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A Construção da Identidade do Adolescente e a sua Relação com as Mídias Sociais

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Academic year: 2021

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A Construção da Identidade do Adolescente e a sua Relação com as Mídias Sociais

Resumo

Este artigo tem como foco uma análise do contexto da adolescência e suas peculiaridades, enfatizando a decatexia dos objetos amorosos familiares com a construção da identidade do adolescente, que é considerada a tarefa mais importante da adolescência, além dos resultados destes processos no desenvolvimento do adolescente. Concomitantemente a isso, será analisado o uso das mídias sociais como recurso mediador da retirada dos investimentos familiares para o grupo de iguais e como ferramenta para a construção da identidade do adolescente. A metodologia da pesquisa foram observações de grupos de adolescentes, registrados em diário de campo.

Palavras-chave: Adolescência. Identidade. Decatexia

dos Objetos Amorosos Familiares. Mídias sociais.

The Development of Teenager Identity and its Relationship with Social Média

Abstract

This article focuses on an analysis of the context of adolescence and its peculiarities, emphasizing decatexia loving family of objects with the construction of the Patrícia Feiten Pinto1

1Universidade Regional Integrada

do Alto do Rio Uruguai e das Missões.

E-mail: patiiftn@hotmail.com

P

in

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identity of the teenager, who is considered the most important task of adolescence, and the results of these processes in adolescent development. Concurrently, it will analyze the use of social media as a mediator of the withdrawal of family investments for the peer group and as a tool for the construction of the identity of teen appeal. The research methodology were observations of groups of teens, recorded in a field diary.

Keywords: Adolescence. Identity. Decatexia Loving Family

of Objects. Social Media.

1 Introdução

A adolescência é uma das etapas do desenvolvimento humano que se fundamenta na busca frenética de uma construção identificatória. Para construir a identidade, eles precisam se espelhar em alguém e este espelhamento já não pode ser mais os objetos amorosos primários. A consolidação final da sua personalidade precisa de um objeto novo: o grupo de iguais. Deste modo, o grupo de iguais é uma espécie de auxilio que proporciona condições para o adolescente se posicionar subjetivamente.

No que tange a adolescência inicial, há um incremento dos impulsos sexuais e agressivos. O objetivo primordial dessa subfase de desenvolvimento consiste na decatexia dos objetos amorosos familiares, então a libido objetal está livre para novos objetos, logo o adolescente irá buscar relações

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extrafamiliares, substituindo as identificações familiares por outras (amigos, idealizações). (CORDIOLI, 2008).

Esta pesquisa foi realizada a partir de observações com os alunos e adolescentes de uma escola de rede particular de ensino de Santo Ângelo. Em relação ao contexto das observações, elas foram realizadas antes das aulas começarem no período da tarde, dentro da escola ou no bar desta.

Durante as observações, constatou- se o uso de ferramentas de comunicação entre os adolescentes observados, que é uma característica marcante dessa fase. Com o advento das novas tecnologias, a sociedade contemporânea atual está inserida em um processo cultural no qual as redes sociais têm um grande papel na construção da identidade do adolescente além de que o meio eletrônico é um espaço que possibilita a interação social, intercâmbio sociocultural e construção de conhecimentos.

2 Desenvolvimento 2.1 Metodologia

Na psicologia, o método de observação é apontado como um instrumento satisfatório no processo da pesquisa. A observação é um instrumento de coleta de dados que permite à socialização e consequentemente a avaliação do trabalho e é utilizada para coletar dados acerca do comportamento e da situação ambiental. (DANNA; MATOS, 1999).

A pesquisa de observação foi desenvolvida a partir de 10 observações, que ocorreram durante 10 semanas. As

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observações foram de uma hora cada, e todas realizadas com os adolescentes no espaço escolar, nas quartas-feiras por volta das 13h00min.

Durante as observações fui utilizado Diário de Campo para registros e anotações da pesquisadora. O diário de campo é um meio através do qual se possibilita a sistematização das observações, tanto quanto percepções subjetivas e particulares do pesquisador. Diário é conceituado como “caderno ou similar em que se registram os acontecimentos diários” (FERREIRA, 2004, p.318). Para Minayo e Gomes (2007), entende-se campo, na pesquisa qualitativa, como o recorte espacial que diz respeito à abrangência, em termos empíricos, do recorte teórico correspondente ao objeto da investigação. Assim, pode-se compreender o diário de campo como o caderno onde se registram diariamente os elementos percebidos no contexto onde se desenvolve a pesquisa.

2.2 Apresentação e análise dos dados advindos das observações

A adolescência nem sempre despontou culturalmente como uma fase desenvolvimental específica do ser humano, um período de mudanças físicas e psicológicas. Toda esta complexidade está relacionada à adolescência não como uma fase naturalizada do desenvolvimento humano e nem como uma transição da infância para a vida adulta, mas como uma construção social.

Para Calligaris (2000) a adolescência, assim como a própria infância é uma invenção social. A partir do momento em que

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a infância se afasta de um simples consolo estético, quando é mais encarregada de preparar o futuro, ou seja, de se preparar para alcançar um possível sucesso que faltou aos adultos, força a invenção da adolescência, que é um derivado contemporâneo da infância moderna. Faz um século que se começou a estudar este tema, já que até então, a adolescência não era um fator social reconhecido, era uma faixa etária, mas não por isso um grupo social.

Até algum tempo atrás, a adolescência era considerada simplesmente uma etapa de transição entre a infância e a idade adulta e era caracterizada pelos comemorativos biológicos que marcavam esse momento evolutivo. O adolescente do sexo masculino era descrito como o desengonçado, que estava mudando a voz, já a adolescente do sexo feminino era vista como desproporcional e estava passando pelo período do desabrochar do seio. Porém, nas últimas décadas, a adolescência vem sendo analisada como o momento crucial do desenvolvimento do indivíduo, não marcando somente a aquisição da imagem corporal, mas também a estruturação final da personalidade (CORSO, 1989).

Para consolidar a estruturação final da sua personalidade, o adolescente passa por diversas turbulências, principalmente relacionadas à sua relação com os seus pais, já que o adolescente não utiliza mais os seus pais como uma fonte de equilíbrio egóico. Na infância, o ego dos pais esteve disponível para a criança como uma extensão do seu próprio ego, entretanto, com a advinda da fase desenvolvimental da

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adolescência, o adolescente rejeita este ego parental, com isso, tem-se o enfraquecimento do superego, que segundo Blos (1998), é em decorrência do desinvestimento dos objetos primários internalizados. O superego diminui a eficácia, deixando o ego sem as orientações da consciência. O ego, então, não depende da autoridade do superego e a retirada da catexia objetal e a ampliação da distância entre o ego e o superego, que resultam num empobrecimento do ego, que é sentido pelo adolescente como um sentimento de vazio, uma agitação que pode ser dirigida, na busca de alívio do vazio, para qualquer oportunidade mitigadora que o ambiente ofereça.

A rejeição do ego parental, que gera certo distanciamento dos adolescentes perante seus pais e consequentemente de sua casa, foram presenciadas na seguinte observação: Mais tarde, os dois guris começam a falar sobre uma “jantinha” que eles haviam combinado com os amigos deles. “Só não pode ser lá em casa”. “Na minha até poderia, mas só se não tiver outro lugar, porque a mãe só vai incomodar”.

Com o desinvestimento das relações parentais, tanto a menina quanto o menino se voltam para os objetos extrafamiliares e fazem a transição da casa para a rua, iniciando a separação dos antigos laços objetais. O caráter marcante da adolescência inicial, para Blos (1998) está na decatexia dos objetos amorosos familiares, então, a libido objetal está livre para buscar novos objetos.

A transição da casa para rua é claramente vista em uma das observações feitas: “Vocês não tinham nada de importante

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para fazer hoje em casa ao invés de jogar truco? ““ Até tinha, mas eu não estou a fim de ficar em casa” “Sim, não tem nada para fazer”. Essas falas podem ser analisadas a partir da perspectiva de que o adolescente não quer ficar a maior parte de seu tempo em casa, visto que eles não aceitam a moratória imposta pela sociedade e pelos próprios pais, que lhes impõem regras e limites. A sua identidade fica um tanto que confusa, pois essa situação gera desconfiança do adolescente e a ideia de não ser compreendido pelo mundo.

Durante as observações, evidenciou-se que a partir da decatexia dos objetos familiares, os adolescentes investem a sua catexia em outro objeto: o grupo de iguais e a finalidade desse grupo é a construção da identidade dos adolescentes, já que em casa o adolescente não consegue construir sua identidade, pois ele precisa se espelhar nos iguais. O grupo de iguais é primordial para a formação de opiniões próprias e de valores pessoais. Um dos trechos que comprova a existência do grupo de iguais é a seguinte (momento registrado pela pesquisadora): 4 guris estavam na escola da URI. Inicialmente eles falavam sobre festas de aniversário de um deles. A festa ia ser na casa dele e ele ia convidar toda a turma com exceção dos colegas que ele não gostava e que a festinha dele iria bombar.

O grupo de iguais tem como finalidade cristalizar a identidade adulta do adolescente e afirmar-se como indivíduo autônomo, para deixar de utilizar os pais ou sub-rogados desses, como modelos de identificação, concomitantemente a isso, os adolescentes têm necessidade de buscar novas pautas

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identificatórias no seu grupo de iguais. É nos grupos de iguais que surge um ambiente propício ao intercâmbio e confronto de experiências que permite a seus componentes uma melhor identificação dos limites entre o eu e o outro. (CORSO, 1989).

A construção da identidade, que é a finalidade do grupo de iguais, para Erikson (1972) é a autoimagem formada durante a adolescência que integra as nossas ideias quanto ao que somos e ao que queremos ser. A construção da identidade, durante a adolescência, tem como principal empreitada adaptar o sentido do eu às mudanças físicas da puberdade, além de desenvolver uma identidade sexual madura, buscar novos valores e fazer uma escolha ocupacional. A formação da identidade utiliza um processo de reflexão e observação, pelo qual o indivíduo se julga a si próprio à luz daquilo que percebe ser a maneira como os outros o julgam, em comparação com eles próprios e com uma tipologia que é significativa para eles; enquanto que ele julga a maneira como eles o julgam, à luz do modo como se percebe a si próprio em comparação com os demais e com os que se tornaram importantes para ele. Além disso, este mesmo autor enfatiza que a identidade não é algo estático e imutável, como se fosse uma armadura para a personalidade, mas como algo em constante desenvolvimento.

Portanto, é possível pensar a construção da identidade como algo social, que é formada através da interação do adolescente com o meio, isto é, com o seu grupo de iguais e

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está sempre se adaptando, já que a construção desta é algo mutável.

Atualmente, quando falamos de adolescência logo vem à tona outro assunto muito pertinente, as redes sociais, que é utilizada pelos adolescentes na construção de suas identidades. A juventude dos dias atuais nasceu e se criou na era da comunicação e informação instantânea, logo, as redes sociais conquistaram grande valor na cultura e na construção da identidade, além de fazerem parte de seu estilo de vida, pois eles são diretamente influenciados pelas mídias sociais em vários aspectos.

As mídias elaboram e difundem valores, formas de viver, hábitos que afetam as identidades das pessoas, o sentido da vida, as relações humanas. Em relação à juventude, elas lançam estratégias de construção de um modo de ser jovem, de uma cultura juvenil, que vão desde a indução ao consumo, à cultura do corpo, à rebeldia, a modelos de vida adultos até a forma de resistência à padronização midiática da cultura jovem (LIBÂNEO, 2006).

O uso das redes sociais foi uma característica marcante dos adolescentes observados. Além disso, a maioria das conversas deles tem alguma relação com essas. Um trecho que é evidenciado isto é: “Vocês excluíram o meu facebook raqueado?” “Eu sim”. “Eu acho que sim, mas não sei qual dos dois é o raqueado”. “Mas é só tu olhar o que tem mais amigos é o raqueado, isso é lógica, moloide”. “Você sabe quem fez isso?” “Foi uma tal de Carol, porque eu adicionei o face raqueado no meu novo e me aceitaram e esses dias eu estava

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falando com quem raqueou e essa pessoa disse que era uma guria e que se chama Carol” “Mas será que não te mentiram” “Não sei”.

As redes sociais também são formas de compartilhamento de informações e conhecimento entre os adolescentes, além de ser um meio a qual eles utilizam para compartilhar fotos ou simplesmente para conhecer outras pessoas e conversar. Um exemplo disso coletado durante as observações seria: “Tu não têm chat no celular né”? A outra responde: “Não, eu excluí”. “Baixa que eu quero te enviar uma foto”.

Diante das possibilidades que as mídias sociais oferecem, temos os jogos, já que ele proporciona para o adolescente a socialização. Podemos verificar o uso dos jogos nas observações feitas: Um deles diz: “estou querendo baixar um jogo novo, mas ele é muito pesado” “eu quero o jogo X, dá para falar, é fera”. Nesse sentido, para Cabral (2004), os jogos representam uma atividade lúdica e socializadora, pois transportam crianças e adolescentes para experiências diversas, abrindo-lhes as portas para o entendimento da realidade e ajudando-os a construir os valores tomados como próprios.

O ápice dessas tecnologias, tanto as redes sociais, quanto os games e chats, é que eles são uma ferramenta para a construção da identidade do adolescente e, consequentemente, eles são formas de retirada de investimento familiar, ou seja, a decatexia dos objetos amorosos familiares. A mídia social, portanto, é uma alternativa que o adolescente contemporâneo encontra para

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investir parte de sua catexia, já que o cenário midiático configura-se sob uma perspectiva de pertencimento, um pertencer adolescente a uma determinada “sociedade virtual”, ou seja, de um grupo de iguais, que têm outros adolescentes que compartilham das mesmas características, do mesmo pensar revolucionário, mesma tribo, etc.

Assim sendo, percebe-se a centralidade e a importância que as mídias sociais, juntamente com suas particularidades, como o facebook ou até mesmo os jogos, ocupam na vida do adolescente. Estamos na era da tecnologia digital e ela introduz no cotidiano do adolescente novas configurações de comunicação e socialização e dificilmente temos algum adolescente que não tenha nenhuma rede social.

3 Conclusão

Com a análise das observações, verificou-se que a adolescência não é apenas a aquisição da imagem corporal, como era pensado há algum tempo atrás, mas também a estruturação final da personalidade, visto que os adolescentes passam por muitos conflitos durante esta fase, como a instabilidade emocional, busca pela identidade e pela independência e a rebeldia.

A partir desses conflitos, o jovem passa a desenvolver uma relação um tanto conturbada com os pais, exatamente devido à decatexia dos objetos amorosos familiares, pois o adolescente se sente não compreendido pelos pais devido à moratória imposta pelos mesmos, que lhes impõem regras e limites e isso pode acarretar em problemas de

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relacionamentos entre pais e filhos. Entretanto, frisa-se que esses conflitos que o adolescente tem com seus pais são normais, se for de uma forma saudável, pois faz parte do seu desenvolvimento.

Com o distanciamento dos objetos primários, foi observado que os adolescentes se voltam para os amigos, justamente para a formação final de sua identidade. O grupo de iguais é a forma que o adolescente utiliza para afirmar a sua diferença e se reconhecer.

Além do mais, constatou-se a centralidade e o valor que as mídias sociais possuem na vida do adolescente, já que foi observado o uso de dispositivos como o facebook, sendo que norteiam as relações dos jovens. A partir dessa pesquisa de observação, conclui-se que as mídias sociais fazem parte do seu estilo de vida e, com isso, as relações que os adolescentes têm são mediadas pela tecnologia e concomitantemente a isso, produzem uma forma de decatexia dos objetos amorosos familiares de forma contextualizada com os efeitos da cultura de uma época imersa na tecnologia.

Referências

BLOS, P. Adolescência uma interpretação psicanalítica. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

CABRAL, F. Entrevista. 4ª Cúpula Mundial de Mídia para

Crianças e Adolescentes. Rio de Janeiro: Multirio, 2004.

CALLIGARIS, C. A adolescência. São Paulo: Publifolha, 2000.

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CORSO, C.L. Adolescência Hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.

DANNA, M.F.; MATOS, M.A. Ensinando Observação: uma Introdução. 4. ed. São Paulo: Edicon, 1999.

ERIKSON, E.H. Identidade, juventude e crise. Rio de Janeiro: Zahar, 1972.

FERREIRA, A.B.H. Miniaurélio: o minidicionário de língua portuguesa. Curitiba: Positivo, 2004.

LIBÂNEO, J. C. Cultura, Jovem, Mídias e Escola: o que muda no trabalho nos professores? Educativa, v. 9, n. 1, p. 25-45, 2006.

MINAYO, M.C.S.; GOMES, S.F.D.R. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Rio de Janeiro: Vozes, 2007.

Referências

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