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MULHERES E EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM CURITIBA: A ESCOLA TÉCNICA DE COMÉRCIO SÃO JOSÉ ( )

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Academic year: 2021

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MULHERES E EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM CURITIBA: A ESCOLA TÉCNICA DE COMÉRCIO SÃO JOSÉ (1942-1955)

Erica Piovam de Ulhôa Cintra/UFPR

A presente temática é decorrente de investigação histórico-educativa, em desenvolvimento no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná, que trata da reconstituição de parte da história da ESCOLA TÉCNICA DE COMÉRCIO SÃOJOSÉ, desde a sua fundação em 1942 até o ano de 1955 quando então foram estabelecidos dois outros cursos de ensino secundário, o de enfermagem (1954) e o normal (1955), no mesmo local de ensino, o Colégio São José. A proposta de educação feminina católica e a da formação profissional deste público longe do ‘tradicional’ magistério constituem o centro norteador da presente investigação que busca compreender também, aspectos da educação feminina paranaense que permitam identificar o papel da jovem mulher dos anos de 1940 e 1950, em Curitiba–Paraná.

As Irmãs de São José responsáveis pela criação e direção durante longo tempo do Colégio São José de Curitiba são originárias de Moûtiers, capital de Tarentaise, na França. (SILVESTRE, 1985, p.26-31). Estabeleceram-se na capital paranaense em 1896, a pedido de D. João de Camargo Barros - o primeiro bispo da Província do Paraná, com a finalidade de atender os hospitais da província. Começaram pela Santa Casa de Misericórdia de Curitiba(1896), depois o Hospital da Rede de Viação Paraná - Santa Catarina (1898-1909), o Hospital Psiquiátrico Nossa Senhora da Luz, o Asilo(Orfanato) São Luis, o Hospital Militar de Curitiba, e instituições de outras localidades como a Santa Casa de Paranaguá. (FEDALTO, p.248-254) Somente depois de engajadas neste atendimento, as Irmãs entraram no campo educacional desdobrando-se na criação dos Colégios São José, em 1902, e Nossa Senhora de Lourdes, em 1907, na capital paranaense.

Desde a fundação do Externato São José, em 1902, as Irmãs de São José dedicaram-se ao atendimento do público exclusivamente feminino oferecendo inicialmente “o ensino primário, o estudo da música, da bordagem e da pintura.” (Arquivos do Colégio São José) Depois surgiram, no período estudado, o curso ginasial(1949) e os cursos secundários comercial(1942), de enfermagem(1954) e o normal(1955).

No período em que foram iniciadas as atividades com a Escola Técnica de Comércio, a ênfase dada à formação das mulheres curitibanas era em Escola Normal, especialmente, a do Instituto de Educação do Paraná situado na mesma rua do colégio,

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Emiliano Perneta(Aquidaban). (IWAYA, 2001) Mais tarde, em 1954, a Escola de Educação Familiar também se tornaria um local de referência para a formação do público feminino colaborando para mais uma alternativa profissional no magistério como professoras de ‘disciplinas específicas’ do curso secundário e não somente como professoras primárias. (FUCKNER, 2000)

Esta tendência para a formação de normalistas foi seguida pelos estabelecimentos católicos femininos localizados na capital paranaense, especialmente nas décadas de 1940 e 1950. No ano de 1946, foram constituídas as escolas para formação de normalistas dos Colégios Nossa Senhora de Lourdes e do Sagrado Coração de Jesus e, em 1949, a do Colégio de Sion. (FEDALTO, p.288-291) O próprio Colégio São José, em 1955, deu origem a Escola Normal Maria Imaculada, treze anos após a do ensino comercial e ainda posterior à fundação da Escola de Enfermagem Madre Leonie, em 1954.

A Escola Técnica de Comércio São José foi constituída oficialmente em 1943 e partiu de um projeto anterior que, sob a Reforma Francisco Campos de 1931 e o conjunto de Decretos-Lei e Portarias da União expedidas nas décadas de 1930 e 1940, respaldaram a organização do Instituto Comercial São José e sua fundação em 11 de novembro de 1942. Mas alterações ocorridas com a Lei Orgânica do Ensino Comercial(1943), obrigariam a reestruturação da situação da escola para seu efetivo funcionamento. O impacto desta legislação sobre a constituição e a organização do Instituto Comercial repercutiria na reestruturação do currículo, no reordenamento das disciplinas escolares, dos materiais escolares, além de interferências no próprio espaço escolar para o alojamento de laboratórios que se faziam necessários para esta finalidade educacional.

Situado no centro da capital paranaense, o edifício escolar foi planejado e construído, inicial e especialmente, para acomodar as atividades educacionais da Escola Técnica de Comércio. A construção, iniciada em fins de 1941, foi terminada a tempo para a abertura do ano letivo. O projeto arquitetônico ali desenvolvido, especialmente na sua formação completa, tal qual pode ser vista externamente ainda hoje, evidencia a presença deste prédio escolar junto a uma das praças centrais da cidade. A ocupação do terreno fronteiriço entre a praça Rui Barbosa, a rua 24 de Maio e a rua Emiliano Perneta permite, ainda hoje, boa visibilidade e acesso privilegiados ao colégio.

Atendendo ao pedido de inúmeras Famílias, desejosas de dar a suas Filhas uma formação mais adequada á época, como ás instancias das Exmas Autoridades locais, pressurosas de

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dotar a Capital de um Estabelecimento de ensino comercial feminino, a Congregação das Irmans de São José, apezar das dificuldades do momento, fez jús aos desejos dos interessados e, em fins do ano de 1941, iniciou uma vasta construção, acomodada e acondicionada ao desideratum requerido. (Arquivos do Colégio São José)

A construção da sede da escola de comércio denota uma questão interessante do ponto de vista da importância dada à construção de um prédio escolar que atendesse a expectativa de uma instituição educacional que buscava projetar-se como modelo no ensino secundário comercial. A estrutura física da Escola Técnica de Comércio, portanto, para atender a esta expectativa, precisaria ser reconhecida dentre os princípios da pedagogia moderna que visavam, neste aspecto, o desenvolvimento de atividades educacionais em um local amplo, arejado, iluminado, o mais adequado para o seu efetivo encaminhamento. Assim, salas de aula, biblioteca, laboratórios, bem como as demais dependências e seus respectivos materiais, foram planejados para que fossem funcionais, bem como constituíssem um ambiente mais propício à escolarização e que, portanto, protegessem seus partícipes das distrações provocadas pelo mundo exterior constituindo uma arquitetura peculiar.

De um lado, chama a atenção a constituição de um espaço próprio destinado à escola técnica de comércio. É o lugar da praça e também o lugar que dividiria os cenários de atuação das Irmãs de São José entre a Santa Casa de Misericórdia e o colégio, entre a saúde e a educação. De outro, a consideração de que, dentre as instituições de ensino católicas, a Escola Técnica de Comércio São José foi a única instituição de ensino a oferecer cursos técnicos comerciais a clientela exclusivamente feminina em Curitiba, nas décadas de 1940 e 1950 - sucedida somente em 1956, pelo Colégio Senhor Bom Jesus com o curso de contabilidade para o público masculino. Soma-se a esta questão o fato de o Colégio São José se apresentar, com maior intensidade, no cenário local, com os cursos técnicos de contador e de contabilidade para o público feminino. Longe do ‘tradicional’ magistério, a formação e a profissionalização feminina oportunizaria a participação da mulher num cenário marcadamente masculino, o do comércio.

Assim, tendo como pressuposto o fato de que cursar o magistério era parte dos ‘ideais da época’, então por que as jovens mulheres que cursaram a Escola Técnica de Comércio São José não seguiram ‘naturalmente’ o caminho da Escola Normal? Quais os motivos que colaboraram para a constituição da Escola Técnica de Comércio em colégio

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católico exclusivamente feminino, em Curitiba, na década de 1940? Se este período, também em Curitiba, significou um momento conturbado político, social e economicamente, e o trabalho da mulher era visto com ‘maus olhos’(BOSCHILIA, p.27-28), o que motivaria a construção de um edifício escolar e a abertura de uma instituição educacional que encaminharia a demanda feminina de maneira direta ao mercado de trabalho? E, ainda, se os estudos em educação feminina e instituições confessionais católicas reiteradamente revelam a face do conservadorismo (CHORNOBAI, 2002; CUNHA, 1999.) seria o mesmo o ocorrido na formação das mulheres que estudaram na Escola Técnica de Comércio São José? Tal esforço faz-se no sentido de contribuir para os estudos acerca da educação feminina paranaense, bem como, pela peculiaridade dos estudos, para a história das mulheres.

REFERÊNCIAS

BOSCHILIA, Roseli T. Condições de vida e trabalho: a mulher no espaço fabril curitibano (1940-1960). Curitiba, 1996. 177f. Dissertação (Mestre em História) – Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná.

CHORNOBAI, Gisele Quadros Ladeira. Igreja Católica, educação feminina, e cultura escolar em Ponta Grossa (Paraná): a Escola Normal de Sant’Ana (1947-1960). Curitiba, 2002. 163 f. Dissertação (Mestre em Educação)– Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná.

CUNHA, Maria Iza Gerth da. Educação feminina numa instituição total confessional católica: Colégio Nossa Senhora do Patrocínio. São Paulo, 1999. (Mestre em História) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

FEDALTO, Pedro. A Arquidiocese de Curitiba na sua História. Curitiba, 1959. (Casa de Memória)

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FUCKNER, Cleusa Maria. Magistério e Casamento: memória e formação no Colégio de Educação Familiar do Paraná (1953-1986). Curitiba, 2000. 152f. Dissertação (Mestre em Educação) – Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná

IWAYA, Marilda. Palácio da Instrução: representações sobre o Instituto de Educação do Paraná Professor Erasmo Pilotto (1940-1960). Curitiba, 2001. 140f. Dissertação (Mestre em Educação) – Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná.

SOUZA, Regina Maria Schimmelpfeng de. A Estrada do Poente: Escola Alemã/Colégio progresso (Curitiba 1930-1942). Curitiba: 2002. Dissertação (Mestre em História) – Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes da UFPR.

Arquivos do COLÉGIO SÃOJOSÉ DE CURITIBA

COLÉGIO SÃO JOSÉ. Externato São José. Histórico do Instituto Comercial São José. Curitiba, nov. 1942. 2f (Arquivos do Colégio São José)

_______________________. Ofício intitulado ‘Histórico Escolar do Colégio São José’, 2f. (Arquivo do Colégio São José, Pasta Atos Legais, Curitiba)

LOUIS MARIE SILVESTRE, Irmã. Irmãs de São José de Chambery: 1650-1985. Roma, 1985. p. 26-31. (Crônicas da Congregação)

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