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EMPREGO E DESEMPREGO DOS JOVENS NO BRASIL DOS ANOS 90

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EMPREGO E DESEMPREGO DOS JOVENS

NO BRASIL DOS ANOS 90

1

Marcio Pochmann2

A situação do jovem no mercado de trabalho brasileiro nos anos 90 sofreu profundas modificações. Em função disso, procurou-se destacar os principais efeitos das recentes transformações do mercado de trabalho sobre o padrão de inserção ocupacional do jovem brasileiro. O texto encontra-se dividido em duas distintas partes. A primeira trata das principais alterações gerais no mercado de trabalho brasileiro nos anos 90. A segunda parte refere-se à evolução do mercado de trabalho especialmente do segmento juvenil ao longo da década de 1990.

1 O COMPORTAMENTO GERAL DO MERCADO DE TRABALHO NO BRASIL DOS ANOS 903

A partir da década de 1990, pode-se verificar três sinais evidentes de transformação geral no mercado de trabalho brasileiro, através (i) de altas taxas de desemprego, (ii) do desassalariamento (perda de participação dos empregos assalariados no total da ocupa-ção) e (iii) da ampliação das ocupações não assalariados, geralmente precários e de baixa produtividade. Durante essa década, observa-se que para cada 10 postos de trabalho abertos, 8 são não-assalariados e 2 assalariados, ambos sem registro4.

1 Primeira versão para ABEP, em junho de 1998.

2 Professor do Instituto de Economia (IE) e Pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (CESIT) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

3 Os dados das PNADs ajustadas desde 1989, encontram-se definidos em Po-chmann, 1998.

4 Para maiores detalhes sobre as alterações no mercado de trabalho brasileiro ver: Pacheco & Pochmann, 1997; Pochmann, 1997; Salm et al., 1997.

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Depois de registrar indicadores de desemprego relativa-mente comprimidos ao longo da década de 1980, o Brasil passou a conviver com altas taxas de desemprego nos anos 90. Por força da recessão econômica, entre 1981 e 1983, as taxas de desemprego tinham crescido rapidamente, voltando a cair no período de 1984/86, com a recuperação do nível de atividade. A partir da estagnação da renda per capita nos três últimos anos da década, as taxas de

desem-prego voltaram a subir um pouco mais.

Na década de 1990, entretanto, o fenômeno do desemprego assumiu uma das principais características da evolução da População Economicamente Ativa. Independente das diferenças metodológicas utilizadas na apuração do desemprego no Brasil, percebe-se que as várias taxas de desemprego existentes apresentam-se atualmente muito superiores as do final dos anos 805.

Além do crescimento da taxa nacional de desemprego nos anos 90, observa-se também que, segundo as informações pro-duzidas pela FIBGE/PNAD, todas as regiões geográficas brasileiras apresentam taxas de desemprego que são, no mínimo, o dobro das apuradas no final dos anos 80. Em virtude disso, não há consistência nos argumentos que procuram negar o fenômeno do desemprego no Brasil.

O aumento do desemprego decorre, como não poderia deixar de ser, do crescimento superior da População Economicamente Ativa à geração de postos de trabalho em todo o país. Entre 1989 e 1996, por exemplo, a expansão das ocupações totais no Brasil foi de 11,4%, enquanto a PEA total aumentou 16,5%, influenciando direta-mente o aumento do desemprego em 170,1%.

Em outras palavras, destaca-se que nos anos 90 foram abertos anualmente, em média, 951,4 mil postos de trabalho. Essa quantidade foi insuficiente para atender o ingresso de 1.417,1 mil pessoas ativas, em média, a cada ano, gerando, por conseqüência, o aumento do desemprego de 465,7 mil pessoas em média ao longo dos 5 Sem desconhecer o debate atual que se desenvolve no país acerca das metodologias e dos conceitos de emprego e desemprego, optou-se por utilizar como indicativo do conjunto de desempregados no país os dados das PNADs, apesar das deficiên-cias metodológicas. A discussão em torno da mensuração do desemprego no Brasil pode ser vista em: Troyano et al., 1985; DIEESE/FSEADE, 1995; Dedecca, 1996;

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anos 90. O número de postos de trabalhos abertos representou apenas 67,1% da massa de trabalhadores que procura trabalho.

Gráfico 1 BRASIL

EVOLUÇÃO DA TAXA DE DESEMPREGO* POR REGIÕES GEOGRÁFICAS,

1989 E 1996 (EM %)

Fonte: FIBGE/PNADs ajustadas. * Procura de trabalho. Elaboração própria.

Além das informações nacionais, podem ser constatadas diferenças regionais importantes nos anos 90, como (i) a maior expan-são da PEA ocupada na Região Norte (48,0%) e a menor na Região Sudeste (7,6%), (ii) o menor aumento do desemprego na Região Nordeste (136,0%) e o maior na Região Norte (321,0%) e (iii) o maior crescimento da PEA total na Região Norte (56,5%) e o menor na Região Sudeste (13,2%). A dinâmica demográfica regional possui relevância na explicação desses dados, assim como o comportamento econômico local, pois exerce impactos diretos sobre a abertura e/ou fechamento dos postos de trabalho6.

3 3,1 3,2 3,2 2,4 2,6 7,3 8,4 6,5 8 5,7 8,4 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

1989 1996

6 Sobre a dinâmica econômica regional ver: Cano, 1997; Guimarães Neto, 1995; Pacheco, 1996.

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1.1 O fenômeno do desassalariamento nos anos 90

A evolução da PEA ocupada durante os anos 90 apresentou três importantes alterações:

i) queda na participação relativa do setor secundário no total da ocupação;

ii) redução na participação relativa dos empregos assala-riados no total da ocupação;

iii) diminuição na participação relativa dos empregos assa-lariados com registro no total dos assaassa-lariados.

Segundo dados das PNADs ajustadas pode-se observar que para o aumento da ocupação total de 11,4% houve crescimento supe-rior das ocupações no setor terciário (22,3%), elevação insignificante da ocupação no setor primário (0,5%) e queda nas ocupações do setor secundário (2,2%). Essa modificação na composição da ocupação não se mostrou uniforme entre as grandes regiões geográficas.

Gráfico 2 BRASIL

EVOLUÇÃO DA TAXA DE ASSALARIAMENTO POR REGIÕES GEOGRÁFICAS,

1989 E 1996 (EM %)

Fonte: FIBGE/PNADs ajustadas. Elaboração própria. 66 67,5 54,5 75 58,3 68,2 63,2 67,7 51,2 71,5 58,7 67,5 0 10 20 30 40 50 60 70 80

Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

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A drástica redução na ocupação do setor secundário na Região Sudeste (9,6%) – principal pólo industrial do país – não foi compensada pela elevação da ocupação no mesmo setor nas outras regiões geográficas. Ao mesmo tempo, a expansão das ocupações no setor terciário (22,3%) ocorreu fortemente estimulada pelas Regiões Norte (51,2%), Nordeste (28,9%) e Sul (22,7%).

Em relação ao setor primário, há evidências que a queda na ocupação nas Regiões Sul (11,4%) e Sudeste (1,3%) tenha sido mais do que compensada pela elevação nas Regiões Nordeste (14,4%) e Centro-Oeste (12,7%). Nos anos 90, a ocupação no setor primário manteve-se estabilizada no Brasil, apontando para sua diminuição no total da ocupação, assim como o setor secundário.

Por outro lado, cabe destacar que, nos anos 90, o fortale-cimento do fenômeno do desassalariamento no Brasil se constituiu numa novidade quando comparada à evolução ocupacional das últimas 6 décadas. O desassalariamento decorre muito mais do comportamen-to do mercado de trabalho nas Regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste, pois nas Regiões Sul e Norte o assalariamento manteve-se praticamente inalterado.

Gráfico 3 BRASIL

EVOLUÇÃO DAS OCUPAÇÕES POR REGIÕES GEOGRÁFICAS,

1989 E 1996 (EM %)

Fonte: FIBGE/PNADs ajustadas. Elaboração própria. 6,8 7,5 2,6 15 36 138,3 45 50,8 69,4 11,6 10,9 42,3 12,7 11,3 24,2 58,9 18,9 2,5 0 20 40 60 80 100 120 140

Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Assalariado Conta Própria Não-Remunerado

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A perda de participação dos empregos assalariados no total da ocupação tem sido fortemente influenciada pela redução dos empregos assalariados com registro. Os empregos assalariados sem registro conti-nuaram aumentando nos anos 90, porém com taxas reduzidas, incapazes de compensar a perda dos empregos assalariados com registro.

No que diz respeito à composição das ocupações, pode-se observar a força da expansão do trabalho por conta própria e das ocupações não-remuneradas no Brasil dos anos 90. Em termos das grandes regiões geográficas, verifica-se uma tendência generalizada de expansão dos postos de trabalho não-assalariados.

Para cada um emprego assalariado gerado entre 1989 e 1996 houve um aumento de 1,6 ocupações não-assalariadas no Brasil. Essa relação foi mais elevada nas Regiões Sudeste (2,9 vezes) e Nordeste (2,5 vezes), enquanto nas demais regiões ela foi menor, como no Sul (0,5 vezes), Centro-Oeste (0,6%) e Norte (0,7 vezes).

2 A EVOLUÇÃO DO MERCADO DE TRABALHO DOS JOVENS

A evolução da População Economicamente Ativa juvenil ocupada nos anos 90 registrou importantes modificações. O estoque de jovens trabalhadores ocupados com idade entre 10 e 24 anos no período recente perdeu, por exemplo, cerca de 861,7 mil postos de trabalho no período de 1989 a 1996, o que significou o desaparecimento médio anual de 123,1 mil vagas.

Tabela 1 BRASIL

VARIAÇÃO DA PEA JUVENIL OCUPADA, 1989/96

Faixa etária 1989* 1996* Variação (%)

10-14 anos 2.856,7 2.468,5 –13,6

15-19 anos 7.579,0 7.080,6 –6,6

20-24 anos 8.484,9 8.509,8 –0,3

10-24 anos 18.920,6 18.058,9 –4,6

Fonte: FIBGE – PNADs ajustadas. * em mil.

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A diminuição de 4,6% na ocupação juvenil foi fortemente influenciada pela redução dos postos de trabalho para crianças entre 10 e 14 anos de idade (13,6%). Do total de ocupações perdidas nos anos 90, 388,2 mil ocorreram na faixa de idade de 10 a 14 anos, o que significou a responsabilidade por 45,5% do total da ocupação destruída.

Da mesma forma, o segmento formada por jovens ocupa-dos com idade entre 15 a 19 anos também foi fortemente atingido pela compressão das vagas nos anos 90, pois perdeu 498,4 mil postos de trabalho. Esse mesmo segmento foi responsável por 54,5% do total das ocupações perdidas entre os anos de 1989 e 1996.

Somente os jovens trabalhadores com idade entre 20 e 24 anos registraram uma evolução positiva na ocupação, pois foram criados 24,9 mil novas vagas. Apesar de positiva, a variação na ocupa-ção desse mesmo segmento de jovens foi acumulada de apenas 0,3% nos anos 90.

Em função das distintas variações nos postos de trabalho dos jovens foram observadas alterações significativas na composição ocupacional. Os menores de 14 anos, por exemplo, tiveram reduzida sua participação relativa no total dos postos de trabalho juvenil de 15,1% em 1989 para 13,7% em 1996.

Gráfico 4 BRASIL

EVOLUÇÃO DA COMPOSIÇÃO DO TOTAL DA OCUPAÇÃO JUVENIL, 1989/96

Fonte: FIBGE – PNADs ajustadas. 15,1 13,7 40,1 39,3 44,8 47,1 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 1989 1996 10 a 14 15 a 19 20 a 24

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Os jovens entre 20 e 24 anos de idade aumentaram, por conseqüência, sua participação relativa no total da ocupação juvenil de 44,8% em 1989 para 47,1% em 1996. Já os jovens na faixa etária de 15 a 19 anos perderam participação relativa de 40,1% para 39,3% no mesmo período de tempo.

Em relação à evolução do emprego formal, verifica-se também uma forte redução no nível ocupacional. Nos anos 90, foram destruídos 2.470 mil de empregos formais, sendo 1,7 milhão (70,7%) referente aos trabalhadores com idade entre 10 e 24 anos de idade.

De acordo com os dados gerados pelo Ministério do Traba-lho, observa-se que o forte ajuste no mercado de trabalho formal concentrou-se fundamentalmente sobre a força de trabalho juvenil, que perdeu 3 a cada 11 empregos existentes no período recente. Durante a década de 1990, o nível de emprego formal para jovens foi reduzida em 27%.

As poucas oportunidades de trabalho que foram abertas no Brasil tenderam a se concentrar nas pequenas e micro empresas. Para se ter uma idéia, basta observar que durante os anos 90, as empresas com mais de 250 empregados foram responsáveis por um

Tabela 2 BRASIL

EVOLUÇÃO DO EMPREGO FORMAL POR FAIXA ETÁRIA, 1989/95

Tamanho 10 a 14 anos 15 a 17 anos 18 a 24 anos

Empresa 1989 1995 Var. 1989 1995 Var. 1989 1995 Var.

Até 19 26.829 12.395 –53,8 309.903 251.041 –19,0 1.288.120 1.492.594 –15,9 20 a 99 23.033 8.518 –63,0 233.103 132.008 –43,4 1.214.192 1.071.608 –11,7 100 a 499 22.167 7.048 –68,2 196.116 96.960 –50,6 1.323.694 924.427 –30,2 Mais 499 17.806 4.350 –75,6 163.772 68.051 –58,4 1.653.689 990.371 –40,1 Total 89.835 32.411 –64,0 902.894 548.060 –39,3 5.479.695 4.414.547 –19,4 Fonte: MTb – RAIS.

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saldo negativo de 1,0 milhão de postos de trabalho para as pessoas com menos de 24 anos de idade, enquanto as empresas com até 20 empre-gados apresentaram um saldo positivo de 131,2 mil novos empregos em todo o País.

Especialmente para os jovens entre 18 a 24 anos houve uma elevação de 204,5 mil postos de trabalho assalariados com cartei-ra assinada nas empresas com menos de 20 empregados. Cabe desta-car, entretanto, que as pequenas e micro empresas são tradicio-nalmente conhecidas como geradoras de condições precárias de traba-lho, de baixos salários e de elevada instabilidade contratual (a taxa de demissão é de 72% para os jovens e de 34% para pessoas com mais de 40 anos), segundo as informações do Ministério do Trabalho.

Gráfico 5 BRASIL

COMPOSIÇÃO DO EMPREGO FORMAL DOS JOVENS

1989/95

Fonte: MTb – RAIS.

A queda no peso dos empregos formais no total foi sensível nos anos 90. Em 1989, os trabalhadores entre 10 e 24 anos repre-sentavam 26,4% do emprego formal total, e em 1995, passaram para 19,9%, segundo dados do Ministério do Trabalho.

AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA 0,4 0,1 3,7 2,3 22,4 18,6 26,4 19,9 0 5 10 15 20 25 30 1989 1995 X 10 a 14 15 a 19 20 a 24 AA AA AA Total

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A forte diminuição no estoque de empregos formais para jovens não foi contrabalançada plenamente pela expansão tanto das ocupações assalariadas sem registro quanto dos postos de trabalho não-assalariados (sem remuneração, conta própria e empregador) nos anos 90. Na ocupação assalariada sem registro e os postos de trabalho não-assalariados foram gerados um saldo de 885,8 mil vagas, contra a perda de um saldo de 1,7 milhões de empregos formais. O saldo negativo na ocupação total nos anos 90 foi de 885,8 mil postos de trabalho (4,6% da PEA ocupada).

Com isso, percebe-se que o jovem brasileiro vem perdendo espaço no emprego formal. As alternativas ocupacionais, além de insuficientes ao contingente de jovens que ingressam no mercado de trabalho anualmente, concentram-se no assalariamento sem carteira e ocupações não-assalariadas.

2.1 O desemprego juvenil

Apesar da desaceleração na taxa de participação dos jovens na População Economicamente Ativa, observa-se nos anos 90 uma forte elevação no desemprego. Em grande medida, o crescimento do desemprego refere-se a maior escassez de postos de trabalho.

Tabela 3 BRASIL

EVOLUÇÃO DA COMPOSIÇÃO OCUPACIONAL DOS JOVENS (10 A 24 ANOS)

Ocupação 1989 1996 Variação +

Absoluta* Relativa# Absoluta* Relativa# Absoluta* Relativa#

Total 18.920,6 100,0 18.058,9 100,0 –861,7 –4,6

Assalariados 12.487,6 66,0 11.413,2 63,2 –1.074,4 –8,6

Formal 6.472,4 34,2 4.724,9 26,2 –1.747,5 –27,0

Informal 6.015,2 31,8 6.688,3 37,0 673,1 11,2

Não-assalariados 6.433,0 34,0 6.645,7 36,8 212,7 3,3

Fonte: FIBGE – PNADs ajustadas. * em mil; # em %.

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Para definir o fenômeno do desemprego juvenil, a litera-tura especializada tem utilizado o conceito de desemprego de inser-ção7. Na realidade, trata-se da crescente dificuldade do jovem se

integrar no mercado de trabalho, nas formas tradicionais de ocupação adulta.

Por conta disso, o jovem termina sendo marginalizado no mercado de trabalho, com problemas tanto para encontrar o seu primeiro emprego quanto para se manter num emprego regular. As oportunidades existentes são, muitas vezes, associadas às ocupações parciais, atípicas, não-assalariadas e assalariadas sem registro, além, é claro, do desemprego em larga escala.

Embora não seja uma especificidade brasileira, as dificul-dades de elevar o volume de emprego para os jovens tornaram-se expressivas nos anos 90. Conforme pode-se perceber da tabela ante-rior, entre 1989 e 1996, a quantidade de desempregados na faixa etária de 10 a 14 anos de idade aumentou 136,3%, o que significou uma variação média anual de 13,1%.

O desemprego apresentou maior taxa de variação na faixa etária de 10 a 14 anos de idade (17,8% como média anual), seguida da faixa de 15 a 19 anos de idade. Para os jovens entre 20 e 24 anos, o desemprego aumentou 101,8%, o equivalente a variação média anual 10,6% entre 1989 e 1996.

Tabela 4 BRASIL

VARIAÇÃO DA PEA JUVENIL DESEMPREGADA, 1989/96

Faixa etária 1989* 1996* Variação (%)

10-14 anos 105,7 333,6 215,6

15-19 anos 460,1 1.167,9 153,8

20-24 anos 475,6 959,7 101,8

10-24 anos 1.041,4 2.461,2 136,3

Fonte: FIBGE – PNADs ajustadas. * em mil.

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Gráfico 6 BRASIL

TAXAS DE DESEMPREGO JUVENIL, 1989/96

Fonte: FIBGE – PNADs ajustadas.

Gráfico 7 BRASIL

TAXAS DE DESEMPREGO NA FAIXA DE 10 A 14 ANOS DE IDADE

EM 1996

Fonte: FIBGE – PNADs ajustadas. AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAA AAA AAA AAA AAA AAA AAA AAA AAA AAA AAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAA AAA AAA AAA AAA AAA AAA AAA AAA AAA AAA AAA AAA AAA AAA AAA AAA AAA AAA AAA AAA AAA AAA AAA AAA AAA 3,6 11,9 5,7 13,9 5,3 10,1 5,2 12,8 0 2 4 6 8 10 12 14 1989 1996 10 a 14 15 a 19 20 a 24 AA AA10 a 24 13,5 5,2 20,2 10,1 19 0 5 10 15 20 25

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Dos 1.419,8 mil jovens que ficaram desempregados nos primeiros 7 anos da década de 1990, 707,8 mil pessoas pertenciam à faixa etária de 15 a 19 anos de idade (49,9% do total), seguido de 484,1 mil pessoas da faixa etária de 20 a 24 anos (34,1% do total). No intervalo etário de 10 a 14 anos, o desemprego aumentou em 227,9 mil pessoas (16,0% do total).

Em relação a taxa de desemprego, verifica-se que entre os jovens ela assume proporções expressivas no plano nacional, pois entre 1989 e 1996, ela passou de 5,2% para 12,8%. No mesmo período de tempo, a taxa total de desemprego, segundo a Pesquisa Nacional por Amostras a Domicílio aumentou de 3,0% para 7,2%.

A maior ampliação do desemprego juvenil concentrou-se mais na faixa etária de 15 a 19 anos, pois passou de 7,7% em 1989 para 13,9% em 1996. A menor taxa de desemprego situou-se na faixa etária de 20 a 24, que era 5,2%, em 1989, e passou para 10,1% em 1996.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os traços gerais das recentes modificações foram aponta-das nas páginas anteriores, especialmente no que diz respeito ao fenômeno do desemprego aberto entre os jovens. Com isso, foi possível observar que o padrão de inserção do jovem foi alterado drasticamente nos anos 90.

A condição de desemprego encerra uma nova fase para os trabalhadores jovens, que pode ser identificada através de três distin-tas definições de trabalhadores sem emprego. O desemprego recorrente

que compreende, numa primeira aproximação, a definição do caso dos trabalhadores com menos idade que, diante da ausência de emprego estável, assumem uma condição de freqüentemente desempregados. Ora encontram-se numa ocupação de curto prazo (instável e precária), através de postos de trabalho assalariados atípicos, de tempo parcial e sem registro, ora como autônomo, com trabalhos ocasionais, a domicílio etc. São situações, em geral, associadas à flexibilidade

quan-titativa do mercado de trabalho, de uso pontual da força de trabalho jovem.

A segunda definição diz respeito ao desemprego de reestru-turação empresarial. Em outras palavras, seria o desemprego

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ocasio-nado pelas alterações no interior das empresas, devido à introdução de novos programas de gestão da produção e de organização do trabalho ou mesmo devido a ruptura das cadeias produtivas, que tem levado à destruição de parte da produção industrial brasileira ao longo dos anos 90.

Deve-se destacar que nas grandes empresas, principal-mente, alguma forma de inovação tecnológica foi adotada, o que contribuiu, por conseqüência, para a concentração das demissões de trabalhadores mais jovens. Durante a década de 1990, 2/3 das demis-sões do emprego formal no Brasil ocorreram entre os trabalhadores com menos de 24 anos. Esse segmento dos trabalhadores passou a ser identificado como desempregados da restruturação empresarial nos anos 90.

Por fim pode ser definido o desemprego de exclusão, que refere-se ao trabalhador jovem que tende a permanecer marginalizado do mercado de trabalho, especialmente das ocupações que são geradas no núcleo organizado da economia nacional. Na maior parte das vezes, trata-se do trabalhador jovem analfabeto ou com baixa escolaridade, que tende a estar excluído de uma melhor situação de empregabilida-de.

Todas essas novas definições de desemprego referem-se ao movimento mais geral de desestruturação do mercado de trabalho brasileiro nos anos 90. Além do desemprego, também podem ser destacadas tanto as crescentes dificuldades do jovem encontrar o seu primeiro emprego quanto o aparecimento de postos de trabalho pre-cários como forma de acesso e permanência no mercado de trabalho.

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Referências

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