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A REPRESENTAÇÃO DA NEGRA E DA ÍNDIA NOS LIVROS DE HISTÓRIA, GEOGRAFIA E SOCIOLOGIA DO ENSINO MÉDIO

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A REPRESENTAÇÃO DA NEGRA E DA ÍNDIA NOS LIVROS DE

HISTÓRIA, GEOGRAFIA E SOCIOLOGIA DO ENSINO MÉDIO

Maria Mônica de Lira1

Universidade Federal de Pernambuco. Email: monica_lira2009@hotmail.com

Resumo: Este trabalho é proveniente da pesquisa de iniciação científica-PIBIC/CNPq, que versa sobre

a representação da Negra e da Índia nos livros de História, Geografia e Sociologia do Ensino Médio, aprovados pelo PNLD-2015. Este estudo vem sendo desenvolvido no Centro Acadêmico do Agreste, no Núcleo de Formação Docente, na Universidade Federal de Pernambuco. Dessa forma partimos dos seguintes pressupostos vistos pela: a) compreensão dos livros didáticos como textos curriculares, b) da ideia de que o sentido da Negra e da Indígena nos livros didáticos está nos lugares e não-lugares e papeis e os não-papeis que lhes destinam, e c) sobre a compreensão de que os lugares e não-lugares e papéis e não-papéis da Negra e da Indígena nos livros didáticos representa os silenciamentos impostos pelos grupos hegemônicos e os gritos decoloniais dos movimentos negros e indígenas ao longo de nossa história. Apresentamos como objetivo geral: compreender o sentido atribuído a Negra e a Indígena nos Livros Didáticos de História, Geografia e Sociologia do Ensino Médio do PNLD-2015. Apontamos como objetivos específicos: a) identificar e caracterizar os lugares e os papéis da Negra e da Indígena presentes nos livros didáticos em questão; b) verificar e classificar os não lugares e os não papeis da negra e da indígena presente nos livros didáticos; c) relacionar lugares-papéis com os não lugares papeis na construção dos sentidos atribuídos a Negra e a Indígena nos livros didáticos em questão. A Abordagem Teórica centra-se nos Estudos Pós-coloniais Latino-americanos que colocam em questão os modelos teóricos eurocêntricos e suas metanarrativas, principalmente no que se referem à discussão da Cultura Negra e da Indígena. A técnica de análise é Análise de Conteúdo via Análise Temática. Os resultados apontam um quantitativo total de 30 imagens referentes à Mulher Negra e Indígena, sendo 24 que representam a Mulher Negra e 6 que representam a Mulher Indígena uma vez que os lugares e os papéis da Cultura Negra e da Indígena presente nos livros didáticos se constituem na perspectiva de tensão em relação da Colonialidade e da Decolonialidade.

Palavras chave: Relações Étnico-Raciais; Mulher Negra e Indígena; Currículo; Livro Didático.

INTRODUÇÃO

O referente artigo é parte da Pesquisa de Iniciação Científica-PIBIC/CNPq2 e versa sobre: “A Representação da Mulher Negra e Indígena nos Livros de História, Geografia e Sociologia do Ensino Médio aprovados pelo PNLD-2015”, desenvolvida na UFPE no Centro Acadêmico do Agreste no Núcleo de Formação Docente. Partimos assim de três pressupostos vistos pela: a) compreensão dos livros didáticos como textos curriculares, b) da ideia de que o sentido da Negra e da Indígena nos livros didáticos está nos lugares e lugares e papeis e os não-papeis que lhes destinam, e c) sobre a compreensão de que os lugares e não-lugares e papéis e não-papéis da Negra e da Indígena nos livros didáticos representa os silenciamentos impostos

1Graduanda em Pedagogia, bolsista PIBIC-CNPq, membro do Grupo de Estudos Pós-Coloniais e Teoria da Complexidade em Educação e membro do Grupo de Estudo de Gênero, Sexualidade e Práticas Educativas, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

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pelos grupos hegemônicos e os gritos decoloniais dos movimentos negros e indígenas ao longo de nossa história.

Nesta pesquisa compreender o sentido atribuído a Negra e a Indígena nos Livros Didáticos de História, Geografia e Sociologia do Ensino Médio aprovados pelo PNLD-2015 através da identificação e da caracterização dos lugares e dos papéis seguidos dos lugares e não-papéis relacionando os sentidos atribuídos as Mulheres Negras e Indígenas presentes nos livros didáticos em questão. A Abordagem Teórica-Metodológico são os Estudos Pós-Coloniais que se constitui enquanto opção epistêmica e política. Os autores que dialogam com essa abordagem são: QUIJANO (2005, 2006); MIGNOLO (2005); WALSH (2007, 2008). Esta abordagem nos permite fortalecer nossa desobediência à essa lógica eurocêntrica possibilitando assim compreensões outras sobre a história colonial e a realidade inserida sobre os sujeitos que foram subalternizados socialmente e historicamente, bem como viabiliza-nos evidenciar as lutas e as resistências dos povos colonizados. Diante do exposto e a título de organização, o artigo encontra-se subdivido nas seguintes seções: 1- Discussão Teórica; 2- Procedimentos Metodológicos; 3- Resultados e discursões; 4- Conclusões; 5- Referências Bibliográficas.

DISCURSÃO TEÓRICA

Partindo para a perspectiva da discussão teórica, abordamos os Estudos Pós-coloniais (QUIJANO, 2005; MIGNOLO, 2008, WALSH, 2007), que colocam em questão os modelos teóricos eurocêntricos e suas metanarrativas, principalmente no que se referem à discussão da Negra e da Indígena. Na abordagem adotada, frisamos o debate sobre Racionalização e Racialização, Colonialidade e Decolonialidade do Poder, do Saber e do Ser, Interculturalidade, Educação Intercultural e a Pedagogia Decolonial (WALSH, 2007; CANDAU, 2010) e suas relações com a Educação das Relações Étnico-Raciais.

Destacamos que os Estudos Pós-coloniais apresentam aproximações políticas e epistemológicas com a discussão sobre a Educação das Relações Étnico-Raciais. Os construtos teóricos dessa Abordagem nos conduzem a um olhar compreensivo e crítico alicerçado em epistemologias outras, que se aproximam das epistemologias forjadas na luta dos movimentos negros e indígenas, em especial na América Latina.

A preocupação sobre os sentidos atribuídos a Negra e a Indígena nos livros didáticos de História, Geografia e Sociologia relaciona-se com a própria Legislação Nacional que defender “a garantia de acesso às condições de infraestrutura bem como de materiais e livros didáticos em conformidade com a realidade local e a diversidade da

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população do campo”. Assim como “respeito à diversidade do campo em seus aspectos sociais, culturais, ambientais, políticos, econômicos, de gênero, geracional, de raça e etnia” (BRASIL, 2004, p. 1, grifo nosso).

Tendo por base as orientações legais que possuem como princípio o respeito à diferença cultural dos povos do território brasileiro, principalmente sobre Etnia e Raça, é fundamental que os livros didáticos em questão problematizem os sentidos atribuídos à Negra e à Indígena na sociedade. Por isso, a necessidade dos livros didáticos, enquanto textos curriculares identitários, dialogarem com a Educação das Relações Étnico-Raciais.

No período colonial a mulher já era vista como inferior ao homem, e que seu papel na sociedade se caracterizava por três aspecto: ser dona de casa, procriadora e cuidadora de seus filhos. Mas quando se tratava de Mulher Negra/Indígena além de não pertencerem ao tal padrão europeu hegemônico sendo escravizadas “serviam como diversão” para os homens brancos, eram subalternizadas e inferiorizadas perante as mulheres brancas. Dessa forma, o processo de Colonização/Colonialismo foram ressignificados, em que a Colonialidade atua como um padrão de poder eurocêntrico apresentando em três eixo: Poder, Saber, Ser (QUIJANO 2005).

Esses eixos representam as formas de hierarquizar e inferiorizar os povos colonizados. A mulher Negra/Indígena está sendo imposta em uma condição de inferior pela superioridade branca, isso significa dizer que não apresenta poder sobre ela mesma, no qual a Colonialidade do Poder aponta que “as novas identidades históricas produzidas sobre a ideia de raça foram associadas à natureza dos papéis e lugares, na nova estrutura global de controle do trabalho” (QUIJANO, 2005, p. 108).

Nessa perspectiva irá ocorrer o dito saber válido, em que a Colonialidade do Saber irá negar e silenciar as outras formas de produzir conhecimentos. A negação apresentará um lugar reservado no currículo para o saber outro, e sobretudo na forma de representar a Mulher Negra/Indígena, isso significa que apenas será validado o que favorece ao conhecimento branco-eurocêntrico, pois, o papel colonizado se restringe: ao espaço do folclore, do artesanato, do subalterno e do escravo, enquanto os saberes privilegiados validados consistem: no espaço da cultura, da arte e da ciência.

Assim, a Colonialidade do Ser introduz nos sujeitos historicamente inferiorizados uma condição de não-ser ao implantar processos de naturalização de sua condição de inferioridade. A Colonialidade do Ser não é somente a criação do estereótipo inferior, mas o esforço de

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torná-lo natural para que haja sua aceitação passiva, por parte dos povos negros. Segundo Mignolo:

la colonización del ser consiste nada menos que en generar la idea de que ciertos pueblos no forman parte de la historia, de que no son seres. Así, enterrados bajo la historia europea del descubrimiento están las historias, las experiencias y los relatos conceptuales silenciados de los que quedaron fuera de la categorías de seres humanos, de actores históricos y de entes racionales (2005, p. 17).

Nessa perspectiva, os livros didáticos, firmados na Colonialidade do Ser, reforçam o estereótipo da Cultura Negra enquanto constituídas de sujeitos servis e invisibilizando-os enquanto sujeitos históricos-sociais-políticos-culturais-econômicos-protagonistas.

Os livros didáticos estão comprometidos com: a) a construção de identidades subalternizadas (negros, negras, indígenas, dentre outras), tornando a função da escola firmada na Colonialidade do Ser (QUIJANO, 2005); b) a negação da produção de saberes válidos pelos povos e grupos sociais pertencentes ao território campesino, evidenciando sua ligação com a Colonialidade do Saber (QUIJANO, 2005).

Destacamos assim, a importância de pesquisar os sentidos atribuídos à Cultura Negra, e à Cultura Indígena nos livros didáticos por compreendermos este material didático para além de meros recursos pedagógicos; mas sim entendermos como um texto curricular em disputa e identitário. Estes textos curriculares possuem a função de serem tradutores e criadores de novos sentidos, que em contanto com estudantes e professoras/es; vinculam códigos pedagógicos e conteúdo de aprendizagem (SACRISTAN, 2000), que carregam epistemologias de determinada cultura, negando e silenciando epistemologias outras.

O padrão hegemônico está alicerçado numa perspectiva monocultural, reafirmando continuamente a não validade das identidades de certas culturas e a consagração de outras culturas que pertencem ao território urbano, eurocêntrico, branco e cristão. Nesta lógica, a

Cultura Negra é destituída da sua condição de validade, assim como a Cultura Indígena.

METODOLOGIA

Neste estudo utilizamos a Pesquisa Documental, que segundo Oliveira: “caracteriza-se pela busca de informações em documentos que não receberam nenhum tratamento científico” (2007, p.69). Portanto, evidenciamos que os Livros de Didáticos constituem-se enquanto um desses documentos passivos a essa análise. No que se refere às fontes documentais dessa pesquisa, faremos uso dos livros do PNLD-2015: a) coleções Conexões com a história, da colonização da américa ao século XIX, volume 1º/2º/3º; b)

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Geografia: leituras e interação, volume 1º/2º/3º e c) Tempos modernos, tempos de sociologia: ensino médio, volume único que foram aprovadas e selecionadas pelo Programa Nacional do Livro Didático. Para a análise dos dados utilizaremos a Análise de Conteúdo via Análise Temática (BARDIN, 1977, VALA, 1999), “pois efetua inferências com base numa lógica explicitada, sobre as mensagens cujas características foram inventariadas e sistematizadas” (VALA, 1999, p.104). Para o desenvolvimento da técnica da Análise de Conteúdo via Análise Temática (BARDIN, 1977, VALA, 1999), utilizaremos as três fases: pré-análise, exploração do material, tratamento e inferências. A primeira fase constitui da seleção do material de investigação (que corresponde aos livros didáticos) e da retomada dos objetivos da pesquisa. A segunda fase corresponde à exploração do material (das imagens dos livros didáticos) que diz respeito à codificação dos dados transformando os dados brutos em núcleos de compreensão, para deles, inferirmos significados totalizando 30 (trinta) exemplares, sendo 24 que representam a Mulher Negra e 6 que representam a Mulher Indígena uma vez que os lugares e os papéis da Cultura Negra e da Indígena presente nos livros didáticos se constituem na perspectiva de tensão em relação da Colonialidade e da Decolonialidade. A terceira fase do procedimento ocorre com o tratamento dos resultados sobre o que está sendo analisado onde realizamos a caracterização e quantificação das imagens referente à Mulher Negra e Indígena, inferindo também nossas compreensões, nossas inferências.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Desse modo, ao analisarmos as Coleções Didáticas identificamos quatro lugares/papeis em que as Mulheres Negras e Indígenas são postas. As quais são classificadas em: 1) Família; 2) Trabalho; 3) Política e 4) Espaço Cultural. A discussão sobre nossos dados se dará primeiro analisando a condição das imagens das Mulheres Negras e depois das Mulheres Indígenas seguindo a classificação das imagens já mencionadas. (Iremos fazer uso apenas de 11 imagens que representam a Mulher Negra e 6 imagens que representam a Mulher Indígena, por motivo de quantidade de páginas que o evento pede).

REPRESENTAÇÃO IMAGÉTICA DA MULHER NEGRA NAS COLEÇÕES DIDÁTICAS ANALISADAS3

Neste momento apresentamos a categorização e as inferências das imagens referentes à Mulher Negra. Dessa forma, apresentamos a primeira Categoria do lugar da Mulher Negra

3Coleção Conexões com a História, da Colonização da América ao Século XIX, volume 1º/2º/3º; Geografia: Leituras e Interação, volume 1º/2º/3º e Tempos Modernos, Tempos de Sociologia: ensino médio, volume único.

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na Família. Este lugar representa 24% das imagens analisadas. O lugar da Mulher Negra na família encontra-se nos seguintes cenários:

1. Família africana no passado;

2. Família no passado na condição de escrava; 3. Família retirante no passado na África e no Brasil; 4. Família pobre e a mulher na condição de doméstica;

5. Família sem contexto com a centralidade na imagem do homem.

As Mulheres Negras nos cenários familiares apresentados as fixam em condições de precariedade, de carência. Tanto as imagens que têm como cenário o Brasil como a África ratificam a ideia pobreza. As Mulheres Negras nas imagens não ocupam cenários familiares de prestígio na sociedade. Há de fato um efeito da Herança Colonial que contribui para a Colonialidade do Poder. Assim, o lugar da Mulher Negra é na família desprestigiada e o não-lugar é exatamente em cenários familiares de prestígio, como podemos observar a seguir (as imagens a seguir exemplificam a família africana no passado e na condição de escrava):

14 25

Ainda destacamos nas imagens acima que as Mulheres Negras se encontram no espaço familiar em funções marcadas pela obrigação do cuidar materno e do lar. Além do processo de racialização, a Mulher Negra sofre dos efeitos do Patriarcado.

A segunda Categoria direciona a Mulher Negra ao Lugar do Trabalho. Em que esse lugar corresponderá a 33,3% das imagens analisadas. O lugar da Mulher Negra no trabalho é representado nos seguintes o papeis: Informal (imagens 07), Artesanal (imagem 11) e Intelectual (imagens 12). Vejamos abaixo:

4 A imagem se refere as crianças aprendendo ler o Alcorão no século XX na África Ocidental Francesa, próximo ao território do antigo Reino de Gana (Imagem retirada do livro de História do 1º ano do Ensino Médio). 5 Imagem que representa fuga de escravos em uma charge de Angelo Agostine para revista Illustrada. Fundação

Biblioteca Nacional no Estado do Rio de Janeiro. As fugas constantes de escravos, apoiadas por grande parte da população livre, demostravam que a escravidão estava com os dias contados (Imagem retirada do livro de História do 2º ano do Ensino Médio).

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36 47 58

Observamos o predomínio nas imagens das Mulheres Negras em trabalhos informais, seguidos do trabalho artesanal que também tem uma dimensão de informal. Apenas uma imagem da Mulher Negra lhe coloca em uma condição de trabalho de prestígio como é o caso do trabalho intelectual. Neste caso, mesmo com a predominância do trabalho informal destinado a Mulher Negra nas imagens, o fato de já aparecer uma imagem da Mulher Negra na condição de Intelectual nos mostra que o espaço do trabalho nos livros analizados são territórios em disputas que representa a Diferença Colonial. Assim, o livro didático não apenas reproduz a racialização do trabalho que ocorreu e ocorre na sociedade moderna-colonial-patriarcal, mas traz indícios de processos de Decolonização ao colocar a Mulher Negra enquanto sujeito epistêmico.

Apresentamos a seguir a Categoria do lugar da Mulher Negra na Política. Este lugar corresponderá a 29,1% das imagens analisadas que se referem aos movimentos de Luta de conquista dos povos negros. Dessa forma, podemos entender que esse lugar ocupado pelas Mulheres Negras se aproximam da Interculturalidade Crítica, pois reivindicam mudanças nas estruturas de poder da sociedade moderna-colonial-patriarcal. Vejamos as imagens seguintes:

69 710 811

6 Imagem que representa Mulher vendedor de Akará na cidade de Maiduguri no país da Nigéria em 2009 e Mulher vendedora e seu tabuleiro com acarajé, peixe frito, bolinho de estudante, vatapá e outros pratos em Salvador na Bahia no ano de 2009 (Imagem retirada do livro de História do 2º ano do Ensino Médio).

7 As paneleiras empregando técnicas tradicionais e matérias-primas provenientes do meio natural, retirado do Livro dos Saberes como Patrimônio Imaterial do Brasil, no ano de 2009 de Goiabeiras do Estado do Espírito Santo (Imagem retirada do livro de Sociologia volume único do ensino Médio).

8 Mulher Negra depoente dando entrevista sobre sua cultura (Imagem retirada do livro de História do 1º ano do Ensino Médio).

9 Mulher Negra como representante de um Organização da Unidade Africana (Imagem retirada do Livro Didático de Geografia do 3º ano do Ensino Médio).

10 Foi a primeira Mulher presidenta de seu país a receber o Prêmio Nobel da Paz (Imagem retirada do Livro Didático de Sociologia).

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Observamos nestas imagens que as Mulheres Negras estão ocupando um lugar de prestígio na política. Estas imagens colaboram não somente para o enfretamento racismono ambiente escolar, como o enfretamento do Patriarcado quando as Mulheres Negras além de estarem em movimentos sociais, também estão em posição de centralidade nas imagens. Ressaltamos que o lugar da centralidade nos movimentos políticos geralmente é do homem branco e nestas imagens são as mulheres que assumem a centralidade, dando indícios de processos de despatriarcalização. Há nas imagens um distanciamento da Colonialidade do Poder ao visibilizar a participação da Mulher Negra nos espaços de lutas em busca por direitos, os quais estão relacionados aos aspectos da cultural afro-brasileira.

Apontamos a seguir a Categoria da Mulher Negra no Espaço Cultural que está muito relacioando com a religiosidade de matriz africana. Estas imagens correspondem a 12,5% daquelas que foram analisadas. Vejamos a seguir:

912 1013 1114

Percebemos que as imagens acima apresentam as Mulheres Negras em um espaço cultural referente a religiosidade de matriz africana. Ressaltamos alguns aspectos importantes nas imagens no que diz respeito à educação intercultural e das relações étnico-raciais:

1. trazer para o livro didático a religião de matriz africana que historicamente tem sido perseguida, seja na expressão do Maracatu do Grupo Palmeira Imperial de baque virado15 da cidade de Paraty no Estado do Rio de Janeiro (imagem 22) ou mesmo referente à Umbanda e ao Candomblé (imagens 23 e 24);

2. na imagem 23 faz referência a uma Obrigação de São Cosme e Damião em um ritual de Umbanda no Maranhão. Frisamos que a Umbanda é uma religião genuinamente brasileira, fruto do sincretismo religioso brasileiro. Esta religião é um exemplo da interculturalidade religiosa no Brasil;

12 Apresentação de Maracatu do grupo Maracatu Palmeira Imperial, em Paraty no Estado do Rio de Janeiro, no ano de 2012 (Imagem retirada do livro de História do 3º ano do Ensino Médio).

13 Obrigações de São Cosme e Damião em ritual de Umbanda no Estado de Maranhão em 2009 (Imagem retirada do livro de Sociologia volume único do Ensino Médio).

14 Baianas em frente da Igreja Católica da Praia em lavagem do Bonfim na Bahia em 2009 (Imagem retirada do livro de Sociologia volume único do Ensino Médio).

15 O Maracatu de Baque Virado é uma manifestação cultural de origem pernambucana que apresenta um ritmo mais lento e executado com bastante violência.

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3. na imagem 24 temos a presença de um tempo Católico (Igreja da Conceição da Praia) e Mulheres Negras vestidas de Baianas (roupas típicas do Candomblé) na atividade de cultural da Lavagem das Ladeiras do Bonfim em Salvador na Bahia. Este fato possibilita a ideia de diálogo inter-religioso que faz parte dos princípios da educação das relações étnico-raciais

Nota-se assim nas imagens uma aproximação da Interculturalidade Crítica por apresentar a visibilidade da Mulher Negra em seu lugar papel na Cultura Negra.

REPRESENTAÇÃO IMAGÉTICA DA MULHER INDÍGENA NAS COLEÇÕES DIDÁTICAS ANALISADAS16

Neste momento apresentamos a categorização e as inferências das imagens referentes à Mulher Indígena. As Categorias em que as Mulheres Indígenas estão representadas são do lugar da Família, do Trabalho, da Política e do Espaço Cultural.

Dessa forma apresentamos a primeira Categoria do lugar da Mulher Indígena na Família. Esse lugar irá representar 16,6% das imagens analisadas que se refere a família no passado. Vejamos a seguir:

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Na imagem 11 a Mulher Indígena aparece na família na condição do passado quando a coloca no processo de Colonialismo que mostra a exploração sofrida pelos povos Indígenas no período Colonial. Esta de fato não evidencia a tensão, ou seja, a Diferença Colonial que há na atualidade. É como se não houvessem conflitos na trajetória histórica do Brasil em que as Mulhres Indígenas não lutaram e aceitaram passivamente o processo perverso imposto pelos colonizadores.

Seguimos agora para a Categoria que apresenta a Mulher Indígena no lugar do Trabalho. Em que esse lugar corresponde a 6,89% das imagens analizadas. O lugar da Mulher Indígena no trabalho é representado nos seguintes papeis: Informal (imagens 13) Artesanal (imagem 26) e Trabalho Escravo (imagem 14). Vejamos a seguir:

16Coleção Conexões com a História, da Colonização da América ao Século XIX, volume 1º/2º/3º, Geografia: Leituras e Interação, volume 1º/2º/3º e Tempos Modernos, Tempos de Sociologia: Ensino Médio, volume único.

17 Obra artística de Jean-Baptiste Debret representando soldados índios escoltando selvagens (Imagem retirada do livro de Sociologia volume único do Ensino Médio).

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Visualizamos que as Mulheres Indígenas estão postas no lugar do trabalho informal como produtoras de sabão artesanal (imagem 13) e na confecção de bonecas como fonte de renda e não remunerados (imagem 14). Dessa forma, estas imagens estão enquadrados na perspectiva da Racialização onde as Mulheres Indígenas são condicionadas a desenvolverem trabalhos informais.

Proseguimos agora para a Categoria que apresenta a Mulher Indígena no lugar da Política. Em que esse lugar corresponde a 16,6% das imagens analizadas. O lugar da Mulher Indígena na política é representada em um espaço eleitoral (imagem 28) e de reivindicação de posse de terra (imagem 29). Vejamos a seguir:

1520 1621

Observamos que as imagens acima apresenta a Mulher Indígena em um espaço eleitoral, e de reivincação aproximando-a da Interculturalidade Crítica quando reafirma sua escolha política. Assim, há um aspecto importante que diz respeito ao lugar-papel da Mulher Indígena em um processo da educação intercultural:

1. quando o Livro Didático traz a imagem da Mulher Indígena dismistificando-a da ideia româtica, presa ao passado e sem direitos. Vizualizamos, assim, a Indígena Aymará em uma seção eleitora na Huarina no país da Bolívia;

2. na imagem 16 faz referência a reivindicação dos povos Indígenas pela demarcação da reserva da Raposa/Serra do Sol no prédio do Ministério da

18 Indígenas da etnia Guarani-Kaiowá fabricando sabão artesanal na Aldeia do Amambai, no Estado do Mato Grosso do Sul em 2012 (Imagem retirada do livro de Sociologia volume único do Ensino Médio).

19 Índia da etnia Karajá confeccionando boneca de cerâmica-ritxokò. Na aldeia Santa Isabel no Estado de Tocantins (Imagem retirada do livro de Sociologia volume único do Ensino Médio).

20 Índia Ayamará em uma seção eleitoral em Huarina, preparando-se para votar no país da Bolívia (Imagem retirada do livro de Hi8stória do 2º ano do Ensino Médio).

21 Indígenas reivindicam demarcação contínua da reserva Raposa/Serra do Sol em Roraima no prédio do Ministério da Justiça em Brasília no ano de 2008 (Imagem retirada do livro de Geografia do 1º ano do Ensino Médio).

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Justiça em Brasília. Frisamos que as Mulheres Indígenas estão postas a um espaço de pertencimento de seu direito, sendo visibilizada pela sua posição. O espaço o qual a Mulher Indígena ocupa direciona-a como sujeito ativa na sociedade, quebrando o padrão romântico/dócil na qual a Mulher Indígena estava sempre colocada pelos padrões eurocêntricos.

Concluimos com a Categoria que representa a Mulher Indígena no Espaço Cultural. Em que esse espaço corresponderá a 6,89% das imagens analisadas e designa ao papel do movimento religioso. As quais podemos observar a seguir:

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A imagem acima representa as Mulheres Indígenas no espaço cultural, no qual o seu papel se correlaciona ao aspecto da dança cultural, de representação de sua cultura. Percebemos que a imagem retrata um elemento extremamente importante para as culturas dos povos indígenas que diz respeito aos rituais e danças. Segundo Baniwa (2006, p.102), os indígenas “quando dançam e realizam seus rituais, estão fazendo uma experiência de encontro com a natureza, com o mundo dos anciãos e dos sábios que estão vivos no outro lado da vida”. Dessa forma, percebemos que a imagem se aproxima da Interculturalidade Crítica, pois há uma visibilidade das Mulheres Indígenas nas suas expressões religiosas e artísticas.

CONCIDERAÇÕES FINAIS

Podemos concluir que ainda o livro didático enquanto texto curricular destinado ao ensino médio irá apresentar a Mulher Negra e Indígena de forma subalterna em relação ao homem e, sobretudo em relação à Mulher Branca. Visto que a quantidade de imagens que os livros de história, geografia e sociologia não irão apresentar uma quantidade considerável para problematização ao que diz respeito a representação da mulher perante a sociedade, ao que realmente ela representou, na perspectiva de luta e de seus direitos.

Diante dos dados analisados é possível evidenciar um percentual de 80% de imagens que representam a Mulher Negra e 20% de imagens que representam a Mulher Indígena. Assim fica evidenciado o quanto a Mulher Indígena é mais invisibilidade em relação às Mulheres Negras. Portanto, as análises das imagens indicam que apesar das reivindicações

22 Índios Aymarés se apresentam no festival Internacional Aymará de música e dança na Bolívia em 2009 (Imagem retirada do livro de História do 2º ano do Ensino Médio).

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dos movimentos sociais e da implementação da Lei 11.645/08, o currículos expresso nos Livros Didáticos estão inscritos na tensão entre Colonialidade e Decolonialidade.

Terminamos a pesquisa vendo o quanto é importante nos debruçarmos sobre os livros didáticos por estes ainda serem os principais recursos dos professores na materialização do currículo. Estes podem ser utilizados tanto para consolidar a Colonialidade principalmente do Poder e do Ser como também podem ser problematizados nos aproximando de uma perspectiva de Intercolonialidade. Por isto resta-nos saber como os professores se deparam com essas imagens e como eles trabalham com as mesmas?

REFERÊNCIAS BIBLÍOGRAFICAS

BANIWA, Gersem dos Santos Luciano. O índio brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje. Organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura. Ministério da Educação. Brasília, 2006.

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.

BRASIL, Ministério da Educação. Decreto 7.352, de 4 de novembro de 2010 (Dispõe sobre a política de educação do campo e o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária – PRONERA.

MIGNOLO, Walter. Cambiando las éticas y las políticas del conocimiento: la lógica de la colonialidade y la postcolonialidad imperial. Herencias coloniales y teorias postcoloniales. Revista chilena de literatura, Coimbra, 2005.

OLIVEIRA, Maria Marly. Como fazer pesquisa qualitativa. Petrópolis, Vozes, 2007.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do Poder. In: LANDER, Edgardo (Org). A Colonialidade de Saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latinoamericanas. Colecion Sur, CLACSO, Ciudad Autônoma de Buenos Aires, Argentina. Setembro, 2005.

VALA, Jorge. A Análise de Conteúdo. In: SILVA, Augusto Santos; PINTO, José Madureira (Org.) Metodologia das Ciências Sociais. Porto, 1999.

SACRISTÁN, José Gemeno. O currículo: uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre: ArtMed, 2000.

WALSH, Catherine. Interculturalidad, plurinacionalidad y decolonialidad: las insurgências político-epstémicas de refundar el Estado. Revista Tabula Rasa, n. 9, 2008.

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