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Anais V CIPSI - Congresso Internacional de Psicologia Psicologia: de onde viemos, para onde vamos? Universidade Estadual de Maringá ISSN X

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Academic year: 2021

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O PROCESSO DE CRESCIMENTO PESSOAL NA LUDOTERAPIA CENTRADA NA CRIANÇA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Glaucia Karina Danner O presente trabalho foi realizado no ano de 2010 e está pautado na teoria de Carl Rogers, a Abordagem Centrada na Pessoa. Assim, o intuito foi facilitar o desenvolvimento do potencial dos clientes, partindo do pressuposto da tendência atualizante. Esta, conforme Rogers (2003), pode se expressar por meio de uma ampla série de comportamentos e como resposta a uma grande variedade de necessidades. Ela implica em um desenvolvimento em direção à diferenciação dos órgãos e das funções. Pode ser frustrada ou desvirtuada, mas não pode ser destruída sem que se destrua o organismo, entendendo que a tendência atualizante é inata e faz-se presente em todos os seres humanos, onde a responsabilidade pelo processo de crescimento é exercida pela própria pessoa.

Este trabalho é um relato do processo de psicoterapia individual realizado com uma criança de 08 anos onde havia queixas de agressividade, desorganização e relação ruim com a avó materna. Os principais objetivos do trabalho foram oferecer um espaço, onde a criança pudesse se sentir compreendida, acolhida e livre de julgamentos ou preconceitos; auxiliá-la no fortalecimento de suas energias de crescimento, facilitando a jornada rumo a sua tendência atualizante.

O processo foi realizado em 26 sessões, dentre as quais, 06 foram realizadas com a mãe para fazer orientações sobre sua relação com o filho. Os atendimentos com a criança foram realizados semanalmente e com a mãe quinzenalmente, tendo ambos duração de 50 minutos. No decorrer dos atendimentos o único material utilizado foi a Caixa Lúdica que continha muitos brinquedos e materiais pedagógicos Dentre os recursos, os mais utilizados foram os desenhos que permitiram o acesso a vários conteúdos que a criança não conseguia expressar verbalmente. O referencial teórico utilizado nas intervenções e discussão do caso foi a Teoria Humanista – Centrada na Pessoa, focando os aspectos da Ludoterapia Centrada na Criança.

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Durante sua vida a criança passou por algumas situações de abandono. Segundo relatos da mãe, quando estava grávida de 02 meses o pai de seu filho foi embora e não voltou sequer para registrar o bebê. Quando a criança completou 04 meses, ela foi embora para o Japão com um novo marido deixando o filho com os avós maternos, retornando ao Brasil após 02 anos. O padrasto e a criança eram muito apegados. Contudo, após 05 anos de convivência, ele foi embora para o Japão, se casou com outra mulher e não deu mais notícias. De acordo com Justo (1987), toda criança nasce munida de um dinamismo que a levará a um crescimento positivo, entretanto, para que isso ocorra de forma saudável ela necessitará da consideração positiva, que se dará primeiramente pela relação com pais. Neste caso, a criança foi afastada do convívio de seus pais na primeira fase de seu desenvolvimento, fato este que pode ter gerado sentimento de abandono e não aceitação. Outro fato importante é que a criança não conhecia sua verdadeira história, acreditava que seu pai biológico era o homem com quem conviveu por 05 anos e a mãe não aceitava contar a verdade para o filho, pois afirmava não estar preparada. No decorrer das sessões com a criança, foi perceptível a dificuldade da criança para entrar em contato com sua história, seus desenhos pareciam representar sua própria vida e seus sentimentos: confusos, agressivos, sem regras.

Após algumas sessões com a mãe, observei que a família não possuía diálogo e que apresentava dificuldade de relacionamento. A avó brigava com a mãe e era agressiva com o neto, além do segredo que havia entre mãe e filho, fatores que influenciavam diretamente no comportamento do mesmo. Em algumas sessões o cliente brincou de guerra, nesses momentos ele se jogava no chão e gritava expressando toda sua ansiedade e sua raiva, sentimentos que eram proibidos e reprimidos em sua casa. Oaklander (1980), diz que é brincando de situações que a criança experimenta seu mundo e aprende mais sobre o mesmo, portanto o brincar é algo essencial para seu desenvolvimento sadio. Conforme Castelo Branco (2001 como citado em Landreth 1993, p. 21), o processo da Ludoterapia leva a criança lidar com suas questões emocionais, liberando sua energia para absorver o que está sendo ensinado para ela no dia-a-dia de sua vida. Percebendo a necessidade que a criança apresentava de extravasar suas emoções, ofereci a ela um clima de permissividade onde pode expressar seus sentimentos de forma completamente livre, sem deixar de estabelecer as limitações necessárias para que a criança tomasse consciência de suas responsabilidades em seus relacionamentos.

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Houve uma sessão em que a criança quis brincar com maquiagem, perguntou se poderia maquiar-me e assim o fez, deixou-me toda colorida, fez sombras nos olhos de várias cores, passou blush vermelho e batom roxo. Esta brincadeira permitiu um contato mais próximo entre psicoterapeuta e cliente, e pode ser compreendida como um dos motivadores para o bom estabelecimento do vínculo. Já em outra sessão, utilizando pequenas peças de mobílias e a família terapêutica, a criança simulou a vivência de uma família e novamente apresentou bastante confusão. Primeiro o pai era bom e protegia os filhos, logo após o pai passou a ser ruim e a castigar. Quanto à mãe, o cliente não conseguiu dar nome a ela e mais uma vez demonstrou a dificuldade na relação com a mesma. Todas essas vivências influenciaram no crescimento da criança e no desenvolvimento de sua autorrealização. Em um atendimento com a mãe, a mesma disse que o filho era preguiçoso, pois não ajudava cuidar da casa, falava para ele que deveria cuidar da mãe e que deveriam ser amigos, revelou que dormiam juntos e reclamou de sua mãe que não ajudava educar e cuidar do neto. Neste momento, pude observar que a mãe necessitava de algumas orientações sobre a relação mãe-filho. Segundo Corrêa (2009), mesmo os pais querendo a felicidade dos filhos, algumas vezes acabam se tornando dificultadores do processo de crescimento e desenvolvimento do mesmo por meio de atitudes contraditórias. Por esse motivo o terapeuta precisa estar atento e compreender as dificuldades da relação entre pais e filhos, incluindo, caso necessário, o atendimento aos pais no processo da criança. Portanto, o intuito de trabalhar com os pais é esclarecê-los sobre suas funções, vislumbrando as possibilidades de se tornarem potentes para cuidar do filho de modo mais amoroso. Enquanto fazia orientações à mãe, sentia como se minha fala não estivesse atingindo a mesma, ela não tomava para si e exteriorizava as funções maternais.

A partir do que já foi descrito, pode-se perceber que a criança estava inserida em um ambiente desfavorável para o crescimento de sua tendência atualizante. Foi abandonada pelo pai, pelo padrasto e algumas vezes pela mãe que cobra dele funções que não são de sua responsabilidade, desta forma, seu caminho para a maturidade e autorrealização foram sendo desvirtuados. No entanto, um espaço favorável para o crescimento da criança pode ser vivenciado no seu processo de psicoterapia, por meio das atitudes facilitadoras providas por mim, fato que pode ser observado em uma fala da criança: “Eu gosto de você e eu gosto de vir

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aqui! Aqui eu posso brincar do que eu quero” (SIC). Assim, observa-se o quanto o processo de psicoterapia era importante para o mesmo, pois lhe era oferecido um espaço de respeito, aceitação e permissividade, aspectos que, de acordo com as falas da mãe, não era experienciado pela criança nas suas relações diárias e familiares, seus comportamentos agressivos e sua ansiedade estavam diretamente ligados à falta de consideração positiva, de respeito de seus sentimentos e direitos, de amor e de atenção oferecidas pela família. Tendo como base todo o processo de psicoterapia percebi que a estrutura do self se forma a partir do resultado da interação do indivíduo com o ambiente e é organizada de acordo com as percepções das características do “eu”. É por meio de seus relacionamentos que os conceitos do ambiente, dele mesmo e de sua relação com ambiente vão se formando.

Segundo Corrêa (2009) atender uma criança é um trabalho árduo e único, pois é necessário estar atento não só ao contexto familiar, mas também a outros grupos de referência que ela possa estar inserida. Tanto os pais quanto as crianças, contribuem para a instalação, manutenção e eliminação de dificuldades. Uma criança pode estar sofrendo por precisar satisfazer as vaidades, os desejos e as expectativas dos pais, fato que pode ser observado várias vezes durante todo o processo.

No início do processo de psicoterapia, a criança apresentava dificuldade de aceitar as normas tanto do local de psicoterapia – Centro de Psicologia Aplicada – quanto do próprio processo, não queria guardar os brinquedos e não aceitava os dias que não havia sessão (férias e feriados). Sempre se apresentou muito inquieto, não demonstrou dificuldade de criar vínculo com a psicoterapeuta e as queixas iniciais da mãe puderam ser confirmadas no decorrer dos atendimentos, porém o que se pode perceber foi que o comportamento agressivo e as dificuldades da criança estavam diretamente ligados a desorganização familiar, e principalmente, sua relação com a mãe, que de acordo com os relatos da mesma, sempre foi conturbada. Em grande parte das sessões, o cliente se apresentou comunicativo, no entanto, demonstrava rigidez e dificuldade de expressar verbalmente seus sentimentos. Sendo assim, por meio das brincadeiras que pode-se conhecer, compreender e realizar intervenções com a criança. Quando o término das práticas de estágio estava próximo e informei isso a criança, começou a apresentar-se mais quieta, sentia dores e não queria conversar e interagir. Por fim, concluí que o cliente não estava preparado para receber alta e foi encaminhado para

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psicoterapia no ano seguinte. Contudo, possui dentro de si vastos recursos para desenvolver-se plenamente, basta que lhe desenvolver-seja proporcionado um clima positivo de aceitação e amor.

Referências

Castelo Branco, T. M. (2001). Histórias infantis na Ludoterapia Centrada na Criança. Tese de Mestrado. Pontifícia Universidade Católica – PUC, Campinas, PR, Brasil.

Recuperado em: 28 de março, 2010 de

<http://www.gruposerbh.com.br/textos/dissertacoes_mestrado/ dissertacao05.pdf>.

Corrêa, D. de L. (2009). Ludoterapia Centrada na Pessoa. In:, F. C. de S, Klöckner (org.). Abordagem Centrada na Pessoa: a Psicologia Humanista em diferentes contextos. (pp. 29-50). Londrina: Unifil.

Justu, H. Cresça e faça crescer (5a Ed). Canoas: La Salle.

Oaklander, V. (1980). Descobrindo crianças: a abordagem gestáltica com crianças e adolescentes (13a ed). São Paulo: Summus Editorial.

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