-novo regime republicano terem coitado a ligaçao catálica com o Estado.

A-Santa Sé fê-lo por meios vários, nomeadamente por

ui"'dã

secretário da Nunciatura, Mons. Masella, que permaneceu em Lisboa formalmente reconvertido em guarda do

arquivo da mesma, mas nem

por

isso menos atento à realidade

política ori

religiosa

nacional,

utilizando

para-a sua correspondência com Roma

-

qu. p..de., o

estituto

diplomático--

pessoas

de

confiança

que

a

entregavam regulàrmente

em mão

na

Nunciatura de

Madrid

de onde seguia para Roma.

Para as correntes marcadamente anticlericais do republicanismo, lideradas por

Afonso-Costa' que controlaráo o Partido Republicano Portugues durante toda a fase inicial do regime entre 1910-1917,não manter boas relações

.ã-

o p"pu era um artigo de fe.

A

relativamente generalizada entre os repubÍicano,

porLgrr..es do

fim"a

pnzo

das crenças religiosas não impediu, no entanto,

q.r.

"

qu.rtão

d'e ter ou não teE

especificamente, relações diplomáticas com o papado å,

g.rråi."*ente,

boas relaçoes

com o catolicismo, fosse um problema intensaménte debãtido em portugal

,ru*

q,r"-dro

político

dominado pelas crescentes cisões e tensões entre partidos e-façoes

repu-blicanas, divididos também quanto a este ponto.

Ainda em

1ô13, ho.rue

um

esboçar

de diálogo, aparentemente por iniciativa do representante português em Madrid,

Joao chagas, por direito,próprio um destacado político repubtcåno,

qi.

.orr,..to.,

o núncio papal

1a Espanha,

Mons.

Raggonesi.

Tal

nao levou a nada, e podera mesmo ter

pre-cipitado a

decisão de

Afonso costa e

dos

seus

fiéis em

.rr."rr",

formalmente

a

embaixada portuguesa

junto

do papa.

Mas

mesmo entre os partidários de

Afonso costa

que dominaram

o

partido

Republicano Português, o corte diplomático puro e simples com a santa

ní.o terát

sido unanimemente

aceite

como

a melhoi

sorução.

ño*e"drm"nte,

Bernardino Machado apadrinhou conversações secretas,

em

tire

e

rgrzrusando

para

o

efeito o representante português

em rtâlia,

Eusébio Leão, convenientemente residente em

Roma, e como intermediário com a santa

sé o

embaixador do

Mónaco

-

um

(5)

=t

só0

|

RELAçOESCOMASANTASÉ

as liberdades suprimidas e a reaçã.o clerical erguer a cabeça e

ditar

a

lei

neste país de

tantas tradições liberais,

jurei

a

mim

mesmo matar o Sidónior3. Nesse objetivo, falhou

o

atentado: pois embora a morte de Sidónio tenha posto

fim

ao regime republicano presidencialista que com ele se esboçara, o mesmo não sucedeu com as relações

diplo-máticas entre a

I

República e a Santa Sé. Elas

foram

nrantidas, apesar de todos os

anos serem religiosamente contestadas pelaala republicana mais radicalmente

anticle-rical, que na discussão anual do orçamento propôs sempre uma oportuna poupança:

o

fim

da representação diplomática portuguesa

junto

da Santa Sé.

Como resultado das comrrlsões políticas portuguesas e de escolhas infelizes de Sidónio para os titulares da renovada representação portuguesa

junto

do papa, esta só

voltou

efetivamente

a funcionar

em

791,9. Desde

então e

^té.7923,

a

relação da

República com

o

Vaticano é largamente conduzida pela mão competente do jurista

(civil

e canónico) que

dirige

a legaçã.o porruguesa, Joaquim Pedro

Martins;

e depois

e

até 1929, pelo igualmente competente Augusto de Castro, que aliás será mantido

em

funções pela

Ditadura

Militar

e

será mesmo

um

dos

vultos

republicanos que

aderirão ao Estado Novo.

É

a Joaquim Pedro

Martins

que o chefe da diplomacia papal, cardeal Gasparri,

comunicou categoricamente, numa audiência em 191,9, que a Santa Sé estava

conven-cida de que o tempo de uma Europa dominada

por

monarquias

tinha

passado e que

a restauração monárquica

em

Portugal seria uma ilusão.

O

papa Bento

XV

(1914--1922) ofereceu, consequentemente, à

Nova

República

velha

o

ralliement

-

ou

seja,

boas relações, apesar da Separação, mas em troca de mais liberdades para o catolicismo

-

como

parte

de

uma

nova estratégia

do

novo

pontífice

na relação

entre

a Igreja Católica e os Estados europeus, muitos deles novos ou revolucionados após o

final

áa

Grande Guerra.

A

liderança da

I

República, após 191.9,

como a

documentação diplomática

deixa claro, teve dois objetivos

prioritários

na relação com a Santa Sé.

o

primeiro foi

conseguir que o papa mantivesse esse anacrónico pedaço da glória colonial portuguesa

constituído pelos privilégios eclesiásticos do Padroado no Oriente, usado como

argu-mento

político principal no

Parlamento

por

sucessivos governos para defender a

necessidade

de manter

relações diplomáticas

com

a

Sanra Sé.

O

segundo grande

objetivo dos governos republicanos

foi

conseguir que a Santa Sé usasse a sua

autori-dade sobre os católicos portugueses para os levar a abandonar

o

monarquismo, que

assim ficaria privado da sua mais importante

e

enratzada rede de apoio, e

a

aceitar o

novo regime republicano.

A

manutenção do padroado,

no

entanto, enfrentou dificuldades crescentes ao

nível simbólico e material.

O

privilégio

de padroado fora dado aos Reis Fidelíssimos

da dinastia de Brangança

num

contexto de apoio

por

um

Estado português

confes-sionalmente

católico à

missionação. Parecia

um

contrassenso

que umã

República

portuguesa que tanto tinha insistido na Separação do catolicismo e que, nesse quadro,

tinha

expulsado todas as congregações missionárias, insistisse nele.

De

facto,

o

fim

dos privilégios dos padroados régios era precisamente uma das contrapartidas que a

3_ci1._in

João Medina, Morte e transfguração de sidónio pøis.Lisboa, Edições cosmos, 1994, p. 77-72.

RELAçÕESCOMASANTASÉ

|

s61

estratégia papal de ralliementitsava obter em troca da aceitação do

fim

da confessio-nalidade dos Estados.

A

resistência do governo português a esta lógica em nome da herança sagrada do império levou o papa Pio

XI

a forçar umà redução substancial do

padroado português, depois de negociações difíceis que começâram no início de 7926,

portanto

antes

do 28

de

Maio,

e se estenderam sempre em

tom

pouco harmonioso

até1928, chegando mesmo à beira da

rutura

em

abril

desse ano,

o

que poderia ter impossibilitado a entrada de SaJazar no governo.

Bem mais fácil

foi

o entendimento entre a Santa Sé e os governos republicanos

relativamente ao segundo

ponto,

a separação entre

militância

católica

e

militância

monárquica,

logo

a

partir

de 1'91'9.

Tal

verificou-se nomeadamente com a renovação da liderança e a reformulação da agenda política do Centro Católico, feita em estreito

contacto entre a elite católica portuguesa, a Nunciatura papal em Lisboa e a

ptóptia

Santa Sé.

Foi

também enorme

a

pressão papal,

por

via do

núncio,

em

resposta às

pressões diplomáticas portuguesas,

no

sentido

de

ou

ser

alterada a

linha

editorial

da imprensa

católica

abertamente monárquica

em

que

pontificava

havia

muito

o

conselheiro Fernando

de

Sousa (Nemo); ou, perante as dificuldades em

o

conseguir

face à resistência deste

último,

levar a que, depois de mais pressões, Nemo encettasse

em

7923

o principal diário

católico

por

ele

dirigido,

dando lugar à fundação de um

novo

diário

oficioso

do

episcopado,

o

Novidades. Salazar surgiu, ironicamente, na

política portuguesa protagonizando na liderança do Centro Católico e nas páginas do Noaidødes esta novâ

linha

de ralliement com a

I

República.

Em

conclusão, as tensões

na

rcIaçáo

interna entre

a

I

República e a Igreja Católica reduziram-se

muito,

a

partir

de 1919, com

uma

contribuição decisiva para isso do restabelecimento de relações diplomáticas com

o

papado que levou ao rallie-ment promovido pela Santa Sé

do

catolicismo à

I

República, apesar das resistências

de

muitos

católicos portugueses,

por

apego à

Monarquia, ou Por

reservas face ao

republicanismo, ou ainda

por

ambas as razöes,ligando-as a ideia de que só uma

res-tavração da Monarquia poderia restaurar também o que entendiam serem os direitos

do

catolicismo português.

A

evolução,

no

essencial,

positiva

neste relacionamento,

verificou-se apesar

de

terem

sido

goradas as expectativas papais de

uma

melhoria gradual da situação

jurídica

e económica

do

catolicismo,

e

apesar de não se terem concretizado as promessas vagas nesse sentido de vários governantes republicanos após

1919, inclusive do seu

último

chefe do governo'

António

Maria

da Silva,

No

final da

I

República e no início da Ditadura

Militar,

como aliás será também

o

caso durante

o

Estado Novo,

o

principal pomo da

discórdia entre

a

Santa Sé e

Portugal situou-se no campo colonial, em que ao nacionalismo colonialista do republi-canismo se opunha o universalismo e aposta na autoctonização do catolicismo.

E

se é

verdade que a Santa Sé estendeu a sua estratégia de ralliement depois de 1926, também

aos governos da Ditadura

Militar

e do Estado Novo, não se pode afrrmat que no que

r.rpéitr

à Santa Sé existisse,

em

7926,um estratégia de confronto com a

I

República que tivesse contribuído pâra a sua queda. Porém, como os próprios diplomatas

portu-guesesjunto da Santa Sé explicaram por mais de umavez âos governantes republicanos, como ,,sucede com todas as autoridades, nem semPre, no camPo dos factos, a Santa Sé

encontra a docilidade ou iluminado

søooirþire

naqueles que deviam respeitar e saber

(6)

s62

|

RELAçOES COM A SUÍçA

Sé contar, em geral, mais com o auxílio do tempo e da persuasão do que com a coerção para os católicos renitentes às suas instruções.ol

Em

suma,

o

catolicismo

-

tal

como

o

republicanismo

-

não eram

uma

realidade monolítica.

O

papado

fez muito

paru afastar catolicismo e monarquismo, mas nunca conseguiu fazer a maior parte da elite católica gostar da

I

República.

[Bruno Cardoso Reisì

RELAçOES COM

A SUÍçA

As

relações

diplomáticas entre Portugal

e a

Suíça

datam

do

século XIX.

Em

1910, existe uma legação em Berna (desde 1892) e sete consulados: em Genebra

(que

foi o

primeiro em

1855), Lausana (cônsul marquês de Faria), Berna, Basileia,

Zurique,Lucerna e Davos, enquanto a Suíça tem só dois consulados em Portugal, em

Lisboa desde 1817, transformado em consulado geral em 1874 e no Porto desde 1"896. As relações económicas, tal como a imigração, são praticamente inexistentes: há

cerca de 70 suíços em Portugal em 1911, 304 em 7927,237 em 1927; na Suíça vivem

147 portugueses

em

1977,78I

em 1913, 202 em 1917,755 em 1920,114 em 1930.

A

nível cultural

e

político,

pode-se mencionar a presença de

umas

dezenøs

de estudantes portugueses em Genebra, Zurîque, S. Gallen e Lausana. Nesta cidade,

entre 7972 e

tgt3,publicam

o periódico mensal O Patriota. Alguns portugueses' entre

os quais dois

filhos do Afonso

Costa, estudam numa escola privada

de

S. Gallen.

Em

1911 e 79t3,cerca de 50 raparigas portuguesas estudam num colégio religioso de

Lucerna.

Em

1912, recebem a visita de

D.

Amélia.

que assinalar também a

pre-sença de portugueses em Davos, que efetuam tratamentos contra a tuberculose.

E

aqui

e

desta doença que França Borges

morre

em

1915. Magalhães

Lima

realiza duas

conferências em Genebra e Lausana em outubro de 1917,

um

grande discurso nesta

mesma cidade em fevereiro de 1913 e uma conferência em Lugano no mês seguinte'

A

Revolução de 1910 tem um grande impacto na imprensa helvética' Os

quo-tidianos liberais e radicais são relativamente favoráveis

à

República, mas

a

maioria

adota uma atitude crítica

em

rc7ação ao

futuro

do sistema republicano em Porfugal; a imprensa de esquerda fala pouco de Portugal e espera que esta revolução burguesa possa transitar para uma revolução de

tipo

socialista; os jornais católicos não perdoam

as medidas anticlericais do Governo Provisório e criticam duramente

o

novo regime

que expulsa os jesuítas entre os quais dois suíços, Alphonse

Luisier

(especialista da

fora

da

Madeira, com

cerca

de

80

trabalhos publicados nomeadamente sobre as

briófitas em Portugal) e Paul Balzer, que deixou um relato da sua estadia em Caxias'

Em

outubro de 1910, os dois cônsules suíços,Jules Mange em Lisboa e François Babel

no Porto, enviam relatórios extremamente filorrepublicanos dando uma imagem idílica

dos novos dirigentes.

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