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A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO NO/DO RIO DE JANEIRO: UM ESTUDO SOBRE AS DIFERENTES RACIONALIDADES PROMOTORAS DA PRODUÇÃO URBANA CARIOCA

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A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO NO/DO RIO DE JANEIRO: UM ESTUDO SOBRE AS DIFERENTES RACIONALIDADES

PROMOTORAS DA PRODUÇÃO URBANA CARIOCA

Marcela Dametto Geógrafa pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro damettomarcela@gmail.com INTRODUÇÃO

Ao longo dos séculos, a produção espacial na/da cidade do Rio de Janeiro foi orientada para que as atividades econômicas e políticas exercidas pelas classes dominantes da sociedade, tanto no período colonial, quanto imperial ou republicano, fossem garantidas e fomentadas. Ocorre que os mecanismos socioeconômicos que garantiam o êxito da reprodução do capital e os interesses políticos desses grupos sociais, estavam sempre em constante transformação na medida em que a organização social se modificava ao longo do tempo e do espaço. Sendo assim, as mudanças conjunturais pelas quais a sociedade carioca passou eram refletidas diretamente no tipo de espaço que esta sociedade produzia. Neste sentido, observa-se que a produção espacial da cidade do Rio de Janeiro em começos do século XXI responde a uma racionalidade distinta às dos séculos anteriores. Atualmente, o capital financeiro muito fluido, orienta a produção do espaço, assim como as práticas sociais responsáveis por esta produção. Em contrapartida, no século XIX, a produção do espaço urbano carioca era orientada a partir dos interesses do capital comercial, portanto, os interesses da oligarquia rural eram expressos no espaço. A necessidade de defesa e a quase nula capacidade de mobilidade da grande maioria da população, diante da natureza do sítio da cidade, fez com que o espaço urbano carioca ficasse circunscrito à suaárea central, localizando aí suas funções políticas e econômicas. Além disso, as atividades portuárias ligadas diretamente às atividades agrícolas, principalmente a canavieira e posteriormente a cafeeira, impunham um alto grau de importância para toda a região central e portuária. Ocorre que ao longo do tempo, à medida que as estruturas sociais se modificavam, a produção do espaço também se distinguia, e sendo assim, a produção do

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espaço urbano carioca no século XX foi orientada pela racionalidade definida através dos interesses do capital industrial e do ideário de modernidade republicano. Já em começos do século XXI, a produção do espaço urbano carioca é orientada pela lógica do capital financeiro, e entende-se trabalho de pesquisa que a incorporação da zona oeste ao circuito econômico central da cidade, é caracterizada principalmente pelo alto grau de investimentos formalizados pela construção de espaços específicos e padronizados, através de um processo que vem ocorrendo em sua plenitude desde os anos de 1990. Contudo, esta incorporação não significa simplesmente o avanço da malha urbana em direção à zona oeste, mas, além disso, revela uma mudança na racionalidade responsável pela produção do espaço urbano carioca em começos do século XXI. Sem dúvidas, a necessidade de expansão da cidade foi propulsora da produção espacial nesta região, entretanto, existem outros condicionantes socioespaciais que promoveram, e ainda promovemo redirecionamento de investimentos e de fluxos de capital para a zona

oeste, e mais especificamente para a Barra da Tijuca1. A partir do entendimento que a

produção do espaço urbano e, portanto, a ocupação deste espaço, se dá sob a égide do capitalismo fundamentado no princípio da propriedade privada do solo urbano, quando o valor de troca se sobrepõe ao valor de uso, Ana Fani Alessandri Carlos (2011, p.67) esclarece que:

[...] trata-se do momento histórico em que a existência generalizada da propriedade privada reorienta e organiza o uso do lugar. Momento também em que o espaço-mercadoria se propõe para a sociedade enquanto valor de troca destituindo-o de seu valor de uso, e nessa condição, subjugando o uso, que é condição e meio da realização da vida social, às necessidades da reprodução da acumulação como imposição para a reprodução social. (...) Neste período da história, realiza-se socialmente, por meio da apropriação privada, a lógica do valor de troca sobre o valor de uso que está no fundamento dos conflitos tanto no campo quanto na cidade. Esses conflitos explicitam as estratégias que criam novos setores de atividade como extensão das atividades produtivas, pois a reprodução do ciclo do capital exige, em cada momento histórico, determinadas condições especiais para sua realização. Isso se dá, em primeiro lugar porque a ocupação do espaço se realizou sob a égide da propriedade privada do solo, em que o espaço fragmentado é vendido em pedaços, tornando-se intercambiável a partir de operações que se realizam através e no mercado, ou seja, tendencialmente produzido enquanto mercadoria.

1Atualmente, segundo os dados do Instituto Pereira Passos do censo de 2010, a XXIV Região Administrativa da Barra da Tijuca possui 300.823 habitantes, enquanto o bairro da Barra da Tijuca possui 135.924 habitantes, o que significa 45,18% da toda a população da RA.

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Dessa maneira, pode-se perceber que o espaço geográfico se torna não mais somente o lugar onde se dá a produção, mas, além disso, ele mesmo é o produto em si a ser mercantilizado e consumido. O processo de mercantilização do espaço urbano da/na cidade do Rio de Janeiro se manifestou no espaço de maneiras distintas de acordo com as diferentes conjunturas histórico-geográficas. Sendo assim, ao longo do tempo, as formas urbanas da cidade do Rio de Janeiro, assim como seus conteúdos, foram se modificando a medida que a organização social se transformava. Além disso, as racionalidades responsáveis pelas manifestações dos processos sociais, políticos e econômicos no espaço ganham novas conotações, dimensões e significados que levam, portanto, à incorporação da zona oeste da cidade, e neste caso da Barra da Tijuca, ao anterior eixo econômico principal, localizado essencialmente na área central da cidade. OBJETIVO

O objetivo deste trabalho é analisar a produção do espaço urbano carioca nos séculos XIX, XX e começos do século XXI, com o intuito de compreender as diferenças na produção do espaço nestes momentos históricos distintos. Percebe-se que a produção do espaço urbano da cidade do Rio de Janeiro em começos do século XXI é orientada pela lógica financeira, muito distinta das lógicas responsáveis pela produção do espaço nos séculos anteriores. Nessa perspectiva, faz-se uma investigação, mais direcionada, da produção do espaço urbano atualmente, com o objetivo de compreender se esta produção, que sob a lógica financeira concentrada no bairro da Barra da Tijuca, configura este bairro como um novo centro de serviços e negócios na/da cidade do Rio de Janeiro.Dessa feita, a questão que norteia este trabalho de pesquisa é saber se a zona oeste (entendida aqui como Barra da Tijuca, na medida em que é neste bairro que se concentram majoritariamente os investimentos do capital financeiro) se torna em começos do século XXI, um novo eixo econômico, concentrador da construção de espaços específicos orientados pela lógica do capital financeiro.Esta questão norteadora faz com que busquemos compreender as condições histórico-geográficas que promoveram a incorporação da zona oeste da cidade (Barra da Tijuca) ao eixo principal

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de produção do espaço da/na cidade do Rio de Janeiro, localizado antes do século XXI na área central da cidade.

METODOLOGIA

Aanálise feita no presente trabalho se fundamenta na tese desenvolvida pelo filósofo Henri Lefebvre, na qual demonstra que o espaço é socialmente produzido e sendo assim, ele é o produto das relações sociais que nele se estabelecem e do mesmo

modo são por ele estabelecidas2. As reflexões desenvolvidas pela geógrafa Ana Fani

Alessandri Carlos (2011)sobre o padrão de produção do espaço urbano sob a lógica financeira no século XXI conformam a espinha dorsal deste trabalho de pesquisa. Por sua vez, a maior parte dos dados relativos aos elementos presentes na produção do espaço urbano carioca nos séculos XIX e XX, e que constituem a base para a posterior análise, foi originada pelo geógrafo Mauricio de Almeida Abreu (2006). Além disso, o conceito de espaço desenvolvido por Milton Santos (2004)fundamenta esta pesquisa, e permite o entendimento de que o espaço se conjuga através da relação intrínseca entre os objetos geográficos e as relações sociais. Nesse sentido, entende-se que a infraestrutura urbana construída na cidade do Rio de Janeiro ao longo do tempo, e que foi a responsável pelo avanço da fronteira urbana, corresponde aos objetos criados a partir de um sistema de técnicas, historicamente determinado. Neste trabalho tambémserão analisadas algumas manifestações espaciais que revelam a possível incorporaçãoda zona oeste e mais especificamente, da Barra da Tijuca, em começos do século XXI, ao principal eixo econômico da cidade do Rio de Janeiro. Essas manifestações espaciais se formalizam nos empreendimentos imobiliários que estão sendo construídos na Barra da Tijuca. A análise desses empreendimentos é feita a partir

da apresentação de dados obtidos principalmente do Jornal “O Globo”3 e da internet.

Dessa maneira, a análise das características destes empreendimentos nos revela os padrões de construção que estão em voga neste momento de desenvolvimento do capitalismo, que são por sua vez demasiadamente diferentes dos padrões de produção

2LEFEBVRE, Henri.La production de l’espace.4.ed. Paris: Anthropos,2000.

3 N.A: Os dados foram obtidos do jornal “o Globo” em sua versão impressa, a partir da divulgação destes empreendimentos durante o período de 2011-2013.

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do espaço nos séculos XIX e XX.Deve-se ressaltar que na medida em que os processos socioespaciais responsáveis pela construção destes espaços na Barra da Tijuca estão ocorrendo hoje, em um movimento atual e constante, é necessário que recorramos a fontes atuais de notícias. Aquestão norteadora desta pesquisa foi originada a partir da observação do redirecionamento de fluxos de capital em direção a alguns bairros da zona oeste e não em direção à zona oeste como um todo. Isso ocorre na medida em que o processo de valorização do solo urbano acontece de forma heterogênea,devido à valorização diferenciada dos espaços, que promove o maior fluxo de investimentos num determinado espaço em detrimento de outro.

RESULTADOS PRELIMINARES

Além das transformações ocorridas no espaço urbano carioca por conta da chegada da família real portuguesa, a atividade cafeeira como propulsora da economia brasileira em meados do século XIX, fez com que houvesse a injeção de grande quantidade de capital comercial em outros setores da economia tal como o setor imobiliário.Dessa forma, o investimento na produção espacial garantia a reprodução continuada de capital, através principalmente da expansão da fronteira urbana. Sendo assim, o espaço da área central da cidade começou a tomar novas formas e adquirir novas funções enquanto a cidade se expandia. Abreu (2006, p.39) nos revela que de 112.695 habitantes em 1821, a cidade do Rio de Janeiro passou a ter 235.291 habitantes

em 18704, o que significa um aumento de 106,95% no número de habitantes em 49

anos.Sendo assim, as fronteiras urbanas avançaram rumo às zonas norte, sul, oeste, e Baixada Fluminense (área periférica).Em meados do século XIX, a sociedade brasileira era pautada pelo escravismo, pela economia agroexportadora e principalmente por uma estrutura política dependente, definida através do pacto-colonial. Dessa forma, a produção espacial da cidade era orientada pela racionalidade referente a esta determinada organização social. No entanto, a sociedade, assim como o espaço que ela

4 O autor se apoiou em: Brasil. Ministério do Império. Relatório do Ministério dos Negócios do Império,

Sessão Ordinária. Rio de Janeiro, TypografiaNacional,1839.Apud LOBO, Eulália Maria Lahmeyer,

História do Rio de Janeiro (do capital comercial ao capital industrial e financeiro). Rio de Janeiro, IBMEC, 1978,vol1,p.135.

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produz, está em permanente construção, havendo sempre mudanças em sua estrutura, que por sua vez reconfigura a maneira de se produzir o espaço. DoreenMassey (1990, p. 8) afirma que “precisamente porque o espaço é o produto de relações-entre-relações que são práticas materiais necessariamente embutidas que precisam ser efetivadas, ele está sempre num processo de devir, está sempre sendo feito, nunca está finalizado, nunca se encontra fechado”. Portanto, o espaço geográfico se constitui em um “sistema” social dinâmico e passível de modificações ao longo do tempo e através dos diferentes espaços.É neste sentido, observado por Massey, que a cidadea partir de meados do século XX, se transforma a partir daestrutura produtiva orientada pelo paradigma fordista, sob o aparato de Estado burocrático.Entre 1902 e 1906, o prefeito Pereira Passosremodelou a cidade de acordo com as novas estruturas econômica, política e ideológica que vigiam, modernizando o porto do Rio de Janeiro, alargando diversas ruas localizadas em seu entorno, e construindoimportantes vias de ligação entre a zona norte e a zona sul da cidade. Além disso, realizou obras de “embelezamento” da cidade e

começou a construção do Teatro Municipal5 sob o signo de modernidade parisiense. O

desenvolvimento da infraestrutura viária,ao longo do século XX, possibilitou a expansão da malha urbana em direção à zona sul, tendo como marco a abertura do túnel Santa Bárbara, inaugurado em 1963, ligando o bairro do Catumbi a Laranjeiras. No início dos anos de 1970, o Túnel Rebouças foi inaugurado, oque facilitou sobremaneira a ligação entre a zona norte e a zona sul da cidade.Além do túnel Rebouças, as obras para construção do túnel e do elevado do Joá começaram em 1967, e terminaram no começo da década de 1970. A construção destas vias de acesso foi fundamental para a

expansão da ocupação urbana em direção à Barra da Tijuca.A abertura da autoestrada

Lagoa-Barra,da rodovia Rio-Santos e a construção da ponte sobre o canal de Marapendi, estas últimas em 1964, possibilitaram o acesso a grandes extensões de terra que

garantiram a efetiva ocupação desta área6.A necessidade de expansão da cidade aliada à

5 Dados retirados de FERREIRA, Alvaro. As cidades no século XXI. Rio de Janeiro: Consequência, 2011.

6 PEREIRA, Claudia. L.A. “Segregação Urbana e as “novas classes médias”: o caso do bairro carioca da Barra da Tijuca”. Dissertação de mestrado. IPPUR. UFRJ: Rio de Janeiro, 2002. (internet).

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existência de uma imensa área disponível levou à contratação, em 1968, do arquiteto Lúcio Costa com a incumbência de elaborar o plano piloto da Barra da Tijuca e da

Baixada de Jacarepaguá, sob as orientações da arquitetura modernista7. Os espaços

livres disponíveis na Barra da Tijucae na Baixada de Jacarepaguá, além de servirem para a efetivação da expansão da malha urbana da cidade, promoviam a reprodução do

capital no espaço urbano carioca8. A urbanização já consolidada da área central da

cidade, da zona sul e também da Baixada Fluminense (deve-se atentar que a Baixada Fluminense não era o locusda reprodução do capital e sim o locusda reprodução da força de trabalho) não mais permitia a livre e desenfreada reprodução do capital nestas áreas. O fomento ao setor imobiliário ocorrido principalmente na década de 1970 na Barra da Tijuca e na Baixada de Jacarepaguá, fundou os pilares da construção massiva

de edifícios residenciais nas décadas de 1980 e 1990. O estudo9 de Abramo& Martins

(2001, s/p) acerca do tema, mostra que:

Na última década e meia temos a confirmação do processo de ocupação intensivo na Barra através das indicações das transações com apartamentos que apontam claramente nesta direção. Em 1970, apenas 0,24% das transações com apartamentos da cidade eram realizadas na Barra da Tijuca. Transcorridos vinte anos, esse percentual era da ordem de 8,32% e, em 1995, verificamos que 10,68% das transações com apartamentos ocorreram na Barra da Tijuca. Outro fator que comprova a modificação no ciclo de vida dessa região é o peso crescente das transações com imóveis comerciais no sub-mercado da cidade. Em 1995, a Barra detinha 3,37% das transações com imóveis comerciais da cidade com uma clara tendência a ganhar importância relativa nos próximos anos.

Deve-se ressaltar que os espaços para moradia construídos na Barra da Tijuca, fossem apartamentos ou casas, foram construídos sob a lógica dos condomínios fechados, espaços segregados que possuem uma dinâmica muito própria, a qual se revelaalheia à lógica do lugar no qual se inserem. No entanto, o setor imobiliário

7 Rezende, Vera F; Leitão, Gerônimo, Plano Piloto para a Barra da Tijuca e Baixada de Jacarepaguá, A avaliação dos ideais modernistas após três décadas.

8 N.A: Deve-se ressaltar que a reprodução do capital e a expansão da cidade são processos que caminham juntos e se retroalimentam, e, portanto, nesse sentido, a impulsão de um sugere a impulsão do outro e vice-versa em um processo ininterrupto.

9 ABRAMO, Pedro & MARTINS, Alice. “Análise das transações imobiliárias na cidade do Rio de Janeiro, no período 1968 -1995”. IPP/Prefeitura do Rio-IPPUR/UFRJ, Rio de Janeiro, 2001.

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investiu sobremaneira também na construção de espaços voltados para o setor de comércio e de serviços, além da construção de edifícios corporativos. A análise pretendida a partir deste estágio do presente trabalho se faz exatamente sobre a construção deste tipo de espaço. A racionalidade norteadora deste tipo de construção promove a produção de espaços que se configuram como centros integrados, que possibilitam a realização de variadas atividades em um só espaço. Inversamente, os espaços construídos nos séculos anteriores tinham uma única funcionalidade, tal como moradia ou lugar de trabalho. Assim, as pessoas precisavam se deslocar no espaço e,

portanto, se integravam mais à dinâmica urbana através de sua circulação.A construção

destes espaços no bairro da Barra da Tijuca é formalizada através do edifício corporativo, com o aluguel de seus escritórios,e através de edifícios residenciais que oferecem serviços variados. Diante da enorme quantidade de empreendimentos existentes atualmente na cidade do Rio de Janeiro, mais precisamente na região oeste da cidade, fez-se nesta pesquisa a eleição de três deles para viabilizar a análise proposta.O objetivo desta análise é compreender as racionalidades que orientam a construção destes espaços,que vão diretamente ao encontro dos processos inerentes a atual dinâmica definida pelo capital financeiro, e que por sua vez são notadamente distintas das dinâmicas responsáveis pela produção do espaço urbano carioca nos séculos XIX e XX. A seguir estão alguns exemplos de grandes investimentos imobiliários feitos na região da Barra da Tijuca:

1. “Cidade Jardim” – Este empreendimento residencialestá localizado na Avenida

Abelardo Bueno, na Barra da Tijuca/Baixada de Jacarepaguá e tem como slogan “Evoluir faz parte da vida, principalmente da sua que pode viver no Cidade Jardim”. Os benefícios oferecidos pelo incorporador são: “um bairro moderno e planejado; segurança 24 horas; amplas praças e clube; na região de maior valorização do Rio; próximo ao novo shopping Metropolitano Barra; entre outros”.

2. O empreendimento “Universe Empresarial” se localiza também na Avenida Abelardo

Bueno e está em processo de construção. Este empreendimento se localizará dentro do futuro Centro Metropolitano e conta com diversos serviços que estão já incluídos na taxa condominial que são: “concierge, central de limpeza, central de manutenção,

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controle de acesso 24 horas, segurança 24 horas, manutenção de paisagismo”, entre outros. Além destes serviços, este edifício comercial tem uma piscina coberta, uma

sauna seca e fitness completo10. Este empreendimento merece destaque na análise, na

medida em que representa as características engendradas pela lógica financeira e flexível, expressas no espaço através da construção de espaços amplos, que oferecem diversos serviços e que por isso, circunscrevem em si mesmos os indivíduos urbanos contemporâneos.

3. Não obstante, o empreendimento “Centro Metropolitano da Barra da Tijuca” é o que

merece maior destaque nesta pesquisa, devido à sua grandeza territorial e à conjugação dos elementos que simbolizam a racionalidade financeira atual. O “Centro Metropolitano” da Barra da Tijuca foi idealizado ainda em 1969 por Lúcio Costa no projeto de urbanização da Barra da Tijuca e da Baixada de Jacarepaguá. Contudo, àquela época, quando a infraestrutura urbana desta região ainda precisava ser construída com o intuito de atrair população para lá habitar, a construção de um espaço para realização de negócios era ainda ideal, e por isso não saiu do papel. Pode-se verificar a impossibilidade de construção deste tipo de espaço nos anos de 1970 pela fala de Lúcio Costa11:

Durante muito tempo ainda, deixe-se a várzea tal como está, com o gado solto pastando. E só quando a urbanização da parte restante, da Barra à Sernambetiba, se adensar; quando a infraestrutura, organizada nas bases civilizadas e generosas que se impõem, existir, e a força viva da expansão o impuser, aí então, sim, terá chegado o momento de implantar o novo centro que, parceladamente embora, já deverá nascer na sua escala definitiva.

Entretanto, em começos de século XXI, é chegado o momento ideal para a construção do Centro Metropolitano, tanto para o mercado financeiro, quanto para o

10 Deve-se notar que este edifício comercial não tem só os espaços de escritórios, mas, além disso, tem piscina, sauna e academia de ginástica, o que demonstra que os espaços estão sendo construídos com o intuito de manter e encerrar os indivíduos dentro de seus limites. Dessa maneira, grande parte das atividades que antes eram realizadas na rua, ou seja, em espaços públicos, são realizadas dentro de condomínios fechados, sejam eles residenciais ou comerciais.

11 Retirado de “O Globo” online. http://oglobo.globo.com/rio/plano-lucio-costa-os-descaminhos-da-ocupacao-da-barra-8231929#ixzz2lfq1qAsb em 28/04/13. Matéria escrita por Fabíola Gerbase, Paula Autan e Simone Candida.

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imobiliário. A área destinada para a sua construção tem quatro milhões de m² e já são erguidos shoppings, hotéis, prédios comerciais, residenciais e corporativos. A construção deste novo Centro Metropolitano é feita naAvenida Abelardo Bueno, próximo à Avenida Ayrton Senna, região central da Baixada de Jacarepaguá, onde se concentram fluxos de circulação queconfiguram este espaço como ponto estratégico para o investimento de capital. Além disso, em grande medida, este empreendimento é beneficiado pela construção nesta área das vias expressasTranscarioca e da Transolímpica. Estas vias estão sendo construídas com o intuito de conectar de forma ágil pontos geográficos estratégicos da cidade, tal qual o aeroporto internacional do Rio de Janeiro e a zona oeste. Por sinal, a via expressa Transcarioca terá suas pistas expressas localizadas na própria Avenida Abelardo Bueno. A grande disponibilidade de áreas para construção nesta região possibilita a inversão do capital financeiro no setor imobiliário. Se nas décadas finais do século XX o setor imobiliário expandiu seu capital através principalmente da construção de edifícios residenciais, em começos do século XXI, o setor imobiliário privilegia a construção de espaços corporativos. Nesse sentido, constroem-se na área do Centro Metropolitano, vários blocos de edifícios corporativos com unidades a serem alugadas. O exemplo mais simbólico da construção deste tipo de espaço é o “The City Business”, que será construído em um terreno de 100 mil m². O “The City Business” terá três torres de 1033 escritórios, uma torre corporativa e um shopping de 1000 m² com sua área quase que completamente locável.

CONSIDERACÕES FINAIS

Este projeto de pesquisa privilegiou a análise da produção de espaços que representam a racionalidade financeira, em detrimento da análise da construção de espaços orientados pelas lógicas comercial e industrial. Isso se deu pelo fato de que os processos responsáveis pela produção do espaço urbano atualmente, ocorrem hojee, portanto, sua análise se faz necessária. Sendo assim, a questão norteadora deste trabalho fica ainda sem resposta. A zona oeste (Barra da Tijuca) se configura como um novo centro econômico da cidade do Rio de Janeiro? Ao final deste trabalho de pesquisa, pode-se afirmar que o movimento de inversão do capital financeiro no setor imobiliário

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através da construção de complexos de edifícios comerciais e corporativos, nos revela a real possibilidade de haver a configuração da Barra da Tijuca como novo eixo econômico, incorporado ao eixo econômico central da cidade. A elaboração deste trabalho de final de curso de graduação possibilitou a tentativa de sistematização dos processos responsáveis pela construção do espaço urbano ao longo dos séculos XIX, XX e começos do século XXI, a qual suscitou a vontade de compreensão ainda mais profunda dos processos responsáveis pela “superprodução” de espaços sob a lógica do capital financeiro no Rio de Janeiro.

BIBLIOGRAFIA

ABRAMO, Pedro & MARTINS, Maria Alice. “Análise das transações imobiliárias na cidade do Rio de Janeiro, no período 1968 -1995. IPP/Prefeitura do Rio – IPPUR/UFRJ. Rio de Janeiro, online, 2001

ABREU, Mauricio de Almeida. A evolução urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IPP, 2006.

CARLOS, Ana Fani Alessandri. A condição espacial. São Paulo: Contexto, 2011. FERREIRA, Alvaro. As cidades no século XXI. Rio de Janeiro: Consequência, 2011. LEFEBVRE, Henri. La production de l’espace.4.ed. Paris: Anthropos,2000.

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