Curso de Extensão em SSAN: interfaces com
agroecologia e sociobiodiversidade
Curso de Extensión en SSAN: interfaces con
agroecología y sociobiodiversidad
PROFESSORAS DO MÓDULO:
» Gabriela Coelho-de-Souza
PGDR/UFRGS – Brasil
» Marcia Neugebauer Motta
UERGS/Tapes - Brasil
» Marene Marchi
Rota dos Butiazais - Brasil
» Mercedes Rivas
Universidad de La Republica - Uruguay
» Rafaela Biehl Printes
UERGS/Tapes - Brasil
» Rosa Lía Barbieri
Rota dos Butiazais - Brasil INSTITUIÇÕES DOS PESQUISADORES
EXTRATIVISMO DO BUTIÁ NO MUNICÍPIO DE TAPES/RS:
CONSERVAÇÃO PELO USO COMO ALTERNATIVA PARA O
DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL
TAPES – RS
Autor: João Luis Silva Campos Junior
Docente Orientadora: Profa. Me. Rafaela Biehl Printes
Docente Coorientadora: Profa. Dra. Margarete Sponchiado
SUMÁRIO
1
Introdução ...
5
2
Objetivos ... 6
3
Desenvolvimento Rural Sustentável ...
7
4
Metodologia ...
11
5
Resultados e Discussão ...
28
6
Conclusões ...
37
INTRODUÇÃO
Existem inúmeras espécies ameaçadas de extinção, uma delas é o Butia sp., que além de ter marcado o município na década de 70 com o uso da crina vegetal extraída das folhas do butiazeiro, continua a se fazer presente na vida de moradores antigos da região. Em parceria com a Embrapa Clima Temperado, a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, buscou avaliar a relação dos moradores locais com o uso da planta e contribuir com subsídios científicos para o fortalecimento da Rota Internacional dos Butiazais em Tapes, com foco na espécie Butia
odorata.
Nas limitações entre o município de Tapes e Barra do Ribeiro, encontra-se a maior concentração de butiazeiros preservados do Brasil, a área ocupa uma faixa de, aproximadamente, 700 hectares, com mais de 70.000 palmeiras da espécie. Atualmente, o
extrativismo local tem ganhado visibilidade na região, pois o fruto, fibras, folhas e sementes, são utilizados em diversos produtos, culinários e/ou artesanais.
A conservação pelo uso da espécie aproxima extrativistas/artesãos locais, que promovem o aprendizado como multiplicadores de saberes a partir do uso da palmeira, considerada
OBJETIVO GERAL:
Fazer um levantamento do extrativismo do butiá (Butia sp.) no município de Tapes, as áreas de coleta e os produtos confeccionados, como subsídio para o desenvolvimento rural sustentável, vinculado à Rota Internacional dos Butiazais.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
1. Identificar e caracterizar os extrativistas de butiá, envolvidos diretamente com a Rota Internacionais dos Butiazais, no município de Tapes;
2. Identificar as áreas de coleta da matéria-prima (frutos, folhas e sementes do Butia sp.) por meio de mapeamento participativo e uso de tecnologias (GPS/SIG) no município de Tapes a partir do acompanhamento dos extrativistas;
3. Caracterizar os tipos de matéria-prima utilizados e registrar os produtos confeccionados pelos extrativistas e artesãos;
4. Identificar os locais de comercialização dos produtos confeccionados com a palmeira Butia sp;
5. Identificar e caracterizar as propriedades rurais em Tapes que possuem butiazeiros e que tenham interesse em comercializar os frutos para o beneficiamento da polpa.
DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL
Com o aumento desordenado das cidades, expansão industrial, modernização da agricultura fortaleceu o descaso e o desrespeito à vida em todas as suas formas.
A natureza e a sociedade sempre estiveram conectadas de alguma forma ou outra, porém, ambas vêm sendo tratadas à parte (GRABHER, 2015).
O cultivo de alimentos, sempre foi a principal relação entre o homem e a natureza, porém, em meados do século XX, esta relação se perdeu devido à modernização da agricultura e suas tecnologias, onde o lucro ganhou força e eficiência econômica (DAL SOGLIO, 2013). Com base neste cenário, Motter (2010, p. 97) afirma que:
A aplicação das tecnologias evolui gradativamente, num primeiro momento permitem fazer algo que não poderia ser feito sem seu uso, o que proporciona a sensação de conforto para quem delas precisa e se beneficia.
Em contra partida, o extrativismo realizado em Tapes promove uma cadeia de interesses voltados ao manejo sustentável dos recursos naturais de acordo com o conceito estabelecido pela Lei de Proteção da Vegetação Nativa de n° 12.651 de 2012.
Quanto à prática do extrativismo sustentável, este se “caracteriza-se por baixos investimentos de capital e uso de tecnologias simplificadas onde a mão de obra é o principal instrumento de extração, transporte e transformação do produto” (COELHO-DE-SOUZA, 2003, p. 19).
Para Almeida (2009, p. 41), “o desenvolvimento é um processo considerado único, que leva do atraso ao moderno”, sendo assim, interpretado por grandes agricultores como um modelo “único possível e desejável”.
ETNOECOLOGIA E EXTRATIVISMO EM TAPES
É comum ver as pessoas colhendo butiá, em época de frutificação, pois além de saboroso e nutritivo, o fruto também representa uma alternativa de renda extra para muitos extrativistas e artesãos que confeccionam artigos utilitários e decorativos, da mesma maneira que são utilizados no preparo de bebidas e culinária diversificada (BARBIERI
et al., 2016).
O extrativismo local, praticado pelos artesãos que usam a matéria- prima do butiá, traz como proposta o compartilhamento de saberes e a conservação pelo uso da espécie, bem como o cuidado com o ecossistema do butiazal, único na região.
Compreende-se o extrativismo como a relação mais antiga entre o homem e a natureza, visto que esta prática se mantém presente desde o início das civilizações, antecedendo a
agricultura e a modernização das indústrias.
Segundo a Instrução Normativa de n° 17, de 28 de maio de 2009, o extrativista é “aquele que pratica o extrativismo ou o agroextrativismo”. A mesma normativa art. 3º sanciona que:
Podem ser reconhecidos como produtos oriundos do extrativismo sustentável orgânico todos
aqueles extraídos ou coletados, em ecossistemas nativos ou modificados, onde a manutenção
da sustentabilidade do sistema não dependa do uso sistemático de insumos externos (NBR nº 17 de 2009).
De acordo com a Portaria Interministerial de n°239, de 21 de Julho de 2009, art. 2, inciso II, os produtos da sociobiodiversidade são:
Bens e serviços (produtos finais, matérias primas ou benefícios) gerados a partir de recursos da biodiversidade, voltados à formação de cadeias produtivas de interesse dos povos e comunidades tradicionais e de agricultores familiares, que promovam a manutenção e valorização de suas práticas e saberes, e assegurem os direitos decorrentes, gerando renda e promovendo a melhoria de sua qualidade de vida e do ambiente em que vivem (BRASIL, 2009).
METODOLOGIA
Esta pesquisa utilizou métodos qualitativos para avaliar as relações entre os extrativistas de butiá, suas dificuldades, suas técnicas, hábitos e tendências.
Através do método Snowball sampling (Bola de Neve), foi possível identificar algumas pessoas envolvidas com o extrativismo, através de um informante.
Pelo método observação participante, foi possível analisar e acompanhar as coletas realizadas pelos extrativistas/artesãos, bem como as iguarias com o fruto, fibra e amêndoa e os produtos confeccionados com a fibra, folhas e sementes, todos analisados pelo método entrevista “semiestruturada”, assim o entrevistador teve a liberdade de explorar mais amplamente com perguntas que puderam ser respondidas em uma conversação informal.
Os locais de foram mapeados de maneira participativa, acompanhando as
atividades do extrativismo, com o auxílio de um aparelho GPS cedido pela Universidade, para espacialização das áreas de coleta pelos extrativistas.
COLETA
Apresentação de casos/experiências
COLETA
COLETA
Apresentação de casos/experiências
COLETA
COLETA
Apresentação de casos/experiências
COLETA
Apresentação de casos/experiências
ARMAZENAMENTO
Apresentação de casos/experiências
LIMPEZA
Apresentação de casos/experiências
LIMPEZA
Apresentação de casos/experiências
DESPOLPAMENTO CASEIRO
DESPOLPAMENTO CASEIRO
Apresentação de casos/experiências
DESPOLPADEIRA
Apresentação de casos/experiências
ARMAZENAMENTO/CONGELAMENTO
Apresentação de casos/experiências
PRODUTOS CULINÁRIOS
PRODUTOS ARTESANAIS
Apresentação de casos/experiências
PRODUTOS ARTESANAIS
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Até o momento foi possível identificar dez (10) extrativistas/artesãos, dentre eles, dois (02)
mirins. Entre os 10 participantes da pesquisa, oito (08) fazem parte as Associação dos Produtores da Agricultura Familiar de Tapes – APAFTAPES, sendo sua grande maioria aposentados e/ou produtor rural.
Todas as atividades de campo, até o momento, foram realizadas em carro particular. Esta
logística contribuiu fortemente com as atividades do extrativismo, visto as dificuldades e limitações enfrentadas pela idade de alguns participantes.
A aproximação entre o graduando e o público alvo, foi de grande importância para que se construísse uma relação de confiança, entre ambas as partes.
É reconhecível a importância desta atividade na vida dos participantes, pois alguns vendem
seus produtos para complementar a renda familiar, outros desempenham a atividade artesanal
por lazer, mantendo um contato mais próximo da natureza, com o intuito de repassar aos
netos e sociedade sobre a importância da conservação.
Pontos de coletas dos extrativistas
Matéria-prima Produtos
Fruto
Bolos, cucas, pastéis, coxinhas de frango, mousse, sagu, sorvete, geleias, suco, licores, compotas em calda, empada e mini pizzas.
Folhas
Anjos, arranjos, flores, cestarias, chaveiros, jogo americano, enfeites em copos e garrafas de licores, decoração em caixas de presente, decoração em utensílios antigos, tranças e tramas.
Sementes
Enfeites em abajur, enfeites de bolos (amêndoa), enfeites para chimarrão e vasos de flores.
Fibra
Abajur, cachepots, enfeites em garrafas de licores, farinha e enfeites decorativos.
Síntese dos produtos x matéria-prima
Fonte: CAMPOS-JUNIOR, 2018
CONCLUSÕES
O projeto identificou dez (10) extrativistas/artesãos, dentre eles, dois (02) mirins entre 11 e 14 anos.
A prática de retirada das folhas e cachos não difere entre os participantes, pois todos utilizam de um objeto cortante, seja um serrote e/ou um facão, para a extração da matéria-prima, porém, em apenas um (01) dos participantes mirins, foi possível registrar a extração somente dos folíolos, não havendo a presença de objetos cortantes. Apesar de ser baixo o número de participantes identificados, vale destacar que, até o
momento, não foram encontradas no município de Tapes outras pessoas envolvidas com o extrativismo de butiá, com artesanato e/ou culinária com o uso da palmeira, tampouco com as ações promovidas pela Rota Internacional dos Butiazais.
Neste período, foi possível reconhecer o interesse pela comercialização do fruto, em pequena escala, por dois (02) proprietários que mantém remanescentes de butiazais em suas terras, sendo que uma das propriedades já comercializa o fruto in natura no mercado público da cidade.
Coletas são feitas em locais de livre acesso como, por exemplo, beiras de estradas, ruas e avenidas, também são feitas em propriedades de amigos que mantém remanescentes da palmeira e não fazem o uso do fruto.
Instituições como EMBRAPA e EMATER local tem sido fundamentais neste processo de envolvimento e encorajamento das extrativistas/artesãs nesta atividade de valorização de frutas nativas.
O envolvimento das extrativistas/artesãs está fortalecendo uma rede local de estímulo para a consolidação da Rota dos Butiazais em Tapes, sendo inclusive, recentemente, o fruto do
butiá incorporado na merenda escolar da educação infantil do município, ação vinculada ao Programa Nacional de Alimentação Escolar - PNAE.
REFERÊNCIAS
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BARBIERI, R. L., et al. Vida no Butiazal / Rosa Lía Barbieri, editora técnica. – Brasília, DF: Embrapa, 2015. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). CENSO, 2010. Disponível em:
<https://censo2010.ibge.gov.br/>. Acesso em: 20 abr. 2018
GEYMONAT, G.; ROCHA, N. Butiá: Ecosistema único em el mundo. Misión Central Franciscana. União Europeia. Casa Ambiental, restituición a la Vida. 2009.
BARBIERI, R. L. A Rota dos Butiazais no Bioma Pampa: conectando pessoas e ecossistemas para a conservação e uso sustentável da biodiversidade. Embrapa Clima Temperado. Pelotas-RS, 2017. (Projeto – não publicado)
MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 6ª Edição. São Paulo-SP, Editora Atlas S.A., 2011.
MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 7ª Edição. São Paulo-SP, Editora Atlas S.A., 2010.
PENROD, J.; PRESTON, D.B.; CAIN, R.; STARKS, M.T. A discussion of chain referral as a method of sampling hard-to-reach populations. Journal of Transcultural nursing, vol 4. nº 2. April, 2003. 100-107 p.
GRABER, C. A governança e a sustentabilidade do extrativismo do jaborandi na Amazônia e transição para o cerrado e a caatinga. Tese de Doutorado, Porto Alegre/RS, 2015.
COELHO-DE-SOUZA, G. Extrativismo em área de Reserva da Biosfera da Mata Atlântica no Rio Grande do Sul: um estudo etnobiológico em Maquiné. Tese de Doutorado, UFRGS. Porto Alegre/RS, 2003.
MOTTER, A. F. C. Monocultura da eficiência capitalista. Revista Espaço Acadêmico - N° 107. Abril de 2010. ANO IX – ISSN 1519-6186.
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BRASIL. INSTRUÇÃO NORMATIVA CONJUNTA Nº 17, DE 28 DE MAIO DE 2009. Confere o art. 87, parágrafo único, inciso II, da Constituição, tendo em vista o disposto na Lei nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003, no Decreto nº 6.323, de 27 de dezembro de 2007. Normas técnicas para a obtenção de produtos orgânicos oriundos do extrativismo sustentável. República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 28 mai. 2009.
ALMEIDA, J. Da ideologia do progresso à ideia de desenvolvimento (rural) sustentável. In: ALMEIDA, J.; NAVARRO, Z. Reconstruindo a agricultura: ideias e ideais na perspectiva do desenvolvimento rural
sustentável. Porto Alegre, Editora da UFRGS, 3a ed. 2009. p. 33-55.
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