• Nenhum resultado encontrado

A tradução para o inglês das variantes dialetais em Lisbela e o prisioneiro

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A tradução para o inglês das variantes dialetais em Lisbela e o prisioneiro"

Copied!
16
0
0

Texto

(1)Tradução & Comunicação Revista Brasileira de Tradutores Nº. 24, Ano 2012. A TRADUÇÃO PARA O INGLÊS DAS VARIANTES DIALETAIS EM LISBELA E O PRISIONEIRO The English translation of dialect variants in Lisbela. Jéssica Pacharoni Argentim Universidade do Sagrado Coração - USC je.argentim@gmail.com. Marileide Dias Esqueda Universidade Federal de Uberlândia - UFU marileide_esqueda@ileel.ufu.br. RESUMO O ensino, aprendizagem e pesquisa na área de tradução na universidade eram raros há 40 anos. Atualmente, configura-se em realidade inquestionável (DÍAZ CINTAS; ORERO, 2003). Os estudos da tradução têm avançado grandemente, não se concentrando apenas em teorias e práticas da tradução literária ou técnica, iniciadas com as contribuições de Paulo Rónai, no Brasil, em 1956. (ESQUEDA, 2005) Hoje, encontramos campo fértil de prática e pesquisa nas áreas de tradução jornalística, científica, jurídico-comercial, de letras de música, de tradução e interpretação de conferências, de tradução de peças teatrais, de sites da rede mundial de computadores ou de traduções especializadas em localização e, mais recentemente, para legendagem e dublagem de materiais audiovisuais (WYLER, 2003). No entanto, no Brasil, a maioria das pesquisas realizadas no campo de tradução audiovisual parte de filmes estrangeiros traduzidos para a língua portuguesa, notando-se, assim, carência de pesquisas com análises de filmes brasileiros traduzidos para a língua inglesa ou outras línguas, bem como a falta de elementos norteadores para sua realização. Neste trabalho, apresentamos uma pesquisa comparativista e de análise textual, a partir da qual foram selecionadas e examinadas as variantes dialetais no filme brasileiro “Lisbela e o Prisioneiro”, lançado em 2003, em sua versão oficial para o DVD, e suas respectivas traduções nas legendas em inglês, com o objetivo de verificar quais estratégias tradutórias se mostram mais recorrentes. A classificação das estratégias tradutórias baseia-se em Gottlieb (1992). Os resultados mostraram que a estratégia predominante de tradução é a de transferência. Palavras-Chave: Lisbela e o Prisioneiro; tradução audiovisual; variantes dialetais.. ABSTRACT. Anhanguera Educacional Ltda. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 4266 Valinhos, São Paulo CEP 13.278-181 rc.ipade@aesapar.com Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE. The teaching, learning and research in translation at the university were rare 40 years ago. Now, it is an unquestionable reality (DÍAZ CINTAS; ORERO, 2003). Translation studies have advanced greatly, not only focusing on theories and practices of literary or technical translations, beginning with the contributions of Paulo Rónai, in Brazil, in 1956. (ESQUEDA, 2005) Today we found a fertile field of practice and research in journalistic, scientific, legal, commercial and literary translation, conference interpreting, translation for the theater, website translations or translation for localization, and, more recently, subtitling and dubbing for audiovisual materials (WYLER, 2003). However, in Brazil, most researches in the field of audiovisual translation are carried out involving foreign films translated into Portuguese. Therefore, there is a lack of research containing analyzes of Brazilian films translated into English or other languages, as well the lack of guiding elements for its methodological procedures. In this sense, this is a comparative and textual analysis research, from which were selected and examined dialect variety elements contained in the Brazilian film "Lisbela" launched in 2003 in its official version on DVD, and their translations in the subtitles in English, in order to determine which translation strategies are the most recurrent. The classification of the translation strategies is based on Gottlieb (1992). The results have shown that the most prominent translation strategy was the transfer type. Keywords: Lisbela; audiovisual translation; dialect variety.. Artigo Original Recebido em: 13/08/2012 Avaliado em: 02/09/2012 Publicação: 30 de setembro de 2012. 95.

(2) 96. A tradução para o inglês das variantes dialetais em Lisbela e o Prisioneiro. 1.. INTRODUÇÃO Atualmente, estamos cercados por todos os tipos de telas, sejam as de computadores, televisões, celulares ou painéis. Essas telas são, segundo Gambier (2003), fundamentais em nossos intercâmbios cotidianos e nossas constantes companheiras: em casa, no trabalho, no transporte ou no cinema. De acordo com o autor, as novas tecnologias oferecem produtos e serviços on e off-line, contribuindo também para o crescimento de um tipo de tradução voltada para as mídias: a tradução audiovisual. A tradução audiovisual passou a ser conhecida somente com o centenário do cinema, em 1995, e pouco se ouvia falar sobre essa modalidade tradutória. Esse gênero, desde então, vem conquistando seu espaço e emergindo ao longo das décadas, dando mostra de expansão, já que o cenário audiovisual é influenciado pela internacionalização, tecnologia, globalização e pelas mudanças nas relações de oferta e procura. Segundo Gambier (op. cit.), existem mais de 14 tipos de tradução audiovisual, embora as mais conhecidas sejam legendagem, dublagem, voice-over e closed caption. Aquela a ser estudada e analisada no decorrer desta pesquisa é uma das modalidades de tradução audiovisual mais praticada no mundo: a legendagem. Em linhas gerais, as legendas são versões textuais de diálogos presentes em filmes e programas de televisão, e desafiam o tradutor-legendador a utilizar habilidades como resumir, sintetizar, omitir, dentre outras peculiares a esse tipo de tradução. Alfaro (2005) argumenta que, de forma quase unânime, empregam-se no máximo duas linhas de legendas (o número máximo de caracteres por linha varia segundo o meio) e estabelece-se uma razão entre o tempo de duração de cada legenda e o número máximo de caracteres que ela deve comportar para que o espectador adulto médio tenha tempo de lê-la integralmente. A razão tempo-caracteres é baseada em diversos estudos. Os padrões mais comumente encontrados na literatura sobre legendagem são baseados no número de palavras lidas em um minuto, estipulado entre 150 a 180 palavras (KARAMITROGLOU, 1998), e na chamada “regra dos seis segundos”, que estabelece que o espectador médio demore seis segundos para ler duas linhas de legendas cheias, com 35 caracteres cada (DÍAZ CINTAS, 2003). Mas o número exato de caracteres por segundo, determinado em cada situação, varia em função do meio empregado, do público-alvo e de preferências dos clientes. Essas duas normas fazem parte dos três conjuntos — modalidade, meio e clientes.. Tradução & Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores š Nº. 24, Ano 2012 š p. 95-110.

(3) Jéssica Pacharoni Argentim, Marileide Dias Esqueda. 97. Ver um filme legendado é uma atividade que demanda esforço e uma atenção redobrada. Em outras palavras, é necessário ler a legenda ao mesmo tempo em que se acompanha a imagem e o som. O espectador não lê em sequência: são idas e vindas permanentes entre imagem, som e legenda. Este “vai e vem” solicita atividades simultâneas, nas quais diferentes sentidos são colocados em uma interação inusitada. Contudo, o espectador “regular” conquistou paulatinamente o hábito de “leitura cinematográfica”, exercitando um leque de atividades mentais na repetição da experiência e integrando-as ao conjunto de suas habilidades. Assim, segundo Gorovitz (2006), a tradução de filmes levanta questões específicas que a diferenciam, de certa forma, de outros tipos de tradução, tratando-se da transformação de um texto falado em um texto escrito, e em que as peculiaridades de cada meio devem ser levadas em consideração. Surge, assim, o problema estético. O filme nunca é produzido em função de uma legenda, portanto, o espaço que lhe é atribuído pertence à imagem. Cria-se uma interferência visual e plástica que modifica a percepção na qual a legenda, por vezes, chega a sobrepor-se aos elementos visuais de primeiro plano. De acordo com Linde e Kay (1999, p.3)1 há na tradução audiovisual “componentes visuais e sonoros adicionais, incluindo uma trilha sonora; há uma mudança da linguagem oral para a escrita e, finalmente, há omissões obrigatórias do diálogo original”.2 O tradutor deste tipo de material, portanto, leva em consideração o público alvo, sincroniza a legenda (ou dublagem) com a imagem e a trilha sonora, facilita a atividade do espectador, varia o tamanho da mensagem e, de acordo com Luyken et. al. (1991), necessita estar atento para discernir que tipo de informação adicional o telespectador precisa ou não para apreciar e entender o filme. O tradutor de legendas ou tradutor-legendador, termo usado por Araújo (2001), necessita retratar o conteúdo da fala do filme, atendendo, ainda, à imagem e ao som. Mas ouvir a fala dos personagens é um procedimento mais rápido do que o da leitura das legendas e, por essa razão, o tradutor é obrigado, especialmente na legendagem, a sintetizar, abreviar, ou, até mesmo, omitir ou substituir tudo o que possa dificultar a compreensão do público alvo, bem como a percepção das imagens. Mas como sintetizar elementos linguísticos que são característicos dos personagens de um filme ou de uma. As citações dos autores estrangeiros foram traduzidas pelas autoras deste trabalho, e os textos originais encontram-se em nota de rodapé. 2 […] there are additional visual and audio components including a residual oral soundtrack; there is a switch from oral to written language and, finally, there are obligatory omissions in the source dialogue. 1. Tradução & Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores š Nº. 24, Ano 2012 š p. 95-110.

(4) 98. A tradução para o inglês das variantes dialetais em Lisbela e o Prisioneiro. série? Como lidar com o desafio de traduzir as variantes dialetais, os falares típicos com sotaques, os regionalismos, o linguajar gírio e humorístico típicos de alguns personagens? Díaz Cintas (2003, p. 227) expõe que as características próprias das personagens e de seus contextos são elementos desafiadores para a tradução: As variantes dialetais e os defeitos da fala de algum dos personagens são grandes quebra-cabeças do tradutor de legendas. Na dublagem é possível optar, ainda que seja discutível, pela troca de certos sotaques, mas na legenda é uma estratégia praticamente impossível. O itálico e as aspas podem, com todas suas limitações, tentar transferir as peculiaridades contidas em certo discurso oral. Quando se quer indicar que o personagem que no original fala inglês, ou qualquer outro idioma, não é falante nativo do mesmo, existem outras possibilidades mais arriscadas, e por esta razão menos frequentes, como a substituição do ‹‹ r ›› pelo ‹‹ l ›› para indicar o sotaque de um falante de chinês ou do ‹‹ r ›› pelo ‹‹ g ›› para denotar um falante francês ou emprego de verbos no infinitivo para parecer um indígena da América do Norte. 3. Variantes dialetais, regionalismos e gírias de humor não faltam no filme brasileiro Lisbela e o Prisioneiro. O filme, lançado no Brasil em 2003 e distribuído pela Fox Filmes do Brasil, é baseado na peça de teatro homônima, escrita em 1964 pelo autor pernambucano Osman da Costa Lins, e traz em seu conteúdo vocábulos e expressões como caçoleta (min. 39); danação (min. 20); nhãnha (min. 36); arriado (min.43); cabra corno (min. 54); arretado (min. 01h40); diacho (min. 01h19); “...é alimentar pinto com pão de ló” (min. 01h21); “...escapa mais que sabor de barba” (min. 01h21); cangalha (min. 01h40), dentre outras. Se é praticamente impossível traduzir os falares típicos de personagens (DÍAZ CINTAS, 2003), se o princípio da economia linguística é típico da tradução para produção de legendas (GAMBIER, 2003), indaga-se: como foram traduzidas para a língua inglesa algumas das variantes dialetais contidas no filme brasileiro Lisbela e o Prisioneiro e quais estratégias de tradução foram utilizadas pelo tradutor?. 2.. DESCRIÇÃO DO MATERIAL E DA METODOLOGIA O filme conta a história de Lisbela (interpretada por Débora Falabella), que está noiva e de casamento marcado quando Leléu (interpretado por Selton Mello) chega à cidade. O casal se apaixona e passa a viver uma história cheia de personagens tirados do cenário nordestino: Inaura (interpretada por Virginia Cavendish), uma mulher casada e sedutora que tenta atrair o herói; um marido valentão e "matador", Frederico Evandro (interpretado. 3 Las variantes dialectales y los defectos de habla de alguno de los personajes son otros de los grandes quebraderos de cabeza del subtitulador. En doblaje, se puede optar, aunque sea discutible, por la permuta de ciertos acentos, pero en subtitulación es una estrategia prácticamente imposible de activar. La cursiva y las comillas pueden, con todas sus limitaciones, intentar transferir las peculiaridades encerradas en un cierto discurso oral. Se lo que se quiere es indicar que el personaje que en original habla inglés, o cualquier otra lengua, no es hablante nativo de la misma, existen otras posibilidades más arriesgadas, y por esta razón menos frecuentes, como la sustitución de la ‹‹ r ›› por la ‹‹ l ›› para indicar el. Tradução & Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores š Nº. 24, Ano 2012 š p. 95-110.

(5) Jéssica Pacharoni Argentim, Marileide Dias Esqueda. 99. por Marco Nanini); um pai severo e chefe de polícia, Tenente Guedes (interpretado por André Mattos); um pernambucano com sotaque carioca, Douglas (interpretado por Bruno Garcia), visto sob o prisma do humor regional; e um "cabo de destacamento", Cabo Citonho (interpretado por Tadeu Mello), que é suficientemente astuto em seu linguajar regional e em suas ações, além de outros personagens secundários.. Figura 1. Capa e contracapa da versão em DVD do Filme Lisbela e o Prisioneiro (2003).. O filme é do gênero comédia romântica, dirigido por Guel Arraes, produzido por Paula Lavigne, Natasha Filmes, Fox Film do Brasil, Globo Filmes e Estúdios Mega. Tem duração de 110 minutos, com áudio em Dolby 5.0 Digital, e legendas em inglês e espanhol. O título do filme em inglês permaneceu “Lisbela” e não há indicações do nome do tradutor ou da empresa responsável pelas legendas, o que impossibilita pesquisas do tipo explicativas, com inserção de questionários abertos ou fechados destinados a averiguar detalhes da tradução junto ao tradutor e ao estúdio de legendagem. A escolha desse filme deve-se à recorrência das variantes dialéticas nele contidas, que podem tornar problemática, de acordo com Díaz Cintas (2003), sua versão para outras línguas, neste caso, o inglês. Neste sentido, o objetivo geral deste trabalho foi analisar as legendas em inglês do filme brasileiro Lisbela e o Prisioneiro, uma vez que a ocorrência constante de variantes dialetais de seus personagens podem se apresentar como grande desafio e dificuldade para o tradutor-legendador, que necessita exercer, nesse tipo de tradução, o princípio da economia linguística.. acento de un hablante de lengua china, o de la ‹‹ r ›› por la ‹‹g ›› para denotar a un hablante francés o el empleo de verbos en infinitivo para dar cuento de los asertos de un indígena de Norteamérica. Tradução & Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores š Nº. 24, Ano 2012 š p. 95-110.

(6) 100. A tradução para o inglês das variantes dialetais em Lisbela e o Prisioneiro. Pretendeu-se, assim, alcançar os seguintes objetivos específicos: 1) Selecionar as variantes dialetais mais recorrentes no filme Lisbela e o Prisioneiro; 2) Enumerar e comparar as variantes com suas respectivas traduções para o inglês que constam no DVD oficial do filme; 3) Examinar e classificar as estratégias de tradução utilizadas, com base em Gottlieb (1992). Trata-se, portanto, de uma pesquisa comparativista e de análise textual, a partir da qual foram selecionadas e examinadas as variantes dialetais no filme brasileiro, com suas respectivas traduções para as legendas em inglês, buscando verificar quais estratégias tradutórias se mostram mais recorrentes. Em se tratando do meio audiovisual, Gottlieb (op.cit.) explica que algumas estratégias têm sido comumente adotadas: Para avaliar a qualidade de uma legenda específica, a versão de cada segmento verbal de filme deve ser analisada com referência ao seu valor estilístico e semântico. Baseado em minha experiência como legendador para a televisão, acredito que as dez seguintes estratégias reúnem as diferentes técnicas utilizadas na profissão: expansão; paráfrase; transferência; imitação; transcrição; deslocamento; condensação; decimação; omissão; resignação. (p. 166) 4. Quadro 1. Quadro de estratégias de tradução e suas características segundo Gottlieb (1992). Tipo de estratégia 1) Expansão 2) Paráfrase 3) Transferência 4) Imitação 5) Transcrição 6) Deslocamento 7) Condensação 8) Decimação 9) Omissão 10) Resignação. Características da Tradução Expressão expandida, versão adequada (referências culturais-específicas) Expressão alterada, versão adequada (fenômeno linguístico específico não-visualizado) Expressão inteira, versão adequada (discurso neutro) Expressão idêntica, versão equivalente (nomes próprios, saudações internacionais) Expressão anômala, versão adequada (discurso não-padronizado) Expressão diferente, conteúdo ajustado (fenômeno linguístico específico: visual ou musical) Expressão condensada, versão concisa (discurso normal) Expressão abreviada, conteúdo reduzido (discurso de alguma importância) Expressão omitida, sem conteúdo verbal (discurso de menor importância) Expressão diferente, conteúdo distorcido (elementos intraduzíveis). 4 To assess the quality of a specific subtitling, the rendering of each verbal film segment must be analyzed with regard to stylistic and semantic value. Based on my experience as a television subtitler, I believe the following ten strategies embody the different techniques used in the profession: expansion; paraphrase; transfer; imitation; transcription; dislocation; condensation; decimation; deletion; resignation.. Tradução & Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores š Nº. 24, Ano 2012 š p. 95-110.

(7) Jéssica Pacharoni Argentim, Marileide Dias Esqueda. 101. O Quadro 1 foi construído com base nos dados apresentados e discutidos por Gottlieb (1992) sobre os tipos de estratégias de tradução adotadas no meio audiovisual e suas respectivas características. De todas essas estratégias, as de 1 a 7, segundo o autor, fornecem traduções correspondentes aos contextos envolvidos. A estratégia 7 geralmente é vista como um protótipo de legenda, e muitos críticos confundem redução quantitativa (de número de palavras) com redução semântica. Porém, em uma condensação, ao contrário da decimação, a legenda deve comunicar o conteúdo e retratar o máximo possível da forma do original. Para Gottlieb (op.cit.), a única perda implicada em uma condensação é aquela relacionada às características da linguagem oral redundante, especialmente quando se trata de um discurso espontâneo. Mesmo em relação ao discurso planejado (dramatizações, comentários de notícias de jornal etc.), o autor argumenta que muitas das reduções exigidas pela própria característica limitadora da legendagem são criadas automaticamente, em virtude da natureza diagonal desse tipo de tradução. As estratégias 8 e 9, observa o autor, revelam perdas semântica e estilística. Tais estratégias representam cortes drásticos no original, que são supridos pela trilha sonora e pelas imagens. Diferentemente das estratégias 5 a 9, que são supostamente mais comuns na legendagem que em traduções impressas, a resignação (estratégia 10) ocorre em todos os tipos de transmissões verbais. O autor explica que, na legendagem, esta estratégia abortiva ocorre geralmente em situações nas quais aparecem as gírias, os provérbios, ou outros elementos linguístico-culturais de difícil tradução.. 3.. JUSTIFICATIVAS Como já mencionado, as variantes dialetais como falares típicos, regionalismos, linguajar gírio, linguajar humorístico, dentre outros, desafiam o tradutor e contrapõem-se ao princípio da economia linguística, típico da tradução para produção de legendas. Análises desses elementos e das estratégias5 utilizadas para sua tradução podem, portanto, trazer à. 5 No interior das discussões implementadas nos Estudos da Tradução, vários estudiosos utilizam as denominações “procedimentos técnicos da tradução” (VINAY; DARBELNET (1958); Catford (1965); Rosenthal (1976); Queirós (1978); Fregonezi (1984); Barbosa (1990)); “modalidades de tradução” (AUBERT, 1998); “estratégias de tradução” (CHESTERMAN, 1997); “técnicas de tradução” (HURTADO ALBIR; MOLINA, 2002). De acordo com Hurtado Albir & Molina (2002), que fazem uma revisão histórica sobre a divergência entre tais denominações, os procedimentos técnicos, ou simplesmente as técnicas, estariam relacionados ao produto e as estratégias ao processo. Collet (2012) também oferece um panorama a respeito do assunto. Porém, parece não haver um consenso com relação ao termo mais adequado a ser utilizado em análises de tradução. Como não é propósito deste trabalho discutir a polêmica em torno das denominações e escolas que envolvem o tema “procedimentos técnicos”, utiliza-se, nesta pesquisa, a classificação proposta por Gottlieb (1992), que adota o termo “estratégias de tradução” específicas para o meio audiovisual, que implica conduzir a pesquisa de modo a gerar dados quantificáveis e estatísticos, cuja utilidade, segundo o autor, tanto se dá em nível didático quanto metodológico.. Tradução & Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores š Nº. 24, Ano 2012 š p. 95-110.

(8) 102. A tradução para o inglês das variantes dialetais em Lisbela e o Prisioneiro. comunidade acadêmico-científica de tradução, bem como de outras áreas correlatas, aspectos metodológicos norteadores desse tipo de tradução e desse tipo de pesquisa. Do ponto de vista social, esse trabalho encontra justificativa no fato de que o cinema brasileiro tem se destacado, nos últimos cinco anos, no mercado estrangeiro, principalmente por meio de suas traduções no eixo português-inglês, daí a pertinência de discutir os norteadores de uma tradução satisfatória ao mesmo tempo para o público receptor e para divulgação das marcas culturais, dialetais e sociais brasileiras. Este trabalho também se justifica pelo fato de propiciar uma reflexão no que concerne ao trabalho do tradutor de materiais audiovisuais que não utiliza apenas seus conhecimentos. linguístico-culturais,. mas. também. sua. competência. estratégico-. instrumental (ALVES; MAGALHÃES; PAGANO, 2000; 2005) para traduzir os vários falares típicos das produções fílmicas brasileiras, sendo tal reflexão operacionalizada, neste estudo, por meio da análise da versão em inglês do filme Lisbela e o Prisioneiro.. 4.. RESULTADOS E DISCUSSÃO Conforme indicado no subitem 2., o objetivo deste trabalho é analisar as traduções para a língua inglesa de variantes dialetais no filme Lisbela e o Prisioneiro. Apesar de receber outras designações como “dialeto” (BORBA, 1998), “variedades linguísticas” (PRETI, 2003), “português brasileiro” (BAGNO, 2002) ou “marcas de brasilidade” (ALENCAR, 2010), opta-se, aqui, por utilizar o termo “variantes dialetais”, proposto por Díaz Cintas (2003), que se mostra apropriado para este estudo sobre tradução audiovisual, por abranger não somente características intrínsecas do discurso oral ou variantes linguísticas com sotaques peculiares, como também regionalismos, gírias ou interjeições típicas. Foram coletadas, ao longo de todo o filme, 317 ocorrências de variantes dialetais. Na Tabela 1 encontram-se as estratégias de tradução identificadas. À esquerda, encontrase a estratégia de tradução de acordo com a classificação de Gottlieb (1992) e no centro e à direita, respectivamente, o número de vezes e o percentual em que foi adotada. Não foram encontradas estratégias de paráfrase, deslocamento, decimação e resignação.. Tradução & Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores š Nº. 24, Ano 2012 š p. 95-110.

(9) Jéssica Pacharoni Argentim, Marileide Dias Esqueda. 103. Tabela 1. As estratégias de tradução identificadas em Lisbela e o Prisioneiro: número de ocorrência e percentual. Estratégias tradutórias. Número de ocorrências em todo o filme. Frequência. transferência. 254. 80,518%. transcrição. 43. 13,631%. imitação. 12. 3,804%. omissão. 07. 2,219%. expansão. 01. 0,317%. 317. 100%. A estratégia de transferência corresponde a mudanças de registro do regional, popular e falar típico para um registro mais neutro e coloquial em língua inglesa, tendo sido computada em 80% dos casos de variantes dialéticas encontradas no filme, tanto em nível lexical como frasal. Computada em 13% dos casos analisados, a estratégia de transcrição corresponde a adequações e/ou transformações das variantes linguísticas, regionalismos e gírias típicas da região do nordeste brasileiro em expressões interjetivas comuns ou gírias presentes na cultura de língua inglesa atual. Ressalta-se, na perspectiva de Gottlieb (1992), que as soluções tradutórias em Lisbela e o Prisioneiro tendem à homogeneização do discurso legendado, por meio de reformulações linguísticas ditas neutras, uma vez que as variantes dialéticas revelam traços muito específicos da realidade nordestina e carioca, fato esse que pode ter levado o tradutor a adotar poucas vezes a estratégia de imitação, que foi computada em apenas 3% dos casos. Com relação à estratégia de omissão, cujo percentual é de 2%, pode-se afirmar que o tradutor buscou eliminar variantes dialetais repetitivas e redundantes presentes no filme, que puderam ser compensadas pelo volume de voz, entonação, feições dos atores e informação semiótica. Em sua maioria, as variantes dialetais omitidas foram “ixe”, “ôxe”, “oxente”, “vixe Maria”, “ave Maria” e a interjeição “aí”, esta última sempre pronunciada pelo personagem Douglas (interpretado por Bruno Garcia), encerrando, através de seu sotaque carioca, um sentido malicioso. Das 317 variantes dialetais presentes no filme, foram selecionadas as 13 mais recorrentes, sendo três variantes linguísticas (li (lhe); mulé (mulher); brabo (bravo)); três regionalismos (cabra; corno; macho); cinco interjeições típicas faladas no nordeste brasileiro (ôxe; oxente; diabo; vixe Maria; danou-se); uma interjeição típica do falante carioca (aí); e uma gíria também tipicamente carioca (broto).. Tradução & Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores š Nº. 24, Ano 2012 š p. 95-110.

(10) 104. A tradução para o inglês das variantes dialetais em Lisbela e o Prisioneiro. Na Tabela 2 encontram-se, na coluna à esquerda, as variantes dialetais mais recorrentes no filme e, na coluna à direita, o número de ocorrências. Tabela 2. As marcas dialetais e suas ocorrências. Variantes dialetais mais recorrentes. Número de ocorrências. li (lhe). 28. cabra. 22. corno. 11. mulé (mulher). 10. ôxe. 9. aí. 9. oxente. 6. brabo (bravo). 5. macho. 4. broto. 4. danou-se. 3. diabo. 2. vixe Maria. 2. Por questões de espaço, serão apresentados três casos de variantes dialetais contidos na Tabela 2, e a contextualização da cena em que ocorrem antecede cada análise. Para as análises das variantes dialetais em português e inglês foram utilizados, respectivamente, o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2001) (doravante DHLP) e o Dictionary of English Language and Culture (1998) (doravante DELC), com o intuito de se verificar outros possíveis significados ou outras possíveis explicações a respeito das variantes dialetais.. 5.. AS ANÁLISES A Figura 2 ilustra a chegada do vendedor Leléu (interpretado por Selton Mello) a um vilarejo de Pernambuco, vendendo substância “milagrosa” para potencializar as atividades sexuais dos homens da cidade. Prazeres (interpretada por Heloísa Perissé) vem a sua barraca e compra a substância, mas quando seu marido a utiliza, verifica que não funciona. Ela volta à barraca e reclama do ocorrido. O vendedor diz: “Coloquei água na sua poção apenas para li ver de novo”. Relata-se aqui o uso da estratégia de transferência quando “li” é traduzido por “you”. Assim, a tradução permanece “I watered yours down so I’d have the pleasure of seeing you again”.. Tradução & Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores š Nº. 24, Ano 2012 š p. 95-110.

(11) Jéssica Pacharoni Argentim, Marileide Dias Esqueda. 105. Figura 2. Imagem da cena 00:07: 54; Fonte: Lisbela e o Prisioneiro (2003).. Segundo o DHLP (2001, p. 1751), “li” é uma variante linguística do pronome pessoal da 3ª pessoa do singular “lhe”. Historicamente, no Brasil, o pronome já teve suas formas alteradas, em grande parte por influência da língua espanhola. Hoje, essa forma continua ocorrendo no norte do Brasil, evidenciando o fenômeno da variante dialetal. Na cena 00:07:54, Leléu usa o pronome “li”, com o sotaque e a entonação nordestinos, revelando malícia e atrevimento. A opção “you” neutraliza a variante dialetal, tornando a legenda semanticamente equivalente, porém, imprimindo a ela um caráter neutro. Nessa cena e em outras em que a variante linguística “li” aparece, o tradutor optou pela estratégia de transferência, buscando a neutralização da variante. Os elementos léxicos típicos de uma determinada região apresentam muitas dificuldades ao tradutor, que se encontra na corda bamba (RIDD, 1996) entre o oral e o escrito, isto é, entre formalizar e estilizar o discurso ou de refletir sua característica autêntica e realista, neste caso, da fala de Leléu. Registra-se, ainda, que das 28 ocorrências da variante “li”, 26 foram traduzidas por “you” e duas ocorrências foram omitidas em virtude da reconstrução do sentido na legenda. Segundo Díaz Cintas (2003), diante do receio de causar estranhamento ao espectador, as marcas dialetais presentes nos filmes induzem o tradutor-legendador à uniformidade do discurso legendado, cujo registro deve gozar de um alto grau de legibilidade. Igualmente, na cena a seguir, um casal de amantes (personagens Francisquinha e Cabo Citonho, respectivamente interpretados por Lívia Falcão e Tadeu Mello) chega à delegacia para reclamar que o marido enganado não quer devolver as roupas de sua. Tradução & Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores š Nº. 24, Ano 2012 š p. 95-110.

(12) 106. A tradução para o inglês das variantes dialetais em Lisbela e o Prisioneiro. mulher. O delegado (interpretado por André Mattos), por sua vez, diz: “Então, você enfeita o cabra corno manso... e ainda reclama”. Na tradução para o inglês “cabra corno manso” foi traduzido por “guy”, revelando, mais uma vez, a neutralização, nesse caso, de um regionalismo. “Cabra”, no filme, como também na maneira real e autêntica empregada pelos falantes do nordeste brasileiro (DHLP, 2001, p. 840), tem o sentido de homem forte, valente, petulante, brigão, aquele que se coloca a serviço de alguém em troca de pagamento. As acepções “cabra da moléstia” e “cabra-macho” relacionam-se ao indivíduo mau, temido e respeitado por sua valentia, frieza, crueldade. “Cabra corno manso”, ainda, com suas 11 recorrências no filme, é utilizado com o sentido de marido enganado que tem ciência da situação mas não reage contra ela.. Figura 3. Imagem da cena 00:33: 33; Fonte: Lisbela e o Prisioneiro (2003).. Para a tradução de “cabra macho” ou “cabra corno manso”, percebe-se a utilização de duas estratégias tradutórias predominantes em todo o filme, a transferência e a omissão. Ao se adotar o uso da estratégia de transferência na tradução de “cabra macho” para os itens lexicais em inglês “man” ou “guy”, altera-se o registro, isto é, passase do registro regional, do falar restrito de uma região, no caso o do nordeste brasileiro, para um registro formal com o uso de “man” e para um registro informal ou coloquial com o uso de “guy”. Nenhuma das acepções, “man” ou “guy”, segundo o DELC (1998), são consideradas regionalismos na língua inglesa. Nesse sentido, Nir (1984 apud DÍAZ CINTAS, 2003) explica que um discurso coloquial mimético, ou que reflete a forma autêntica e real de falar de determinados Tradução & Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores š Nº. 24, Ano 2012 š p. 95-110.

(13) Jéssica Pacharoni Argentim, Marileide Dias Esqueda. 107. grupos de pessoas, por ser altamente contextualizado, é geralmente mais difícil de se traduzir que um estilo formal, como, por exemplo, o discurso presente nas obras de Shakespeare adaptadas para o cinema ou televisão. Em suas 22 ocorrências, o regionalismo “cabra” foi traduzido, ao longo de todo o filme, por “guy”, “you”, “man”, “real man” e “he”. Ressalta-se que o regionalismo foi omitido uma vez em virtude da reconstrução do sentido na legenda. Na cena a seguir, o personagem Douglas (interpretado por Bruno Garcia) está entrando na igreja quando os guardas do exército local anunciam com tiros seu casamento com Lisbela (interpretada por Débora Falabella). A expressão “danou-se” faz referência ao sinal dado a Frederico Evandro (interpretado por Marco Nanini) de que a cadeia está livre e sem os guardas, para que assim ele possa matar Leléu (interpretado por Selton Mello), que está preso. Para a tradução de “danou-se”, foi utilizada a estratégia tradutória da transcrição. Pelo dicionário DHLP (2001, p. 907), “danou-se” é uma expressão interjetiva utilizada no nordeste do Brasil para indicar que alguma coisa está perdida; que não tem mais solução ou cujos resultados são inevitáveis. O tradutor, ao usar a estratégia da transcrição, traduz “danou-se” por “holy crap!”, alterando então a expressão interjetiva tipicamente nordestina para uma gíria tabu presente nas culturas de língua inglesa. (DELC, 1998, p.301). Figura 4. Imagem da cena 01:17: 37; Fonte: Lisbela e o Prisioneiro (2003).. Nessa cena, lançando mão da estratégia de transcrição, que, segundo Gottlieb (1992), corresponde ao uso de uma expressão anômala, mas que, no entanto, se adéqua ao sentido do texto, pode-se afirmar que houve, novamente, uma tendência à uniformidade pelo uso da expressão interjetiva comum em língua inglesa “holy crap”, presente em Tradução & Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores š Nº. 24, Ano 2012 š p. 95-110.

(14) 108. A tradução para o inglês das variantes dialetais em Lisbela e o Prisioneiro. músicas, filmes e seriados atuais, e que possui uma carga informativa semelhante à de “danou-se”, embora não seja considerada uma expressão interjetiva típica ou regional de algum país de fala inglesa. A expressão “danou-se” foi traduzida também, ao longo de todo o filme, por “gosh” e “golly”, sendo esta última uma interjeição antiga e que já não se utiliza mais em países de fala inglesa, segundo o DELC (1998, p. 566), o que indica uma tentativa do tradutor de buscar cumprir a mesma função da expressão “danou-se” na legenda. Registra-se o uso da estratégia de transcrição para os três casos. Afirma-se, portanto, que a tradução do filme Lisbela e o Prisioneiro para o inglês, consistiu, nas palavras de Bamba (1997), em um trabalho duplo de adaptação e interação estilística. Segundo Bamba (1997): Através da interação, o texto de legendas toma corpo. A coexistência interativa do oral com o escrito permite assegurar a verossimilhança e a “naturalidade” dialógica. Esta interação do oral com o escrito faz do texto de legendas um sistema semiótico que participa, embora perifericamente, da estética do filme. Ao levar em conta esta tentativa de reprodução do “espírito do filme” e de outras virtudes discursivas do diálogo, podemos ver que a tradução de filmes em legendas se desdobra num caso de tradução “interlingual” e num caso de tradução “intralingual”. No caso da tradução “intralingual”, ela se constitui num trabalho de integração entre os fenômenos de oralidade com o escrito. (p.144-145; grifos do autor). A tradução interlingual à qual se refere Bamba (op.cit.) se viu completada por uma forma de tradução (intralingual) que é discursiva. Na tradução para o inglês de Lisbela e o Prisioneiro, houve uma procura pela dosagem entre as variantes dialéticas da língua falada e as de língua escrita. Em outras palavras, ao traduzir as marcas dialetais, o tradutor preocupou-se em reproduzir ou recriar a espontaneidade da oralidade que são tão inerentes às falas das personagens do referido filme.. 6.. CONCLUSÃO Neste estudo, buscou-se analisar as legendas em inglês do filme brasileiro Lisbela e o Prisioneiro, uma vez que a ocorrência constante de variantes dialetais de seus personagens podem se apresentar como grande desafio e dificuldade ao tradutor-legendador que exerce, nesse tipo de tradução, o princípio da economia linguística. Não foi propósito deste trabalho criticar as soluções tradutórias dadas às variantes dialetais em Lisbela e o Prisioneiro ou tampouco apresentar outras soluções. Pretendeu-se selecionar as variantes dialetais mais recorrentes que constam no filme, enumerá-las e compará-las com suas respectivas traduções para o inglês e, por fim, classificar as estratégias de tradução utilizadas, com base em Gottlieb (1992).. Tradução & Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores š Nº. 24, Ano 2012 š p. 95-110.

(15) Jéssica Pacharoni Argentim, Marileide Dias Esqueda. 109. É possível concluir que a estratégia de tradução de transferência foi utilizada em 80% dos casos, estratégia esta que se estima ser utilizada na maioria dos materiais audiovisuais traduzidos (GOTTLIEB, 1992; GAMBIER, 2003; DÍAZ CINTAS, 2003). As legendas em inglês, no DVD do filme, estão compostas por unidades linguísticas mais relacionadas ao contexto discursivo que às variantes dialetais isoladas, e colocam em operação uma transformação da própria matéria de expressão que é simultaneamente oral e escrita, principalmente porque, convém lembrar, a oralidade cinematográfica não é puramente improvisada, tendo sido escrita com antecedência, conforme menciona Mayoral Assensio (1990), em seu texto intitulado “Comentario a la traducción de algunas variedades de lengua”. A complexidade discursiva do texto do filme Lisbela e o Prisioneiro, seu alto grau de variantes dialéticas, falares típicos com sotaques, expressões interjetivas, gírias de humor tipicamente nordestinas e cariocas, clichês e associações linguísticas, pode ter determinado a preocupação do tradutor em utilizar rearranjos estilísticos na língua e no texto de chegada. O sentido não pertence ao texto, mas ao processo no qual as estruturas textuais e a idealização do espectador interagem. Durante esse processo, o espectador estrangeiro de Lisbela e o Prisioneiro (residente dentro ou fora do país) constrói uma noção geral sobre o filme e discerne elementos de significado que nascem dessa construção. Espera-se que outras análises de filmes brasileiros possam, em futuro próximo, beneficiar esta discussão, principalmente no que tange à estética de recepção e ao cinema brasileiro como arte.. REFERÊNCIAS ALENCAR, M.S.M. Panorâmica dos Estudos Dialetais e Geolinguísticos no Brasil. Ceará: Revista de Letras da Universidade Federal do Ceará, v.30, jan. 2010. ALFARO, C. A tradução para legendas: dos polissistemas à singularidade do tradutor. 2005. Dissertação (Mestrado em Estudos da Linguagem) - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, mar. 2005. ALVES, F.; PAGANO, A.; MAGALHÃES, C. Traduzir com autonomia. São Paulo: Contexto, 2000. ______. Competência em Tradução. Minas Gerais: UFMG, 2005. ARAÚJO, V.L.S. Por que não são naturais algumas traduções de clichês produzidas para o meio audiovisual? Tradução & Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores, São Paulo, n.10, p.139152, 2001. AUBERT, F.H. Modalidades de tradução: teoria e resultados. TradTerm, São Paulo, Ano 5, n.1, p.99-128, 1998. BARBOSA, H.F. Procedimentos Técnicos da Tradução. Campinas, SP: Pontes, 1992.. Tradução & Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores š Nº. 24, Ano 2012 š p. 95-110.

(16) 110. A tradução para o inglês das variantes dialetais em Lisbela e o Prisioneiro. BAGNO, M. Português ou brasileiro? um convite à pesquisa. São Paulo: Parábola, 2002. BORBA, F.S. Introdução aos estudos linguísticos. 12.ed. Campinas, SP: Pontes, 1998. BAMBA, M. Da interação da língua falada com a língua escrita e outras formas de interação semiótica na geração de texto de legenda de filmes. Dissertação (Mestrado) - USP, São Paulo, 1997. CATFORD, J.C. A linguistic theory of translation. London: Oxford University Press, 1965. CHESTERMAN, A. Memes of Translation: The spread of ideas in translation theory. Amsterdam and Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 1997. COLLET, T. Procedimentos tradutórios na legendagem de House: análise da terminologia médica referente a exames e aparelhos. 2012. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Santa Catarina, 2012. DÍAZ CINTAS, J. Teoría y Práctica de la Subtitulación. Barcelona: Ariel, 2003. DÍAZ CINTAS, J.; ORERO, P. Postgraduate Courses in Audiovisual Translation. The Translator, v.9, n.2, p.371-388, 2003. ESQUEDA, M.D. O tradutor Paulo Rónai: o desejo da tradução e do traduzir. 2005. Tese (Doutorado) - Instituto de Estudos da Linguagem – Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, Campinas, SP. FREGONEZI, D.E. A tradução: uma abordagem linguística. 1984. Tese (Doutorado) - UNESP, Araraquara, SP. GAMBIER, Y. Screen Transadaptation: Perception and Reception. The Tanslator, v.9, n.2, 2003, p.171-189. GOROVITZ, S. Os labirintos da Tradução: a legendagem cinematográfica e a construção do imaginário. Brasília: UNB, 2006. GOTTLIEB, H. Subtitling – A New University Discipline. In: DALLERUP, Cay; LODDEGAARD, Anne (Ed.). Teaching Translation and Interpreting. Training, talent and experience. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 1992. p. 161-169. HOUAISS, A.; VILLAR, M.S. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. HURTADO ALBIR, A.; MOLINA, L. Translation Techniques Revisited: A dynamic and functionalist approach. Meta: Translator’s Journal, v.47, n.4, p. 498-512, 2002. KARAMITROGLOU, F. A proposed set of subtitling standards in Europe. In: Translation Journal, v. 2, n. 2, [periódico virtual sem numeração de páginas], 1998.. Disponível em: <http://www.accurapid.com/journal>. LINDE, Z.; KAY, N. The Semiotics of Subtitling. Manchester: St. Jerome Publishing, 1999. Jéssica Pacharoni Argentim Bacharel em Tradução pela Universidade Sagrado Coração, Bauru/SP. Projeto de pesquisa CNPQ: “O desafio da Tradução para o Inglês do filme brasileiro Lisbela e o Prisioneiro”, sob orientação da Profa. Dra. Marileide Dias Esqueda. Marileide Dias Esqueda Doutora em Tradução pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Atualmente é professora do Curso de Bacharelado em Tradução do Instituto de Letras e Linguística da Universidade Federal de Uberlândia - UFU, MG.. Tradução & Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores š Nº. 24, Ano 2012 š p. 95-110.

(17)

Referências

Documentos relacionados

A lo largo del siglo XX, y especialmente después de la Segunda Guerra Mundial, se constata en las formaciones sociales capitalistas en general, aunque con variaciones

O objetivo do curso foi oportunizar aos participantes, um contato direto com as plantas nativas do Cerrado para identificação de espécies com potencial

O valor da reputação dos pseudônimos é igual a 0,8 devido aos fal- sos positivos do mecanismo auxiliar, que acabam por fazer com que a reputação mesmo dos usuários que enviam

A partir da análise dos questionários, utilizados como instrumento de pesquisa referente à atividade desenvolvida em sala de aula com o auxílio da cartilha “Sensoriamento Remoto: os

Isto é, podemos insistir que os cientistas são capazes de avaliação absoluta – e não apenas de avaliação comparativa -, ou insistir que seus métodos de produção de teorias

verrucosum 23 Tabela 4 Constituintes dos meios de cultura semi-sólidos 32 Tabela 5 Constituintes dos meios líquidos de cultura 33 Tabela 6 Quantidade dos 115 extratos

Sem desconsiderar as dificuldades próprias do nosso alunado – muitas vezes geradas sim por um sistema de ensino ainda deficitário – e a necessidade de trabalho com aspectos textuais

Em São Jerônimo da Serra foram identificadas rochas pertencentes à Formação Rio do Rasto (Grupo Passa Dois) e as formações Pirambóia, Botucatu e Serra Geral (Grupo São