RISCOS DA APLICAÇÃO DE
LAMAS NO SOLO
1º Encontro de Riscos Ocupacionais, 24 de Outubro
de 2013, no ISCIA
Carla Caroça
Risco - «a probabilidade de concretização do dano em
função das condições de utilização, exposição ou
interacção do componente material do trabalho que
apresente Perigo» (artigo 4º, alínea h), do DL nº102/2009, de 10 de Setembro)
Perigo - «a propriedade intrínseca de uma instalação,
actividade, equipamento, um agente ou outro
componente material do trabalho com potencial para
provocar dano» (artigo 4º, alínea g), do DL nº102/2009,
de 10 de Setembro)
Danos - «a alteração adversa mensurável de um recurso
natural ou a deterioração mensurável do serviço de um recurso natural que ocorram directa ou indirectamente» (artigo 11º, alínea d), Secção I, Cap.III, do DL nº147/2008, de 29 de Julho)
“Riscos Ocupacionais”
a possibilidade de um trabalhador (pessoa singular que exerce uma determinada actividade) sofrer um determinado
dano derivado do seu trabalho.
Riscos físicos – ruídos, vibrações, radiações, frio, calor,
pressões anormais, humidade
Riscos químicos – poeiras, fumos, névoas, neblinas,
gases, vapores, substâncias, compostos ou produtos químicos
Riscos biológicos – vírus, bactérias, protozoários, fungos,
parasitas, insectos (mosquitos)
Riscos ergonómicos – esforço físico, levantamento e
transporte manual de peso, trabalho prolongado, controlo rígido de produtividade
Riscos de acidentes – arranjo físico inadequado, equipamentos sem protecção, armazenamento inadequado, ferramentas inadequadas, outras situações
Riscos físicos – surdez, problemas neurológicos,
cancros, fadiga, gripe
Riscos químicos – alergias, inflamações nos olhos,
problemas pulmonares, cancros
Riscos biológicos – doenças contagiosas, gripe, envenenamento por picadas de insectos e/ou por mordidas de animais (exemplo: rato)
Riscos ergonómicos – problemas na coluna, dores
musculares, stress
Riscos de acidentes – vários traumatismos, podendo
levar à morte imediata
Ciclo Urbano da
Lamas Origem
Depuração Estações de tratamento de águas residuais: - domésticas - urbanas - fossas sépticas - agro-pecuária Composição similar Tratamento de efluentes:
- preparação e processamento de produtos alimentares (frutos, legumes, pão, bolos,
leite, bebidas alcoólicas e não alcoólicas...) - produção e transformação de pasta para papel, papel e cartão
Tratadas Tratamento por via biológica, química ou térmica ou outro que reduza o poder de fermentação e os inconvenientes sanitários
Classificação das Lamas
Composição das Lamas Propriedades físicas
- odor muito desagradável provocado pela presença de carbono orgânico, azoto na forma de amónia (NH4) e de enxofre
- cor (varia entre o castanho e o cinzento)
- viscosidade (em descanso torna-se uma massa, e quando se agita passa a líquido (tixotropia)
- poder calorífico (capacidade de autocombustão dependendo do seu teor em matéria seca)
Propriedades químicas
- matérias orgânicas
- elementos nutritivos (azoto, fósforo expresso sob a forma de P2O5 e
potássio sob a forma K2O
- micropoluentes orgânicos (provenientes de detergentes, medicamentos, pesticidas)
-micropoluentes minerais (B, Cu, Hg, Cr, Pb, Zn, Ni, Cd, Fe, Mn, Al, As) - vitaminas (consumidas pelos humanos e que foram expelidas pela urina e fezes (ex: Ca)
Propriedades biológicas
- bactérias - vírus - parasitas (protozoários, algas unicelulares, helmintas) - fungos (ex: cogumelos) - macrofauna (vermes,
Parasitas
Helmintas
Protozoários Alga
Fungos Vermes
Perigosidade das lamas
Poluentes orgânicos
(compostos de carbono sintetizados desde o final do séc. XIX)
Exs: pesticidas (insecticidas, herbicidas, fungicidas) e PCBs
- Viajam muitos Km a partir do ponto de origem de contaminação;
- Persistem no ambiente;
- São bioacumuláveis através da rede alimentar;
- Põem em risco a saúde Humana (cancros, deformações no feto), e o ambiente (água subterrânea);
- São altamente prejudiciais no tratamento das lamas e na agricultura
Perigosidade das lamas
Metais pesados
Elementos químicos naturais que apresentam no geral densidade superior a 4g/cm3
Exs: Cádmio (Cd), Crómio (Cr), Cobre (Cu), Chumbo (Pb), Manganésio (Mn), Mercúrio (Hg), Níquel (Ni), Zinco (Zn) - São altamente reactivos e bioacumuláveis;
- Provenientes da alteração das rochas e principalmente das emissões e do processamento industrial;
- Em excesso no solo diminuem e/ou impedem a produtividade das plantas;
- Nos humanos pode provocar a morte ou cancros, deformações no feto, diminuição da fertilidade, distúrbios do sono,...
Perigosidade das lamas
Microorganismos patogénicos (bactérias, protozoários, helmintas e vírus)
Provenientes das excreções (fezes e urina) de pessoas infectadas libertadas nas águas residuais, mas que conseguem sobreviver algum tempo no solo
Riscos semelhantes aos das águas residuais, pelo contacto, inalação e/ou ingestão:
- malária, - febre tifóide, - cólera, - poliomielite, - hepatite, - meningite, - gastroenterites, - lombrigas, - ténias, - alergias, - otites, - conjuntivites,
- infecções fúngicas de pele, ...
Que fazer com as lamas? – Valorizar ou eliminar?
Directiva 2012/19/UE do Parlamento Europeu e do Conselho de 4 de Julho de 2012, alínea (2):
«os objectivos da política ambiental da União são, em especial, a preservação, protecção e melhoria da
qualidade do ambiente, a protecção da saúde humana e
a utilização prudente e racional dos recursos naturais».
Directiva 2008/98/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de 19 de Novembro de 2008, nº(6):
A política no domínio dos resíduos deverá «reduzir a utilização de recursos e propiciar a aplicação prática da
Que fazer com as lamas? – Valorizar ou eliminar?
Eliminação :
Aterro - instalação de
eliminação de resíduos através da sua deposição
acima ou abaixo da superfície natural
(artigo 4º do DL nº183/2009, de 10 de Agosto)
Incineração - eliminação dos
resíduos por queima com ou sem aproveitamento de
energia
(artigo 3º do DL nº85/2005, de 28 de Abril)
Que fazer com as lamas? – Valorizar ou eliminar?
Valorização
«As águas residuais tratadas, bem como as lamas, devem ser reutilizadas, sempre que possível ou adequado»
(DL nº152/97 de 19 de Junho)
Aplicação das lamas de depuração nos solos agrícolas
como adubo (matéria orgânica, azoto, fósforo e
potássio) com certas restrições aos metais pesados e
microorganismos patogénicos.
(Directiva 86/278/CEE do Conselho, de 12 de Junho) Adubo - o material cuja principal função consiste em
fornecer nutrientes às plantas.
(Regulamento (CE) nº2003/2003 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 13 de Outubro de 2003)
Comité Económico e Social Europeu (CESE) critica:
- a não revisão da directiva, pois ainda permite graves impactes no Ambiente e na Saúde Pública;
- desconhecimento sobre:
- conteúdo de outros poluentes químicos, - a forma como interagem entre si,
- efeitos no solo,
- segurança dos produtos alimentares provenientes de solos com lamas de depuração.
Relata:
- trabalho de médicos investigadores (2006) que relacionam doenças como: autismo, hiperactividade,
défice de atenção e problemas no crescimento, aos
poluentes existentes nas lamas de depuração aplicadas no solo.
Que fazer com as lamas? – Valorizar ou eliminar?
Em Portugal:
- Adaptação de técnicas de gestão ambiental na própria
empresa (ex: Inalca Spa);
- Adição (1 a 15%) de lamas de depuração na
compostagem (degradação da matéria orgânica na
presença de oxigénio, por microorganismos (bactérias, fungos, vírus), a altas temperaturas (entre 50 e 60ºC) com formação de: dióxido de carbono, água, minerais e matéria orgânica estabilizada (composto)). O composto,
forma melhorada da lama, é utilizado nos solos como
correctivo orgânico, mas ainda apresenta riscos para os humanos, animais e plantas, semelhantes às lamas de depuração;
- Criação de empresas de gestão e de valorização de
Resíduos, as quais aplicam as lamas de depuração
através de um licenciamento (DL nº276/2009, de 2 de Outubro).
Que fazer com as lamas? – Valorizar ou eliminar?
Em Portugal:
- Adaptação de técnicas de gestão ambiental na própria
empresa (ex: Inalca Spa);
- Adição (1 a 15%) de lamas de depuração na
compostagem (degradação da matéria orgânica na
presença de oxigénio, por microorganismos (bactérias, fungos, vírus), a altas temperaturas (entre 50 e 60ºC) com formação de: dióxido de carbono, água, minerais e matéria orgânica estabilizada (composto)). O composto,
forma melhorada da lama, é utilizado nos solos como
correctivo orgânico, mas ainda apresenta riscos para os humanos, animais e plantas, semelhantes às lamas de depuração;
- Criação de empresas de gestão e de valorização de
Resíduos, as quais aplicam as lamas de depuração
através de um licenciamento (DL nº276/2009, de 2 de Outubro).
DL nº 276/2009, de 2 de Outubro
DRAP – Direcção Regional de Agricultura e Pescas / CCDR – Comissão de
Coordenação e Desenvolvimento Regional / APA – Agência Portuguesa do Ambiente / PGL – Plano de Gestão das Lamas / DPO – Declaração do Planeamento de Operações
Conclusão
As lamas (resíduo associado ao ciclo urbano) e o composto (valorização das lamas pelo processo de compostagem) ainda apresentam graves riscos à Saúde Pública, aos Animais e ao Ambiente.
É necessário mais estudos científicos de forma a
conhecer o comportamento e a toxicidade dos
constituintes das lamas e do composto (também águas residuais) nos solos, antes de serem aplicados e/ou
Agradecimentos Fundação Ciência e Tecnologia
Associação do Aproveitamento Hidroagrícola de Cela Agência Portuguesa do Ambiente
Componatura, Lda
Ambi Trevo – Soluções Agrícolas e Ambientais, Lda Terra Fértil - Gestão e Valorização de Resíduos, Lda
Associação dos Agricultores de Alcobaça
Associação 5 Rios Junta de Freguesia de Valado de Frades Águas do Oeste, S.A.
Câmara Municipal de Nazaré Câmara Municipal de Alcobaça Administração de Recursos Hídricos - Centro