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A constituição da substância em Tomás de Aquino. Palavras-chave: Tomás de Aquino, ser, substância, essência

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A constituição da substância em Tomás de Aquino

Evaniel Brás dos Santos (Mestrando, UNICAMP/CNPq)

Resumo: Este texto expõe um tema relevante que permite Tomás de Aquino estabelecer seu discurso metafísico: a constituição da substância. A importância do tratamento desse tema em Tomás se dá, sobretudo, porque é mediante o estabelecimento dessa constituição que Tomás formula um novo sentido para a noção de substância, diferente daquele extraído dos textos redescobertos de Aristóteles e interpretados nas universidades medievais, no século XIII, qual seja, a substância se constitui de matéria e forma. Diferentemente dessa interpretação, Tomás postula que a substância é constituída, além de matéria e forma, de ato de ser. Nessa medida, este texto apresenta como Tomás lida, em sua recepção da filosofia da natureza de Aristóteles, sobretudo com a afirmação da natureza como princípio e causa que, a partir de um substrato eterno, provoca o movimento e a mudança cuja principal é a substancial, isto é, a geração e a corrupção, a qual não pode ocorrer ex nihilo (a partir do nada), mas a partir de algo. A consequência direta desse modo de pensar a mudança substancial é a concepção segundo a qual o vir-a-ser da substância não pode ocorrer por criação. Tomás ao se deparar com essa discussão aristotélica estabelece que ela só em parte é verdadeira, pois sustenta ser passível de demonstração racional, além da geração, a criação da substância.

Palavras-chave: Tomás de Aquino, ser, substância, essência

O objetivo deste texto é expor como Tomás de Aquino estabelece a constituição da substância na Summa contra Gentiles, II, 53-54. Para tanto, este texto se divide em duas partes. Na primeira, exporemos os termos mediante os quais podemos compreender a constituição da substância em Tomás. Subsequentemente, analisaremos o sentido da constituição da substância.

A importância do tratamento da constituição da substância feita por Tomás se dá, sobretudo, devido sua concepção segundo a qual além da geração, é possível demonstrar filosoficamente a criação da substância.1 Para tanto, Tomás formula uma compreensão

1 “Sic ergo ratione demonstratur et fide tenetur quod omnia sint a Deo creata”. “Portanto, a razão demonstra e a fé sustenta que todas as coisas foram criadas por Deus”. (Quaestiones

Disputatae de Potentia Dei, questão 3, artigo, 5, resposta. Doravante citada assim: QDP, q. 3, a.

5, resp.). “Respondeo quod creationem esse non tantum fides tenet, sed etiam ratio demonstrat”. “Respondo que não somente a fé sustenta a criação, mas a razão também a demonstra”. (Scriptum super libros Sententiarum, II, distinção 1, questão 1, artigo 2, resposta. Doravante

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da noção de substância diferente da predominante em sua época, qual seja, esta extraída dos textos redescobertos de Aristóteles e interpretados nas universidades: substância é um composto de matéria e forma.2 Para mostrar filosoficamente que a substância é criada, Tomás tanto estabelece um novo componente na noção de substância, além desses dois, a saber, o ato de ser (esse/actus essendi) que atualiza a forma, e a matéria mediante a forma, os quais são considerados como potência, quanto postula que esses componentes são realmente distintos e, ademais, porque distintos, efeitos de uma causa eficiente:

[...] tudo o que existe num ente, sem lhe constituir a essência, deve ser causado pelos princípios desta, como acidentes próprios resultantes da espécie. Assim, a faculdade de rir resulta do ser humano e é causada pelos princípios essenciais da espécie. Ou, então, deve ser causado por algum ser exterior: assim, o calor da água é causado pelo fogo. Por onde, sendo o ser mesmo do ente diferente da sua essência, é necessário seja esse ser causado por algum ser exterior, ou pelos princípios essenciais do referido ente. Ora, é impossível seja ele causado somente pelos princípios essenciais deste, pois, nenhum ente cujo ser é causado é suficiente para ser causa de seu próprio ser. Portanto e necessariamente, o ente cujo ser difere da essência, há de ter o ser causado por outro ser. Mas, isto não se pode dizer de Deus, pois, já provamos ser ele a causa eficiente primeira. Logo, é impossível que, em Deus, o ser seja diferente da essência. [...] porque o ser é a atualidade de toda forma ou natureza; assim, a bondade ou a humanidade não são atuais senão quando as supomos existindo. Necessariamente, pois, o ser está para a essência, da qual difere, como o ato para a potência.3

citado assim: In II Sent., d. 1, q. 1, a. 2, resp.) Cumpre esclarecer que para Tomás há uma distinção entre a pergunta pela origem e pelo início da criação. A pergunta pela origem diz respeito a investigação cujo foco é saber se há uma causa para a existência das coisas, tendo como resposta a afirmação segundo a qual todas as coisas dependem ontologicamente de Deus tido como causa eficiente. A pergunta pelo início se refere a uma investigação que busca saber se houve um primeiro instante para a criação, isto é, se a criação se deu no tempo ou não. A demonstração racional afirmada por Tomás nas passagens citadas, diz respeito a pergunta pela origem, pois para a pergunta pelo início não há demonstração racional: é possível sustentar filosoficamente tanto um início quanto um não início para a criação. Para mais detalhes dessa discussão, ver o restante do artigo citado: In II Sent., d. 1, q. 1, a. 2, resp. Ver também: WILKS, 1994, pp. 299-329; CROSS, 2006, pp. 403-416; BALDNER, 1979, pp. 21-40.

2 Cf. STEENBERGHEN, 1991, pp. 140-172.

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Nessa passagem, mediante as noções de ato e potência, Tomás expõe quatro teses: o ser do ente é diferente (distinto) da essência; o ser do ente é causado por uma causa externa; Deus é a causa eficiente do ser do ente; em Deus ser e essência se identificam. O foco da passagem é esta afirmação: “o ente cujo ser difere da essência, há de ter o ser causado por outro”.4

A ação de causar os componentes que constituem a substância é compreendida por Tomás como criação: “Deus simultaneamente ao dar o ser produz aquilo que recebe o ser e, assim, não é necessário que atue a partir de algo preexistente”.5 Conforme essa passagem,

podemos compreender que criação para Tomás é a ação cujo efeito é o ser e o recipiente do ser, isto é, o “o que é”, a substância. Nessa medida, a noção de criação pressupõe discussões prévias sobre a noção de substância e sobre a noção de causalidade. No que se refere à noção de substância, há nos textos de Tomás uma discussão mais geral sobre o sentido dos componentes que a constitui e, uma discussão mais específica sobre a relação entre esses componentes, ou seja, a distinção entre eles. No que segue trataremos apenas do primeiro ponto a partir da exposição das noções usadas por Tomás nessa discussão.

As noções mais gerais a partir das quais Tomás estabelece a constituição da substância são as noções de ato e potência. Essas noções são ditas mais gerais porque elas se aplicam a todas as outras noções. Ato é compreendido por Tomás como o que já é, illud quod iam est, isto é, a atualidade e, a potência, por sua vez, é tida como o que pode ser, illud quod potest esse.6 O uso do verbo no presente se referindo ao ato, tem por função, realçar o sentido do termo que não possui uma definição em sentido estrito,

4 A noção de ente (ens) possui dois sentidos em Tomás, um mais geral e outro específico. Quanto ao primeiro sentido ente significa ser. Nesse sentido, ente é tido como a noção mais geral apreendida pela razão como noção primeira que é pressuposta por todas as outras noções na busca pelo conhecimento. (Ver: Summa contra gentiles, Livro II, capítulo 83, parágrafo 1678. Doravante citada assim: SCG, II, 83, 1678; AERTSEN, 2003, p. 254). Quanto ao segundo significa substância, ou seja, a consequência da relação entre ser e essência. (Vide: AERTSEN, 2003, p. 258).

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sendo compreendido como a atualidade de uma coisa.7

Convém notar que tido “atualidade” é o primeiro e principal sentido do termo ato em Tomás. Porém, esse termo também possui outro sentido, qual seja, a ação, isto é, a atualização de uma potência: “O que inere a uma coisa vinda do agente deve ser ato, pois é próprio do agente fazer algo em ato”.8 Nesta afirmação, o agente faz algo em ato, podemos compreender os dois tipos de ato afirmado acima. Um que dá a condição para o agente agir. O outro é a operação do agente: “O ato, no entanto, é duplo: primeiro e segundo. O ato primeiro é a forma e a integridade da coisa; o ato segundo é a operação”.9 Portanto, para causar um efeito o agente precisa possuir um ato, sua forma e sua integridade (integritas).10 Essa integridade não é, por si mesma, passível de percepção, porém, pode ser compreendida por meio das ações,11 as quais possibilitam a compreensão do ato primeiro, dado que é possível perceber um agente agindo, isto é, o ato segundo.12

A noção de potência, compreedida como o que pode ser, significa a possibilidade

6 “[...]algumas coisas podem ser, embora elas não sejam, enquanto outras na verdade são. O que pode ser (illud quod potest esse) se denomina ser em potência; o que já é (illud quod iam est) se denomina ser em ato. Porém, duplo é o ser: o ser essencial ou substancial da coisa, como ser homem, é ser simplesmente; o outro é ser acidental, como o homem ser branco; e isso é ser outro”. (De principiis

naturae ad fratrem Sylvestrum, p. 39. Doravante citado assim: DPN).

7 Cf. ELDERS, 1993, pp. 162-163.

8 SCG, II, 53, 1284.

9 ST, Ia, q. 48, a. 5, resp.

10 Cf. AERTSEN, 1998, p. 259.

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de um ato, seja um ato primeiro ou segundo. Todavia, Tomás enfatiza a relação da potência com o ato primeiro. 13 Essa relação, como afirmamos anterioremente, possui duas vias de investigação:

Entre o ato e a potência há tal ordem que, embora em uma mesma coisa que está às vezes em ato e às vezes em potência, a potência tenha prioridade de tempo sobre o ato, não obstante ter o ato a prioridade de natureza, contudo, simplesmente falando, é necessário que o ato tenha prioridade sobre a potência, o que se verifica ao se considerar que a potência não é reduzida a ato senão por um ente em ato.14

Nessa relação entre o ato e a potência, o ato é dito mais excelente do que a potência,15 dada a prioridade de natureza do ato com relação à potência, pois o que pode ser, a potência, só se efetiva mediante o que já é, o ato. Essa anterioridade de natureza do ato sobre a potência é afirmada pela investigação denominada por Tomás de per viam perfectionis cuja ênfaze dá se na noção de dependência no ser. Tomás explica essa via paralelamente a explicação de outra via de investigação da relação entre o ato e a potência, per viam generationis, cuja ênfase dá se na noção de tempo.

Ambas as vias articulam estes pares de termos: ato-potência, completo-incompleto, causa-efeito, perfeito-imperfeito, matéria-forma:

12 Cf. GILSON, 2006, p. 120.

13 “[...] compara-se a potência como o ato segundo para o ato primeiro”. (SCG, II, 9, 900).

14 SCG, II, 16, 942.

15 “Em cada gênero o ato é mais excelente do que a potência com relação a este gênero”. (In II Sent., d. 44, q. 1, ad 2).

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Algo é dito anterior a outro na geração e no tempo e, novamente, na substância e no complemento. Como, portanto, a operação da natureza procede do imperfeito para o perfeito e do incompleto para o completo, o imperfeito é anterior ao perfeito na geração e no tempo, porém o perfeito é anterior ao imperfeito na substância. Assim como pode ser dito que o homem é anterior ao menino na substância e no complemento, enquanto o menino é anterior ao homem na geração e no tempo. Mas, embora nas coisas geráveis o imperfeito seja anterior ao perfeito e a potência seja anterior ao ato – considerando que em uma e mesma coisa haja anterioridade do imperfeito sobre o perfeito, e da potência sobre o ato – simplesmente falando convém que o ato e o perfeito sejam anteriores; porque o que reduz a potência ao ato, é, em si mesmo, ato, e o que reduz o imperfeito a perfeito, é, em si mesmo, perfeito. A matéria, com efeito, é anterior a forma na geração e no tempo; aquilo do que algo se torna é anterior ao que se torna. Porém, a forma é anterior a matéria na substância e no ser completo (completo esse), porque a matéria não possui ser completo senão pela forma.16

No intuito de compreendermos essa passagem e as duas vias nela exposta, iniciemos considerando as noções de natureza e geração e, ademais, o sentido e a necessidade desta afirmação: a operação da natureza procede (operatio naturae procedat) do imperfeito para o perfeito e do incompleto para o completo.

A noção de natureza é caracterizada por Tomás, dentre outros modos,17 como causa de mudança substancial, isto é, de geração e corrupção. A explicação, tanto da natureza como causa de geração quanto da própria geração, é feita por Tomás a partir de três termos: “[...] para haver geração, são requeridos três coisas, a saber, ser em potência, que é a matéria; o não ser em ato, que é a privação; e aquilo pelo qual (id per quod), o ato é reduzido, isto é, a forma”. 18 Nessa passagem, a noção de matéria,

16 DPN, p. 44.

17 Cf. Commentaria in libros Physicorum, livro II, Lição 1, parágrafos 141-147. Doravante citado assim: In Physica, lib. II, Lect. 1, 141-147. Em sua análise da noção de natureza, Tomás segue esta definição de Aristóteles: “[...] natureza é um princípio e causa pelo qual aquilo em que primeiramente se encontra move-se ou repousa em virtude de si mesma e não em virtude de um atributo concomitante”. (ARISTOTELES, Física, II, 1, 192b 20-23).

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enquanto ser em potência, pode ser compreendida como sujeito ou substrato permanente que torna possível as ações. A privação, o não ser em ato, diz respeito ao fato do sujeito está em potência para qualquer forma, pois estando informado por uma determinada forma, per hoc forma, está privado de uma outra, não obstante seja capaz de adquiri-la, donde o sentido do não ser atribuido ao ex nihilo, a ausência de sujeito, ser diferente do sentido do não ser atribuído ao sujeito, o não ser permanente.19 Quanto a noção de forma, presente na passagem supracitada, diz respeito a forma da causa eficiente, o id per quod se dá o início da geração de uma determinada substância, hoc substantia. Todavia, a forma também é dita o término da geração quando é atribuída ao efeito da causa eficiente.20 Nos dois casos a potência deve preceder temporalmente o ato, ou seja, a matéria precede temporalmente a causa eficiente e a forma adquirida no término da geração. Isso porque, quando a causa eficiente dá início a redução da potência ao ato, ela assim o procede, a partir do ser em potência que é a matéria, sendo a forma do efeito adquirida no término da geração. Portanto, per viam generationis, é dito que a potência precede temporalmente o ato e, ademais, a matéria precede a forma, o imperfeito ao perfeito e incompleto ao completo.

Entretanto, as noções de início e término, bem como de redução, carecem de precisão, pois é dito por Tomás que a geração ocorre a partir de uma via,21 e que ela é um motus (movimento),22 não obstante também poder ser dita que é instantânea, dado

19 “E, porque, a geração não é um vir-a-ser (fieri) a partir do não ser simplesmente, mas a partir do não ser que está em algum sujeito (subiecto), e não em qualquer um, mas um determinado, assim como não é a partir de qualquer não fogo que vem-a-ser (fit) o fogo, mas a partir deste não-fogo [...]”. (DPN, p. 40).

20 “O que está em potência não pode reduzir-se a si mesmo ao ato, como o cobre que é ídolo em potência, não se reduz a si mesmo a ídolo, mas necessita do agente, que reduz a forma do ídolo da potência para o ato. A forma não pode reduzir-se a si mesma da potência para o ato. E digo da forma gerada que dissemos ser o término da geração”. (DPN, pp. 41-42). Anteriomente Tomás havia afirmado: “São, portanto, três princípios da natureza, a saber, matéria, forma e privação; o segundo, isto é, a forma, é o aquilo para o que é a geração (est id ad quod est generatio)”. (DPN, p. 40).

21 “Ademais, toda forma substancial requer uma própria disposição na matéria, sem a qual ela não poderá ser [existir]; donde a alteração ser o via para a geração e a corrupção”. (De mixtione elementorum

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que ela ocorre a partir de contraditórios e não de contrários.23 Todavia, como o movimento é medido pelo tempo,24 há início meio e fim para o movimento, ou seja, ele é sucessivo. Isso parece incompatível com a afirmação segundo a qual a geração é instantânea, pois não há uma medida para o instante, além de não haver um intermediário entre o ser e o não ser. Para lidar com essa dificuldade, Tomás postula que há dois tipos de geração: a relativa e a simples. A relativa é a alteração, ou seja, a introdução, medida pelo tempo, de formas acidentais em um sujeito. Assim sendo, quando se diz que há um início para a geração, isso diz respeito a geração relativa, isto é, as séries de movimentos, sejam quantitativos, qualitativos e de lugar, iniciados por causas eficientes. Quando essas séries culminam no engendramento de uma forma substancial na matéria, ocorre a geração simples. Isso, só pode ocorrer, no derradeiro instante da última série de movimentos, donde ser dito, a partir da percepção, que a geração simples é instantânea, pois, embora a forma substancial não seja, por si mesma, passível de percepção,25 baseado na percepção dos acidentes, é possível afirmar o aparecimento de novas substâncias. Como o exato sentido da passagem do não ser ao ser que culmina na geração simples não é acessível a razão humana, muito embora ela

22 “E, porque, a geração é um movimento para a forma (Et quia generatio est motus ad formam), a duplicidade da forma corresponde a duplicidade da geração: a forma substancial corresponde a geração simples; a forma acidental a geração relativa (secundum quid). Quando a forma substancial é introduzida, é dito que algo é feito simplesmente, assim como dizemos: homem feito ou homem gerado. Entretanto, quando é introduzida uma forma acidental, não é dito que algo simplesmente é feito, mas que é feito isto; como quando o homem é feito branco, não dizemos que o homem é feito simplesmente ou gerado, mas que é feito ou gerado branco”. (DPN, p. 39).

23 “Portanto, se as formas dos elementos fossem susceptíveis de mais e de menos, tanto a geração quanto a corrupção seriam movimentos contínuos. O que é impossível. Pois, o movimento contínuo não diz respeito senão a três gêneros, a saber, a quantidade, a qualidade e ao lugar, como é provado no quinto livro da Física”. (DME, p. 156).

24 Cf. SCG, II, 19, 959; ST, Ia, q. 46, a.1, ad 7.

25 “nenhuma forma substancial é sensível em si mesma, visto que a quididade é o objeto do intelecto”. (ST, Ia, q. 67, a. 3, resp.).

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ocorra, Tomás afirma que a geração simples é quaedam mutatio do não ser ao ser.26 A partir desses dois sentidos da noção de geração, podemos compreender a afirmação de Tomás segundo a qual a operação da natureza procede do imperfeito para o perfeito e do incompleto para o completo. Isso se explica, porque, quando causa a mudança substancial, a natureza opera a partir dos movimentos acidentais, incompletos e imperfeitos. Ou seja, além de ser uma passagem da potência ao ato, o movimento é sucessivo e se dá a partir de contrários, situado nas outras categorias, em direção a mudança substancial, situada na categoria da substância, completa e perfeita porque não possui contrários a ela.27

A noção de perfeição atribuída a substância diz respeito a outra via de investigação da relação entre o ato e a potência, per viam perfectionis. Per viam generationis é dito que a potência precede temporalmente ao ato, assim como o imperfeito, o incompleto e a matéria, precedem temporalmente o perfeito, o completo e a forma. Diferentemente, per viam perfectionis é dito que o ato precede por natureza a potência, assim como o perfeito, o completo e a forma, precedem por natureza o imperfeito, o incompleto e a matéria. Isso se justifica a partir da noção de dependência no ser a qual pode ser exposta mediante a análise deste trecho contido na passagem que estamos buscando compreender: a forma é anterior a matéria na substância e no ser completo (completo esse), porque a matéria não possui ser completo senão pela forma.

As noções de forma, matéria e ser completo são compreendidas por Tomás como os componentes mais basilares da substância. A noção de ser completo é atribuída propriamente a forma e significa o ato primeiro, a atualidade, que a forma possui por si mesma e não por um mediador. Nessa medida, a forma comunica o ato primeiro a matéria que depende da forma para possuir atualidade, dado que, por si mesma, ela é ser em potência. Como a matéria depende da forma para possuir atualidade na substância é dito per viam perfectionis que a forma é anterior em natureza a matéria. Ademais, a

26 DPN, p. 40.

27 “[...] os ditos do Filósofo que afirma nas Categorias que nada é contrário a substância, e que ela não é suscetível de mais e de menos”. (DME, p. 157).

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atualidade precede em natureza a forma, pois na substância a atualidade não se identifica com a forma, pois a forma é compreendida como potência quando relacionada com a atualidade. Portanto, os constituintes da substância possuem uma ordem de dependência ou uma anterioridade: a forma depende da atualidade e a matéria depende da forma e da atualidade, sendo a substância a consequência dessa relação. Isto é, per viam perfectionis a substância é considerada como algo já constituído, perfeito, isto é, a substância é concebida como completa e acabada, sendo analisada sem referência a temporalidade e as circunstâncias que acarretam em sua geração, visto que isso é feito per viam generationis.

Como ilustração do vínculo entre essas duas vias de investigação, Tomás oferece o exemplo do menino e do homem ao postular que o homem é anterior ao menino na substância e no complemento, enquanto o menino é anterior ao homem na geração e no tempo.

Nesse exemplo, menino e homem, dizem respeito a uma e mesma coisa em perspectivas diferentes. Numa é dito que o menino, ser em potência, é anterior ao homem, ser em ato, na medida em que está ocorrendo as séries de movimentos acidentais. Quando esses movimentos cessam, ou seja, quando ocorre o ponto culminante, há o engendramento da forma substâncial na matéria. Nessa medida, partindo da consideração desse engendramento é possível afirmar, noutra perspectiva, que não há mais menino, ser em potência, somente homem em ato, a razão do ser em potência do menino e, que, portanto, o precede na substância. Porém, é dito que o homem não somente precede o menino na substância, mas também no complemento. Essa noção refere-se a forma substancial que, embora não possua um mediador, não se identifica com seu ato primeiro, sendo, portanto, compreendida como incompleta, isto é, como ser em potência. Assim sendo, o ato primeiro da forma substancial é o complemento da substância, visto que é o ato primeiro da substância que a completa tornando possível que o ser (esse) lhe seja atribuído.

Convém analisarmos o vínculo entre as noções de ato primeiro e ser, pois é mediante essas noções que Tomás compreende o complemento da substância:

Com efeito, em tudo em que há dois algo dos quais um é complemento do outro, a proporção deles entre si é como a proporção do ato pela potência, porque nada se completa senão pelo seu ato próprio. [...]. O ser é complemento da substância que existe

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(esse est complementum substantiae existentis), porque cada coisa está em ato porque tem ser.28

A noção de ato próprio, nesse texto, equivale à noção de ato primeiro, visto que Tomás, não está tratando da operação. Quanto à noção de “proporção”, esta não possui sentido quantitativo e temporal, uma vez que não se trata de uma relação passível de mensuração e sucessão, a relação entre o ser, compreendido como ato, e a substância, compreendida como potência. Ademais, a noção de ser, na passagem supracitada, é a justificativa dada para a afirmação segundo a qual a substância possui ato. Isso também é feito por Tomás em outro texto: “O ser inere às substâncias causadas como um certo ato delas”.29 Nessa medida, a noção de ser é compreendida por Tomás a partir da noção de ato. Tomás usa a expressão “um certo” para dizer do ato que se refere ao ser. Essa expressão pode ser lida como uma referência ao ato primeiro.30 Compreendido dessa maneira, o ser (esse)31 enquanto ato primeiro, é dito actus essendi, ato de ser,ou seja, “[...] ato de todos os atos, perfeição de todas as perfeições”.32 Convém esclarecer que na primeira parte desse texto, “ato de todos os atos”, a expressão “todos os atos” pode ser pensada tendo como referência a noção de “ato segundo”. Além disso, na segunda parte, a expressão “todas as perfeições” pode ser pensada como se referindo aos constituintes de uma essência, p. ex., matéria e forma que constitui uma essência, que por sua vez, ao

28 SCG, II, 53, 1283.

29 SCG, II, 53, 1284.

30 “Além disso, o termo ser designa um ato. Uma coisa não é designada pelo termo ser por está em potência, senão por estar em ato”. (SCG, I, 22, 208).

31 Doravante traduziremos “esse” como “ato de ser”.

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relacionar-se com o ato de ser constitui uma substância física, e faz dessa um sujeito para o ato de ser.

Tomás usa os adjetivos “íntimo”, “profundo”, e o particípio “recebido” para esclarecer a noção de ato de ser. Quanto ao uso dos adjetivos, Tomás afirma que, nas substâncias, o ato de ser é “[...] aquilo que há de mais íntimo [...]; o que há de mais profundo em todas elas [...]”.33 No que diz respeito ao uso do particípio, Tomás escreve:

O ser em si [ato de ser] é o mais perfeito de todos por atualizar a todos; pois, nenhum ser é atual senão enquanto existente. Por onde, o ser em si é o que atualiza todos os outros e, mesmo, as próprias formas. Por isso, não está para outros como o recipiente para o recebido, mas, antes, como o recebido para o recipiente.34

O ser em si, o ato de ser, de acordo com a passagem citada, não pode ser recipiente porque o recipiente pressupõe o recebido. Nessa medida, se fosse dito do ato de ser que ele é recipiente, haveria um pressuposto para ele. Assim, seria preciso Tomás estabelecer o recebido para o ato de ser. Isso torna-se desnecessário se recebido for tido como ato primeiro e recipiente como potência, visto que na relação entre potência e ato primeiro, é a potência que pressupõe o ato primeiro. Assim sendo, o ato de ser pode ser dito o recebido no recipiente.

Tomás afirma que o recipiente próprio do ato de ser é a substância completa: “[...] substantia completa est proprium susceptivum ipsius esse”.35 Porém, essa afirmação só tem sentido se compreendida per viam perfectionis, pois compreendê-la per viam generationis é propor-se a pensar no absurdo, por esta razão: dizer da substância completa como recipiente próprio do ato de ser per viam generationis seria preciso

33 ST, Ia, q. 8, a. 1, resp.

34 ST, Ia, q. 4, a. 1, ad 3.

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pensá-la como incompleta em algum momento do tempo, isto é, sem o ato de ser. Isso seria um absurdo porque não pode haver no mundo nem substância sem ato de ser, tampouco ato de ser sem substância. Todavia, compreendida per viam perfectionis significa que todos os componentes que constituem a substância, ou estão nela sem serem constituintes, como os acidentes, encontram-se em relação com o ato de ser, seja por si mesmo, como a forma, seja mediado por um outro, como a matéria e os acidentes. Esses componentes, sobretudo os constituintes, fazem da substância um composto e, ademais, ser denominada como “o que é”.

Tomás estabelece que há dois tipos de composição: “A composição de matéria e forma e a de substância e ser” que “não são da mesma natureza, embora haja em ambas potência e ato”.36 Essas duas composições são afirmadas para a compreensão das constituição da substância física e, a segunda, para a substância intelectual. A despeito das substância física, Tomás escreve:

Além disso, porque o ser está como ato para a forma, pois por esse motivo, nos compostos de matéria e forma, a forma é dita princípio do ser, porque é complemento da substância, cujo ato é o ser, como por exemplo, a transparência é o princípio da luminosidade para o ar, porque o faz ser sujeito (subiectum) próprio da luz. Logo, nos compostos de matéria e forma, nem a matéria, nem a forma podem ser ditas o que é, nem ser. Todavia, a forma pode ser dita pelo qual é (quo est) a coisa, enquanto princípio do ser; mas a substância toda (tota substantia) é o que é (quod est), e o ser é aquilo que faz a substância denominar-se ente (ens)”.37

A substância física, de acordo com a passagem acima, é uma unidade composta de três componentes, matéria, forma e ato de ser. Como a matéria é ser em potência,38 a

36 (SCG, II, 54, 1287). Embora seja dita uma composição, não é possível formar uma imagem do que seja a composição de ser e substância (e de ser e essência). Cf. te VELDE, 2006, p. 146.

37 SCG, II, 54, 1291.

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forma é dita ato e perfeição da matéria.39 Enquanto componentes de uma composição, matéria e forma relacionam-se. Quando unidas pelo ato de ser, matéria e forma constituem a essência da substância física, ou seja, da relação do ato de ser com a forma, mediado pela matéria, tem-se uma substância física. Por conseguinte, as noções de essência e substância, embora aparentemente sejam equivalentes,40 não possuem o mesmo significado. Além da substância ser compreendida como consequência da relação entre ato de ser e essência, dois termos reforçam essa não equivalência, a saber, acidente e sujeito (subiectum). O acidente está na substância, mas não em sua essência. Por conseguinte, podemos compreender esta afirmação contida na passagem citada: “ipsa autem tota substantia est ipsum quod est”. O termo “tota” inclui na substância os acidentes na medida em que a expressão tota substantia41 é lida tendo como referência a afirmação segundo a qual o acidente tem função, a saber, determinar uma substância a ser de um modo específico. Assim sendo, tota substantia, designando a consequência da relação entre o ato de ser e a essência, mais a determinação do acidente, é

39 “Ora, a forma é mais nobre que a matéria, porque é a perfeição e o ato dela”. (SCG, II, 41, 1172).

40 “[...] na medida em que o termo substância, que corresponde a hipóstases dos gregos, é comumente usado entre nós significando essência”. (ST, Ia, q. 29, a. 3, ad 3).

41 Existe uma discussão sobre a possibilidade de Tomás atribuir a Aristóteles a tese da criação. Essa discussão está centrada na expressão “tota substantia” que pode ser lida tanto no âmbito da geração como da criação. Para afirmar ou negar essa possibilidade alguns comentadores baseiam-se em ST, Ia, q. 44, a. 2, resp. Os comentadores que afirmam tal possibilidade a partir de ST, Ia, q. 44, a. 2, resp., são: JOHNSON, 1989, pp. 129-155. DEWAN, 1994, pp. 363-387. DEWAN, 1991, pp. 81-90. BALDNER, 1979, pp. 6-20. Outros negam: PEGIS, 1946, pp. 159-168. HAUSER, 2000, pp. 1-36. AERTSEN, 1996, pp. 12- 37. GILSON, 2006, pp. 85-113, OWENS, 1963, pp. 466-469. Todavia, essa discussão não está restrita a ST, Ia, q. 44, a. 2, resp. e a expressão “tota substantia”, muito embora esteja vinculada diretamente com essa expressão. Sorabji argumenta que Tomás atribui a tese da criação a Aristóteles baseado na perfeição do movimento celeste: SORABJI, 1990, pp. 181-198. Iskenderoglu afirma que Tomás atribui a tese da criação a Aristóteles partindo do princípio segundo o qual Tomás precisava harmonizar o conteúdo bíblico com a física e metafísica de Aristóteles: ISKENDEROGLU, 2002, p. 160. Steenberghen embora afirme que Aristóteles tinha uma “idéia geral” da criação que ele não desenvolveu, nega tal possibilidade baseado no Comentário de Tomás a metafísica de Aristóteles: STEENBERGHEN, 1974, pp. 554-568. Storck também baseado no Comentário a metafísica de Aristóteles nega tal possibilidade: STORCK, 2006, pp. 59-83.

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compreendida por Tomás como o que é.

Todavia, nessa compreensão da noção de “o que é”, Tomás pressupõe a noção de sujeito. Isso porque o sujeito tido como recipiente é a condição necessária para que haja relação, dado que a relação se dá entre os componentes de um composto onde o recipiente está disposto para o recebido. Ademais, no que diz respeito a substância física “sujeito” pode ser dito para a essência e para a substância:

[...] nas substâncias compostas de matéria e forma há dupla composição de ato e potência; uma, é a da própria substância que, se compõem de matéria e forma; outra, da mesma substância que já é composta e ser, composição que também pode ser exposta assim: o que é e ser, ou o que é e pelo qual é (ex quod est et esse; vel ex quod est et quo est).42

Na passagem citada, podemos interpretar que há duas instâncias da mesma relação na constituição da substância, visto que Tomás afirma haver dupla composição de ato e potência na constituição da mesma substância. Como em toda relação é necessário um sujeito para a relação, muito embora não haja multiplicidade de sujeitos na mesma relação que constitui a substância, dada sua unidade. A primeira instância da relação diz respeito a expressão: “uma, é a da própria substância que, se compõem de matéria e forma”. Nessa primeira instância, numa ordem de natureza, relacionam-se o ato de ser e a forma mediado pela matéria, ou seja, a relação do ato de ser com a essência. Nessa instância, o sujeito da relação é a própria essência, dado que, nessa instância, ela é o recipiente do ato de ser. Como consequência, numa ordem de natureza, dessa primeira instância da relação, tem-se a substância. Partindo disso, podemos ler esta expressão: “outra, da mesma substância que já é composta e ser”. Ou seja, numa segunda instância da relação à substância recebe o ser enquanto sujeito dessa segunda instância da relação. Por conseguinte, podemos afirmar que para Tomás, subsumido no termo “o que é” estão as noções de essência, substância e sujeito que nas substâncias físicas formam uma dupla composição.

No que diz respeito a compreensão da constituição da substância intelectual, apenas o segundo tipo de composição, de substância e ser, é aplicado por Tomás:

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No entanto, nas substâncias intelectuais que não são compostas de matéria e forma, como acima foi demonstrado (cap. 50-51), nelas a forma é substância subsistente e é o que é (est quod est); o ser, porém, é o ato pelo qual é. Por este motivo, há uma só composição nas substâncias intelectuais, a de ato e potência, composição denominada por alguns de o que é e ser (quod est et esse) , ou o que é e pelo qual é (quod est et quo est).43

Conforme a passagem acima, uma substância intelectual é dita forma subsistente (formae subsistentes), onde “forma” é compreendida como potência e “subsistente” a partir da negação da presença da matéria que mediaria à relação do ser com a forma, donde ela ser dita “intelectual” por esse caráter de imaterialidade. Assim sendo, a forma de uma substância intelectual é o próprio sujeito44 da relação com o ato de ser.45 Ademais, parece que só temos duas possibilidades de dizer da essência dessas substâncias. Ou a essência é a própria forma, o que resultaria na afirmação segundo a qual as noções de substância, essência, forma e sujeito seriam sinônimas quando usadas para discursar sobre as substâncias intelectuais.46 Ou a essência seria tida como diferente da substância, todavia, não acessível ao conhecimento humano. Numa ou noutra alternativa a forma é compreendida como a substância e “o que é”, como consta na passagem supracitada: forma est substantia subsistens, forma est quod est. Por conseguinte, numa primeira leitura, o termo “o que é” não poderia ser tratado num mesmo contexto para referir-se aos dois tipos de substância, dado que na substância física ele é compreendido a partir da não equivalência entre estes termos: substância,

43 SCG, II, 54, 1293-94.

44 Cf. TOMARCHIO, 2006, p. 5.

45 Cf. te VELDE, 1995, p. 150.

46 Cf. De ente et essentia, capítulo 4, parágrafos 50. Doravante citado assim: DEE, 4, 48-50.

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essência e sujeito. Quanto ao discurso sobre o “o que é” das substâncias intelectuais, ao menos os termos substância, forma e sujeito são sinônimos quando usados para compreendê-lo. Todavia, numa segunda leitura, podemos afirmar ser possível tratar do termo o que é no mesmo contexto para referir-se aos dois tipos de substância.47 Isso pode ser feito mediante a introdução, na compreensão desse termo, da noção de potência. Nessa medida, compreendendo o “o que é” como estando em potência para o ato de ser, ele pode referir-se tanto a substância física quanto a intelectual. Todavia, como a substância intelectual, bem como seus acidentes, não são passíveis de percepção, Tomás enfatiza a investigação da substância física.48

Na substância física, como afirmamos anteriormente, há instâncias na relação entre o ato de ser, a essência e a substância. Por conseguinte, dado que as noções de essência, substância e sujeito são subsumidas à noção de “o que é”, as instâncias da relação se dão entre ato de ser e “o que é”. Nessa relação a essência é compreendida como id quo a substância possui o ato de ser: “O ser pertence à hipóstase [substância] e à natureza [essência]; à hipóstase, como àquilo que (id quod) possui o ser; a natureza como àquilo, pelo qual (id quo) se possui o ser”.49 Tomás, nessa passagem, afirma que embora a substância possua o ato de ser a essência não o possui.

Porém, o que significa dizer que o ato de ser pertence a substância, mas não a essência? Se fosse afirmado que o ato de ser pertence à essência, não haveria distinção entre o que é Deus e os outros seres. Ademais, haveria negação de acidentalidade nos outros seres, pois o que é Deus não possui acidentes.50 Por conseguinte, os outros seres possuiriam o ato de ser essencialmente, isto é, ato de ser e essência seriam idênticos.

47 Cf. SCG, II, 54, 1296.

48 Cf. DEE, 1, 8-9.

49 ST, IIIa, q. 17, a. 2, resp.

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Todavia, esse não pode ser o caso, segundo Tomás, pois somente na divindade ato de ser e essência se identificam.

Dessa relação de não-identidade entre ato de ser e “o que é”, Tomás extrai três importantes implicações para sua metafísica: (I) ato de ser e “o que é” são realmente distintos; (II) sendo distintos, todavia unidos numa relação, ambos são efeitos de uma causa eficiente; (III) a ação dessa causa eficiente cujo efeito é a tota substantia é denominada de criação. Nessa medida, tendo estabelecido a constituição da substância mediante um novo sentido é possível a Tomás afirmar que a criação é passível de demonstração filosófica.

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