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Manejo Intra-Uterino e Perinatal do Bloqueio Atrioventricular Total no Feto

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Manejo Intra-Uterino e Perinatal do Bloqueio Atrioventricular Total

no Feto

Lucia Pellanda Zimmer, Ana Paula D. Silva, Alexey Andrade, Rejane Frota Dillenburg, Eneida Mendonça, Paulo Zielinsky

Porto Alegre, RS

Intrauterine and Perinatal Management of Complete Atrioventricular Block in the Fetus

Purpose - To report the experience of one of the most

severe fetal rhythm disturbances, the complete atrio-ventricular block.

Methods - Descriptive study of 14 fetuses diagnosed

and monitored at the Fetal Cardiology Unit, from January, 1991 to August, 1995.

Results - Fourteen cases of complete AV block were

identified during the study period, with post-conceptional age between 22 and 38 weeks at the moment of diagnosis. Twelve cases were referred to the Fetal Cardiology Unit because of low heart rate during obstetric examination. Eight fetuses showed complete AV block without evidence of structural heart disease; maternal colagen tissue dis-ease was diagnosed in three of these cases. Four neonates were discharged from the hospital, two of them with a per-manent pacemaker, one with complete AV block but no pacemaker and the fourth with sinus rhythm. The remaining seven neonates presented with severe heart failure leading to death despite treatment.

Conclusion - Complete AV block is a rare fetal

con-dition, but carries a high morbidity and mortality. A several treatment techniques have been suggested to improve monitoring and survival of these patients, particularly in utero.

Key-words: fetal heart, atrioventricular block, arrhythmia

Objetivo - Relatar a experiência de um dos distúrbios

mais graves do ritmo cardíaco fetal, o bloqueio atrio-ventricular total (BAVT).

Métodos - Estudo descritivo de 14 casos de BAVT

diagnosticados e acompanhados durante a gestação na Unidade de Cardiologia Fetal do Instituto de Cardiologia/ Fundação Universitária do Rio Grande do Sul de janeiro/ 91 a agosto/95.

Resultados - Foram identificados 14 casos de BAVT

congênito com idade gestacional, no momento do diagnóstico, variando entre 22 e 38 semanas, tendo sido 12 encaminhados por bradicardia fetal detectada em consulta pré-natal; oito, dentre os 14, apresentavam BAVT sem cardiopatia estrutural, sendo que três dentre os oito com comprovação de colagenose materna. Quatro bebês tiveram alta hospitalar, dois com marcapasso definitivo, um com BAVT sem necessidade de marcapasso e um com ritmo sinusal. Outros sete recém-nascidos tiveram má evolução, com insuficiência cardíaca severa apesar das medidas instituídas e óbito no 1º mês de vida.

Conclusão - Embora o BAVT seja uma doença rara

em fetos, é significativo o risco potencial de repercussão funcional e morte. Várias técnicas têm sido aprimoradas na tentativa de melhorar o acompanhamento e sobrevida destes pacientes, principalmente in utero.

Palavras-chave: bloqueio atrioventricular, cardiologia fetal, arritmias fetais

Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul/ Fundação Universitária de Cardiologia - Porto Alegre

Correspondência: Lucia Pellanda Zimmer - Unidade de Pesquisa - Av. Princesa Isabel, 395 - 90620-001 - Porto Alegre, RS

Recebido para publicação em 23/10/95 Aceito em 13/3/96

talidade e que indica a necessidade de intervenção terapêu-tica urgente. A incidência estimada de BAVT é de aproxi-madamente 1:20 000 nascimentos vivos 1.

A grande maioria dos casos de BAVT no feto está as-sociada à colagenose materna, algumas vezes ainda não detectada clinicamente 2. Aproximadamente metade dos

fetos apresentam má-formações congênitas cardíacas com-plexas 1.

O objetivo deste trabalho é relatar a experiência da Unidade de Cardiologia Fetal (UCF) do Instituto de Cardiologia do RS/Fundação Universitária de Cardiolo-giado (IC-FUC/RS), descrevendo os 14 casos de BAVT diagnosticados e acompanhados durante a gestação, junta-mente com uma revisão da literatura sobre o assunto. A cardiologia fetal trouxe, como um de seus grandes

avanços, a possibilidade de detectar e tratar precocemente as alterações do ritmo cardíaco na vida intra-uterina.

Um dos distúrbios mais graves do ritmo cardíaco fetal, o bloqueio atrioventricular total (BAVT), é facilmente iden-tificado pela ecocardiografia e, muitas vezes, manifesta-se por hidropisia fetal não-imune, condição de altíssima

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Métodos

A Unidade de Cardiologia Fetal do Instituto de Cardio-logia recebe fetos encaminhados de todo o estado. Os princi-pais motivos de encaminhamento são detecção de distúrbios do ritmo cardíaco ou alterações estruturais durante exame obstétrico, diagnóstico de diabete melito materno e história familiar de cardiopatia congênita. Para a realização da ecocardiografia fetal utiliza-se um aparelho Ultramark 9 (ATL), com capacidade para imagem bidimensional, módulo M, Doppler e mapeamento de fluxo a cores.

De janeiro/91 a agosto/95 foram identificados 14 casos de BAVT fetal, sendo 12 encaminhados pela detecção de bradicardia fetal em exame clínico ou obstétrico pré-natal. Uma gestante foi encaminhada pela presença de má-forma-ções congênitas no feto e, outra, por hidropsia fetal e bloqueio atrioventricular de II grau, ambos detectados em exame ecográfico obstétrico. A idade gestacional no momento do encaminhamento variou de 22 a 37 semanas.

Resultados

Os dados maternos, os achados laboratoriais e eco-cardiográficos e a evolução clínica dos 14 fetos estão na tabela I.

Três gestantes apresentaram provas diagnósticas posi-tivas para colagenose (duas com lúpus eritematoso sistêmico e uma com quadro clínico compatível com síndrome de Sjögren). Houve um caso de rubéola materna na 24ª semana de gestação.

As lesões estruturais, quando presentes, foram observa-das sob a forma de associações complexas na maioria dos casos. As lesões mais comumente observadas foram: defeito completo do septo atrioventricular (cinco casos), dupla via de saída de ventrículo direito com aorta anterior e estenose pul-monar (dois), isomerismo atrial esquerdo (dois) e direito (dois), insuficiência mitral (dois) e tricúspide (um), válvula aórtica displásica (um), conexão atrioventricular e ventrículo-arterial discordantes (um) e ectasia da aorta (um).

A proporção de fetos com manifestações graves de insu-ficiência cardíaca, como a hidropsia fetal, ascite ou derrame pleural e pericárdico, foi de 9/14 (64%).

Dos 14 casos relatados, houve evolução para o óbito em 10 (71 %), sendo três intra-uterinos. O prognóstico dos paci-entes sem cardiopatia estrutural associada foi significativa-mente melhor do que o prognóstico dos pacientes com cardiopatia (sobrevida de 67 e 0 %, respectivamente).

Todas as pacientes foram internadas na UCF para acom-panhamento fetal. O uso de corticóide com o intuito de ace-lerar a maturidade fetal foi instituído em quatro casos e, em três pacientes, foram administrados agonistas beta 2 adrenérgicos. Foram utilizados digitálicos e diuréticos por via materna em dois e três casos, respectivamente.

Em um dos fetos, que apresentou quadro clínico de in-suficiência cardíaca severa e sofrimento fetal significativo com 29 semanas de idade gestacional, foi considerado o im-plante de marcapasso (MP) intra-uterino pelo prognóstico

muito reservado e impossibilidade de interromper a gestação pela imaturidade fetal. Após ampla discussão com os pais e equipe multidisciplinar, composta de obstetras, pediatras, cardiologistas pediátricos, cirurgiões, psicólogos e assisten-te-social, foi realizada cirurgia abdominal materna com inci-são paramediana infra-umbelical direita, com exposição do hemitórax direito fetal. O líquido amniótico foi aspirado e conservado em ambiente estéril e aquecido, para posterior reinfusão. Foi introduzido MP através de esternotomia e re-alizada a estimulação. O feto, criticamente doente e com bradicardia severa antes do início do procedimento (freqüên-cia cardíaca entre 20 e 30bpm), evoluiu para o óbito logo após o mesmo. A mãe apresentou evolução pós-operatória sem intercorrências, sem evidências de morbidade durante o pe-ríodo de seguimento (três meses, até este momento).

Discussão

O diagnóstico de BAVT em crianças era usualmente feito após o nascimento e, raramente, suspeitado durante a gestação 3. Foi descrito pela primeira vez por Morquio em

1901, que relatou a presença de síncope e morte súbita em integrantes de uma família que apresentava baixa freqüência de pulso 4. Van Den Heuvel 5 foi o primeiro a documentar em

eletrocardiograma o BAVT congênito 6,7. Com a evolução dos

métodos diagnósticos, como o surgimento da ecocardiografia bi-dimensional e módulo M, assim como as técnicas ultra-sonográficas de Doppler, o BAVT passou a ser, com maior freqüência, identificado durante o período neonatal 8,9.

O diagnóstico intra-uterino de BAVT congênito é mais freqüentemente suspeitado na avaliação obstétrica de rotina, devido à presença de bradicardia fetal sustentada (freqüência cardíaca fetal <100bpm). Embora períodos esporádicos de bradicardia fetal possam ocorrer na gravidez, a presença de bradicardia sustentada é quase sempre indicativa de alguma anormalidade. Em uma série de ecocardiografias fetais rea-lizadas pela presença de bradicardia sustentada ao exame fí-sico, 13 de 15 pacientes apresentavam BAVT congênito e apenas dois tinham bradicardia sinusal 10. Na nossa série, a

bradicardia fetal foi o motivo mais comum de encaminha-mento após o exame obstétrico.

Associadas à bradicardia fetal, o obstetra pode também encontrar alterações sugestivas de insuficiência cardíaca, como a presença de ascite, derrame pericárdico e hidropsia fetal, indicando sofrimento intra-uterino crônico. A hidro-pisia é mais comum em fetos com lesão estrutural associada (15% vs 61%) e indica um pior prognóstico para o feto 3. As

lesões mais comumente relatadas são as síndromes de inver-são ventricular e as lesões de septo atrioventricular 10. Em

estudo multicêntrico mais recente, foram identificados 55 fetos com BAVT congênito, sendo que 29 apresentavam cardiopatia anatômica associada 3. Em nossa série, as lesões

estruturais mais freqüentemente observadas foram DSAV completo e o isomerismo atrial (esquerdo e direito). Segun-do a literatura, o prognóstico desses pacientes é reservaSegun-do, sendo a cardiopatia estrutural freqüentemente acompanhada de hidropisia fetal e insuficiência cardíaca severa. Todos

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es-Tabela 1. História Materna, Achados Ecocardiográficos e Evolução de 14 casos de BAVT congênito

Doença

do Evolução

Tecido Achados Ecocardiográficos Tipo de parto/Idade

Conjuntivo Gestacional

materna

MTR, sim BAVT óbito fetal

35 anos Derrame pericárdico Hidropsia fetal

PML, não BAVT cesáreo alta hospitalar com 72 horas

24 anos 36 semanas

ABS, não BAVT óbito fetal

24 anos Isomerismo atrial esquerdo

Defeito septo AV completo com átrio único Insuficiência cardíaca grave e hidropsia fetal

ICSP, sim BAVT cesáreo inserção de MP definitivo

26 anos Ascite e derrame pleural 36 semanas imediatamente após o

Fluxo diástólico reduzido na artéria umbilical nascimento

Alta em bom estado geral (total de seguimento 15 meses)

CAM, não BAVT cesáreo Alta hospitalar assintomático

26 anos Conexão atrio-ventricular e ventrículo-arterial discordante 36 semanas desenvolvimento adequado até Exame pós-natal com BAVT, insuficiência mitral leve, ectasia de aorta os 7 meses, quando apresentou

e concordência AV, VA ICC grave precipitada por

infecção estafilocóccica, evoluindo ao óbito

JC, não BAVT cesáreo síndrome Bradi-Taqui com

18 anos 34 semanas múltiplos episódios de

"Torsades de Pointes". Inserido MP definitivo, óbito por complicações cirúrgicas

ASMR, sim BAVT cesáreo MP temporário, óbito com um

31 anos bigeminismo ventricular, extra-sístoles ventriculares (ESV) freqüentes e 32 semanas dia de vida derrame pericárdico

VLDV, não BAVT com ESV freqüentes cesáreo ventilação mecânica, MP

21 anos Isomerismo direito 36 semanas temporário e diálise peritoneal,

DSAV com dominância direita, ICC fetal e polidrâmnios óbito com um mês de vida

MCBF, não BAVT cesáreo MP temporário

34 anos Isomerismo direito 33 semanas insuficiência renal, diálise

BAVT peritoneal

DSAV completo com válvula AV única óbito com um mês de vida DVSVD com aorta anterior e Estenose Pulmonar

Hidropsia fetal

VLAA, não BAVT com ESV freqüentes cesáreo insuficiência respiratória e sepse

34 anos Defeito septal AV 35 semanas óbito com um mês de vida

Ventrículos hipertróficos e válvula aórtica displásica ascite e polidrâmnios

MC, não BAV 4:1 A 2:1 cesáreo MP temporário

20 anos Derrame pleural e pericárdico 30 semanas óbito com 3 dias de vida por

Ascite sepse

Insuficiência mitral e tricúspide Ecocardiografia de controle com BAVT fetal, ascite importante e derrame pericárdico

JSS, não BAVT vaginal sem anormalidades do ritmo

35 anos Retornou ao ritmo sinusal em 3 exames de controle, com FV 144 40 semanas após o nascimento

DK, não BAVT cesáreo MP transitório com 1 dia de

21 anos 37 semanas vida e MP definitivo com 20

dias

Alta com 25 dias

SMV, não BAVT Inserção de marcapasso por via

27 anos Isomerismo esquerdo transuterina materna e

DSAV completo com átrio comum transtorácica fetal. Óbito fetal. DVSVD com aorta anterior

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ses pacientes, em nossa série, evoluíram para o óbito apesar das medidas terapêuticas adotadas. Na série de pacientes do Guy’s Hospital, em Londres, 12 dos 16 fetos sem cardiopatia estrutural estavam vivos, enquanto apenas 3 dos 21 fetos com má-formações congênitas cardíacas sobreviveram 11.

A etiologia e mecanismo da lesão do sistema de condu-ção parecem estar associados a doenças do sistema conjunti-vo. O lúpus eritematoso sistêmico tem sido identificado como uma das causas de BAVT congênito, embora a síndrome de Sjögren, a dermatomiosite e a artrite reumatóide também te-nham sido observadas 10,12. Muitas mães são assintomáticas,

sendo realizada a avaliação sorológica e identificada a presen-ça de doenpresen-ça do sistema conjuntivo somente após o diagnós-tico fetal 2,10. Existem evidências de que o desenvolvimento do

BAVT no feto deva-se à transferência transplacentária de auto-anticorpos maternos 6,12,13. Em nossa série, é possível que

o diagnóstico materno possa estar subestimado entre os casos sem cardiopatia estrutural, apesar da investigação sistemática de todas as 14 gestantes.

Após o diagnóstico de BAVT fetal, é necessário um acompanhamento cuidadoso da gestação através de avaliação clínica periódica e ecocardiografia. Neste exame, é demons-trada a dissociação completa entre os batimentos atriais e ventriculares, representados, no módulo M, pelos movimen-tos do átrio esquerdo e da válvula aórtica, respectivamente.

Várias medidas terapêuticas têm sido relatadas no ma-nejo do BAVT congênito, incluindo a administração de corticóides, terbutalina, plasmaferese e a inserção de MP. Entre estas medidas, a que tem ganho mais ampla aceitação é o uso de corticóides que cruzam a barreira transplacentária, como a dexametasona. Esta conduta baseia-se em vários re-latos que demonstraram a deposição de anticorpos maternos e células inflamatórias no tecido fibrosado do nó atrioventricular no feto com BAVT e sem cardiopatia estru-tural. O corticóide é administrado com o objetivo de interfe-rir no processo inflamatório do tecido de condução fetal, além de acelerar a maturidade pulmonar, quando há risco de par-to prematuro. Alguns aupar-tores utilizam os corticóides em com-binação com a terbutalina, que estimula os receptores adrenérgicos no coração, aumentando, assim, a freqüência cardíaca. Outros autores alegam, no entanto, que esta eleva-ção é transitória e pouco eficaz no que se refere a diminuieleva-ção da mortalidade 2.

Quando as terapias intra-uterinas, atualmente disponí-veis, são incapazes de deter a progressão da hidropsia fetal, pode ser indicada a interrupção da gestação para a realização de tratamento neonatal. Após o parto, são avaliados a freqüên-cia ventricular, a duração e morfologia do QRS, e os sinais e sintomas de insuficiência cardíaca congestiva.

Nos neonatos que não apresentam repercussão fun-cional significativa nos primeiros dias de vida, não sendo necessário o uso de MP, o seguimento clínico torna-se crítico. A monitorização hospitalar nos primeiros dias é necessária para observação de possíveis alterações hemodinâmicas. Após a alta hospitalar, é fundamental o controle ambulatorial. A maioria das mortes por BAVT ocorre em crianças abaixo

de 1 ano, principalmente naquelas com lesão estrutural asso-ciada 7,10.

O implante de MP deve ser considerado em neonatos com freqüência ventricular abaixo de 55bpm sem anormali-dades anatômicas ou freqüência ventricular abaixo de 65bpm com lesões estruturais e naquelas com repercussão funcional significativa 2,7,10,14-16. No entanto, o tamanho do MP pode

di-ficultar o implante definitivo nestes recém-nascidos prema-turos ou de muito baixo peso. Muitas vezes, é necessária a inserção transvenosa de um MP temporário antes que seja possível o implante definitivo 16. O seguimento clínico é

fun-damental nestas crianças, para ajuste de variáveis e verifica-ção de complicações da implantaverifica-ção (como, por exemplo, a infecção cirúrgica).

Em fetos com bradicardia severa (abaixo de 45 ou 50bpm) e sinais de descompensação cardíaca, mas ainda muito imaturos para a interrupção da gestação, a terapêutica ideal seria a inserção de MP intra-uterino. Este procedimento foi inicialmente estudado em modelos experimentais com fetos de ovelhas 17. As experiências iniciais em fetos humanos

incluíram tentativas de estimulação transabdominal com MP extracardíaco aplicado à parede abdominal materna e de im-plante do MP diretamente no coração do feto através de amnioscopia. Estas experiências, no entanto, não foram bem sucedidas em manter a gestação até o termo.

Outras cirurgias fetais com histerotomia e subseqüente parto cesáreo, têm sido realizadas, principalmente para o tra-tamento de hidronefrose severa e hérnia diafragmática, sem que haja mortalidade materna ou efeito sobre futuras gesta-ções. Em uma série de 17 casos, 14 gestações prosseguiram após a histerotomia. No entanto, as complicações mais fre-qüentes foram a irritabilidade uterina e trabalho de parto pre-maturo 18.

Carpenter e col 19 relataram a inserção de MP ventricular

por via transuterina transtorácica em um feto gravemente afetado, sem evidências de trauma para a mãe ou feto. Ape-sar do óbito fetal 4h após o procedimento, os autores sugerem que a técnica poderia ter mais sucesso se utilizada mais pre-cocemente na evolução da hidropsia fetal.

Nosso caso também se apresentava em um estágio muito avançado de hidropsia, com sofrimento fetal significativo. É possível supor que o procedimento pudesse trazer maior be-nefício se realizado em um feto em melhores condições clíni-cas, já que, tecnicamente, a inserção do MP foi obtida sem intercorrências e não houve morbidade materna no período de seguimento. No entanto, este procedimento permanece em investigação, sendo reservado como último recurso terapêutico em fetos que, de outra forma, morreriam in utero antes de atingir a maturidade necessária para a interrupção da gestação.

Concluindo, embora o BAVT congênito seja uma doen-ça rara em fetos, é significativo o potencial risco de repercus-são funcional e morte. Várias técnicas têm sido aprimoradas na tentativa de melhorar o diagnóstico, acompanhamento e sobrevida destes pacientes e diminuir a morbi-mortalidade neste grupo 20,21.

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