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Cópia da sentença do Tribunal de Comércio de Lisboa proferida no processo de registo da marca nacional n , E-Exclusive-Estates (mista).

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Cópia da sentença do Tribunal de Comércio de Lisboa proferida no processo de registo da marca nacional n.° 358 586, E-Exclusive-Estates (mista).

I - Relatório. - IRBOSOL - Mediação Imobiliária, Unipessoal, L.da, com sede em Esatate Centre, Estrada das Pereiras, Almancil, veio, ao abrigo do disposto nos artigos 38.° e seguintes do Código da Propriedade Industrial, in- terpor recurso do despacho do Sr. Director de Marcas do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) que re- cusou o registo da marca nacional n.° 358 586, E-Exclusive- -Estates (mista).

Alega que não se verificam todos os requisitos de apli- cação do artigo 193.°, já que a sua marca e os sinais con- siderados obstativos são perfeitamente distintos, não sen- do por isso susceptível de criar confusão no consumidor e não se destinando a assinalar produtos afins, por um lado, nem se verifica a causa prevista na alínea f ) do arti- go 189.°, n.° 1, do Código da Propriedade Industrial, por a marca não reproduzir a denominação social da titular dos sinais considerados obstativos. Acrescenta que a coexis- tência dos sinais não potencia a prática de actos de con- corrência desleal.

Juntou os documentos de fl. 60 a fl. 62 e a procuração forense a fl. 64.

Cumprido o disposto no artigo 40.° do Código da Pro- priedade Industrial, o Sr. Director de Marcas do INPI re- meteu o processo administrativo.

Notificada a parte contrária, nos termos do artigo 41.°, n.° 3, do Código da Propriedade Industrial, respondeu pug- nando ela manutenção do despacho recorrido, quer por a marca ser imitação dos seus sinais, quer por reproduzir a sua denominação social, quer por potenciar a existência de concorrência desleal.

Juntou os documentos a fls. 87-100, 106-129 e 138-140 e a procuração forense a fl. 86.

II - Saneamento. - O Tribunal é competente em razão da nacionalidade, da matéria e da hierarquia.

O processo é o próprio e não enferma de nulidades que o invalidem de todo.

As partes estão dotadas de personalidade e capacidade judiciárias e têm legitimidade ad causam.

Inexistem outras excepções, nulidades ou questões pré- vias de que cumpra conhecer.

A questão que se coloca é a de saber se a marca da recorrente e os sinais considerados obstativos são suscep- tíveis de se confundirem, sendo o primeiro imitação dos segundos, se a marca recorrida reproduz a denominação social da recorrida e se a coexistência das marcas potencia a prática de concorrência desleal.

III - Fundamentação fáctico-jurídica e conclusiva. - Face à prova documental produzida encontra-se assente a seguinte factualidade:

1) Por despacho de 10 de Setembro de 2002 o Sr. Director de Marcas do INPI, por subdelega- ção de competências, recusou o registo da marca nacional n.° 358 586, E-Exclusive-Estates (mista), pedido em 5 de Setembro de 2001:

2) Destinada a assinalar «negócios imobiliários»; 3) A marca é constituída pela frase «e-exclusive- -estates» impressa em letra minúscula estilizada, encimada pela letra «e» impressa dentro de um quadrado, por baixo da qual aparece a palavra «exclusive» sublinhada, e por baixo desta, em ta- manho inferior, a palavra «cstates», tendo sido reivindicadas as cores referência Pantone 266-c e

1815-c, e uma detenninada quadricomia;

4) A sociedade Exclusivo - Sociedade de Media- ção Imobiliária, S. A., com sede na Rua do Vale do Pereiro, 16, Lisboa, tem por objecto social a mediação na compra e venda de imóveis e encontra-se matriculada na Conservatória do Re- gisto Comercial de Lisboa, 1.ª secção, desde 11 de Julho de 1989;

5) A recorrida é titular do registo da marca nacional n.° 329 531, Exclusivo Mediação Imobiliária (mis- ta), pedida em 31 de Março de 1998 e concedida por despacho de 2 de Outubro de 1998, destina- da a assinalar produtos da classe 16.ª e serviços da classe 36.a, incluindo-se nesta «serviços de mediação na compra e venda de imóveis» ; 6) A marca é constituída pela frase «exclusivo medi-

ação imobiliária», impressa em letra de imprensa, a primeira palavra toda em maiúscula e as restan- tes com as iniciais em maiúsculas, encimada pela palavra «exclusivo» sublinhada e por baixo des- ta, em tamanho inferior, as restantes palavras. no meio das quais se encontra uma circunferência com um desenho de fantasia no seu interior;

7) A recorrida é titular do registo da marca nacional n.° 361 438, Erclusivo, pedida em 23 de Janeiro de 2002 e concedida por despacho de 2 de Abril de 2003, destinada a assinalar produtos da classe 16.' e serviços da classe 36.', incluindo-se nesta «ser- viços de mediação na compra e venda de imó- veis»;

8) A recorrida é titular do registo do logótipo n.° 1141, exclusivo (misto), pedido em 31 de Mar- ço de 1998 e concedida por despacho de 4 de Setembro de 1998;

9) O logótipo é composto pela palavra «exclusivo», impressa em letra maiúscula de imprensa. sublinha- da, e por uma circunferência com um desenho de fantasia no interior, colocado a meio da referida palavra.

A marca é um sinal distintivo dos produtos ou serviços comercializados por um empresário ou empresa e propos- tos ao consumidor, destinada a identificar a proveniência de um produto ou serviço - artigo 167.° do Código da Propriedade Industrial de 1995 (Código aplicável por força do artigo 10.° do Decreto-Lei n.° 36/2003, de 5 de Março, e Código a que se referem todas as normas infracitadas sem outra indicação).

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A composição das marcas é, em principio, livre, embora haja restrições estabelecidas por lei e impostas pelos prin- cípios da eficácia distintiva, da verdade, da novidade, da independência e da licitude, que regem a composição das marcas e que estão consagradas nos artigos 188.° e 189.° Da violação do disposto no artigo 189. alínea m). - Dispõe o artigo 189.°, n.° 1, alínea m); ser de recusar o re- gisto da marca quando esta contiver «[r]eprodução ou imitação no todo ou em parte de marca anteriormente re- gistada por outrem, para o mesmo produto ou serviço, ou produto ou serviço similar ou semelhante, que possa in- duzir em erro ou confusão o consumidor».

A recusa do registo com base num logótipo é possível. A referida limitação consagra o princípio da novidade da marca: se a marca for uma usurpação de uma marca registada anteriormente, referida a produtos ou serviços semelhantes ou afins, não pode ser registada. A usurpa- ção pode consistir numa reprodução (cópia integral) ou numa imitação (confundível) da marca registada anterior- mente.

O conceito de imitação é-nos dado pelo artigo 193.°, n.° L, e verifica-se quando. cumulativamente:

«a) A marca registada tiver prioridade;

b) Sejam ambas destinadas a assinalar produtos ou ser- viços idênticos ou de afinidade manifesta;

c) Tenham tal semelhança gráfica, figurativa ou fonética que induza facilmente o consumidor em erro ou confusão, ou que compreenda um risco de associação com a marca anteriormente registada, de forma que o consumidor não possa distinguir as duas marcas senão depois de exame atento ou confronto.»

O primeiro requisito não levanta qualquer problema, já que se pretende com dados meramente objectivos: data do registo. De referir aqui apenas o facto de a data que im- porta para apurar da prioridade ser a do pedido do regis- to, desde que regularmente formulado (artigo 11.°, n.° I, do Código da Propriedade Industrial).

O segundo requisito já não é tão pacífico. É que para que haja imitação não é necessário que os produtos ou serviços se integrem na mesma classe. Basta que se desti- nem a «assinalar produtos ou serviços idênticos ou de afinidade manifesta», ou seja, a definição parte de concei- tos abertos cuja interpretação é passível de diferentes posições e que só caso a caso poderão ser aferidos.

Para aferir da semelhança dos produtos ou serviços, interessa apurar se os mesmos, sendo concorrenciais, têm a mesma utilidade e fim ou são complemenlares. Para além deste factor há outro a ter em conta, que é o da origem do produto, ou seja, se os produtos em causa podem atribuir- -se à mesma origem ou fonte produtiva.

Assim, deve atender-se, para apurar da identidade ou afinidade dos produtos, à natureza e destino dos mesmos, às modalidades de utilização, aos locais de fabrico e ven- da e aos circuitos comerciais.

Quanto ao terceiro, cumpre fazer algumas observações. Antes de mais, e para se aferir da imitação, não há que confrontar directamente as duas marcas. A imitação existi- rá quando, tendo-se à vista apenas a marca a constituir, se deva concluir que ela é susceptível de ser tomada por outra de que se tenha conhecimento. «Com efeito, o con- sumidor, quando compra determinado produto marcado com um sinal semelhante a outro que já conhecia, não tem à

vista (em regra) as duas marcas, para fazer delas um exame comparativo. Compra o produto por se ter convencido de que a marca que o assinala é aquela que retinha na memó- ria.» (Professor Ferrer Correia, Lições de Direito Comerci- al, Reprint, 1994, p. 188.)

No mesmo sentido, diz Bédarride, citado por Pupo Cor- reia: «A questão da imitação deve ser apreciada pela se- melhança que resulta do conjunto dos elementos que cons- tituem a marca e não pelas dissemelhanças que poderiam oferecer os diversos pormenores. considerados isolada e separadamente.» (Direito Comercial, Ediforum, 6.ª ed., 1999,

p. 3 4 0 . )

O juízo a fazer há-de ter em atenção o consumidor mé- dio do produto ou produtos em questão, ou seja, há que considerar o estrato populacional a que primordialmente o produto ou serviço se destina.

«No exame comparativo das marcas, feito nestes termos, deve considerar-se decisivo o juízo que emitiria o consu- midor médio do produto ou produtos em questão. Se, por exemplo, se trata de um produto consumido, em regra, por pessoas de certo grau de cultura, a confusão de marcas com alguns elementos comuns não será tão fácil como nos casos em que determinado produto se destine de preferên- cia a camadas sociais de cultura rudimentar.» (Ferrer Cor- reia, op. cit.)

Antes de mais, importa referir que no presente recurso não pode ser considerado o registo da marca nacional n.° 361 438, de que a recorrente é titular, uma vez que o mesmo foi pedido em 23 de Janeiro de 2002, ou seja, em data posterior á do pedido de registo da marca recorrida, razão pela qual também não foi considerado no despacho recorrido.

O sinal da recorrente, a considerar nesta sede é, pois, a marca nacional n.° 329 531.

No que concerne ao primeiro dos mencionados requisi- tos é manifesta a prioridade do sinal da recorrida, uma vez que o registo do mesmo foi pedido em 31 de Março de 1998, ou seja, em data anterior à do pedido da marca da recorrente (5 de Setembro de 2001 ).

O segundo requisito respeita à identidade ou afinidade entre os serviços, e também aqui não se levanta qualquer dúvida, já que estão em causa negócios imobiliários, por um lado, e serviços de mediação na compra e venda de imóveis, por outro, ou seja, estão em causa serviços idên- ticos.

Resta então analisar o terceiro requisito: semelhança gráfica, fonética ou figurativa entre os sinais que induza facilmente em erro ou confusão o consumidor, não as po- dendo distinguir senão depois de exame atento ou confron- to.

E m confronto temos Eclusivo Mediação Imobiliária (mista), por um lado, e E-Exclusive-Estates, por outro.

As marcas em confronto são ambas mistas, isto é, são marcas compostas por elementos verbais escritos (nomina- tiva) e por elementos de natureza desenhística (figurativa). Assim, a comparação das marcas não pode ser vista con- siderando cada um dos elementos que as integram, isola- damente considerados, mas sim considerando as marcas no seu todo, excepto se um dos seus elementos assumir tal relevo que possa ser considerado preponderante no senti- do em que é ele que confere eficácia distintiva à marca.

Semelhante em ambas as marcas há apenas as palavras «exclusivo» e «exclusive». A primeira é uma palavra de uso corrente no vocabulário português e a segunda é uma

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palavra de uso corrente na língua inglesa. Enquanto ad- jectivo têm ambas o mesmo significado, ou seja, que ex- clui, e enquanto substantivo significam ambas monopólio, direito de não ter concorrentes numa indústria ou empresa (cf. Cândido de Figueiredo, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, Bertrand, 25.ª ed., p. 1105).

Trata-se, pois, de uma palavra meramente descritiva e, enquanto tal, insusceptível de apropriação por quem quer que seja. A palavra pode integrar qualquer marca mas não pode ser concedida em exclusivo a quem quer que seja (v., neste sentido, Acórdão da Relação de Lisboa de 18 de Dezembro de 2001, proferido no processo n.° 693/2000, do 2.° Juízo do Tribunal de Comércio).

Daqui resulta que assiste razão à recorrente quando alega que a comparação das marcas não pode ser feita apenas através da análise deste elemento comum, já que o mesmo não pode ser invocado por ninguém para impedir que ou- trem registe uma marca que inclua o vocábulo «exclusivo», ou seja, ninguém pode ficar com o monopólio sobre essa palavra e podem ser registados outros sinais que a conte- nham desde que os restantes elementos que a compõem lhe confiram a necessária eficácia diferenciadora.

Assim, e se outro motivo não houvesse, sempre a com- paração dos sinais se teria de fazer considerando o todo que compõe cada uma das marcas, ou seja, considerando «exclusivo mediação imobiliária», por um lado, e «e- -exclusive-estates», por outro.

Será a semelhança que resulta da utilização da palavra «exclusive» suficiente para se considerar que existe imita- ção? A resposta não pode deixar de ser negativa.

Os elementos nominativos da marca da recorrida são todos eles meramente descritivos, sendo por conseguinte a sua marca, deste ponto de vista, uma marca fraca, até porque o elemento figurativo da mesma não é impressivo, já que não contém qualquer particularidade que possa fi-

car retida na memória do consumidor.

O mesmo já não sucede na marca recorrida. Com efeito, se os seus elementos nominativos «exclusive-estates» não têm qualquer particularidade e são meramente descritivos, o mesmo já não sucede com a letra «e» que aparece esti- lizada realçada pelo seu tamanho, pelo facto de estar ins- crita dentro de um quadrado e de encimar o próprio sinal. Foneticamente, as diferenças entre os sinais são eviden- tes, não só porque parte dos seus elementos não tem qualquer ponto em comum («mediação imobiliária», por um lado, e «estates», por outro) como porque a outra palavra que as compõe se lê de maneira totalmente distinta. A marca da recorrente lê-se «es-clu-zi-vo», enquanto a marca recorrida se lê «ecs-clu-zi-ve», ou seja, só as duas sílabas do meio se lêem da mesma maneira.

Quanto ao aspecto gráfico e figurativo, são por de mais evidentes as dissemelhanças quer pelas razões já aponta- das quer pela utilização de cores na marca recorrida.

Numa visão de conjunto as marcas não são nem foné- tica nem gráfica nem figurativamente semelhantes como pretende a recorrida, ou seja, não há confundibilidade en- tre a marca recorrida e marca da recorrente.

O consumidor individualiza e identifica os produtos que a marca da recorrente assinala como Exclusivo-Mediação Imobiliária, não sendo plausível que, confrontado com a marca E-Exclusive-Estates, vá confundir os serviços que a mesma assinala com os serviços que recorda sob a primei- ra, o que faz que entre ambas as marcas haja diferenças nítidas, diferenças essas que não permitem ao consumidor

médio a confusão necessária para se poder considerar a marca recorrida imitação da marca considerada obstativa.

As marcas são facilmente distinguíveis aos olhos do consumidor médio, sem confronto directo entre elas, pelo que, não se pode considerar a marca nacional n.° 358 596, E-Exclusive-Estates, imitação da marca da recorrida.

Do exposto resulta que não há a semelhança entre as duas marcas exigida pelo legislador para se considerar ser uma imitação da outra, pelo que não havia fundamento para recusa do registo da marca com base no disposto no arti- go 189.°, n.° 1, alínea n), ao contrário do que decidiu o INPI. Da violação do disposto no artigo 189. °, alíneaf).- Dispõe o artigo 189.°, alínea f), ser de recusar o registo da marca quando esta contiver «[a] firma, denominação soci- al, nome ou insígnia de estabelecimento que não perten- çam ao requerente do registo da marca, ou que o mesmo não esteja autorizado a usar, ou apenas parte característi- ca dos mesmos, se for susceptível de induzir o consumi- dor em erro ou confusão».

Tal regra está também prevista no artigo 8.° da Conven- ção da União de Paris, que prescreve: «O nome comercial será protegido em todos os países da União sem obriga- ção de registo, quer faça ou não parte de uma marca de fábrica ou de comércio.»

Antes de mais, convém referir que, não obstante a refe- rida alínea f) não estatuir a recusa da marca quando esta for uma reprodução ou imitação de um logótipo, deve proceder-se a uma interpretação extensiva e considerar o mesmo abrangido pela citada disposição.

É que o logótipo é um sinal distintivo de empresas glo- balmente consideradas que se regula pelas regras aplicá- veis à insígnia (artigo 248.°, n.° d o Código da Proprieda- de Industrial) e se aproxima da figura da marca de base - neste sentido, v. Carlos Olavo in Direito Industrial, p. 102. Tratando-se de um sinal distintivo de uma empresa, o mesmo pode e deve incluir-se no mesmo grupo da firma, a denominação social, o nome ou a insígnia do estabeleci- mento, sinais expressamente consagrados na norma em apreço.

A sua não inclusão expressa no preceito em análise terá resultado de um lapso do legislador, o que é, aliás, confir- mado pelo facto de o actual Código da Propriedade Indus- trial, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 36/2003, de 5 de Mar- ço, o ter incluído expressamente na disposição homóloga [artigo 239.°, alinea f)].

Assim, fazendo uma interpretação extensiva, deverá considerar-se que também deverá ser recusada a marca se contiver o logótipo ou parte característica do mesmo, per- tencente a um terceiro, e for susceptível de induzir o con- sumidor em erro ou confusão.

A recorrente tem a denominação social Exclusivo - Sociedade de Mediação Imobiliária, S. A., e o seu logótipo é caracterizado pela expressão «exclusivo», com um elemen- to figurativo. Por sua vez a marca recorrida é composta pelas palavras «e-exclusive-estates».

É manifesto que o elemento prevalente da denominação é a palavra «exclusivo», uma vez que os restantes vocá- bulos que a compõem são meramente descritivos do seu objecto social, sendo certo que também no logótipo é este o elemento principal, já que o elemento desenhistico não assume particular destaque nem realça qualquer caracterís- tica particular.

Já no que à marca recorrida concerne, não se pode afir- mar que o seu elemento prevalente seja a palavra «exclusi-

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ve». Com efeito, trata-se de uma marca mista, uma marca em que foram reivindicadas cores e na qual a palavra «ex- clusive» não surge destacada de qualquer forma, seja pelo tipo de letra, seja pelo seu tamanho, seja pelas cores utili- zadas. Assim, nada permite destacar na marca esta palavra para afirmar que é apenas ela que individualiza o sinal.

Significa isto que a análise de uma eventual confusão tem de ser feita considerando «exclusivo», por um lado, e «e-exclusive-estates», por outro.

Conforme alega a recorrida, a marca, questionada inclui a parte característica da sua denominação social e do seu logótipo. Não se trata, porém, de uma reprodução exacta, já que nestes a palavra é «exclusivo» e na marca é «exclu- sive», ou seja, a última tetra é diferente, correspondendo a primeira a uma palavra portuguesa e a segunda a uma palavra inglesa (língua a que pertence a outra palavra que a compõe).

Graficamente a marca recorrida, que, como se referiu, tem de ser vista como um todo, é mais extensa que a parte característica da denominação e do logótipo da recorrente. Foneticamente, há também diferenças entre as duas expres- sões. A primeira tem apenas uma palavra e a segunda tem duas, antecedidas por uma letra, sendo que a palavra que é quase comum se te de maneira diferente. Na denomina- ção, a primeira sílaba lê-se «eis» e a última «vu», enquan- to na marca a primeira se lê «ecs» e a última «ve».

Por último, a marca é mista, aparecendo a letra «e» de forma destacada, já que encima o sinal e aparece sozinha dentro de um quadrado, o que faz que a marca, no seu todo, tenha características específicas e próprias que a tornam distinta da denominação «exclusivo».

As apontadas diferenças são, ao contrário do que ale- ga a recorrida, suficientes para tornar as duas expressões perfeitamente distintas aos olhos do consumidor, não se afigurando possível que o consumidor médio vá fazer qual- quer tipo de confusão e atribuir os serviços prestados pela titular da marca recorrida à recorrente ou julgar que se tra- ta de entidades relacionadas entre si.

Por todo o exposto, entende o tribunal que não há en- tre a marca recorrida e a parte característica da denomina- ção e do logótipo da recorrida a necessária semelhança para se poder concluir ser possível criar no consumidor erro ou confusão, designadamente quanto ao titular da marca, ou seja, quanto à proveniência dos serviços assinalados pela marca.

Consequentemente, não se verifica o circunstancialismo previsto na alínea f) do artigo 189.° do Código da Proprie- dade Industrial, pelo que não deveria ter sido recusado o registo da marca com este fundamento.

Da violação ao disposto no artigo 25. °, n.° 1, alínea d). - Alega a recorrida que a concessão da marca potencia a prática de actos de concorrência desleal.

Prescreve o artigo 25.°, n.° 1, alínea d), que é fundamen- to de recusa do registo «[o] reconhecimento de que o re- querente pretende fazer concorrência desleal ou que esta é possível independentemente da sua intenção».

Concorrência desleal traduz-se na possibilidade de, atra- vés da prática de determinados actos, causar prejuízo a outrem ou alcançar para si ou para terceiro um benefício ilegítimo (artigo 260.°).

Carlos Olavo define o acto de concorrência desleal como «aquele acto susceptível de, no desenvolvimento de uma dada actividade económica, prejudicar um outro agente económico que, por sua vez, exerce também uma activida-

de económica determinada, prejuízo esse que se consubs- tancia num desvio de clientela própria em benefício de um concorrente» (Propriedade Industrial, Almedina, 1997, pp. 145 e 146).

A concorrência existe quando o consumidor é levado a atribuir os produtos á mesma fonte produtiva (estabeleci- mento ou sociedade) ou a pensar que existem relações comerciais, económicas ou de organização entre as empre- sas que produzem ou comercializam os produtos. Neste ultimo caso, o consumidor atribui a origem dos produtos ou serviços a um denominador comum, pensando tratar-se da mesma organização, entendida esta em sentido lato, pelo que ainda assim se pode dizer que atribui os produtos á mesma origem (v., neste sentido, Américo da Silva Carva- Iho, Marca Comunitária, C.' Editora, pp. 82 e segs.).

Atendendo às conclusões supra-enunciadas e à oção de concorrência desleal, não se nos afigura lícita a conclu- são de que o uso da marca recorrida possa levar á prática de actos da concorrência desleal. Como já se referiu a di- ferença entre a marca recorrida, por um lado, e os sinais e a parte característica da denominação da recorrente, por outro, é clara e não se vislumbra possível a associação entre a marca recorrida e a denominação e os sinais da recorrente de modo a se poder pensar tratar-se da mesma fonte produtiva, nem se podendo concluir que o consumi- dor médio irá pensar desse modo.

Inexistindo qualquer risco de associação, não há possi- bilidade de o uso da marca recorrida causar prejuízo à re- corrente, consubstanciado num desvio de clientela. Nem há qualquer fundamento válido para concluir que o consumi- dor dos serviços que a marca recorrida pretende assinalar vá associar os mesmos à recorrida ou que vá haver qual- quer desvio de clientela, causando assim um prejuízo à recorrida.

Pelo exposto, a única conclusão possível é a de que não há concorrência desleal, mesmo que não intencional.

Assim, e mesmo considerando que deverá ser recusado o registo se houver possibilidade de ocorrer concorrência desleal mesmo não intencional [artigo 25.°, n.° 1, alínea d), do Código da Propriedade Industrial], não descortinamos que no presente caso possa existir concorrência desleal, já que não admitinos como possível qualquer tipo de confu- são quer entre os serviços que as marcas pretendem assi- nalar quer quanto à origem dos mesmos, pelo que a marca não deveria ter sido recusada com este fundamento.

Face a todo o exposto, considerando inexistir imitação da marca da recorrida, não reproduzir a marca parte carac- terística da denominação da recorrente, nem o seu logóti- po de modo a induzir o consumidor em erro ou confusão, nem havendo possibilidade de ocorrência de actos poten- ciadores de concorrência desleal, a marca recorrida não deveria ter sido recusada com base no disposto nos arti- gos 189.°, n.° 1, alíneas f) e m), e 25.°, alínea d).

Deve, pois, o despacho recorrido ser revogado. IV - Decisão. - Tudo visto, concedendo-se provimen- to ao recurso, revoga-se o despacho do Sr. Director de Marcas do INPI que, em subdelegação de competências, recusou o registo à marca nacional n.° 358 586, E-Exclusive- -Estates, concedendo-se assim protecção jurídica nacional à referida marca para assinalar os serviços da classe 36.ª para os quais foi pedida: «negócios imobiliários».

Nos termos do artigo 6.°, n.° 1, alíneas a) e q), do Códi- go das Custas Judiciais, fixo ao recurso o valor tributário de 80 unidades de conta.

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Custas pela recorrida, com a taxa de justiça reduzida a metade [artigo 446.°, n.°S 1 e 2, do Código de Processo Civil e 14.°, alínea j), do Código das Custas Judiciais].

Registe e notifique.

Após trânsito em julgado da sentença, e com cópia da mesma, devolva o processo apenso ao INPI (artigo 44.° do Código da Propriedade Industrial).

Lisboa, 8 de Março de 2004. - O Juiz de Direito, (Assi- natura ilegível.)

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