Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas
Relatório de Estágio Profissionalizante
Farmácia Portela
Dezembro de 2015 a Março de 2016
Ana Filipa Marta Gonçalves
Orientadora:
Dra. Maria da Graça Bandeira Pinto V. Camarinha
__________________________________
Tutor FFUP: Prof. Dra. Susana Casal
__________________________________
Julho de 2016
Unidade Curricular Estágio II
Declaração de Integridade
Eu, Ana Filipa Marta Gonçalves, abaixo assinado, nº 201008305, aluno do
Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Farmácia da
Universidade do Porto, declaro ter atuado com absoluta integridade na
elaboração deste documento.
Nesse sentido, confirmo que NÃO incorri em plágio (ato pelo qual um indivíduo,
mesmo por omissão, assume a autoria de um determinado trabalho intelectual
ou partes dele). Mais declaro que todas as frases que retirei de trabalhos
anteriores pertencentes a outros autores foram referenciadas ou redigidas com
novas palavras, tendo neste caso colocado a citação da fonte bibliográfica.
Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, ____de __________ de 2016.
Unidade Curricular Estágio III
Agradecimentos
Não posso deixar de terminar este estágio sem deixar o meu sentido
agradecimento a todos os que contribuíram para que esta experiência tenha
decorrido em pleno.
Aos Professores Orientadores de Estágios da Faculdade de Farmácia da
Universidade do Porto e à Ordem dos Farmacêuticos, por possibilitarem a
realização do Estágio em Farmácia Comunitária.
À Dra. Graça Camarinha, diretora técnica da Farmácia Portela pela
simpatia, disponibilidade e acompanhamento que sempre demonstrou.
À Dra. Natália pela disponibilidade e paciência que demonstrou e pelo
imenso conhecimento que me permitiu adquirir.
A todos os restantes farmacêuticos e técnicos de farmácia que tive o
privilégio de conhecer e conviver, gostaria de deixar o meu enorme apreço e
agradecimento, pelo companheirismo, boa disposição e disponibilidade
permanente, permitindo assim, uma ótima integração na equipa.
A toda a equipa da Farmácia Portela que me acolheu e me fez sentir que
fazia parte da Família.
Aos meus Pais e Avós, pela educação, valores e apoio, pilares que nunca
me faltaram e que contribuíram para o sucesso do meu percurso académico.
Unidade Curricular Estágio IV
Índice
Agradecimentos ... III Lista de abreviaturas ... VII Lista de figura ... VIII Lista de tabelas ... VIII
Parte I – Atividades desenvolvidas durante o estágio ... 1
1. Descrição física e funcional da Farmácia Portela ... 1
2. Sistema Informático ... 3
3. Aprovisionamento, Armazenamento e Gestão de Produtos ... 4
3.1. Gestão de Stocks ... 4
3.2. Encomendas ... 4
3.3. Receção e Conferência das Encomendas ... 5
3.4. Armazenamento dos Produtos ... 6
3.5. Controlo dos Prazos de Validade... 7
3.6. Devolução de Produtos ... 7
4. Dispensa de Medicamentos e Produtos de Saúde ... 8
4.1. Medicamentos Sujeitos a Receita Médica (MSRM) ... 8
4.1.1. Prescrição Médica ... 8
4.1.2. Dispensa de uma Prescrição Médica ... 10
4.1.3. Comparticipações ... 12
4.1.4. Medicamentos psicotrópicos e estupefacientes ... 12
4.1.5. Conferência de Receituário e Faturação ... 13
4.2. Medicamentos não sujeitos a Receita Médica (MNSRM) ... 13
4.3. Manipulados ... 14
4.4. Produtos de Dermocosmética e Higiene Corporal ... 14
4.5. Produtos Homeopáticos ... 15
4.6. Produtos Dietéticos para Alimentação Especial e Infantis ... 15
4.7. Suplementos Alimentares ... 16
4.8. Produtos Fitoterapêuticos ... 16
4.9. Dispositivos Médicos ... 16
Unidade Curricular Estágio V
5. Outros Serviços Farmacêuticos prestados na Farmácia ... 17
5.1. Testes Bioquímicos ... 17 5.2. Tensão Arterial ... 18 5.3.Administração de Injetáveis ... 19 6. VALORMED ... 19 7. Atividades desenvolvidas ... 20 7.1. Cronograma ... 20 7.2. Experiência pessoal... 22 8. Formações ... 22 9. Conclusão ... 23
Parte II – Temas desenvolvidos ... 24
1. Poliomielite, Adeus Polio ... 24
1.1. Polio no mundo ... 24
1.2. Poliomielite ... 25
1.3. Imunização ... 25
1.3.1. OPV ... 26
1.3.2. IPV ... 26
1.4. Caminhada “Adeus Polio” ... 26
2. Arroz Vermelho ... 27
2.1. Contextualização ... 27
2.2. Estatinas ... 27
2.3. O que é o arroz vermelho? ... 28
2.4. Conclusão ... 30
3. Tosse ... 31
3.1. Contextualização ... 31
3.2. Caracterização da tosse ... 31
3.3. Tratamento ... 32
3.3.1. Tratamento da Tosse Não Produtiva ... 33
3.3.2. Tratamento da Tosse Produtiva ... 36
3.4. Medidas não farmacológicas ... 40
Unidade Curricular Estágio VI 3.6. Conclusão ... 41 Anexos ... 42 Bibliografia ... 54
Unidade Curricular Estágio VII
Lista de abreviaturas
AIM – Autorização de Introdução no Mercado
AFP – Associação de Farmácias Portuguesas
AR – Arroz Vermelho
ARS – Administração Regional de Saúde
bOPV – Vacina oral de poliovírus bivalente
CNP – Código Nacional de Produtos
CNPEM - Código Nacional para a Prescrição Eletrónica de Medicamentos
DCI – Designação Comum Internacional
FEFO – First expired, first out
FSA - faça segundo a arte
IECAs – Inibidores da Enzima Conversora da Angiotensina
iMAO – Inibidores da Monoamina Oxidase
INFARMED- Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, I.P.
IPV – Vacina inativada de poliovírus
IVA - Imposto sobre o Valor Acrescentado
LDL-c – Colesterol de baixa densidade
HDL-c – Colesterol de alta densidade
HMG-CoA - Hidroximetilglutaril-Coenzima A
HTA – Hipertensão Arterial
MNSRM- Medicamento não sujeito a Receita Médica
mOPV – Vacina oral de poliovírus monovalente
MSRM – Medicamento sujeito a Receita Médica
OPV – Vacina oral de poliovírus
PPAV - Doença Paralítica associada à vacina
PVP – Preço de Venda ao Público
PVF – Preço de Venda á Farmácia
SAM – Mialgia Associada a Estatinas
SI – Sistema Informático
RM – Receita Médica
Unidade Curricular Estágio VIII
Lista de figura
Figura 1 – Fachada exterior da Farmácia Portela [1]. ... 1
Figura 2 - Casos de Poliomielite no mundo em 2016. Legenda: A amarelo estão os países endémicos. Os pontos vermelhos são os casos de poliomielite tipo 1 selvagem reportados. Dados de 1 de Janeiro a 14 de Junho de 2016 [21]. ... 24
Figura 3 - Via do mevalonato, que indica o local de ação das estatinas e os produtos finais da reação da HMG-CoA redutase, incluindo o colesterol e os isoprenóides [31]. ... 28
Figura 4 - Estrutura química da Monacolina K (lovastatina) [37]. ... 29
Figura 5 - Mecanismo de ação do AR [35]. ... 30
Figura 6 - Estrutura química do dextrometorfano e um exemplo. ... 34
Figura 7 - Estrutura química da levodropropizina e um exemplo. ... 35
Figura 8 - Estrutura química da oxolamina e um exemplo. ... 35
Figura 9 - Estrutura química da acetilcisteína e um exemplo. ... 38
Figura 10 - Estrutura química do ambroxol e um exemplo. ... 38
Figura 11 - Estrutura química da bromexina e um exemplo. ... 39
Figura 12 - Estrutura química da Carbocisteína e um exemplo. ... 39
Figura 13 - Estrutura química da Erdosteína e exemplo. ... 40
Lista de tabelas
Tabela 1 - Valores de Referência do Colesterol Total e de Triglicerídeos (mg/dl) [17, 18]. ... 17Tabela 2 - Valores de Referência da Glicémia (mg/dl) [19]. ... 18
Tabela 3 - Valores de Referência da HTA (mmHg) [21]. ... 19
Unidade Curricular Estágio 1
Parte I – Atividades desenvolvidas durante o estágio
1. Descrição física e funcional da Farmácia Portela
A Farmácia Portela localiza-se no centro de Vila Nova de Gaia, na Rua Sá
da Bandeira, nº238, próximo do Hospital de Gaia e de dois Centros de Saúde, o
de Mafamude/Soares dos Reis e o das Devesas/Barão do Corvo, pelo que tem
uma afluência considerável de utentes provenientes destes locais.
Figura 1 – Fachada exterior da Farmácia Portela [1].
Tendo mais de 100 anos de existência, encontra-se, desde de 1979, sob a
direção da Dra. Maria da Graça Bandeira Pinto V. Camarinha [1].
A Farmácia tem um período de funcionamento diário de 24 horas durante
todos os dias do ano, incluindo fins-de-semana e feriados. Durante o período
compreendido entre as 24:00 e as 8:00 horas o serviço de dispensa de
medicamentos é assegurado por um profissional através de um postigo que se
localiza na fachada da farmácia.
Respeitando o Decreto-lei nº 307/2007, de 31 de Agosto, é garantida a
acessibilidade a todos os potenciais utentes incluindo crianças, idosos e
portadores de deficiência encontrando-se nas instalações uma rampa amovível
que é colocada na entrada da farmácia quando necessário [2, 3].
O aspeto exterior é característico e profissional, sendo facilmente visível e
identificável. Encontra-se identificada por um letreiro com a inscrição
“FARMÁCIA PORTELA” e o símbolo da cruz verde iluminado durante o período
de funcionamento da farmácia. Existe ainda uma placa na fachada que identifica
o profissional responsável pela direção técnica da farmácia [3].
A estrutura do espaço interior respeita a legislação em vigor tendo uma
área total superior a 95m
2e sendo constituída pelas seguintes áreas:
- Armazém (cerca de 25m
2);
- Laboratório (cerca de 8m
2);
Unidade Curricular Estágio 2
- Instalações sanitárias (cerca de 5m
2);
- Gabinete de atendimento personalizado (cerca de 7m
2);
- Zona de atendimento ao público (cerca de 50m
2) [4].
Além destas áreas, a farmácia Portela conta também com uma zona
destinada à receção e conferência de encomendas, o robot, um segundo
armazém para os produtos consumíveis da farmácia, um escritório da Direção
Técnica, um gabinete para o receituário, um escritório de gestão e contabilidade
e gabinetes de serviços adicionais disponibilizados aos utentes (podologia,
nutrição, psicologia e acupuntura). Adicionalmente existe ainda um Farmadrive,
na fachada da farmácia.
A zona de atendimento dispõe de várias áreas bem definidas onde estão
expostos em lineares:
- Produtos de dermocosmética organizados por marca;
- Material de penso e de ortopedia;
- Produtos de higiene oral;
- Produtos dietéticos e multivitamínicos;
- Produtos capilares;
- Produtos sazonais;
- Produtos para o bebé;
- Alguns medicamentos não sujeitos a receita médica (MNSRM), sendo
que, os MNSRM estão expostos atrás do balcão fora do alcance dos utentes.
Na Farmácia Portela são asseguradas todas as condições de iluminação,
temperatura, humidade e ventilação exigidas para o armazenamento não só dos
medicamentos, mas também de outros produtos farmacêuticos, químicos,
matérias-primas e materiais de embalagem e que contribuem para uma
atmosfera acolhedora. Estas condições são verificadas e registadas diariamente
(no inicio da manhã e ao final da tarde), através de sondas colocadas em vários
locais da farmácia que permitem assegurar as condições necessárias para a
conservação dos produtos armazenados. O ambiente é controlado no que
respeita à temperatura e humidade, sendo este mantido abaixo dos 25ºC e 60%
de humidade.
A equipa da farmácia Portela é composta pela Diretora Técnica, 9
farmacêuticos, 8 técnicos de farmácia, 1 técnica auxiliar e 2 funcionárias não
diferenciadas.
Unidade Curricular Estágio 3
2. Sistema Informático
Os Sistemas Informáticos (SI) são fundamentais na implementação de uma
gestão racional do medicamento facilitando a gestão dos stocks e a
administração financeira da farmácia. Permitem ainda dar uma resposta mais
rápida e eficiente aos utentes sempre que estes solicitam algum
aconselhamento, bem como na cedência de medicamentos, fazendo com que
esta seja realizada em condições de segurança e uma constante atualização da
informação. Assim, a informatização é determinante na qualidade dos serviços
prestados sendo uma ferramenta essencial para o farmacêutico. O sistema
informático utilizado pela Farmácia Portela é o 4Digital, disponibilizado pela
4DigitalCare
– Sistemas de Informação Para a Saúde, Lda. O 4Digital
disponibiliza, entre outras funções:
- Gestão do stock (quantitativa e no que respeita à localização dos produtos
para que se mantenha atualizado e constantemente rastreado);
- Realização e receção de encomendas;
- Devoluções e suas regularizações;
- Controlo dos prazos de validade (possibilitando que sejam gerados
documentos que identifiquem os produtos com o prazo de validade próximo de
expirar para que, desta forma, seja evitado a caducidade e inutilidade dos stocks
e, consecutivamente, perda de capital);
- Tratamento do receituário;
- Gestão do movimento de psicotrópicos e estupefacientes;
- Acesso a fichas de cliente;
- Acesso a fichas de produtos com os respetivos movimentos e
informações;
- Vendas (e respetiva atualização de stock).
A Farmácia Portela tem também ao seu dispor um sistema que facilita a
movimentação e armazenamento de dinheiro, o sistema de CashGuard onde são
realizados os pagamentos centralizados de todas as vendas realizadas na
farmácia, o que permite ao profissional despender menos tempo a entregar o
troco ao utente e evita erros nesse mesmo processo.
Unidade Curricular Estágio 4
3. Aprovisionamento, Armazenamento e Gestão de Produtos
3.1.
Gestão de Stocks
Uma boa gestão de stocks é o primeiro passo para o bom funcionamento e
rentabilidade de uma farmácia e baseia-se numa previsão da rotatividade dos
produtos, bem como pela sazonalidade que alguns apresentam, hábitos de
prescrição médica da extensão de saúde mais próxima, bonificações dos
fornecedores, condições de pagamento, entre outras.
Uma correta gestão de stocks inicia-se pela escolha de fornecedores. A
seleção dos fornecedores depende dos critérios definidos por cada farmácia
variando entre os preços praticados, a pontualidade e frequência da entrega das
encomendas, a diversidade de produtos disponíveis, as condições e facilidade
de pagamento, os descontos e/ou bonificações e a facilidade de devoluções. Os
fornecedores podem ser laboratórios produtores e/ou intermediários grossistas,
cada um com as suas vantagens e desvantagens. Os laboratórios têm como
vantagem os preços mais baixos, o que permite uma margem de lucro maior,
mas a entrega pode ser tardia e podem exigir quantidades mínimas. Por outro
lado, os intermediários grossistas fornecem a encomenda de forma mais rápida
e permitem vários pedidos diários, sem a exigência de quantidades mínimas. A
Farmácia Portela tem como principais fornecedores a Cooprofar, a OCP,
ALLIANCE HealthCare e a Empifarma.
3.2.
Encomendas
As encomendas são efetuadas aos armazenistas com o auxílio do SI.
Quando um produto atinge o stock mínimo, este é adicionado automaticamente
na encomenda diária, pelo SI. Esta encomenda é analisada, sendo possível
acrescentar ou remover produtos manualmente de acordo com as necessidades
da Farmácia. No final, o pedido é enviado ao armazenista. As encomendas são
realizadas duas vezes por dia, uma no final do período da manhã e outra no final
do dia, e modo a repor os produtos escoados ao longo do dia e evitar ruturas de
stock. Outra forma de pedir produtos aos armazenistas é por contacto telefónico
ou através do SI. Este método é muito útil pois permite satisfazer um pedido
específico de um determinado utente, uma situação urgente ou para pedido de
produtos que se encontram rateados. No caso de encomendas diretas a
Unidade Curricular Estágio 5
laboratórios, estas são feitas presencialmente através do delegado comercial do
laboratório em questão, telefone, fax ou correio eletrónico.
3.3.
Receção e Conferência das Encomendas
Na farmácia existe uma área destinada a receção e conferência de
encomendas e um profissional responsável por esta tarefa, de modo a melhorar
os serviços prestados, já que a correta e ágil gestão da receção se traduz na
assegurada e atempada disponibilidade dos produtos aos clientes. Esta fase é
também condicionante para uma eficaz gestão do stock e minimização de erros
e divergências do mesmo e para o controlo dos prazos de validade dos produtos.
Ao longo do dia as encomendas são entregues pelos distribuidores dos
fornecedores, devidamente acondicionadas em caixas próprias e identificadas.
Estas mesmas caixas devem proteger os produtos face às condições de
transporte e atmosféricas para que se garanta a sua integridade. Paralelamente,
a dispensa das encomendas deve também ser feita de acordo com as exigências
de conservação dos produtos e com a sua natureza, sendo os produtos que
exigem conservação no frio e os produtos controlados (como psicotrópicos,
benzodiazepinas ou estupefacientes) devidamente acondicionados e sinalizados
com o alerta de produtos especiais.
No momento em que uma encomenda está a ser entregue deve,
inicialmente, verificar-se se o destinatário é o correto e a concordância do
número de volumes entregues face ao número que consta na guia de transporte.
A encomenda recebida é acompanhada por uma Guia de Remessa ou Fatura
em duplicado. Nestes documentos constam as seguintes informações:
- Identificação da Farmácia;
- Identificação do Fornecedor;
- Número e data do documento;
-Designação dos produtos (através do código, nome comercial, forma
farmacêutica, dosagem e tamanho da embalagem);
- Quantidade encomendada;
- Quantidade satisfeita;
- Preço de Venda à Farmácia (PVF), taxa de IVA dos produtos e Preço de
Venda ao Público (PVP) (se aplicável);
Unidade Curricular Estágio 6
Ao rececionar uma encomenda dá-se prioridade às encomendas que
contenham medicamentos face às de outros produtos e, dentro das encomendas
de medicamentos, é priorizada a receção de produtos que necessitam de
conservação no frio. A encomenda é conferida com a respetiva nota de
encomenda e após conferência, é necessário aceder ao SI para se proceder à
receção da encomenda. Para cada produto é necessário verificar se o PVP
impresso na embalagem coincide com o que se encontra autorizado, se as
quantidades enviadas são efetivamente as faturadas e a integridade das
embalagens assim como o seu prazo de validade. Os produtos éticos
correspondem aos que possuem um preço inalterável, impresso nas
embalagens. Neste tipo de produtos, basta conferir que os valores coincidem
com os da fatura ou guia de remessa. Os produtos Nett são todos os produtos
cuja margem de lucro pode ser determinada pela farmácia sendo necessário
conferir e atualizar o preço de venda à farmácia mas também a margem de lucro,
que determinam o preço de venda ao público. Por último, é conferido o valor total
da encomenda com IVA e sem IVA e valor total do IVA com o valor descrito na
fatura ou guia de remessa e registado o número do documento para garantir a
rastreabilidade do processo.
3.4.
Armazenamento dos Produtos
Após rececionadas as encomendas os produtos são armazenados no local
apropriado. Dependendo do tipo de produtos estes são encaminhados para o
frigorífico, robot, expositores na zona de atendimento, armazém ou nos locais de
armazenamento contíguos com a zona de receção de encomendas e robot.
Todos os medicamentos/produtos de saúde/produtos de dermocosmética que se
encontram expostos são previamente etiquetados, tal como o exigido pelas
normas, com o preço de venda ao público, taxa de IVA, código CNP (Código
Nacional de Produtos) e designação do produto. Grande parte dos produtos e a
maioria dos medicamentos encontra-me armazenados no robot. Através deste
equipamento é possível garantir-se as condições ideais de armazenamento dos
produtos, maximizar-se a eficácia na gestão de stocks, com um controlo rigoroso
dos prazos de validade. Permite também uma maior capacidade de
armazenamento e organização de stocks, para além do aumento da eficácia no
ato de dispensa. Após rececionados, os produtos armazenados no robot são
Unidade Curricular Estágio 7
introduzidos por um profissional. Este procedimento exige alguns cuidados para
que os medicamentos sejam devidamente armazenados. Deste modo, é
registada a quantidade a introduzir de cada medicamento (mesma Designação
Comum Internacional (DCI), laboratório, dosagem, forma farmacêutica e
validade), o prazo de validade e feita a leitura do seu código. Posteriormente
através do tapete rotativo os medicamentos vão sendo introduzidos,
armazenados segundo o método FEFO (First expired, first out) uma vez que o
robot se encarrega da otimização do armazenamento. Os produtos que
necessitem de ser provisoriamente guardados no armazém são para lá
encaminhados, sendo dispostos por ordem alfabética de forma farmacêutica e
segundo o método FEFO.
3.5.
Controlo dos Prazos de Validade
De forma a garantir que não há perdas de produtos para a Farmácia por
expirar a validade, é feito um controlo mensal dos prazos de validade. O SI gera
automaticamente uma listagem dos produtos que tenham prazo de validade a
acabar no mês de pesquisa. Esta informação é confirmada presencialmente. No
caso de serem detetados produtos com data de validade próxima de expirar,
pode proceder-se à sua devolução ao fornecedor, ou caso seja válido, ao
escoamento dos produtos, tendo sempre em conta a qualidade e segurança para
os utentes.
3.6.
Devolução de Produtos
As encomendas recebidas podem, por diversos motivos, exigir que sejam
feitas devoluções ou reclamações aos fornecedores, que devem ser
prontamente comunicadas. De entre os motivos podem enumerar-se:
- Prazo de validade caducado ou demasiado curto;
- Produto danificado, incompleto ou em condições indevidas de
armazenamento;
- Produto não responde ao encomendado em qualidade ou quantidade;
- Ordem de recolha do mercado por parte do INFARMED ou do próprio
laboratório.
No caso das situações referidas a Farmácia emite uma Guia de Devolução
em triplicado, que discrimina a fatura correspondente, o fornecedor a que o
Unidade Curricular Estágio 8
produto se destina, a identificação do produto e quantidade a devolver, o preço
de custo, o preço de venda ao público e o motivo da devolução. O original deste
documento é enviado, juntamente com o duplicado, com o produto ao fornecedor
e o triplicado permanece em arquivo na farmácia. A resolução destas devoluções
é feita através da emissão de uma nota de crédito pelo fornecedor ou da troca
de produto.
4. Dispensa de Medicamentos e Produtos de Saúde
A dispensa de medicamentos consiste no ato profissional no qual o
farmacêutico, após avaliar a medicação, cede medicamentos ou substâncias
medicamentosas aos utentes mediante prescrição médica ou em regime de
automedicação ou indicação farmacêutica [3]. A dispensa de medicamentos
representa uma das principais atividades do profissional de farmácia, tendo este
um papel ativo no esclarecimento e aconselhamento ao utente garantindo a
compreensão correta de toda a informação dada, que deverá ser o mais clara
possível.
4.1.
Medicamentos Sujeitos a Receita Médica (MSRM)
Para que um medicamento seja considerado um MSRM, este tem de
cumprir uma das seguintes condições:
- Possa constituir um risco para a saúde do doente, direta ou indiretamente,
mesmo quando usado para o fim a que se destina, caso seja utilizado sem
vigilância médica;
- Possa constituir um risco, direto ou indireto, para a saúde, quando seja
utilizado com frequência em quantidades consideráveis para fins diferentes
daquele a que se destina;
- Contenha substâncias, ou preparações à base dessas substâncias, cuja
atividade ou reações adversas seja indispensável aprofundar;
- Destinar-se a ser administrado por via parentérica [5].
4.1.1. Prescrição Médica
A Receita Médica (RM) constitui um meio de comunicação entre o médico
e o Farmacêutico. Existem 4 tipos de RM:
Unidade Curricular Estágio 9
- RM não renovável: tratamentos de curta duração com validade de 30 dias
a partir da data de prescrição;
- RM renovável: tratamentos prolongados, com validade de 6 meses e
apresenta-se em triplicado;
- RM especial: tratamento com estupefacientes ou psicotrópicos e que
possam levar a toxicodependência ou ao seu uso ilegal;
- RM restrita: tratamento com medicamentos cuja utilização é reservada a
certos meios especializados, como o meio hospitalar [5].
A prescrição de MSRM é efetuada normalmente por via eletrónica, salvo as
seguintes exceções: falência do SI, inadaptação do prescritor (confirmada e
validada anualmente pela respetiva Ordem profissional), prescrição ao domicílio
ou outras situações até um máximo de 40 receitas por mês. Para que a RM
manual seja considerada válida, deve ser assinalada no local próprio a exceção
aplicada, ter a vinheta identificativa do médico prescritor e do local de prescrição
(se aplicável), data e assinatura do prescritor [6].
Para se considerarem válidos todos os modelos de receitas médicas têm
de contemplar os seguintes elementos:
- Número de receita (constituído por 19 dígitos);
- Identificação do prescritor, com os dados do médico, vinheta e assinatura;
- Dados do utente, com o nome e número de utente e o regime especial de
comparticipação, se aplicável;
- Identificação do medicamento:
1. DCI ou nome da substância ativa, a prescrição deverá ser feita pela
DCI salvo 3 exceções a seguir referidas:
a) Prescrição de medicamento com margem ou índice terapêutico
estreito, conforme informação prestada pelo INFARMED – exceção a);
b) Intolerância ou reação adversa a um medicamento com a
mesma substância ativa, mas com outra denominação comercial, previamente
fundamentada e reportada ao INFARMED – exceção b);
c) Prescrição de medicamento para tratamento superior a 28 dias
– exceção c).
2. Dosagem;
3. Forma farmacêutica;
4. Dimensão da embalagem;
Unidade Curricular Estágio 10
5. Código representativo que agrupa, pelo menos, as seguintes
características do medicamento: DCI + Dosagem + Forma farmacêutica
+ n.º unidades - Código Nacional para a Prescrição Eletrónica de
Medicamentos (CNPEM) representado em dígitos e código de barras.
- Posologia e duração de tratamento (dose de medicamento, o intervalo de
administração, bem como, a duração do tratamento);
- Comparticipações especiais (identificação do utente com a letra “O” e
presença do despacho que estabelece o regime especial de comparticipação de
medicamentos, se aplicável);
- Número de embalagens:
Em qualquer receita apenas podem ser prescritos até 4
medicamentos distintos num total de 4 embalagens;
Podem ser prescritas no máximo duas embalagens do mesmo
medicamento;
Apenas nos casos dos medicamentos que se apresentem em doses
unitárias é possível a prescrição de 4 embalagens do mesmo
medicamento.
- Data de Prescrição.
4.1.2. Dispensa de uma Prescrição Médica
Aquando da dispensa de uma prescrição médica esta deve ser feita de
forma segura e eficiente dando lugar, quando necessário, a um diálogo em
particular com o utente. Desta forma, durante a dispensa de um medicamento
sujeito a receita médica são tomadas medidas para:
- Identificar o doente, o médico prescritor e a entidade responsável pelo
pagamento;
- Verificar a data de validade da prescrição;
- Verificar a autenticidade da prescrição;
- Ajudar o utente a resolver o problema quando a prescrição não pode ser
dispensada, por exemplo devido à validade da receita ter expirado, sendo
aconselhado o utente a dirigir-se novamente ao médico prescritor;
Unidade Curricular Estágio 11
- Identificar o medicamento e confirmar a forma farmacêutica, posologia,
apresentação, método de administração e duração do tratamento, sendo estas
informações transmitidas ao utente verbalmente e por escrito [3].
É permitido ao doente a escolha por qualquer um dos medicamentos com
o mesmo CNPEM, excetuando-se as situações em que as prescrições fazem
menção à exceção a) ou b) que determinam a obrigatoriedade de dispensa do
medicamento prescrito. Perante uma prescrição com exceção c) o utente tem,
contrariamente, direito de opção entre o medicamento prescrito ou um substituto
com um PVP inferior. As farmácias devem ter sempre disponíveis para venda no
mínimo três medicamentos com as mesmas características do medicamento
prescrito, de entre os que correspondem aos cinco mais baratos de cada grupo
homogéneo, devendo dispensar um destes, a não ser que seja outra a opção do
utente [7].
Uma vez que o Farmacêutico constitui o último profissional de saúde a
contactar com o doente, é da responsabilidade deste garantir que o utente tem
toda a informação necessária acerca da finalidade do tratamento, modo de
utilização, posologia, possíveis efeitos adversos e outras informações que sejam
relevantes. Pode ainda ser transmitida informação relativa a outras medidas não
farmacológicas que possam ser úteis no decurso do tratamento. A transmissão
de informação ao utente deve ser feita de modo claro e utilizando uma linguagem
adequada ao utente, devendo a informação ser transmitida oralmente e/ou por
escrito se necessário.
Tendo em conta os aumentos da despesa pública que se têm verificado no
sector da saúde, têm sido desenvolvidas estratégias para a contenção de custos.
Uma das principais iniciativas é a promoção da prescrição de medicamentos por
DCI e a promoção da dispensa de medicamentos genéricos, de acordo com o
artigo 120.º do Decreto-Lei n.º176/2006, de 30 de Agosto. Os medicamentos
genéricos possuem a mesma composição qualitativa e quantitativa em
substâncias ativas, a mesma forma farmacêutica e a bioequivalência com o
medicamento de referência foi já comprovada e demonstrada por estudos de
biodisponibilidade apresentado a mesma atividade terapêutica. Para além da
prescrição de medicamentos genéricos a introdução de Preços de Referência na
comparticipação dos medicamentos pelo Estado aos utentes do Serviço
Unidade Curricular Estágio 12
Nacional de Saúde, bem como de outras entidades, permite equilibrar os preços
dos medicamentos, reduzindo os encargos dos utentes com a medicação [5, 8].
4.1.3. Comparticipações
A atual legislação prevê a possibilidade de comparticipação de
medicamentos através de um regime geral e de um regime especial, o qual se
aplica a situações específicas que abrangem determinadas patologias ou grupos
de doentes. Segundo o Decreto-Lei n.º 106-A/2010 comparticipação do Estado
no preço dos medicamentos de venda ao público é fixada de acordo com os
seguintes escalões:
- Escalão A - 90%;
- Escalão B - 69%;
- Escalão C - 37%;
- Escalão D - 15% [9].
No regime especial de comparticipação esta é efetuada em função dos
beneficiários, sendo a comparticipação do Estado no preço dos medicamentos
integrados no escalão A acrescida de 5% (95%) e 15% nos escalões B (85%), C
(52%) e D (30%), para pensionistas do regime especial, ou das patologias ou
grupos de utentes. Os medicamentos manipulados são comparticipados em 30%
do seu preço. Para produtos destinados ao autocontrolo da diabetes, a
comparticipação é de 85% para tiras-teste e de 100% para agulhas, seringas e
lancetas [7]. Além da comparticipação garantida pelo SNS, existem outros
organismos que comparticipam os medicamentos dos seus associados, em
sistema integral ou complementar como o caso da Caixa Geral de Depósitos,
Unidade de Saúde EDP
– SáVida, Sindicato de Bancários do Norte ou o
Sindicato Independente da Banca. Nestes casos, e caso a entidade responsável
descrita na receita seja o SNS, existe uma complementaridade entre este e o
organismo onde o utente está inserido [9].
4.1.4. Medicamentos psicotrópicos e estupefacientes
A prescrição destes medicamentos segue as mesmas regras que os
restantes MSRM, no entanto, têm de ser prescritos isoladamente em receitas
eletrónicas identificadas com a sigla RE
– Receita Especial [7]. A dispensa
Unidade Curricular Estágio 13
destes medicamentos é acompanhada da recolha dos dados do adquirente,
utente e médico, número e data da RM e data de dispensa num formulário
próprio disponibilizado pelo SI. Após a venda é impresso um Documento de
Psicotrópicos onde constam os medicamentos dispensados e informação
relativa ao adquirente, utente e ao médico. Este documento é anexado a uma
cópia da receita que é arquivado em local específico e mantido na Farmácia
durante 3 anos [6].
4.1.5. Conferência de Receituário e Faturação
A conferência de receituário é uma atividade que permite a deteção de
erros durante a dispensa que possam invalidar a Receita Médica. Durante a
conferência verifica-se se a medicação dispensada é a correta, a validade da
Receita, assinatura do médico e a presença do carimbo da Farmácia e data,
assinatura de quem efetuou a dispensa e de quem levantou a medicação. Caso
se verifique alguma inconformidade, é necessário fazer a correção da receita
para que a Farmácia receba o valor relativo à percentagem do medicamento não
comparticipado. Depois de corrigidas, as receitas são organizadas por
organismos de comparticipação e, dentro destes, em lotes de trinta unidades.
Para cada lote é emitido através do SI um Verbete de Identificação de Lote onde
consta a identificação relativa à Farmácia, organismo de comparticipação, valor
da comparticipação, mês e ano correspondente, devendo este ser carimbado e
rubricado. No final do mês é efetuado o fecho dos vários organismos e é emitida
a Relação de Resumos de Lote e a Fatura Final. As receitas relativas ao SNS
são enviadas para um centro de conferência da Administração Regional de
Saúde (ARS) e o restante receituário é conferido pelas respetivas entidades. O
envio das receitas para conferência deve ser feito até ao dia 5 de cada mês para
as receitas relativas ao SNS e até ao dia 10 para as restantes entidades. Caso
se verifiquem irregularidades, as receitas são devolvidas à Farmácia
acompanhadas da respetiva justificação, constituindo prejuízo para a Farmácia.
4.2.
Medicamentos não sujeitos a Receita Médica (MNSRM)
Os MNSRM são produtos de venda livre, sendo utilizados em transtornos
menores de saúde, durante um curto espaço de tempo, para alivio ou tratamento
de sintomas. Qualquer medicamento que não preencha qualquer das condições
Unidade Curricular Estágio 14
referidas para os MSRM pode ser classificado como MNSRM. Contudo, estes
medicamentos têm que conter indicações terapêuticas que se incluam na lista
de situações passíveis de automedicação. Os MNSRM não comparticipados são
dispensados nas Farmácias e nos Locais de Venda autorizados para o efeito,
sendo o seu Preço de Venda ao Público (PVP) sujeito ao regime de preços livres,
ou seja, fixado a nível dos canais de distribuição e comercialização [5].
4.3.
Manipulados
O medicamento manipulado é definido como qualquer fórmula magistral ou
preparado oficinal efetuado e dispensado sob a responsabilidade de um
farmacêutico [10]. Os medicamentos manipulados, para efeitos de
comparticipação, têm que ser prescritos isoladamente ou seja, a receita médica
não pode conter outros medicamentos/produtos. A receita tem que ser do tipo
MM (Medicamento Manipulado) ou tem que conter a sigla FSA (faça segundo a
arte). A preparação de manipulados deve ser feita com base nas monografias
descritas no Formulário Galénico Português (FGP) ou com base na prescrição
médica. Durante a elaboração do manipulado é preenchida uma ficha de
preparação (Anexo A). Tal como descrito nas “ Boas práticas a observar na
preparação de medicamentos manipulados” no fim procede-se às verificações
necessárias para garantir a qualidade do medicamento manipulado, o que inclui
a verificação dos carateres organoléticos e o pH [10].
4.4.
Produtos de Dermocosmética e Higiene Corporal
Entende-se por Produtos de Dermocosmética e de Higiene Corporal
qualquer substância ou preparação que seja destinada ao contacto com a
superfície corporal (epiderme, sistemas piloso e capilar, unhas, lábios e órgãos
genitais externos, ou com os dentes e mucosas orais) com o objetivo de,
exclusiva ou principalmente, limpar, perfumar, modificar o aspeto, proteger ou
prevenir determinadas alterações [11, 12].
A farmácia Portela possui uma grande diversidade de produtos de
dermocosmética procurando sempre uma exposição atrativa e manter-se
atualizada quando à sazonalidade e tendências, já que a venda deste tipo de
produtos sofre um grande impacto com as campanhas de marketing.
Unidade Curricular Estágio 15
4.5.
Produtos Homeopáticos
A homeopatia é uma terapia alternativa que consiste em tratar os doentes
por intermédio de substâncias em altas diluições, capazes de produzir no
individuo saudável, sintomas semelhantes aos da doença a tratar [13]. Existem
na Farmácia Portela diversos medicamentos homeopáticos, nas suas
apresentações comerciais como, por exemplo, o Oscillococcinum, Homeovox,
Stodal, Coryzalia e em unitários da Boiron. Em alguns casos são também
encomendados à Farmácia Central do Porto, principalmente quando há mais
urgência na sua entrega.
4.6.
Produtos Dietéticos para Alimentação Especial e Infantis
Os Produtos Dietéticos para Alimentação Especial segundo o artigo 2.º do
Decreto-Lei n.º216/2008, de 11 de Novembro, constituem uma “categoria de
géneros alimentícios destinados a uma alimentação especial, sujeitos a
processamento ou formulação especial, com vista a satisfazer as necessidades
nutricionais de pacientes e para consumo sob supervisão médica,
destinando-se à alimentação exclusiva ou parcial de pacientes com capacidade limitada,
diminuída ou alterada para ingerir, digerir, absorver, metabolizar ou excretar
géneros alimentícios correntes ou alguns dos nutrientes neles contidos ou seus
metabolitos, ou cujo estado de saúde determina necessidades nutricionais
particulares que não géneros alimentícios destinados a uma alimentação
especial ou por uma combinação de ambos” [14].
Relativamente aos Produtos Dietéticos Infantis dispensados na farmácia,
estes visam responder às necessidades nutricionais das crianças com idades
compreendidas entre os 0 e os 3 anos de idade. No mercado farmacêutico estão
disponíveis vários tipos de produtos destacando-se os leites, farinhas e boiões.
Relativamente aos leites estão disponíveis leites para lactentes, de transição e
de crescimento (crianças 1-3 anos de idade). Dentro da vasta gama de leites
disponíveis existem ainda leites para crianças com tendência a terem cólicas
e/ou obstipação, leites anti regurgitantes, leites para recém-nascidos prematuros
e de baixo peso e leites para crianças com determinadas intolerâncias ou
alergias. É importante reconhecer que os produtos dietéticos infantis,
especialmente os destinados a lactentes devem respeitar os limites mínimos e
máximos legalmente estipulados de vitaminas, minerais e oligoelementos [14].
Unidade Curricular Estágio 16
4.7.
Suplementos Alimentares
Os suplementos alimentares, como o próprio nome indica, destinam-se a
complementar o regime alimentar normal. As pessoas recorrem bastante a estes
suplementos, tanto no caso dos jovens sobretudo nas épocas de exames para
aumento de concentração e memória e também no caso dos idosos para a
melhoria da memória, articulações, entre outros. Apesar dos seus benefícios, é
preciso ter cuidado pois, devido à falta de uma legislação apertada e de
informação insuficiente a nível de estudos científicos, podem existir interações
de alguns destes produtos com outros produtos/medicamentos.
4.8.
Produtos Fitoterapêuticos
A fitoterapia consiste no tratamento de uma condição patológica ou
sintomas através do uso de substâncias ativas extraídas de plantas tendo por
base as suas propriedades profiláticas e medicinais. Os produtos fitoterápicos
podem ser utilizados como medicina alternativa ou complementar face à
tradicional e têm vindo a ser alvo de um crescente interesse por parte da
comunidade médica e dos utentes que procuram cada vez mais alternativas aos
medicamentos de síntese mais inócuas. Os utentes recorrem principalmente a
produtos contendo Passiflora e Valeriana.
4.9.
Dispositivos Médicos
Os Dispositivos Médicos são instrumentos, aparelhos, equipamentos,
software, materiais ou artigos usados isoladamente ou combinados cujo principal
efeito pretendido no corpo humano seja alcançado por meios farmacológicos,
imunológicos ou metabólicos. Podem ser utilizados em seres humanos para fins
de diagnóstico, prevenção, controlo, tratamento ou atenuação de uma doença,
lesão ou deficiência; para estudo, substituição ou alteração da anatomia ou de
um processo fisiológico; ou ainda para controlo de conceção. Existem diversas
classes de dispositivos médicos: classe I, baixo risco; classe IIa, médio risco;
classe IIb – médio risco; classe III – alto risco. A classe de risco é determinada
atendendo aos seguintes fatores:
1. Duração do contacto com o corpo humano (temporário, curto prazo e
longo prazo);
Unidade Curricular Estágio 17
3. Anatomia afetada pela utilização (cérebro, coração, membros inferiores,
etc.);
4. Riscos potenciais decorrentes da conceção técnica e do fabrico [15].
4.10. Medicamentos de Uso Veterinário
De acordo com o Decreto-Lei nº 148/2008 de 29 de julho, “um medicamento
veterinário é toda a substância, ou associação de substâncias, apresentada
como possuindo propriedades curativas ou preventivas de doenças em animais
ou dos seus sintomas, ou que possa ser utilizada ou administrada no animal com
vista a estabelecer um diagnóstico médico - veterinário ou, exercendo uma ação
farmacológica, imunológica ou metabólica, restaurar, corrigir ou modificar
funções fisiológicas” [16]. Dentro da gama de medicamentos de uso veterinário
disponíveis na Farmácia Portela os mais requeridos são os desparasitantes para
cães e gatos, suplementos alimentares, multivitamínicos e contraceção.
5. Outros Serviços Farmacêuticos prestados na Farmácia
Enquanto espaço de saúde e de acordo com o Decreto-lei n.º 307/2007,
de 31 de Agosto, a farmácia pode oferecer serviços de determinação dos
parâmetros bioquímicos e fisiológicos dos utentes [2].
5.1.
Testes Bioquímicos
Na Farmácia Portela são realizados os seguintes testes bioquímicos:
medição da glicémia, colesterol total, triglicéridos, ácido úrico e teste de gravidez.
A medição regular dos níveis de colesterol e triglicéridos é fundamental na
medida em que possibilita a identificação de indivíduos com risco de doença
cardiovascular, patologia cuja prevalência tem aumentado nos últimos anos. O
objetivo terapêutico para os valores de colesterol total e triglicéridos deve
encontrar-se dentro dos limites apresentados na tabela seguinte:
Tabela 1 - Valores de Referência do Colesterol Total e de Triglicerídeos (mg/dl) [17, 18].
Colesterol Total Triglicerídeos Recomendado <200 <150
Elevado 200-240 150-499
Unidade Curricular Estágio 18
Na Farmácia Portela é realizada também a medição da glicémia capilar.
Este é um parâmetro importante para o controlo da hiperglicemia em diabéticos
que não deve ultrapassar os 126 mg/dl em jejum e, após as refeições, os 200
mg/dl. Trata-se de uma medição simples e rápida, efetuada a partir de punção
capilar na polpa do dedo e aparelho e tiras reagentes específicas.
Tabela 2 - Valores de Referência da Glicémia (mg/dl) [19].
Baixa Normal Elevada Em Jejum <50 50-108 >108
Na Farmácia Portela também se mede o ácido úrico e os valores normais
dependem do sexo, e são os seguintes:
- Mulher: 2,4 - 6,0 mg/dL
- Homem: 3,4 - 7,0 mg/dL [20].
O teste de gravidez deteta a hormona gonadotrofina coriónica humana
(hCG) na urina. Esta hormona é utilizada como indicador de gravidez, segregada
quando o óvulo fecundado se implanta no útero o que, normalmente, acontece
cerca de 6 dias depois da fecundação. Este teste realizado na farmácia é
bastante preciso e permite um resultado rápido e cómodo. No entanto, em casos
de dúvida na interpretação do resultado, a utente pode ser encaminhada para o
médico ou aconselhada a repetir o teste. É aconselhado que seja feito com a
primeira urina da manhã, mais concentrada.
5.2.
Tensão Arterial
A Farmácia Portela disponibiliza também aos utentes o serviço de medição
dos valores de tensão arterial e tem um papel ativo no aconselhamento ao utente
e sensibilização dos riscos que advém da hipertensão arterial (HTA) e descuido
no controlo dos valores. Durante a medição o utente deve estar sentado, com a
coluna direita, repousado, despido de roupa apertada e evitar falar.
Seguidamente são analisados os valores resultantes da medição com base nos
valores normais do utente, condições patológicas, estilos de vida e terapia
farmacológica que possa fazer.
Unidade Curricular Estágio 19 Tabela 3 - Valores de Referência da HTA (mmHg) [21].
Categoria Sistólica Diastólica
Ótima <120 e <80
Normal 120-129 e/ou 80-84
Normal Alta 130-139 e/ou 85-89
HTA grau 1 140-159 e/ou 90-99
HTA grau 2 160-179 e/ou 100-109
HTA grau 3 ≥180 e/ou ≥110
HTA sistólica isolada ≥140 e <90
5.3.Administração de Injetáveis
Segundo o INFARMED a administração de vacinas e outros injetáveis nas
farmácias de oficina deve ser executada por farmacêuticos, que devem estar
habilitados com formação complementar específica, reconhecida pela Ordem
dos Farmacêuticos, sobre administração de vacinas e suporte básico de vida,
nomeadamente no tratamento de reação anafilática. A farmácia deve dispor de
instalações adequadas e autonomizadas, considerando-se como tal o gabinete
de atendimento personalizado devidamente equipado de:
a) Marquesa ou cadeira reclinável até à posição horizontal;
b) Armário ou outra estrutura adequada à arrumação do material a utilizar;
c) Superfície de trabalho que permita a manipulação para preparação do
injetável;
d) Contentores para resíduos adequados à recolha de material perfurante
e cortante e outro contentor para a recolha de material contaminado;
e) Contentor com tampa e pedal para lixo comum;
f) Desinfetante de mãos, desinfetante de superfície, álcool a 70º,
compressas, luvas e pensos rápidos [22].
Na Farmácia Portela, a administração de vacinas e injetáveis é feita na sala
de atendimento personalizado equipada com todos os materiais e equipamentos
exigidos.
6. VALORMED
A VALORMED é uma sociedade sem fins lucrativos que tem como objetivo
a recolha e gestão de medicamentos fora de uso, assim como das respetivas
embalagens. São passíveis de ser admitidos no VALORMED:
Unidade Curricular Estágio 20
- Materiais utilizados no acondicionamento e embalagens dos produtos
adquiridos (cartonagens vazias, folhetos informativos, frascos, blisters, bisnaga,
ampolas, etc.) mesmo que contenham restos de medicamentos;
- Acessórios utilizados para facilitar a administração dos medicamentos
(colheres, copos, seringas doseadoras, conta gotas, cânulas, etc.) [23].
Sempre que um contentor se encontra cheio, este é fechado e pesado
sendo posteriormente recolhido por um dos fornecedores da farmácia.
7. Atividades desenvolvidas
7.1.
Cronograma
No cronograma abaixo está especificado as atividades decorridas na
farmácia comunitária.
Tabela 4 - Cronograma de Atividades.
SEMANAS DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES
1ª Semana (1/12 a 4 /12) Integração na equipa e conhecimento dos diferentes
espaços da Farmácia Portela e da organização dos produtos e medicamentos existentes;
Receção, conferência e armazenamento de encomendas.
2ª Semana (7/12 a 11/12) Receção, conferência e armazenamento de encomendas;
Controlo de prazos de validade;
Determinação de parâmetros bioquímicos e medição da pressão arterial.
3ª Semana (14/12 a 18/12) Receção, conferência e armazenamento de encomendas e gestão de devoluções;
Controlo de prazos de validade;
Determinação de parâmetros bioquímicos e medição da pressão arterial.
4ª Semana (21/12 a 25/12) Receção, conferência e armazenamento de encomendas e gestão de devoluções;
Controlo de prazos de validade;
Determinação de parâmetros bioquímicos e medição da pressão arterial;
Verificação e registo das condições de humidade e temperatura.
5ª Semana (28/12 a 1/1) Receção, conferência e armazenamento de encomendas e gestão de devoluções;
Controlo de prazos de validade;
Determinação de parâmetros bioquímicos e medição da pressão arterial;
Verificação e registo das condições de humidade e temperatura.
6ª Semana (4/1 a 8/1) Receção, conferência e armazenamento de encomendas e gestão de devoluções;
Controlo de prazos de validade;
Determinação de parâmetros bioquímicos e medição da pressão arterial;
Unidade Curricular Estágio 21
Verificação e registo das condições de humidade e temperatura.
7ª Semana (11/1 a 15/1) Receção, conferência e armazenamento de encomendas e gestão de devoluções;
Controlo de prazos de validade;
Determinação de parâmetros bioquímicos e medição da pressão arterial;
Verificação e registo das condições de humidade e temperatura;
Realização do Manual de Procedimentos Normalizados para a Receção de Encomendas (Anexo B).
8ª Semana (18/1 a 22/1) Conferência e organização de receituário;
Determinação de parâmetros bioquímicos e medição da pressão arterial;
Verificação e registo das condições de humidade e temperatura.
9ª Semana (25/1 a 29/1) Conferência e organização de receituário;
Determinação de parâmetros bioquímicos e medição da pressão arterial;
Verificação e registo das condições de humidade e temperatura.
10ª Semana (1/2 a 5/2) Conferência e organização de receituário;
Determinação de parâmetros bioquímicos e medição da pressão arterial;
Verificação e registo das condições de humidade e temperatura.
11ª Semana (8/2 a 12/2) Conferência e organização de receituário;
Determinação de parâmetros bioquímicos e medição da pressão arterial;
Verificação e registo das condições de humidade e temperatura.
12ª Semana (15/2 a 19/2) Observação de Atendimentos;
Determinação de parâmetros bioquímicos e medição da pressão arterial;
Verificação e registo das condições de humidade e temperatura.
13ª Semana (22/2 a 26/2) Atendimento ao público com supervisão;
Determinação de parâmetros bioquímicos e medição da pressão arterial;
Verificação e registo das condições de humidade e temperatura.
14ª Semana (29/2 a 4/3) Atendimento ao público com supervisão;
Determinação de parâmetros bioquímicos e medição da pressão arterial;
Verificação e registo das condições de humidade e temperatura.
15ª Semana (7/3 a 11/3) Atendimento ao público;
Preparação de Manipulados (Anexo A);
Determinação de parâmetros bioquímicos e medição da pressão arterial;
Verificação e registo das condições de humidade e temperatura.
16ª Semana (14/3 a 19/3) Atendimento ao público;
Determinação de parâmetros bioquímicos e medição da pressão arterial;
Verificação e registo das condições de humidade e temperatura.
Unidade Curricular Estágio 22
17ª Semana (21/3 a 25/3) Atendimento ao público;
Determinação de parâmetros bioquímicos e medição da pressão arterial;
Verificação e registo das condições de humidade e temperatura.
18ª Semana (28/3 a 31/3) Atendimento ao público;
Determinação de parâmetros bioquímicos e medição da pressão arterial;
Verificação e registo das condições de humidade e temperatura.
7.2.
Experiência pessoal
O estágio realizado na Farmácia Portela permitiu-me não só tomar
conhecimento da orgânica e complexidade do funcionamento da mesma, através
da experiencia obtida nos vários setores que tive oportunidade de passar, mas
não menos importante foi o contacto com os utentes.
Neste âmbito, não quero deixar de salientar o enorme enriquecimento do
ponto de vista profissional e humano que esta experiência me proporcionou. Tive
assim, a oportunidade de conhecer, ouvir imensas histórias de vida, algumas
delas plenas de dramatismo, que nos tornam deveras sensíveis e conscientes
que o nosso papel não é só meramente profissional e científico, mas deverá ter
uma componente extremamente humana.
Gostaria ainda de referir que com a ajuda dos elementos mais experientes
da equipa fui ganhando progressivamente maior confiança e alguma autonomia
na resolução de múltiplas situações quer no aspeto funcional, quer no contacto
com o utente.
8. Formações
A Farmácia Portela aposta na contínua formação da sua equipa de
trabalho, assim durante o meu estágio tive a oportunidade de participar em várias
formações.
Formações decorridas na Farmácia Portela:
- Formação sobre Ejaculação Precoce e Disfunção Erétil e apresentação
dos novos produtos dos laboratórios Menarini: Spedra® e Dapoxetina;
- Apresentação dos produtos da NeoStrada;
- Apresentação dos produtos da Sesderma;
- Apresentação dos produtos da Bioderma, com enfoque na nova gama
Hydrabio®;
Unidade Curricular Estágio 23
- Apresentação dos produtos da Galderma, com enfoque nas gamas
Cetophil® e Inneov®;
- Formação sobre a Cessação Tabágica e apresentação dos novos
produtos da Niquitin®;
- Formação relativa à patologia de hemorroidas e apresentação do
Procto-Glyvenol®.
Formações decorridas fora da Farmácia Portela:
- Apresentação dos produtos da marca Nuxe, sobretudo da gama
Nuxuriance®;
-Formação sobre Medicina Preventiva e Suplementos Alimentares da
PharmaNord;
- Curso Geral da Bioderma;
- Apresentação dos produtos da Filorga;
- Apresentação dos produtos da Sesderma, sobretudo da gama CVit®;
- Formação sobre a Medicação não sujeita a receita médica da Associação
de Farmácias Portuguesas (AFP).
9. Conclusão
A farmácia comunitária ocupa um lugar de destaque enquanto instituição
de saúde pela acessibilidade dos cuidados que presta à população. Torna-se
assim um local privilegiado pelos utentes que procuram a prestação de cuidados
de saúde por profissionais com formação técnico-científica, centrados no
bem-estar do utente.
Ao longo do meu estágio tive a oportunidade de passar pelas diferentes
áreas da farmácia tal como na receção de encomendas, conferência de
receituário e no atendimento ao utente. Durante o tempo em que permaneci na
Farmácia Portela tive a oportunidade de participar em várias atividades tais como
a “Caminhada Contra a Polio”, atividade que foi organizada pela farmácia, mas
também tive a oportunidade de elaborar alguns projetos meus tais como a
realização do “Procedimento Normalizado da Receção e Conferência de
Encomendas da Farmácia Portela” (Anexo B) e um panfleto sobre a “tosse e o
seu tratamento”.
Unidade Curricular Estágio 24
Este estágio contribuiu para o meu desenvolvimento pessoal e profissional
na medida em que permitiu aplicar os conhecimentos absorvidos ao longo do
curso numa realidade mais prática. Permitiu-me também, ter uma maior noção
da peça fulcral que a farmácia comunitária representa na prestação de cuidados
de saúde e como esta profissão é importante para a sociedade e para a
qualidade de vida das pessoas.
Parte II – Temas desenvolvidos
1. Poliomielite, Adeus Polio
1.1.
Polio no mundo
O mundo está na iminência de alcançar a erradicação global da Poliomielite
[24, 25]. O último relatório da 69ª World Health Assembly, em Maio de 2016,
mostra grandes progressos na erradicação da Poliomielite, com apenas dois
países ainda endémicos, o Afeganistão e o Paquistão. A Nigéria foi oficialmente
retirada da lista de países endémicos em 25 de Setembro de 2015 [26]. Contudo,
até a transmissão do poliovírus ser interrompida, todos os países continuam em
risco de importação de poliomielite, especialmente países vulneráveis com
serviços de saúde e imunização frágeis [25]. Na Europa, o ultimo caso de
poliomielite indígena (caso não importado) ocorreu em Novembro de 1998. Em
Portugal o último caso ocorreu em Dezembro de 1986 [27].
Figura 2 - Casos de Poliomielite no mundo em 2016. Legenda: A amarelo estão os países endémicos. Os pontos vermelhos são os casos de poliomielite tipo 1 selvagem reportados. Dados de 1 de
Unidade Curricular Estágio 25
1.2.
Poliomielite
A Poliomielite é uma doença altamente infeciosa causada por um vírus da
família Picornaviridae [28, 29]. Existem três sorotipos de polio: poliovírus tipo 1,
2 e 3 [30]. O último caso de poliomielite tipo 2 foi detetado na India em 1999 e
em 20 de Setembro de 2015, a Comissão Mundial para a Certificação de
Erradicação da Poliomielite declarou erradicação global do serotipo 2 e o
serotipo 3 não foi detetado desde Novembro de 2012 [26, 30].
O vírus é transmitido por propagação de pessoa a pessoa principalmente
através da via fecal-oral ou, menos frequentemente, por um veículo comum (por
exemplo, água ou alimentos contaminados) e multiplica-se na mucosa oral e no
intestino [28]. A maioria das infeções de poliovírus são assintomáticas, após a
infeção assintomática primária do trato alimentar, menos de 1% desenvolvem
doença paralítica [31].
O período de incubação é de 3-6 dias desde a infeção até aos primeiros
sintomas, que podem ser febre, fadiga, dores de cabeça, vómitos, rigidez do
pescoço e dores nos membros, e de 7-21 dias desde a infeção até ao
aparecimento de paralisia [28, 29]. Entre os paralisados, 5% a 10% morrem
quando os músculos respiratórios ficam imobilizados [28]. Cerca de 40% das
pessoas que sobrevivem a poliomielite paralítica podem desenvolver sintomas
adicionais 15 a 40 anos após a doença inicial. Estes sintomas, chamados de
síndrome pós polio, incluem fraqueza muscular progressiva, fadiga severa e dor
nos músculos e articulações [25].
Não existe cura para a poliomielite, o único tratamento é para aliviar os
sintomas. Calor e terapia física são utilizados para estimular os músculos e
fármacos anti-espasmódicos são administrados para relaxar os músculos. Estes
tratamentos podem melhorar a mobilidade, mas não revertem os danos da
poliomielite [25].
1.3.
Imunização
O desenvolvimento de vacinas eficazes para prevenir a poliomielite foi uma
das principais descobertas médicas do século XX [25].
Existem dois tipos de vacinas:
- Vacina oral de poliovírus (OPV);
- Vacina inativada de poliovírus (IPV)
Unidade Curricular Estágio 26 1.3.1. OPV
A OPV consiste numa vacina atenuada de poliovírus e foi criada por Albert
Sabin [29]. Existem várias apresentações dependendo dos serotipos que
contem: trivalente (tOPV) que contem o serotipo 1, 2, e 3; bivalente (bOPV) que
contem o serotipo 1 e 3 e monovalente (mOPV) que contem o serotipo 1 ou o
serotipo 3 [25, 29, 30].
Na maioria dos países, principalmente nos menos desenvolvidos, a OPV é
utilizada em vez de IPV por várias razões:
- A OPV custa substancialmente menos do que IPV;
- Imunização primária com OPV induz imunidade intestinal superior em
comparação com IPV e, portanto, tem o potencial para prevenir a melhor
transmissão dos vírus selvagens;
- A OPV confere imunidade por contacto através de imunização passiva de
pessoas não vacinadas contra vírus derramadas por vacinas;
- A OPV é administrada em gotas orais, que são mais fáceis de administrar
do que as injeções de IPV e mais fácil de armazenar e transportar [29, 30].
Apesar destas vantagens, os países mais desenvolvidos fizeram a
transição para a IPV, principalmente porque a OPV tem a grande desvantagem
de, raramente, causar doença paralítica associada à vacina (PPAV) em pessoas
vacinadas [29].
1.3.2. IPV