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Os efeitos de uma intervenção psicomotora através da relaxação ativo-passiva na imagem corporal e em indicadores de saúde e bem-estar de pessoas idosas

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Academic year: 2021

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Mestrado em Psicomotricidade

Dissertação

Évora, 2019

TÍTULO | Os efeitos de uma intervenção psicomotora

através da relaxação ativo-passiva na imagem

corporal e em indicadores de saúde e bem-estar de

pessoas idosas

Nome da Mestranda | Ana Lúcia Rosado Medeiros

Orientação | Prof. Dr. José Francisco Filipe Marmeleira

Profª. Dr.ª Guida Filipa Veiga Moutinho

ESCOLA DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA

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Mestrado em Psicomotricidade

Dissertação

Évora, 2019

TÍTULO | Os efeitos de uma intervenção psicomotora

através da relaxação ativo-passiva na imagem

corporal e em indicadores de saúde e bem-estar de

pessoas idosas

Nome da Mestranda | Ana Lúcia Rosado Medeiros

Orientação | Prof. Dr. José Francisco Filipe Marmeleira

Profª. Dr.ª Guida Filipa Veiga Moutinho

Júri | Profª. Dr.ª Gabriela Sousa Neves de Almeida

Prof. Dr. Jorge Manuel Gomes de Azevedo Fernandes

Prof.ª Dr.ª Guida Filipa Veiga Moutinho

ESCOLA DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA

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Agradecimentos

Nesta folha branca agradeço a quem esteve ao meu lado Obrigado pelo conforto, paciência e amor

Minha mãe, meu pai, minha irmã, família e amigos de valor

Obrigada professora Guida Veiga e professor José Marmeleira Pela aprendizagem, disponibilidade e compreensão

Neste percurso vos agradeço de coração

Gratidão aos participantes do Lar de São Bento do Cortiço E da Residência São Nuno de Santa Maria

Pela aprendizagem, carinho e alegria

Não esqueço as colaboradoras que tanto me ensinam A cuidar, a esperar e a confortar

Quem tanto precisa neste Lar

E é nesta folha branca que expresso o meu agradecimento Neste caminho da Psicomotricidade pelo relaxamento Obrigada a todos!

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Resumo

O presente trabalho teve como objetivo estudar os efeitos de uma intervenção psicomotora através da relaxação ativo-passiva na imagem corporal e em indicadores de saúde e bem-estar de pessoas idosas. O estudo seguiu um desenho quasi-experimental em que, inicialmente, os participantes mantiveram durante 4 semanas as atividades da vida diária (período de controlo) e, posteriormente, beneficiaram durante 8 semanas de sessões bisemanais individuais de relaxação ativo-passiva (período experimental). Participaram 12 pessoas idosas institucionalizadas em regime de lar e sem défice cognitivo severo. Foram avaliadas a autoperceção da saúde e da dor, os estados emocionais, a imagem corporal, a mobilidade e o equilíbrio, a atividade física e a qualidade do sono. Os resultados do estudo indicaram melhorias significativas ao nível da autoperceção da saúde e da autoperceção da dor. Não foram encontradas melhorias nas outras variáveis estudadas. Concluiu-se que a intervenção psicomotora através da relaxação ativo-passiva permite melhorar alguns indicadores de saúde e bem-estar em pessoas idosas institucionalizadas.

Palavras-chave: imagem corporal; saúde; bem-estar; pessoas idosas;

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Title

The effects of a psychomotor intervention through active-passive relaxation on body image and health and well-being indicators of elderly people

Abstract

The aim of the present study is to examine the effects of a psychomotor intervention through active-passive relaxation on body image and health and well-being indicators of elderly people. This study followed a quasi-experimental design in which the participants initially maintained the activities of daily living (control period) for 4 weeks and subsequently benefited during 8 weeks of individual biweekly sessions of active-passive relaxation (experimental period). Participants included 12 elderly people from a nursing home and without severe cognitive deficit. The self-perception of health and pain, emotional states, body image, mobility and balance, physical activity and sleep quality were evaluated. The results of the study showed significant improvements in the self-perception of health and self-perception of pain. No improvements were found regarding the other variables. It was concluded that the psychomotor intervention through active-passive relaxation improves some health and well-being indicators in nursing home elderly people.

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Índice Geral

Agradecimentos ... iii Resumo ... iv Title ... v Abstract ... v Índice Geral ... vi

Índice de Tabelas ... viii

Índice de Figuras ... viii

Índice de Equações ... viii

Lista de Abreviaturas ... ix

Capítulo I: Introdução ... 1

1.1 Objetivos ... 2

1.2 Estrutura da Dissertação ... 3

Capítulo II: Revisão da Literatura ... 4

2.1 Envelhecimento ... 4

2.2 Imagem Corporal no Envelhecimento ... 8

2.3 Indicadores de Saúde e Bem-estar no Envelhecimento ... 11

2.4 Gerontopsicomotricidade ... 21

2.5 Relaxação... 24

Capítulo III: Metodologia ... 32

3.1 Tipo e Desenho de Estudo ... 32

3.2 Caracterização da Amostra ... 32

3.3 Procedimentos ... 35

3.4 Variáveis e Instrumentos de Avaliação ... 37

3.5 Programa de Intervenção Psicomotora ... 45

3.6 Análise de Dados ... 46

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Capítulo V: Discussão ... 51

Capítulo VI: Conclusão ... 61

Capítulo VII: Referências Bibliográficas ... 62

Anexos ... 77

Anexo I: Declaração de Consentimento Informado ... 77

Anexo II: Questionário Sócio Demográfico ... 78

Anexo III: Plano de Sessão ... 79

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Índice de Tabelas

Tabela 1. Características sociodemográficas da amostra ... 35

Tabela 2. Resultados do Perfil de Saúde de Nottingham (PSN) ... 47

Tabela 3. Resultados da Medida de Dor em Geriatria (MDG) e pela Escala Visual Analógica (EVA) ... 48

Tabela 4. Resultados do Perfil de Estados de Humor (POMS) ... 49

Tabela 5. Resultados da Escala da Atratividade Corporal (EAC) ... 49

Tabela 6. Resultados do teste Timed up and Go (TUG) ... 49

Tabela 7. Resultados da atividade física obtidos através de acelerometria ... 50

Tabela 8. Resultados da qualidade do sono através da acelerometria ... 50

Índice de Figuras

Figura 1. Diagrama de fluxo da amostra ... 33

Figura 2. Escala Visual Analógica ... 42

Figura 3. Procedimento do teste Timed Up and Go ... 45

Figura 4. Sala de Relaxação 1 ... 46

Figura 5. Sala de Relaxação 2 ... 46

Índice de Equações

Equação 1. Estado de Saúde Geral, PSN ... 40

Equação 2. Pontuação final, MDG ... 40

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Lista de Abreviaturas

AF – Atividade Física

AFMV – Atividade Física Moderada e Vigorosa AVD´s – Atividades da Vida Diária

DGS – Direção Geral de Saúde

EAC – Escala de Atratividade Corporal EVA – Escala Visual Analógica

INE – Instituto Nacional de Estatística MDG – Medida de Dor em Geriatria MEEM – Mini Exame do Estado Mental OMS – Organização Mundial de Saúde POMS – Perfil dos Estados de Humor PSN – Perfil de Saúde de Nottingham

SPSS – Statistical Package for the Social Sciences TTC – Tempo Total na Cama

TTS – Tempo Total de Sono TUG – Teste Time Up and Go

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Capítulo I: Introdução

O envelhecimento pode ser entendido como um processo complexo e variável, que envolve um conjunto de modificações a nível biológico, psicossocial, cognitivo, psicológico, sensorial, neuromotor e afetivo (Bicalho & Cintra, 2013; Fonseca, 2001; Pitteri, 2000). A partir dos 65 anos de idade, as perdas de audição, visão, do movimento, o surgimento de doenças cardíacas, respiratórias e cognitivas são notórias (Organização Mundial de Saúde [OMS], 2015). Destacam-se as alterações na imagem corporal, havendo evidências de uma imagem do corpo desconstruída (Pitteri, 2000), distorcida e um sentimento de insatisfação com o seu corpo (Roy & Payette, 2012). Na saúde, há uma perceção negativa, que se relaciona com o aumento das doenças e da institucionalização (Jerez-Roig, et al., 2016). Quanto aos estados emocionais, há uma tendência para o aumento das emoções negativas, da ansiedade, da apatia (Cybulski, Cybulski, Krajewska-Kulak, & Cwalina, 2017). O aumento da dor (Direção Geral de Saúde [DGS], 2010) e a diminuição da qualidade do sono (Valenza, et al., 2013) afeta a maioria das pessoas idosas institucionalizadas. No que diz respeito à mobilidade e equilíbrio, sabe-se que na população idosa há uma diminuição da mobilidade e equilíbrio, aumentando assim o risco de queda (Rossat, et al., 2010)

Com a institucionalização, a pessoa idosa enfrenta um processo de adaptação, por vezes, difícil de aceitar, provocando a diminuição das relações interpessoais, a limitação da independência e o aumento dos estados depressivos (Daniel, 2006; Quintero, Henao, Villamil, & León, 2015). Porém, a pessoa idosa poderá continuar a ser autónoma e ter uma boa qualidade de vida durante um período de tempo bastante significativo. A idade avançada pode ainda ser um período de bem-estar subjetivo, caracterizada por um envelhecimento bem-sucedido (OMS, 2015).

Cabe aos profissionais de geriatria, nomeadamente aos Psicomotricistas, através da gerontopsicomotricidade, contribuir para preservar e melhorar as capacidades da pessoa idosa, adaptando-se às suas necessidades específicas. Desta forma, a intervenção psicomotora combate a imobilidade, a passividade, o isolamento, a dependência e a solidão tão característicos nesta fase, quer no âmbito preventivo como terapêutico (Fernandes, 2014; Fonseca, 2001). A gerontopsicomotricidade utiliza o corpo e o movimento como mediadores da própria intervenção, através de técnicas de estimulação

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sensorial e de relaxação, do toque terapêutico, da expressão artística e emocional, ou em dinâmicas de grupo (Fernandes, 2014).

Em particular, a relaxação, como técnica psico-corporal (Guiose, 2007), é indicada para todas as idades e para inúmeros sintomas e patologias, tais como a dor, a doença oncológica, a hipertensão e outras doenças cardiovasculares, insónia, recuperação pós-cirúrgica, osteoartroses (Astin, Shapiro, Eisenberg, & Forys, 2002). Alguns estudos têm revelado a eficácia de técnicas de relaxação na população idosa, nomeadamente ao nível do bem-estar psicológico (Reig-Ferrer, et al., 2014), dor (Morone, Lynch, Greco, Tindle, & Weiner, 2008), sono (Örsal, Alparslan, Özkaraman, & Sönmez, 2014) e imagem corporal (Albertson, Neff, & Dill-Shackleford, 2014).

Em Portugal, ainda existem poucos estudos que revelam a eficácia das técnicas de relaxação na população idosa. Conhece-se o estudo de Roque, Veiga e Pereira (2016) que mostrou os efeitos da massagem psicomotora ao nível da saúde e bem-estar de pessoas idosas institucionalizadas. Quanto à relaxação ativo-passiva (Guiose, 2007), sendo esta uma técnica indicada para crianças e adultos, apesar de até ao momento os estudos com pessoas idosas serem ainda escassos, é uma técnica muito utilizada pelos psicomotricistas com pessoas idosas a residerem em lares.

1.1 Objetivos

Este estudo tem como objetivo geral conhecer os efeitos de uma intervenção psicomotora através da relaxação ativo-passiva na imagem corporal e em indicadores de saúde e bem-estar de pessoas idosas institucionalizadas.

Mais especificamente, este trabalho tem como objetivos específicos conhecer os efeitos (em pessoas idosas institucionalizadas) de uma intervenção psicomotora através da relaxação ativo-passiva num conjunto de parâmetros relacionados com a saúde e bem-estar, designadamente: a) autoperceção da saúde b) autoperceção da dor c) qualidade do sono d) estados emocionais e) imagem corporal f) atividade física

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1.2 Estrutura da Dissertação

A presente dissertação está estruturada de modo a esclarecer toda a investigação de forma precisa, clara e objetiva. O estudo organiza-se em seis capítulos distintos, designadamente a introdução, revisão da literatura, metodologia, resultados, discussão dos resultados e conclusão. O primeiro capítulo apresenta um breve enquadramento teórico do estudo, bem como os objetivos que foram investigados.

No segundo capítulo “Revisão da Literatura” irá abordar-se os conceitos e teorias do envelhecimento, no que diz respeitos às alterações cognitivas, motoras, fisiológicas, metabólicas e sociais inerentes a esta fase da vida. Também será evidenciada a importância da promoção de um envelhecimento ativo e saudável, e serão ainda destacadas as alterações na imagem corporal que ocorrem durante o processo de envelhecimento, bem como em diversos indicadores de saúde e bem-estar. Seguidamente, será realizada uma reflexão sobre a intervenção psicomotora em pessoas idosas. A relaxação será abordada no que diz respeito ao conceito, metodologias, aplicações e benefícios. A partir deste conceito, procurar-se-á explicar a importância do toque em relaxação, os efeitos terapêuticos das técnicas de relaxação na população idosa e em que é que consiste o método ativo-passivo aplicado neste estudo.

A metodologia realizada neste estudo é apresentada no terceiro capítulo, nomeadamente tipo e desenho de estudo, caracterização da amostra, procedimentos metodológicos, variáveis e instrumentos de avaliação, programa de intervenção psicomotora e, para finalizar, o tratamento e análise dos dados recolhidos.

No quarto capítulo, apresentam-se os resultados obtidos através dos testes aplicados antes e depois do programa de intervenção. Segue-se o quinto capítulo, dedicado à discussão dos resultados, onde é feita uma análise, comparação e interpretação dos resultados obtidos e também são referidas as limitações do estudo e recomendações para futuras investigações. Para finalizar, são apresentadas as principais conclusões do estudo.

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Capítulo II: Revisão da Literatura

2.1 Envelhecimento

O envelhecimento da população é inevitável e está relacionado com a idade cronológica das pessoas. Envelhecer não implica depender, apesar de ocorrerem várias alterações ao nível biológico, psicossocial, cognitivo, psicológico, sensorial, neuromotor e afetivo (Fonseca, 2001; OMS, 2015).

O conceito de envelhecimento é muitas vezes comparado com a velhice, tornando estes conceitos sinónimos um do outro. Porém, o envelhecimento não é a velhice (Velasco, 2006). Segundo Neri (2013), o envelhecimento biológico consiste num processo de progressivo declínio em estrutura, função, organização e diferenciação das células, que termina na morte. Esse processo tem início depois de a maturidade sexual e acelera-se a partir da quinta década de vida, marcada pela diminuição ou fim da possibilidade de reprodução e por alterações fisiológicas e morfológicas típicas (Neri, 2013). Segundo a OMS (2015), o envelhecimento cronológico classifica-se a partir dos 60 anos de idade, em países em desenvolvimento. Nos países desenvolvidos, a classificação de idoso começa a partir dos 65 anos. A pessoa idosa pode ser denominada de jovem idoso (60-69 anos), meio idoso (70-79 anos) e idoso velho (a partir dos 80 anos) (Velasco, 2006).

Em Portugal, observou-se um aumento do envelhecimento demográfico ao longo dos últimos anos, verificando-se um decréscimo da população jovem (0 a 14 anos de idade) e da população em idade ativa (15 a 64 anos de idades). Por outro lado, houve um aumento da população idosa (65 e mais anos de idade), representando quase 20% da população. Em 2017, o índice de envelhecimento atingiu os 155 por cada 100 jovens. Também o índice de dependência, que permite aferir a relação entre o número de pessoas idosas e o número de pessoas em idade ativa, tem vindo a aumentar, sendo em 2017 de 33 pessoas idosas por cada 100 jovens em idade ativa (Instituto Nacional de Estatística [INE], 2018).

O processo de envelhecimento é complexo e variável e envolve um conjunto de modificações fisiológicas e sistémicas (Bicalho & Cintra, 2013; Pitteri, 2000). Depende de indivíduo para indivíduo, sendo ao mesmo tempo, influenciado por fatores orgânicos, psicológicos, emocionais, sociais, culturais, morais e espirituais (Pitteri, 2000).

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Com a idade avançada, existem diversas modificações na composição corporal e no índice de massa corporal (Bicalho & Cintra, 2013), envolvendo o aumento da percentagem de massa gorda e a diminuição da massa magra e da densidade mineral óssea (Andreoli, Scalzo, Masala, Tarantino, & Guglielmi, 2009) O sistema neuromuscular também é afetado, resultando num aumento da fadiga, atrofia muscular, hipertonia, diminuição na força, dificuldades nas habilidades motoras grossas e finas. A partir dos 70 anos, a existência de paratonias é frequente (Pitteri, 2000). No sistema esquelético há uma diminuição da estrutura óssea, levando por vezes à osteoporose, ao aumento do risco de quedas, fraturas, dificuldade nas Atividades de Vida Diária [AVD’s] ou mesmo à morte (Bicalho & Cintra, 2013; Pitteri, 2000). As articulações diminuem quanto à sua mobilidade, tornando-se por vezes dolorosas, o que aumenta o risco de lesões e de osteoartrite (Pitteri, 2000).

A pele sofre um conjunto de modificações estruturais e fisiológicas como consequência natural do envelhecimento intrínseco combinado com os efeitos de danos extrínsecos cumulativos ao longo da vida. Na pessoa idosa, a pele torna-se seca, enrugada, descamativa, fina e com diminuída elasticidade. A fragilidade cutânea predispõe a fissuras, escoriações e infeções cutâneas (Bicalho & Cintra, 2013; Farage, Miller, Berardesca, & Maibach, 2009).

O envelhecimento corporal acontece também ao nível do sistema nervoso, levando a mudanças estruturais, tais como a senescência neurofibrilar e as placas senis. Ao nível cognitivo, a memória sofre uma diminuição significativa de eficiência, diminuindo o funcionamento do sistema nervoso. Na estruturação espácio-temporal, a pessoa idosa apresenta dificuldades na relação com o espaço, observando-se uma restrição do espaço em que se movimenta e dificuldades em planear percursos, aumentando assim o hábito de percorrer os mesmos percursos que conhece com segurança (Pitteri, 2000).

As funções sensoriais perdem a eficácia em termos de sensibilidade, nitidez e discriminação. A coordenação sensoriomotora e a memória sensorial perdem também eficácia (Pitteri, 2000). A perda auditiva, visual, de paladar e olfato tornam as pessoas idosas mais dependentes das suas AVD´s (Bicalho & Cintra, 2013). A diminuição da sensibilidade tátil, térmica, vibratória e o aumento da sensibilidade dolorosa acontece devido à redução dos corpúsculos de Vater-Passini e Meissner (Farage, et al., 2009). A visão perde sensibilidade à luz, nitidez, discriminação de cor, profundidade e adaptação a mudanças repentinas na iluminação. Os défices auditivos induzem uma diminuição do

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limiar da receção da mensagem verbal, que surge associada à dificuldade em compreender várias vozes em simultâneo (Pitteri, 2000).

As alterações no sistema imunitário determinam maior suscetibilidade a infeções, neoplasias e doenças autoimunes (Gaudio, Rinaldi, Chelazzi, & Borracci, 2009). As alterações no sistema cardiovascular proporcionam no envelhecimento o aumento da incidência de doenças cardiovasculares, sendo estas as principais causas de morbilidade e mortalidade entre as pessoas idosas. No sistema respiratório, o progressivo declínio da função pulmonar tornam a pessoa idosa mais vulnerável (Bicalho & Cintra, 2013).

As alterações fisiológicas variam na sua intensidade e também são responsáveis pela lentidão psicomotora, perda de força, fadiga, aumento do tempo de reação, dificuldade na adaptação a situações stressantes, dificuldades na comunicação em grupo e a depreciação da imagem corporal (Pitteri, 2000).

Alterações emocionais e psicossociais no envelhecimento

Ao nível emocional, a capacidade de lidar com múltiplas situações diminuiu durante o envelhecimento, verificando-se um desinvestimento emocional (Pitteri, 2000). Há uma restruturação e reorganização das suas funções intelectuais, requerendo uma adaptação gradual às situações. No campo do comportamento, pode haver resistência à mudança e traços hipocondríacos (Pitteri, 2000).

Segundo Erikson (1963, cit. por Rivero, Canali-Prado, Vieira, & Rivero, 2013), nesta idade, a pessoa necessita de encontrar um novo significado na rotina do dia-a-dia. Este conflito pode gerar desespero, mas também fortalecer a sua capacidade de adaptação a situações novas, como enfrentar o processo de envelhecimento e a morte. De acordo com a teoria psicológica da seletividade emocional de Cartensen (1991, cit. por Neri, 2013) as pessoas idosas reduzem os contatos sociais mantendo as relações emocionalmente próximas.

Aos 60 anos de idade, a pessoa idosa poderá continuar autónoma e viver com qualidade o máximo tempo possível. A idade avançada pode ainda ser um período de bem-estar subjetivo (OMS, 2015).

De acordo com Velasco (2006) as principais causas do processo de envelhecimento dividem-se percentualmente em 20% de herança genética, 10% meio ambiente e 70% de estilo de vida. Assim sendo, um envelhecimento bem-sucedido é aquele que sob boas condições de influência genética, do ambiente e de adequados

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saudável (Neri, 2013). Rowe e Kahn (1997) referem que para um envelhecimento bem-sucedido é necessário adquirir comportamentos para promover a saúde, tais como prevenir doenças e incapacidades, manter as funções físicas e cognitivas e participar em atividades sociais e produtivas. A autoeficácia, a perseverança e a motivação são fatores que influenciam a promoção de saúde (Neri, 2013).

A institucionalização

A esfera familiar e social sofreu transformações (Daniel, 2006) tais como a diminuição do agregado familiar e a entrada da mulher no mercado de trabalho (Quintero, et al., 2015). Os estilos de vida dos familiares representados tradicionalmente como possíveis cuidadores, tornam-se difíceis de conciliar com as necessidades de prestação de cuidados que exigem os familiares mais idosos. Neste sentido, a institucionalização torna-se como a única solução possível (Daniel, 2006). Além disso, a grande vulnerabilidade e dependência que se acentua com a idade conduz ao aumento dos internamentos em centros geriátricos (Quintero, et al., 2015).

Uma institucionalização súbita leva à diminuição das relações interpessoais e limita a independência e individualidade da pessoa idosa. O reconhecimento dos seus vizinhos, familiares e amigos é diminuído e o sentimento de inutilidade, de se sentir um peso para as outras pessoas, o isolamento do meio ambiente e as situações de abuso podem aumentar (Quintero, et al., 2015). O facto de a pessoa idosa optar ou ser forçada a mudar de residência pode ser um evento traumático, reagindo adversamente à institucionalização, devido ao receio que sente em não poder voltar para casa (Runcan, 2012).

O idoso ao ser institucionalizado irá enfrentar um processo de adaptação do espaço e afirmação da identidade (Daniel, 2006). Para ele, o espaço onde irá dormir e estar será desprovido de identidade e de história pessoal, sendo importante a construção de um lugar securizante. Com a institucionalização, precipitam-se os estados depressivos relacionados com múltiplas perdas, como a independência, a família, o papel social e o trabalho, assim como a perda de bens (Quintero, et al., 2015). Verifica-se o receio por parte das pessoas idosas de que a institucionalização aumente a sua dependência e dificulte a manutenção da autonomia (Carrilho, Gameiro, & Ribeiro, 2015).

Um estudo português com pessoas idosas institucionalizadas, sem défice cognitivo, evidenciou a presença de sintomatologia depressiva (65,4%), dependência funcional (58,8%), queixas de violência (33,1%) e situações de violência financeira

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(22,8%). Contudo 86% das pessoas idosas referiu gostar de residir na instituição (Carrilho, et al., 2015).

Em muitos casos, a institucionalização leva à solidão, aumentando assim o risco de depressão, mais em pessoas idosas institucionalizadas do que em pessoas idosas que vivem na comunidade. Este risco é proporcionado pela falta de apoio social da família e dos pares (Runcan, 2012), que diminuem com a institucionalização.

2.2 Imagem Corporal no Envelhecimento

O conceito de imagem do corpo apareceu pela primeira vez por Paul Schilder (1968) definindo-a como “a imagem do nosso próprio corpo que formamos no nosso espírito, dito de outra forma, o modo como o nosso corpo nos aparece a nós próprios”. Ledoux, Mongeau e Rivard (2002) redefiniram o conceito de imagem corporal como uma representação sistemática, cognitiva e afetiva que as pessoas têm em relação ao seu corpo. Esta representação é alterada durante o desenvolvimento biológico e ao longo das relações sociais, podendo ser consciente e inconsciente (Ledoux, et al., 2002).

A imagem do corpo consiste nas perceções e representações mentais que formamos sobre o nosso corpo, como objeto físico e também carregado de afetos (Guiose, 2015). Para Schilder (1968) a imagem do corpo é a primeira representação inconsciente de si. Dolto (1961; 1984) refere que a imagem do corpo é específica para cada indivíduo, sendo construída pelo consciente através de sentimentos positivos e negativos e pelo inconsciente a partir da organização da psique através de conflitos, frustrações, relações com o pai e a mãe.

A imagem do corpo está em constante evolução ao longo do ciclo de vida. Os vários estágios da vida mudam o corpo, a perceção que se tem acerca dele (adolescência, gravidez, menopausa, velhice, dor, etc.), mas também a vida emocional (ser pai ou mãe, perdas, alegrias, tristezas, separações, etc.) alteram a imagem do corpo (Potel, 2012).

A imagem do corpo estrutura-se a partir de estímulos periféricos e das referências do movimento corporal, resultando em processos de transdução e de análise, desde as informações táteis às quinestésicas. O produto final resulta na síntese e no armazenamento de posturas corporais, de padrões de movimento, de direcionalização objetal e envolvimental, dependentes da experiência cultural e da aprendizagem (Fonseca, 2010).

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Para Dolto (1984) e Potel (2012) o esquema corporal é diferente do conceito de imagem do corpo. Potel (2012) designa o esquema corporal como uma organização somatognósica do corpo e a imagem do corpo como a imagem que se tem de si mesmo.

Guiose (2015) salienta algumas características da imagem do corpo, tais como a sua aquisição mais tardia, relativamente à do esquema corporal (Sanglade, 1983), e a ligação ao sujeito e à sua história. A imagem do corpo pode ser modificada a qualquer momento, revelando-se sólida ou destruída, desejada ou rejeitada.

O conceito de imagem corporal é multidimensional, destacando-se 4 dimensões: atitudinal, percetiva, comportamental e cognitiva (Roy, 2010). A dimensão atitudinal corresponde a sentimentos relativos ao corpo do próprio indivíduo, uma vez que podemos gostar ou não do nosso corpo, da forma do corpo ou de outros aspetos da aparência (Roy & Forest, 2007 cit. por Roy & Payette, 2012). A dimensão percetiva diz respeito ao julgamento em relação ao eu ou a outro tamanho corporal atual (Roy & Meilleur, 2010). A dimensão comportamental refere-se aos comportamentos adotados como consequência da nossa própria representação da imagem corporal, bem como do resultado das atitudes dos outros em relação ao nosso corpo. A dimensão cognitiva é sobre o processo pelo qual os indivíduos se tornam conscientes da realidade circundante a partir da sua própria representação da imagem do corpo (Ricciardelli & McCabe, 2002 cit. por Roy & Payette, 2012).

Em pessoas idosas, a imagem corporal é desconstruída, devido à modificação da aparência do corpo, à silhueta, à estatura, ao rosto, à pele e à dinâmica dos movimentos (Pitteri, 2000). Uma revisão sistemática realizada por Roy e Payette (2012) evidencia a importância e a influência da imagem corporal em pessoas idosas. Uma das principais conclusões está relacionada com uma menor importância que as pessoas idosas dão à aparência física em comparação com a população mais jovem. Contudo, a aparência física é um fator importante em 63,8% das mulheres com idade entre os 60 e 70 anos (Mangweth-Matzek, et al., 2006).

Também há evidências de uma distorção da imagem corporal e uma insatisfação da imagem do corpo nesta fase da vida (Roy & Payette, 2012). Quando o indivíduo não gosta do seu corpo, da sua forma ou de determinados aspetos da sua aparência há uma insatisfação corporal. Uma distorção da imagem corporal é quando há uma discrepância entre o corpo atual e o corpo percebido (Roy & Meilleur, 2010). Além disso verificou-se que a insatisfação da imagem corporal em pessoas idosas é maior que a distorção da

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imagem corporal, observando que as mulheres são as mais insatisfeitas com o seu corpo em relação aos homens (Roy & Payette, 2012).

Relativamente à associação de uma imagem corporal negativa e a probabilidade de perturbações mentais, vários estudos referem o desenvolvimento de perturbações afetivas, emocionais, ansiosas, depressivas, bem como o aumento do sofrimento psicológico nas várias faixas etárias (Faulkner et al., 2001; Schwartz & Brownell, 2004; Stice, 2002; Wichstrom, 1999; Woodside & Staab, 2006 cit. por Roy & Payette, 2012). A autoestima está relacionada com a preocupação com a imagem corporal (Baker & Gringart, 2009), bem como com a aparência física, aptidão física, peso e forma (Paxton e Phythian, 1999 cit. por Roy & Payette, 2012). A distorção da imagem corporal em pessoas idosas está relacionada com o sofrimento psicológico e com a depressão (Miller, Morley, Rubenstein e Pietruszka, 1991 cit. por Roy & Payette, 2012).

Quanto aos comportamentos adquiridos em resposta à insatisfação da imagem corporal, verificou-se a prática de exercício físico e a adoção de uma dieta alimentar como os comportamentos mais frequentes nas pessoas idosas (Bedford & Johnson, 2006). Em relação ao peso corporal, verificou-se que o peso ideal entre pessoas idosas é cerca de 4 pontos de indice de massa corporal inferiores ao seu tamanho corporal atual (Knight, Illingworth, & Ricciardelli, 2009). As mulheres mais velhas desejam perder peso, embora o seu peso esteja dentro da categoria “saudável” (Allaz et al., 1998; Anderson et al., 2002 cit. por Roy & Payette, 2012).

Quando pensamos sobre o corpo ideal e questionamos o que será o corpo ideal para as pessoas idosas, Hurd Clarke (2002a) observou que em mulheres mais velhas, a opinião sobre o seu corpo era baseada em comparações com corpos de mulheres da sua própria idade. Os padrões de beleza para estas idosas eram as cantoras e atrizes da sua idade. Neste sentido, para estas mulheres, a beleza interior é considerada mais importante do que a aparência física, descrevendo a beleza como um resultado da realização pessoal (Hurd Clarke, 2002a).

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2.3 Indicadores de Saúde e Bem-estar no Envelhecimento

No que diz respeito ao envelhecimento torna-se importante abordar os seus indicadores de saúde e bem-estar que tanto são procurados nesta fase da vida.

O bem-estar é um conceito multidimensional, com implicações nos aspetos físicos, mentais, sociais e ambientais da vida (Kiefer, 2008). Este relaciona-se com o cuidado individual de forma saudável e abrange aspetos como a consciência da condição física, a redução do stress e a autorresponsabilidade no cuidado (Donoso, Demerouti, Hernández, Moreno-Jiménez, & Cobo, 2015).

O bem-estar subjetivo, ou o bem-estar autoavaliado, é avaliado tradicionalmente através de questões relacionadas com a satisfação dos aspetos globais e específicos da vida, como a saúde ou a família (Freedman, Carr, Cornman, & Lucas, 2017). Este termo está relacionado com conceitos de felicidade, experiências positivas, satisfação de vida, prazer e prosperidade (Lambert, Passmore, & Holder, 2015) tendo uma dimensão psicológica.

Estudos indicam que o bem-estar é frequentemente descrito em forma de U ao longo da vida, verificando-se uma melhor sensação de bem-estar em idades mais avançadas, apesar do aumento das dificuldades, incapacidades e doenças. Com base na teoria do desenvolvimento, os adultos acumulam estratégias à medida que envelhecem para maximizar as experiências positivas e minimizar as negativas, para que experiência de bem-estar aumente com a idade (Freedman, et al., 2017). Quando o bem-estar é percecionado de forma negativa pelas pessoas idosas, este está relacionado com a morte, ou a fase terminal da vida e não com o processo de envelhecimento em si (Charles, Mogle, Urban, & Almeida, 2016).

Num estudo realizado em pessoas idosas com incapacidade nos membros inferiores verificou-se que estas pessoas se sentem mais satisfeitas com a idade. Quanto ao bem-estar emocional e somático, estes participantes revelaram pior bem-estar (Freedman, et al., 2017). Por outro lado, há referências que associam as limitações nas AVD´s com a redução do bem-estar, tanto nas atividades básicas como instrumentais (Pinquart & Sörensen, 2000). O estudo de Pinquart e Sörensen (2000) concluiu que a qualidade dos contactos sociais, nomeadamente de amigos e dos filhos, está fortemente relacionada com o aumento do bem-estar subjetivo. Em comparação com a quantidade de contactos sociais, esta não evidencia um aumento do bem-estar. A educação também não significa maior bem-estar (Pinquart & Sörensen, 2000).

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2.3.1 Autoperceção da saúde

De acordo com a OMS (1948), a saúde é definida como “um estado completo de bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”. Esta definição de saúde propõe a presença de um bem-estar holístico, independente da dimensão espiritual e sem considerar as alterações do curso de doenças crónicas (Pinto, Fumincelli, Mazzo, Caldeira, & Martins, 2017). Uma vez que esta definição não se tornou consensual, o conceito de saúde tem sido discutido por diversos profissionais de todo o mundo. Atualmente, uma nova definição considera a saúde como a capacidade de se adaptar e de se autorregular em resposta a desafios físicos, mentais ou sociais (Huber, et al., 2011).

A autoperceção da saúde é um excelente preditor da mortalidade, do declínio da função física e cuidados de saúde em pessoas idosas (Zikic, et al., 2009). Ao comparar indivíduos que consideram a sua saúde como má e indivíduos que referem ter uma saúde excelente, os indivíduos que a consideram a sua saúde má apresentam um risco aumentado de hospitalização, institucionalização e mortalidade (Jerez-Roig, et al., 2016). Segundo o Inquérito às Condições de Vida e Rendimento das Familias realizado em 2014, 14,8% das pessoas idosas entre os 65 e 74 anos revelaram uma autopreciação positiva do estado de saúde. Em pessoas idosas com 75 ou mais anos, a percentagem desceu para os 7% (DGS, 2016).

Jerez-Roig e colaboradores (2016) analisaram a autoperceção da saúde em pessoas idosas institucionalizadas, indicando que 63,19% das pessoas idosas percecionam a sua saúde de forma negativa. A autoperceção negativa da saúde está associada à perda de peso, a doenças reumáticas e a instituições de longa permanência para pessoas idosas (Jerez-Roig, et al., 2016). Um estudo realizado na China concluiu que a maioria das pessoas idosas perceciona a sua saúde como “normal”. Este resultado está associado aos rendimentos do indivíduo, ao género, à residência, à região e à aquisição de seguro de saúde (Gu, et al., 2019).

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2.3.2 Estados Emocionais

De acordo com Damásio (2000), as emoções são conjuntos de respostas químicas e neurais que formam um padrão, desempenhando um papel regulador. As emoções induzem um conjunto de mudanças no estado do corpo, que correspondem ao conteúdo de pensamentos relativos a uma determinada entidade ou acontecimento, atual ou passado. Damásio (2004) classifica as emoções em três categorias: emoções de fundo, primárias e sociais. As emoções de fundo são aquelas em que o sujeito tem a capacidade de descodificá-las rapidamente em diferentes contextos, sendo elas agradáveis ou desagradáveis. As emoções primárias ou universais são facilmente identificáveis entre seres de uma mesma espécie, como por exemplo raiva, tristeza, medo, fúria, nojo, surpresa e felicidade. Finalmente, as emoções secundárias, ou sociais, são influenciadas pela sociedade e cultura, como a vergonha, o ciúme, a culpa, a compaixão, o embaraço, a simpatia e o orgulho (Damásio, 2004).

Damásio (2000) refere que existe uma base biológica que explica o significado das emoções. A função biológica das emoções é dupla, sendo que a primeira consiste na produção de uma reação específica a uma situação indutora. Por exemplo, uma reação de fuga, luta ou de imobilização. A segunda função é a regulação do estado interno do organismo, de tal modo que este possa estar preparado para essa reação específica (Damásio, 2000). Estudos realizados em humanos e animais identificam várias regiões cerebrais envolvidas na produção da emoção. Estudos de imagem funcional mostram que existem áreas de deteção do corpo, como o córtex somatossensorial da insula e das regiões somatossensoriais segundas, o córtex cingulado e alguns núcleos no tegmento do tronco cerebral, que mostram um padrão significativo de ativação ou desativação, quando o indivíduo experimenta emoções de tristeza, alegria, medo e raiva. Além disso, os padrões variam entre as emoções. As regiões como o hipotálamo são as principais executoras da emoção (Damásio, 2004).

Sobre a população idosa e os estados emocionais, o estudo de Charles, Mogle, Urban, & Almeida (2016) evidencia que o envelhecimento está relacionado com uma menor duração do afeto negativo e uma maior duração do afeto positivo. O afeto positivo diz respeito aos relatos subjetivos da experiência positiva de vários estados emocionais positivos, como sentimentos de alegria, felicidade e contentamento. Por outro lado, o afeto negativo refere-se a uma combinação de estados emocionais negativos, como sentimentos de raiva, tristeza e nervosismo (Charles, et al., 2016). Outro estudo descobriu

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que o afeto positivo permanece estável entre os 50 e os 60 anos, verificando-se declínios relacionados à idade entre os adultos mais velhos (Pinquart, 2001). Por outro lado, a idade está relacionada à redução do stress e ao aumento de atividades prazerosas que resultam em níveis mais altos de bem-estar (Charles, et al., 2016).

Cybulski, Cybulski, Krajewska-Kulak, e Cwalina (2017) avaliaram o nível de controlo emocional, ansiedade e autoeficácia em 300 pessoas idosas. Os resultados revelam uma diminuíção do controlo das emoções negativas e um aumento da ansiedade, devido a problemas de saúde e sociais presentes nesta faixa etária, que é mais significativo em pessoas idosas institucionalizadas (Cybulski, et al., 2017). A supressão das emoções, nomeadamente das emoções negativas, está intimamente associada ao sentimento de angústia, uma reação prolongada ao stress que pode contribuir para o desenvolvimento de doenças psicossomáticas (Ando, et al., 2009).

As perturbações do humor são comuns entre as pessoas idosas e podem aumentar significativamente a apatia, resultando a diminuição dos níveis de atividade física habitual (Monteiro-Junior, et al., 2017). O estudo de Monteiro-Junior e colaboradores (2017) comparou o grupo de pessoas idosas ativas e inativas em relação aos estados de humor e à capacidade motora funcional. O grupo de pessoas idosas ativas apresentou menor comprometimento total do humor, confusão, tensão, hostilidade e fadiga em comparação ao grupo de pessoas idosas sedentárias. Por outro lado, o vigor, a depressão e o desempenho não mostraram diferenças significativas (Monteiro-Junior, et al., 2017).

A depressão é uma doença mental em que a pessoa experimenta tristeza profunda e a diminuição do interesse em quase todas as atividades, sendo uma das perturbações geriátricas mais frequentes e incapacitantes, em que muitas vezes não se descobre nem se trata (Ayuso, 2008 cit. por Quintero, et al., 2015). Na população idosa, esta doença mental atinge frequentemente o sexo feminino (INE, 2002). Entre as possíveis causas da depressão no envelhecimento destacam-se o isolamento físico e psicológico, a saída do mercado de trabalho, a discriminação e as perdas de relações sociais, que podem proporcionar sentimentos de solidão, baixa autoestima e dificuldades em enfrentar novas situações (INE, 2002).

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2.3.3 Autoperceção da Dor

Segundo a International Association for the Study of Pain, a dor consiste em uma “experiência sensorial e emocional desagradável, relacionada com uma lesão real ou potencial dos tecidos, ou descrita em termos que evocam essa lesão” (Direção Geral da Saúde [DGS], 2010). Para Damásio (2000), a dor não é uma emoção propriamente dita, é a perceção da representação sensorial que resulta de uma disfunção de tecidos vivos. A dor provoca igualmente respostas reguladoras, tais como reflexos.

A dor é considerada crónica quando persiste 3 meses ou mais, de forma contínua ou recorrente, ou quando continua além do curso normal de uma doença aguda ou da cura da lesão que lhe deu origem (DGS, 2010). Em pessoas idosas, a dor crónica é um sintoma comum, afetando cerca de 83% dos idosos que estão institucionalizados em lares. Esta está relacionada com patologias de incidência elevada, como a osteoartrose, cancro, AVC, neuropatia periférica no diabetes mellitus, enxaqueca, fibromialgia, dor pós-herpética e traumatismo (DGS, 2010).

No idoso, a dor crónica é multifocal e multifatorial, tendo a duração de vários anos. A dor está associada à depressão, diminuição da socialização e da capacidade funcional e alterações do sono e da marcha (DGS, 2010). As emoções negativas, tais como a ansiedade, tristeza e o medo (Damásio, 2000), aumentam a sensação de dor das pessoas. Modificar essas respostas ajuda a reduzir a experiência da dor (Keefe, Rumble, Scipio, Giordano, & Perri, 2004).

Para avaliar a dor, há que ter em consideração que esta é uma experiência subjetiva, não existindo testes objetivos para medir a dor. No entanto, podem ser aplicadas escalas de autoavaliação, complementando a história clínica detalhada, um exame objetivo rigoroso, história terapêutica e uma avaliação biopsicossocial. Em doentes com dificuldade de comunicação é importante conjugar os antecedentes pessoais, a observação de comportamentos, o diagnóstico da patologia e a informação dos cuidadores (DGS, 2010).

Os tratamentos farmacológicos mais utilizados para tratar a dor são medicamentos anti-inflamatórios, não-esteroides e opiáceos, que causam efeitos secundários prejudiciais (Shorr, Griffin, Daugherty & Ray, 1992; Walt, Katschinski, Logan, Ashley & Langman, 1986 cit. por Morone, et al., 2008).

As terapêuticas não farmacológicas indicadas pela DGS (2010) são o exercício físico, a aplicação local de calor ou frio, a massagem, diatermia e ultrasons, imobilização,

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cirurgia, estimulação elétrica nervosa transcutânea, educação do doente, estratégias cognitivas e distração. Potel (2012) refere as técnicas de relaxação como um método eficaz para a redução da dor. Em geral, estas terapêuticas têm poucos efeitos adversos e podem produzir alívio de curta duração, quando utilizadas isoladamente. Em combinação com fármacos, permite a redução das doses e potencia o efeito terapêutico global (DGS, 2010).

Um estudo baseado na massagem psicomotora, durante 8 semanas, em pessoas idosas institucionalizadas apresentou melhorias significativas ao nível da dor após a intervenção, mantendo a redução significativa da dor ao longo do tempo (Roque, Veiga, & Pereira, 2016).

2.3.4 Qualidade do Sono

O sono consiste num estado comportamental complexo que ocupa um terço da vida humana. A sua função é restaurar a função cerebral, bem como modular os sistemas metabólico, endócrino e cardiovascular (Maggio, et al., 2013). O sono permite a regeneração emocional, fisiológica e reparadora do indivíduo. A idade, sexo, fatores ambientais, ocupação, situação social, económica e de saúde, estilo de vida, metabolismo, doenças, medicamentos e fatores fisiológicos, como ansiedade são fatores que afetam a qualidade do sono (Örsal, et al., 2014). A qualidade do sono é influenciada pela qualidade subjetiva do sono, latência do sono, duração do sono, atividade do sono, distúrbios do sono, ocorrência de pesadelos, uso de medicação para dormir e disfunção diurna (Örsal, et al., 2014). A qualidade do sono também afeta a capacidade cognitiva, como a velocidade de processamento, as habilidades verbais e a memória (Valenza, et al., 2013).

O sono é caracterizado por 3 fases, a primeira inclui o sono leve (estágios 1 e 2), a segunda refere-se ao sono profundo ou período NREM (Non Rapid Eye Movement) (estágios 3 e 4) e a terceira inclui o período REM (Rapid Eye Movement), que ocorre a partir da segunda metade do período de sono (Maggio, et al., 2013).

No processo de envelhecimento normal ocorrem alterações quantitativas e qualitativas na estrutura do sono. Inicialmente, há uma alteração no ritmo do sono, relacionada com o padrão e estrutura do sono. Com o envelhecimento, o tempo total de sono e o tempo em sono profundo diminui ou até pode ficar ausente. O número de despertares durante a noite aumenta, tornando-se mais difícil voltar a adormecer e há uma redistribuição de episódios de sono ao longo do dia (Almondes, 2013; Maggio, et al.,

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2013; Valenza et al., 2013 cit. por Örsal, et al., 2014). Um estudo em pessoas idosas institucionalizadas observou que 72% dos idosos dormem mal (Valenza, et al., 2013).

Ohayon e colaboradores (2004) realizaram uma metanálise a partir de 65 estudos, referindo que com o avanço da idade, os estágios 1 e 2 do sono NREM aumentam, enquanto a percentagem de sono de ondas lentas e o sono REM tendem a diminuir. Estas alterações estão relacionadas com mudanças na modulação circadiana, fatores homeostáticos e função endócrina (Maggio, et al., 2013).

De acordo com vários autores, as pessoas idosas relatam despertares mais precoces, dificuldade em manter o sono nas primeiras horas da manhã, aumento da latência de sono e diminuição da eficiência do sono (Buysse, Monk, Carrier, & Begley, 2005). Quanto à duração total de sono, verifica-se que o idoso apresenta valores na ordem das 6,5 horas de sono diárias (Wolkove, Elkholy, Baltzan, & Palayew, 2007). O tempo passado na cama é em média de 7,2 horas nos idosos, o que se traduz por uma diminuição da eficiência do sono (Buysse, et al,, 2005).O número de despertares noturnos encontra-se aumentado em relação aos adultos, encontra-sendo cerca de 5,8 no idoso (Dijk, Groeger, Stanley, & Deacon, 2010).

No entanto, quando o idoso apresenta sintomas diurnos, como hiperssonolência, a fadiga e a lentificação psicomotora pode significar que o sono não é saudável (Dijk, et al., 2010). A má qualidade do sono pode afetar negativamente as funções diárias, a qualidade de vida, a satisfação mental e espiritual e a saúde física. As dificuldades de interação com outras pessoas é um fator que contribui para a sua diminuição (Örsal, et al., 2014). Orhan e colaboradores (2012) referem que há uma correlação entre a má qualidade do sono e a depressão em pessoas idosas institucionalizadas. Além disso, a má qualidade do sono está associada à mortalidade, morbilidade, doenças cardiovasculares, doenças gastrointestinais e distúrbios metabólicos, como a resistência à insulina, diabetes mellitus tipo 2 e obesidade (Maggio, et al., 2013).

Devido a isso, mais de metade das pessoas idosas queixa-se de problemas de sono (Roepke & Ancoli-Israel, 2010). Os idosos apresentam maior prevalência de perturbações primárias do sono, incluindo doenças respiratórias, movimentos periódicos dos membros, síndrome das pernas inquietas, perturbações comportamentais do sono, insónia, perturbações do ritmo circadiano (Roepke & Ancoli-Israel, 2010). A prevalência de autorrelato de um sono de má qualidade em pessoas com idade superior a 60 anos aumenta até 40% (Geib, Cataldo Neto, Wainberg, & Nunes, 2003; Pandi-Perumal et al., 2002 cit. por Almondes, 2013) e a prevalência de insónia varia entre 6% e 44% (Örsal, et al., 2014).

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As perturbações do sono acarretam várias consequências negativas tais como alterações na atenção e na concentração, confusão mental, lentificação de reações motoras, fadiga, alterações gastrointestinais, ansiedade, depressão, alterações cardiovasculares e prejuízos nas relações interpessoais (Ohayon & Guilleminault, 2008 cit. por Almondes, 2013; Örsal, et al., 2014).

2.3.5 Atividade Física

A atividade física é definida como “qualquer movimento associado à contração muscular que faz aumentar o dispêndio de energia acima dos níveis de repouso” (Instituto do Desporto de Portugal, 2009, p. 7). Esta definição inclui a prática de atividade física em momentos de lazer, em casa, atividade física ocupacional e ligada ao transporte. De acordo com a sua intensidade, a atividade física pode ser classificada em três níveis: ligeira, moderada e vigorosa (Instituto do Desporto de Portugal, 2009).

De acordo com as diretrizes americanas para atividade física (U.S. Department of Health and Human Services, 2018), deve-se praticar pelo menos 150 minutos de atividade aeróbica de intensidade moderada ou 75 minutos de atividades aeróbicas de intensidade vigorosa, adicionando 2 ou mais dias de atividades de força muscular por semana. Recomenda-se a prática de uma atividade física específica, com determinada frequência e intensidade e objetivos a curto e longo prazo para ajudar a manter a motivação (Elsawy & Higgins, 2010; Lee, Jackson, & Richardson, 2017). Para reduzir o risco de quedas em pessoas idosas, também é recomendado a realização de exercícios que mantenham ou melhorem o equilíbrio. Além disso, para manter a amplitude articular e a mobilidade, deve-se realizar exercícios de flexibilidade, pelo menos 10 minutos em pelo menos 2 dias por semana (Nelson, et al., 2007). Segundo as Orientações da União Europeia para a Atividade Física é recomendado um mínimo de 30 minutos diários de atividade física moderada para as pessoas com mais de 65 anos (Instituto do Desporto de Portugal, 2009).

De acordo com o Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física, em Portugal, 17% dos adultos pratica atividade física de intensidade moderada, 1 a 3 dias por semana. Estes dados estão muito abaixo da média europeia, que se situa nos 29%. Quanto à atividade física de intensidade vigorosa, apenas 13% fá-lo entre 1 a 3 dias, sendo novamente um número abaixo dos 27%, na Europa. Entre os motivos mais prevalentes para a prática de atividade física, a população portuguesa escolheu o desejo de melhorar a saúde, melhorar a aptidão física e relaxar. Em relação às barreiras, os portugueses

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referiram a falta de tempo, a falta de interesse ou motivação e os custos associados ao desporto (Costa, 2018).

Segundo o Inquérito Nacional de Saúde com Exame Físico (2015), 83,6% da população portuguesa com mais de 65 anos apresenta um nível reduzido de exercício físico em atividades desportivas ou de lazer (DGS, 2016). Existem evidências que indicam que os custos de saúde em pessoas idosas inativas são substancialmente mais altos do que em pessoas idosas ativos e estes custos aumentam com a idade (Agency for Healthcare Research and Quality, 2017). Independentemente da prática da atividade física, diminuir o tempo sedentário tem benefícios cardiovasculares, metabólicos e funcionais (Lee, Jackson, & Richardson, 2017).

Na prescrição de exercício físico para pessoas idosas deve considerar-se o estado de saúde e a capacidade funcional do indivíduo (Lee, et al., 2017). Os indivíduos com mais de 65 anos devem praticar uma atividade física regular, adequada e personalizada de acordo com as suas necessidades (Elsawy & Higgins, 2010). A prática de atividade física regular é importante para um envelhecimento saudável, tendo benefícios no controlo de doenças crónicas, como a osteoartrite ou a doença cardiovascular (Lee, et al., 2017). Alguns estudos indicam que a atividade física ajuda pacientes com osteoartrite do joelho ou quadril a reduzir a dor e a aumentar a mobilidade, a força muscular, a flexibilidade das articulações e a resistência aeróbica (Lee, et al., 2017). Verifica-se também efeitos positivos da atividade física em pessoas idosas ao nível da regulação da glicose, composição corporal e controlo da pressão arterial. Em casos de obesidade a atividade ajuda a diminuir o peso cerca de 5% a 7%, de forma intencional (Lee, et al., 2017). Por outro lado, valores baixos ou a ausência de atividade física contribui para o aparecimento de doenças crónicas, incluindo doenças cardíacas, AVC, diabetes mellitus, doença pulmonar, doença de Alzheimer, hipertensão e cancro (Elsawy & Higgins, 2010).

Num estudo realizado por McCartney, Hicks, Martin & Webber, (1995 cit. por Elsawy & Higgins, 2010) concluiu-se que o treino resistido a longo prazo aumenta a força muscular, a massa muscular e a capacidade funcional de adultos saudáveis entre os 60 e 80 anos de idade. A atividade física permite ainda melhorar a função cognitiva, diminuir o risco de demência e reduzir o risco de delírio (Lee, et al., 2017; Yang, et al., 2008).

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2.3.6. Mobilidade e Equilíbrio

Sabe-se que um terço das pessoas idosas que vivem em comunidade cai pelo menos uma vez por ano (Kelley, Aaron, Hynds, Machado, & Wolff, 2014). As quedas representam a principal causa de morte por lesão, a causa mais comum de lesões não fatais e a causa mais provável de fraturas (Rossat, et al., 2010). Um estudo realizado por Rossat e colaboradores (2010) refere que o número de quedas por pessoa aumentou com a idade, institucionalização, polifarmácia, uso de drogas psicoativas, diminuição da mobilidade, uso de auxiliar de marcha, fraqueza muscular e medo de cair. O mesmo estudo refere que o risco de quedas é maior nas mulheres do que nos homens. A maioria das quedas em pessoas idosas ocorre quando estes realizam tarefas cognitivas e motoras associadas à marcha (Beauchet, et al., 2005). Em mulheres idosas e com maior nível de escolaridade, a mobilidade não está tão afetada como em mulheres idosas com menor escolaridade. O estudo realizado por Gomes e colaboradores (2015) concluiu que existe uma diminuição da velocidade da marcha em testes com dupla tarefa, nas mulheres idosas com menor escolaridade (Gomes, et al., 2015).

Para reduzir o risco de quedas (e lesões relacionadas) é recomendado realizar exercícios de equilíbrio e flexibilidade (Instituto do Desporto de Portugal, 2009). Alguns exemplos de exercício incluem caminhar para trás, para os lados, andar de calcanhares, manter-se em pé (Elsawy & Higgins, 2010). Como técnicas terapêuticas complementares, o Yoga parace ser um programa de exercícios ideal para melhorar o controlo postural, a mobilidade, reduzir o risco de quedas (Kelley, Aaron, Hynds, Machado, & Wolff, 2014). Quanto aos efeitos das técnicas de relaxação, Kim, Newton, Sachs, Glutting, e Glanz (2012) relataram aumento da mobilidade após sessões de imagética guiada.

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2.4 Gerontopsicomotricidade

A prática psicomotora dedicada à pessoa idosa, a gerontopsicomotricidade preserva e melhora as capacidades da pessoa idosa, adaptando-se às suas necessidades específicas. Desta forma, combate a imobilidade, a passividade, o isolamento, a dependência, a solidão tão característica nesta fase, quer no âmbito preventivo como terapêutico (Fernandes, 2014; Fonseca, 2001).

Na vertente terapêutica, a prática psicomotora baseia-se na renarcisação do corpo, ajudando-o a ultrapassar o luto de uma determinada imagem de si próprio, com a finalidade de restruturar uma nova identidade e um novo gosto de viver (Fernandes, 2014; Pitteri, 2000). Na terapia, a relação será uma relação transferencial, de transferência do paciente e contratransferência do terapeuta, num processo de ressonância tónico-emocional (Fernandes, 2014). A intervenção é baseada numa visão positiva da pessoa idosa e na desdramatização dos aspetos negativos da realidade e da insatisfação resultante. A verbalização e a comunicação corporal são fundamentais (Pitteri, 2000). O foco de qualquer terapia psicomotora está no corpo em relação, numa motricidade em relação e no idoso que habita o seu corpo em relação (Fernandes, 2014).

A reeducação psicomotora visa a restituição das habilidades psicomotoras, bem como a otimização da autonomia e a adaptação social da pessoa idosa (Ghantous, Abizeid, & Albaret, 2015). O olhar do psicomotricista é sobre as consequências das patologias orgânicas, em particular das doenças neurológicas, não esquecendo, as perturbações de marcha e de memória. Os objetivos centram-se ao nível da plasticidade neuronal, da motricidade e da reestruturação do esquema corporal (Pitteri, 2000). De acordo com Fernandes (2014), envolve a melhoria do equilíbrio, da regulação do movimento, da memória e das funções executivas.

A gerontopsicomotricidade utiliza o corpo e o movimento como mediadores da própria intervenção, através de técnicas de estimulação sensorial e de relaxação, do toque terapêutico, da expressão artística e emocional, ou de dinâmicas de grupo (Fernandes, 2014). A relaxação desempenha um papel importante na gerontopsicomotricidade. O relaxamento permite experienciar alterações no tónus muscular, o que leva a novas mudanças na forma de olhar o seu corpo. Esta técnica de mediação psicomotora tem propriedades preventivas, estimulando o somático, psíquico e o emocional. Permite que haja uma alteração da imagem do corpo para que esta seja aceite pelo idoso. Também ajuda o idoso a comunicar-se com o exterior. Enquanto a pessoa idosa vivia o seu corpo

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através da limitação física ou da dor, a relaxação irá servir de suporte para a compreensão mútua com o terapeuta. Esta compreensão mútua e empática irá consequentemente aumentar a autoestima e diminuir a somatização (Pitteri, 2000). O relaxamento pode ser uma oportunidade de reconciliação com o corpo, especialmente quando a pessoa se encontra num estado depressivo, ansioso ou recorrente (Pitteri, 2000).

Segundo Fernandes (2014), a gerontopsicomotricidade apresenta 4 características específicas que a delimita como práxis terapêutica de mediação corporal. A primeira caracteriza-se na diversidade de patologias que se pode intervir, tais como patologias somáticas que influenciam as funções relacionais associadas à sensorialidade, locomoção e comunicação, os problemas psiquiátricos, como a deterioração mental, a demência, a depressão, a psicose e neurose, ou os problemas neurológicos, como o AVC, a doença de Parkinson e a epilepsia (Fernandes, 2014). A segunda característica é sobre a importância dos objetivos terapêuticos. Um dos principais objetivos da intervenção psicomotora centra-se em aprimorar o corpo envelhecido, de forma a adquirir novas perceções e representações do seu corpo real e imaginário e consequentemente revalorizar a sua imagem corporal (Fernandes, 2014).

A terceira característica envolve a relação psicomotricista/idoso, onde o psicomotricista desempenha a função de continente corporal de forma a colmatar as fragilidades do eu-pele do idoso. A transferência que a pessoa idosa projeta no psicomotricista e a respetiva contratransferência, são fundamentais para criarem condições necessárias para a renarcisação e restruturação da pessoa idosa (Fernandes, 2014). A quarta característica refere que por detrás de um problema físico e dos seus sintomas pode esconder-se um problema psicológico. Por exemplo, em pessoas idosas com alterações no equilíbrio ou na marcha são muitas vezes a expressão de problemas ansiosos, depressivos, ou neuróticos (Fernandes, 2014).

Há alguns anos atrás questionava-se a pertinência da terapia psicomotora em pessoas idosas, uma vez que estas pessoas já estavam a viver o fim da sua vida (Pitteri, 2000). No entanto, compreendeu-se a importância e a pertinência da gerontopsicomotricidade complementando os cuidados médicos. Apesar da intervenção em Geriatria ainda ter um logo percurso a percorrer, os psicoterapeutas já desenvolvem estudos e aplicam os seus conhecimentos na área do Alzheimer e em ferramentas para avaliar as potencialidades das pessoas idosas (Potel, 2012). Nos serviços hospitalares,

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psicomotricidade têm sido uma mais-valia para aliviar e reduzir o sofrimento em pessoas idosas com cancro (Potel, 2012).

Em Portugal, também se realizaram alguns estudos que visam compreender os efeitos da gerontopsicomotricidade através da aplicação de um programa de intervenção primária, baseado em áreas afetadas que decorrem do processo normal de envelhecimento (Oliveira, Carvalho, & Cardoso, 2015). Os autores concluíram que existem efeitos benéficos ao nível dos fatores psicomotores, nomeadamente ao nível das capacidades cognitivas específicas, da motricidade global, equilíbrio e marcha (Oliveira, Carvalho, & Cardoso, 2015). Um outro estudo revela resultados positivos nos domínios motor, percetivo e cognitivo, após um programa específico de gerontopsicomotricidade sobre a capacidade de condução automóvel de pessoas idosas. Observou-se melhorias na atenção visual, dupla-tarefa, velocidade comportamental, entre outros (Marmeleira, 2015). Em cuidados paliativos, já se realiza um trabalho de acompanhamento sensorial, que complementa os cuidados médicos (Potel, 2012), procurando reduzir a dor e amenizar o sofrimento através de técnicas de relaxação.

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2.5 Relaxação

De acordo com Guiose (2015) a relaxação consiste em “técnicas psico-corporais que tocam a organização tónica de um indivíduo, influenciando a diminuição do nível de vigilância e precipitando uma modificação dos estados de consciência.” O objetivo destas técnicas é regular e harmonizar as funções fisiológicas e psicológicas (Guiose, 2015). Martins (2001) conceptualiza a relaxação como uma prática de mediação corporal com intencionalidade psicoterapêutica, dado que envolve um conjunto de processos dirigidos à pessoa, no âmbito da sua dupla realidade interna e externa. A relaxação psicoterapêutica tem como objetivo através da auto-observação, encontrar a ligação verbal com o que foi experienciado e também encontrar a ligação transferencial com o terapeuta. O paciente deve atribuir um valor e um significado através da palavra, expressando aquilo que vivenciou (Martins, 2001).

As primeiras técnicas de relaxação de referência surgiram em 1928, nos Estados Unidos e em 1932 na Europa. Jacobson (1928) influenciado pela descoberta da relação entre a emoção e as reações neuromusculares desenvolve a Relaxação Progressiva. Schultz (1932), a partir da abordagem psicanalítica e de estudos sobre a hipnose, cria o Treino Autógeno (Guiose, 2015).

Nos anos seguintes, foram vários os métodos e técnicas de relaxação que surgiram de forma a dar resposta a perturbações, sinais e sintomas. A partir da abordagem psicanalítica, os métodos utilizados na psicoterapia procuram promover o aparecimento do psíquico, onde a função tónica é interpretada como uma comunicação emocional, um diálogo tónico (Guiose, 2015). Na abordagem cognitivo-comportamental, a finalidade dos métodos de relaxação consiste na modificação do comportamento como é o caso do Mindfulness (Guiose, 2015).

As técnicas de relaxação incluem o Treino Autógeno, o Biofeedback, Exercícios Respiratórios, Imagética Guiada, a Relaxação Progressiva e a auto hipnose ( National Center for Alternative and Complementary and Integrative Health, 2017). No entanto, poderá referir-se, entre outros métodos e técnicas, a Eutonia, a Relaxação Ativo-Passiva e o Mindfullness.

Nos Estados Unidos, as terapias mente-corpo incluem as técnicas de relaxação

yoga, tai chi e qigong, sendo utilizadas por 16,6 % dos adultos (Bertisch, Wee, Philips,

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participantes utilizam técnicas de relaxação, sendo que 26% procuram estas técnicas para o tratamento da ansiedade e depressão.

O Processo Corporal da relaxação

Corporalmente, a relaxação irá reduzir a atividade do sistema nervoso simpático, ativando o sistema nervoso parassimpático (Halm, 2009), dando uma resposta oposta à resposta de “luta ou fuga”, ativada em situações de stress e ansiedade.

De acordo com Gucy e Crête-Charbonneau (1998) as principais alterações fisiológicas da relaxação acontecem ao nível das reações cardíacas, através da diminuição do ritmo cardíaco e do aumento da circulação sanguínea periférica. No córtex cerebral, há um aumento do ritmo alpha e há uma sincronização coerente da repartição da atividade

alpha no cérebro. Quanto às reações bioquímicas, durante a relaxação, há uma diminuição

da resposta aos recetores adrenérgicos, diminuição do colesterol, cortisol e alteração do óxido nítrico, diminuição do lactato e aumento da serotonina. Na respiração, há uma diminuição do ritmo respiratório, do consumo de oxigénio e eliminação do dióxido de carbono. Quanto ao tónus muscular existe uma descontração muscular (Dusek & Benson, 2009; Guiose, 2015).

Os efeitos psicológicos da relaxação consistem em modificações do comportamento e em experiências subjetivas. No comportamento, há um aumento da capacidade percetiva, relaxamento das respostas percetivas e emocionais ao meio ambiente, aumento da empatia e diminuição da ansiedade. Quanto às experiências subjetivas, há uma maior tranquilidade do espírito e do corpo, um comportamento mais estável, alterações na imagem corporal, aumento da energia e excitação, aumento da felicidade e também relatos de perturbações percetivas (Gucy & Charbonneau, 1998). Como refere Lehrer, Woolfolk e Sime (2007) os estado de relaxação proporcionam emoções positivas, tais como, sentir-se calmo, alegre, otimista, com energia, revigorado e grato.

Ao nível cognitivo, a relaxação irá ativar a insula e o córtex cingulado, ambos responsáveis pelo sistema interoceptivo (Craig, 2015), que tem como objetivo compreender e processar os sinais fisiológicos que se originam no corpo. A frequência cardíaca, respiração, temperatura, toque afetivo, fadiga, fome, tonús muscular e dor são exemplos desses sinais corporais (Ceunen et al., 2016; Craig & Craig, 2009 cit. por Marmeleira & Veiga, 2018).

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A relaxação através de técnicas como o Mindfulness irá produzir melhorias na consciência corporal, autorregulação emocional e bem-estar psicológico, ao desenvolver a perceção e a interoceptividade (Marmeleira & Veiga, 2018). A relaxação proporciona um aumento da atenção e consciência do próprio corpo, dos segmentos corporais e das sensações provenientes deste (Michalak, Burg, & Heidenreich, 2012). Esta técnica psico-corporal permite vivenciar momentos de observação e escuta do próprio corpo, com a finalidade de o paciente distinguir a realidade exterior e interior (Martins, 2001). E assim, melhorar a consciência das alterações dos estados corporais, nomeadamente, dos estados emocionais (Veiga & Marmeleira, 2018).

Pertinência das técnicas de relaxação

Quanto à eficácia das técnicas de relaxação, estudos indicam melhorias em várias condições médicas. Park, Han, e Kang (2014) e Bertisch, et al. (2010) identificaram benefícios ao nível da dor (de cabeça, no pescoço, nas costas, odontológica e dor no parto.), da hipertensão, insónias, depressão, ansiedade, stress, doenças cardíacas, doença intestinal, alergias, entre outras.

As técnicas de relaxação podem reduzir a ansiedade em pessoas com doenças cardíacas (Halm, 2009). Contudo, um estudo observou que em pessoas com Perturbação de Ansiedade Generalizada, as técnicas de relaxação não são uma opção adequada para um tratamento a longo prazo (Cujipers, et al., 2014). Na depressão, existem evidências científicas que mostram a sua eficácia na redução e controlo dos sintomas (Jorm, Morgan, & Hetrick, 2008).

Quanto à dor de cabeça e enxaquecas, estudos evidenciaram diminuição da dor em intervenções utilizando técnicas de relaxação, sendo a mais eficaz o biofeedback (Nestoriuc, Martin, Rief, & Andrasik, 2008). Na diminuição da dor aguda e crónica, as técnicas de relaxação parecem ter efeito (Vickers, Zollman, & Payne, 2001). Estudos sugerem que a imagética guiada é uma das técnicas que pode reduzir a dor musculoesquelética (Posadzki & Ernst, 2011) e outros tipos de dor (Posadzki, Lewandowski, Terry, Ernst, & Stearns, 2012), sendo as evidências inconclusivas.

As técnicas de relaxação também são eficazes durante o parto, na diminuição e controlo da dor (Smith, et al., 2018). Na menopausa e em cólicas menstruais, os estudos não evidenciaram conclusões consistentes (Innes, Selfe, & Vishnu, 2010).

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Figura 1. Diagrama de fluxo da amostra
Tabela 1. Características sociodemográficas da amostra
Figura 2. Escala Visual Analógica
Figura 4. Sala de Relaxação 1  Figura 5. Sala de Relaxação 2
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Referências

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