1) Compreender Osteomielites 1) Introdução
• O termo osteomielite significa infecção que envolve o tecido ósseo (principalmente trabécula e medula óssea).
• São divididas de acordo com a classificação de Waldvogel, a qual subdivide as osteomielites em hematogênicas, sistêmicas e secundárias a foco infeccioso ou por contiguidade, com ou sem insuficiência vascular. Essa se baseia na via pela qual o MO invade o osso.
• A finalidade dessas classificações se dá pela necessidade de diagnóstico preciso do processo infeccioso para nortear o tratamento clínico e cirúrgico.
• Resumidamente, há 03 maneiras principais de um MO chegar ao osso. Esses 03 tipos de doença diferem entre si quanto as características do paciente acometido, antecedentes, microorganismo envolvido, osso afetado e evolução (são quase doenças distintas!)
o Contaminação de uma ferida cirúrgica ou fratura exposta → osteomielite pós-traumática o Disseminação de um foco infeccioso antigo adjacente (como úlceras crônicas) → osteomielite
por contiguidade
o Via sanguínea (embolização de foco infeccioso antigo) → osteomielite hematogênica ▪ Geralmente acomete a criança, adulto jovem ou imunodeprimidos
2) Osteomielite hematogênica aguda a) Introdução
• É uma doença com maior incidência em crianças, principalmente as metáfises de crescimento de ossos longos (tíbia e fêmur).
• A idade de maior incidência é dos 05 aos 14 anos. • O gênero masculino é 3 a 4x mais acometido. • Em adultos, geralmente está associada a HIV,
hemoglobinopatias (anemia falciforme). b) Fisiopatologia
• A irrigação do osso é feita por vasos epifisários, periosteais e por ramos da artéria nutriente, que penetra no córtex e vai até o canal medular, onde se divide em ramos ascendentes e
descendentes. Mediante sucessivas ramificações, as artérias atingem a metáfise, onde, próximo da placa de crescimento, o sangue chega até sinusoides, que confluem entre si para formar o sistema venoso.
o De acordo com a lei de Castelli, nos pequenos vasos arteriais, o sangue escoa em grande velocidade, porém, ao atingir os amplos sinusoides, há uma redução brusca da velocidade, com tendência a estagnação (locais favoráveis para o desenvolvimento de micro-organismos)
• Há uma reação inflamatória local, que, depois, se amplia, provocando trombose e originando um abscesso intraósseo. Devido a rigidez do tecido, o abscesso fica submetido a uma pressão enorme, levando a expansão intra-óssea desse e destruição das lamelas e metáfise óssea. O sistema de canais do osso passa a funcionar como elemento de escoamento do pus e propagação da infecção.
o O pus também se dissemina em direção a superfície óssea, por onde extravasa, descolando o periósteo e se acumulando nessa região, levando a formação de abscesso subperiosteal. • Por fim, o periósteo se rompe (necrose), levando a infecção para partes moles, levando a
superficialização da infecção, com formação de fístulas e extravasamento para o exterior.
• O Staphylococcus aureus é o patógeno mais envolvido.
o Apresenta como focos iniciais: cateter venoso, onfalite (inflamação no umbigo, geralmente após retirada do cordão umbilical), infecções de pele, tonsilites e otites médias. Entretanto, na maioria das vezes, não se identifica a porta de entrada do processo infeccioso.
o A bactéria se adere ao osso por meio de proteínas do hospedeiro, como a fibronectina, fibrinogênio e colágeno, através das adesinas presentes em sua membrana (MSRAMM) • Outras bactérias frequentemente envolvidas são Streptococcus agalactiae, E.coli, S.pyogenes,
H.influenzae
c) Quadro Clínico
• O quadro clínico difere entre as faixas etárias:
o Neonatos: dor e febre de início abrupto, irritabilidade, letargia e sinais ocais de inflamação. A efusão articular (derrame) adjacente à infecção óssea está presente em 60% dos casos. Recém-nascidos podem apresentar normotermia e exibirem somente atitude antálgica e hipoatividade. o Crianças: geralmente não apresentam acometimento de partes moles próximo ao sítio infeccioso,
os sintomas são menos exuberantes.
o Adultos: sintomas vagos, como dor inespecífica, febre, calafrios, edema e eritema local. Geralmente decorrem de fraturas expostas e cirurgias ortopédicas (nesses casos, organismos hospitalares passam a ser importantes na etiologia).
• A dor é localizada em uma região do membro, intensa e leva precocemente a incapacidade funcional. o Quando o abcesso é apenas intra-ósseo, pode-se encontrar somente uma criança febril que refere
dor em um dos membros, sem outros sinais.
o Quando o abcesso é subperiosteal a dor se torna mais intensa, devido a rica inervação dessa estrutura. Caso o osso seja mais superifical (como a tíbia), podem estar presentes sinais inflamatórios na pele.
Abcesso intraósseo Expansão para canal
medular Abcesso subperiosteal
Rotura do periósteo e invasão das partes moles
o Quando o abcesso está em partes moles, surgem sinais inflamatórios nítidos na superfície do membro, com grande aumento de volume, calor e rubor. Devido a necrose e rotura do periósteo, geralmente há redução da dor, pois a pressão intra-óssea é reduzida.
o Por fim, caso não tratado, o abscesso se superficializa através de uma fístula. A febre tende a diminuir e a inflamação reduz. A infecção “esfria” e caminha para a cronicidade.
• Casos mais graves podem envolver septicemia, demandando tratamento de urgência.
• Os abcessos iniciais na metáfise podem permanecer contidos pela resposta imune do hospedeiro, mas eventualmente persistem nas formas subaguda e crônica, podendo se estender, em alguns casos, para estruturas adjacentes.
d) Diagnóstico
• História e exame clínico, apesar da sofisticação dos exames de imagem.
o Febre e dor óssea são achados muito sugestivos! A dor óssea é de difícil detecção, principalmente quando o osso é pouco acessível à palpação.
• ATENÇÃO! Muitas vezes, devido a ocorrência de eritema e edema em partes moles, o caso pode ser confundido com erisipela ou celulite!
• O aspirado ósseo pode ser realizado, guiado por ultrassonografia ou tomografia computadorizada (TC). O agente pode ser isolado pela aspiração em mais de 70% dos pacientes.
• Exames de sangue
o Leucocitós aumentados com desvio a esquerda o ↑VHS
o ↑alfa-glicoproteína ácida
• Na fase aguda, os exames de imagem não apresentam alterações, contudo, são úteis para o diferencial de outras condições, como tumores.
o As alterações radiológicas são tardias, se tornando aparentes apenas entre o 10º e 14º dia do início da doença. Um raio x negativo de um osso que espontânea e repentinamente se tornou sensível e doloroso é muito sugestivo de osteomielite aguda!
o A TC é capaz de detectar abscessos subperiosteais
o A RM pode ser útil na detecção precoce de alterações como abcessos intraósseos.
• Um recurso diangóstico que vem sido cada vez mais empregado é a cintilografia óssea, que pode demosntrar precocemente a inflamação no osso pelo aumento local da captação do radioisótopo. • O principal objetivo do diagnóstico é identifica o agente infeccioso e determinar o ATB mais
apropriado.
e) Tratamento
• O prognóstico de cada caso está intimamente relacionado ao tratamento precoce. Esse deve ser feito em caráter de urgência.
• Inicialmente devem ser feitas medidas gerais, como uso de antitérmicos, reposição de fluidos e eletrólitos.
• O membro afetado deve ser imobilizado e o paciente deve ser colocado em repouso.
• Sugere-se o uso empírico de Oxacilina B + Gentamicina, sendo a primeira aplicada por 14 dias via EV e a segunda por 04 semanas, VO.
• Juntamente com as medidas gerais e antibioticoterapia, o tratamento cirúrgico é frequentemente
associado, principalmente em casos que se demonstra a presença de pus, com drenagem e inspeção de toda a loja. Em casos de dúvida da presença ou não de pus, deve ser feita punção, primeiramente da parte moles e depois do osso, caso negativa.
o Na cirurgia, o desbridamento deve ir até o osso que é simplesmente perfurado para permitir o escape de pus de seu interior, instalando-se um sistema de irrigação contínua com SF por meio de cateteres.
f) Complciações e sequelas
• A complicação mais frequente é a cronificação, que ocorre em cerca de 30% dos casos agudos.
• Quando ocorre em metáfises itnra-articulares (colo do fêmur e úmero), o pus pode extravasar para dentro da articulação, provocando artrite séptica secundária
• Com o início da deambulação, pode ocorrer fratura patológica, que pode reagudizar a pseudoartose • Lesão da placa de crescimento, provocando encurtamento ou deformidade do membro afetado. 3) Osteomielite por contiguidade
a) Introdução
• De acordo com a classificação de Waldvogel, divide-se em – sem insuficiência vascular generalizada e com infecção vascular generalizada.
a) Sem insuficiência vascular
• Pode ser inoculado diretamente no momento do trauma e de procedimentos peri ou intraoperatórios ou ser disseminado a partir de uma infecção de tecidos moles adjacentes.
• Diferentemente da hematogênica, nessa situação podem ser encontrados diversos micro-organismos, como anaeróbios e gram-negativos. Entretanto, o Staphylococcus aureus ainda é o agente mais isolado • Em geral, a infecção ocorre em um período de 01 mês após a inoculação. O paciente se apresenta com o
seguinte quadro: o Febre baixa o Dor
o Eritema
o Perda de estabilidade, necrose óssea e alterações dos tecidos moles podem estar presentes. b) Com insuficiência vascular
• Enquadram-se nessa situação pacientes com diabetes mellitus.
• Os ossos do pé costumam ser os mais envolvidos, por apresentarem alterações motores e sensitivas que geram má distribuição de carga e úlceras de pressão, que servem como porta de entrada para a infecção. • Diversas bactérias podem estar envolvidas, como Staphylococcus coagulase-positivo e negativo,
Streptococcus spp., Enterococcus spp., bacilos gram-negativos e bactérias anaeróbicas.
• Em geral, o paciente se apresenta com o seguinte quadro clínico o Febre baixa
o Redução do pulso pedioso, dorsal e tibial posterior o Neuropatia periférica (alteração da percepção da dor)
• A despeito do tratamento adequado, as infecções são recorrentes, e muitas vezes, torna-se necessária a ressecção da área infectada. O objetivo principal do tratamento é preservar a integridade funcional do membro envolvido.
4) Osteomielite pós-traumática a) Introdução
• São provocadas, na maiora das vezes, pela implantação de bactérias diretamente no osso e classicamente representadas pela infecção na evolução das fraturas expostas ou pelas osteomielites pós-operatórias. • Quanto a fraturas expostas, observa-se muitas vezes a contaminação pela microbiota intra-hospitalar, resultante da manipulação peri ou pós-operatória. A Classificação de Gustillo hierarquiza as fraturas expostas, levando em consideração a gravidade do ferimento, sugerindo o potencial de infecção para cada um dos graus de fratura.
• Os principais fatores envolvidos a infecção pós-fraturas expostas são: o Fraturas tipo IIIB e IIIC
o Fraturas abaixo do joelho
o Fraturas de fêmur e ossos associadas
o Ferida mantida aberta após o debridamento inicial ou fixação interna imediata o Volume de sangue transfundido
• Os agentes etiológicos que predominam nessas infecções são o Staphylococcus aureus e uma diversidade de bacilos gram-negativos que variam conforme a microbiota hospitalar local. b) Quadro Clínico
• Os pacientes apresentam, na maioria das vezes o Febre
o Drenagem de secreção purulenta pela ferida cirúrgica ou pelo ferimento ainda exposto. o Sinais inflamatórios locais
• Nos casos de osteomielite pós cirúrgica, a apresentação clínica costuma ser mais aguda e toxêmica. Geralmente resulta de cirurgias ortopédicas eletivas ou de urgência nos casos em que houve a utilização do material de síntese.
c) Diangóstico
• É necessário o isolamento dos agentes eitológicos para realização de antibioticoterapia correta.
Inicialmente, todavia, essa deve ser de caráter empírico, até que o desbridamento cirúrgico seja realizado para obtenção de fragmento ósseo para cultura e antibiograma.
o ATENÇÃO! Além da antibioticoterapia correta, deve ser realizado o desbridamento cirúrgico de todo o tecido mole e ósseo desvitalizado. A antibioticoterapia não substitui nem exclui a
necessidade de desbridamentos cirúrgicos extensos, retirada dos materiais de sínteses em algumas situações e das reparações ósseas e do revestimento cutâneo para obtenção do controle da infecção.
d) Tratamento
• Deve ser realizada antibioticoterapia o Tipo I: Cefazolina por 14 dias
o Tipo II e III: Clindamicina + Gentamicina por 14 dias (Genta é dose única) • Após a alta, prescrever cefalexina
5) Osteomielite vertebral a) Introdução
• A coluna espinhal é o local mais comum de osteomielite em adultos.
• O quadro clínico é complicado, visto que muitas vezes é indefinido. Por causa disso, o diagnóstico costuma ser demorado.
• Em geral, apresenta origem hematogênica, principalmente arterial.
• A doença pode acometer duas vértebras próximas e um disco intervertebral.
• Os principais fatores de risco são: DM, instrumentação do trato urinário, uso de drogas ilícitas por via venosa, ferimentos por armas brancas/de fogo. Pode ocorrer por iatrogenia (punção lombar)
• O agente etiológico mais comum é o Staphylococcus aureus em imunocompetentes e Pseudomonas
• O prognóstico é bom, com mortalidade inferior a 5% e sequelas neurológicas em aproximadamente 6% dos pacientes.
b) Quadro clínico
• Em adultos, a dor lombar é o achado mais frequente.
o Dor abdominal pode estar presente por envolvimento de segmentos nervosos torácicos e lombar ou extensão do processo infeccioso (inflamação do retroperitônio).
o Em caso de envolvimento cervical ou torácico, pode estar presente disfagia, dor de garganta ou dor torácica.
o A dor pode ser insidiosa, progredindo durante semanas ou até meses. • Em crianças, manifesta-se por dificuldade para andar, sentar ou permanecer em pé. • Febre e leucocitose estão presentes em 50% dos casos.
c) Diagnóstico
• A elevação de VHS é a alteração laboratorial mais consistente pela sua extrema sensibilidade • Em pacientes com osteoporose que apresentam fraturas compressivas vertebrais e febre inexplicada,
deve-se aventar a possibilidade de osteomielite vertebral.
• A tomografia e a ressonância magnética são os melhores exames de imagem para detectar essa condição.
• As hemoculturas e culturas de biópsia óssea são essenciais para detecção de agente infeccioso e instituição de antibioticoterapia adequada.
• Além da antibioticoterapia adequada, devem ser realizadas cirurgias oara abcessos não drenáveis por procedimentos percutâneos e presença de grande destruição óssea.
6) Osteomielite crônica a) Introdução
• Representam um grande problema de saúde, decorrentes de imporante morbidade, apesar de baixa mortalidade.
• Ocorre em torno de 5 a 50% das fraturas expostas.
• O principal problema é a persistência prolongada de microrganismos patogênicos, gerando insuficiência da imunidade mediada por célula, fagocitose neutrofílica e capacidade de morte microbiana.
• Pra variar, o Staphylococcus aureus é o agente mais isolados, entretanto, em 1/3 dos casos, há mais de um agente envolvido.
• A desnutrição crônica, o diabetes descompensado e a presença de outras comorbidades são frequentemente associadas ao processo infeccioso crônico.
• A formação de sequestros, pela necrose óssea secundária a obstrução e trombose de vasos durante o processo agudo, favorece a cronicidade do quadro através da formação de tecido de granulação e tecido ósseo neoformado (invólucro)
c) Diangóstico
• A maioria das alterações ósseas, como osteólise, periostite e sequestros, podem ser identificados por radiografia simples, contudo, para estudos mais detalhados, devem ser realizadas TC ou RM.
d) Tratamento
• O uso de ATB empírico não apresnta bons resultados no tratamento, devendo ser usado apenas em pacientes que estão em condições especiais, como indivíduos gravemente doentes ou
imunocompremetidos.
o O tratamento empírico é feito com Clindamicina + Ciprofloxacino, durante 06 meses, EV durante internação e VO após alta.
o Quando a cultura verifica MRSA, deve ser utilizada Telcoplanina durante 06 meses.
• O único tratamento que cura é a cirurgia! Deve ocorrer extenso desbridamento do osso desvitalizado, bem como de todas as partes moles, seguido por reparo e restauração óssea. A amputação deve ser indicada em condições especiais, devendo trazer benefícios que superem as restrições
7) Tratamento empírico das osteomielites
• Além do debridamento cirúrgico agressivo e da ATB dirigida, adjuvantes podem ser utilziados, como curativos especiais, incorporação de ATB no cimento ortopédico e oxigenioterapia hiperbárica.
2) Compreender as pioartrites 1) Introdução
• O termo “artrite infecciosas” engloba as denominações artrite séptica, artrite piogênica, atrite purulenta e pioartrose, significando processo inflamatório articular desencadeado por MO que podem ou não ser detectados.
o A artrite séptica se refere a infecção da articulação por MO piogênicos.
• Em consequência a essa invasão, a resposta inflamatória é vista rapidamente na sinóvia, e os efeitos destrutivos do processo na cartilagem articular.
• A artrite séptica aguda não é um evento comum em adultos, sendo que a maioria dos casos ocorre na infância.
• As articulações mais acometidas varia conforme a idade: o Crianças menores: quadril
o Pré-escolares e adolescentes: joelho
• Há dois picos de incidência, em relação a infância:
o Idade escolar, acomete mais o gênero masculino → S.aureus
o Primeiro ano de vida, geralmente em crianças desnutridas e imunodeprimidas → S.aureus,
H.influenzae ou MO gram-negativos.
2) Fisiopatologia
• A fisiopatologia pode ser entendida da seguinte forma:
o Implante direto de MO na articulação (pós-punção, ferimentos perfurantes)
o Contiguidade (osteomielites em crianças, nas quais a porção metafisária de osso é intracapsular) o Hematogênica (maioria dos casos)
• É semelhante a osteomielite: o MO provém de um foco infeccioso à distância, geralmente da pele ou trato respiratório, disseminando-se pela corrente sanguínea, onde irá se instalar na membrana sinovial da articulação, onde encontra condições para proliferar. A reação inflamatória desencadeada, por conter muitas enzimas líticas, pode provocar destruição precoce da cavidade articular.
• O agente etiológico mais frequentemente encontrado é o Staphylococcus aureus, entretanto,varia conforme a idade:
o Menores de 06 meses: S. aureus, bacilos gram negativos o 06 meses a 02 anos: S.aureus, Haemophylus influenzae o > 02 anos até escolares: S.aureus
o Adolescentes e adultos < 30 anos: Neisseria gonhorraeae e S.aureus o Idosos: S.aureus, bacilos gram negativos, H. influenzae
3) Quadro clínico
• Na maioria dos casos, é uma artrite monoarticular, atingindo grandes articulações. O quadro se caracteriza por:
o Febre o Calor
o Vermelhidão
o Edema de tamanho variável o Prejuízo variável de mobilidade
• A dor articular é intensa, persistente com repouso e se exacerba à mínima tentativa de movimentar a articulação.
• Quando a junta é superficial, os sinais flogísticos são bem visíveis. Contudo, no caso do quadril, estes sinais não são vistos, mas, o bloqueio de movimentos e contratura em flexão são achados típicos (teste de Thomas)
• Em crianças pequenas, pode estar presente a subluxação lateral da cabeça do fêmur, devido a grande pressão intra-articular exercida pelo pus
• Em crianças menores de 02 anos, o quadro pode ser mais
sistêmico, se manifestando por febre, irritabilidade, anorexia, espasmo muscular e pseudoparalisia do membro envolvido.
• Em pacientes imunodeprimidos, o quadro é inespecífico.
• ATENÇÃO! A artrite gonocócica é a principal complicação musculoesquelética da gonorreia, ocorrendo em até 33% dos pacientes com doença disseminada. Esse pode ocorrer de 02 formas principais:
o Monoartrite: caracteriza-se como uma artrite séptica normal, com isolamento do Neisseria
gonorrhoeae no exame do líquido sinovial
o Doença sistêmica: caracteriza-se por poliartralgia, tenossinovite e derrame pustular. O agente pode ser isolado em hemoculutura, lesão de pele e mucosa.
4) Diagnóstico
• De forma geral, o diagnóstico é clínico, sendo confirmado pelo isolamento do agente por cultura do líquido sinovial e, mais raramente, em hemoculturas (sepse)
o O hemograma, em crianças mal nutridas ou em estado geral ruim pode ser atípico.
• A ultrassonografia pode ser utilizada em casos de dúvida e em articulações de avaliação difícil, como o quadril. Esse exame é útil para auxiliar a punção articular, além de detectar derrames articulares
precocemente.
• Devido a baixa eficaz do método de Gram e a demora para o resultado da cultura, indica-se a introdução de ATB empírica baseada nos agentes etiológicos mais prováveis para a faixa etária do paciente em questão.
• ATENÇÃO! O diagnóstico diferencial mais importante é com a osteomielite hematogênica aguda, por abranger a mesma faixa etária e atingir ossos em localizações próximas à articulação (podendo,
inclusive, levar a um derrame asséptico na articulação). Portanto, a punção da articulação é um exame essencial para o diferencial!
5) Tratamento
• A conduta deve sempre ser discutida com um pediatra, pois é frequente a concomitância com outros focos infecciosos, como pneumonia e grave estado geral.
• A antibioticoterapia deve ser realizada por via EV, em doses máximas por quilo de peso corpóreo e, de preferência, bactericidas. Com a evolução do paciente, o tratamento pode ser continuado por via oral. • Geralmente realiza-se o tratamento por 06 semanas: 02 a 03 por EV e o restante por via oral.
• O ATB deve sempre ser acompanhado de intervenção ortopédica: drenagem por via aberta ou artroscópica, feita cirurgicamente. Após feita, geralmente há uma melhora acentuada do quadro toxêmico
o Além de alívio sintomático, protege a articulação da degeneração, por livrá-la das substancias deletérias que a destroem.
• O prognóstico depende do tratamento, da resistência do hospedeiro e da articulação. Geralmente é melhor para articulações do MMSS. No MI, em especial, é reservado para o colo do fêmur, por estar frequentemente associado a osteomilelite.
3) Compreender a artrite reativa (Síndrome de Reiter) 1) Introdução
• A artrite reativa pertence ao grupo das espondiloartropatias soronegativas, doenças reumáticas crônicas que afetam articulações periféricas e da coluna, com características clínicas, radiológicas e genéticas semelhantes.
• O termo artrite reativa se refere a uma artrite que se desenvolve logo ou após uma infecção bacteriana, desencadeada por patógenos que não são isolados nas articulações acometidas.
o Compõe a “tríade clínica” da artrite + uretrite + conjuntivite pós-infecciosa
• É uma doença pouco frequente, correspondendo a minoria dos casos entre as espondiloartropatias. • Afeta principalmente adultos jovens entre 20 e 40 anos.
o Acomete mais homens do que mulheres, numa taxa de 3:1, quando a infecção inicial é genitourinária.
o Quando acomete o tratogastrointestinal, ela acomete igualmente ambos os sexos. • Sua incidência é de 0,6-27 casos por 100.000 pessoas
• O prognóstico é favorável na maioria do casos. 2) Fisiopatologia
• É desencadeada por mecanismos auto-imunes, ocorrendo uma forte associação com o HLA-B27, presente em cerca de 60% dos pacientes.
• O antígeno bacteriano leva a uma reação imonológica responsável pela presença de artrite, que se perpetua mesmo após a cura da infecção. Geralmente, o intervalo entre a infecção e a artrite é de alguns dias à 04 semanas.
• É causada principalmente, pelos seguintes patógenos: o Chlamydia trachomatis o Yersinia sp. o Salmonella sp. o Shigella sp o Campilobacter sp. 3) Quadro Clínico
• É a tríade clássica de artrite, uretrite e conjuntivite (só é completa em 1/3 dos casos)
o A conjuntivite está presente em 30% dos casos, e geralmente precede a artrite. Tende a ser leve e bilateral.
o A uretrite e cervicite ocorre em casos após IST´s, podendo ser assintomáticas, mas geralmente se manifestam-se aravés de secreção.
• Geralmente o paciente tem histórico de infecção prévia nas últimas 04 semanas.
• AA doença pode se manifestar de forma localizada e leve ou de forma grave e multissistêmica, acompanhada de febre, mal estar e perda de peso
• O acometimento articular também é variável, podendo ser desde uma monoartrite até poliartrite com acometimento axial.
• O quadro clínico mais comum é a presença de uma oligoartrite aguda e assimétrica de membros inferiores, principalmente em joelhos, calcanhares e articulações metatarsofalangeanas.
o Os dedos apresentam-se “em salsisha”, com edema e sintomas inflamatórios.
• Dores nas costas e nas nádegas podem ocorrer devido ao acometimento de articulações sacroilíacas. 4) Diagnóstico
• Deve ser feita a análise do líquido sinovial para o diagnóstico diferencial com artrite séptica. o Predomínio de leucócitos polimorfonucleares na fase aguda
o Linfócitos na fase crônica
• Radiografia inespecífica, útil apenas para diagnóstico diferencial
• Os marcadores inflamatórios, como VHS e PCR geralmente estão aumentados, podendo ser interpretados como marcadores laboratoriais de atividade da doença.
5) Tratamento
• O uso de AINES é o tratamento inicial para esses pacientes. Devem ser utilizados em dose máxima e de forma contínua, por no mínimo 02 semanas.
o Glicocorticoides intra-articulares e a sulfassalazina são usados quando os AINES não controlam os sintomas de forma satisfatória. Os glicocorticoides devem ser utilizados primeiramente
• Antibioticoterapia deve ser utilizada caso a doença ainda se encontre em atividade. Entretanto, os antibióticos não parecem modificar o curso da doença.
• As medicações modificadoras de curso da doença estão indicados apenas quando não há controle sintomático satisfatório com o uso de AINES e glicocorticoides intra-articulares. Foram
desenvolvidos primariamente para o tratamento da artrite reumatoide.
o A sulfalazina é o medicamento mais utilizado dessa classe. Contudo, não deve ser utilizado em pacientes com hipersensibilidade a salicilatos (possibilidade de hipersensibilidade cruzada).
• Com o tratamento, espera-se a melhora da dor e dos sinais de inflamação articular e a melhora da qualidade de vida. Durante o seguimento do paciente deve-se avaliar o edema articular, a rigidez matinal, o número de articulações acometidas, mobilidade da coluna e a limitação funcional.
o O intervalo da consulta deve ser em menos de 01 mês para o caso de AR aguda e de 3-6 meses em AR crônica. AINES - Ibuprofeno 600 mg, 01 comprimido VO 03 a 04x ao dia. Glicocorticoides injetáveis - Fosfato dissódico de dexametasona, injetável 4 mg/ml, 0,1 a 1 ampola intrarticular, a cada 04 semanas. MMCD - Sulfassalazina: 500mg, 01 a 02 comprimidos VO, duas vezes ao dia, por 3 a 6 meses ou até remissão da doença articular inflamatória.
4) Compreender e interpretar o exame do líquido sinovial 1) Introdução
• As principais indicações para análise de líquido sinovial são as artrites sépticas e as artrites por depósitos de cristais
• O líquido sinovial consiste em um fluido transparente e viscoso que envolve as cavidades articulares e a bainha dos tendões. É secretado pela membrana sinovial, sendo o equivalente a um ultrafiltrado do plasma por meio da membrana sinovial, cujas células secretam um mucopolissacarídeo contendo ácido hialurônico e pequena quantidade de proteínas, que se somam a esse. Como é uma filtração não seletiva, geralmente o líquido sinovial normal apresenta a mesma composição bioquímica do plasma
• A análise desse líquido pode ser obtida por aspiração da articulação com agulha acoplada à seringa ou cirurgia aberta e/ou artroscópica. A maior parte das amostras são obtidas pela articulação do joelho, uma das mais atingidas nas artrites e, também, a mais fácil de aspirar.
o Os principais riscos do procedimento são contaminação da pele, reações alérgicas aos anestésicos ou compostos presentes nos produtos.
• A análise do líquido sinovial permite caracterizar o processo articular como inflamatório e não inflamatório, baseado na inspeção e contagem de leucócitos do líquido. De acordo com a contagem, associada às características físicas, classifica-se o líquido sinovial em três grupos:
o Grupo 1 (não inflamatório): osteoartrose, trauma, LES, artrite reumatoide inicial o Grupo 2 (inflamatório): artrite reumatoide, espondiloartropatias, febre reumática o Grupo 3 (infeccioso): artrite séptica bacteriana, tuberculose articular
o Grupo 4 (hemorrágico): trauma, coagulopatia, hemoglobinopatia falciforme, prótese articular
2) O líquido sinovial normal
• Volume: varia conforme a cartilagem estudada, contudo, na articulação do joelho é inferior a 3,5 ml, aumentando nos distúrbios articulares.
• Proteínas e imunoglobulinas: aproximadamente 25% dos níveis séricos • Glicose e ácido úrico: níveis iguais aos do soro
• Coágulos: não se coagula
• O aspecto do líquido também apresenta valor diagnóstico. Pode ser límpido, opaco, turvo ou purulento. A transparência normal do líquido sinovial altera-se devido a presença de cristais, lipídios, fibrina e aumento de leucócitos. Contudo, a turvidez não deve ser utilizada como critério diagnóstico
absoluto de inflamação, pois o líquido pode se encontrar normal em processos iniciais da infecção. • A coloração do líquido também é importante: a coloração normal é amarelo-palha!
o Amarelo esverdeado, castanho – artrite séptica o Dourado – presença de colesterol
o Amarelo-cremoso ou branco – cristais de apatita/urato o Hemorrágico – presença de eritrócitos
o Cinza, preto – presença de partículas plásticas ou de metal proveniente das próteses articulares. • Lesões imunológicas, mecânicas, químicas ou bacterianas alteram a permeabilidade da membrana e
capilares sinoviais produzindo variados graus de resposta inflamatória 3) Exame microscópico
• Contagem global de hemácias e leucócitos • Contagem diferencial de leucócitos
• Pesquisa de cristais
o Monourato de sódio: presente na gota
o Pirofosfato de cálcio: doeça por depósito de pirofosfato de cálcio dihidratado o Hidroxiapatita: caliciação periarticular, calcinose, osteoartrose
o Colesterol: tumefações crônicas na artrite reumatóide o Imunoglobulinas: mieloma múltiplo, crioglobulinemia 4) Exame bioquímico
• Glicose (normal < 10 mg/dl)
• Proteína total (normal entre 1,0 e 3,0 g/dl)