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PROFESSORES DA ZONA RURAL EM INÍCIO DA CARREIRA: NARRATIVAS DE SI E PRÁTICAS DE FORMAÇÃO

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Academic year: 2021

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PROFESSORES DA ZONA RURAL EM INÍCIO DA CARREIRA:

NARRATIVAS DE SI E PRÁTICAS DE FORMAÇÃO

Lúcia Gracia Ferreira Orientadora Profa. Drª Rosa Maria Moraes Anunciato de Oliveira Doutorado em Educação Linha de Pesquisa: Formação de Professores e outros agentes educacionais, novas tecnologias e ambientes de aprendizagem

Resumo

O objetivo do estudo é compreender como se configuram as práticas de formação e (auto)formação nos anos iniciais da carreira docente por meio de dispositivos expressos nas narrativas (auto)biográficas de professores da zona rural. Assim, as narrativas estão sendo ao mesmo tempo usadas numa perspectiva metodológica de pesquisa e de formação. Os instrumentos de coleta de dados são: questionário, entrevistas narrativas, cartas, diários (auto)biográficos e ateliês biográficos. Os colaboradores da pesquisa são professores com até cinco anos de docência, que atuam na zona rural dos municípios de Macarani e Maiquinique-BA. Ao final do estudo espera-se compreender como o professor iniciante se forma através das narrativas; que lugar da formação essa narrativa o remete, visto que não tem a experiência anterior proporcionada pela prática; como ressignifica a sua história no processo de escrita de si e os dilemas profissionais como docentes da zona rural.

Palavras-chave: professores de escolas rurais, narrativas, práticas de formação de professores.

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Breve delimitação do tema

Este trabalho se constitui como sendo uma escrita inicial do projeto de pesquisa em andamento “Professores da zona rural em inicio de carreira: narrativas de si e práticas de formação”, que está sendo desenvolvido a partir do curso de doutoramento, na Universidade Federal de São Carlos/UFSCar.

Propõe-se, aqui, um estudo sobre narrativas de si e práticas de formação de professores que estão nos anos iniciais da carreira profissional docente e que atuem na zona rural. Por ser a formação, a identidade, os saberes e as práticas pedagógicas aspectos interligados da formação docente que não acontece de forma linear, mas contínua, num processo dinâmico, esse estudo torna-se relevante para instigar a discussão sobre a temática, já que, a narrativa (auto)biográfica permite ao sujeito em processo de formação, refletir sobre o seu cotidiano, possibilitando trazer a realidade da vida pessoal e profissional de forma a se tornar um ponto de partida para o conhecimento de si (ZIBETI, 2007).

Assim, essas narrativas possibilitam a retomada das aprendizagens e experiências. Refletir sobre si, sobre suas experiências, sobre as culturas com as quais estabelecem contato, sobre sua própria história permite-lhes entender a sua visão de mundo e como chegou até ela. Todas essas reflexões levam também a reflexão sobre o processo formativo profissional, de como se tornou professor, leva-o a pensar na formação, a entender os sentimentos e representações dos atores sociais no seu processo de formação (SOUZA, 2007). É nesse sentido que essas narrativas se configuram práticas de formação. Para Moraes (2004, p.170):

A narrativa não é um simples narrar de acontecimentos, ela permite uma atitude reflexiva, identificando fatos que foram, realmente, constitutivos da própria formação. Partilhar histórias de vida permite, a quem conta a sua história, refletir e avaliar um percurso, compreendendo o sentido do mesmo, entendendo as nuances desse caminho percorrido e re-aprendendo com ele. E a quem ouve (ou lê) a narrativa, permite perceber que a sua história entrecruza-se de alguma forma (ou em algum sentido ou lugar) com aquela narrada (e/ou com outras).

Para a autora, essas narrativas também podem potencializar práticas de formação, assegurando ao professor não ser somente um consumidor de informações repassadas em cursos de capacitação ou similares, mas refletir e socializar sobre suas histórias e práticas. Ressalta-se também que as pesquisas com as narrativas de formação podem permitir a superação de uma prática tradicionalmente exercida por estudiosos positivistas, de teorizar

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sobre o professor e sobre a sua prática, “sem, no entanto, admitir ser possível que esse professor possa também ser o sujeito teorizador de si próprio e de sua experiência” (op.cit., p.170).

O processo formativo e atuação dos professores apresentam vinculação com o contexto social, histórico, político, econômico e cultural em que estão inseridas a educação e as suas práticas. De acordo com Tardif (2002), os docentes utilizam, no cotidiano de suas atividades, conhecimentos que estão articulados às suas vivências, aos seus saberes e as suas competências sociais.

A docência é enfrentada nos primeiros anos da carreira como uma descoberta, e essa iniciação tem se revelado como importante fase no processo de aprender a ser professor. Nesse estudo, considero professores em início de carreira, aqueles que tenham até cincos anos de docência, segundo a concepção de Tardif (2002). Estes professores têm suas práticas muito vinculadas aos desafios e dilemas (COSTA; OLIVEIRA, 2007).

Para desenvolvimento desse trabalho, destaco a pesquisa de Ferreira (2010), realizada com professoras da zona rural do município de Itapetinga-BA, durante os anos de 2008 e 2009. Nesta, evidenciou que as professoras mais experientes, ou seja, com mais tempo na docência eram as que melhor realizavam um trabalho docente. Entendo que o começo da profissão docente já institui um processo que revela insegurança e dúvidas e é fato que iniciar a carreira docente na zona rural, em uma classe multisseriada, agrava ainda mais esse problema.

Entender os caminhos da aprendizagem da docência, trilhados por professores da zona rural em início de carreira é entender como esses profissionais se tornam professores, como constroem a sua identidade docente, já que esta é confrontada com uma formação que é urbana, mas que a prática é iniciada no meio rural. É entender como constroem saberes naquele contexto e para aquele contexto. Tudo isso me leva, a questionar sobre a necessidade do professor reflexivo para atuar na zona rural, aquele que não se contenta com a rotina, mas que faz de sua prática, todos os dias uma nova prática, baseada num trabalho de reflexão sobre o seu trabalho e desenvolvimento profissional.

Objetivos Geral

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• Analisar como configuram as práticas de (auto)formação nos anos iniciais da carreira docente, apreendendo sentidos de ser professor(a) no meio rural, através de dispositivos expressos nas narrativas (auto)biográficas.

Específicos

• Identificar através das narrativas, os processos formativos dos professores da zona rural;

• Identificar os dilemas profissionais de professores iniciantes;

• Analisar e refletir sobre os caminhos da aprendizagem da docência de professores da zona rural;

• Analisar como os professores ressignificam as suas histórias no seu processo de escrita de si nos anos iniciais da carreira.

Metodologia

Trata-se de uma pesquisa qualitativa, o que de fato possibilita ao pesquisador centrar a pesquisa num paradigma que valoriza a subjetividade dos sujeitos envolvidos no processo. Está sendo realizada nos municípios de Macarani e Maiquinique no interior da Bahia. Estes foram escolhidos, primeiro, por fazerem parte do Território de identidade 08 – Itapetinga, que se constitui como conseqüência da nova formação regional da Bahia, composto por 13 municípios. Foi solicitada autorização para a realização da pesquisa em cinco municípios desse território, mas apenas nos dois citados houve disponibilidade de colaboradores. Assim, a pesquisa está sendo realizada partir da abordagem (auto)biográfica e do método das histórias de vida, essa abordagem emerge da pesquisa qualitativa. O método escolhido se adapta a essa proposta de estudo, pois todas as fontes da pesquisa serão utilizadas de maneira a gerar dados sobre histórias profissionais dos professores. Tem como fontes de coleta de dados instrumentos como questionário, cartas, entrevista narrativa, diário (auto) biográfico e ateliês biográficos, conforme descrito no quadro abaixo:

Fontes da pesquisa Objetivos

1. Questionário 1. Construir um perfil biográfico dos professores iniciantes da zona rural;

2. Cartas 2. Estabelecer um diálogo contínuo com os professores iniciantes, que propicie a compreensão dos dilemas vividos em

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seus anos iniciais de carreira; como enfrentam e superam esses dilemas;

3. Entrevista narrativa 3. Como narram, falando de si, sobre si para o outro; como reconstrói sua história de vida-formação;

4. Diários (auto)biográfico 4. Analisar como os professores escrevem sobre si e seu cotidiano e como ressignificam essas histórias; como vivenciam os dilemas do início da carreira;

5. Ateliês biográficos 5. Como refletem e falam dos seus processos identitários-formativos. Como falam de si para si e para o coletivo. Estabelecer um diálogo reflexivo e uma escuta sensível.

Para a coleta de dados, primeiramente, foi utilizado o questionário com perguntas estruturadas com o fim específico de coletar dados sobre o perfil do professor. As cartas, são trocadas desde abril de 2011, através do correio eletrônico, correio convencional ou através de pessoas que se disponibilizam levar e trazer as cartas para a pesquisadora e as colaboradoras. As entrevistas serão realizadas com os professores selecionados num momento posterior e serão individuais, gravadas em áudio e, dar-se-á de forma livre, deixando o sujeito falar sobre si da maneira mais conveniente. Os diários (auto)biográficos, que estão sendo escritos pelos colaboradores, tratam de uma escrita sobre a vida, que possibilita ao sujeito que escreve compreender o processo de conhecimento e aprendizagem a que estão implicados nas suas experiências construídas ao longo da vida. Os ateliês biográficos de projeto se configuram como um procedimento de formação ligado a dimensão do relato como construção da experiência do sujeito e da história de vida.

Trabalharei com dois diferentes gêneros textuais (autobiográficos) – orais e escritos, como fontes de pesquisa, inscritos no paradigma das ciências humanas e sociais. Em ambos as narrativas de vida são tomadas “como um fragmento do mundo sócio-histórico” (PASSEGGI, 2000). Nesse contexto, esse trabalho se configura como uma pesquisa-formação, pois ao mesmo tempo em que ele/dele promove/adquire-se dados de pesquisa, também promove reflexão que possibilita formação. Isso porque, a contrapartida desse estudo, o retorno para os colaboradores é a formação através dos ateliês biográficos e de todas as outras fontes já citadas. Ao mesmo tempo em que, nos momentos dos ateliês estarei coletando dados para realização da pesquisa também estarei promovendo momentos de reflexão e de formação contínua.

Os colaboradores da pesquisa são duas mulheres professoras do município de Macarani e um homem professor do município de Maiquinique. Após a aprovação do projeto de tese pelo Comitê de Ética e Pesquisa da UFSCar, foi solicitada autorização para a realização da pesquisa e, a partir do deferimento da solicitação nesses lugares, a pesquisadora

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participou de uma reunião com os professores rurais, onde foi dada informações sobre a pesquisa. Após as explicações, esta conversou somente com os professores em início de carreira, a fim de fazer-lhes o convite para participar da pesquisa. Ao final, três professores aceitaram colaborar.

Participantes

Através dos questionários puderam-se delinear os perfis dos colaboradores da pesquisa já citada e que estão expostos na tabela abaixo.

Fonte: Dados coletados através do questionário.

Percebe-se que os professores colaboradores dessa pesquisa não possuem a formação em nível superior e também não estão cursando, somente possuem a formação de magistério do ensino médio. Também que estes possuem menos de dois anos de docência.

Até o presente momento recebi seis cartas de todos os professores; do professor de Maiquinique, pelo correio eletrônico que se iniciaram no mês de maio. Das professoras de Macarani, recebi duas da colaboradora B pelo correio convencional (pela agência dos Correios), e todas as outros dessa colaboradora, juntamente com todas da colaboradora C por portadores, configurando-se o recebimento de uma carta por mês, devido ao tempo que se leva para que estas cheguem até minhas mãos.

Nas cartas privilegiaremos a informação biográfica, aquilo que for colocado pelos professores, por ser esta uma escrita formativa, e serão explorados aspectos ligados aos

Colabora-dores

Sexo Idade Formação Tempo que atua como professor(a) Tempo que atua na zona rural Situação funcional A M 35 Magistério do ensino médio 4 meses (desde fevereiro de 2011) 4 meses (desde fevereiro de 2011) Efetivo B F 28 Magistério do ensino médio 4 meses (desde fevereiro de 2011) 4 meses (desde fevereiro de 2011) Contratada C F 29 Magistério do ensino médio 1 ano e 4 meses (desde fevereiro de 2010) 1 ano e 4 meses (desde fevereiro de 2010) Contratada

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dilemas profissionais que estarão sendo vivenciados no percurso de vida-formação desses professores iniciantes.

Dados iniciais do conteúdo das cartas

A primeira carta recebida pelo colaborador A, ele disse apenas sim, aceitando ao convite. A colaborada B, enviou um texto que se chamava “A janela”. Na carta, esta não disse sim ou não, falou um pouco de si, se apresentou, falou da dificuldade enfrentada na escola rural onde leciona (a evasão), descreveu a escola e da perseverança em continuar lá. Entendi isso como um sim. A colaboradora C enviou-me junto com a carta em que aceitava participar da pesquisa, um texto chamado “Onde você coloca o sal?”. Nem uma das duas comentou o texto enviado. A meu pedido B disse que em apenas uma frase “enviei o texto a você por ter me simpatizado com você” e C também fala que o texto enviado é uma reflexão de sua vida.

Nas outras cartas os assuntos foram: A

- gosta de desafios e sobre a profissão docente e sua relação com ela - falou se si e do desafio que é alfabetizar alunos adultos

- fala de sua origem familiar

B

- desejo de aprender através dessa pesquisa,

- como vai com o seu cachorro, andando, para a escola, - de um problema que teve na escola com um aluno,

- almeja fazer o concurso público e ser aprovada para ficar mais próxima do seu filho (em 3 cartas)

- está em busca da estabilidade financeira e que pretende continuar lecionando; - fala de sua origem e constituição familiar;

- decepção por estar há dois meses sem receber o pagamento

C

- desabafa e conta coisas íntimas; fala de uma amargura de sua vida pessoal (3 cartas) - Fala da experiência de lecionar na escola rural como proveitosa

- Fala do fato da escola ser muito distante da cidade

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- diz que ainda não descobriu sua vocação e que talvez não seja ser professora - quer encontrar-se com a pesquisadora, pois conversar com ela lhe faz bem;

- fala de sua constituição familiar (mãe e dois irmãos) e do seu pouco contato com a família.

Referências

COSTA, J.S.; OLIVEIRA, R.M.M.A. A iniciação na docência: analisando experiências de alunos professores das licenciaturas. Olhar de professor, Ponta Grossa, 10(2): 23-46, 2007. FERREIRA, L.G. Professoras da zona rural: formação identidade, saberes e práticas. Dissertação (Mestrado em Educação e Contemporaneidade). Universidade do Estado da Bahia, 2010.

MORAES, A.A.A. Histórias de vida e autoformação de professores: alternativa de investigação do trabalho docente. Pro-Posições, v. 15, n. 2 (44), maio/ago. 2004.p.165-173. PASSEGGI, M.C. Memoriais de formação: processos de autoria e de (re)construção identitária. III Conferência de Pesquisa Sócio-Cultural. São Paulo: Campinas, 2000.

SOUZA, E.C. . (Auto) biografia, histórias de vida e prática de formação. In: NASCIMENTO, A.D; HETKOWSKI, T.M. (orgs). Memória e formação de professores. Salvador: EDUFBA, 2007. p. 59-74.

TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes, 2002.

ZIBETI, M.L.T. Escrita de professoras: estratégia de formação e instrumento de valorização profissional. In: PRADO, G.V.T; SOLIGO, R. (orgs). Porque escrever é fazer história: revelações, subversões, superações. Campinas, SP: Editora Alínea, 2007. p.149-160.

Referências

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