ASSESSORIA DE EDUCAÇÃO
PROVÍNCIA DO PARANÁ
Carlos Drummond de
Andrade
Prof. Eliana Martens
“Verdadeiro mito da poesia brasileira de todos os tempos”
MÃOS DADAS
Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela, não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.
CARACTERÍSTICAS DA OBRA
Vasta obra em poesia e prosa a) Estilo
- linguagem seca, exata, direta, precisa;
- poesia artesanal: trabalhada, elaborada e não fruto apenas da inspiração momentânea;
- Anti-lirismo intencional (poemas isentos de sentimentalismo ou expressões enfáticas);
- predomínio de versos livres;
- valorização de aspectos sonoros e visuais (a partir do movimento concretista);
- humor e poema-piada (mais no início da carreira); - acentuada ironia.
Temas
1. Temática do Eu (autobiografia):
- o passado (lembranças da infância, da família, da terra natal, de fatos marcantes em sua existência);
-o amor (questionamento, desencontro, dúvida). 2. Temática do Mundo:
- visão pessimista, desencantada do mundo;
- a solidariedade, o compromisso com a humanidade sofredora;
-a destruição (indagação metafísica, a solidão humana, a perda, o nada).
3. Temática da Meta-poesia (a metalinguagem):
- Indagação sobre a função da poesia, ou mesmo de como fazê-la.
4. Temática do questionamento existencial: - a angústia do poeta e do homem;
- a tentativa de entender o mundo, integrar-se nele. 5. Temática da retratação da realidade:
- compromisso com o presente;
- retrato da realidade brasileira de diferentes épocas. 6. Temática do tempo:
- o compromisso de não afastar-se do presente; - o passado que o persegue.
Fases
1. “Gauche” (anos 30) – Dimensão humana:
- ser às avessas, o deslocado, o torto, o que não consegue estabelecer comunicação com a realidade circundante;
-o pessimismo, o individualismo, a reflexão existencial. 2. Poesia Social (1940-1945):
- sentimento de solidariedade;
- consciência da debilidade do mundo;
Obras: Alguma Poesia (1930); Brejo das Almas (1934)
3. O Signo do Não (anos 50-60):
- poesia reflexiva, filosófica e metafísica; -emprego de recursos visuais e gráficos. 4. Fase da Memória (anos 70-80):
- temas universais, a infância, a família, a terra natal (Itabira);
- síntese de vários aspectos de fases diferentes (humor, pessimismo, existencialismo).
Obras: Claro Enigma (1951); Viola de Bolso (1952); Fazendeiro do Ar e Poesia até Agora (1953).
Obras: Boitempo (1968); Menino Antigo (1973); As Impurezas do Branco (1973); Discurso da Primavera (1978); A Paixão Medida (1980); Corpo (1984); Amar se Aprende Amando (1985), Amor Natural (1992) e outros.
Carlos Drummond de Andrade:
poeta do finito e da matéria
página 251. A imagem retrata uma indústria em pleno
funcionamento, e as pessoas, à frente, seriam seus operários.
2. Há homens e mulheres de semblantes distintos uns dos outros.
3. A aglomeração simétrica dos operários denota a massificação, a padronização, a falta de
ALGUMA POESIA
IGUAL-DESIGUAL
Página 26Eu desconfiava:
todas as histórias em quadrinho são iguais. Todos os filmes norte-americanos são iguais. Todos os filmes de todos os países são iguais. Todos os best-sellers são iguais.
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são iguais.
Todos os partidos políticos são iguais.
Todas as mulheres que andam na moda são iguais. Todas as experiências de sexo são iguais.
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e rondós são iguais e todos, todos
Todas as guerras do mundo são iguais. Todas as fomes são iguais.
Todos os amores, iguais iguais iguais. Iguais todos os rompimentos.
A morte é igualíssima.
Todas as criações da natureza são iguais.
Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.
Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou coisa. Não é igual a nada.
Todo ser humano é um estranho ímpar.
4. No texto, o eu lírico cita vários elementos que são iguais. Ao referir-se ao fazer poético (criação da poesia) ele diz que:
• Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e rondós são iguais;
• Todos os poemas em versos livres são enfadonhamente iguais.
5. Algumas ações negativas do homem,
relacionadas a questões sociais, também são sempre iguais:
• Todas as guerras do mundo são iguais; • Todas as fomes são iguais;
• Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes são iguais.
6. Opiniões do senso comum tidas como verdadeiras, como: “ Todos os filmes norte-americanos são iguais”, “ todos os partidos políticos são iguais”, todos os best-sellers são
iguais” levam o leitor a aceitá-las como se de fato
fossem; assim, o olhar humano se torna insensível e generaliza também a fome, a morte, o amor, conferindo a eles a mesma igualdade.
7. Só o ser humano “não é igual a nenhum outro homem, bicho ou coisa. Todo ser humano é um estranho ímpar”.
A afirmação acima está diretamente relacionada ao título do poema (Igual-desigual). Isso significa que, embora o homem produza elementos que são iguais (HQ, campeonatos, filmes...), é
8. Tanto no quadro de Tarsila quanto no poema, observa-se que cada ser humano traz sua feição, sua identidade (própria), mas suas ações, no
entanto, são semelhantes: fazem as mesmas coisas, agem da mesma forma, produzem as mesmas coisas.
1. A poesia de Carlos
Drummond
página 28
• http://www.youtube.com/watch?v=sO6TySzyygE
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra.
No meio do caminho
• Para os modernistas, o poema era uma
manifestação dos novos valores estéticos; • Para os conservadores, um desrespeito das
2. “Mundo mundo vasto
mundo”
O Poema de sete faces anuncia o
questionamento do sentido da produção literária e da função social do poeta, a dificuldade de
compreender os sentimentos e a importância da família.
http://www.youtube.com/watch?v=2Y4LrgYUMbw
1´27´´
Ser poeta é ser desajeitado, diferente dos outros, deslocado. A incompreensão desses elementos torna o poema pessimista, resignado. O desejo de obter respostas faz com que o poeta
3. Família e origens: a viagem
na memória
página 30
• O poema Infância representa uma reflexão do eu lírico sobre o significado do convívio familiar.
Adulto, compreende que havia mais beleza nas atitudes de seus pais do que nas aventuras dos heróis fictícios. Ele reavalia o passado.
http://www.youtube.com/watch?v=_NAGTHXO75c
4. “O tempo é a minha matéria”
O poema Nosso tempo aborda a função social do poeta:
• Denunciar a opressão; • Lutar pela construção
Nosso tempo
(livro A rosa do povo)
I
Este é tempo do partido,
tempo de homens partidos.
Duplo sentido de partido: dividido, fragmentado, mutilado (gente
cortada)
5. O exercício incansável da
reflexão
página 32
• A poesia como espaço para investigar, analisar, questionar filosoficamente:
O que é o ser humano?
O que significa pertencer à humanidade? Como combater as injustiças?
Que metro serve para medir-nos?
Que forma é nossa e que conteúdo? Contemos algo? Somos contidos? Dão-nos um nome? Estamos vivos? A que aspiramos? Que possuímos? Que relembramos? Onde jazemos? (Nunca se finda nem se criara, Mistério é o tempo, inigualável.)
6. Fazer poético: ação e
transformação
página 33
• A poesia em busca de si mesma, expressa de duas maneiras:
Material (escolha das palavras, das rimas, construção dos versos);
Conteúdo (eixos temáticos) (metalinguagem)
Consideração do poema
http://www.youtube.com/watch?v=77leOFzw5QY
7. A “concha vazia” do amor
Em Drummond, “A reflexão é o caminho para o coração” (Davi Arrigucci).
• O poeta registra emoções, reconhece
sentimentos e busca compreendê-los por meio da análise;
• O amor (concha vazia) não sacia a carência do eu lírico, que procura “mais e mais amor”;
• O ser humano vaga, sofrendo, entre os
escombros de uma realidade que precisa ser transformada;
• O poeta reconstrói os caminhos trilhados pelos seres humanos;
• Sua obra é testemunho da busca, do desejo de encontrar uma saída, mesmo que o percurso seja difícil.
http://www.youtube.com/watch?v=XpBEXYYRPfc
Amar
Exercícios dos conceitos
Pág. 35 – Os ombros suportam o mundo (1 a 5)
http://www.youtube.com/watch?v=4sy1f3rzuG4
1. a. Na primeira estrofe o eu lírico faz referência a um “tempo de absoluta depuração” em que os indivíduos nãos e espantam mais com os fatos da vida, não acreditam no amor, não sofrem mais, não sentem mais, apenas executam seu trabalho.
1.b. O tom da estrofe é de desolação, desesperança e indiferença, já que se trata de um “Tempo em que não se diz mais: meu amor / Porque o amos resultou inútil”; “E os olhos não choram”; “E o coração está seco”.
2.a. Na segunda estrofe, o poeta descreve a solidão.
2.b. A solidão é apresentada por três imagens: • A porta fechada para as mulheres (amor);
• A luz apagada;
3.a. Nos versos
“Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes”, a expressão a luz apagou-se é uma metáfora que sugere a desesperança, a impossibilidade de ter ilusões diante da vida, da realidade que o cerca.
3.b. O segundo verso, no entanto, indica uma resistência do indivíduo diante da realidade. Embora haja desesperança, os olhos continuam atentos e resplandecem na sombra.
4. a. Na última estrofe, o eu lírico deixa claro porque os desejos e inquietações pessoais
deixam de importar: a vida se impõe e prossegue com guerras, fomes e discussões dentro dos
edifícios.
4.b.Nrssa situação, algumas pessoas,
considerando o espetáculo terrível, prefeririam morrer.
4.c. O eu lírico se solidariza com essas pessoas e as caracteriza como delicadas; assim, segundo
ele, as pessoas devem se tornar fortes e enfrentar a realidade, sem fugir.
5.
“Chegou um tempo em que não adianta morrer. Chegou um tempo em que a vida é uma ordem. A vida apenas, sem mistificação”.
Para o eu lírico, os versos “Chegou um tempo em
que não adianta morrer” significam que a vida
impõe-se como uma ordem e deve ser enfrentada, encarada. Deve-se ter força para carregar o mundo nos como se ele não pesasse mais que a mão de uma criança.
Esse não é um mundo para os delicados, mas para os corajosos, para os que enfrentam.
Adaptado de:
• ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia poética. 35. ed. Rio de Janeiro: Record,
• 1996. 276 p.
• http://www.brasilescola.com/literatura/carlos-drummond.htm
• http://meuartigo.brasilescola.com/literatura/carlos-drummond-andrade-19021987.htm
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