APLICAÇÃO DA METODOLOGIA DE PRODUÇÃO MAIS LIMPA
NUMA INDÚSTRIA GRÁFICA
Maria Bernadete Pinto dos Santos (UFF) - berna@vm.uff.br Fátima de Paiva Canesin (UFF) fatimacanesin@yahoo.com.br Regina Pereira Pacheco (Feema) - reginapereirap@yahoo.com.br Celso Alexandre Castellões (Petrobras) - alexandrecastellões@yahoo.com.br
RESUMO
O objetivo principal deste trabalho foi a aplicação da metodologia de Produção mais Limpa numa Gráfica, denominada de Gráfica A, localizada no Estado do Rio de Janeiro, Brasil, para melhoria do seu processo produtivo. O programa de Produção mais Limpa foi realizado num período de 6 meses e foram seguidos as etapas e os passos previstos pela UNEP para a sua realização. Para o presente estudo foi considerada a produção de dois produtos impressos: lâminas com tiragem anual de 3,9 x 106 unidades e livros, com 232 páginas, com tiragem anual de 12.660 unidades. O diagnóstico ambiental/ processo indicou várias oportunidades de melhoria nas etapas de pré-impressão e impressão da gráfica A no que diz respeito ao consumo de água e energia e à geração de resíduos sólidos, efluentes e emissões.
A aplicação da metodologia de Produção mais Limpa mostrou que com a implantação das modificações haverá uma redução média de geração de efluente de 37%; uma redução média de consumo de água de 45%; um aproveitamento médio das chapas de alumínio de 50% e redução de consumo de revelador de chapa em torno de 45%. As principais barreiras encontradas foram a falta de previsão orçamentária para implantação dos projetos propostos; uma cultura organizacional não voltada plenamente para o uso eficiente dos recursos e a dificuldade para implantação de projetos que gerem aumento de despesa.
Palavras Chaves: Produção mais Limpa, Gráfica, Resíduos.
ABSTRACT
The main purpose of this essay is describe the implementation of Cleaner production method in a Press Enterprise named Gráfica A, located in the state of Rio de Janeiro-Brazil, in order to improve its productive process. The Cleaner Production process was put into practice in a six month period, consisting in phases and steps which were established by UNEP. The production of two printed were considered: individuals sheets with an annual production of
3,9 million and books, with 232 pages, with an annual production of 12600 units. Environmental diagnosis of the process showed several opportunities in the pre-printing and printing phases of Gráfica A in water and energy consumption, solid waste generation, effluents and emissions.
Practice of the method of Cleaner Production revealed that implementing certain changes, there should be a reduction of 37% in effluent generation, 45% in water consumption, 45% in plate solution reagent and 50% recycle of aluminum printing plates. The obstacles found within this study were based on a lack of a budget plan for the implementation of these changes caused by a non-environmental friendly policy and a lack of clear organization or desire to cut costs.
Key words: Cleaner Production, Press Enterprise, waste
1 INTRODUÇÃO
O desenvolvimento sustentável tem se tornado uma questão importante para governos, comunidades e organizações empresariais desde a introdução do seu conceito, em 1987, com a publicação do Relatório da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente denominado “Nosso Futuro Comum” (COMISSÃO...1991) que, já apontava a necessidade da humanidade assumir padrão e consumo sustentáveis.
A mudança da atitude empresarial em relação ao meio ambiente foi uma das transformações mais significativas observadas nos últimos 30 anos. As empresas vêem enfrentando os desafios para um desenvolvimento empresarial sustentável através da melhoria da eficiência dos processos de produção e adoção de sistemas de gestão ambiental (Mattos, 2003).
A UNIDO – Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial e a UNEP- Programa Ambiental das Nações Unidas criaram, em 1994, o programa de Produção Mais Limpa, com a implantação de cerca de 16 centros chamados de National Cleaner Production Centres, NCPC, em várias partes do mundo. Atualmente, 14 novos centros estão em fase de implantação com o objetivo de promover a capacitação de profissionais qualificados de modo a disseminar e aplicar as informações desta estratégia ambiental preventiva e integrada, nos processos produtivos, nos produtos e serviços, para redução de riscos relevantes aos seres humanos e ao meio ambiente. No Brasil foi criado, em 1995 o Centro Nacional de Tecnologias Limpas - CNTL/Brasil localizado no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial do Rio Grande do Sul, SENAI/RS, em Porto Alegre, com objetivo
de atuar como agente disseminador das técnicas de Produção mais Limpa no país. A rede brasileira é constituída por sete núcleos estaduais: Minas Gerais, Bahia, Santa Catarina, Mato Grosso, Rio de Janeiro, Ceará e Pernambuco. Conta ainda com onze núcleos regionais do Sebrae: Distrito Federal, Amazônia, Amapá, Mato Grosso do Sul, Pará, Espírito Santo, Alagoas, Rio de Janeiro, Rio grande do Norte, Piauí e Sergipe. O programa de Produção mais Limpa é uma adaptação do ECOPROFIT, Ecological Project for Integrated Environmental Tecnologies, que tem por base a prevenção da poluição e o fortalecimento econômico das indústrias.
As metodologias de Produção mais Limpa lançadas pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, PNUMA, são adotadas com a finalidade, conforme NÚCLEO... 2004,
“de aplicar uma estratégia econômica, ambiental e técnica, integrada aos processos e produtos afim de aumentar a eficiência no uso de matérias – primas, água energia, através de não geração, minimização ou reciclagem dos resíduos gerados, com benefícios ambientais e econômicos para os processos produtivos”.
A aplicação da metodologia de Produção Mais Limpa procura atingir o problema de geração de resíduos, efluentes e emissões atmosféricas através da investigação das raízes do problema, incluindo o uso mais eficiente das matérias- primas, insumos e energia, buscando a prevenção da poluição com a redução de materiais tóxicos e perigosos ao invés da simples concepção de fim de tubo. Como conseqüência, tem-se o aumento da produtividade com oportunidades de lucros para a empresa e o enquadramento da mesma à legislação ambiental vigente.
A implantação da metodologia de Produção mais Limpa numa empresa é realizada em várias etapas. Inicialmente é necessária a sensibilização de funcionários, com a apresentação das vantagens de se implantar a metodologia na empresa e a criação de um Ecotime que é um grupo de trabalho formado por profissionais da empresa de várias áreas com o objetivo de auxiliar na implantação do programa de Produção mais Limpa. Em seguida, é elaborado um relatório com um diagnóstico das diferentes etapas de produção e com os principais problemas ambientais identificados. O processo produtivo é apresentado em diagramas de bloco com as entradas e saídas de insumos, matérias–primas, energia, identificação das fontes geradoras de efluentes e resíduos. O programa, numa segunda etapa, quantifica essas entradas e saídas, através de um balanço de massa e de energia, para identificar as diversas oportunidades ambientais, econômicas e as barreiras que se apresentam para a aplicação da metodologia de Produção mais Limpa. Um estudo de viabilidade econômica das alternativas apresentadas é realizado de modo a balizar a tomada de decisão das modificações propostas mostrando as relações investimentos x benefícios. Dentre as abordagens de Produção mais
Limpa para a minimização tem-se: Housekeeping; modificação do processo e da tecnologia; com substituição de equipamentos, pequenas alterações no produto, substituição de matérias primas ou de fornecedores e técnicas de tratamento como reuso, reciclagem e fim de tubo. È importante definir indicadores, que possam avaliar o desempenho ambiental da empresa antes e após a implementação da metodologia, e elaborar um plano de monitoramento visando o acompanhamento das modificações propostas pelo programa de Produção mais Limpa.
A produção de produtos gráficos envolve etapas nas quais são utilizados vários produtos químicos agressivos ao meio ambiente e à saúde do trabalhador. Assim, a questão ambiental e de saúde e segurança devem ser inseridas no contexto empresarial gráfico com adoção de comportamento pró-ativo em relação às questões ambientais e como objeto de avaliação e análise.
O processo em uma indústria gráfica offset é constituído de três etapas: Pré- Impressão, Impressão e Acabamento. Na etapa de pré-impressão ocorrem as seguintes operações: processamento fotográfico, transferência de imagem para a chapa de impressão, revelação e lavagem da chapa, retoque e envio da chapa para o Setor de Impressão.
No processo de Impressão as chapas, reveladas e retocadas, na etapa de pré-impressão, são levadas para a impressora e montadas em rolos cilíndricos, onde recebem a tinta e transferem a imagem para o substrato. O rolo com a chapa de impressão roda a alta velocidade, passando primeiro pela solução de molha e depois pelo tinteiro. As zonas de não-imagem da chapa absorvem a solução de molha e tornam-se repelentes à tinta enquanto que as zonas de imagem da chapa absorvem a tinta, de base orgânica, quando o rolo passa pelo tinteiro. O rolo entra em contato com outro, coberto de borracha, denominado de blanqueta, no qual a tinta é transferida e deste para o substrato. Concluída essa etapa, os impressos são encaminhados para o setor de acabamento onde são cortados, dobrados, colados, etc.
Vários produtos químicos são utilizados no processamento e geração de imagens na indústria gráfica. Esses produtos, em sua maioria, são derivados de petróleo e altamente tóxicos. Assim, nos processos acima citados são gerados efluentes, emissões atmosféricas e resíduos sólidos que precisam de uma destinação adequada.
No processo de produção da chapa offset são gerados resíduos de filmes, efluentes da revelação de filmes e de lavagem de chapas e resíduos de chapa de alumínio que venham a ser descartadas.
Na etapa de impressão, vários resíduos são também gerados tais como: resíduos de panos de limpeza sujos de tinta e solvente decorrentes da limpeza de rolos e tinteiro; resíduos
de tinta não utilizada; papel impresso perdido no processo de ajuste de máquina e durante a impressão.
Este trabalho foi um dos requisitos necessários para a obtenção do certificado do curso de consultor em Produção mais Limpa promovido pelo Centro de Tecnologia Ambiental (CTA) – FIRJAN realizado em 2005. Seu objetivo foi de aplicar a metodologia de Produção mais Limpa à uma Indústria Gráfica, que doravante será denominada de gráfica A, localizada no Estado do Rio de Janeiro, para melhoria da eficiência do seu processo produtivo. Contou-se com a infra-estrutura dos laboratórios do CTA para as análiContou-ses químicas dos efluentes e emissões atmosféricas. Este estudo, ou seja, as oportunidades de melhoria não foram, até a presente data, implementadas na gráfica A.
2 MÉTODOS
Seguiu-se as etapas e os passos previstos pela United Nations Environmental Program (UNEP) para a realização de um programa de Produção mais Limpa. O programa foi realizado num período de 6 meses e resumidamente se constituiu primeiramente na realização de um Diagnóstico Ambiental e de Processo onde identificou-se a empresa, realizou-se o detalhamento do processo, foram identificados os equipamentos, as principais matérias primas, insumos e auxiliares e os resíduos, efluentes e emissões. Nessa etapa realizou-se também a avaliação de aspectos e impactos ambientais e planos para o gerenciamento dos resíduos. Em função dos resultados obtidos do Diagnóstico foram determinados os focos para a avaliação de Produção mais Limpa na gráfica. Na segunda etapa acompanhou-se a produção de dois produtos, que são produzidos com freqüência pela gráfica, para a realização de medições de vários parâmetros e a elaboração dos balanços de material. O balanço de material identifica as causas de geração dos resíduos, das emissões e das perdas de energia e água. Nessa etapa foram selecionadas as oportunidades de Produção mais Limpa. Um estudo de viabilidade técnica, econômica e ambiental foi realizado e as oportunidades a serem implementadas foram selecionadas. A etapa seguinte seria a Implantação das oportunidades, monitoramento, através de diferentes indicadores, e avaliação dessas implementações.
A gráfica A é um estabelecimento de porte médio onde são produzidos, anualmente, uma variedade de itens, lâminas (folders, convites, crachás) e livros, que dependem da demanda, formatação, carregação de tinta e número de cores, tipos de papel e tiragem.
Para o presente estudo foram considerados dois produtos livro e lâmina, com formato e tiragem representativos da produção anual da gráfica, impressos com tinta preta. As lâminas são produzidas com uma tiragem de 75.000 lâminas/semana, o que fornece uma tiragem anual
de 3,9 x 106 lâminas com formato A4, 1/0 (impresso somente em um lado) e papel branco com diagramatura de 75 g/m2. Para o livro considerou-se uma produção de 12.660 unidade com 232 páginas, formato 17 cm x 24 cm, 1/1( impressão frente e verso), papel branco com diagramatura de 75 g/m2, tinta preta, produzidos uma vez por mês com tiragem de 1055 unidades. As impressoras utilizadas para impressão dos produtos acima referidos foram respectivamente Aurélia Bi e Roland.
3 RESULTADOS
3.1 Diagnóstico Ambiental e de Processo
Na etapa de diagnóstico foi identificado que a gráfica A ainda não possui licenciamento ambiental e os resíduos e efluentes gerados no processo de pré-impressão e impressão offset não são disponibilizados de forma adequada conforme a legislação ambiental.
Na etapa de pré-impressão foram observadas as seguintes oportunidades de melhoria: a) disposição adequada dos efluentes da revelação de filme e mudança da tecnologia; b) alternativas para minimização dos efluentes oriundos da revelação de chapas; c) reuso e disposição das chapas de alumínio; d) disposição adequada dos filmes e aparas de filmes e e) venda dos filmes revelados para recuperação da prata.
Na Impressão as oportunidades apresentadas foram: a) redução do consumo de água e disposição adequada dos efluentes de lavagem de rolo; b) disposição adequada das aparas de papel; c) minimização das emissões de produtos orgânicos voláteis, oriundos da limpeza de tinteiro e blanquetas e soluções de molha, no ambiente da gráfica; d) conscientização dos funcionários da gráfica quanto à questão de segurança na utilização de produtos químicos, sua disposição e descarte e e) redução do gasto em energia elétrica.
As principais barreiras encontradas foram a falta de previsão orçamentária para implantação dos projetos propostos; uma cultura organizacional não voltada plenamente para o uso eficiente dos recursos e a dificuldade para implantação de projetos que gerem aumento de despesa.
3.2 Oportunidades a serem Implementadas
Embora a metodologia Produção mais Limpa tenha como um dos seus principais objetivos a eliminação dos resíduos e efluentes, foi constatado que para a indústria gráfica esse objetivo ainda está longe de ser alcançado tendo em vista que a tecnologia mais atual
para os processos de geração de imagem e impressão ainda não elimina totalmente a geração desses resíduos e efluentes e em muitos casos geram outros tipos de resíduos e efluentes, por exemplo, a tecnologia digital de gravação de chapa Computer to Plate (CTP) que elimina resíduos de filmes e efluentes contendo prata da etapa de revelação de filme, porém permanece o efluente gerado do processo de lavagem de chapa.
No que segue serão descritas, resumidamente, algumas oportunidades de melhorias a serem implementadas na gráfica A, assim como seus benefícios econômicos, ambientais, tecnológicos e de Saúde ocupacional.
Tabela 3.1- Lista das oportunidades identificadas no diagnóstico de produção da gráfica A
OPORTUNIDADES RESULTADOS ESPERADOS
Minimização do consumo de revelador de chapa,de água e efluente das etapas de revelação e retoque
Economia de recursos hídricos e economia de reagentes.
Redução do consumo de chapas de alumínio por meio da criação de um depósito que permita o reuso das chapas.
Economia na aquisição de chapas novas e receita com a venda das chapas não aproveitadas.
Recuperação de prata dos efluentes de revelação de filme.
Receita com a venda da prata e não pagamento de possível multa por lançamento de efluente em não conformidade com a legislação ambiental Automação da lavagem de rolo da
impressora Roland e disposição adequada dos efluentes.
Redução do tempo de lavagem, economia de recursos hídricos, solventes e não pagamento de possível multa por lançamento de efluente em não conformidade com a legislação ambiental. Programa de Educação Ambiental visando
a redução do consumo de água, solvente e minimização da exposição dos impressores à produtos perigosos.
Mudanças comportamentais com melhoria da saúde ocupacional dos impressores e redução de recursos hídricos e solventes. Mudança de tarifa e gerador diesel para o
horário de ponta
Economia com energia elétrica.
3.2.1. Minimização de efluentes de lavagem de chapas das etapas de revelação e retoque
As operações de revelação, lavagem e retoque de chapa são realizadas em um tanque no qual foi colocada uma grade de madeira sobre a qual a chapa é revelada e escovada e, posteriormente, lavada. Se necessário, a chapa pode ser retocada e lavada. Os efluentes decorrentes dessas operações, cujas características para lavagem de chapa são mostradas na tabela 3.2, são lançados diretamente na rede de esgoto.
Tabela 3.2 - Análise Química de Efluentes de lavagem de Chapas
Parâmetro Valor Unidade Valor Máximo
Permitido Cobre Total 0,073 mg/L Cromo total 0,012 mg/L DBO 188 mg/L * DQO 1053 mg/L * pH 11,6 mg/L 5,0 a 9,0 Prata total 0,60 mg/L 0,1 mg/L
∗ Efluente não está em conformidade com a diretriz de controle de carga orgânica em efluentes líquido de origem industrial (DZ-205 R-5-FEEMA).
Foram propostas as seguintes modificações para reduções de consumos de revelador e águas de lavagens e disposição adequada dos efluentes considerando-se que 348 chapas (0,93 x 0,745)m são reveladas por ano: a) Colocação do revelador em cuba em aço inoxidável, b) utilização de uma seqüência de tanques para lavagem das chapas, de acordo com Gasi et al, 2003 e c) segregação do efluente e d) remoção, tratamento e destinação do efluente por empresa habilitada e licenciada pela FEEMA.
Essas modificações implicam em investimentos para aquisição de cubas, na realização de obra civil para adequação do tanque já existente, para segregação, remoção e destinação de efluente.
Benefícios ambientais, econômicos e tecnológicos.
Os benefícios ambientais são a suspensão da prática de descarte de efluentes de lavagem de chapa e de retoque no sistema de esgoto e a racionalização na utilização de água de lavagem de chapa retocada evitando, dessa forma, o desperdício de um recurso natural.
Os benefícios econômicos são as reduções de consumo de revelador e água implicando numa economia de 45% do valor anteriormente gasto pela empresa na compra do revelador. Outro aspecto a ser destacado é que caso a gráfica A destinasse antes da aplicação da Produção mais Limpa adequadamente seus efluentes a redução com as modificações sugeridas seria de 65% do valor que deveria ser pago, pela empresa. Há, também, uma redução na geração de resíduos sólidos pois a empresa deixará de destinar 47% a menos de recipientes plásticos e 50% a menos de caixas de papelão decorrentes da embalagem dos recipientes de revelador.
É importante destacar os benefícios tecnológicos e de saúde ocupacional no primeiro caso, a gráfica passará a usar cubas de aço inoxidável para lavagens de chapa. No segundo caso os funcionários passarão a realizar as operações de lavagem de chapas utilizando luvas.
3.2.2. Redução do consumo de chapas de alumínio por meio da criação de um depósito que permita o reuso das chapas. A CHAPOTECA.
As chapas de alumínio utilizadas para gravação da imagem são descartadas no depósito de lixo convencional e eventualmente acumuladas e vendidas pelo almoxarifado de matéria-prima. O descarte e a venda das chapas ocorrem independentemente de as mesmas poderem ser reutilizadas em outras produções ou não.
Como regra geral, os impressos temporais, como folder de evento, lâmina de peça de teatro e cartaz de divulgação com data marcada, geram chapas que, por definição, não poderão ser reutilizadas em outras datas além daquelas definidas no próprio trabalho.
As chapas que podem ser reutilizadas são, de um modo geral, aquelas utilizadas para a produção de impressos atemporais, como capa e miolo de livro, lâmina de divulgação de programa de curso e formulários padronizados.
Propõe-se criar um depósito de chapas usadas, chamado “Chapoteca”, para que estas possam ser reutilizadas em produções posteriores, sem a necessidade de novo consumo da mesma matéria-prima, evitando assim desperdícios. A Chapoteca deverá ficar fisicamente na área de pré-impressão para facilitar os demais fluxos produtivos. Além da “Chapoteca”, para a guarda das chapas servíveis, também deverá ser criado, na área de Pré-Impressão, um depósito de chapas inservíveis chamado de “Sucatão”. O procedimento para acúmulo de chapas inservíveis no almoxarifado de matéria-prima deverá ser descontinuado, permanecendo somente o atual procedimento de venda.
Benefícios ambientais, econômicos e tecnológicos
Os principais benefícios ambientais provenientes da implantação provêm da redução da utilização dos recursos naturais relacionados à fabricação do alumínio e aqueles que estão relacionados ao incremento do volume total destinado ao reuso e à reciclagem.
Com relação aos benefícios econômicos o investimento estimado para implantação de R$ 3000, 00, utilizado na implantação da metodologia, trará para a Gráfica uma economia de R$ 5.511,14 por ano. Este valor representa 52% do valor atualmente gasto com a compra anual de chapas de alumínio.
Como benefício de saúde ocupacional pode-se considerar a redução do tempo de exposição dos funcionários da empresa aos produtos químicos utilizados no processo de gravação de chapas.
3.2.3. Recuperação de prata dos efluentes de revelação de filme.
A Gráfica A descarta diretamente na rede de esgoto os efluentes de revelação de filme que compreendem soluções de fixador, contendo prata, e efluente do revelador. Em gráficas pequenas e de médio porte esses efluentes de revelação de filme são descartados na rede de esgoto ou armazenados para serem vendidos para recuperação da prata. Nos efluentes analisados os teores de prata estavam acima do valor máximo permitido e a carga orgânica muito elevada para ser descartada na rede de esgoto, tabela 3.3.
Tabela 3.3 - Efluente da máquina de revelação de filme.
Parâmetro Valor Unidade VMP
DBO 24.599 mg/L *
DQO 53.854 mg/L *
pH 7,96 Unidade de pH 5,0 a 9,0
Prata Total 626 mg/L 0,1 mg/L
∗ Efluente não está em conformidade com a diretriz de controle de carga orgânica de efluentes líquidos de origem industrial (DZ-205 R-5-FEEMA).
No mercado existem diferentes máquinas que recuperam prata de efluentes de revelação de filme. A modificação proposta consiste na aquisição de um eletrolisador, que opera em 110 V.constituído com um tanque de 38 litros capacidade que retém a prata contida na solução do fixador. A eficiência no processo de recuperação fica acima de 90%. O tratamento pode ser realizado de modo contínuo associado ao descarte da reveladora. O valor de mercado para a preta recuperada é de R$600,00/kg. O preço para a aquisição da máquina é de R$ 2.300,00. Os efluentes de revelação são tratados em filtros com dois cartuchos silver trap com valor unitário de R$330,00 e um descontaminador, que reduz a DQO para níveis que permitem o lançamento do efluente tratado diretamente na rede de esgoto, no valor de R$990,00, O valor total do equipamento de tratamento é de R$1650,00. O custo total da modificação para recuperação e tratamento é de R$3.950,00. Os efluentes após a recuperação e tratamento do revelador são descartados.
Considerando-se a produção de livros, os benefícios ambientais decorrentes da implantação da máquina recuperadora de prata é a disposição adequada de 1500 m3/ano de efluentes dentro dos parâmetros permitidos pela legislação para lançamento de efluentes.
Os benefícios econômicos com o investimento, para o mesmo produto, diminuem o custo operacional de revelação de filme em 24% considerando a venda de 0,832 kg/ano de prata, com um tempo de retorno do capital investido de 5 meses.
Foi avaliada a viabilidade da implantação de um sistema CTP a fim de dar um salto de qualidade na produção dos impressos da gráfica e eliminar os efluentes com prata. Entretanto esta modificação de tecnologia exige um investimento muito alto no momento.
3.2.4. Automação da lavagem de rolo da impressora Roland e disposição adequada dos efluentes.
A impressora Roland é plana, com encaixes para chapa grande, sendo muito utilizada na impressão de miolo de livros, cartazes, revistas e é monocromática. A tarefa de transferência da solução de molha para os rolos de impressão se faz com os rolos molhadores. Estes rolos são revestidos por uma camisa de moleton e gradualmente ficam cobertos com resíduos de tinta, o que obriga uma lavagem dos mesmos, após uma jornada de trabalho, de modo a manter a qualidade da impressão. A máquina possui três rolos molhadores que atualmente são lavados individualmente pelo impressor num tanque de aço inox e água corrente. Para auxiliar a limpeza é utilizado solvente, água, escova e sabão de coco. A duração da limpeza de cada rolo leva em média 15 minutos. O efluente da lavagem vai diretamente para o esgoto. Esse efluente foi analisado e o resultado apresentado na tabela 3.4.
Tabela 3.4 - Efluente da lavagem de rolo
Parâmetro Valor Unidade VPM*
Cobre Total 0,404 mg/L 0,5 mg/L Cromo Total 0,030 mg/L 0,5 mg/L DBO 765 mg/L DZ205-R5 DQO 2054 mg/L DZ205-R5 pH 6,67 Unidades de pH 5,0 - 9,0 Prata Total 0,012 mg/L 0,1 mg/L
A modificação proposta consiste na aquisição de uma máquina de lavagem de rolo. Esta máquina opera em 220 V, com uma cuba de lavagem em aço inoxidável de 120 x 32 cm de área útil, tampa em acrílico para visualizar a lavagem, sistema de tecla para acionar o banho de água, lava ao mesmo tempo três rolos, tempo programável, em até 15 minutos com parada automática, com opção de inversão de rotação. Possui quatro rolos sendo dois rolos
tracionador, em rosca sem fim, com escovas em nylon. É de fácil operação e não necessita de procedimento especial de instalação. O preço para a aquisição da máquina é de R$ 5.485,00
O preço para o transporte e disposição do efluente foi de R$450,00 para transporte e R$0,60/kg de efluente. A firma, credenciada pela FEEMA, recolherá os efluentes uma vez a cada dois mês fornecendo os recipientes para o seu acondicionamento.
Benefícios ambientais, econômicos e tecnológicos
Os benefícios ambientais com a modificação proposta são as reduções de consumo de água e de solvente no processo de lavagem, tendo em vista que três rolos serão lavados de uma só vez reduzindo em um terço o volume de efluente. De acordo com dados fornecidos pelo fabricante o consumo de água não deve ultrapassar 77L para a lavagem automática dos três rolos da impressora Roland. No ano são consumidos 924 L e uma economia e, conseqüentemente, de efluente 344,04 L. A redução de solvente é de 6,0 kg/ano, o trabalhador não se expõe diretamente ao solvente e apresenta um ganho de tempo no processo de lavagem de rolo.
Os benefícios econômicos com a economia de R$400,00 na aquisição de solvente e de água compensam o custo com o armazenamento e disposição dos efluentes.
3.2.5. Programa de Educação Ambiental visando a redução do consumo de água e solvente e minimização da exposição dos impressores à produtos perigosos.
Segundo a UNEP, Produção Mais Limpa requer mudanças de atitudes, garantia de gerenciamento ambiental responsável, criação de políticas nacionais direcionadas e avaliação de alternativas tecnológicas.
O que se pretende com a implantação deste Programa de Educação Ambiental na área de produção da Gráfica é motivar os funcionários para uma revisão de procedimentos e atitudes no sentido de: 1) não desperdício de água na etapa de lavagem de chapas reveladas e retocadas e na lavagem do rolo; 2) diminuição do uso indiscriminado de solvente durante a limpeza de componentes da máquina de impressão e também na lavagem do rolo molhador; 3) adoção de procedimentos adequados para segregação dos resíduos, evitando misturar o resíduo perigoso com o comum, 4) ênfase nas práticas de segurança na manipulação de solventes, bem como cuidados para a proteção auditiva, para o não comprometimento não só dos ecossistemas como também para a saúde humana.
As modificações comportamentais pretendem reduzir em 20% o uso de solvente e água, bem como incorporar o hábito de usar EPI’s. As ações que serão implementadas serão a
elaboração de questionários para identificar o grau de percepção ambiental dos funcionários no início do programa e após a realização de palestras de sensibilização de modo a identificar para cada etapa (pré, impressão e pós-impressão) do processo de produção, os tipos de produtos perigosos utilizados em cada etapa, suas características, os impactos ambientais que causa na saúde e no ambiente, os cuidados na manipulação, enfatizando a importância de se utilizar o equipamento de proteção individual – EPI apropriado para cada caso. Cartazes com lembretes e avisos a serem seguidos serão espalhados pela produção e confeccionados uma cartilha abrangendo alguns tópicos desenvolvidos nas palestras para utilização com novos funcionários admitidos no futuro pela gráfica.
Benefícios ambientais, econômicos e tecnológicos
Os benefícios ambientais alcançados são oriundos da informação, educação e desenvolvimento da consciência ambiental para o não desperdício de água e de solventes que podem trazer sérios prejuízos não só ao ambiente como também à saúde humana.
Os benefícios econômicos vêm do aumento da receita com a economia de água e solventes e o não pagamento de multas por emissões atmosféricas e exposição do trabalhador a solventes voláteis (NR15), cujo valor mínimo é de 600 UFIR.
3.2.6. Redução do consumo de energia elétrica de origem hídrica por meio da implantação de um grupo gerador para utilização no horário de ponta e do redimensionamento da demanda contratada.
A gráfica possui um consumo de energia na operação de máquinas e impressoras com tempo de operação variado. Os equipamentos possuem demandas diferentes de energia e alguns trabalham simultaneamente. Os principais equipamentos são na pré-impressão uma Image Setter, processadora Devotec, duas prensa de cópia de chapa, estufa térmica e computadores. Na impressão são nove impressoras entre offset e digital. A pós impressão possui duas guilhotinas, dobradeiras, grampeadeira, máquina de serrilha, máquina de espiral, máquina de furar, balança, papeleira hidráulica, impressoras digitais, micro computadores e ar condicionado central.
O custo mensal com a demanda contratada, com o consumo no horário de ponta e com o consumo no horário fora de ponta é de R$28.604,95. Os consumos mensais de energia nos horário de ponta e fora de ponta são de 71.151kWh/mês ou 853.812kWh/ano.
A modificação proposta consiste na manutenção da tarifação verde em A4, recontratação da demanda para 350kW e instalação de um grupo gerador para utilização no horário de ponta.
O gasto com energia elétrica no horário de ponta é de R$13.860,73/mês. Com a utilização de um grupo gerador no horário de ponta, o custo com diesel será de 80 litros/hora x 3 horas/dia x 22 dias/mês x R$1,55/litro = R$8.184,00/mês; o custo de um contrato de manutenção será de R$1.200,00/mês, e o custo com operação será nulo, reduzindo o custo total para R$9.384,00/mês e gerando uma economia de R$4.476,73/mês. A recontratação da demanda para 350kW trará uma economia adicional de R$1.126,86/mês. As duas ações implantadas permitirão uma economia de R$5.603,59/mês
Para a implantação desta oportunidade são necessárias: a aquisição de um grupo gerador de 450kVA, automático seminovo, no valor de R$75.000,00; a instalação de um container anti-ruído tipo SL de R$35.000,00; a aquisição de um sistema de paralelismo com a concessionária Light no valor de R$20.000,00; a realização de obras no valor de R$20.000,00; e R$1.000,00 com despesas administrativas para implantar a recontratação da demanda, resultando um investimento total de R$143.000,00.
Benefícios ambientais, econômicos e tecnológicos
Não há benefícios ambientais com essa modificação. A utilização de um gerador movido a biodiesel para o horário de ponta é economicamente inviável devido ao seu alto custo de implantação.
Os benefícios econômicos são justificados considerando a vida útil do projeto como de 10 anos, o período de recuperação do capital de R$143.000,00 é de 2,1 anos, o valor presente líquido é de R$529.431,00 e a taxa interna de retorno é de 46,0%.A empresa economizará R$5.603,59/mês, ou R$67.243,08/ano, o que representa 19,6% do custo com energia elétrica. Esta economia poderá ser reinvestida na modernização das instalações e nos maquinários utilizados na atividade fim.
4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Os resultados que serão alcançados após a implantação das oportunidades apresentadas são mostradas nas figuras abaixo. As figuras 4.1(a e b) e 4.2(a e b) mostram a avaliação global da gráfica antes e após à aplicação metodologia de Produção mais Limpa. As figuras 4.1a e 4.1b referem-se à avaliação global relativa à produção de livros 12.660 unidades com 232 páginas, formato 17 cm x 24 cm, 1/1 (impressão frente e verso). As figuras
4.2a e 4.2b referem-se à avaliação global relativa à produção de lâminas com uma tiragem anual de 3,9 x 106 lâminas com formato A4, 1/0 (impressão de somente um lado).
antes depois 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000 Produto: Livro
Figura 4.1a: Avaliação Global da situação das quantidades de efluentes e água antes e após o P + L para o produto Livro
kg/ ano água efluentes antes depois 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 Produto: Livro
Figura 4.1 b: Avaliação Global da situação das quantidades de revelador,chapa e resíduos sólidos antes e após o P + L.
kg/ano revelador de chapa chapas resíduos sólidos antes depois 900 950 1000 1050 1100 1150 1200 1250 1300 Produto: Lâmina
Figura 4.2a: Avaliação Global da situação das quantidades de água e efluente antes e após o P + L para o produto Lamina kg/ ano água efluente antes depois 20 25 30 35 40 45 50 Produto: Lâminas
Figura 4.2b Avaliação Global da situação das quantidades das chapas de Al antes e após o P + L.
kg/
ano
chapas
5. CONCLUSÃO
As modificações propostas promoverão uma redução na geração de efluentes resultantes da lavagem e retoque de chapas e daqueles resultantes da lavagem de rolos da impressora Roland. Além disso, elimina-se a prática de descarte no sistema de esgoto doméstico de efluentes contaminados com prata, tinta, solventes orgânicos e soluções de reveladores (de chapa e de filme) e de fixadores.
Com relação ao descarte de chapas de alumínio há a proposta de estabelecimento da prática de reutilização de chapas com a criação de depósito de chapas que reduz a necessidade de consumo de matéria prima e destina corretamente as chapas inservíveis.
Com a implantação de um Programa de Educação Ambiental na Gráfica A uma série de atitudes e procedimentos dos funcionários podem ser melhorados ocasionando, dessa forma, redução de consumo de água, de solventes de limpeza, implantação de segregação adequada dos resíduos e adoção de procedimentos adequados no que diz respeito à segurança e saúde ocupacional.
Esse estudo sugere outras oportunidades de melhoria a serem aplicadas na gráfica A tais como: a) a minimização das emissões de produtos orgânicos voláteis que, proporcionará não somente melhoria das condições de trabalho dos funcionários de gráfica como também reduzirá o impacto desses produtos no meio ambiente, b) a redução no consumo de panos e solventes para limpeza de impressoras e disposição adequada dos panos sujos e c) venda dos filmes para recuperação da prata.
Sugerem-se as seguintes soluções para as barreiras encontradas: 1) a estruturação de argumentações técnica, econômica e ambiental para inclusão na próxima previsão orçamentária para implantação dos projetos propostos; 2) definição de novos procedimentos operacionais e realização de treinamentos periódicos para sensibilização dos funcionários com a finalidade de romper a barreira da cultura organizacional não voltada para uso eficiente dos recursos e 3) com relação aos projetos que gerem despesas propõe-se, para implantação, estruturar argumentações técnica, econômica, ambiental e de segurança e saúde ocupacional.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAJAZEIRA, J.E.R. ISO14001: manual de implantação. Rio de Janeiro: Qualitymark,1997. COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Nosso Futuro Comum. 2ª ed. Rio de Janeiro: FGV, 1991.
FEPAM – FUNDAÇÃO ESTADUAL DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DO RIO GRANDE DO SUL. Informações para Licenciamento de Atividades Industriais. Porto Alegre: SEDAP, 1999.
GASI, Tânia Mara Tavares; LONGO, Fausto Guilherme; ISOLA Silvio Roberto. Guia
Técnico Ambiental da Industria Gráfica, São Paulo, 2003, 68 p. disponível em
www.cetesb.sp.gov.br/Ambiente/producao_limpa/documentos/guia_ambiental.pdf
MATTOS, Haroldo. Desenvolvimento Empresarial Sustentáveis: Apostila do Curso de Gestão de Negócios Sustentáveis, Universidade Federal Fluminense, dez. 2003. Apostila. NÚCLEO DE PRODUÇÃO MAIS LIMPA; CENTRO NACIONAL DE TECNOLOGIAS –
Questões Ambientais e Produção mais Limpa: Curso de Produção Mais Limpa
UNIDO; UNEP. Guidance Materials for the UNIDO/UNEP National Cleaner Production
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