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POTENCIALIDADES E LIMITES DA CADEIA DE VALOR DO AÇAÍ (EUTERPE SP.) NO MUNICÍPIO DE MANICORÉ, SUL DO AMAZONAS.

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Institut

o Int

ernacional

de Educação do Br

asil – IEB

francivane fernandes

POTENCIALIDADES E LIMITES DA CADEIA DE

VALOR DO AÇAÍ (EUTERPE SP.) NO MUNICÍPIO

DE MANICORÉ, SUL DO AMAZONAS.

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(3)

Institut

o Int

ernacional

de Educação do Br

asil – IEB

InstItuto InternAcIonAl de

edUcaÇÃo do BraSiL - ieB

Potencialidades e limites da cadeia de valor do açaí (Euterpe sp.) no município de Manicoré, sul do Amazonas

francivane fernandes

Março 2016

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1. Introdução

Na região do município de Manicoré a economia do Agroextrativismo tem sido impulsionada pela atuação das organizações sociais e comunitárias existentes nas Unidades de Conservação (UC) de Uso Sustentável, Terras Indígenas (TI) e Projetos de Assentamentos Agroextrativistas (PAE). As comunidades agroextrativistas estabeleceram relações de uso diversificado dos recursos florestais, sobretudo nas UCs. Isto está relacionado ao contexto das lutas sociais pela criação da RESEX do Lago do Capanã Grande e das Reservas de Desenvolvimento Sustentáveis do Rio Amapá e do Rio Madeira empreendidas por essas populações na década de 90 para a conservação das suas áreas de uso tradicional cuja manutenção é, até hoje, fundamental para sua reprodução social. Diante desse contexto, aprofundar, aperfeiçoar as formas de manejo dos recursos naturais e agregar valor aos produtos agroextrativistas são imprescindíveis para a Conservação desses territórios.

Manicoré destaca-se no setor primário no estado do Amazonas, como principal produtor de banana e de melancia, além disso, estima-se que o município tenha obtido uma produção de 180 toneladas de cacau (em amêndoa), 900 toneladas de castanha-do-Brasil e, 2460 toneladas de açaí, sendo o quinto município do ranking amazonense na produção do fruto (IBGE, 2016). Também importante é a produção de mandioca, que foi de 96 mil toneladas. Em menor proporção, o município também produz cana-de-açúcar, arroz, feijão, milho, fumo e abacaxi. Entretanto, percebe-se que esses números, principalmente os referentes aos produtos extrativistas, estão subestimados, já que não há um controle por nenhum órgão governamental da produção desses produtos e nem de sua comercialização.

O açaí vem se destacando na economia regional. Este produto sempre constituiu fonte de alimento, decorrente do hábito arraigado de sua população de tomar o vinho do açaí, e vem despontando como um dos principais produtos extrativistas para geração de renda de grande parte de populações tradicionais e para os comerciantes nos centros urbanos, influenciando os sistemas produtivos da região. Contudo, com a cheia de 2014 e a forte estiagem no mesmo ano, houve uma queda na produção de açaí no Estado do Amazonas de cerca de 7,1%. Em 2014 a produção

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foi de 66,6 mil toneladas, enquanto que em 2013 foi de 71,7 mil toneladas. Dados do IBGE de 2014 apontaram que o Estado do Amazonas foi o principal responsável pela queda na produção nacional, influenciada, fortemente, por essa grande cheia. Ainda de acordo com o IBGE, o volume de produção do açaí nativo, proveniente do extrativismo, caiu 2% em relação a 2013, saindo de 202,2 mil toneladas produzidas para 198,1 mil toneladas, o que demonstra a importância do Amazonas para a produção nacional do fruto, ficando apenas atrás do Pará como principal produtor. O Pará é responsável por 54% da produção nacional de açaí advindo do extrativismo, o Amazonas por 33,6%, seguido por Maranhão (7%), Acre (2%), Amapá (1,1%), Rondônia e Roraima (0,9%).

De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), o açaí se tornou o produto com maior crescimento de demanda no mercado nacional e internacional. Isso é muito importante para o desenvolvimento da economia Amazônica por ter se tornado fonte de renda e emprego, levando à conquista de mercado, que tende a se ampliar, na medida em que o processamento do fruto incorpore cada vez mais procedimentos que atendam exigências do mercado em termos de higiene, apresentação e qualidade. Isto começa a acontecer com a atuação de algumas agroindústrias regionais que utilizam métodos e equipamentos mais modernos e oferecem produtos que satisfazem as necessidades do mercado consumidor.

Diante desse cenário, observa-se em Manicoré a expansão do consumo do açaí, o aumento da competitividade pela coleta de frutos, motivado pela demanda e por melhoria no preço, o que vem influenciar os extrativistas, que concentraram as suas atividades na coleta e venda do açaí. Todo esse processo tem efeito socioeconômico para o município e, supostamente, um efeito ecológico positivo para a conservação dos açaizais dessa região, mas nada mensurável até o momento.

Assim como no caso da cadeia de valor da castanha e do cacau, também há dificuldade em acessar informações referentes às áreas produtivas, volume de produção, investimentos financeiros, políticas públicas acessadas, atores sociais e econômicos em torno da cadeia do açaí, fatores que determinam diferenciações socioeconômicas significativas como o nível de produtividade, agregação de valor e o uso da mão-de-obra familiar empregada na cadeia de valor do açaí em Manicoré.

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Em 2015 o Amazonas produziu cerca dois milhões de sacas (50kg/saca) de açaí (SEPROR, 2015). A maior parte da produção foi proveniente de açaizais nativos. De acordo com a SEPROR, os municípios que se destacaram na produção foram em ordem decrescente: Codajás (safra de 392 mil sacas de nativo e 180 mil sacas de açaí cultivado); Tapauá, Tefé e Humaitá, cuja produção foi de 24 mil sacas, só de açaí cultivado. Entretanto, cabe ressaltar que esse volume da produção de Humaitá pode refletir também a produção oriunda de Manicoré, o quinto do ranking, já que grande parte da produção daquele município é escoado via Humaitá.

Há 10 anos Manicoré chegou a ser o principal produtor de açaí do Amazonas com uma produção de 284 t, seguido por Manacapuru, Jutaí, Codajás e Fonte Boa (MENEZES, M. et al, 2005). Mas, por equívocos nos programas e políticas produtivas para o setor, Manicoré ficou muitos anos sem incentivos e investimentos para essa cadeia produtiva e perdeu o posto nos anos que seguiram.

Em Manicoré as comunidades locais extraem o açaí das matas de terra firme e da várzea, atividade que está vinculada à cultura das populações tradicionais. As regiões do lago do Capanã Grande, rio Marmelos e rio Manicoré são consideradas as maiores produtoras de açaí. Entretanto, pode-se afirmar que o fruto é encontrado nas florestas de várzea e terra firme por todo o município.

A maioria da produção vem do extrativismo do açaí nativo (E. precatoria), e apenas 2% dos plantios mistos de E. precatoria e E. Oleraceae, açaí solteiro e açaí de touceira ou açaí do Pará, respectivamente, e do plantio adensado dessas espécies com outras culturas através de Sistemas Agroflorestais (SAFs). O cultivo do E. Oleraceae possibilitou a produção de açaí durante o ano todo, já que há variação da época de produção das espécies, sendo que o açaí solteiro produz de dezembro a junho, com pico produtivo de janeiro a maio, e o de touceira de julho a novembro. Logo, o estímulo e investimento no cultivo do açaí do Pará, são estratégicos para a economia local.

2. A cAdeIA de vAlor do AçAí em

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As principais áreas de cultivo estão localizadas na RESEX do Lago do Capanã Grande, nas comunidades de Ponta do Campo e Civita, onde o plantio foi incentivado através de um projeto da Fundação Banco do Brasil em meado dos anos 2000, e nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável Amapá, na comunidade Democracia e na RDS Rio Madeira, sobretudo nas comunidades Delícia, Novos Prazeres, Sempre Viva e Verdum, que possuem suas plantações consorciadas, através de SAF com banana, andiroba, cacau, etc.

A mão de obra envolvida na cadeia do açaí é familiar, desde os tratos culturais, boas práticas, coleta, transporte, até o beneficiamento, essa última etapa onde há máquinas despolpadoras. Em algumas comunidades a venda da polpa do açaí se faz na própria comunidade e nas comunidades próximas, gerando renda localmente. A coleta é considerada uma etapa de grande esforço devido à altura das palmeiras. A coleta se torna uma tarefa difícil já que os cachos são colhidos manualmente. Não há estatísticas oficiais, mas anualmente inúmeros acidentes são registrados em decorrência da queda dos extrativistas de açaizeiros durante os trabalhos de coleta. Os “apanhadores” de açaí utilizam a “peconha” (acessório utilizado para subir no açaizeiro) e após a coleta dos frutos o transporte é feito em paneiros ou sacos de estopa/fibra até o local de limpeza e melhor acondicionamento para depois serem comercializados com os atravessadores que vão buscar a produção

Figura 01: Plantio adensado de E. precatoria na comunidade Democracia, RDS Amapá, Manicoré/Am. Foto: Francivane Fernandes.

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Em Manicoré, a cadeia do açaí também é caracterizada pela presença dos atravessadores. Foi verificado que os mesmos patrões (comerciantes locais capitalizados) que aviam a castanha e o cacau estão inseridos na cadeia do açaí, mas, com menos força nessa cadeia, já que há em Manicoré vários pontos de venda de polpa de açaí, e esses pequenos e médios comerciantes competem pelo fruto. Vale ressaltar que muitos desses comerciantes também são produtores de açaí, mas não se sabe o quanto há de área plantada no município. A maioria dos frutos processados nesses comércios ainda é oriunda do extrativismo.

Figura 02: Coleta do açaí utilizando a peconha para o apoio na subida na palmeira. Foto: Francivane Fernandes.

no local. Os extrativistas também trazem a produção até o barco recreio regular no rio Madeira ou levam até para Manicoré para venderem para os comerciantes de polpa de frutas locais.

3. os elos dA cAdeIA de vAlor:

Atores socIAIs e econômIcos

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Alguns extrativistas possuem contratos informais com pelo menos um comerciante de polpa em Manicoré que vende a polpa na cidade e também a polpa congelada para Manaus. O mesmo possui um acordo informal de envio de 600 litros de açaí toda semana para um comprador no mercado Adolpho Lisboa (Manaus), sendo enviados 200 litros pelo barco recreio a cada dois dias.

Segundo informações coletadas com os dois maiores comerciantes de polpas em Manicoré, a lata de 14 Kg do açaí está sendo comprada a R$20,00 (em março de 2017). Segundo esses informantes, a oferta está alta e o preço está baixo, mas no momento em que as empresas de Humaitá começam a comprar um volume maior de fruto, o preço de compra sobe para R$45,00. Quando isso ocorre o fruto do açaí fica escasso na cidade, pois a maioria da produção é vendida para Humaitá. Então, o preço do litro do açaí sobe de R$5,00 (preço em média do litro do açaí em Manicoré) para até R$ 10,00, um aumento sazonal de 100%. Quando questionados sobre a quantidade que compraram nas safras anteriores e a variação de preço, nenhum soube informar, pois não possuem essas informações organizadas e não há um controle da produção.

Um ator importante nessa cadeia são os donos das embarcações, que funcionam como atravessadores e compram a produção dos extrativistas e pequenos produtores ao longo do rio madeira. A produção comprada ao longo do rio é vendida em Humaitá para agroindústrias de médio porte, que processam o fruto e produzem polpa congelada que é vendida para outros estados como Rondônia, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná.

Outro mercado verificado foi o institucional, quando a compra da produção é mediada pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) por meio de mecanismos como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). O mês de fevereiro de 2017 correspondeu ao período dos pregões em Manicoré e o vencedor da licitação para venda do açaí a ser usado na merenda escolar do município foi uma agroindústria de Humaitá. Os comerciantes locais que participaram do pregão reclamaram de que o preço colocado (R$ 4,00/litro) foi abaixo do praticado na região, o que prejudicou a concorrência e participação dos microempresários locais. Entretanto, um dos comerciantes acredita que com a instalação da Agroindústria de polpa de frutas em fase de construção em Manicoré

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A Cooperativa dos Produtores Agropecuários e Extrativistas de Manicoré (COPEMA) está finalizando a construção de uma Unidade de beneficiamento de polpa de frutas com recursos da Fundação Banco do Brasil, através de um convênio com o BNDES, que financiou R$ 1,35 milhões para a cooperativa. Prevista para ser inaugurada ainda em 2017, a agroindústria terá uma linha automatizada de processamento de fruta com limpadores a ar, lavadores, um pasteurizador e uma embaladeira com capacidade de processar 01 Ton/hora, tendo como carro chefe o açaí.

A agroindústria funcionará prioritariamente com a produção oriunda das famílias associadas à cooperativa, uma produção que permitiria a utilização de mais de 70% da capacidade instalada da Unidade. Mas, o presidente da Cooperativa informou que pretende trabalhar com a produção dos extrativistas através de contratos coletivos, onde pagaria um melhor preço para o açaí manejado. A cooperativa prevê que cerca de 800 famílias de extrativistas e pequenos produtores sejam beneficiadas com a compra de produção para que a unidade beneficiadora funcione em sua capacidade plena, criando postos de trabalho, contribuindo para a geração de emprego e renda para o município e a valorização da mão de obra feminina. A produção será destinada para o mercado local, regional e nacional, e para os programas de Compras Governamentais PNAE e PREME do Governo Federal e Estadual, para os quais a COOPEMA já é um dos principais fornecedores do município.

Segundo o presidente da cooperativa, Manicoré produz hoje uma quantidade expressiva de açaí. Com a implantação de uma agroindústria para beneficiamento de polpa de frutas elevará ainda mais a produção desses frutos na região. Não se sabe hoje o potencial real do volume de produção do açaí no município e com a Usina

Figura 03: Agroindústria de polpa de frutas da COOPEMA sendo instalada em Manicoré/Am. Foto: Victor Paoleschi.

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pode-se colaborar gerando essas informações para subsidiar as políticas de apoio ao setor. Além disso a cooperativa pode atuar como reguladora do preço do açaí na região de Manicoré.

Um ator importante nesse processo do fortalecimento da cadeia do açaí em Manicoré, com a implantação da Usina de polpas de frutas, é o Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Amazonas (IDAM). Desde 2015 o IDAM vem incentivando e orientando os extrativistas sobre a importância do mapeamento e manejo dos açaizais nativos.

Uma dessas iniciativas será executada na RESEX do Lago do Capanã Grande, através de uma parceria com o ICMBio e a COPEMA e recursos do edital Edital 05/2016 da Chamada de propostas de Planos de Ação Sustentáveis – PAS, do Programa ARPA - Subcomponente 2.3. O projeto apoia a integração das comunidades da UC e tem por objetivo promover a articulação e o fortalecimento institucional de organizações comunitárias e comunidades residentes em Unidades de Conservação apoiadas pelo Arpa, visando à utilização sustentável de recursos naturais nas Unidades de Conservação. A proposta visa a capacitação em associativismo, o manejo do açaí nativo, tendo como base a agroecologia.

De acordo com a engenheira agrônoma do IDAM, Mariza Lisley, devido à sua extensão territorial, Manicoré produz uma quantidade expressiva de açaí, mas essa produção não é contabilizada para o município. Existe dificuldade para registrar a produção, principalmente em virtude da maioria da comercialização ser realizada pelos atravessadores de maneira informal. O desafio está na coleta e sistematização desses dados.

Em outra iniciativa recente, o IDAM fez uma série de capacitações envolvendo os técnicos de Manicoré, Lábrea, Pauini, Borba, Nova Olinda do Norte, Humaitá, Boca do Acre e Novo Aripuanã sobre o manejo do açaí. Na oportunidade foram abordados temas como botânica, manejo de açaizais nativos, técnicas de segurança na coleta e importância no manejo pós-colheita dos cachos, que é um fator importante para qualidade dos frutos, além de contribuir para minimizar a contaminação do produto. O IDAM também vem incentivando e apoiando projetos para financiamentos

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voltados para o plantio de açaí cultivado. Entretanto, não foi possível estimar quanto de área há em Manicoré ocupada com o cultivo de açaí, sabe-se que alguns produtores estão cultivando o açaí BRS-Pará em área mecanizada, com produção de frutos de três toneladas por hectare/ano a partir do terceiro ano, nas primeiras safras. Contudo, o IDAM espera colaborar para melhorar essas informações através do mapeamento das áreas de açaí nativo e o controle e monitoramento das áreas cultivadas, assim como também promover curso de certificação fitossanitária para melhorar a qualidade dos frutos, distribuir equipamentos que possam aumentar a segurança no momento da coleta, com a distribuição “de garras de preguiça”, um equipamento para a retirada dos cachos.

Outro ator importante no apoio às Unidades de Conservação do Estado do Amazonas, a Fundação Amazonas Sustentável (FAS) planeja investir em infraestrutura, apoio técnico e logístico para a produção do açaí na região. A FAS investirá em 2017 recursos advindos do BNDES em insumos agrícolas, máquinas roçadeiras, micro tratores para o preparo das áreas de plantio e apoio no transporte da produção, e implantará nas RDSs do Amapá e do Juma, uma unidade de beneficiamento de açaí, com máquinas despolpadoras, e freezer para armazenamento de polpa.

Através do Programa Bolsa Floresta, componente Associação, a FAS pretende apoiar as organizações comunitárias dessas UCs nas suas atividades de organização para a produção, subsidiar reuniões para discutirem os desafios e buscar soluções que fortaleçam a produção e a comercialização do açaí dessas áreas.

O Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) também possui um histórico de apoio aos extrativistas e pequenos produtores da região na perspectiva do fortalecimento institucional das organizações locais, manejo dos recursos naturais e atividades produtivas sustentáveis, gestão ambiental e territorial.

Durante a execução de projetos, como o “Fronteiras Florestais”, cujo objetivo foi assessorar a experimentação e implementação de alternativas de produção, o IEB atuou em algumas comunidades do rio Madeira com o intuito de disponibilizar informações técnicas sobre o cultivo do açaí, como forma de auxiliar os produtores da região no desenvolvimento dessa atividade.

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Figura 04: Experimentação do plantio de açaí em linhas em áreas abertas, e plantio de mudas em áreas de capoeira. Foto: Acervo do IEB.

Figura 05: Plantio de açaí consorciado com paliteira, cacau e castanha do

Em pareceria com Hands e IDEAS, o IEB organizou e promoveu dois seminários sobre Sistemas Agroflorestais em 2008 e 2010 em Manicoré, onde os produtores puderam apresentar suas experiências e discutir sobre os principais gargalos da produção do açaí em SAFs.

No âmbito do projeto Consbio o IEB executou um programa de formação em cadeias produtivas sustentáveis de recursos naturais com o objetivo de promover as boas práticas em manejo e comercialização e apoio ao desenvolvimento de sistemas agroflorestais.

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Outros atores importantes na cadeia produtiva do açaí na região são as Organizações Não Governamentais Hands do Brasil, uma ONG nipo-brasileira e o Instituto de Desenvolvimento Amazonense Sustentável (IDEAS) que atuaram em parceria técnico-financeira apoiada pela Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA).

Essa parceria atuou fortemente no apoio à produção do açaí, do cacau e outras espécies em SAFs. Viabilizou capacitações, intercâmbios, seminários, além de buscar novos projetos e parcerias para fomentar a produção agroextrativista (Figura 06). Também apoiou a construção de viveiros e a capacitação para a produção de mudas, além das capacitações para os produtores e técnicos locais através de uma série de intercâmbios a outras regiões, como Tomé Açu e Medicilândia no Pará.

A Hands não atua mais na região, e o IDEAS não consegue dar continuidade as atividades de apoio aos produtores. Sem recursos financeiros e técnicos, a ONG até buscou parceria com a prefeitura de Manicoré, mas a iniciativa não teve êxito até o momento pela própria fragilidade da Secretaria Municipal de Abastecimento e Produção (SEMAPA), que não possui capacidade técnica para atuar em parceria com o IDEAS junto aos produtores.

Figura 06: Implantação de viveiros de mudas de açaí na Terra Indígena Lago do Jauari.

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4. Acesso A fInAncIAmento

Em Manicoré 32 produtores receberam, através do PRONAF Mais Alimentos, financiamentos que variaram de R$ 25.000 a R$ 32.000 por produtor, destinados à aquisição de infraestrutura: motor, roçadeira, kit de ferramentas, mudas, adubo organo-mineral, entre outros insumos. O projeto previa 10 anos de financiamento, 03 anos de carência, com o produtor pagando a partir do 4º ano.

Durante a assinatura dos contratos, técnicos do BASA chagaram a visitar poucas propriedades e retornaram novamente para as “visitas creditícias” que visam avaliar se está sendo implementado o fomento dentro do organograma apresentado no projeto. Contudo, de acordo com informações das entrevistas, os produtores tiveram pouco acompanhamento técnico na implantação do projeto.

Já através do IDAM pelo menos 16 famílias de agricultores familiares de Manicoré que produzem açaí, cacau, banana, melancia, jerimum e farinha de mandioca foram beneficiadas também pelo PRONAF Mais Alimento, via Banco do Brasil, com financiamentos de até R$1.800,00 por ha para investimento e custeio dos tratos culturais, insumos e implementos para limpeza do plantio.

De acordo com alguns produtores, falta informação sobre linhas de financiamentos para a maioria dos produtores e poucos acessam as mesmas por falta de orientação. Apontam como precária a assistência técnica oferecida pelo IDAM pelo número reduzido de técnicos e até pelo perfil de alguns profissionais. Também questionam qual seria o papel da SEMAPA na produção do açaí, já que poucas iniciativas são feitas pelo governo municipal no sentido de potencializar a produção. Muitos produtores plantaram açaí sem nenhum apoio técnico e tiveram prejuízos nos primeiros plantios.

Um dos produtores relatou que buscou financiamento para o plantio do açaí através do Plano SAFRA, mas o calendário das atividades previstas não funcionou, ele aguardou por 04 meses a chegada de calcário para a correção do solo, que não veio. Acabou perdendo o período mais favorável para o plantio, o início do período das chuvas, por volta do mês de novembro.

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Outra questão levantada por outro produtor é de que há, de uma forma perceptível, o favorecimento de alguns produtores que estão ligados ao governo local ou que apoiam a gestão atual, principalmente com relação ao uso das máquinas agrícolas do município que atendem prioritariamente esses produtores, o que muitas vezes inviabilizam a mecanização de algumas áreas no período adequando do calendário agrícola, prejudicando a produção do município como um todo.

Um dos maiores problemas para a comercialização industrialização do açaí é sua característica altamente perecível. Entre a colheita e a confecção da polpa o açaí não resiste mais que 72 horas. O mesmo acontece com o "vinho", ainda que mantido sob refrigeração, sendo um fator limitante para o beneficiamento e a comercialização da polpa que agregaria valor na venda, e consequentemente limita a ampliação da produção.

Na região de Manicoré, a infraestrutura de logística de transporte do açaí nas localidades ainda é feito de forma precária. Como não podem armazenar o fruto, os extrativistas acabam fazendo um esforço muito grande entre a coleta e a venda para os atravessadores. O açaí acondicionado em sacas de fibra pode aguentar até 5 dias, desde que armazenado protegido do sol e da chuva, fatores que aceleram a maturação e o início da fermentação dos frutos. Essa perecividade deve ser avaliada na organização da produção.

O desafio para os produtores de Manicoré está no fato da maioria das áreas de produção serem afastadas da sede do município e não terem a mínima estrutura para dar ao produto um padrão de qualidade para a venda. Muitas comunidades não possuem eletricidade para beneficiar os frutos na forma de polpa e congela-la. Em algumas comunidades há algumas pessoas que “batem” o açaí localmente, por meio de despolpadoras que funcionam com a energia gerada por um motor movido a combustível. Em geral elas vendem o “vinho” na própria comunidade, de

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forma inadequada às exigências mínimas de higiene. Então, para não perderem a produção acabam vendendo por um preço baixo para os atravessadores.

Para os produtores entrevistados, é necessário investir em infraestrutura de transporte, acondicionamento e armazenamento do açaí até a venda do fruto. Precisam acompanhar as evoluções tecnológicas existentes pra se tornarem competitivos. De acordo com o presidente da COOPEMA, que afirmou que a Usina de beneficiamento de polpa de fruta tem a capacidade de absorver toda a produção do município, e pensando nessa limitação de logística de transporte, a cooperativa planeja disponibilizar um barco com câmara fria com capacidade de 15 a 20 T que funcione através de painéis fotovoltaicos para o acondicionamento do açaí que comprarão na região semanalmente.

Hoje a produção do açaí de Manicoré recebe apenas o beneficiamento primário, ou seja, é coletado e acondicionado em sacos de fibras ou paneiros. Alguns extrativistas chamaram a atenção para que muitos coletores não levam em conta o ponto ótimo de maturação dos frutos e os colhem antes do tempo, o que resulta em um produto final de baixa qualidade.

Já os comerciantes de polpa de açaí na cidade informaram que a vigilância sanitária não visita os estabelecimentos e que muitos comerciantes não seguem qualquer padrão de qualidade e higiene, o que prejudica quem quer trabalhar corretamente. Enquanto o açaí de boa qualidade é vendido a R$ 5,00 o litro, o produto de má qualidade pode ser encontrado até a R$ 2,00 o litro. Em alguns casos ocorre a adição de farinha de trigo ao açaí afetando a qualidade do produto.

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6. consIderAções fInAIs

A cadeia do açaí apresenta grandes oportunidades para ser fortalecida na região de Manicoré e contribuir de fato para a conservação dos territórios das populações tradicionais, com a geração de emprego e renda na sede do município e na zona rural. O município pode conquistar um lugar de destaque na produção de açaí do Estado do Amazonas. Entretanto, para que esse potencial se torne real é fundamental que se organize a cadeia de valor do açaí desde a produção até a comercialização. Observando o histórico de ações e apoios para a cadeia, o que se observa é que essas ações se mostraram desconectadas, e não fazem parte de um planejamento de safra. As orientações técnicas e o apoio à produção, o plantio em sistemas agroflorestais, produção de mudas, e outros investimentos em infraestrutura e logística, oriundas de iniciativas e de parcerias entre órgãos de Governo, instituições financeiras e organizações do terceiro setor, criaram as bases para a atividade produtiva do açaí na região. Porém, não foram suficientes, até o momento, para fortalecer a cadeia de valor, influenciar nas políticas públicas locais, e agregar valor ao preço do açaí de Manicoré. Não se sabe o potencial de produção de açaí nativo e de açaí cultivado e nem o volume atual da produção, pois nenhum dos atores de assistência técnica e extensão rural possuem qualquer controle e monitoramento da atividade produtiva. Em 2014, um estudo de economia florestal da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) avaliou a produção e venda do açaí, da andiroba e do óleo de copaíba nos municípios de Manicoré, Lábrea, Carauari, Codajás e Anori, com o objetivo de subsidiar ações de acompanhamento técnico e extensão rural (ATER) para a agricultura familiar.

A pesquisa descobriu que, independente da natureza dos produtos, os agricultores reagem pouco aos estímulos para a organização do processo de produção. De acordo com as análises das informações de campo, pressupôs-se que as pessoas envolvidas no agroextrativismo sofram intervenções inadequadas, ou seja, não são estimuladas, informadas, orientadas e assessoradas corretamente, e que para mudar essa situação é preciso capacitar os extrativistas/produtores para organização da produção, fortalecer as iniciativas e investimentos existentes na cadeia, melhorar

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infraestrutura de transporte e armazenamento e a forma de comercialização.

Esse estudo corroborou com as informações coletadas para essa nota, já que para alguns produtores um dos gargalos da cadeia do açaí é a fragilidade das organizações sociais representativas que não conseguem organizar a produção e fortalecer os grupos de extrativistas/produtores. O que se observa é que a produção é individualizada e os mesmos competem entre si, já que poderiam estar vendendo conjuntamente, dando escala na produção e regulando o preço.

É notória a cadeia produtiva do açaí como geradora de emprego e renda para Manicoré. Mesmo não havendo dados e informações oficiais sistematizadas, percebe-se o enorme potencial produtivo da região. Contabilizando apenas a produção dos extrativistas entrevistados, dos produtores e dos comerciantes que vendem a polpa do açaí em Manicoré, levantou-se uma produção de 887,68 toneladas de açaí. Se uma pequena amostra de extrativistas/produtores contribuem com esse volume de produção, o potencial de produtividade do município vai além dos dados oficiais. A própria implantação da Agroindústria de polpa de frutas da COOPEMA, foi feita após um estudo de viabilidade baseado no potencial de produção, concluiu pela viabilidade do empreendimento.

Além do mais, grande parte da produção de açaí em Manicoré está organizada a partir da implantação dos sistemas agroflorestais, em consórcio com outras culturas frutíferas como a banana, o cacau, o taperebá, o que oportuniza que os custos de produção sejam diluídos com a produção diversificada e o incremento na renda dos produtores, já que possuem diferentes produtos para a comercialização durante todo o ano com a agroindústria.

Observa-se que o mercado de polpa de frutas tende a se ampliar na região, na medida em que o processamento do açaí incorpore procedimentos que atendam exigências dos centros urbanos, em termos de higiene, apresentação e qualidade do produto. É o que se espera com a instalação da agroindústria da COOPEMA que utilizará métodos e equipamentos mais modernos, e poderá oferecer produtos que melhor satisfaçam as necessidades de diferentes consumidores.

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A cooperativa poderá viabilizar uma maior diversidade de produtos quanto à quantidade a serem comercializadas, a exemplo das “polpinhas” em embalagens de 100 g, que poderão ser vendidas para os supermercados, restaurantes, lanchonetes, padarias, e outros estabelecimentos afins de Manicoré e até de outros municípios da calha do rio madeira e até mesmo de Manaus.

Espera-se que a partir do momento que exista a garantia de venda da produção para a COOPEMA, diminuindo o poder de compra do atravessador, com preços justos e facilidade de escoamento, os produtores sejam estimulados a ampliar suas áreas. Para isso é fundamental a garantia do direito de uso do território, principalmente para os extrativistas e produtores das áreas protegidas e projetos de assentamentos. Será necessário ordenar a exploração do açaí, e assim evitar disputas e conflitos fundiários.

Ressalta-se que as Associações das UCs do município já receberam os Contratos de Concessão de Direito Real de Uso (CCDRU). Entretanto, no caso das UCs Estaduais existem muitos supostos proprietários de títulos privados de terra nessas UCs, o que é permitido na categoria das Reservas de Desenvolvimento Sustentável, a exemplo da RDS do Amapá e da RDS Rio Madeira, sendo importante nesses casos mapear as áreas, relacionando-as aos acordos de gestão das UCs e aos direitos das famílias, das comunidades e dos proprietários titulados. Além do que, quando for o caso, dimensionar também os direitos de uso dos açaizais nativos por usuários não moradores das UCs.

Vale registrar que a maioria da produção de açaí vem das várzeas de Manicoré, e que houve o esforço para celebração dos CCDRU entre os Órgãos Gestores e as Associações dos moradores das UCs para a regularização dessas áreas. As áreas de várzea do município vinham sendo regularizadas através do Termo de Autorização de Uso Sustentável (TAUS), pela ação coordenada da Secretaria do Patrimônio da União (SPU) em parceria com o IEB, que também traz segurança fundiária para os produtores da várzea. Entretanto, os trabalhos planejados para esse semestre foram suspensos depois que a SPU sofreu um corte no repasse do recurso Federal destinado à Regularização Fundiária e o IEB não possui recursos financeiros para continuar investindo e fomentando as ações na região. Logo, é necessário que os governos, municipal, estadual e federal possam estabelecer estratégias para dar continuidade aos trabalhos de regularização fundiária.

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Para que se possam assegurar os resultados positivos esperados pela estrutura da cadeia de valor do açaí que se desenha para Manicoré diante da Instalação da Usina de beneficiamento de polpa de frutas e do potencial de produção de açaí do município é imprescindível que haja um esforço em planejar a safra do açaí. Isso implica em trazer para a discussão todos os atores sociais e econômicos envolvidos na cadeia: os extrativistas, os produtores, os atravessadores, os comerciantes de polpa de açaí, as organizações sociais representativas, as ONGs, os órgãos de ATER, as agências de fomento, as instituições de crédito e o poder público local. Isso é fundamental para que que todos possam contribuir com suas competências específicas, desenvolver estratégias, pensar políticas públicas para o setor agroextrativista adequadas para a sustentabilidade da cadeia.

A cadeia de valor do açaí em Manicoré precisa ser estruturada e dinamizada a partir do uso sustentável desse recurso pelas populações tradicionais e povos indígenas em seus territórios, através do manejo, do uso de novas tecnologias produtivas, econômicas e sociais, valorizando a aptidão natural desses grupos para atividade agroextrativista, fortalecendo todos os processos sociais e produtivos que isso envolve, promovendo a melhoria da qualidade de vida das famílias na zona rural, e gerando emprego e renda na sede do município.

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7. referêncIAs BIBlIográfIcAs

HERRAIZ A. D & RIBEIRO, P.N.T. Opções sustentáveis Manejo e cultivo de açaí na calha do rio Madeira, Sul do Amazonas. Instituto Internacional de Educação, 2013.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e estatística. PAS – Produção Agrícola Municipal, 2015. [online]. Disponível na internet via http://www.ibge.gov.br/home/ estatistica/economia/pam/2015/default.shtm. Acesso em novembro de 2016.

MENEZES, M. et al. Cadeia produtiva do açaí no Estado do Amazonas. Série Técnica Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Manaus: Governo do Estado do Amazonas. 2005.

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1 Realização Apoio

Institut

o Int

ernacional

de Educação do Br

asil – IEB

Referências

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