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Biologia de anfíbios anuros do Parque Chico Mendes, Osasco, São Paulo

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Biologia de anfíbios anuros do

Parque Chico Mendes, Osasco, São Paulo

Renata dos Santos Silva

Pesquisadora

Miriam Mitsue Hayashi

Orientadora

Resumo

O levantamento das espécies de anfíbios anuros do Parque Chico Mendes, município de Osasco (46º46’52”W / 23º34’23”S), São Paulo, foi realizado no período de agosto de 2006 a julho de 2007, das 17h00 à meia noite ou até o amanhecer. Foram identifi cados os locais de maior ocorrência, tipos de habitats, atividades horária e anual e coletados dados biométricos para compreensão do papel dos anfíbios no local e a interferência dos demais organismos vegetais e animais na dinâmica populacional deste grupo animal. Foram registradas no parque 152 exemplares, classifi cados dentro de quatro espécies, duas pertencentes a família Bufonidae, como Chanus crucifer (71 exemplares) e Chanus ictericus (55); uma a família Leptodactylidae, como Physalaemus cuvieri (24) e uma a família Hylidade, como Dendropsophus minutus (2). Na estação chuvosa ocorreu maior número de vocalizações e registros, assim como as primeiras horas de coleta, de-monstrando uma preferência por períodos com temperatura e umidade mais altas. Algumas alterações físicas na área de estudo provocaram deslocamento de Physalaemus cuvieri do seu habitat original e a ocupação em poças temporárias de água. Predadores, como patos, e armadilhas para aracnídeos provocaram a morte de alguns exemplares e a contamina-ção da água, favoreceu o aparecimento de tumores cutâneos em outros. Nesta área, o impacto da interferência humana foi observada de forma intensa e os anfíbios foram os principais organismos prejudicados. A sobrevivência em parques, manchas verdes em cidades, requer condições mínimas para manutenção de algumas espécies, como os anuros. Além disso, nota-se que a participação dos visitantes é fundamental para minimizar alguns dos impactos causados e contribuir para a manutenção da fauna e fl ora local.

Palavras-chave: Anfíbios anuros. Parque. Distribuição. Habitat.

Abstract

Our research into the anures amphibious species in “Parque Chico Mendes”, placed in Osasco, São Paulo (46º46’52”W/ 23º34’23”S), was developed between August of 2006 and July of 2007, from 17h00 to midnight, or till the sunrise. The places with the most common occurrence were identifi ed, as were the kinds of habitats, hour and annual activities, and biometric data were collected for the comprehension of the amphibious role in the environment, and the other vegetal and animal organisms’ interference in the population dynamics of this animal group. 152 specimen were registered on the park, distributed among four species. Two species belong to the Bufonidae family: Chanus crucifer (71 exemplars) and Chanus ictericus (55); one belong to the Leptodactylidae family: Physalaemus cuvieri (24); and the last one to the Hylidade family: Dendropsophus minutus (2). The biggest number of vocalizations and records occurred during the rainy

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season, as it happened during the collect procedure fi rst hours, showing a preference for periods with higher temperature and humidity. Some physical changes in the researched area led the Physalaemus cuvieri to move from its original habitat and to occupy temporary water puddles. A few specimen died cause of predators like ducks (and spider traps), and the water contamination favored the emergence of skin cancers in others. In this area, human interference has been intensely observed, and the amphibious were the most harmed organisms. The survival in parks, green specks in the cities, requires minimum conditions to preserve some species like the anures. Moreover, it is known that the visitors’ collaboration is of fundamental importance to minimize some caused impacts and contributes to the fauna and fl ora preservation.

Key words: Anures amphibious. Park. Distribution. Habitat.

Introdução

Os anuros representam o maior grupo com cerca de 5.000 espécies conhecidas (ETEROVICK; SAZIMA, 2004). No Hemisfério Sul, constituem o grupo mais representativo e o Brasil possui milhares de espécies já registradas (IZECKSOHN; CARVALHO-E-SILVA, 2001). A família Hylidae contém cerca de 870 espé-cies, que apresentam discos adesivos; Bufonidae, com cerca de 335 espécies em 25 gêneros, de distribui-ção cosmopolita em regiões temperadas e tropicais; e Leptodactylidae, com 710 espécies. Esta variação estende-se aos hábitos de vida e estratégias repro-dutivas, existindo assim, espécies primitivas que têm ovos e girinos aquáticos (DEIQUES et al., 2007).

O Brasil apresenta a maior riqueza e a segunda maior diversidade ecológica de espécies de anfíbios do mundo (MITTERMEIER et al., 1997), com 775 espécies conhecidas, sendo 747 pertencentes à Ordem Anura (RIBEIRO, 2005). Apesar da diversidade da herpetofau-na do Estado de São Paulo (180 espécies) (HADDAD, 1998), poucos são os estudos sobre distribuição destas espécies no ambiente (DIXO; VERDADE, 2006).

Os anfíbios estão limitados a habitats úmidos por causa da sua pele fi na, úmida e sem escamas; sua urina é abundante e diluída; são incapazes de regu-lar a temperatura corporal e é necessário depositar

os ovos na água ou em locais terrestres muito úmi-dos (VILLE et al., 1988).

Muitos sapos e rãs de grande porte possuem hábitos solitários, exceto durante a estação repro-dutiva, quando vocalizam para atrair a fêmea (HI-CKMAN et al., 2004). As análises das emissões so-noras são de importância fundamental no estudo de grupos de animais que utilizam o som como meio de reconhecimento específi co (HADDAD, 1994). Os modos reprodutivos dos anuros são muito variados, desde o mais generalizado (ovos e larvas aquáticas) até os mais especializados (completamente terres-tres) (AMBIENTAL CONSULTING, 2004).

A importância do estudo de anfíbios anuros em parques deve-se principalmente aos escassos traba-lhos existentes sobre o impacto das visitações públi-cas e da introdução de animais e espécies vegetais, na dinâmica populacional de algumas espécies de anfíbios. Além disso, identifi car os locais de maior ocorrência das espécies para preservação das mes-mas. Por dependerem de ambientes úmidos, os an-fíbios difi cilmente conseguem sobreviver em locais modifi cados pelo homem. Diversas espécies devem ser preservadas por sua importância no equilíbrio biológico, na cadeia alimentar, no controle de in-setos, e como banco genético, indicadores de polui-ção e fonte de muitas informações para a ciência

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(IZECKSOHN; CARVALHO-E-SILVA, 2001). Fatores

pontuais, no entanto, também interferem muito na conservação das populações, sendo a introdução de espécies exóticas, o uso de pesticidas, a poluição de águas continentais, a destruição de habitats, a mor-talidade em rodovias e a grande exploração comer-cial outras importantes razões para o seu declínio (LOEBMANN, 2005).

O presente trabalho tem como objetivo identifi -car as espécies que ocorrem no Parque Chico Mendes, Osasco, São Paulo, avaliar o impacto das visitações e mudanças estruturais na dinâmica populacional dos anfíbios anuros do local. Além disso, orientar os visi-tantes sobre a importância da preservação da vegeta-ção e de alguns organismos associados para a sobre-vivência das diversas espécies de anfíbios da área.

Material e Métodos

O presente estudo foi desenvolvido no Parque Municipal Chico Mendes, que abrange uma área de 120000m2, localizado no Jardim Bussocaba,

Muni-cípio de Osasco (46º46’52”W / 23º34’23”S) (Figura 1a), São Paulo, no período de agosto de 2006 a julho de 2007. Osasco situa-se a altitude de 720m e o

cli-ma é temperado úmido, com temperatura oscilando entre 12oC no inverno e 26oC no verão e

precipi-tação anual em torno de 2000m. A área de parque é caracterizada por mata secundária, com algumas árvores frutíferas e plantas ornamentais (PARQUE E PRAÇAS, 2006). O Parque é cortado pela nascente do Rio Bussocaba, possui um lago principal de cerca de 310m e com profundidade de 5,0m (Figura 1b). O trabalho foi desenvolvido nos cursos de água pre-sentes no parque, como o lago principal e ao longo do curso de água da nascente do rio.

As coletas foram realizadas mensalmente de agosto de 2006 a julho de 2007, sendo que a par-tir de outubro de 2006 até março de 2007, perío-do da estação chuvosa, foram duas coletas ao mês, dobrando o número em relação a estação seca. As observações e coletas foram feitas nos fi nais de se-mana, com início às 17h00 e término às 00h00. Na estação úmida, que é o período de reprodução de anuros, as coletas estenderam-se até o amanhecer para determinação da atividade horária das espécies registradas no parque. Foram considerados os meses de outubro a março como estação chuvosa e abril a setembro como seca.

Figura 1a - Parque Municipal Chico Mendes, Osasco, SP. Fonte: http://earth.google.com/.

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A coleta foi orientada pela vocalização do ani-mal, sendo denominada de captura ativa por procura sonora. As vocalizações foram registradas em grava-dor digital VOICE RECORDER DVR 800III e compa-rados com o “Guia sonoro dos Anfíbios Anuros da Mata Atlântica” (HADDAD et al., 2005). Os exempla-res foram coletados manualmente e identifi cadas por caracteres morfológicos e vocalizações, utilizando duas chaves de identifi cação (ETEROVICK; SAZIMA, 2004; IZECKSOHN; CARVALHO-E-SILVA, 2001).

A gravação da vocalização também foi utilizada para atrair alguns exemplares para facilitar a visu-alização ou para repetir a vocvisu-alização e posterior identifi cação (CALLEFFO, 2002).

Dados como comprimento de crânio e comprimento total do corpo foram feitos com paquímetro; peso medido com balança analógica de precisão mínima de 200g. Cada exemplar foi mantido em saco plástico e solto ao fi nal da coleta. Dados de temperatura máxima e mínima e umi-dade foram anotados em caderno de campo, assim como características de vegetação do local de captura do exem-plar. Quando possível, foi identifi cado o sexo e o estágio de desenvolvimento (ovo, girino, jovem e adulto).

O parque foi visitado durante o dia para reco-nhecimento da área e caracterização dos micro-ha-bitats, identifi cando a vegetação, tipo de substrato e extensão. Os micro-habitats foram defi nidos pela presença de cursos de água ou ambientes úmidos. Foram escolhidos três micro-habitas: sítio 1 (lago principal), formado pelo lago central do parque, com 300,0m de diâmetro e 5,0m de profundidade, possui uma vegetação constituída principalmente por bambus, bromélias e gramíneas nas extremi-dades, com diversas espécies de peixes, tartaru-gas, patos e capivaras, recebe água que vem direto da nascente do Rio Bussocaba; sítio 2, localizado próximo ao lago principal, com 96,0m de diâme-tro e cerca de 15,0cm de profundidade, recebe água vinda do lago principal formando esse curso de água, não possui outros tipos de animais, quase não tem vegetação apenas algumas gramíneas; e o sítio 3 (brejo / jardim japonês) com 87,0m de diâmetro e aproximadamente 62,0cm de profun-didade, possui algumas espécies de tartarugas e peixes introduzidas pela administração do parque, este jardim também recebe água da nascente do Rio, sua vegetação é constituída de algumas gra-míneas e fl ores ornamentais, antes da modifi cação que ocorreu no local, este possuía características de brejo, com sua vegetação formada por gramí-neas bastante encharcadas pela água. Nas captu-ras mensais todos os sítios eram observados várias vezes ao longo da noite.

O parque foi monitorado para observar as altera-ções ocorridas e verifi car a interferência na dinâmi-ca populacional das espécies. A medição de tempe-ratura e umidade foi realizado com aparelho Termo Higrometro Instrutemp Light HT-208 e as anotações

Figura 1b - Parque Municipal Chico Mendes, Osasco, SP. Fonte: http://earth.google.com/.

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realizadas em caderno de campo, juntamente com

observações da presença de predadores e outros ani-mais interferindo no comportamento dos anuros ou competindo por espaço e alimento.

Resultados

No total foram coletados 152 exemplares dis-tribuídos em quatro diferentes espécies de anfíbios anuros (Tabela 1) (Figura 2). Chanus crucifer, da

família Bufonidae, foi capturado em maior quanti-dade, totalizando 71 exemplares. Foram amostrados apenas dois exemplares de Dendropsophus minutus (família Hylidae), durante todo período de pesquisa. Esta espécie é muito comum, com ampla distribuição na América do Sul e considerada fora de perigo de extinção (IZECKSOHN; CARVALHO-E-SILVA, 2001). A família Leptodactylidae foi representada por 24 exemplares de Physalaemus cuvieri.

Tabela 1: Número de anfíbios anuros coletados no Parque Chico Mendes, Osasco, SP, no período de agosto de 2006 a julho de 2007.

Figura 2 – Número total de anfíbios anuros capturados no Parque Chico Mendes, Osasco, SP, no

período de agosto de 2006 a julho de 2007.

Maior quantidade de machos (Figura 3) foram capturados em todas as espécies, pois no período produtivo há vocalizações para defi nição de sítios re-produtivos e territoriais. Quando não foi possível de-terminar o sexo do anuro, o exemplar capturado foi considerado jovem, pois não apresentava calo nup-cial ou vocalizava ao ser manipulado pelo coletor.

Figura 3 – Machos e fêmeas de anuros coletados no Parque Chico Mendes, Osasco, SP.

O sítio 2 foi o local com maior número de capturas de anuros. A água da nascente passa pelo sítio antes de desaguar no lago principal, favorecendo a formação de poças de água. Foram capturados 56 exemplares no sítio 2; 46 no sítio 1 e 29 no sítio 3. Nos acúmulos temporários de água, sob a vegetação dos arredores, foram capturados 19 exemplares (Tabela 1) (Figura 4).

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Figura 4 - Distribuição das espécies de anfíbios anuros capturadas no Parque Chico Mendes, Osasco, SP, no período de agosto de 2006 a julho de 2007.

O aparecimento dos anfíbios coincidiu com perí-odos com maior porcentagem de umidade e aumento na temperatura do ambiente. Mesmo pequenas osci-lações nos valores em alguns meses podem interferir no aparecimento dessas espécies.

Embora tenham sido registradas as quatro es-pécies nos diferentes horários da noite, os anfíbios anuros concentram as suas atividades no início da noite, entre 19h00 e 22h00 (Tabela 2), coincidindo com os registros maiores de temperatura no perío-do de coleta. Após as 22h00 ocorreu queda gradual, com diminuição acentuada no período da madru-gada. Não foi possível quantifi car o número de in-divíduos de cada espécie, pois alguns dos registros foram por vocalização.

Tabela 2 – Registro de anfíbios anuros em atividade no Parque Chico Mendes, Osasco, no período de agosto de 2006 a julho de 2007.

As espécies registradas no parque foram captu-radas em quase todos os meses do ano, sendo en-contradas principalmente nos meses da estação chu-vosa, entre outubro e março. Não foram registradas nenhuma espécie nos meses de Maio e Junho. Obser-va-se um pico de atividade em dezembro e janeiro, época de aumento da umidade em decorrência das chuvas (Figura 5).

Figura 5 - Registros de anuros no Parque Chico Mendes, Osasco, no período de agosto de 2006 a julho de 2007.

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Foi possível registrar as espécies somente através

da vocalização, sem captura do exemplar (Tabela 3). Anfíbios vocalizando ocorreram somente nos meses

da estação chuvosa, coincidindo com a época favo-rável a reprodução.

Tabela 3 – Registros de espécies vocalizando no Parque Chico Mendes, Osasco, SP, no período de agosto de 2006 a julho de 2007.

Durante a pesquisa o micro-habitat 3 (brejo) foi encoberto, com a construção do Jardim Japonês. An-tes da destruição, foram registrados diversos indiví-duos de Physalaemus cuvieri. Após a transformação houve uma diminuição no número de exemplares capturados, chegando a desaparecer do local. Após alguns dias, localizaram-se alguns exemplares voca-lizando em poças temporárias formadas a partir das chuvas. Após as mudanças, o número de indivíduos em outros locais do parque aumentou em relação ao micro-habitat original.

Durante o trabalho, alguns exemplares de Phy-salaemus cuvieri foram encontrados em armadilhas de queda, montadas para estudo de aracnídeos do parque. Os exemplares de anfíbios capturados nes-tas armadilhas, montadas em trilha de vegetação fe-chada do parque, estavam mortos e foram fi xados em álcool 70%, como descrito por Calleffo (2002) e mantidos na coleção do Departamento de Zoologia, como espécime testemunha do trabalho. Os deslo-camentos em busca de água pode ter favorecido a captura em locais tão distantes de cursos de água.

Alguns exemplares de anfíbios foram encontra-dos mortos próximo ao lago principal e foram obser-vados patos e marrecos se alimentando de anfíbios em noites de coleta. A presença de predadores po-tenciais nesta área pode ter provocado a mudança de comportamento de forrageio e abrigo. Alguns exem-plares foram encontrados em galerias de água.

Foi coletado em um dos sítios de observação, um Chanus crucifer com um tumor no dorso e algumas feridas na parte ventral do corpo. Essas anomalias poderiam ter sido provocadas por alterações genéti-cas ou por alterações na água do parque. O exemplar foi encaminhado ao Instituto Butantan e o problema foi diagnosticado como tumor cutâneo provocado por contaminação da água. É necessário um exame da água para verifi car o que provocou a contaminação e quais medidas deverão ser tomadas para diminuir o impacto aos animais que vivem no local. Nenhum outro exemplar foi capturado nestas condições.

Foram encontrados quatro exemplares com san-guessugas presos ao corpo, mostrando como estes

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animais também sofrem com o parasitismo de ani-mais de pequeno porte.

Foram encontradas desovas de Physalaemus cuvieri em alguns pontos do parque, próximos a cursos de água, caracterizados por formar um ninho de espuma fl utuante, como verifi cado por Eterovick & Sazima (2004). Além disso, foi encontrado um aglomerado de girino de Chanus ictericus.

Todos os exemplares capturados foram medidos em seu comprimento total do corpo e do crânio, uti-lizando-se paquímetro e pesados com balança de precisão. Os dados foram anotados em planilha de campo para utilização na identifi cação de espécies.

Discussão

A diminuição de áreas verdes em cidades, man-tendo-as em pequenas manchas isoladas, pode pre-judicar a manutenção de espécies sensíveis como os anfíbios anuros. Notou-se que algumas espécies possuem plasticidade e se adaptam após alterações do ambiente em que se encontram, já outras correm o risco de desaparecerem. A destruição de ambientes naturais, causada por desmatamentos, alterações de regimes hidrológicos com a construção de represas e a urbanização são as causas mais importantes de declínios de populações de anfíbios. O desenvol-vimento urbano degrada e fragmenta habitats na-turais, limitando a dispersão e alterando as condi-ções climáticas locais, além de favorecer as espécies exóticas (ÁVILA; FERREIRA, 2004). Ainda que as características bioindicadoras dos anuros sejam re-conhecidas pouco tem sido feito no Brasil, para o conhecimento do grupo em suas inter-relações com o meio (MACHADO et al., 1999).

O desenvolvimento do trabalho por 12 meses cobriu a estação chuvosa e a seca, podendo se estabelecer rela-ções comparativas de ocorrências por micro-habitat.

O maior número de indivíduos amostrados foi da família Bufonidae, com 126 indivíduos, de Chanus crucifer e de Chanus ictericus, sendo estas espécies encontradas com freqüência em ambientes modifi -cados pelo homem (DEIQUES et al., 2007). Os lo-cais de maior ocorrência foram na beira dos lagos do parque e sob pedras, e trata-se de uma espécie de distribuição ampla, ocorrendo na Mata Atlântica do Sul e Sudeste do Brasil (RIBEIRO, 2005). Chanus crucifer é o sapo mais comum, vivendo em parques, em pomares e jardins de mansões. Nas zonas rurais se instala junto às habitações humanas, onde cap-tura insetos sob as lâmpadas. Chanus ictericus tem hábitos fl orestais, mas pode ser encontrado vivendo em áreas desmatadas, junto às habitações humanas, caçando insetos sob pontos de luz (IZECKSOHN; CARVALHO-E-SILVA, 2001).

Outra espécie encontrada no local foi Physalaemus cuvieri, adaptada à ambiente modifi cado pelo homem, buscou outro local após mudança e surgimento do Jardim Japonês. Sua captura foi feita através da vocalização, os machos vocalizavam as margens de corpos de água temporários ou permanentes, localizados em áreas abertas, como verifi cado por Bastos (2003). Apenas dois exemplares de Dendropsophus minutus foram registrados ao longo do ano. O tamanho pequeno de cerca de 44mm e pelo fato de se esconder entre a vegetação pode ter sido o motivo dos poucos registros, além disso foi a única espécie sem registros de vocalizações no parque.

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Além da captura dos indivíduos foram

identi-fi cadas desovas destes animais, onde por algumas oportunidades a observação de girinos de Chanus ictericus e espuma fl utuante com depósito de ovos de Physalaemus cuvieri, presos a vegetação, foram identifi cadas mostrando que estes animais se repro-duzem, mesmo diante das mudanças no ambiente em que vivem. A condição para isso é a necessidade de pouco volume de água, pois a espuma garante a não dispersão e o ressecamento dos ovos.

O pico de atividade horária e anual está diretamente relacionado com o aumento na umidade, favorecendo a respiração cutânea, sem ressecamento da pele e a desova em ambiente úmido. Além disso, na estação chuvosa, que coincide com períodos de temperaturas mais altas, au-menta a oferta de insetos, fonte de alimento das diversas espécies de anfíbios anuros. As análises das emissões so-noras são de importância fundamental no estudo de gru-pos de animais que utilizam o som como meio de reco-nhecimento específi co,como é o caso de vários grupos de insetos, anuros e aves, dentre outros (HADDAD, 1999).

As vocalizações se acentuaram entre 19h00 e 22h00 e com o passar das horas foi diminuindo. Car-doso e Martins (1987) constataram essa tendência no Sudeste do Brasil, inferindo que o encerramento das atividades na segunda metade da noite possa es-tar relacionado à economia de energia, necessidade alimentar e diminuição de temperatura. As vocaliza-ções restringiram-se à estação chuvosa, período com condições adequadas de umidade e de temperatura para a reprodução. As vocalizações também serviram para auxiliar na captura de exemplares. A produção de som de animais é um método importante para se identifi car a presença de um indivíduo ou de

ou-tros da mesma espécie (DUELLMAN; TRUEB,1994), atraindo-os para perto. No ritual de acasalamento é o macho que vocaliza para atrair a fêmea, daí o número grande de machos no local. Aparentemente machos de anfíbios anuros que ocorrem em poças temporárias ou permanentes em áreas abertas ou em bordas de mata podem apresentar sobreposição na ocupação de sítios de canto (POMBAL, 1997).

A divisão da área de estudo em diferentes mi-cro-habitas possibilitou entender o surgimento de algumas espécies nesses cursos de água. Os sítios 1 e 2 acabaram sendo os locais de maior ocorrência de Chanus, sendo que no sítio 2 os anfíbios se encontra-vam dentro e nos arredores do lago, que media cerca de 15cm de profundidade. No sítio 1, estavam próxi-mos ao lago, distando cerca de 2,0m. Isso se deve pro-vavelmente devido a presença de predadores na área, principalmente patos, marrecos, peixes e capivaras.

A mudança da paisagem pode interferir na distri-buição espacial e na ocorrência de algumas espécies, como foi verifi cado no sítio 3, em que a alteração pro-vocou deslocamento de exemplares e ocupação de ha-bitats temporários. A necessidade de água para respira-ção cutânea limita a ocuparespira-ção em áreas secas, forçando os anfíbios a buscarem outras alternativas para sobre-viverem no local. O aparecimento de exemplares mor-tos, predados por aves e presos em armadilhas pit fall, mostram que os animais percorrem grandes extensões em busca de alimento e que em noites claras e em área abertas, a chance de predação aumenta. Já a captura em pit fall se deve ao fato de montarem armadilhas em locais de circulação habitual e considerados conheci-dos e seguros pelos anfíbios, não se preocupando ou se mantendo atentos, aumentando as chances de captura.

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No presente trabalho foram encontrados alguns Chanus crucifer com feridas na parte ventral e dor-sal do corpo, semelhantes a tumores cutâneos. Como apenas este exemplar foi encontrado com a anomalia, provavelmente não ocorreu a contaminação da água como no caso anterior, pois senão mais de um ani-mal teria aparecido com a pele lesada. Além disso, tumores cutâneos também podem ser provocados por exposição acentuada ao Sol e mutações genéticas.

Mesmo diante de fatos que poderiam interferir no aparecimento de espécies na área de estudo foi possível obter dados signifi cativos, que mostram que mesmo diante das constantes interferências es-tes animais encontraram maneiras de se adaptar e sobreviver com as limitações do local. No presente trabalho foram registradas apenas espécies habitu-adas em ambiente sob interferência humana e em centros urbanos.

De um modo geral, a fauna da Mata Atlântica é mal conhecida devido à exigüidade de estudos a mé-dio e longo prazo e à falta de levantamentos faunísti-cos em diferentes regiões (HADDAD; SAZIMA,1992).

Os trabalhos com fauna, principalmente de le-vantamento de espécies, devem ter base educativa e de conhecimento geral para que a conservação de espécies, a partir do momento em que são identifi -cadas, comece efetivamente a acontecer (BARROS, 2006). Desse ponto de vista não é apenas importante a identifi cação dessas espécies como também anali-sar o ambiente como um todo, visando tanto a fau-na como a fl ora local. Manchas verdes em cidades

representam um importante local de manutenção das características originais do ambiente em que se encontravam os anfíbios. Além disso, parques que estão sob intensa visitação pública devem ser mo-nitorados para que não ocorra alterações drásticas e irreversíveis que possam prejudicar as espécies que vivem no local.

Conclusão

No Parque Chico Mendes de Osasco foram iden-tifi cadas quatro espécies de anfíbios anuros: Chanus crucifer, Chanus ictericus, Physalaemus cuvieri e Dendropsophus minutus.

Foram descritos três micro-habitats, sendo que o maior número de capturas e registros de vocalizações ocorreu no micro-habitat II (sítio II), com 62 ocorrências. Além desses locais, foram registrados anfíbios anuros em poças temporárias de água, formadas pela chuva.

O pico de vocalizações ocorreu entre 19h00 e 22h00 e nos meses de outubro a dezembro, coincidindo com períodos de temperatura e umidade mais altas e com período reprodutivo. Apenas a vocalização de Dendrop-sophus minutus não foi registrada durante a pesquisa.

O maior número de capturas ocorreu nos meses de janeiro e fevereiro, com queda em abril a junho.

Ações antrópicas e presença de predador provo-caram a morte de alguns exemplares e o desloca-mento de outras para áreas alternativas, formadas por acúmulo de água da chuva.

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Referências

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