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Emancipação e conflito social: uma análise da obra de Daniel Bensaid

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Academic year: 2021

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Emancipação e conflito social: uma análise da obra de Daniel Bensaid

Javier Amadeo Professor da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) GT: Relações de classe e lutas sociais no capitalismo contemporâneo Como afirma Erik Olin Wright, uma ciência social emancipatória, definida num sentido amplo, deve ter como objetivo gerar um conhecimento relevante para um projeto coletivo que desafie a opressão social e crie as condições para que os indivíduos tenham a possibilidade de desenvolver todo o potencial humano. Necessariamente deve que ser anticapitalista. Definir este tipo de conhecimento como ciência social implica reconhecer a importância para esta tarefa de um conhecimento científico sistemático sobre como funciona o mundo, para a partir da análise concreta das situações concretas gerar uma práxis transformadora e superadora da ordem social dominante. Em segundo lugar, defini-la como emancipatória implica identificar um propósito moral central: a eliminação da exploração e a opressão e a criação de condições para o desenvolvimento humano. Por último, ressaltar seu caráter social sugere a crença que a emancipação depende de um processo de transformação do mundo social e não simplesmente do eu interior. Para alcançar seu objetivo uma ciência social emancipatória deve reunir uma série de condições fundamentais. Em primeiro lugar, elaborar um diagnóstico sistemático e uma crítica da realidade social existente. Em segundo, e a partir desse diagnóstico, construir as alternativas possíveis. Por último, analisar os possibilidades, obstáculos e dilemas do processo de transformação social. Em diferentes momentos históricos, cada um destes elementos pode ter obtido uma importância maior que os outros, no entanto todos eles são fundamentais para teoria emancipatória compressiva nos termos do sociólogo Erik Olin Wright (Wright, 2006: 94-7).

O ponto de partida para uma ciência social emancipatória não pode ser simplesmente evidenciar que existe sofrimento e desigualdade no mundo atual, mas demonstrar que “a explicação desses males encontra-se nas propriedades específicas da estrutura social e das instituições existentes, e identificar as formas pelas quais esta estrutura histórica específica, o capitalismo, produz sistematicamente desigualdade e opressão” (Wright, 2006: 95). Portanto, a principal tarefa, é a elaboração de um diagnóstico e crítica do capitalismo. O objetivo fundamental do projeto intelectual desenvolvido por Karl Marx, em várias de suas obras e particularmente em O Capital, consistia em descobrir “a lei econômica da sociedade moderna”, como aparece no prefácio da primeira edição de obra. No entanto, o método dialético utilizado por Marx permanentemente afirma a natureza inerentemente contraditória do capitalismo.

O objetivo do presente trabalho é analisar um conjunto de autores e teorias que têm contribuído para pensar o tema da emancipação social, e uma série de questões envolvidas (o problema do sujeito, as demandas de reconhecimento, o lugar do contingente, e as possibilidade do universal num mundo atravessado pela fragmentação), desde uma perspectiva crítica contemporânea. Em particular buscamos analisar os autores que afirmam a importância do conceito de classe, a partir de uma

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perspectiva não determinista, para pensar a questão da emancipação social como Daniel Bensaid e Sophie Béroud.

Daniel Bensaïd vai recuperar o pensamento de Marx para pensar a questão da emancipação social e particularmente vai resgatar a ideia de que o marxismo propõe uma “lógica da emancipação enraizada no conflito”. Esta lógica da emancipação colocada por Bensaïd, se articularia a partir de três elementos fundamentais: uma concepção da história em aberto1; uma concepção de classe como relação social e uma concepção da política como estratégia. 2

Em Marx, o intempestivo, Bensaïd critica a concepção histórica determinista presente em algumas correntes do marxismo e resgata uma leitura do pensamento de Marx que permita encontrar neste “uma nova representação da história e uma organização conceitual do tempo como relação social”. Bensaïd também critica aqueles que reduzem o pensamento do Marx a uma sociologia empírica das classes, que buscaria ordenar e classificar as classes sociais, tornando a teoria incapaz de entender a dinâmica do conflito social. Para o autor, as classes não são objetos ou categorias de classificação sociológica, elas devem ser entendidas como “a própria expressão do devir histórico” (Bensaïd, 1999: 13-4).

Na elaboração teórica proposta por Marx, afirma Bensaïd, se articulariam três críticas: a crítica da razão histórica, a crítica da razão econômica e a crítica da positividade científica. Esta elaboração continuaria tendo um enorme valor heurístico para entender os problemas contemporâneos: as discussões sobre o fim da história, a relação da luta de classes com outras formas de conflito e os limites e potencialidades da emancipação social. Para Bensaïd, o marxismo continua tendo uma extraordinária vitalidade intelectual, porém desde que seja entendido “não [como] um sistema doutrinário, mas [como] uma teoria crítica da luta social e da mudança do mundo” (Bensaïd, 1999: 14).

Um primeiro ponto refere-se à concepção da história.3 Bensaïd critica as interpretações do pensamento de Marx em termos deterministas ou teleológicos e, como consequência, recusa as implicações políticas dessas interpretações que vão desde o voluntarismo ingênuo até a passividade burocrática. A fórmula apresentada por Marx do comunismo, nos Manuscritos econômico-filosóficos, como o “enigma resolvido da história” corresponde a um período intelectual no qual Marx também define claramente o comunismo como o “movimento real”, afirmação que coloca o pensamento de Marx distante de qualquer visão determinista da história. Para Bensaïd, “A chave do mistério residiria portanto no ‘movimento real’ pelo qual a história é indissociavelmente história que se faz e teoria crítica de seu próprio desenvolvimento”. É, portanto, necessário – na leitura de Bensaïd – desmoralizar a história e politizá-la de forma de torná-la aberta a um pensamento estratégico (Bensaïd, 1999: 24-5).

Na leitura de Karl Popper, que Bensaïd denuncia, Marx seria o fundador da forma mais radical de historicismo que já existiu; o marxismo seria responsável pela redução da causalidade histórica à causalidade natural. O historicismo levaria à tentativa                                                                                                                          

1 Retomamos esta ideia de Montenegro e Medeiros, 2012. 2 Retomamos esta ideia de Montenegro e Medeiros, 2012. 3 Sobre este ponto ver Montenegro e Medeiros, 2012: 206-7.

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voluntarista de mudar ou acelerar o curso da história ou à passividade e à acomodação às leis da história. Na visão de Popper, o historicismo, do qual o marxismo formaria parte, levaria a um relativismo total tornando a elaboração do conhecimento supérflua.

Bensaïd recusa esta tentativa de Popper de reduzir o marxismo ao historicismo; para o pensador francês, Marx estaria distante deste modelo de previsibilidade histórica: “O Capital não é uma ciência das leis da história, mas a ‘crítica da economia política’. Ele não quer saber de verificar a coerência de uma História universal, antes desembaralhar tendências e temporalidade que se contrariam sem se abolirem. Os textos consagrados a conjunturas históricas particulares (as revoluções de 1848, a Guerra de Secessão, a Comuna de Paris) respondem ponto por ponto às interpelações de Popper. Este presente histórico não é um elo no encadeamento mecânico dos efeitos e das causas, mas uma atualidade repleta de possíveis, onde a política supera a história na

decifração de tendências que não fazem a lei” (Bensaïd, 1999: 29-30, ênfase nosso).

Bensaïd critica também as incompreensões e caricaturas que alguns autores têm feito de Marx e a incapacidade de ver o pensamento de Marx na sua verdadeira complexidade, tomando textos isolados ou ideias fora de contexto. A crítica fundamental neste ponto é dirigida tanto contra Popper como contra Jon Elster. Marx utiliza, segundo Bensaïd, uma “teleologia imanente”, que não é entendida pela maioria dos autores que criticam Marx, e continua: “Quanto à utopia, ela sobrevive à custa de sutis metamorfoses não como invenção arbitrária do futuro, mas como ‘intenção orientada para o verdadeiro’. Daqui para frente, nada de cidade futura, nada de mundo melhor. Mas uma lógica da emancipação enraizada no conflito” (Bensaïd, 1999: 34,

ênfase nosso).

Um segundo ponto se refere à concepção relacional que o pensador francês tem das classes sociais.4 Para Bensaïd, as classes sociais e a luta de classes devem ser analisadas a partir de um conjunto de determinações, não apenas econômicas, mas também políticas; e por outra parte as classes devem ser entendidas de um ponto de vista relacional. Como afirma o autor: “A noção de classe, segundo Marx, não é redutível nem a um atributo de que seriam portadoras as unidades individuais que a compõem, nem à soma dessas unidades. Ela é algo diferente. Uma totalidade relacional e não uma simples soma” (Bensaïd, 1999: 147).

Neste ponto novamente Bensaïd critica as leituras simplificadoras e reducionistas do pensamento de Marx. Uma dessas leituras simplificadora seria a de Schumpeter, para quem Marx no processo de abstração teórica imobilizaria as classes sociais, impossibilitando que o processo de desenvolvimento da formação social tivesse engendrado as complexas diferenciações de sua estrutura e de sua relação com o Estado.5 Para Bensaïd este leitura não consegue compreender a lógica de O Capital; as consequências da circulação e da reprodução já estão presentes na análise do valor, que pressupõe a luta de classes e a determinação do tempo de trabalho socialmente necessário. A teoria das classes, afirma Bensaïd, “não teria como, nessa ótica, reduzir-se a um jogo estático de definições e classificações. Ela remete a um sistema de relações                                                                                                                          

4 Sobre este ponto ver Galvão, 2011.

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estruturado pela luta, cuja complexidade se desenrola plenamente nos escritos políticos [...]” (Bensaïd, 1999: 145).

A intepretação de Marx sobre as classes, continua o autor, recusa que estas sejam vistas como uma pessoa ou como um sujeito unificado e consciente. Só é possível pensar na existência das classes “na relação conflitual com outras classes”. Alguns autores tentam buscar no pensamento de Marx “uma sociologia”, de acordo com os critérios disciplinares; no entanto, seria mais adequado procurar no pensamento de Marx uma sociologia crítica ou uma sociologia negativa. Qualquer tentativa de assimilar a filosofia da práxis a uma sociologia está condenada ao reducionismo ou ao fracasso.

Será, portanto, em O Capital, não como texto sociológico, mas como lógica expositiva, que essa discussão deve ser remitida. As classes, afirma Bensaïd, se revelam “no e pelo movimento do Capital”. Essa revelação aparece claramente no livro III, com a discussão sobre o processo de produção global, mas também é tratada em várias oportunidades a partir do processo de produção. Do ponto de vista da lógica da exposição, como sustenta o autor, a apresentação da teoria do valor-trabalho e da mais-valia “pressupõe a exposição da relação antagônica de exploração, portanto a abordagem teórica das classes está presente desde o começo das análises no livro I” (Bensaïd, 1999-153-4).

Para Bensaïd, também não existia em Marx a ideia do proletariado como um sujeito mítico, o pensador alemão analisaria de maneira aberta e clara em O Capital as contradições entre a condições reais do proletariado e o enigma de sua emancipação. O desenvolvimento das forças produtivas e a consolidação da produção capitalista permitiriam a constituição de uma classe operária cada vez mais numerosa e organizada, mas a alienação e o fetichismo estão também estruturalmente enraizadas no processo de produção. As condições de exploração, como afirma Bensaïd, fazem do trabalhador um ser mutilado a tal ponto que a submissão se perpetua. “Tal é o mistério insolúvel da emancipação a partir da submissão e da alienação. Ele encontra sua resposta no

confronto político e na luta de classes: somente a luta pode romper esse círculo vicioso” (Bensaïd, 1999: 155, ênfase nosso).

Um elemento importante na discussão sobre a emancipação social refere-se à relação entre movimentos sociais e classes, diferentes autores da tradição de esquerda têm colocados diversas possibilidades de articulação como por exemplo Laclau e Mouffe, cujos análises discutimos no apartado anterior.

Para Bensaïd e Béroud esta é uma questão intrincada, os movimentos sociais pareceriam ter tomado o lugar privilegiado antes ocupado pela classe operária, no entanto uma aproximação mais elaborada poderia sugerir uma articulação complexa entre as reivindicações dos movimentos sociais e os interesses de classes.

Seria necessário, como afirma Galvão pensar as possibilidades da uma ação coletiva emancipatória como resultado da articulação entre conflito de classes e lutas contra as diversas formas de opressão e pelo reconhecimento. O ponto de partida seria reconhecer que os conflitos de classes e outras formas de conflito sociais estão articulados ainda que analiticamente sejam distintas. Para a autora, os movimentos sociais não constituiriam apenas uma reação a formas diversas de dominação e opressão, mas também seriam expressão de um conflito contra a própria lógica da

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exploração capitalista (Galvão, 2011: 119). Entender a articulação entre ambas as formas de conflictividade social seria tanto um desafio teórico como um desafio político. René Mouriax, numa linha argumental similar, afirma, referindo-se em particular à opressão das mulheres nas sociedades capitalistas, que na sociedade capitalista: “as mulheres são objeto de uma opressão específica herdada do passado e desde então articulada aos diversos pertencimentos de classe [...] A diversidade de feminismos tem, portanto, um fundamento social que se cristaliza em ideologias distintas que, todavia, têm em comum um objetivo emancipador (Mouriax apud Galvão, 2011: 119).

Outro ponto importante sobre o tema das classes refere-se à questão da representação política. A teoria revolucionária, na interpretação do pensador francês, guardaria algum parentesco com a psicanálise: “A representação política não é uma mera manifestação de uma natureza social. A luta política das classes não é o reflexo superficial de uma essência. Articulada como uma linguagem, ela opera por deslocamentos e condensações das contradições sociais. Tem seus sonhos, seus pesadelos e seus lapsos. No campo específico do político, as relações de classes adquirem um grau de complexidade irredutível ao antagonismo bipolar que, entretanto, as determina (Bensaïd, 1999: 164-5).

Para Bensaïd é necessário considerar uma série de questões na análise das classes sociais e das representações políticas. Em primeiro lugar, as relações de produção, também, devem ser pensadas na sua articulação com o Estado. Como analisa Marx em O Dezoito Brumário de Luís Bonaparte, o interesse da burguesia está ligado de maneira íntima à máquina governamental. Esse é um vínculo em função do qual se diferenciam as frações de classe e se elaboram as representações políticas. Em segundo lugar, deve ser sublinhado que a partir das classes fundamentais, determinadas pelo antagonismo das relações de produção, existe uma série de articulações cruzadas que multiplicam as diferenciações. Isto aparece claramente em A luta de classes na França e em A Guerra Civil na França, textos nos quais Marx problematiza a dialética entre relações sociais e representação política. Em terceiro lugar, se para Marx o proletariado é a classe potencialmente emancipadora, esse potencial não se realiza de maneira automática. Em O Capital são analisados os possíveis obstáculos ao desenvolvimento da consciência de classe como resultado da própria reificação das relações sociais. Aos obstáculos relacionados com as relações de produção devem se adicionar os efeitos específicos das lutas políticas. Por último, a relação entre estrutura social e luta política também é mediada pelas relações de domínio e dependência entre nações no âmbito internacional (Bensaïd, 1999: 164-7).

Como consequência, conclui Bensaïd: “A estrutura social de classe não determina portanto mecanicamente a representação e o conflito político. Se um Estado ou um partido têm caráter de classe, sua autonomia política relativa abre uma ampla gama de variações à expressão dessa ‘natureza’. A especificidade irredutível do político faz da caracterização social do Estado, dos partidos, a fortiori das teorias, um exercício eminentemente perigoso” (Bensaïd, 1999: 167).

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Para Bensaïd (2008), um dos elementos chaves para pensar as possibilidades emancipatórias contemporâneas passa por recuperar o debate político estratégico na esquerda.6

O começo do século XX foi um período extremamente rico do ponto de vista dos debates estratégicos sobre a emancipação social: a análise do imperialismo, a discussão da relação entre partidos e sindicatos e a disputa sobre as estratégias de poder, protagonizados por as principais figuras do movimento socialista (Bernstein, Kautsky, Rosa Luxemburgo, Trotsky e Lenin, entre outros). Estas controvérsias deveriam ser recuperadas tanto porque elas são centrais para a história contemporânea como também com o objetivo de resgatar a cultura comum da esquerda socialista. Para Bensaïd, estamos frente a uma dupla responsabilidade a: “transmissão de uma tradição ameaçada de conformismo e de invenção audaciosa de um futuro incerto” (Bensaïd, 2008: 28-9).

Assim, para recuperar o debate estratégico seria necessário resgatar a política no sentido forte, a política como decisão, a política como arte estratégica. Para Bensaïd, “A arte da decisão, do momento propício, da bifurcação aberta para a esperança é uma arte estratégica do possível. Não o sonho de uma possibilidade abstrata, em que tudo que não é impossível seria possível, mas a arte de uma possibilidade determinada pela situação concreta: sendo cada situação singular, o momento da decisão é sempre relativo a essa situação, adaptado ao objetivo a ser atingido. A razão estratégica é a arte de resposta apropriada” (Bensaïd, 2008: 28-9).7

Para o autor, a luta política não seria redutível ao movimento social. Existiria sim uma reciprocidade e complementariedade entre o momento da política e o momento do social. A política surgiria no social, nas resistências contra a opressão do capitalista e na luta por novos direitos políticos e sociais que transformam os oprimidos em sujeitos de direito. O Estado, como encarnação ilusória do interesse geral, organizaria o campo específico da política, isto é uma relação de forças característica, uma linguagem particular do conflito político. Os antagonismos sociais, afirma Bensaïd, se manifestam num jogo de articulações e condensações. A luta de classes assume, desta maneira, a forma mediada da luta política.8

A articulação dos elementos anteriormente colocados: uma concepção da história em aberto, uma concepção de classe como relação social e uma concepção da política como estratégia definiriam uma lógica emancipatória específica, uma lógica da emancipação estrutura pelo conflito social. Seria inadequada, portanto, uma análise das possibilidades emancipatórias a partir de uma visão simplista ou determinista. Na visão de Bensaïd, as lutas emancipatórias seriam resultado de uma articulação complexa onde a política teria um papel chave, como afirma o autor: “A dialética da emancipação não é uma marcha inevitável rumo a um fim garantido: as aspirações e as expectativas populares e são variadas, contraditórias, frequentemente divididas entre uma exigência de liberdade e uma demanda de segurança. A função específica da política consiste em articulá-las e conjugá-las por meio de um futuro histórico cujo fim continua incerto” (Bensaïd, 2008: 31).

                                                                                                                         

6 Retomamos neste ponto as sugestões presentes no texto de Montenegro e Medeiros, 2012. 7 Sobre este ponto ver Montenegro e Medeiros, 2012: 210.

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Estas questões precisam ser aprofundadas e outros autores e teorias ser trazidas para um melhor entendimento das questões em jogo. De todas formas, um dos elementos centrais que deve ser considerados é a como estas teorias servem para a reflexão política de caráter estratégica. Independente das incertezas envolvidas em qualquer processo político, uma teoria que coloque a questão da emancipação social deve ter como um dos seus elementos fundantes a problemáticas estratégica, isto é a possibilidade de optar por um determinado curso de ação sobre a base da análise dos processos em curso.

De esta maneira uma teoria social emancipatória deve ter como objetivo gerar um conhecimento relevante para um projeto coletivo que desafie a exploração capitalista e contribua para o surgimento de uma consciência social orientada para a transformação social. Para alcançar seu objetivo uma teoria social emancipatória deve reunir uma série de condições fundamentais. Em primeiro lugar, elaborar um diagnóstico sistemático e uma crítica da realidade social existente. Em segundo, e a partir desse diagnóstico, construir as alternativas possíveis com base num pensamento estratégico. Por último, analisar os possibilidades, obstáculos e dilemas do processo de transformação social.9

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