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A borboleta : a metamorfose pela educação em um relato de experiência

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

CURSO DE LICENCIATURA EM DANÇA

LARISSA DE ARAÚJO SILVA

A BORBOLETA

A METAMORFOSE PELA EDUCAÇÃO EM UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

NATAL 2019

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LARISSA DE ARAÚJO SILVA

A BORBOLETA

A METAMORFOSE PELA EDUCAÇÃO EM UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Artigo apresentado para compor a avaliação final do Curso de Licenciatura em Dança da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciada em Dança.

Orientadora: Profª. Ms. Renata Celina de Morais Otelo

NATAL 2019

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LARISSA DE ARAÚJO SILVA

A BORBOLETA:

A METAMORFOSE PELA EDUCAÇÃO EM UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Artigo apresentado para compor a avaliação final do Curso de Licenciatura em Dança da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciada em Dança.

Natal, ______ de__________de 2019.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________ Profª. Ma. Renata Celina de Morais Otelo (Orientador) Orientadora - Universidade Federal do Rio Grande do Norte

__________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Karenine de Oliveira Porpino (Examinador)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

__________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Larissa Kelly de Oliveira Marques (Examinador)

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AGRADECIMENTOS

Sou grata primeiramente a Deus pelo dom da vida, por ser a luz que guia meus passos. À minha avó Maria de Lourdes Araújo por ser um grande exemplo de mulher para nossa família, por ter cuidado de mim e da minha irmã, mesmo quando a dificuldade batia a porta.

Minha mãe Jucileide Araújo, por ser a minha maior inspiração, por nunca desistir de mim e acreditar nos meus sonhos, mesmo quando eu deixei de acreditar, por sempre mover montanhas por mim e minhas irmãs. Eu sempre te amarei e sempre moverei montanhas por você mãinha!

Minhas irmãs Lariana pelo amor e preocupação comigo e Lavínia por ser o motivo do meu sorriso, amor e desejo de aprender mais sobre dança para criança.

Minhas tias Elisônia e Elitânia por todo o amor e cuidado que tiveram comigo desde a minha infância.

Aos meus amigos de vida, Ariadna Cunha, Cléo Morais, Franco Fonseca, Gabriela Marinho, Naara Martins, Pablo Vieira, Renata Santos e Willy Moreira por todo amor, carinho, ajuda e cuidado, vocês são meu núcleo duro!

Minhas professoras de dança Barbara e Michele, que foram minhas inspirações ainda quando eu era ovo.

À Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pela oportunidade e espaço de construir conhecimento e ter me presenteado com as lindas borboletas Larissa Marques, Karenine Porpino, Patrícia Leal, Teodora Alves, que só me acrescentaram e acreditaram que eu lagarta, depois da crisálida voaria.

À Turma de 2015.1, especialmente aos amigos federais: Eliamary Silva, Jonathan Varela, Leonardo Macedo, Luciano Silva, Luana Lopes, Priscila Macena, Silas Braúna, pelos trabalhos em grupo, pelos momentos dentro e fora da Universidade, pelo companheirismo e por se tornarem pessoas de grande importância na minha vida para além dos muros acadêmicos.

Minha maravilhosa orientadora, Renata Otelo, que acreditou e teve toda a paciência para me ajudar a ser a borboleta, quando eu ainda na crisálida tive medo de prosseguir, me conduziu de maneira primordial nesse trabalho. Obrigada!

Enfim, a todos que contribuíram e/ou contribuem de alguma maneira para minha formação acadêmica, pessoal e artística.

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“A maioria das pessoas que têm o sucesso como marca em suas trajetórias, decidiram, um dia, que iriam realizar seus objetivos independentemente das dificuldades que aparecessem. E assim, na dura rotina de plantar um sonho, foram construindo suas realidades. Entre semeá-lo e colhê-lo, tenho certeza de que tiveram de enfrentar muitas coisas – muitas respostas negativas e até mesmo a própria descrença –, mas venceram.”

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RESUMO

O presente artigo versa sobre as experiências vivenciadas durante a disciplina de Estágio Supervisionado Obrigatório III, do curso de Licenciatura em Dança da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Seu principal objetivo é apresentar os registros das atividades realizadas em campo, relacionando a prática pedagógica com os conteúdos e experiências adquiridas ao longo do curso. O trabalho teve como marco teórico a Abordagem Triangular de Ana Mae Barbosa, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB) e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). O texto é baseado em uma metáfora do ciclo de vida da borboleta, que, ora representa o processo de desenvolvimento do indivíduo, ora o processo do aprendizado vivenciado pela autora e pelas crianças durante o período de estágio. Neste ciclo, destaca-se a comparação entre a crisálida – fase intermediária entre a lagarta e a borboleta – e o processo educacional da dança. O estágio de docência foi realizado com a turma do 4º ano vespertino do Núcleo de Educação da Infância do Colégio de Aplicação da UFRN, com a qual ao longo de 12 encontros foram desenvolvidas atividades baseadas no tema “tecnologias”. Dentro desse tema, buscou-se fazer uma viagem pelo tempo, desde o surgimento da dança até os dias atuais, onde as tecnologias têm andado lado a lado com esta expressão artística. Os oito primeiros encontros foram dedicados à composição de uma videodança e os quatros últimos à construção coletiva e ensaio de uma coreografia para ser apresentada durante a festa de São João do colégio. Durante essa construção foi possível constatar que houve um resultado qualitativo a partir de vivências propostas pela autora no decorrer da execução do estágio supracitado

Palavras-chave: Abordagem triangular. Educação libertadora. Estágio curricular em dança. Videodança.

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ABSTRACT

This article deals with the experiences lived during the Supervised Internship III, the Degree in Dance course at the Federal University of Rio Grande do Norte (UFRN). Its main objective is to present the records of the activities performed in the field, relate a pedagogical practice with the contents and gain experiences acquired throughout the course. The work had as theoretical framework the Ana Mae Barbosa Triangular Approach, the National Curriculum Parameters (PCNs), the Law of Guidelines and Bases of Brazilian Education (LDB) and the Common National Curriculum (BNCC). The text is based on a stage of the butterfly's life cycle, which either represents the individual's developmental process or the learning process experienced by the author and the children during the internship period. In this cycle, a comparison between the intermediate phase between the butterfly - and the educational process of dance are used like a metaphor. The classes internship was conducted in a 4th year of the NEI (Nucle of Children Education) of the UFRN College of Application, with a period of 12 meetings with experiences of activities on the theme "technologies". Within this theme, was realized a journey through time, from the dawn of dance to the present day, where technologies have gone hand in hand with this artistic expression. The first eight meetings were dedicated to the composition of a video dance and last reflections are about the collective construction and rehearsal of a choreography to be performing during the feast of St. John's high school. During this construction it was possible to verify that there was a qualitative result from experiences applied by the author during the execution of the above mentioned stage.

Keywords: Triangular approach. Liberating education. Curricular internship in dance. Video dance.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Ciclo da borboleta ... 11

Figura 2 – Fachada do Núcleo de Estudos e Pesquisa da Infãncia. ... 14

Figura 3 – Fachada e estacionamento do NEI-CAp/UFRN ... 15

Figura 4 – Primeiro encontro: aula de observação. ... 19

Figura 5 – Terceiro encontro: exibição do vídeo sobre a história da dança. ... 20

Figura 6 – Dança e tecnologia: experimentação de movimentos corporais. ... 21

Figura 7 – Experimentações de movimentos em diversos espaços. ... 21

Figura 8 – Criação da coreografia para o São João. ... 24

Figura 9 – Colocando em prática a coreografia para o São João. ... 24

Figura 10 – Descrição do trajeto percorrido na coreografia do São João. ... 25

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SUMÁRIO 1 INÍCIO DA VIDA ... 9 2 A LAGARTA ... 11 3 A CRISÁLIDA ... 13 3.1 A crisálida da educação ... 15 3.2 Dentro da crisálida ... 17

3.3 O caminho para a metamorfose ... 19

4 ENFIM BORBOLETA ... 28

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1 INÍCIO DA VIDA

O presente artigo versa sobre as experiências vivenciadas durante a disciplina de Estágio Supervisionado Obrigatório III, do curso de Licenciatura em Dança da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Seu principal objetivo é apresentar os registros do trabalho realizado em campo, relacionando a prática pedagógica com os conteúdos e experiências adquiridas ao longo do curso.

Segundo Pimenta (2011, p. 21), “por estágio curricular entende-se as atividades que os alunos deverão realizar durante o seu curso de formação, junto ao campo de trabalho”. Nesse sentido, a prática do estágio está ligada diretamente à sua teoria e é a partir dos conhecimentos adquiridos no decorrer do curso de formação que o aluno encontrará seu modo de fazer.

Para isso, foi realizada uma pesquisa qualitativa descritiva, utilizando os dados obtidos a partir das vivências no estágio que contemplou uma carga horária de 100 horas-aula, sendo 60 horas destinadas à formalização e tarefas realizadas na UFRN – sob a orientação da professora Renata Celina de Morais Otelo – e 40 horas de aulas práticas realizadas no Núcleo de Educação da Infância do Colégio de Aplicação da UFRN (NEI-CAp/UFRN), com a supervisão das professoras Maria da Conceição de Oliveira Andrade e Maria Patrícia Costa de Oliveira.

Entendemos o estágio como momento fundamental para os licenciandos, pois

A formação inicial é o começo da busca de uma base para o exercício da atividade docente. Concebida assim, deve assentar-se em concepções e práticas que levem à reflexão, no sentido de promover os saberes da experiência conjugados com a teoria, permitindo ao professor uma análise integrada e sistêmica da sua ação educativa, de forma investigativa e interventiva. (BARREIRO& GEBRAN, 2006, p. 22).

Sendo o estágio curricular a junção entre a teoria e a prática, ele é de fundamental importância para a formação inicial do discente. Isto porque é a partir dos conhecimentos adquiridos, tanto na universidade quanto no campo de atuação profissional, que se dará a construção do seu modo de fazer. É através das vivências no campo de estágio – e nessa articulação entre teoria e prática – que o discente constrói sua identidade. De modo que o estágio é a porta de entrada desse processo que definirá a qualidade da formação profissional do ser professor. De acordo com Barreiro & Gebran (2006, p. 24):

É na elaboração desse saber-fazer que se constrói a autonomia docente. À medida que o professor torna o seu cotidiano fonte de investigação, buscando elementos para a sua formação e a dos alunos, ele imprime, inclusive, necessidade e significado à sua formação continuada.

Para isso se faz importante o papel do professor-formador nas universidades, evitando assim o processo de observação e reprodução. É a partir dos conhecimentos existentes, mediado

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por esse professor-formador, que o discente reconstrói os próprios conhecimentos, com base na reflexão, construção e encontro com a realidade social e educacional. A prática de ensino é um processo para além da sala de aula e do ensino-aprendizagem. É um processo de ações coletivas e integradoras, sendo essas ações a junção das observações, relatórios, investigações e análise do espaço escolar e da sala de aula.

A escolha do NEI-CAp/UFRN como instituição de realização do estágio teve como motivo principal a vivência da prática pedagógica em uma Instituição de Educação da Infância, que também tivesse o ensino voltado para a área da dança. Assim, optei por este espaço acreditando que ele acrescentaria na minha formação enquanto professora, levando em consideração a possibilidade de colocar em prática os conhecimentos sobre dança para crianças e oportunizar outros conhecimentos. Dentre eles destaco o aprendizado através do lúdico, os questionamentos do dia-a-dia – que nos levam a buscar formas de entender o mundo – e a busca pelo conhecimento coletivo, dentro e fora do ambiente escolar.

O NEI-CAp/UFRN tem uma proposta pedagógica voltada para o ensino da dança e até o ano de 2017 contava com um professor desta disciplina. Contudo, no período de realização do estágio, as atividades com dança eram organizadas pelas professoras de pedagogia, com a colaboração de alunos bolsistas do curso de Licenciatura em Dança da UFRN.

Para a escrita deste texto, optei em fazer uso de uma metáfora do ciclo de vida da borboleta, que é dividido em quatro fases: ovo, lagarta, crisálida e, por fim, a borboleta (Figura 1). O início se dá quando a borboleta fêmea põe os ovos nas folhas das plantas. O embrião permanece no ovo até que o clima seja favorável. No tempo certo, o ovo se transforma em uma lagarta, que se alimenta de folhas até ter energia e tamanho suficiente para iniciar um novo processo. Nessa nova fase, a lagarta cria fios semelhantes à seda que prendem ela à superfície que encontra para se proteger dos predadores enquanto ocorre a mudança de pele, até estar preparada para iniciar a crisálida. Dentro da crisálida, a mudança total ocorre e a lagarta dá lugar à borboleta.

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Figura 1 – Ciclo da borboleta

Fonte: Arquivo pessoal

Desde criança observando as borboletas voando no quintal da minha avó e encontrando algumas crisálidas nos galhos das árvores, aprendi admirar o processo de transformação, a beleza das borboletas após a metamorfose e a delicadeza do voo, onde essa admiração me levou a tatuar uma borboleta azul no antebraço direito. No processo de sair do distrito de Baixa do Meio, situado no município de Guamaré – RN e vir para Natal-RN me vi passando pelo processo de transformação similar ao da borboleta e fui percebendo que a educação na formação do indivíduo, segue também nesse processo da metamorfose, desde o início dos estágios supervisionados obrigatórios do curso de licenciatura em dança, senti o desejo de utilizar essa metáfora e foi na educação infantil que pude fazer essa relação da borboleta com a educação.

2 A LAGARTA

Nesta fase da metamorfose comparo a criança com uma lagarta, que precisa de um período se alimentando e em contato com o mundo, que seria a família e a sociedade. A lagarta precisa se alimentar desde o nascimento para poder iniciar a metamorfose dentro da crisálida, aqui relacionada com a educação e o ambiente escolar.

O nascimento marca a entrada da criança na família e na sociedade, trazendo consigo uma variedade de emoções para a família, como a alegria de ver o bebê pela primeira vez e a preocupação com possíveis problemas, como saúde e educação. Gradualmente, as habilidades motoras, sensoriais e perceptuais começam a surgir; e é a partir dessas habilidades que a criança aprende. As habilidades citadas estão presentes, de alguma forma, em todas as idades, sendo adquiridas a partir das interações do sistema nervoso.

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À medida que cresce e se desenvolve, a criança começa a perceber-se um indivíduo com estruturas distintas da mãe, balbuciando os primeiros sons vocálicos com os quais entra em contato. Estes sons, num primeiro momento, manifestam-se distintos. Porém, pouco a pouco vão sendo trabalhados, até tornarem-se palavras conhecidas. Num primeiro momento apenas repetidas, para depois tornarem-se mais elaboradas, nascendo daí os conceitos. Tem-se, então, o início do ato de falar. Ato contínuo, ao término de um ano a criança coloca-se em pé e inicia a exploração deste “infinito” mundo ao seu redor. Um tormento para pais ansiosos, fixos em seu instinto de preservação, que não conseguem perceber a necessidade vital de movimento para o pequenino e o quanto isso representa para o ser humano que se desenvolve frente aos seus olhos, iniciando seu processo de comunicação com o mundo e com os outros através do seu próprio corpo. (GONÇALVES & COELHO, 2001, p.72).

No processo de desenvolvimento da criança o vínculo familiar é algo muito importante. A criança desenvolve um apego, passando a sentir-se mais segura e confiante ao lado dos pais. Em seus três anos de vida, a família se torna inteiramente responsável pela educação e formação social da criança, sendo parte de um sistema social, cultural e econômico. Só após esse período da criança em contato com o mundo, só após essa fase de lagarta, a criança – ser produtor de seu próprio conhecimento e cultura– está preparada para entrar na crisálida e no seu novo processo de transformação.

De acordo com o Art. 53 do Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990) “a criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho[...]”. Portanto, sendo a criança um indivíduo de direitos e deveres, se faz obrigatório a introdução desta no ambiente escolar, conforme descrito no inciso I do Artigo 4° da Lei de Diretrizes e Bases (BRASIL, 1996):

O dever do Estado com a educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de:

I – Educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada da seguinte forma: a) pré-escola; b) ensino fundamental; c) ensino médio.

É a partir dos quatro anos que a criança inicia sua vida escolar – o início de uma mudança lenta e de suma importância – e é a partir dos anos pré-escolares que a criança desenvolve as habilidades sociais e de personalidade, assim como as mudanças físicas e cognitivas. Neste momento, a sociedade e, mais especificamente, o contato com adultos e com outras crianças, se faz ainda mais importante.

Ao ingressar na pré-escola, a criança se depara com um espaço que possui uma composição própria, com objetos específicos e uma estrutura social diversa da familiar. Isto quer dizer que ela vai ter que aprender a lidar com esse conjunto de

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novos elementos, assumindo novas condutas de acordo com as exigências desse novo contexto. (NUNES 1997, p.105).

Nos anos iniciais do ensino fundamental, dando continuidade ao processo de desenvolvimento, a criança deixa de ser tão dependente dos pais, ao mesmo tempo em que suas habilidades motoras e as mudanças no desenvolvimento cognitivo aumentam. É uma junção do desenvolvimento neurológico, físico, cognitivo e emocional. Seguindo com o processo de transformação, a criança caminha rumo à crisálida.

3 A CRISÁLIDA

Há escolas que são gaiolas. Há escolas que são asas. Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o voo. Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado (ALVES, 2001).

O Núcleo de Educação da Infância da UFRN está localizado no Campus Universitário, no bairro de Lagoa Nova, município de Natal – RN. Em sua origem, foi nomeado Núcleo Educacional Infantil e funcionava como uma creche para atender os filhos da comunidade universitária feminina (funcionárias, alunas e professoras da Universidade), recebendo crianças a partir de três meses de idade. Atualmente, o núcleo funciona como uma Escola de Aplicação vinculada à UFRN e ao Centro de Educação, dedicando-se à Educação Infantil (creche e pré-escola) e ao Ensino Fundamental (NEI, 2019).

No momento da realização do estágio, o núcleo atendia cerca de 170 crianças no ensino infantil, dos quais 13 apresentavam necessidades educacionais especiais. No ensino fundamental eram atendidas 185 crianças, sendo que uma apresentava necessidades educacionais especiais. As crianças tinham idades de 1 a11 anos e todas utilizavam fardamento padronizado, facilitando sua identificação. Em 2019 o NEI-CAp/UFRN completou 40 anos de existência e é uma instituição de referência na cidade de Natal.

Nesse núcleo o planejamento das aulas acontece por meio de encontros semanais, em turno diferente do expediente de trabalho das professoras. Nesta ocasião, as professoras da turma se reúnem e reavaliam o planejamento diário. Há também a realização do planejamento quinzenal com a coordenação de ensino, no qual as professoras apontam os pontos positivos e

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negativos em relação ao desenvolvimento do ensino e aprendizagem das crianças. Também avaliam o interesse dos alunos e o desenvolvimento do tema de pesquisa, no intuito de possibilitar o trabalho de forma interdisciplinar com os componentes curriculares e um melhor desempenho da aprendizagem. As avaliações são contínuas, por meio de atividades e observações do desenvolvimento individual e coletivo dos alunos. A (Figura 2) apresenta o local de desenvolvimento dessas atividades.

Planejar as aulas é de fundamental importância para o professor, independente da sua área de atuação, pois o planejamento é um guia para que se possa ter uma noção dos objetivos a serem alcançados, analisando os pontos positivos, negativos e as possibilidades de aperfeiçoamento. Na dança, o plano de aula deve ser flexível, pois é a partir das vivências que serão obtidas as respostas. Dessa maneira, o professor de dança torna-se um pesquisador do seu próprio trabalho, buscando entender o tempo de cada corpo, a forma de fazer e os caminhos que devem ser percorridos. Assim, poderá saber se necessita reorganizar a ideia inicial para que o conteúdo seja transmitido e a aprendizagem seja efetivada.

Figura 2 –Fachada do Núcleo de Estudos e Pesquisa da Infância.

Fonte: Arquivo pessoal.

O Núcleo de Estudos e Pesquisa da Infância se caracteriza como local de estudo e pesquisas de professores, estagiários e outros diversos profissionais da educação, é através desses estudos que a escola busca aperfeiçoar seu trabalho e compromisso junto à educação infantil.

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Figura 3 – Fachada e estacionamento do NEI-CAp/UFRN

Fonte: Arquivo pessoal.

3.1 A crisálida da educação

Nosso corpo, por nascimento, nada sabe... E essa é a razão por que temos de aprender. E esse é o sentido da educação: educação é o processo pelo qual as gerações mais velhas ajudam as gerações mais novas a aprender a arte de construir conchas (ALVES, 2003, p. 45).

O NEI-CAp/UFRN trabalha com os três eixos da Abordagem Triangular de Ana Mae Barbosa, que norteiam o trabalho com as linguagens artísticas. No ensino da arte, estes três eixos tratam-se da apreciação artística, da contextualização histórica e do fazer artístico. Tendo a dança como linguagem do corpo e da expressão artística e humana, a escola busca construir formas e sentidos, por meio da interação entre sujeito e dança.

Segundo Machado (2010, p.73), “a Abordagem Triangular é, assim, um ponto de partida e, principalmente, uma espécie de bússola, e não uma bula; o que faz toda a diferença”. O professor quando sabe aonde quer chegar na elaboração do conhecimento, ele sabe o caminho a percorrer e, mesmo existindo alguns obstáculos, ele não para. Utiliza a bússola que, aqui, seria a abordagem triangular e segue; pois, cada passo que ele dá, se transforma em aprendizado. O professor que segue bulas ou receitas prontas de como transmitir o conhecimento, se limit a, fazendo com que a elaboração do conhecimento se torne algo massacrante, tanto para ele quanto para o discente.

Assim, a Abordagem Triangular tem contribuído muito com o ensino da arte nas escolas, onde o artista educador busca significação no ensinar e aprender arte, formulando perguntas e buscando respostas conforme esse conhecimento vai sendo transmitido, assim os Parâmetros

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Curriculares Nacionais (PCNs) são um norte para os professores, coordenadores e diretores, garantindo aos discentes o direito de usufruir dos conhecimentos necessários. De acordo com os PCNs de arte, os conteúdos propostos para o ensino de dança nas escolas devem compreender também 3 principais eixos: A DANÇA NA EXPRESSÃO E NA COMUNICAÇÃO

HUMANA; A DANÇA COMO MANIFESTAÇÃO COLETIVA; A DANÇA COMO PRODUTO CULTURAL E APRECIAÇÃO ESTÉTICA. A partir destes eixos é pertinente

compreender a construção de conhecimento em dança na escola por tal conhecimento fazer parte das ações cotidianas dos seres humanos, de sua história e cultura, sendo a dança uma atividade escolar geralmente reduzida ao seu potencial de contribuir para o desenvolvimento das capacidades motoras e entendimento de como o corpo funciona, compreendendo que tal entendimento deve ser explorado com maior crítica, diante de uma autonomia, dos conhecimentos próprios desenvolvidos por essa linguagem, como professores temos a responsabilidade de elaborar uma melhor compreensão sobre a presença do ensino de dança nas escolas, sem negar sua potência no desenvolvimento da sensibilidade e inteligência. Mas potencializando o seu aspecto de linguagem presente na constituição da humanidade no mundo.

Neste processo de metamorfose, buscando beber das fontes de conhecimento, eu pude chegar à Lei de Diretrizes e Base – LDB (BRASIL, 1996), que regulamenta o sistema educacional público e privado brasileiro em todos os níveis, considerando a educação um direito garantido pela Constituição Federal o acesso ao ensino de dança por diversas vezes só será garantido a partir da escola, para tanto não podemos reduzir a experiências dos alunos a uma elaboração de ensino que articule espaço, peso e tempo, na integração e expressão corporal individual e coletiva na produção de coreografias, sem reflexão, sem crítica e sem compreensão social, histórica e estética dessa produção.

É de fundamental importância os conhecimentos relacionados à história do Brasil, por exemplo, compreender a intrínseca relação à miscigenação e às mais variadas formas culturais existentes presentes nas danças brasileiras. É a partir da construção desses conhecimentos que as culturas se mantêm vivas e cada vez mais fortes e que as tradições são repassadas de geração em geração. É através da educação que lagartas têm o privilégio de tornar-se borboletas e poder voar o mundo. É através dos conhecimentos adquiridos em sala de aula que elas descobrem o poder da educação na transformação do ser, sendo o ensino algo além do aprender a ler, escrever e fazer cálculos, conforme descrito no Art. 32 da LDB.

Ainda nesse processo de beber das fontes, também vi um pouco da Base Nacional Comum Curricular – BNCC (BRASIL, 2017), documento que regulamenta as aprendizagens

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essenciais a serem trabalhadas nas escolas. Este documento propõe que a abordagem das linguagens articule seis dimensões do conhecimento de forma indissociável e simultânea, buscando através delas facilitar o processo de ensino e aprendizagem em Arte. Estas dimensões são: a criação, a crítica, a sensibilidade, a expressão, a fruição e a reflexão.

Na unidade temática da dança, a proposta é que os alunos articulem processos de conhecimentos adquiridos, investigativos e produções artísticas da dança, percebendo o que acontece no corpo, discutindo e dando significado para as relações entre a corporeidade e a estética.

3.2 Dentro da crisálida

Compreendemos que o ensino da dança na escola não envolve o aprendizado mecânico de uma técnica composta por gestos e movimentos determinados e padronizados, mas, sobretudo, pelo processo de improvisação e composição da dança, em que as crianças experimentam diversas e diferentes possibilidades de movimentos que podem ser transformados em dança. Além disso, a dança proporciona às crianças a ampliação do repertório de comunicação e expressão cultural, vivenciando impressões, sentimentos, emoções e conhecimentos. (VICTOR, 2012, p.159). A proposta pedagógica do NEI se encontra em reformulação e a escola utiliza o tema de pesquisa como o norteador do planejamento pedagógico e das atividades desenvolvidas com as crianças. Tais atividades são pensadas partir da Base Nacional Curricular Comum e com ações sugeridas pela abordagem triangular de Ana Mae Barbosa, que tem como objetivo nortear os trabalhos realizados nas diversas áreas de conhecimento. O tema de pesquisa é a metodologia que o NEI utiliza para articular três dimensões básicas: o conhecimento das áreas de conteúdo, o contexto sociocultural das crianças e os aspectos vinculados diretamente à aprendizagem. Segundo Rêgo (1999) as principais referências utilizadas na construção do que hoje chamamos de tema de pesquisa foram as propostas de Madalena Freire em “A paixão de conhecer o mundo” e de Sônia Kramer, em “Com a pré-escola nas mãos” (FREIRE, 1983; KRAMER et al., 1989).

Para que um assunto se torne tema de pesquisa é necessário que gere questionamentos e que as crianças sintam o desejo de aprofundamento, articulando os conhecimentos e conceitos de diversas áreas. O estudo do tema de pesquisa é dividido em três etapas: a) Estudo da Realidade; b) Organização do Conhecimento; e c) Aplicação do Conhecimento.

No Estudo da Realidade, a partir do que as crianças já sabem sobre o assunto, são elaboradas algumas questões para a continuidade de sua investigação. Na Organização do Conhecimento, são coletadas informações sobre o assunto. A partir dos questionamentos

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iniciais, as professoras organizam e avançam no conhecimento, estimulando as crianças a buscar respostas para os questionamentos propostos pelo grupo. Na Aplicação do Conhecimento, o professor elabora em conjunto com as crianças uma síntese de tudo que conseguiram aprender sobre o assunto, através da escrita, desenho ou outra forma de expressão. Segundo Pimenta (2011, p. 21), “por estágio curricular entende-se as atividades que os alunos deverão realizar durante o seu curso de formação, junto ao campo de trabalho”. Nesse sentido, a prática do estágio está ligada diretamente à sua teoria e é a partir dos conhecimentos adquiridos no decorrer do curso de formação que o aluno encontrará seu modo de fazer.

O estágio não é um manual de como ensinar, muito menos um caminho de observação e imitação. É o caminho para o estagiário buscar possibilidades no fazer. O estágio em dança é um espaço de autonomia para a experimentação, pois a dança na escola é um processo de construção na relação do estagiário e discente. Assim, mesmo que o estagiário tenha experiências significativas, não existe um modelo pronto para a educação infantil. A dança para criança é um caminho de inúmeras possibilidades a ser experimentadas. A imaginação da criança combina e cria movimentos para além dos padrões e estereótipos.

O Estágio Curricular Obrigatório é uma disciplina do curso de Licenciatura em Dança e Iniciei na instituição em 19 de abril de 2019, com o objetivo de oportunizar experiências práticas e formativas, fazendo uma relação da prática pedagógica com o estudo em sala de aula na Universidade. A seguir, descrevo a sequência das atividades desta experiência, a partir da observação de aulas e da regência.

O tema de pesquisa da turma foi “tecnologias” e, dentro desse tema, busquei fazer uma retrospectiva, desde o surgimento da dança até os dias atuais, onde as tecnologias têm andado lado a lado com a dança. Percorremos um caminho ao longo de dez aulas, até chegar à videodança, um trabalho que une tecnologia e dança em um único lugar.

Os discentes participaram das aulas demonstrando interesse no que foi proposto, o que resultou numa ótima participação nas vivências. Foram dez aulas de aprendizado em que nós, lagartas, experimentamos um pouco do prazer e do aprendizado nessa linda crisálida. Dez aulas de compartilhamentos, riquezas e descobertas corporais satisfatórias. Esses momentos proporcionaram enriquecimento da minha prática, ao mesmo tempo em que percebi que as crianças faziam novas descobertas. Foi um momento de troca entre estagiária, professoras, crianças e escola. Um processo rico e importante para minha formação inicial.

A partir de um cronograma pré-estabelecido por mim (com orientação da Prof.ª Conceição) e em conformidade com o tema de pesquisa da turma, as atividades desenvolvidas

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se deram sempre com um conteúdo introdutório, seguido de uma atividade prática relacionada ao material estudado. Cada aula tinha duração de 50 minutos a uma hora, sendo contabilizados 10 encontros no total.

Acompanhei a turma do 4º ano do turno vespertino, que era composta por 19 alunos com faixa etária entre 09 e 10 anos, residentes na capital e municípios vizinhos, com características físicas e de comportamento diversos.

3.3 O caminho para a metamorfose

Assim, a dança, como a vida, está em processo contínuo de transformação, metamorfose, se apresentando com diferentes aspectos – formas, sentidos, cores, sons e silêncio, visíveis ou invisíveis – ao olhar daqueles que dançam e apreciam a dança. Com seus aspectos lúdico, sensual e estético, toda dança nos remete a outras danças, as coisas do mundo, despertando desejos, emoções, encantos, desencantos, dores, prazeres, liberdade e fantasia (LIMA, 2009, p.104).

Seguindo o caminho para a transformação – um caminho novo para uma lagarta que sonha com asas – no primeiro encontro, as professoras Conceição e Patrícia me apresentaram para a turma. Em seguida fiz observações relacionadas à rotina escolar, como a maneira de organização das atividades propostas, o comportamento da turma e participação (Figura 4). Da mesma forma se deu o segundo encontro, no qual segui fazendo a observação da aula e pude perceber o potencial daquelas pequenas lagartas.

Figura 4 – Primeiro encontro: aula de observação.

Fonte: Arquivo pessoal.

No terceiro encontro, fiz a primeira intervenção. Era hora de começar o processo dentro da crisálida, a partir da apreciação de dois vídeos sobre a história da dança e sobre os vários tipos de dança existentes no mundo (Figura 5).Os discentes reconheceram algumas das danças

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e, após a exibição dos vídeos, fiz perguntas relacionadas à história da dança, associando-a com a história do homem e sua evolução (ex: “Em quais ocasiões a dança estava presente na vida dos povos antigos?”, “Por quais motivos se dançava?”). Pude perceber o entusiasmo dos discentes em relação ao conteúdo de dança, a curiosidade deles e o desejo de iniciar as aulas práticas. Nessa primeira aula foi passada uma atividade relacionada ao conteúdo de tecnologias e dança.

Figura 5 – Terceiro encontro: exibição do vídeo sobre a história da dança.

Fonte: Arquivo pessoal.

O quarto encontro foi realizado na sala de aula prática. Nós fizemos a apreciação de três vídeos sobre dança e o uso das tecnologias e, em seguida, propusemos aos alunos que se organizassem em grupos. A turma foi dividida em quatro grupos e nesses grupos orientei como eles deveriam criar movimentos corporais, nessa aula os alunos tinham que dançar sem estímulos sonoros enquanto as sombras dos corpos eram projetadas na parede, em conjunto com efeitos visuais projetados pelo Datashow (Figura 6). Após essa vivencia, fizemos uma roda de conversa para saber como foi para eles a experiência de dançar sem estímulos sonoros e improvisar toda a dança dentro de um curto espaço de tempo e com os efeitos visuais.

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Figura 6 – Dança e tecnologia: experimentação de movimentos corporais.

Fonte: Arquivo pessoal.

O quinto encontro foi uma continuação do quarto encontro. Nesse dia os discentes utilizaram alguns espaços da escola (como parque, rampa e refeitório) para dançar e, assim, experimentar os movimentos criados pelos grupos (Figura 7). Dessa vez foi utilizado um estimulo sonoro, eles escolhiam um número de 1 a 50 e o número correspondia a música, porém, eles não tinham aviso prévio de qual música iria tocar enquanto estivessem dançando. Antes de aprender a voar, a lagarta se alimenta e caminha até estar preparada para a metamorfose. Esse é um processo lento e muito importante para as pequenas lagartas.

Figura 7– Experimentações de movimentos em diversos espaços.

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As tecnologias têm uma grande importância na vida humana, desde a descoberta do fogo até os dias atuais. O mundo tem passado por mudanças e o homem tem se reinventado diariamente para sobreviver diante dos obstáculos impostos pela natureza. A partir dessas necessidades, as invenções tecnológicas se fizeram necessárias.

Trazendo para a linguagem da dança, as tecnologias têm se manifestado como um recurso muito importante, presente na música, cenário, iluminação, dentre outros meios utilizados na dança. Desde o início da história humana as tecnologias têm estado presentes nesse universo artístico. O coreografo Merce Cunningham (1919-2009), é uma referência no cenário da dança e tecnologia, criando e adaptando a dança para a tela.

A videodança é uma forma de interação da dança com as tecnologias. Segundo Spanghero (2003, p.37) “[...] a terminologia ‘videodança’ engloba três tipos de prática: o registro em estúdio ou palco, a adaptação de uma coreografia preexistente para o audiovisual e as danças pensadas diretamente para a tela”. Neste processo utilizamos a terceira forma de interação entre dança e câmera, sendo o trabalho desenvolvido com os discentes a produção da videodança pensada para a tela. De acordo com Schulze (2010, p. 1), “o vídeo se tornou uma das principais práticas da arte contemporânea e coreógrafos, especialmente aqueles nascidos na era da mídia, se apropriaram dessa linguagem enquanto continuavam a criar trabalhos para a cena presencial”.

A videodança é uma expressão artística e também uma forma de experimentação, um caminho para a investigação de movimentos que vem crescendo atualmente, tanto nas universidades quanto nas escolas de ensino básico. Unindo os movimentos corporais da dança com a tecnologia do vídeo, a partir do uso de câmeras profissionais ou da simples câmera do celular, é possível criar cenas e estimular os alunos no processo de criação de dança. Este processo é realizado com base nos conhecimentos prévios das qualidades do movimento, no que diz respeito ao espaço, peso, tempo, fluência (LABAN, 1990) dança educativa moderna e, junto, a improvisação. Assim foi possível trabalhar a evolução da dança e tecnologias com a turma.

Improvisar não é inventar movimentos ou fazer de qualquer jeito. A improvisação em dança auxilia no uso da imaginação, na retomada de movimentos e na consciência corporal, levando a um amplo conhecimento de si, do outro e do meio. Essa liberdade de improvisar, criar e recriar a dança, fez com que os alunos percebessem o universo de possibilidades que seus corpos possuem. Segundo Leal (2012, p.57) “contudo, para improvisar em dança é preciso

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colecionar ampla experiência motora, capacidade de conexão e transformação dos movimentos e muita técnica”.

No sexto encontro fizemos uma revisão dos vídeos apreciados e dos movimentos experimentados. Nessa aula dei comandos para que pudesse ficar mais fácil a composição coreográfica dos grupos. Pedi para cada grupo criar uma coreografia utilizando movimentos de mãos/braços, pés/pernas, cabeça, giros e corridas, dentro da música “Respeitem meus cabelos brancos” do cantor Chico César. Após dez minutos, fizemos uma roda e cada grupo apresentou a coreografia que havia criado. A aula finalizou assim.

Era hora de as lagartas entrarem em cena e irem mais a fundo na transformação. O sétimo encontro foi dedicado às filmagens e edições dos vídeos de cada grupo. Para essa ação, nos organizamos da seguinte forma: um grupo por vez dirigia-se para a sala ao lado e, ao som da música de Chico César, dançavam conforme haviam ensaiado na aula anterior. Na hora da edição, eles escolheram os efeitos para o videodança e os grupos não sabiam nada sobre as edições dos outros grupos. Após as gravações e edições, encerramos a aula.

Lagartas que observam outras lagartas: assim foi o oitavo encontro, no qual os discentes apreciaram os vídeos e fizeram uma atividade falando sobre como foi para cada um ser coreografo e dançarino durante nossos cinco encontros e sobre como foi criar a videodança. Após a atividade, passei dois vídeos sobre o São João no Brasil, em outros países e especificamente no Nordeste. Em seguida coloquei algumas músicas para a turma ouvir e fui pedindo sugestões de músicas e movimentos que eles já conheciam das danças juninas, sem perder o foco do tema de pesquisa, com algumas ideias e músicas já anotadas, encerramos a aula.

No nono encontro, já com as músicas definidas pelos alunos junto com as professoras Conceição e Patrícia que escolheram no decorrer das aulas, iniciou-se a criação da coreografia. De acordo com as ideias que os discentes apresentavam sobre os movimentos para compor, fui fazendo uma espécie de mapa mental para que eles pudessem perceber e fixar de forma mais fácil (Figura 8). Cabe destacar que estávamos finalizando nossos encontros do estágio e o tempo para o processo de criação coreográfica era curto. Fui escrevendo na lousa os movimentos e trajetos feitos. Depois de criar, passamos a coreografia completa uma vez e finalizamos a aula (Figura 9).

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Figura 8 – Criação da coreografia para o São João.

Fonte: Arquivo pessoal.

Utilizo esse sistema de escrita (Figura 10) para que o discente consiga entender os movimentos, trajetos e a ordem para executá-los. Faço isso porque acredito que quando o aluno consegue entender e executar a coreografia, independente de utilizar música, ele consegue ter a consciência do movimento.

Figura 9 – Colocando em prática a coreografia para o São João.

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Figura 10 – Descrição do trajeto percorrido na coreografia do São João.

Fonte: Arquivo pessoal.

O relógio já anunciava o fim do meu processo na crisálida e, no décimo encontro, realizamos o ensaio para a apresentação do dia 13 de junho de 2019. Assim finalizei a disciplina de Estágio III, no que se refere ao cumprimento das horas obrigatórias. Porém, continuei acompanhando a turma por mais dois ensaios, a fim de permanecer contribuindo na construção proposta. Na semana seguinte ao término do estágio, as professoras Conceição Andrade e Patrícia de Oliveira ensaiaram as letras das músicas e fizemos um pot-pourri com duração de três minutos com as músicas, “O silêncio” de Arnaldo Antunes, “Vamos pra fogueira” e “Festa do balão” da Banda Mastruz com Leite. De forma coletiva, os alunos sugeriram e entraram em acordo no que diz respeito ao figurino e aos objetos usados na dança, como os lenços nas cores vermelha e amarela – que remetiam ao fogo simbolizando o início do surgimento das tecnologias – o balão junino e as lanternas – que remetiam às tecnologias atuais. No dia 13 de junho fui prestigiar a apresentação da turma (Figura 11) e pude ver a felicidade estampada em cada rosto, o prazer de cada aluno em ter feito parte do processo de criação e ter aprendido sobre a dança e as tecnologias. Isso foi o que fez do estágio supervisionado um marco para minha formação como futura professora de dança.

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Figura 11– Alunos do NEI/CAp – URFN se apresentando durante a festa junina do colégio

Fonte: Arquivo pessoal.

A dança na educação formal ainda é vista como um momento de lazer, como um processo de criação apenas para datas comemorativas, ainda não recebendo muita atenção. Portanto, não segue como deveria por meio da LDB e BNCC, que faz esse lugar da dança na escola ser questionado e sempre ouvimos a pergunta: “Por que ensinar dança na escola?”. A dança tem conteúdos próprios e que fazem parte da nossa vida e da nossa cultura. A escola é o lugar de refletir sobre isso e aprender a fazer de outros modos, não é uma atividade, ela requer continuidade e sistematização, vivemos esses conhecimentos dentro da escola e precisamos entender sobre ele.

Segundo Strazzacapa (2012, p.72) “a dança possibilita uma percepção e um aprendizado que somente são alcançados por meio do fazer-sentir que tem ligação direta com o corpo, que é a própria dança”. Por esse motivo devemos ter sede de aprender e ensinar a arte da dança, dentro e fora das escolas. Devemos permitir que a borboleta que nos habita voe alto entre saltos, giros e ziguezagues.

Cabe a nós, docentes, essa nova perspectiva de ensinar para além da sala de aula, através da dança. Cada dia mais lagartas adoecem por não conhecer os benefícios da arte de mover o corpo ao som da própria respiração, das batidas do coração ou de outros sons vindos de dentro para fora – ou de fora para dentro. Corpos sem voz e presos numa dança silenciosa, que cala a imaginação de lagartas que sonham com grandes voos.

Questionamos o fato da dança só existir nas escolas em datas comemorativas. Vendo por outro lado, deveríamos ficar felizes por termos esse pequeno espaço nas escolas. Pois, através dessa brechinha podemos fazer nosso trabalho diariamente, sem necessariamente

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trabalhar apenas para aquelas datas do calendário. São esses pequenos momentos entre uma aula e uma apresentação de dança na escola que vêm dando esperança para o mundo formado por lagartas.

“A lagarta deve desaparecer para que a borboleta nasça”. (ALVES, 1980, p.80). Quando Rubens Alves fala essa frase no livro “Conversas com quem gosta de ensinar”, me faz pensar na educação como a crisálida onde nós, docentes, temos a missão de formar borboletas para o mundo. Um processo delicado e árduo; porém, com um lindo resultado.

Nós, enquanto docentes, muitas vezes esquecemos que ensinar vai além da transferência de conhecimento e da possibilidade de construção do saber. Segundo Freire (1996, p. 23), “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”. Portanto, é uma via de mão dupla na qual não podemos deixar que lagartas se acomodem. Precisamos ir mais longe com a educação, neste ziguezague entre aprender e ensinar.

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4 ENFIM BORBOLETA

Se não posso, de um lado, estimular os sonhos impossíveis. Não devo, de outro, negar a quem sonha o direito de sonhar (FREIRE, 1988, p.163)

A partir da experiência de ensino aprendizagem dentro do Estágio Supervisionado Obrigatório III, identifico a materialização de conteúdos e reflexões que já havia acessado nas disciplinas da licenciatura, dentro do estágio o contexto me fez retomar o aprendizado sobre a abordagem triangular de Ana Mae Barbosa e as formas como esta abordagem permite perceber a construção do conhecimento em dança na educação infantil. Foi gratificante como profissional da educação, perceber a dedicação de cada discente, mesmo quando eles achavam que não seriam capazes de compor uma partitura coreográfica estruturada, quando falavam que não sabiam fazer, mas voltavam atrás nas palavras ditas e faziam. Os alunos usaram conhecimentos já existentes em seus corpos, se doaram no fazer dança e no conhecimento sobre a evolução da dança junto à evolução do homem. Desde a primeira experimentação, as improvisações e criações das videodanças, até a criação da coreografia para o São João. Tudo dentro do tema de pesquisa deles.

Aprendi bastante com os alunos e professoras. Mais uma vez percebi que uma borboleta nunca será capaz de voar com uma asa quebrada, mesmo sendo ela muito experiente e sabendo que pode se manter parada ou andar até se recuperar totalmente. Ela sabe que sempre precisará da ajuda da natureza. Assim como uma borboleta, sei da importância dos discentes e professoras nesse estágio e, até me sentir preparada para voar, continuarei andando em busca de novos conhecimentos e experiências.

Desde criança, ainda na fase ovo, eu sonhava em ser borboleta. A região, o clima e muitos outros fatores poderiam ter me afetado antes mesmo de me tornar lagarta. Contudo, cheguei à crisálida e pude viver essa metamorfose. Por fim, a lagarta que tanto sonhou com asas chega nesse lindo e árduo processo, finalizando a formação de suas asas, para assim tornar-se por completo uma borboleta e poder contribuir ainda mais para que novas lagartas consigam se tornar borboletas e voar tão alto quanto ela. Pois não existe crisálida mais resistente e linda que a educação e o amor pelo ensino.

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REFERÊNCIAS

ALVES, Rubem. Conversas com quem gosta de ensinar. São Paulo: Editora Cortez, 1980.

ALVES, Rubem. Gaiolas e Asas. Caderno Opinião. Folha de São Paulo. Edição de 05 de

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