Pronunciamento feito pelo
Deputado Federal Francisco
Turra, do Partido Progressista
(PP), do Rio Grande do Sul,
no Plenário da Câmara dos
Deputados, dia 22 de
novembro de 2005, em apoio
ao reconhecimento do talian
como Patrimônio Imaterial do
Brasil.
Sr. Francisco Turra pronuncia o seguinte discurso:
Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,
Gostaria de iniciar minhas palavras com uma afirmação clara, nítida e irrefutável: O talian é Patrimônio Imaterial do Brasil e precisa ser preservado como cultura e tradição brasileira. A única questão que existe é saber se o título será oficializado, ou não. E não há motivo nenhum para que isso não ocorra. Afinal, são 130 anos de imigração italiana no Rio Grande do Sul e o talian já é, portanto, uma língua mais do que centenária no Brasil. E digo mais: é apenas um dos cerca de 200 idiomas existentes no Brasil. Só das nações indígenas temos, aproximadamente, 170 idiomas. As outras 30 são originárias de comunidades de descendentes de imigrantes.
O Brasil é, simplesmente, igual a 94% dos países do mundo, onde existe o plurilíngüe, ou seja, a existência de muitas línguas em uma única nação. Nas Filipinas, por exemplo, existem 160 idiomas diferentes, no México são 241, na Índia 391 e na Indonésia são expressivos 663 idiomas. Portanto, oficializar o talian como Patrimônio Imaterial é, apenas, um processo burocrático, uma ação política, um reconhecimento oficial do que existe e enriquece a cultura e a tradição brasileira.
Mesmo reconhecendo que o Brasil não é o País que podemos tomar como exemplo na perpetuação de suas
tradições e, principalmente, de idiomas. O processo de glotocídeo - que nada mais é do que o assassinato de línguas - é histórico no Brasil. Os portugueses chegaram aqui praticando o glotocídeo e o processo se perpetuou. Segundo Darcy Ribeiro, apenas na primeira metade do século XX, 67 línguas indígenas desapareceram no Brasil. Mais de uma por ano. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, existiam 1078 idiomas e, hoje, se resumem a cerca de 170, sendo a maioria delas praticamente moribundas. Estão restritas a poucos índios que, em idade bem avançada,levarão consigo a riqueza de seus idiomas. Senhoras e Senhores, o movimento de imigração, incentivado pelo governo federal do Brasil, tinha um objetivo claro e definitivo, que era o de sustentar e desenvolver as atividades econômicas brasileiras. O resultado desta política foi o melhor possível. Os imigrantes fizeram - rigorosamente - a sua parte no processo, revolucionando o campo brasileiro, acabando com a estagnada produção pastoril daquela época. Um período importantíssimo da história brasileira, que se desenrolou sob o som do talian. Os imigrantes italianos estão tão intrinsecamente ligados ao Brasil, na mesma proporção que o talian está ligado a eles. Não há como separar.
Cada grupo de imigrantes que ia para a floresta abrir novos caminhos, ou linhas (como eram chamados na época), não fazia suas picadas com foices e facões
falando o português. Conversavam em talian. Se as estradas que eles abriram para escoar a produção e promover o choque tecnológico, nos campos do Sul, foram importantes para o País, o talian se fez presente em todos os momentos. É, portanto, tão importante quanto os braços fortes que abriram as linhas, tão vibrante quanto o vento frio que queimava os rostos de nossos ancestrais. Não reconhecer a importância do talian é, portanto, não reconhecer a própria importância dos imigrantes italianos na colonização do Sul do Brasil.
Sim, Senhoras e Senhores, foram os imigrantes que transformaram a Serra Gaúcha no pedaço mais italiano do Brasil. Lutaram e trabalharam pela grandeza do Brasil, pelo bem-estar de suas famílias e conseguiram resultados expressivos. Defenderam, sim, o Brasil, falando em talian, o que é uma justificativa mais do que inquestionável para que o idioma que eles trouxeram do Vêneto e da Lombardia seja reconhecido como Patrimônio Imaterial Brasileiro.
Os imigrantes vieram para conquistar um pedaço de terra e construir um futuro. Conquistaram a terra e geraram riquezas incomensuráveis para o Brasil. Construíram um futuro, no qual o talian tem um espaço reservado e com merecido destaque. Foi falando o talian que eles se estabeleceram nas colônias imperiais da Serra, passando a ocupar regiões mais ao norte, até cruzar a fronteira do Estado. Não havia limites para esses homens valorosos,
guiados e orientados pelo idioma talian. A Serra conheceu um maravilhoso mundo novo, produzido por aqueles homens do mundo velho, que aqui chegaram falando talian. Que falaram e falam talian, motivo mais do que suficiente para justificar a importância do idioma para a história sócio, política e cultural do Brasil.
O Brasil que queremos e sonhamos em ter não é o que assassina idiomas. Não é o que exclui importantes grupos étnicos e lingüísticos de sua nacionalidade. Até porque o conceito de nacionalidade tem de ser plural e aberto à diversidade. Precisa ser mais democrático, mais enriquecedor e aceitar ser enriquecido por idiomas que têm relação intrínseca com sua história. Por tudo isso reafirmo aqui, agora, o que disse no início do meu pronunciamento: o talian é Patrimônio Imaterial do Brasil e já está sendo preservado como cultura e tradição brasileira por aqueles que falam o idioma e ajudam a difundi-lo, como os radialistas, a FIBRA-RS e até mesmo escritores e jornalistas, como Ovídio Hildebrand, autor de um artigo com o sugestivo título: Alsa la testa che te si un talian. Eu apenas complementaria o orgulho do autor, para dizer que não é apenas o italiano que precisa levantar a cabeça. O Brasil também precisa levantar a cabeça e agradecer este italiano, que tanto fez pela grandeza, riqueza e desenvolvimento do Brasil.