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Escrever e Pensar ou O Apelo Invencível da Arte

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Escrever

e Pensar ou

O Apelo

Invencível

da Arte

Escrever e Pensar ou

O Apelo Invencível

da Arte

18 e 19 maio 2016 - Porto

Fundação Eng.º António de Almeida

20 e 21 maio 2016 - Gouveia

Teatro - Cine de Gouveia

Centenário do Nascimento de Vergílio Ferreira (1916-2016)

Centenário do Nascimento de Vergílio Ferreira

(1916-2016)

Colóquio Internacional

C M Y CM MY CY CMY K

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Comissão Científica

Alípio de Melo António Saez Delgado Carlos Reis

Fernanda Irene Fonseca Gabriel Magalhães Helder Godinho Joana Matos Frias Jorge Costa Lopes Maria Celeste Natário Maria João Reynaud Otávio Rios

Secretariado

Lurdes Gonçalves Ana Raquel Silva Gil Teixeira Marlene Cruz Isabel Marques Comissão Organizadora CM Gouveia: Catarina Santos Joaquim Lourenço Jorge Costa Lopes

ILC/ FLUP:

Ana Paula Coutinho Isabel Pires de Lima Joana Matos Frias

Colaboração Artística

Diseurs:

Sofia Fonseca Samuel Gomes

Músicos:

Tiago Carriço (violino) João Queirós (piano)

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18 de MAIO de 2016

Local | Fundação Eng.º António de Almeida

14h30| Sessão Solene de Abertura

Evocação do Colóquio Comemorativo dos 50 Anos da Vida Literária de Vergílio Ferreira (1993)

- excerto do filme (20’)

15h45| Conferência de Abertura | Moderador: Ana Paula Coutinho

Fernanda Irene Fonseca (Univ. Porto) - Até à hora do fim: o “impossível repouso”

16h30| Conferência 1 | Moderador: Isabel Pires de Lima

Yana Andreeva (Univ. Sófia) – O diário e o diarista em diários

de escritores portugueses

17h00| Pausa

17h30| Em diálogo com Vergílio Ferreira | Moderador: Gonçalo Vilas-Boas

Agrupamento de Escolas de Vilela (Paredes) – supervisão de Isabel Margarida

Duarte e Sónia Rodrigues

• Universidade Sénior Rotary da Póvoa de Varzim

• Universidade Sénior Douro Cultura da Foz

18h30| Dois Testemunhos | Moderador: Celeste Natário

Participação: Rodrigues Paiva (Univ. Federal de Pernambuco) / Perfecto Cuadrado (Univ. das Ilhas Baleares)

19h00| Apontamento musical - Melodiartes

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19 de MAIO de 2016

Local | Fundação Eng.º António de Almeida

9h30| Conferência 2 | Moderador: Joana Matos Frias

Rosa Maria Goulart (Univ. Açores) – Uma vida a pensar e a escrever – até ao fim

10h00| MESA A | Moderador: Maria de Fátima Outeirinho

Ana Paula Coutinho (ILC – Univ. Porto) – Vergílio e a Europa: um escritor

a pensar em cont(r)a- corrente

Bruno Béu de Carvalho (CEC – Univ. Lisboa) – Vergílio Ferreira:

a possibilidade poética do ‘eu’ e o negativo interrogativo da narração/identidade

Tânia Moreira (CITCEM) – Notas vergilianas sobre a Arte e o Mal

10h00| MESA A1 | Moderador: Maria João Reynaud

Manuel Cândido Pimentel (UCP) – Da decifração do tempo em Vergílio Ferreira

José da Costa Macedo (Univ. Porto) – A dimensão estética e a centralidade

antropológica da inquietação metafísica de Vergílio Ferreira

11h15| Pausa

11h30| MESA B | Moderador: Maria Luísa Malato

Celeste Natário (IF – Univ. Porto) – Vergílio Ferreira e o que está antes da escrita

Magdalena Doktorska (Univ. Varsóvia) – “Estrela binária” de Vergílio Ferreira –

os percursos do Saber e Ser-se-aí em busca da epísteme do Homem

Hugo Monteiro (GFMC-IF/INED) – Faces da tua face. Uma escrita da interpelação

em Vergílio Ferreira

11h30| MESA B1 | Moderador: Sárka Grauová

Cândido Oliveira Martins (UCP) – Vergílio Ferreira, crítico literário

entre a estética e a ética

Célia M. C. Pinto (IELT/FCSH-UNL) – Espelhos da escrita na revelação e na

questionação da consciência autobiográfica vergiliana

Renato Epifânio (IF – Univ. Porto) – Em diálogo com Vergílio Ferreira: por um

neo-humanismo

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15h00| Conferência 3 | Moderador: Zulmira Santos

Perfecto Cuadrado (Univ. das Ilhas Baleares) - Vergílio Ferreira em España:

fulguração intermitente

15h30| MESA C | Moderador: Isabel Morujão

Maria João Reynaud (CITCEM – Univ. Porto) – Raul Brandão lido

por Vergílio Ferreira

Pedro Meneses (CEHUM - IPVCastelo) – O peso de estar vivo segundo Vergílio

Ferreira e Gonçalo M. Tavares

Leonor Castro (Esc. Sec. Fafe) – Figurações da velhice nos romances Em Nome da

Terra e a máquina de fazer espanhóis

15h30| MESA C1 | Moderador: Isabel Cristina Rodrigues

Joana Matos Frias (ILC – Univ. Porto) – «Medir um abismo»: A Poesia segundo V.F.

Ana Maria Seiça de Carvalho (CECHUC) – ‘Bailado Final’: o corpo que dança na

pintura literária de Vergílio Ferreira

Nelson Miguel Bandeira – Vergílio Ferreira e Carlos Castán, dois escritores-leitores

em busca do sentido da palavra dos livros

16h45| Pausa

17h00| MESA D | Moderador: Luci Ruas

Jorge Costa Lopes (ILC – Univ. Porto) – Vergílio Ferreira e Eduardo Lourenço:

fragmentos de um diálogo

Leonor Figueiredo (Univ. Porto) – Carta registada com aviso de recepção – arte,

memória e construção

Nuno dos Santos Sousa (FCSH-UNL) – Na tua Face: o Rosto, o Obsceno e os Mitos

17h00| MESA D1 | Moderador: Ana Turíbio

António Braz Teixeira (Instituto Filosofia Luso-Brasileira) – A reflexão estética de

Vergílio Ferreira

Maria José Dias (ILC – Univ. Porto) – O corpo e o Homem – entre a pergunta e a

interrogação

Rui Miguel Mesquita (Univ. Porto) – Uma brusca frialdade: desconexão e

descontinuidade do espaço em Manhã Submersa

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20 de MAIO de 2016

Local | Teatro Cine de Gouveia

9h15| Mensagem de Boas-vindas do Sr. Presidente da Câmara Municipal de Gouveia

9h30| Conferência 4 | Moderador: Isabel Pires de Lima

Luci Ruas (UFRJ) – Vergílio Ferreira, leitor crítico de Raul Brandão

10h00| MESA E | Moderador: Ana Paula Coutinho

Gavilanes Laso (Univ. Salamanca) – A morte em Vergílio Ferreira

Ana Margarida Fonseca /Isa Vitória Severino (IPGuarda) – Em nome da Terra

– entre a falência do corpo e a persistência da memória.

Amadeu Lopes Sabino – Pedra Dura e Cal Branca

11h30| Pausa

11h45| MESA F | Moderador: Jorge Valentim

José Rodrigues de Paiva (Univ. Federal de Pernambuco) - Apelo da noite: a ação

como absoluto

João Tiago Lima (Univ. Évora) – Sangue em pensamento – sobre dois ensaios de

Vergílio Ferreira

Vitor Ló (CEF-UCP) – Vergílio Ferreira e o desporto

13h20| Almoço

15h00| Conferência 5 | Moderador: Yana Andreeva

Sárka Grauová (Univ. Praga) – Cifras de transcendência: Vergílio Ferreira e Maurice

Merleau Ponty

15h30| MESA G | Moderador: Rosa Maria Goulart

Isabel Cristina Rodrigues (Univ. Aveiro) – Heteropsicografia: Pessoa, Vergílio e

o lugar da dor

António Gordo – Pensar, em romance

João Moita – No final era o Verbo e não havia Deus: a palavra absoluta de Vergílio

Ferreira e Herberto Helder

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16h45| Pausa

17h00| MESA H | Moderador: Luci Ruas

Isabel Pires de Lima (ILC – Univ. Porto) – Pintura e pinturas em Vergílio Ferreira

Jorge Valentim (UFSCar – FAPESP) - Mozart e Dürer: Diálogos interartes

Ana Turíbio (UNL) – Contributo para o estudo da génese do espaço em O Caminho

fica longe de Vergílio Ferreira

Gabriel Magalhães (UBI) – O que foi feito, afinal, do cântico vergiliano?

21h30| Momento musical | Grupo de Fados de Coimbra – In Illo Tempore

21 de MAIO de 2016

Local | Teatro Cine de Gouveia

9h30| MESA TESTEMUNHOS | Moderador: Jorge Costa Lopes

Almeida Faria, Eduardo Lourenço, Liberto Cruz, Alípio de Melo, Ángel Marcos de Dios

10h30| Conferência de Encerramento | Moderador: Fernanda Irene Fonseca

Helder Godinho (UNL) – Vergílio Ferreira, a palavra e a ausência

11h15| Apresentação do documentário: Aldeia Eterna, produzido pela GMT, Produções.

12h30| Almoço

14h30| Visita à Aldeia Eterna – Melo

20h00| Jantar

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AMADEU LOPES SABINO

Pedra Dura e Cal Branca

Resumo: Tempo, lentidão da osmose, “espírito dos lugares”, o Alentejo é um dos lugares

privilegiados do espírito de Vergílio Ferreira. Entre a dureza das pedras e a brancura das casas, decorre a ação do mais alentejano dos seus romances: Aparição (1959). O objeto da comunicação é o levantamento, na obra ficcional, ensaística e diarística de Vergílio Ferreira, da presença do Alentejo, em cuja capital o escritor viveu entre 1945 e 1958, professor de línguas clássicas no liceu local. As amizades de Vergílio Ferreira e as reações negativas à sua obra, sobretudo ao romance

Manhã submersa, definem o quadro de referências sociais e mentais com que conviveu e se viu

confrontado, e que serviram de modelos a ambientes, eventos e personagens de Aparição. A partir da estética e da filosofia, o autor de Aparição distanciou-se do neorrealismo e aproximou-se do existencialismo. O corte com o realismo socialista e os respetivos fundamentos teóricos tornaram--no objeto de críticas e ataques dos comunistas. Numa época em que a oposição ao Estado Novo era, em grande medida, de obediência ou respeito pelo Partido Comunista clandestino, Vergílio Ferreira assumiu-se anticomunista. O período eborense marca uma mudança radical no seu pensamento e na sua vasta obra. Mudança: é essa a marca do Alentejo no espírito e na ficção vergilianos.

*

Amadeu Lopes Sabino, Elvas, 1943. Em Portugal, foi advogado, jornalista (Diário de Lisboa

e O Tempo e o Modo) e docente universitário. Exilado na Suécia entre 1973 e 1975. Funcionário internacional de 1983 a 2008. Romancista, contista e ensaísta. Últimas obras publicadas: A Cidade

do Homem, romance, 2010; Entre dois séculos – Viagem ao passado próximo, ensaios, 2014; As claras madrugadas, romance, 2015.

ANA MARGARIDA FONSECA / ISA VITÓRIA SEVERINO (IPGuarda)

Em nome da Terra - entre a falência

do corpo e a persistência da memória

Resumo: No âmbito do Colóquio Internacional Vergílio Ferreira, somos conduzidas pelo “apelo

invencível” da voz de João, o narrador autodiegético de Em Nome da Terra, que, a partir da velhice, recupera o seu corpo jovem, assim como a partilha e a vivência com Mónica, e nos remete para a irremediabilidade do presente. Neste sentido, procuraremos analisar a conflitualidade existente entre a fragilidade humana e a persistência da memória: “Na velhice já todo o real se

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esgotou, o que fica dele é a imaginação ou um divagar sem consistência, farrapos soltos à deriva.” O nosso objetivo passa, assim por questionar como este eu sente e vive o presente; configura o real e se recupera no tempo, a partir dos diferentes espaços evocados na obra – o espaço ontológico e o espaço físico. A modelização dos espaços representados no romance constitui, na verdade, um importante meio de apresentação das principais inquietações da obra narrativa vergiliana, como a escrita do corpo, a efemeridade da vida ou o absurdo da existência humana.

*

Ana Margarida Fonseca é Doutora em Literatura Comparada e Professora Adjunta do Instituto

Politécnico da Guarda. Membro associado do Centro de Estudos Comparatistas. De entre as suas publicações destacam-se Projectos de Encostar Mundos. Referencialidade e Representação na

Literatura Angolana e Moçambicana dos Anos 80 (Prémio Revelação da APE – Ensaio Literário,

Difel, 2002) e Percursos da Identidade. Representações da Nação na Literatura Pós-Colonial

de Língua Portuguesa (Fundação Calouste Gulbenkian/FCT, 2012).

Isa Vitória Severino é Doutora em Literatura e Professora Ajunta do Instituto Politécnico da

Guarda. Tem participado em Congressos nacionais e internacionais, tendo artigos publicados em Revistas Científicas e em Atas de Congressos.

ANA MARIA SEIÇA DE CARVALHO (CECHUC)

‘Bailado Final’: o corpo que dança na

pintura literária de Vergílio Ferreira

Resumo: Vergílio Ferreira afirmava que tinha seguido a carreira de escritor porque não lhe tinha

sido possível ser pintor. A realização de um artista – diz em Espaço do Invisível 1 – como homem, seja ele pintor ou escritor, “é-lhe dada precisamente através da sua arte”. Escrevia para ser e escrever era inevitável. São constantes, na obra de Vergílio Ferreira, as referências a dança, ao bailado, aos movimentos, à ginástica, no fundo, ao corpo que é e ao corpo em movimento, o ser estudado e repensado em toda a sua potencialidade. A bailarina Elsa, do romance vergiliano

Cântico Final, surgindo diante do protagonista pintor, Mário, suscita a reflexão sobre a ausência

de peso do corpo e o seu poder momentâneo. A dança imprime no artista a sensação vívida do desejo de pintar um momento balético, não a bailarina em si, mas o que sucedera, aquilo que era extraordinário. Com este trabalho, pretendemos não somente estabelecer uma relação ecfrástica e intertextual entre Cântico Final e o famoso bailado A Morte do Cisne, como também compreender que essa necessidade de escrever para poder viver, se iguala ao imperativo de pintar para viver e ao de dançar para ser.

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*

Ana Seiça Carvalho, natural de Coimbra, licenciou-se em Línguas e Literaturas Clássicas e

Portuguesa, em 2007, pela Universidade de Coimbra, e adquiriu em 2011 o grau de Mestre, com a defesa do Relatório de Estágio “Dentro e fora da personagem: a montagem do Festival e a criação do espectáculo”. Como membro investigador do CECH da Faculdade de Letras, tem-se dedicado sobretudo à Literatura Portuguesa, no que diz respeito à Recepção dos Clássicos e à relação da Medicina e da Narrativa. Defendeu a sua tese de Doutoramento, no dia 5 de Fevereiro, sob o tema: “Escrever para Ser”: o mythos do envelhecimento na obra de Vergílio Ferreira.

ANA PAULA COUTINHO (ILC – Univ. Porto)

Vergílio e a Europa: um escritor

a pensar em cont(r)a- corrente

Resumo: Com base nas notas e reflexões que Vergílio Ferreira foi registando nos anos 80-90

em Conta-Corrente, Pensar e Escrever (póstumo), procurarei relevar os principais traços de uma «ideia de Europa», cuja ausência no quadro da reordenação do mundo, viria a constituir uma das maiores inquietações do escritor nos últimos anos da sua vida. Esta revisitação da mundividência do autor de Para Sempre permitir-nos-á ajuizar o que nela continua a ser válido ou interpelador para a Europa de hoje, assim como realçar a natureza intrinsecamente crítica do «pensar» vergiliano, na sua permeabilidade às contingências do Tempo que se projecta na história individual e colectiva. Justamente por não se escusar à controvérsia, a actividade contínua do «pensar» em Vergílio Ferreira afirma-se como um perene acto de resistência a todas as modalidades de final.

*

Ana Paula Coutinho é Professora associada do Departamento de Estudos Portugueses e

Românicos da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde tem lecionado sobretudo nas áreas da Literatura Comparada e dos Estudos Franceses. Doutorada em Literatura Comparada (1998) e com Agregação em Literaturas e Culturas Românicas (2010), sempre se dedicou à literatura contemporânea numa perspectiva comparatista, tendo nos últimos anos desenvolvido particular investigação no domínio das interculturalidades e das representações literárias e artísticas das migrações e do exílio. Integrou vários anos a Direcção do Instituto de Literatura Comparada (2001-2003; 2012-2015; 2015…) e é actualmente a sua Coordenadora Científica. Coordena igualmente a base digital Ulyssei@s. Membro colaborador do CRIMIC (Université Paris IV), colabora ainda com o Programa Non-Lieux de l’Exil (Collège d’Études Mondiales – FMSH). É vice-presidente da Alliance Française do Porto. Tem vários artigos publicados em revistas e outras publicações colectivas, nacionais e estrangeiras (Colóquio/Letras, Cadernos de Literatura

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Comparada, Revue de Littérature Comparée, Diogène, Gávea-Brown, Carnets, Latitudes: Cahiers Lusophones,Intercâmbio…). Dos livros publicados ou editados, destacam-se António Ramos Rosa. Mediação Crítica e Criação Poética (Quasi Edições, 2003. Prémio Ensaio Pen-Club); Lentes Bifocais – Representações literárias da Diáspora Portuguesa (Afrontamento, 2009), Passages et Naufrages migrants. Les fictions du détroit (com Maria de Fátima Outeirinho e José Domingues

de Almeida), Paris, Harmattan, 2012; Nos & leurs Afriques. Images identitaires et regards croisés

Constructions littéraires fictionnelles des identités africaines cinquante ans après les décolonisations (com Maria de Fátima Outeirinho e José Domingues de Almeida) Frankfurt,

Berlin, Peter Lang, 2013; Marguerite Duras. Palavras e Imagens da Insistência, ILCML, Colecção Libretos, 2015.

ANA TURÍBIO (UNL)

Contributo para o estudo da génese

do espaço em O Caminho fica longe de

Vergílio Ferreira

Resumo: A génese do romance O caminho fica longe compreende um período de cerca de 5 anos

até à sua publicação (1939-1943) com algumas visitações posteriores, provavelmente na década de 80. O caminho fica longe evidencia forte presença autobiográfica no tema tratado, no espaço e no tempo em que decorre a acção, a vida estudantil coimbrã, identificada com “o mito de juventude”. Ficção cuja redação inicial apresenta grande influência presencista, sobretudo de José Régio, vai contudo revelando, durante a sua realização, outra influência, a neo-realista, principalmente na alteração do desenlace do romance. Tentaremos mostrar esse caminho através da génese do espaço, sobretudo do espaço exterior. A percepção do espaço neste romance é geralmente desencadeada pela tristeza/melancolia das personagens sendo a descrição do exterior apresentada pelo seu olhar através da janela, ou pela saída para o exterior. A descrição do espaço resulta da experiência do olhar das personagens (Rui, Amélia), mesmo quando não é apresentada como sendo delas. Os elementos recorrentes na caracterização de Coimbra são: o Mondego, a noite, o gemido do eléctrico, a cor branca do casario e o azul do céu.

*

Ana Isabel Turíbio (1965-) é doutorada, pela Universidade Nova de Lisboa, com a tese O

caminho fica longe: matriz genética do processo da construção romanesca em Vergílio Ferreira (2011), e mestre com a dissertação O Traçado da Escrita em Cântico Final, de Vergílio Ferreira

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1990, sendo desde então Professora do Ensino Secundário. Procedeu ao tratamento do espólio de Vergílio Ferreiro na Biblioteca Nacional. Integra a Equipa Vergílio Ferreira, coordenada por Helder Godinho e é investigadora colaboradora do CEIL/IELT da UNL, estudando e publicando a edição crítico-genética da obra de Vergílio Ferreira. Integra também a Direcção do Centro de Estudos Regianos de Vila do Conde.

ANTÓNIO BRAZ TEIXEIRA (Instituto Filosofia Luso-Brasileira)

A reflexão estética de Vergílio Ferreira

Resumo: A comunicação debruça-se sobre a proposta de uma Estética Metafísica esboçada em

diversas obras do filósofo e romancista português Vergílio Ferreira (1916-1996), abordando a noção de Arte como revelação de um mundo primordial e realização ou presentificação, por via dos símbolos expressos no objecto artístico, da originária relação afectiva com a vida e o conceito de Estética como disciplina especulativa em que a Arte se acha convertida ou materializada em ideias, bem como as suas teses sobre a impossibilidade de haver progresso em Arte, sobre a dimensão hermenêutica de toda a obra artística e sua essencial temporalidade e historicidade, e sobre o carácter constitutivo de toda a Arte representada pela sinceridade e pela originalidade.

*

António Braz Teixeira é Licenciado em Direito e Doutor Honoris Causa pela Universidade de

Lisboa, tendo exercido funções docentes em diversas instituições de Ensino Superior, como a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, a Universidade de Évora, a Universidade Católica Portuguesa, a Universidade Autónoma de Lisboa e a Universidade Lusófona. Membro da Academia de Ciências de Lisboa, da Sociedade Científica da Universidade Católica Portuguesa, da Academia Portuguesa de História, da Academia Brasileira de Letras e da Academia Brasileira de Filosofia (Rio de Janeiro). Autor de: A Filosofia Portuguesa Actual (1959); O Pensamento filosófico-jurídico

Português (1983); Sentido e Valor do Direito. Introdução à Filosofia Jurídica (1990/ 2010); Caminhos e Figuras da Filosofia do Direito Luso-Brasileira (1991/ 2002); Deus, o Mal e a Saudade: estudos sobre o pensamento português e luso-brasileiro contemporâneo (1993); O Pensamento Filosófico de Gonçalves de Magalhães (1994); O Espelho da Razão: estudos sobre o pensamento filosófico brasileiro (1997); Ética, Filosofia e Religião: estudos sobre o pensamento português, galego e brasileiro (1997); Formas e Percursos da Razão Atlântica: estudos de filosofia luso-brasileira (2001); História da Filosofia do Direito Portuguesa (2005); Diálogos e perfis

(2006); A Filosofia da Saudade (2006); O Essencial sobre a Filosofia Portuguesa (séculos XIX

e XX) (2008); Conceito e formas de democracia em Portugal e outros estudos da história das ideias (2008); A Experiência Reflexiva: estudos sobre o pensamento luso-brasileiro (2009); A Filosofia da Escola Bracarense (2010); A filosofia jurídica brasileira do século XIX (2011); Breve

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Tratado da razão jurídica (2012); A teoria do mito na filosofia luso-brasileira contemporânea

(2014). Homenageado por colegas, admiradores e discípulos, através de: AAVV, Convergências

e Afinidades. Homenagem a António Braz Teixeira (2008). É ainda o Presidente do Conselho

de Direcção da Nova Águia: Revista de Cultura para o Século XXI e Sócio Honorário do MIL:

Movimento Internacional Lusófono.

ANTÓNIO GORDO

Pensar, em romance

Resumo: A experiência de leitura da obra de Vergílio Ferreira, mormente dos seus romances,

esclarecida por uma já extensa bibliografia crítica, poderia convidar a um cómodo repouso sobre a matéria consabida, como se toda a nova abordagem estivesse condenada ao anátema do já dito. Pelo contrário, a singularidade do texto romanesco de Vergílio Ferreira, na sua complexidade multimodal, desafia o leitor e o crítico à invenção de novos caminhos ou, no mínimo, à requalificação dos já traçados. Com vista a este mínimo, pretende-se apelar à evidência de que a arte do texto

romanesco em Vergílio Ferreira dá forma e substância a uma verdadeira arte de pensar. Esse

objectivo passará por uma referência minimalista aos principais elementos textuais que definem essa arte e terminará com uma segunda evidência, complementar da primeira: a do poder contagiante dessa arte de pensar que, atuando ao nível da receção, a transforma em arte de fazer

pensar, como testemunham muitos leitores.

*

António da Silva Gordo é natural de Leiria, onde reside e onde cumpriu (quase) toda a sua

carreira profissional, como professor do Ensino Secundário (Escola Secundária Rodrigues Lobo e outras) e do Ensino Superior (Escola Superior de Educação de Leiria e ISLA – Instituto Superior de Leiria), até à sua aposentação em 2010. Estudos e publicações: Deuses, Poetas e Pastores, sobre a novela pastoril de Rodrigues Lobo; edição comemorativa dos 150 anos do Lyceu de Francisco Rodrigues Lobo, 1993; A Escrita e o Espaço no Romance de Vergílio Ferreira, prefácio de Vítor Aguiar e Silva, Porto Editora, 1995; Principal obra: A Arte do Texto Romanesco em

Vergílio Ferreira (Editora Luz da Vida, Coimbra, 2004) – com base na tese de doutoramento.

Diversos ensaios (publicados em revistas da especialidade ou institucionais, atas de congressos, etc.) e prefácios a livros de linguística e literatura.

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ARNALDO SARAIVA (CITCEM - Univ. Porto)

Vergílio Ferreira e Marmelo e Silva

Resumo: José Marmelo e Silva e Vergílio Ferreira nasceram (com quatro anos de diferença) e

viveram os primeiros anos em aldeias pouco distantes do lado norte e sul da Serra da Estrela, frequentaram o mesmo seminário do Fundão, estudaram Filologia Clássica na mesma Faculdade coimbrã e foram ambos professores no ensino secundário. As afinidades nos seus percursos biográficos e a sua mútua estima e amizade não garantiram as dos seus percursos literários; mas é indubitável que ambos estiveram na origem do neo-realismo português, de que logo se afastaram por idênticas razões, e que se valeram da experiência de seminaristas para produzirem Adolescente (1948) – depois Adolescente Agrilhoado (1958) – e Manhã Submersa (1954), onde há notórias semelhanças e diferenças. Se antes dessas obras já existia, mesmo em português, uma importante ficção de cariz autobiográfico centrada em ambientes eclesiásticos ou em internatos e em personagens adolescentes (em fase de formação humana e cultural), isso não retirou a sua originalidade e o seu interesse documental e literário; trata-se de obras que denunciam com vigor não só a tacanhez e o sadismo de falsos educadores, mesmo se clérigos, mas também as clausuras e os bloqueios sociais e mentais típicos de paróquias beirãs ou de um Portugal salazarento, beato e repressivo, que favorecia traumatismos juvenis mas também a rebelião de défroqués ávidos de liberdade e de alegria, e capazes de enfrentar com a sua “fúria noturna” a “noite e a fúria do mundo” ou de responder a um visceral “apelo invencível de vida e de harmonia” (Vergílio dixit).

*

Arnaldo Saraiva é professor emérito da Universidade do Porto, de cuja Faculdade de Letras

foi professor, tendo também ensinado na Universidade da Califórnia em Santa Barbara (1978-1979),na Universidade de Paris – Sorbonne Nouvelle (1993-1994) e na Universidade Católica Portuguesa-Porto (2003-2009). Foi membro da direcção da Cooperativa Árvore, presidente do Conselho Geral do Boavista Futebol Clube, fundador do Centro de Estudos Pessoanos, presidente da Fundação Eugénio de Andrade, cronista colaborador da Radiotelevisão Portuguesa e da Radiodifusão Portuguesa e ator em filmes de Luís Galvão Teles, António Reis, Saguenail e Joaquim Pinto. Sócio correspondente da Academia Brasileira de Letras, é autor de extensa bibliografia (ensaio, poesia, crónica e tradução),em que se incluem obras como: Literatura Marginalizada (2 vols., 1975 e 1980); Bilinguismo e Literatura (1975); Fernando Pessoa e Jorge de Sena (1981);

In (poemas, 1983); O Modernismo Brasileiro e o Modernismo Português (1986;3ªed., 2015); O Livro dos Títulos (1992); Fernando Pessoa Poeta-Tradutor de Poetas (1996); Introdução à Poesia de Eugénio de Andrade (1995); O Sotaque do Porto (1996); Conversas com Escritores Brasileiros

(2000); Folhetos de Cordel e Outros da minha Coleção (2006); Poesia de Guilherme IX de Aquitânia (2008); Augusto dos Santos Abranches, Escritor e Agitador Cultural em Portugal, em

Moçambique e no Brasil (2013); O Génio de Andrade (2014); Dar a Ver e a se Ver no Extremo – O Poeta e a Poesia de João Cabral de Melo Neto (2014); Os Órfãos do Orpheu (2015).

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BRUNO BÉU DE CARVALHO (CEC – Univ. Lisboa)

Vergílio Ferreira: A possibilidade

poética do ‘Eu’ e o negativo

interrogativo da narração/identidade

Resumo: Uma das linhas de força que mais contribui para tornar indissociáveis, na obra de Vergílio

Ferreira, a literatura e a filosofia é justamente um questionamento sobre o «eu» e as condições de possibilidade de produção de uma narrativa de tal questionamento. Isto mesmo, propomos, contribuirá para três importantes reflexões na sua obra: 1. a necessidade de uma concepção tridimensional do «eu», este sendo concebido, última e metafisicamente, como a-narrativo e aparicional (diríamos ainda ‘sublime’ e ‘espantoso’); 2. a necessidade de uma concepção problemática do romance — o «romance-problema», que propõe e pratica — cuja problematização conduz a diegese a torções tais que resultam em descontinuar e suspender a identidade narrativa; 3. uma distinção, central no seu pensamento, entre o perguntativo e o interrogativo — este, transverbal e

negativo —, que acabará por ser o operador central, entre outras, das distinções referidas nos dois

pontos anteriores. A sua obra coloca-nos assim num espaço em que a possibilidade poética do «eu», isto é, a proposta de uma literatura feita do questionamento mesmo do «eu» e do que se lhe dá, ocorre, ultimamente, na suspensão (espantosa) do eu-narrativo; em que a problematização da sua identidade só é suscitável, e suscitada, se por uma, sempre tensional, poética da desidentificação narrativa — ou seja, se pelo negativo interrogativo da narração/identidade.

*

Bruno Béu (phd, univ. de lisboa, 2012) é investigador de pós-doutoramento no Centro de Estudos

Comparatistas da Universidade de Lisboa. É doutorado em filosofia pela Universidade de Lisboa, com uma tese intitulada Interrogação e Apofatismo no Pensamento de Vergílio Ferreira, onde leccionou ao nível de pós-graduação em áreas como literatura e filosofia na cultura portuguesa contemporânea ou filosofias asiáticas. Tem proferido comunicações e publicado artigos nas áreas da filosofia e literatura portuguesas do séc. xx, da filosofia da linguagem — em particular, sobre modos contemporâneos de discursos apofáticos — ou da estética. co-editor (com Paulo Borges) do volume de ensaios a sair A Renascença Portuguesa. Tensões & Divergências (2015), e ainda editor da obra de Antero de Quental (em conjunto com uma selecção de ensaios, poesia e cartas)

Tendências Gerais da Filosofia e Outros Textos (2013). É membro do Centro de Estudos

Comparatistas da Universidade de Lisboa e membro colaborador do Centro de Filosofia da mesma Universidade. As suas principais áreas de investigação e interesse são: filosofia e literatura, literatura e cultura portuguesas do séc. xx, discursos apofáticos, estudos asiáticos, filosofia da linguagem, estética e filosofia da religião.

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CÂNDIDO OLIVEIRA MARTINS (UCP)

Vergílio Ferreira, crítico literário entre

a estética e a ética

Resumo: A consagração pública da obra de escritores como Vergílio Ferreira deve-se

prepon-derantemente à absoluta singularidade da sua extensa criação romanesca; e só secundariamente, à sua obra ensaística ou diarística. Contudo, há um significativo "corpus" de textos críticos mais ou menos breves o autor, como os que foram reunidos nos sucessivos volumes de Espaço do

Invisível, bem merecedores de atenção reflexiva. Debruçando-nos sobre este variado e expressivo

conjunto de "Leituras" que o escritor foi publicado ao longo dos anos, pretendemos focar a nossa atenção em três aspectos fundamentais: as dominantes temáticas; a configuração de um método crítico; a concepção antropológica e ética subjacente.

*

Cândido Oliveira Martins é Professor Associado na Univ. Católica Portuguesa (UCP). Coordena

uma linha de investigação do Centro de Estudos Filosóficos e Humanísticos (CEFH), apoiado pela FCT. Publicou livros como: Teoria da Paródia Surrealista (1995); Para uma Leitura de ‘Maria

Moisés’ de Camilo Castelo Branco (1997); Naufrágio de Sepúlveda. Texto e Intertexto (1997); Para uma Leitura da Poesia Neoclássica e Pré-Romântica (2000); Fidelino de Figueiredo e a Crítica da Teoria Literária Positivista (2007). Co-organizou volumes colectivos: Novos Horizontes das Humanidades (2006); Leituras do Desejo em Camilo Castelo Branco (2010); Estética e Ética em Sá de Miranda (2011); Pensar a Literatura no Séc. XXI (2011); e Camões e os Contemporâneos

(2012). Além de alguns artigos sobre Vergílio Ferreira.

CELESTE NATÁRIO (IF – Univ. Porto)

Vergílio Ferreira e o que está antes da

escrita

Resumo: Escrever foi o ofício de Vergílio Ferreira. Pensar acompanhou o ofício. Ambos foram a sua

razão de ser e por isso dois títulos/ temáticas de obras suas. Escrever foi a última, insistindo até ao fim “na problemática de escrever”. O excessivo vitalismo, o seu mundo vivido compulsivamente, a sua intensa reflexão, sobretudo a partir de Aparição, conduzirá o que procuraremos dizer nesta nossa intervenção. Pela relação afectiva que o autor teve com o mundo e pela simpatia com esse mesmo mundo, a escrita do pensador-filósofo da ofuscação do eu por si mesmo aponta claramente para muito

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mais mundo, muito mais palavras, muito mais indizíveis, indefiníveis, talvez até impensáveis…

*

Celeste Natário Docente da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Enquanto

investigadora, tem-se dedicado, em particular, ao pensamento e cultura de língua portuguesa, tendo publicado: O Pensamento Dialéctico de Leonardo Coimbra: reflexão sobre o seu valor

antropológico (1997); O Pensamento Filosófico de Raul Proença (2005); Entre Filosofia e Cultura: percursos pelo pensamento filosófico-poético português nos séculos XIX e XX (2008); Itinerários do Pensamento Filosófico Português: da Origem da Nacionalidade do Século XVIII (2010); Pascoaes: Saudade, Física e Metafísica (2010). Tem organizado múltiplos encontros científicos.

Coordena o projecto de investigação “Raízes e Horizontes da Filosofia e da Cultura em Portugal” (Instituto de Filosofia da Universidade do Porto).

CÉLIA M. C. PINTO (IELT/FCSH-UNL)

Espelhos da escrita na revelação e na

questionação da consciência

autobiográfica vergiliana

Resumo: Na obra de Vergílio Ferreira, é frequente e diversa a reflexão sobre a relação entre o

ato de escrever e a consciência do «eu», no equacionamento, por um lado, da fronteira entre uma entidade global definida social e logicamente e um obscuro e enigmático «outro de si» que se dá a revelar por uma palavra que busca o rasto da sacralidade; e, por outro, a revelação de um «eu» que, numa época vocacionada a explorar a diferença, se debate com a perda da segurança de uma identidade universal do homem e, em sentido contrário, reclama, também, o necessário espaço existencial e cultural do indivíduo, que resiste a uma uniformização identitária. Nesta linha, e tendo, principalmente, como quadro delimitado de análise da obra do autor, os ensaios e os diários, propõe-se mostrar um «eu» posicionado na sua relação com a História e com o Tempo, orientado pela consciência do seu e dos nossos desdobramentos, e fazendo-nos ouvir e ainda reconhecer a atualidade da sua verdade na ordenação do mundo de hoje.

*

Célia Maria Costa Pinto, docente na Escola Secundária António Damásio, em Lisboa, e

colaboradora do IELT-FCSH da Universidade Nova de Lisboa, produziu estudos em torno da obra de Vergílio Ferreira, a saber: preparação de edição crítica de «Sobre o Humorismo de Eça de Queirós», tese de doutoramento sobre a escrita diarística do autor e ensaio «Vergílio Ferreira e Fernando Pessoa: um encontro possível?».

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FERNANDA IRENE FONSECA (Univ. Porto)

Até à hora do fim:

o “impossível repouso”

Fernanda Irene Fonseca. Professora Catedrática aposentada da Faculdade de Letras da

Universidade do Porto, onde foi docente e investigadora nas áreas de Linguística Textual, da Análise do Discurso e da Linguística Aplicada. Na obra Deixis, Tempo e Narração (Porto, 1990) - propôs uma abordagem interdisciplinar da narração e da ficção, abrindo a Linguística a domínios de reflexão comuns com a Teoria da Literatura e com a Filosofia da Linguagem. Inserem-se neste enquadramento os vários ensaios que publicou, a partir de 1986, sobre a obra de Vergílio Ferreira, interpretando-a como pesquisa poético-filosófica sobre a linguagem, ensaios em parte reunidos no livro Vergílio Ferreira: a celebração da Palavra (Coimbra, 1992). Organizou o Colóquio de

Homenagem a Vergílio Ferreira nos Cinquenta Anos de Vida Literária (Porto,1993) e as respectivas Actas (Porto, 1995). A partir de 2000 integrou a Equipa Vergílio Ferreira (Biblioteca Nacional),

tendo feito a edição critico-genética do manuscrito de um diário dos anos 40 (Diário Inédito

1944-49, Lisboa, 2008) e, em colaboração com H. Godinho, de um romance inédito de 1947 (Promessa,

Lisboa, 2010).

GABRIEL MAGALHÃES (UBI)

O que foi feito, afinal, do cântico

vergiliano?

Resumo: Ao contrário daquilo que o título da conferência possa sugerir, através do jogo de

palavras implícito, não se trata aqui de analisar o romance Cântico Final, nem de consignar a fortuna crítica deste livro. Aquilo que se pretende passa, pelo contrário, por avaliar o rasto deixado pela obra de Vergílio Ferreira na cultura e na literatura portuguesas da segunda metade do século XX e, também, da nossa atualidade. A análise deste problema seguirá três eixos interpretativos: um primeiro, ao nível das ideias, um segundo, relativo aos processos literários, e um terceiro, que refletirá sobre a melhor maneira de apresentar a criação deste autor à sociedade portuguesa contemporânea.

*

Gabriel Magalhães é Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Estudos

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Universidade da Salamanca, em Espanha, com uma tese intitulada Garrett e Rivas: o Romantismo

em Espanha e Portugal. Foi professor na Universidade de Salamanca e é docente da Universidade

da Beira Interior, onde exerce atualmente o cargo de Diretor da licenciatura em Ciências da Cultura. Tem publicado obras de investigação sobre temas ibéricos e promovido projetos de investigação nessa mesma área. Com o romance Não Tenhas Medo do Escuro (Difel, 2009), recebeu o Prémio de Revelação da Associação Portuguesa de Escritores. Outras obras romanescas:

Planície de Espelhos (Difel, 2010), Madrugada na Tua Alma (Alêtheia, 2011) e Restaurante Canibal (Alêtheia, 2014). Volumes de ensaio escritos em castelhano: Los secretos de Portugal

(RBA, 2012) e Los españoles (Elba, 2016). Volumes de ensaio em português: Espelho Meu (Paulinas, 2013), traduzido para italiano e para catalão, Como Sobreviver a Portugal Continuando a Ser

Português (Planeta Manuscrito, 2014) e O Mapa do Tesouro (Paulinas, 2015). Colabora no jornal La Vanguardia, de Barcelona, e no Jornal do Fundão.

GAVILANES LASO (Univ. Salamanca)

A morte em Vergílio Ferreira

Resumo: Qualquer leitor da obra de Vergílio Ferreira percebe, sem grande esforço de atenção

através das páginas de sus romances e livros de ensaio, um insistente discurso sobre a morte. Especialmente nos seus livros de memórias vê-se bem essa espécie de solilóquio reflexivo com a morte, tão característico e frequente nele, num intento desesperado para que o não possa surpreender; para retirar da morte, tão evidente no comum das gentes nas sociedades avançadas, o seu sotaque de temor e de tragédia. Mas, o aspecto mais reiterativo que Vergílio tenta transmitir ao leitor é que, sendo a morte o mais definitivo e autêntico da nossa vida, desde centenares de miles de anos em que o homem nasce e morre ainda não aprendeu a ser mortal, na procura de afastar de si a morte como se fosse uma criatura apestada. Esta conferência trata de rever e expor os vários registros do profundo questionar vergiliano sobre esse pequeño intervalo entre o último bater do coração e o silêncio final.

*

José Luis Gavilanes Laso (1944) é natural de León (Espanha). Licenciou-se em Filología

Românica pela Universidade de Salamanca e doutoure-se no mesmo centro universitário com a tese El espacio simbólico y metafísico en la obra de Vergílio Ferreira (Publicações Dom Quixote, 1989, com o título Vergílio Ferreira, espaço simbólico e metafísico). É autor da tradução ao espanhol do romance Aparição (Ediciones Cátedra, 1984) com intrudução e notas. Recentemente participou no Congresso Homenagem a Vergílio Ferreira na Universidade de Évora, com a conferência “Espanha e os espanhóis na óptica de Vergílio Ferreira”. Durante anos tem sido colaborador com “Carta de Espanha” na revista Colóquio/Letras da Fundação Calouste Gulbenquian.

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Dentro da su labor docente e investigadora, além dos numerosos trabalhos sobre a obra de Vergílio Ferreira e outros estudos parciais sobre literatura e historia, foi promotor, coordenador e coautor da Historia de la Literatura Portuguesa (Ediciones Cátedra, 2000).

HELDER GODINHO (UNL)

Vergílio Ferreira,

a palavra e a ausência

Resumo: Pretendo mostrar como a questão, fundamental em Vergílio Ferreira, da Ausência (da

Presença – Face ou/e Verdade) se liga à interrogação sobre a palavra, que percorre toda a obra de Vergílio Ferreira, a começar pelo seu primeiro romance, O Caminho Fica Longe. As palavras dizíveis organizam o mundo e exprimem os sentimentos, mas a palavra indizível e final, que desse a cifra do mundo e presentificasse a ausência, corresponderia à emergência do mundo original onde habita o ausente e inexprimível.

*

Helder Paulo Lourenço Godinho (1947), Professor Catedrático Aposentado da Faculdade de

Ciências Sociais e Humanas. A sua investigação organiza-se, sobretudo, em torno de três núcleos: a obra de Vergílio Ferreira, objecto da sua tese de doutoramento, a literatura medieval Francesa e os Estudos sobre o Imaginário, com especial atenção à Teoria do Imaginário. Publicou numerosos estudos sobre Vergílio Ferreira.

HUGO MONTEIRO (GFMC-IF/INED)

Faces da tua face. Uma escrita da

interpelação em Vergílio Ferreira

Resumo: «Se tu viesses»… Este condicional abre um dos pensamentos de Vergílio Ferreira, cujo

tom, quase messiânico, acaba numa interrogação suspensiva: «Tu quem?» (Escrever, 94). A escrita enquanto experiência é, em Vergílio Ferreira, simultaneamente uma forma tacteante de pensar e um instante de interpelação suspensiva. Daí que a sua escrita/pensamento se oriente para um ente determinado, mas sem destinação, como que suspensa do acto imprevisível da leitura, no que se constitui como uma curiosa fenomenologia da/na escrita. O leitor, espécie de

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território sem coordenadas ou geografia, materializa-se de forma polifónica, vendo-se interpelado enquanto indeterminação que é. A presente comunicação pretende escutar, na leitura de Vergílio Ferreira, formas de interpelação que caracterizem ou desenhem o processo – duplo mas simultâneo, e por vezes híbrido – de escrever/pensar, que singulariza o autor de Aparição no panorama literário Português.

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Hugo Monteiro é Doutor em Filosofia e professor na Escola Superior de Educação do Politécnico

do Porto. É também investigador no Gabinete de Filosofia Moderna e Contemporânea da Universidade do Porto. A sua investigação incide preferencialmente na Filosofia Contemporânea, na sua intersecção com os domínios da Literatura, da Política e da Educação. Dedica especial atenção à Desconstrução e às obras de Jacques Derrida, de Jean-Luc Nancy e de Maurice Blanchot. O enfoque da sua investi-gação encontra-se também no pensamento e na literatura em português, na intersecção entre poesia, artes plásticas e filosofia. Foi também co-tradutor, com Fernanda Bernardo, do livro de Jean-Luc Nancy, O peso de um pensamento, a Aproximação, publicado pela Palimage em 2011. Para além dos textos e artigos que vem produzindo, sublinhe-se a publicação, em 2014, do livro Maurice

Blanchot. A Literatura nos Limites da Filosofia (Palimage). Foi distinguido, no ano de 2009, com

o Prémio Extraordinário de Doutoramento, concedido pela Faculdade de Filosofia de Universidade de Santiago de Compostela.

ISABEL CRISTINA RODRIGUES (Univ. Aveiro)

Heteropsicografia: Pessoa, Vergílio

e o lugar da dor

Resumo: Apesar da consabida reticência vergiliana à inquestionabilidade canónica de Pessoa,

o concreto da sua obra vem pôr em relevo a existência de uma relação de discipulato simbólico entre Vergílio Ferreira e o universo literário pessoano. Assim, esta comunicação procurará singularizar, na narrativa do autor de Para Sempre, os modos de assimilação da lição simbólica do mestre, tanto nos textos éditos de Vergílio, como em alguns dos inéditos que integram o seu espólio literário.

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Isabel Cristina Rodrigues nasceu em Coimbra em 1967 e licenciou-se em 1989 na Faculdade

de Letras da Universidade de Coimbra em Línguas e Literaturas Modernas (Estudos Portugueses e Franceses). É Professora do Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro desde 1991, tendo apresentado em 2006 uma dissertação de doutoramento sobre a obra de Vergílio Ferreira (A Palavra Submersa. Silêncio e Produção de Sentido em Vergílio Ferreira), publicada

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em 2016 pela Imprensa Nacional - Casa da Moeda. Tem ainda dois outros volumes dedicados ao escritor, A Poética do Romance em Vergílio Ferreira (Lisboa, Colibri, 2000) e A vocação do lume.

Ensaios sobre Vergílio Ferreira (Coimbra, Angelus Novus, 2009), exercendo maioritariamente

a sua docência e investigação nos domínios da Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea e da Teoria da Literatura, em cujo âmbito tem publicado ensaios em revistas nacionais e estrangeiras. No contexto dos seus estudos sobre Vergílio Ferreira e a sua obra, integra ainda a “Equipa Vergílio Ferreira”, coordenada pelo Prof. Helder Godinho e atualmente integrada no Instituto de Estudos de Literatura Tradicional (IELT – FCSH, Universidade Nova de Lisboa), a qual se destina ao estudo do espólio do autor e à edição crítica dos seus textos. Em extensão do seu percurso académico, tem integrado júris de prémios literários como os da Associação Portuguesa de Escritores (Grande Prémio de Romance e Novela e Grande Prémio de Literatura Biográfica), bem como o painel de Estudos Literários encarregado da avaliação de Projetos de Doutoramento e Pós-Doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).

ISABEL PIRES DE LIMA (ILC – Univ. Porto)

Pintura e pinturas em Vergílio Ferreira

Resumo: Partindo da declaração de Vergílio Ferreira de que se tivesse podido escolher teria sido

pintor, procurar-se-á levar a cabo uma reflexão em torno do interesse do autor pelo universo das artes plásticas, revisitando a literatura crítica em torno da questão e identificando as várias modalidades em que aquele interesse se manifesta em diversos momentos da sua produção ficcional. Casos exemplificativos de algumas dessas modalidades serão analisados de modo mais detalhado.

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Isabel Pires de Lima é Professora Emérita da Universidade do Porto. Professora Catedrática

Aposentada da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Investigadora do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa (Unidade I&D da FCT). Professora convidada em Universidades europeias, africanas, americanas e asiáticas. Doutorada em Literatura Portuguesa com a tese As Máscaras do Desengano - para uma leitura sociológica de ‘Os Maias’ de Eça de

Queirós (1987); especialista em Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea e em estudos

queirosianos com dezenas de títulos publicados; trabalha ainda em Estudos Interartísticos e em Literaturas Comparadas em Língua Portuguesa. Promotora de inúmeros colóquios e congressos nacionais e internacionais. Deputada à Assembleia da República Portuguesa (1999-2005/2008-2009). Ministra da Cultura de Portugal (2005-2008). Vice-Presidente do Conselho de Administração da Fundação de Serralves para o triénio 2006-8. Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.

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JOANA MATOS FRIAS (ILC – Univ. Porto)

“Medir um abismo”:

A poesia segundo V.F.

Resumo: Vergílio Ferreira escreveu poesia como quem pinta ao Domingo. Chamou a essa prática

«passatempo», e ao seu produto «versalhada». E no entanto, parece haver nas suas páginas uma preocupação permanente com a leitura crítica da poesia e de vários poetas, em particular no que diz respeito à constituição da Modernidade. Nesta breve reflexão, procurar-se-á problematizar a natureza da relação contraditória que o Escritor manteve com uma expressão literária que nem sempre lhe suscitou apreço, de modo a poder compreender-se mais integralmente o carácter tão singular da prosa vergiliana, com destaque para a configuração genológica do que tem sido qualificado como o seu «romance lírico».

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Joana Matos Frias é Professora Auxiliar na Faculdade de Letras da Universidade do Porto —

onde se doutorou em 2006 com a dissertação Retórica da Imagem e Poética Imagista na Poesia

de Ruy Cinatti —, membro do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa, membro da

Direcção da Sociedade Portuguesa de Retórica, investigadora da rede internacional LyraCompoetics e colaboradora do grupo «Poesia e Contemporaneidade» (Universidade Federal Fluminense). Autora do livro O Erro de Hamlet: Poesia e Dialética em Murilo Mendes (7letras, 2001) — com que venceu o Prémio de Ensaio Murilo Mendes —, responsável pela antologia de poemas de Ana Cristina César Um Beijo que Tivesse um Blue (Quasi, 2005), co-responsável (com Luís Adriano Carlos) pela edição fac-similada dos Cadernos de Poesia (Campo das Letras, 2005), e (com Rosa Maria Martelo e Luís Miguel Queirós) pela antologia Poemas com Cinema (Assírio & Alvim, 2010). Tem publicado ensaios no campo da Poesia Portuguesa e da Poesia Brasileira modernas e contemporâneas — privilegiando as correlações entre a poesia, a pintura, a fotografia e o cinema —, e a sua actividade crítica tem-se repartido por autores como Ronald de Carvalho, Cecília Mei-reles, C. Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Murilo Mendes, J. Cabral de Melo Neto, Adélia Prado, Ana Cristina Cesar, Angélica Freitas, Marília Garcia, Fernando Pessoa, Almada Negreiros, José Régio, José Gomes Ferreira, Eugénio de Andrade, Vergílio Ferreira, Nuno Guimarães, Ruy Belo, Fiama Hasse Pais Brandão, Armando Silva Carvalho, António Franco Alexandre, Manuel António Pina, Daniel Faria, Vasco Gato, Rui Pires Cabral e José Miguel Silva. Em 2014-2015, publicou as colectâneas de ensaios Repto, Rapto e Cinefilia e

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JOÃO MOITA

No final era o Verbo e não havia Deus:

a palavra absoluta de Vergílio Ferreira

e Herberto Helder

Resumo: O presente estudo pretende fazer dialogar dois dos mais importantes autores da

literatura portuguesa do séc. XX. Liga-os a forte presença da dimensão do sagrado nas suas obras, um sagrado ateológico mas não irreligioso, conquanto não necessariamente decorrente de uma disponibilidade para a assunção de uma verdade transcendente ou de uma nostalgia do absoluto perdido; e liga-os a demanda que ambos encetaram pela palavra absoluta que tudo subsumisse e a partir da qual irradiassem as coordenadas de uma nova vida que reconhecesse no homem criador de valores o único valor. Pretendeu-se descrever e articular estas duas tendências em ambas as obras a fim de nelas harmonizar o anseio pelo Verbo genesíaco com o reconhecimento da impossibilidade do regresso dos deuses.

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João Moita nasceu em Alpiarça em 1984. Sobre Vergílio Ferreira, escreveu Solidão Inacabada

– amor e erotismo em Vergílio Ferreira, texto com que obteve o grau de Mestre em Estudos

Comparatistas pela Universidade de Lisboa (2012), e Poesia diante do espelho da morte: sobre

algumas ideias de Antonio Gamoneda e Vergílio Ferreira, ensaio que esteve na base da conferência

proferida na Universidade Nova de Lisboa a propósito do Colóquio “Antonio Gamoneda: Diálogos Ibéricos” (2014). Seleccionou, traduziu e posfaciou uma antologia do poeta espanhol Antonio Gamoneda (Assírio & Alvim, 2013) e escreveu dois livros de poesia: Miasmas (Cosmorama, 2010) e Fome (Enfermaria 6, 2015).

JOÃO TIAGO LIMA (Univ. Évora)

Sangue em pensamento – sobre dois

ensaios de Vergílio Ferreira

Resumo: Sabe-se que, para Vergílio Ferreira, a criação romanesca é indissociável do gesto

ensaístico ou mesmo da reflexão filosófica tout court. Como afirma em Um Escritor Apresenta-se: «A filosofia no romance é uma encarnação. As ideias em arte têm sangue» (Ferreira, 1981: 112). E, de facto, parece indiscutível que se, por um lado, os romances de Vergílio respondem, antes

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de mais, ao objectivo de «pôr um problema» (Ibidem), por outro, o modo como essa resposta é perseguida torna-se quase sempre também muito estimulante do ponto de vista filosófico. Ainda assim, Vergílio Ferreira não deixou nunca de distinguir claramente os seus romances dos seus livros que foram concebidos como ensaios. É o caso de Invocação ao meu corpo, obra cuja redacção perfaz este ano precisamente meio século, embora tenha sido editada apenas três anos depois (1969). Sobre este livro, escreve Vergílio, no II volume da Nova Série de Conta-corrente, o seguinte: «Por que raio o meu Invocação ao Meu Corpo não tem tido praticamente uma palavra de apreço? Porque é que os mestres da filosofia – sobretudo da “portuguesa” – ainda não repararam que esta é talvez (talvez) uma obra não desprezível entre nós. Não estou taralhouco, podem crer» (Ferreira, 1993: 394-395). Este desabafo magoado, com a data de 29 de Dezembro de 1990, ocorre quando o escritor se encontra a preparar o livro Pensar, ensaio que terá a sua primeira edição em 1992, circunstância que talvez não seja fortuita. O presente trabalho visa indagar a importância que os dois livros mencionados (Invocação ao meu corpo e Pensar) detêm não apenas no percurso intelectual do escritor – e não há dúvida que ambos são livros de uma enorme pregnância literária, dado que há neles, creio, uma espécie de sangue em pensamento –, mas também no panorama do pensamento filosófico em Portugal da segunda metade do século XX. Julgo que se, no primeiro caso, Invocação ao meu corpo e sobretudo Pensar constituem, de acordo com Eduardo Lourenço, uma «linha de fuga da (…) obra [de Vergílio]» (Lourenço, 1993: 129), no segundo caso, importa contextualizá-los no horizonte das principais linhas de força do ensaísmo português contemporâneo.

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João Tiago Lima é Professor Auxiliar com agregação do Departamento de Filosofia da

Universidade de Évora. Investigador do CICP (Centro de Investigação em Ciência Política). Ensina e estuda nas áreas do pensamento português contemporâneo, da antropologia filosófica e da filosofia do desporto. Entre 2010 e 2015 integrou a Comissão Científica do Projecto da Edição das Obras Completas de Eduardo Lourenço (Fundação Calouste Gulbenkian). Principais obras publicadas: O Fogo do Espírito – Desporto, Olimpismo e Ética (2007), Existência e Filosofia –

O ensaísmo de Eduardo Lourenço (2008), Falar Sempre de Outra Coisa – Ensaios sobre Eduardo Lourenço (2013).

JORGE COSTA LOPES (ILC – Univ. Porto)

Vergílio Ferreira e Eduardo Lourenço:

fragmentos de um diálogo

Resumo: O diálogo que Vergílio Ferreira e Eduardo Lourenço travam, durante mais de quarenta

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de Heterodoxia e Mudança terem sido publicados no mesmo ano (1949) – afinal, dois títulos de rutura e viragem no ensaio e no romance editados em Portugal, durante o século XX – a amizade entre os dois escritores só se inicia em meados da década seguinte, não sem antes passar por uma pequena controvérsia provocada pelas respetivas leituras do inevitável Fernando Pessoa. Para o autor de O Labirinto da Saudade a sua amizade com Vergílio Ferreira foi, aliás e ao princípio, intelectual, mas logo “se converteu numa amizade tout court”, pois entretanto conheceu também o homem para lá do escritor. A nossa comunicação pretende destacar alguns fragmentos de um diálogo que Vergílio Ferreira manteve com Eduardo Lourenço, em diferentes

tons, nos sublinhados e comentários insertos, ao longo do tempo, nos livros do último, os quais

fazem hoje parte do espólio bibliográfico da Biblioteca Municipal Vergílio Ferreira de Gouveia.

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Jorge Costa Lopes é Doutorando do Curso de Estudos Literários, Culturais e Interartísticos

da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, está atualmente a terminar, com o apoio de uma bolsa de estudos da Fundação Calouste Gulbenkian, uma dissertação sobre a obra literária de Vergílio Ferreira. Investigador do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa. Autor de As Polémicas de Vergílio Ferreira (2010) e Sobre o Riso e o Cómico em Vergílio Ferreira (2014).

JORGE VALENTIM (UFSCar – FAPESP)

Mozart e Dürer: Diálogos interartes

Resumo: A comunicação tem como objetivo propor uma leitura do romance Em nome da terra

(1990), de Vergílio Ferreira, sublinhando dois elementos presentes na efabulação romanesca: o musical e o plástico, enquanto formas de representação da temática do corpo e da morte. A partir das propostas intertextuais de Barthes, Kristeva e Piégay-Gros, que privilegiam o texto literário como espaço de ligações com textos da mesma natureza e de outras manifestações artísticas, apontamos no romance em foco um diálogo interartes entre a ficção de Vergílio Ferreira, a música de Mozart (Concerto para oboé e orquestra K 314) e a pintura de Dürer (Morte coroada a cavalo). Conjugando música, pintura e ficção, numa espécie de contraponto, Vergílio Ferreira tece a meada romanesca ora com uma melancolia inevitável, ao reconhecer a imperfeição do corpo diante do desgaste e do fim impostos pela morte inexorável, sobretudo quando procura resgatar a invocação do corpo volátil e fluido da ginasta Mónica, sua mulher-oboé; ora com uma ironia sutil, sarcástica e amarga, na perpectiva do protagonista João, marcado pela mutilação do corpo e pela degenerescência da velhice. Assim, o autor de Em nome da terra transita intertextualmente não só entre discursos musicais e plásticos, mas também entre sons e cores que ecoam metaforicamente a sagração de um corpo e sugerem um réquiem para um corpo mutilado e envelhecido.

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Jorge Valentim é Graduado em Música, Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade

Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atualmente, é Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Literatura da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar/São Paulo) e Professor Colaborador do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da UNESP/Araraquara. Autor de ensaios publicados no Brasil, na Espanha, em Portugal, em Angola e no Canadá, de sua produção destacam-se: A quintessência musical da poesia: Rodomel.Rododendro, um poema sinfónico de Albano Martins (Porto: Campo das Letras, 2007) e Pelas margens do Atlântico e do Índico. Ensaios sobre as literaturas africanas de língua portuguesa (Manaus: UEA Edições, 2012).

JOSÉ DA COSTA MACEDO (Univ. Porto)

A dimensão estética e a centralidade

antropológica da inquietação

metafísica de Vergílio Ferreira

Resumo: Quer nas obras de ficção quer na literatura de diário, quer nos ensaios, Vergilio Ferreira

aborda a inquietação metafísica do homem sobre si próprio individualmente ou no conjunto dos homens bem como sobre os horizontes que o transcendem como parte central de todas as demais inquietações das quais se destaca como fundamento e cúpula definidora da própria essência humana. Em tal especificação detecta-se uma dupla dimensão estética não só porque premordialmente se reflecte na arte como também porque é estética em si própria e por isso esteticamente se transmite. Nesta comunicação procura-se aflorar estes dois aspectos constitutivos de uma antropologia filosófica e de uma indesligavel filosofia da arte numa obra que pertence ao mesmo tempo e por motivos do mesmo peso, à literatura e à filosofia.

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José Maria da Costa Macedo é docente aposentado. Foi professor de Filosofia Medieval e de

diversas outras disciplinas no curso de licenciatura em Filosofia do Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Traduziu o Proslogion de Anselmo de Cantuária e os textos associados à sucessiva polémica com Gaunilo. Traduziu e estudou a Questão sobre a

eternidade do mundo de Tomás de Aquino. Publicou diversos estudos em revistas e obras nacionais

e estrangeiras, principalmente sobre autores e temas medievais. Os seus interesses vão muito para lá da Filosofia Medieval, publicando e participando regularmente em encontros científicos sobre Filosofia Contemporânea, Fenomenologia, Metafísica, Religião, Artes e Estética. É membro de diversas sociedades científicas, nacionais e internacionais. Coordenou com Vítor Oliveira Jorge a obraCrenças, Religiões e Poderes, Ed. Afrontamento, Porto, 2009.

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JOSÉ RODRIGUES DE PAIVA (Univ. Federal de Pernambuco)

Apelo da noite: a ação como absoluto

Resumo: Vergílio Ferreira disse repetidas vezes e em diferentes circunstâncias que aprendera

a escrever com Eça de Queirós e a pensar com André Malraux. Este escritor francês de tal forma suscitou o interesse do autor de Aparição e sobre ele exerceu um tal fascínio que o levou a escrever um livro sobre a sua personalidade e a sua obra, quando esta ia ainda a menos da metade do seu curso. Esse livro é André Malraux (interrogação ao destino), publicado em 1963. Nesse mesmo ano Vergílio publicaria Apelo da noite, romance que havia escrito em 1954 e que até ali permanecera inédito. São, portanto, da mesma época e sobretudo do mesmo ano de publicação, o ensaio sobre Malraux e o romance de que trata este estudo, o que talvez explique que Apelo da noite seja o mais malrauxiano dos romances de Vergílio Ferreira. Tal como o romancista francês o fizera em toda a sua ficção, assim como na própria vida, Vergílio trata nesta sua obra da ação empenhada numa causa como um valor absoluto capaz de justificar a existência, ainda que à custa da própria vida. A ação como absoluto é tema característicamente malrauxiano sobre o qual Vergílio Ferreira também refletiu filosoficamente no “ensaio criativo” Invocação ao meu corpo (1969), na parte intitulada “Quatro mitos modernos”. A idéia e a ação – e a distância e as causas que separam o pensar do agir é o tema fundamental de Apelo da noite, romance de dimensão ensaística que não se furta a também refletir sobre a Arte como justificativa da vida. É disto que trata o presente estudo.

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José Rodrigues de Paiva nasceu em Coimbra em 30 de outubro de 1945 e encontra-se radicado

no Recife (Brasil), desde 1951. É bacharel em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco (1969) e mestre e doutor em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco. Para a defesa do mestrado apresentou a dissertação "Mudança: romance-limite" depois publicada em livro com o título O espaço-limite no romance de Vergílio Ferreira (1984), e, para a obtenção do doutorado defendeu a tese intitulada VERGÍLIO FERREIRA: Para Sempre, romance-síntese e última fronteira de um território ficcional, publicada em livro em 2007. Ao estudo da obra do autor de Aparição dedicou ainda mais dois livros: As palavras e os dias, Vergílio Ferreira (2006) e Em nome da escrita: estudos sobre Vergílio Ferreira (2011). Publicou vários livros de poesia, entre os quais se destacam Memórias do navegante (1976) e As águas do espelho (2008) e algumas coletâneas de ensaios, com destaque para As surpresas do mágico (1985), Fulgurações do labirinto (2003), Estudos sobre Florbela Espanca (1995) e Estudos sobre Miguel Torga (2010), sendo que, das duas últimas é apenas o organizador. É professor de Literatura Portuguesa na Universidade Federal de Pernambuco e presidente da Associação de Estudos Portugueses Jordão Emerenciano. Dirige a Revista Estudos Portugueses mantida pela Associação a que preside.

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LEONOR CASTRO (Esc. Sec. Fafe)

Figurações da velhice nos romances

Em Nome da Terra e a máquina de fazer

espanhóis

Resumo: Ao longo dos tempos, a velhice e os velhos suscitaram uma dupla tendência na forma

como são perspetivados, social, cultural e artisticamente — ora vistos como momento de sabedoria e de experiência e sinónimo de venerabilidade; ora como fase de decrepitude e encargos familiares e sociais onerosos e incómodos. Esta ambivalência refletiu-se, genericamente, nas diversas áreas das diferentes civilizações, da ação e discurso políticos, à reflexão filosófica, passando pela arte. Na sociedade pós-moderna e contemporânea, esta ambivalência tornou-se mais teórica do que prática, pois a crise de valores e a idolatria do novo atiraram o velho para um lugar marginal. Porque não contribui ativamente para a sustentabilidade das economias e porque é a prova concreta da corruptibilidade e finitude do Homem, o velho é lançado para instituições, submetido à aparentemente inevitável categorização, anulando-se as especificidades, negando-se a sua autonomia, apagando-se a sua dignidade. Como se posiciona a literatura, especificamente a portuguesa, perante esta realidade? Que figurações nos dá da velhice na sociedade contemporânea? Os romances Em Nome da Terra e a máquina de fazer espanhóis, com as especificidades inerentes ao perfil de autores de idades, enquadramentos e vivências diferentes, constituem bons exemplos dessa representação, uma vez que em ambas as narrativas os narradoresprotagonistas, velhos a quem a morte levou a companheira de décadas, se veem obrigados a (re)aprender o sentido da vida. Pese embora as muitas e naturais diferenças, os dois romances irmanam-se nas figurações que fazem da velhice, nomeadamente na forma como o tempo passa a ser vivenciado e é metaforicamente tornado presente nas narrativas, no modo como os espaços são sentidos, na necessidade de desconstruir a transcendência para afirmar a imanência do homem, contrariando os efeitos nefastos do tempo, fixando-se na plenitude dos instantes, provando, assim, a validade do ser humano até ao último minuto.

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Maria Leonor Pereira Oliveira Castro – 38 anos, professora de Português de ensino básico

e secundário. Licenciada em Português pela Universidade do Minho, em 2000, com média de 16 valores. Mestre em Literatura Portuguesa pela Universidade Católica, em 2013, com 18 valores. Publicação: “Figurações da velhice nos romances Em Nome da Terra e a máquina de fazer

espanhóis: lugar e função do humor e do amor”. Revista Portuguesa de Humanidades (2014, V.

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LEONOR FIGUEIREDO (Univ. Porto)

Carta registada com aviso de

recepção - arte, memória e construção

Resumo: Editada na Revista Vértice, em 1958, Carta ao Futuro surge num período pós-guerra

carregado do peso da história e afetado por atrocidades que fizeram a humanidade questionar muitas das narrativas, pensamentos e utopias de futuro que tinha até à época alimentado. Desta carta e sobre os vários tópicos assentes nos desígnios e contradições da humanidade e da arte, o que podemos retirar para analisar a arte e a vida do novo milénio? De que forma o questionamento de Vergílio Ferreira tem ainda a capacidade de falar da nossa arte hoje, das novas relações entre ética e estética, da sensibilidade em tempos de aflição? Comunicação interativa e multimédia.

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Maria Leonor Figueiredo nasceu em 1991, no Porto. Licenciou-se em Estudos Portugueses e

Lusófonos na Faculdade de Letras do Porto e concluiu o mestrado em Estudos Literários, Culturais e Interartes na mesma casa, com uma dissertação sobre Resistência na Poesia Portuguesa Contemporânea. Actualmente encontra-se a frequentar o mestrado em Práticas Artísticas Contemporâneas na Faculdade de Belas Artes do Porto, trabalhando principalmente com vídeo, fotografia e instalação - em relação com outras áreas como a literatura, a filosofia e a política.

LUCI RUAS (UFRJ)

Vergílio Ferreira, leitor crítico

de Raul Brandão

Resumo: Durante muito tempo não se reconheceu a importância da obra de Raul Brandão no

cenário finissecular da literatura portuguesa. Vergílio Ferreira reconhece-o quando afirma que, naquele momento, ou por miopia, ou por falta de perspectiva, à obra do autor de Húmus não foi dado o valor que merecia. Hoje, porém, desfeito o equívoco, já é quase um lugar-comum afirmar a modernidade finissecular da sua escritura. Nessa perspectiva, não se pode ignorar o destaque que Vergílio Ferreira dá à dimensão existencial que releva da obra do escritor do Porto, a quem considera "um dos mais originais e poderosos escritores de toda a literatura portuguesa”, o mais atual da primeira metade do século (EI-II, p. 215). Decerto, Raul Brandão tem papel precursor na história do romance português moderno e contemporâneo, como o tem destacado a crítica mais recente. Impactado pela opção brandoniana talvez inaugural pela interrogação que provoca,

Referências

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