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Eventos adversos: instrumento de avaliação do desempenho em centro cirúrgico de um hospital universitário

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Academic year: 2021

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RESUMO: Eventos adversos são danos não intencionais decorrentes da assistência em saúde que podem resultar em

aumento do tempo de internação, incapacidades e até óbito. Trata-se de estudo documental e retrospectivo que objetivou caracterizar os eventos adversos ocorridos na unidade de centro cirúrgico de um hospital universitário da Região Centro-Oeste do Brasil. Os dados foram coletados em 2009 e 2010, mediante análise dos registros nos livros de anotações de enfermagem, tendo sido tratados estatisticamente. Constatou-se a ocorrência de 42 eventos classificados como eventos adversos relacionados à organização do serviço e relacionados à assistência. O estudo em questão proporciona aos enfermei-ros da unidade de centro cirúrgico subsídios para que possam instituir estratégias que resultem em melhoria contínua da qualidade dos serviços de saúde e promovam a segurança do paciente durante todas as etapas do procedimento cirúrgico.

Palavras-chave: Avaliação de processos e resultados (cuidados de saúde); garantia da qualidade dos cuidados de saúde;

centro cirúrgico hospitalar; enfermagem.

ABSTRACT: Adverse events are unintended harm arising from health care that can result in increased length of hospitalization,

disability and even death. This retrospective, documentary study aimed to characterize adverse events occurring in a university hospital’s surgical center in Mid-west Brazil. Data were collected in 2009 and 2010 by examining nursing record books and were analyzed statistically. Forty-two adverse events, classified as relating to service organization and to care, were found to have occurred. This study provides input to nurses of the surgical center so that they can institute strategies that result in continuous improvement in health service quality and favor patient safety during all stages of surgery.

Keywords: Outcome and process assessment (health care); quality assurance, health care; surgery department, hospital; nursing. RESUMEN: Eventos adversos son daños no intencionales derivados de la atención en salud que puede resultar en una mayor

duración de la hospitalización, incapacidad y hasta el óbito. Es un estudio documental y retrospectivo que tuvo como objetivos caracterizar los eventos adversos que ocurren en la unidad de centro quirúrgico de un hospital universitario de la Región Centro-Oeste de Brasil. Los datos fueron recolectados en 2009 y 2010 a través del examen de los registros en los libros de notas de enfermería y fueron analizados estadísticamente. Se observó la ocurrencia de 42 eventos, clasificados como eventos adversos relacionados a la organización del servicio y relacionados a la asistencia. El estudio proporciona a los enfermeros de la unidad de centro quirúrgico subsidios para que puedan instituir estrategias que resulten en la mejora continua de la calidad de los servicios de salud y promuevan la seguridad del paciente durante todas las etapas de la cirugía.

Palabras clave: Evaluación de procesos y resultados (cuidados de salud); garantía de la calidad de los cuidados de salud;

centro quirúrgico hospitalario; enfermería.

E

VENTOSADVERSOS

:

INSTRUMENTODEAVALIAÇÃODODESEMPENHO

EM CENTRO CIRÚRGICO DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO

A

DVERSEEVENTS

:

INSTRUMENTFORASSESSINGPERFORMANCEOFAUNIVERSITY HOSPITALSURGICALCENTER

E

VENTOSADVERSOS

:

INSTRUMENTODEEVALUACIÓNDELDESEMPEÑOENCENTRO QUIRÚRGICODEUNHOSPITALUNIVERSITARIO

Lorena Pereira de SouzaI

Ana Lúcia Queiroz BezerraII

Ana Elisa Bauer de Camargo e SilvaIII

Fernanda Salerno CarneiroIV

Thatianny Tanferri de Brito ParanaguáV

Lucimeire Fermino LemosVI

IAcadêmica do Curso de Graduação em Enfermagem e Bolsista do Programa de Iniciação Científica da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás.  Goiânia, Goiás, Brasil. E-mail: lorena20souza@hotmail.com.

IIOrientadora. Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professor Adjunto III da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás. Goiânia, Goiás, Brasil. E-mail: analuciaqueiroz@uol.com.br.

IIIEnfermeira. Doutora em Enfermagem. Professor Adjunto III da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás. Goiânia, Goiás, Brasil. E-mail: anaelisa@terra.com.br.

IVAcadêmica do 10° período do Curso de Graduação em Enfermagem e Voluntária no Programa de Iniciação Científica da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás. Goiânia, Goiás, Brasil. E-mail: fernandasalernog12@hotmail.com.

VEnfermeira. Mestranda da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás. Goiânia, Goiás, Brasil. E-mail: thatywish@yahoo.com.br. VIEnfermeira. Professor Assistente da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás. Goiânia, Goiás, Brasil. E-mail: luciscats@gmail.com.

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Estudos apontam uma incidência de 38,4% de EAs em hospitais brasileiros e uma análise realizada em três hospitais de diferentes regiões mostrou que 8 em cada 100 pacientes internados sofrem um ou mais EAs e, no ambiente cirúrgico, cerca de 14% deles ocorrem por negligências. Dos EAs decorrentes da assistência à saúde, 67% são considerados evitáveis por meio de ações gerenciais1,4,6.

Além dos danos consideráveis, os EAs represen-tam um grave prejuízo financeiro. Nos Estados Unidos, estima-se que a cada ano um milhão de EAs evitáveis ocorrem e 100 mil pessoas morrem vítimas de EAs, fi-cando os gastos entre 17 e 29 bilhões de dólares1,4.

Na Grã-Betanha, o custo de EAs evitáveis é de aproximadamente US$ 1,5 bilhão por ano, somente pela ocupação adicional de leito hospitalar. Custos mais amplos de tempo de trabalho perdido, indenização por incapacidade, entre outros, são ainda maiores7,8.

No intuito de minimizar essas ocorrências, a OMS, por meio da Aliança Mundial para a Segurança do Paci-ente, lançada em 2004, propôs alguns desafios, entre os

quais se destaca o Segundo desafio global para a segurança do paciente: cirurgias seguras salvam vidas.

O novo desafio global visa aumentar os padrões de qualidade almejados em serviços de saúde de qualquer lugar do mundo, contemplando a prevenção de infec-ções de sítio cirúrgico; a anestesia segura; equipes cirúr-gicas seguras; e indicadores da assistência cirúrgica³.

Assim, entre os fatores que interferem na segu-rança da assistência estão o estado deficiente da infraestrutura e equipamentos, suprimentos e qualida-de qualida-de medicamentos não confiáveis, falhas na adminis-tração das organizações e no controle de infecções, capacitações e treinamento de pessoal inadequados e subfinanciamento severo³, bem como fatores relacio-nados ao ambiente e organização e processos de traba-lho: barulho, calor, agitação, estímulos visuais; estímu-los fisiológicos como fadiga, sono, uso de drogas, álcool e sobrecarga de trabalho; e estímulos psicológicos como o tédio, a frustração, a ansiedade e o estresse9.

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sa-nitária (ANVISA), no ano de 2001, visando obter melhor gerenciamento desses fatores e maior con-trole dos EAs, criou a Rede de Hospitais Sentinela, a fim de estimular a cultura de notificação e facilitar o planejamento de ações educativas10.

As responsabilidades do enfermeiro para a ga-rantia de um procedimento cirúrgico seguro tornam-se mais complexas à medida que é necessário integrar competências técnicas, administrativa, assistencial e de pesquisa, podendo ser efetivadas por meio da assistência perioperatória de forma individualizada, continuada, fundamentada em conhecimento cien-tífico, experiência e pensamento crítico, com desta-que para a adequação da estrutura, tecnologia e

equipa-I

NTRODUÇÃO

A

avaliação da

qualidade no desempenho dos serviços de saúde vem ganhando relevância no con-texto brasileiro, aumentando as exigências de segu-rança e de controle nas instituições hospitalares, prin-cipalmente com o avanço da tecnologia1,2.

Nesse contexto, a assistência cirúrgica tem sido um componente essencial para a assistência em saú-de mundial, pois, à medida que as incidências saú-de injú-rias traumáticas, cânceres e doenças cardiovasculares aumentam, o impacto da intervenção cirúrgica nos sistemas de saúde pública também cresce.

Embora os procedimentos cirúrgicos tenham a intenção de salvar vidas, estatísticas apontam que a fa-lha de segurança nos processos de assistência cirúrgica pode causar danos consideráveis, os eventos adversos e, devido à onipresença da cirurgia, riscos não controla-dos têm implicações significativas para a saúde pública3. Eventos adversos (EAs) são definidos como le-são ou dano não intencional que pode resultar em incapacidade ou disfunção, temporária ou permanen-te, e/ ou prolongamento da internação ou morte como consequência do cuidado, e não pela evolução natu-ral da doença de base1.

O centro cirúrgico (CC) é reconhecido como uma das unidades mais complexas do hospital e mais favorável para a ocorrência desses eventos, em razão das próprias características do cuidar, da diversidade dos procedimentos cirúrgicos e diagnósticos, bem como da intensa circulação de pessoas de diversas categorias profissionais.

Frente ao exposto, o presente estudo tem o ob-jetivo de caracterizar os EAs ocorridos em uma uni-dade de CC de um hospital universitário, no intuito de subsidiar as ações desenvolvidas durante a assis-tência perioperatória, minimizar e/ou eliminar os EAs, bem como contribuir para a qualidade do servi-ço e segurança do paciente.

R

EFERENCIALTEÓRICO

E

stima-se que

234 milhões de cirurgias sejam re-alizadas pelo mundo a cada ano, correspondendo a uma operação para cada 25 pessoas vivas. Em decor-rência deste procedimento ocorrem dois milhões de óbitos e sete milhões de pessoas apresentam EAs, sen-do 50% evitáveis. Entre as cirurgias de alta comple-xidade realizadas em países desenvolvidos, cerca de 3% a 16% registram complicações graves e, para cada 300 pacientes admitidos nos hospitais, um morre em consequência de procedimentos cirúrgicos3,4.

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) indicam que, a cada 10 pessoas que precisam de cui-dado à saúde, pelo menos uma sofrerá agravo decor-rente de EAs5.

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mentos, além do treinamento e habilidade de uma equipe multiprofissional3,11.

Com olhar crítico e investigativo sobre o erro, mais do que apenas encontrar o culpado a ser punido, é necessário encontrar as lacunas e estabelecer medi-das de prevenção da incidência e reincidência dos EAs, visando o cuidado adequado ao paciente e o be-nefício do exercício profissional12.

Diante disso, no cenário de avaliação de servi-ços, desperta-se o interesse de investigar a ocorrên-cia dos EAs, a fim de oportunizar o desenvolvimento de estudos analíticos, fornecer representações quan-titativas e qualitativas da assistência à saúde, além de subsidiar o aprimoramento dos processos clínicos e de prevenção de erros subsequentes, visando a segu-rança do paciente cirúrgico e qualidade do serviço.

M

ETODOLOGIA

E

studo documental,

retrospectivo, desenvolvi-do no CC de um hospital universitário da Região Cen-tro-Oeste, integrante da Rede Hospitais Sentinela da ANVISA. A unidade conta, atualmente, com 11 salas operatórias e realiza em média 420 cirurgias/mês de vários portes e diversas especialidades médicas.

A amostra foi constituída pelos EAs registrados entre janeiro de 2005 e dezembro de 2009 nos livros de anotações de enfermagem. A monitorização des-ses eventos na unidade é voluntária e tem como meta o conhecimento de falhas para respaldo profissional. A coleta de dados ocorreu entre julho de 2009 e fevereiro de 2010, utilizando um instrumento estruturado e pré-validado, contendo questões para investigação do evento, como data, horário, tipo, consequências ao paciente, profissionais envolvidos e intervenções realizadas pelos profissionais imedia-tamente após a ocorrência dos EAs.

Os dados foram transcritos na íntegra em

docu-mento do Microsoft Word para formar o corpus de

análi-se, atribuindo-se a letra R seguida de número cardinal para cada registro, conforme a ordem da coleta. Para preservar o anonimato de pacientes e profissionais envolvidos, seus nomes foram retirados dos registros, sem prejudicar a integridade dos mesmos. Em seguida, foram estruturados em planilhas eletrônicas do

Microsoft Excel versão 2007, analisados

estatisticamen-te e apresentados em frequências absoluta e relativa. Estudo vinculado ao projeto Análise de

ocorrên-cias de eventos adversos em um hospital da rede sentinela na região Centro-Oeste, aprovado pelo Comitê de

Éti-ca em Pesquisa MédiÉti-ca, Humana e Animal do Hospi-tal das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (Protocolo no 064/2008). Os demais aspectos éticos foram observados conforme a Resolução no 196/96, do Conselho Nacional de Saúde.

R

ESULTADOSEDISCUSSÃO

A

pós análise dos

livros de anotações de enfer-magem, foram identificados 42 EAs registrados du-rante os anos de 2005 a 2009, evidenciando uma prevalência de 1,67%.

O quantitativo de EAs encontrados, quando comparado à alta demanda e rotatividade de pacien-tes, é baixo, o que faz pensar em subnotificação, uma das dificuldades do gerenciamento de riscos na insti-tuição, além de impedir o planejamento de estratégi-as de prevenção para a ocorrência dos EAs.

Esse fato também é apontado em outros estudos, cujos números registrados representaram somente 25% dos er-ros ocorridos, sendo estes não notificados ou subnotificados, não demonstrando a realidade e dificultando o conheci-mento das reais causas de suas ocorrências13,14.

O objetivo da notificação é encontrar as causas, ou seja, o que levou à ocorrência dos erros e quais foram as falhas identificadas no processo, para a implementação de estratégias de ação e correção dos procedimentos envolvidos para evitar que as mes-mas falhas se repitam14.

Os EAs foram distribuídos conforme o turno da ocorrência e apresentados na Tabela 1.

O CC do hospital em estudo é direcionado para o atendimento de cirurgias eletivas, as quais ocorrem no período diurno, enquanto que o período noturno fica reservado a procedimentos cirúrgicos de urgên-cia e emergênurgên-cia. Pode-se justificar, assim, o fato da maior parte dos EAs identificados terem sido registrados pela manhã e tarde, visto o maior movi-mento cirúrgico durante o dia.

O maior número de ocorrências administrati-vas no período diurno é influenciado pelo maior nú-mero de profissionais na unidade, intensa atividade das equipes e maior exigência dos recursos disponí-veis no hospital15.

Para melhor discussão, os resultados são apre-sentados conforme a classificação: EAs relacionados à

organização do serviço e EAs relacionados à assistência.

EAs relacionados à organização do serviço

Foram computados 11 EAs relacionados à previ-são e proviprevi-são de materiais, manutenção de equipa-mentos e presença de animais no ambiente cirúrgico.

Tabela 1 - Distribuição dos eventos adversos no centro cirúrgico,

conforme turno de ocorrência. Goiânia-Goiás, 2010.

Tu r n o f %

Manhã 22 52,38

Tarde 17 40,48

Noite 3 7,14

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Vale salientar que houve 6(54,5%) eventos relaciona-dos à perfuração do colchão térmico durante a cirur-gia, pacote cirúrgico armazenado inadequadamente e falta de materiais para cirurgias programadas:

Atenção: faltou uma peça do laringoscópio de suspen-são, não encontramos e o médico ficou irritado, pois o paciente já estava anestesiado. (R4)

EAs dessa natureza se referem ao gerenciamento dos recursos materiais e denota falhas nas etapas do planejamento, controle e supervisão do trabalho por parte da equipe de enfermagem quanto às demandas na previsão, provisão e manutenção dos equipamen-tos da unidade interferindo na segurança do paciente durante o procedimento cirúrgico.

No Brasil, um dos problemas no planejamento em saúde é a questão da qualidade da sistematização da as-sistência, principalmente de enfermagem, dificultando a previsão de recursos materiais e o estabelecimento da relação entre oferta de serviços e demandas de saúde16.

O nível de desenvolvimento de uma organiza-ção, de seus processos de trabalho e de seus profissio-nais, pode afetar diretamente os resultados do cuida-do, onde acidentes ou EAs são, em sua maioria, resul-tados de falhas do sistema no qual se desenvolvem as atividades. Baseado em resultados de estudos que mostram o quanto o ambiente ou o sistema de aten-dimento afeta os resultados da prática de enferma-gem, alguns hospitais começaram a transformar sua filosofia e infraestrutura a fim de oferecer melhores condições de trabalho e para que a enfermagem al-cance melhor desempenho profissional17,18.

Ainda nesta categoria, 3(27,3%) EAs se referi-am à falta de manutenção dos equipreferi-amentos com destaque para a limpeza do ar-condicionado:

O ar condicionado da sala 11 está soltando sujidade durante a realização da cirurgia [caiu no paciente]. (R1) Ainda, ressaltam-se 2(18,2%) eventos relativos à presença de parasitas na sala cirúrgica:

Encontramos na sala de química um escorpião vivo, junto aos acessórios anestésicos. (R8)

Estudo realizado em um hospital de ensino mos-trou que 31,9% dos EAs notificados estavam relacio-nados a equipamentos15.

O CC se configura como um setor complexo, onde convivem lado a lado máquinas e humanos, sen-do que os últimos exigem a eficiência sen-dos primeiros. Alta perfeição e ausência de erros determinam um ambiente estressante, haja vista que os homens não são máquinas e embora detalhistas e responsáveis, são passíveis de erro. Diante disso, a gestão do CC deve assumir o papel de prever e prover os recursos necessários ao funcionamento do setor, bem como o desenvolvimento de pessoal para atender as deman-das com menor desgaste dos trabalhadores19.

Quanto às consequências para o paciente, os eventos identificados resultaram em 5(45,4%) danos temporários, requerendo intervenção e consequente prolongamento do tempo de internação e 6(54,6%) eventos não causaram dano aparente para o paciente. Estudos apontam que aproximadamente 70% dos EAs não têm consequências importantes para o paciente e que os efeitos são mais econômicos, resul-tando apenas em gastos relacionados a tempo e re-cursos. Porém, outros podem gerar importantes consequências, tanto no que se refere ao sofrimento desnecessário, como aumento da dor ou incapacida-de, quanto em termos de prolongamento do tempo de internação. Essas consequências podem levar os pacientes a considerar as falhas no tratamento como uma traição à confiança depositada20.

Para tanto, destaca-se a importância da enferma-gem para a promoção de cirurgias seguras, uma vez que ela é responsável por uma gama de atividades que vari-am desde a provisão e previsão de materiais até o conta-to constante com seconta-tores de manutenção, laboratório, compras, almoxarifado, entre outros21. Essa realidade aponta a necessidade da enfermagem privilegiar suas ações junto ao cliente, colaborando para sua valorização como profissão que depende da postura do profissional frente aos problemas que emergem de sua prática22.

Dessa forma, a organização do serviço em CC pela enfermagem deve garantir um ambiente seguro, confortável e limpo para a realização do procedimen-to cirúrgico, bem como assegurar a qualidade do ser-viço e segurança do paciente, já que as falhas na pre-visão e propre-visão de materiais, manutenção e admi-nistração do serviço podem acarretar sérios riscos para o paciente.

Eventos adversos relacionados à assistência

Foram identificados 31 EAs relacionados à assis-tência. Destes, 11(35,5%) foram decorrentes do ato anes-tésico como alterações respiratórias (laringo/bronco-espasmo), instabilidades hemodinâmicas (hipo/hiper-tensão, hipoxemia) e falhas no bloqueio anestésico:

A cirurgia da paciente foi suspensa, motivo: falha do blo-queio anestésico e hipertensão progressiva em sala. (R26) Paciente apresentou broncoespasmo na indução anestésica. (R33)

Geralmente a reação ao anestésico não é grave para o paciente, mas é classificado como EA por au-mentar o tempo de internação hospitalar. No entan-to, trata-se de um caso inevitável, já que é muito difícil prever tal reação, que é pecualiar a cada indivíduo20.

Outros 7(22,6%) EAs se relacionavam à parada cardiorespiratória (PCR) e ao pneumotórax:

A residente da equipe da cirurgia geral suspendeu o procedimento. Motivo: acidente na punção de veia subclávia com pneumotórax. (R32)

(5)

O pneumotórax hipertensivo intraoperatório é ocorrência grave. Exige diagnóstico e tratamento ime-diato pela repercussão hemodinâmica e respiratória23. A PCR também é considerada uma intercorrência de alta gravidade que pode resultar em óbito do paciente e ocasionalmente ocorre nos serviços de CC, exigindo do atendimento, nestas circunstâncias, material dis-ponível e adequado, equipe eficiente, com conheci-mento científico e habilidade técnica12.

Ressalta-se, assim, a importância de manter uma equipe preparada e qualificada para a solução de possíveis intercorrências no período perioperatório e, principalmente, para agir com segurança durante todos os procedimentos que apóiam a cirurgia e evi-tar EAs desse tipo.

Ainda nesta classificação, destacam-se 3(9,7%) eventos referentes à queimadura por bisturi elétrico: Na sala de recuperação, foi constatado que houve quei-madura em criança pela placa de bisturi. Já anotamos o aparelho e placa e estamos em observação. (R17) Queimaduras deste tipo podem ocorrer em uni-dades de CC quando há um posicionamento inade-quado da placa de dispersão ou até mesmo defeito no seu fio. Esse tipo de evento gera consequências para o paciente e a área lesada, muitas vezes, pode deixar sequelas. Toda vez que um paciente sofre queimadu-ra, a causa deve ser investigada24.

Chamam a atenção, ainda, 4(12,9%) EAs rela-cionados à falta de humanização do cuidado:

Deixo observação quanto à dispensa do anestesista nes-tes procedimentos, realizados hoje, já que a paciente chorou e gemeu, intensamente, somente com anestesia local. O cirurgião dispensou o anestesista alegando ser anestesia local, foi um procedimento desumano. (R13). O CC é uma área na qual o paciente está expos-to a intervenções médicas e de enfermagem. Na mai-oria das vezes está sedado ou anestesiado e depen-dendo, portanto, de outros para salvaguardar seu bem-estar e sua integridade diante de potenciais riscos previsíveis, os quais devem ser evitados a todo custo, uma vez que são de responsabilidade do profissional de saúde que assiste o paciente garantir uma assistên-cia de qualidade e humanizada25.

É preciso mencionar, ainda, 4(12,9%) eventos relativos à falta de avaliação pré-operatória:

Paciente adentrou o CC pouco depois de fazer uma refeição e o cirurgião estava ciente. (R15)

O sucesso do tratamento cirúrgico depende da interação da assistência de enfermagem prestada du-rante o período perioperatório, propiciando ao paci-ente uma recuperação mais rápida e eficaz, por meio de uma assistência de qualidade prestada de maneira integral e específica em todos os momentos26, o que certamente evita que o paciente ingresse no CC sem

o devido preparo para a cirurgia. Tal fato evidencia a importância da equipe de saúde, principalmente da enfermagem, em orientar os pacientes sobre os cui-dados pré-operatórios.

Outros eventos identificados foram 2(6,4%) quedas:

Às 9:50 a paciente sofreu queda da mesa cirúrgica após o residente manusear a manivela da mesa para a devida posição. A paciente foi ao chão, socorrida por vários médicos e pessoal da enfermagem. Solicitamos ao PS colar cervical. Após ser imobilizada, foi encaminhada para tomografia [paciente estava anestesiada, foi feito extubação]. (R31)

Eventos do tipo queda podem resultar em uma ou mais consequências imediatas, como traumas teciduais de diferentes intensidades, em que o paci-ente sofre contusões com hematomas, fratura, lesões tissulares com e sem necessidades de sutura, edema, retirada ou desconexão de diferentes artefatos

terapêuticos27.

Algumas medidas devem ser tomadas para evi-tar que quedas ocorram. A contenção é uma medida eficaz, mas deve ser realizada corretamente e de for-ma monitorada para que não traga prejuízos ao paci-ente, promovendo a segurança durante todo o pro-cesso de assistência hospitalar27.

Quanto às consequências dos EAs relacio-nados à assistência, 26(83,9%) causaram dano tem-porário requerendo intervenção e/ou prolonga-mento do tempo de internação e 5(16,1%) resul-taram em óbito do paciente.

Estudo, após avaliação de enfermeiros especia-listas em CC e assistência em pós-operatório imedi-ato, apontou que todos os EAs ocorridos são consi-derados graves, pois podem levar à morte do pacien-te, perda ou inutilidade de membro, fraqueza tempo-rária física, problemas na consciência, danos para a saúde física, mental ou moral do paciente28.

Diante das consequências para os pacientes, se os profissionais se apresentam, assumem o ocorrido e tomam medidas necessárias, o apoio prestado pode reduzir o impacto do problema a curto e longo prazos. Pesquisas apontam que os pacientes gostariam de re-ceber informações sobre todos os erros que causaram lesões, como ocorreram, como as consequências po-deriam ser reduzidas e o que seria feito para evitar novas ocorrências20,23,29.

É evidenciado que muitas das razões que levam o profissional a não relatar os incidentes se baseiam em sentimentos como vergonha, autopunição, medo da crítica de outras pessoas e do litígio. No entanto, para que o relato de incidentes seja realmente eficaz numa instituição, é necessário um grande esforço para asgurar aos profissionais que o objetivo é melhorar a

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se-gurança, e nunca acusar ou punir.É necessário trocar essa cultura punitiva por uma cultura de monitorização contínua dos riscos reais e potenciais20,30.

Em ambas classificações de EAs não foram encontrados registros de condutas clínicas e/ou admi-nistrativas adotadas pelos profissionais após sua ocorrência.

Assim, analisar os EAs registrados nos livros de anotações de enfermagem evidenciou a importância de se estabelecer instrumentos de notificação de fa-lhas na assistência à saúde, a fim de subsidiar a toma-da de decisões e o planejamento de estratégias que minimizem sua ocorrência.

Os registros de enfermagem são considerados uma forma de comunicação escrita e essenciais ao processo de assistência à saúde, pois retratam uma realidade documentada. Além de garantirem a co-municação efetiva entre a equipe de saúde, fornecem respaldo legal e, consequentemente, segurança, pois se configuram como único documento que relata as ações de enfermagem junto ao paciente22,31.Frente ao exposto, deve haver um comprometimento por parte dos profissionais de saúde em registrar o evento ocor-rido detalhadamente, pois tais informações poderão conduzir mudanças na estrutura, nos processos e re-sultados da assistência15.

Os resultados encontrados nesta pesquisa demons-tram que, para o gerenciamento dos EAs, é necessário o envolvimento de todos os profissionais que constituem o sistema, pois cada um tem a capacidade de conscientizar-se sobre suas responsabilidades de garantia e manutenção da segurança do paciente e da qualidade do serviço.

C

ONCLUSÃO

C

onstatou-se a

ocorrência de 42 EAs, classifica-dos em EAs relacionaclassifica-dos à assistência e EAs relacio-nados à organização do serviço. A maioria dos even-tos registrados se relacionam à assistência, resultan-do em danos graves aos pacientes, incluinresultan-do o óbito. No entanto, em nenhum dos EAs registrados relata-vam as condutas profissionais frente ao ocorrido.

O número de eventos encontrados nos regis-tros é escasso, quando comparados à alta demanda e rotatividade do CC, inferindo à subnotificação, o que dificulta o gerenciamento de riscos e o planejamento de estratégias de prevenção.

A ocorrência de EAs representa condições que descrevem o desempenho dos serviços de saúde, afetan-do assim a qualidade e a confiabilidade afetan-do sistema. Seu rastreamento e controle se configuram em indicadores da qualidade da assistência à saúde, refletindo a necessi-dade de investir na educação continuada e de reconhe-cer o erro como parte integrante de um sistema.

Recomenda-se a adoção do check-list da campa-nha de cirurgia segura da OMS, que contém informa-ções sobre procedimentos antes da indução anestésica, do início da cirurgia e da saída do paciente da cirur-gia, visando reduzir as complicações pós-operatórias e a mortalidade.

Espera-se que este estudo contribua para uma aná-lise crítica por parte de profissionais e gestores de saúde sobre os EAs, importantes indicadores da assistência, e que estimule o desenvolvimento de uma cultura de se-gurança e qualidade do cuidado perioperatório.

R

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Referências

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