FORMAÇÃO CONTINUADA E INOVAÇÕES EDUCACIONAIS: PERCEPÇÕES DE DOCENTES DA EDUCAÇÃO BÁSICA Conceição de Maria Pinheiro Barros (UFC) Giovana Maria Belém Falcão (UECE/PPGE) RESUMO As transformações implementadas na sociedade moderna impulsionadas pelos avanços tecnológicos e pela rápida disseminação das informações têm favorecido modificações também na área da educação. A formação de professores destacase como possibilidade de preparar os docentes para as inovações educacionais e neste processo ressaltase que a cultura onde estamos inseridos interfere diretamente na mudança. Este ensaio tem como objetivo refletir sobre a relação entre inovações educacionais e a formação docente. Para tanto, foi desenvolvida uma pesquisa qualitativa a partir de um levantamento bibliográfico, tendo como principal fundamentação os autores Fullan (2002), Nóvoa (1992), Mizukami e Monteiro (2002) e uma pesquisa de campo com professores de uma escola do Ensino Básico do Município de Maracanaú, no Estado do Ceará. Para a coleta de dados foi utilizado como instrumento um questionário aplicado a cinco professores. A interpretação das informações foi feita a partir da análise de conteúdo. Os resultados revelam que os professores compreendem as inovações pedagógicas de modo restrito, distante de suas realidades restringindose, principalmente ao uso de ferramentas tecnológicas e mudanças de estratégias pedagógicas na prática de ensino. Além disso, não se percebem como sujeitos de mudanças, assumem uma postura passiva diante das inovações propostas. Com relação às contribuições da formação continuada recebida pelos participantes, percebemos a ausência de construções de conhecimentos significativos que favoreçam o desenvolvimento de inovações pedagógicas na prática docente. Essa formação se caracteriza pela descontinuidade, com pouco espaço para reflexão. Neste sentido, reiteramos que não é qualquer aprendizagem que garante um desenvolvimento efetivo para as inovações educacionais, mas é preciso favorecer aprendizagens acerca desse tema que considerem os contextos onde os sujeitos estão inseridos e promovam a colaboração, permitindo que todos possam participar ativamente neste processo que é de construção.
Palavraschave: Inovação educacional. Formação docente. Aprendizagem.
1 INOVAÇÕES PEDAGÓGICAS E FORMAÇÃO CONTINUADA:
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Abordar a formação dos educadores na relação com as inovações, presentes num âmbito de mudanças, requer uma discussão acerca da aprendizagem. Ao professor é imposto o desafio de integrar e lidar com todas as mudanças que incidem em seu papel profissional. De acordo com Farias e Rocha (2012, p. 48):
[...] o processo de modernização social tem imprimido novas configurações às relações de ensino e de aprendizagem que medeiam às práticas educativas, requerendo professores com capacidades e conhecimentos continuamente renováveis em função do avanço tecnológico do mercado e cultural do mundo globalizado, sob o risco de ser considerado ineficaz e conservador.
Nesse contexto, emergem desafios para a inovação pedagógica. Conforme Fullan (2002) a definição de inovação resulta da confluência de uma pluralidade de perspectivas e opiniões, sendo caracterizada como um fenômeno aberto e multidimensional. Quando nos reportamos à formação continuada docente voltada a essa questão, não podemos pensála de maneira única, já que esta enseja complexidade e diversidade. Neste trabalho, o conceito de Formação continuada apoiase na ideia de desenvolvimento profissional proposto por Mizukami e Monteiro (2002), que a entende como um conjunto de processos essencialmente formativos, possibilitando por meio da reflexão, o desenvolvimento de saberes, a compreensão de aspectos estruturais do trabalho, e assim a construção de novos conhecimentos. A partir dessas considerações, emergem os seguintes questionamentos: O que os professores pensam sobre as inovações educacionais? Quais são as contribuições da formação recebida para integrar e lidar com as inovações pedagógicas? Nessa perspectiva, propomos como objetivo deste ensaio refletir sobre a relação entre inovações educacionais e a formação docente. Consideramos a relevância desta pesquisa por possibilitar a construção de conhecimentos e subsídios que contribuam para as discussões sobre o tema que trazemos para debate. Para o alcance dos objetivos propostos, foi realizada uma investigação numa abordagem qualitativa por entendermos que permite uma interação com o objeto de modo mais aprofundado, flexível, amplo e detalhado. Concordamos com Minayo (1994, p.102) quando afirma:
Numa busca qualitativa, preocupamonos menos com a generalização e mais com o aprofundamento e abrangência da compreensão seja de um grupo social, de uma organização, de uma instituição, de uma política ou de uma representação.
A pesquisa empírica foi realizada com 5 (cinco) professores de uma escola municipal de Ensino Fundamental. Com o intuito de manter em sigilo a identidade dos participantes, os professores foram identificados pela denominação “Docente” seguida de um número natural. Na instituição investigada funciona também uma sala de Atendimento Educacional Especializado (AEE). A escola localizase no município de Maracanaú no Estado do Ceará e até o ano de 2005 atendia crianças e adolescentes com deficiência. Desde então estes foram incluídos em escolas regulares. Como instrumento
para a coleta dos dados foi utilizado o questionário semiestruturado. A interpretação dos dados foi feita por meio da análise do conteúdo visando “[...] conhecer aquilo que está por trás das palavras sobre as quais se debruça” (BARDIN, 2004, p. 45).
2 RELAÇÃO ENTRE INOVAÇÃO E FORMAÇÃO CONTINUADA
Inicialmente buscamos conhecer o perfil dos professores participantes e constatamos que 3 (três) deles possuem pósgraduação e 2 (dois) são apenas graduados. Quanto ao tempo na docência, todos possuem mais de 3 (três) anos de experiência como professores. Desses, 4 (quatro) são professores polivalentes e 1 (um) é responsável pelo (AEE). Em seguida, buscamos conhecer o que os participantes entendem por inovação. O Docente 1 afirmou que inovação é “tudo aquilo que vem para renovar as metodologias pedagógicas, de interesse dos educandos e educadores.” O Docente 2 considerou que “são as novas tecnologias que estão sendo empregadas nas escolas, por exemplo, as lousas digitais”. Ampliando a ideia, o Docente 3 complementou que “são transformações significativas na prática pedagógica, onde são ofertadas novas possibilidades de aprender”, enquanto o Docente 4 considera como “formas de repensar e reconstruir toda uma estrutura da instituição escolar”. Para o Docente 5 “é a possibilidade de construir um caminho onde educador pode favorecer o crescimento do educando se utilizando de mecanismos atuais e atrativos”. Embora tragam aspectos significativos sobre o conceito de inovação, os professores parecem compreender as inovações como algo que vem de fora, sem uma relação maior com eles mesmos. Consoante Nóvoa (1992), a inovação não se decreta, não pode ser pensada como produto, mas como processo, relacionandose ao jeito de ser professor, a atitudes. A visão restrita por parte dos docentes em relação a inovação educacional, confirmase ao serem indagados sobre quais inovações identificam em suas escolas. Reconhecem apenas como inovações o laboratório de informática, a sala de AEE e os recursos multimídias.
Com relação à formação para as inovações, o Docente 1 informou não ter recebido nenhuma formação. Os demais afirmam que fizeram cursos de informática e curso de AEE. Relatam ainda que acharam os cursos rápidos e pouco consistentes. Mais uma vez, associam a inovação à tecnologia e a mudanças implementadas por instâncias superiores. Embora reconhecendo a importância dos cursos realizados, observase que a ideia de formação que trazem está associada ao tecnicismo. Na reforma educacional, esta imprime ênfase na titulação superior como meta a ser perseguida por todos e traz
muito intensa a noção de competência, entendida como o domínio de determinadas habilidades, técnicas e conhecimentos específicos por parte dos docentes. Outro ponto a ser refletido diz respeito à formação docente, que não pode ser considerada a solução para todos os problemas da ação profissional (ZEICHNER,1993).
No que diz respeito à relação entre as inovações e a prática pedagógica, os docentes ressaltam que os conhecimentos adquiridos no curso de AEE refletiram na forma de se relacionarem com os alunos e apontam as vantagens do laboratório de informática para o desempenho dos alunos. Os investigados demonstram uma compreensão superficial sobre o significado das inovações no processo educativo, limitandose a relatar sobre estes dois processos que julgam serem inovadores. Parecem não se dar conta de todas as transformações vivenciadas no cotidiano escolar nos últimos anos. Os depoimentos revelam que as inovações educacionais são pensadas distantes da realidade dos professores, havendo pouco envolvimento para que as mudanças se efetivem. Além disso, os docentes investigados não se percebem como sujeitos de mudanças, posicionamse de forma passiva. Como afirma Rosa (1998), nem sempre a inovação resulta em mudança, pois esta depende de envolvimento dos sujeitos. Mudar é quase sempre complexo, pois envolve diretamente a dimensão do humano, mobilizando capacidades intelectuais e emocionais. 3 CONSIDERAÇÕES/RECOMENDAÇÕES A pesquisa possibilitou o delineamento de algumas reflexões acerca da relação entre inovações educacionais e a formação docente, a partir da percepção de professores da educação básica. O estudo denotou que os participantes concebem inovação de modo bastante limitado e distante de suas realidades. Neste sentido, pouco se envolvem para que as mudanças se efetivem. Chamamos a atenção para a necessidade de se promover uma cultura de colaboração nas escolas onde os professores se reconheçam como agentes de mudança ao invés de esperar que estas aportem em suas salas de aulas indiretamente. Neste processo, sem dúvida, a formação docente é elemento essencial.
Com relação às contribuições da formação continuada recebida pelos participantes, percebemos que esta se caracteriza pela descontinuidade com poucos espaços para refletir sobre as mudanças a serem efetivadas. Ressaltamos a necessidade de políticas educacionais de formação continuada, voltadas para as inovações pedagógicas, alinhadas ao desenvolvimento profissional docente. No entanto, alertamos
que não é qualquer aprendizagem que garante a mudança, sendo necessário o desenvolvimento de aprendizagens que considerem os contextos onde os sujeitos estão inseridos, favoreçam a colaboração, onde todos possam participar ativamente neste processo que, é de construção. REFERÊNCIAS BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2004. FARIAS, Isabel Maria Sabino de; ROCHA, Cláudio César Torquato. PIBID: uma política de formação docente inivadora? Revista Cocar. Belém, vol. 6, n.11, p. 4149, janjul. 2012. Disponível em: http://paginas.uepa.br/seer/index.php/cocar/article/viewFile/212/183. Acesso em: 30 mai. 2014. FULLAN, Michael. Los nuevos significados del cambio en la educación. Barcelona: Octaedro, 2002. MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo – Rio de Janeiro: HuciteAbrasco, 1994. MIZUKAMI, Maria das Graças Nicoletti; MONTEIRO, Filomena Maria de Arruda. Professores das séries iniciais do ensino fundamental: percursos e processos de formação. In: REALI, Aline Maria de Medeiros Rodrigues; MIZUKAMI, Maria das Graças Nicoletti (Orgs). Formação de professores, práticas pedagógicas e escola. São Carlos: Educascar, 2002. p. 175201. NÓVOA, Antônio. Formação de professores. In:NÓVOA, Antônio. Vidas de professores. Portugal: Porto, 1992.p. 1330 ROSA, Sanny S. da.Construtivismo e Mudança. 6. ed. São Paulo: Cortez, 1998. ZEICHNER, Kenneth M. A formação reflexiva de professores: ideias e práticas. Lisboa: Educa, 1993.