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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS UFAM INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS ICHL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA PPGS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS – ICHL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA – PPGS

TERRITÓRIOS SOCIAIS DA PESCA NO RIO SOLIMÕES

Usos e formas de apropriação comum dos recursos pesqueiros em áreas de livre acesso

Pedro Henrique Coelho Rapozo

MANAUS/AM 2010

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Livros Grátis

http://www.livrosgratis.com.br

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS – ICHL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA – PPGS

TERRITÓRIOS SOCIAIS DA PESCA NO RIO SOLIMÕES

Usos e formas de apropriação comum dos recursos pesqueiros em áreas de livre acesso

Pedro Henrique Coelho Rapozo

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia – PPGS/UFAM, da Universidade Federal do Amazonas, como requisito para obtenção do título de Mestre em Sociologia.

Orientador: Dr. Antonio Carlos Witkoski

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________

Prof. Dr. Antônio Carlos Witkoski – Orientador

Universidade Federal do Amazonas – UFAM

_________________________________________________

Prof. Dra. Norma Felicidade Lopes da Silva

Universidade Federal de São Carlos - UFSCAR

__________________________________________________

Prof. Dr. Manuel de Jesus Masulo da Cruz

Universidade Federal do Amazonas – UFAM

MANAUS/AM 2010

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R219t Rapozo, Pedro Henrique Coelho

Territórios sociais da pesca no Rio Solimões : usos e formas de apropriação comum dos recursos pesqueiros em áreas de livre acesso / Pedro Henrique Coelho Rapozo. - Manaus, AM : UFAM, 2010. 272 f. : il. color. ; 30 cm

Inclui referências.

Dissertação (Mestre em Sociologia). Universidade Federal do Amazonas. Orientador: Prof. Dr. Antonio Carlos Witkoski.

1. Sociologia rural 2. Pesca – Solimões, Rio (AM) 3. Pescadores - Manacapuru (AM) 4. Pesca - Manacapuru (AM) I. Witkoski, Antonio

Carlos (Orient.) II. Título

CDU (2007): 316.334.55:639.2.052(811.3)(043.3) Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da UFAM

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Dedico este trabalho à minha família que sempre apoiou e respeitou minhas escolhas, aos meus pais Ailton Rapozo, Maria Aparecida Rapozo, ao meu irmão Silvio Rapozo e meus sobrinhos Maria Clara e Felipe, e à Tayana Freitas, meu refúgio e fortaleza, agradeço pelo amor incondicional, renúncias e compreensões nas horas ausentes.

Dedico, ainda, aos homens e mulheres das comunidades Nossa Senhora das Graças – Manacapuru (Am), por contribuírem na minha formação acadêmica e pessoal quanto ao aprendizado sobre o complexo mundo da vida rural amazônica, da vida simples e rica nas várzeas do rio Solimões, lugar de eterno recomeçar.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos professores do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Amazonas pela dedicação e respeito ao exercício do aprendizado constante e no desenvolvimento de pesquisas na e sobre a Amazônia brasileira. Meu especial agradecimento à Marluce Lima pela amizade e impecável responsabilidade e dedicação a frente da Secretaria do Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Agradeço à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, pela bolsa concedida ao longo do desenvolvimento deste trabalho.

Agradeço aos colegas de Graduação da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas, Silvio Rocha, Saadya Jezzine, Taciana Lima e Rony Frutuoso, pelo convívio acadêmico quanto aos estudos sobre o mundo rural Amazônico. Agradeço aos colegas Bruno Avelino, João Fábio Braga, Rila Arruda, Maglúcia Onetti, Marco Antonio Brito, Elder Araújo, Samia Miguez, Tiago Jacaúna, David Spencer, Marcelo Rodrigues, Raiana Ferrugem, Luana Rodrigues, Glaúcia Baraúna, Liliane Oliveira e Jordeanes Araújo, estudantes nos Programas das Pós-Graduações em Sociologia – PPGS/UFAM, em Antropologia PPGAS/UFAM, e Sociedade e cultura – PPGSCA/UFAM, pelo companheirismo intelectual que tanto contribuíram para minha formação acadêmica e pessoal.

Agradeço ao Núcleo de Socioeconomia da Faculdade de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Amazonas – NUSEC/UFAM, através dos pesquisadores: Suzy C. P. Silva (pela valiosa contribuição no trato com as imagens cartográficas disponíveis neste estudo), Albejamere Castro, Jozane Santiago, pelo compromisso no exercício das atividades de pesquisa, ensino e extensão em comunidades rurais da região. Em especial, a amizade e orientação da Profa. Dra. Therezinha Fraxe pela oportunidade de uma formação acadêmica rica e interdisciplinar, pelo compromisso social e responsável com Amazônia. Ao amigo e orientador, Prof. Dr. Antonio Carlos Witkoski, pela disciplina intelectual, companheirismo, e valiosas contribuições neste estudo, propiciando-me uma formação acadêmica comprometida com a sociedade.

Agradeço, sobretudo, aos responsáveis pelo desenvolvimento deste estudo, aos moradores/pescadores da comunidade Nossa Senhora das Graças da Costa do Pesqueiro II em Manacapuru (AM), sujeitos de seu tempo, conhecedores de um mundo singular.

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RESUMO

A pesca na Amazônia se constitui historicamente como um dos principais elementos do modo de vida das comunidades rurais da região. Este estudo procura interpretar as relações sociopolíticas instituídas na configuração dos territórios sociais da pesca e suas formas de apropriação entre os pescadores da região do Baixo rio Solimões no município de Manacapuru, Estado do Amazonas. As transformações socioeconômicas que marcaram nas últimas décadas o desenvolvimento da pesca na Amazônia estão associadas aos processos de intervenção do modo de produção capitalista, levando ao desencadeamento e intensificação da pesca comercial na região. As transformações socioculturais do modo de vida e das representações sociais do mundo demarcam a construção social dos conflitos socioambientais em territórios de pesca nas comunidades rurais da região estudada

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ABSTRACT

In the Amazon, fishing historically constitutes a major component of the livelihood of rural communities in the region. This study seeks to interpret the socio-political relations established in the configuration of social territories fisheries and their forms of ownership among local fishermen of the Lower Solimões River in the municipality of Manacapuru, Amazonas State. The socioeconomic changes that marked the last decades the development of fisheries in the Amazon are associated with the processes of intervention of the capitalist mode of production, leading to the initiation and intensification of commercial fisheries in the region. The changing socio-cultural way of life and social representations of the world demarcate the social construction of environmental conflicts in areas of rural fishing communities in the region studied.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Localização da Comunidade Nossa Senhora das Graças na Costa do

Pesqueiro II ... 23

Figura 2 Comunidade Nossa Senhora das Graças na Costa do Pesqueiro II por imagem de satélite ... 24

Figura 3 Percentual de entrevistados que possuem filhos na comunidade Nossa Senhora das Graças ... 27 Figura 4 Percentual de entrevistados quanto à Situação do estado civil ... 27

Figura 5 Ocorrência dos tipos de família nuclear e extensa na Comunidade Nossa Senhora das Graças ... 28

Figura 6 Média de pessoas por família na Comunidade Nossa Senhora das Graças... 28

Figura 7 Perfil da participação comunitária em organizacoes sociais locais ... 50

Figura 8 Croqui da Comunidade Nossa Senhora das Graças. Nota-se no croqui a divisão espacial das áreas onde os moradores desenvolvem suas atividades, assim como a centralidade da própria comunidade – por exemplo, a casa do Presidente da Comunidade (Sebastião), a igreja, a escola e o Centro social ... 51

Figura 9 Croqui georeferenciado das moradias e das atividades desenvolvidas na comunidade ... 52 Figura 10 Escola e centro social da Comunidade Nossa Senhora das Graças ... 53

Figura 11 Usina termelétrica local ... 54

Figura 12 Situação sobre a participacao religiosa dos comunitários ... 55

Figura 13 Igreja católica da Comunidade Nossa Senhora das Graças, onde são realizados os cultos... 56

Figura 14 Reunião no centro social da Comunidade Nossa Senhora das Graças para explicar sobre o que seria a pesquisa e seu desenvolvimento... 56

Figura 15 Armazenagem do pescado para o consumo imediato... 63

Figura 16 Pescado levado para ser consumido em casa ... 63

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Figura 18 Casa de farinha, local utilizado para a produção da farinha de mandioca

como fonte de alimentação principal ... 65 Figura 19 A criação do gado é uma alternativa para o consumo de carne na

comunidade... 65 Figura 20 A criação de aves de maneira extensiva nos terreiros da casa também são

uma fonte de consumo indispensável as comunidades rurais ... 66 Figura 21 Nos canteiros suspensos são encontrados os temperos da alimentação

nas comunidades ... 66 Figura 22 Frequência relativa ao tipo de atividade desenvolvida junto às atividades

da pesca ... 66 Figura 23 Percentual de origem do desembarque de pesca do Estado... 127 Figura 24 Flutuante localizado na comunidade servindo como entreposto da

comercialização do pescado até seu destino final em Manacapuru ... 130 Figura 25 Terminal pesqueiro de Manacapuru, um dos locais que recebe

diariamente o pescado capturado pelos trabalhadores das comunidades rurais do município ... 130 Figura 26 Desembarque da captura do pescado em um dos flutuantes na

Comunidade ... 131 Figura 27 Barco atravessador que medeia a comercialização do pescado ... 131 Figura 28 Destino de comercialização da pesca na Comunidade Nossa Senhora das

Graças ... 131 Figura 29 Apetrechos utilizados na captura do pescado ... 132 Figura 30 Processo de recepção do pescado no flutuante onde são separados por

espécies ... 133 Figura 31 O pescado é separado por tamanho e, em seguida, pesado ... 133 Figura 32 Armazenamento do pescado para em seguida ser levado ao barco ... 133 Figura 33 Material custeado para a captura do pescado em larga escala, utilizando

apetrechos específicos ... 136 Figura 34 Composicão da renda familiar obtida através da pesca ... 138 Figura 35 Análise do valor pago aos pescadores obtido na comercialização do

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Figura 36 Frequência relativa ao período de sazonalidade das águas revela a

escolha dos melhores e piores períodos de captura do pescado ... 141 Figura 37 Barco utilizado para o armazenamento do pescado que é levado aos

frigoríficos em Manacapuru ... 142 Figura 38 O porão do barco é utilizado para o armazenamento do pescado ... 142 Figura 39 O gelo é utilizado para a conservação do pescado até os frigoríficos ... 142 Figura 40 Fluxograma que identifica as etapas no processo de comercialização do

pescado ... 143 Figura 41 Índices relacionados às variáveis da pesca comercial intensiva nas

comunidade Nossa Senhora das Graças ... 144 Figura 42 Índices de acesso ao gelo utilizado nas pescarias da comunidade Nossa

Senhora das Graças ... 145 Figura 43 Pontos de venda ou empréstimo do gelo na comunidade Nossa Senhora

das Graças ... 145 Figura 44 A pesca realizada através da meia une funções importantes, o condutor

da embarcação e o recolhedor do lanço ... 149 Figura 45 Frequência das atividades de parceria na pesca realizado entre os

moradores da Comunidade Nossa Senhora das Graças ... 150 Figura 46 Percentual das relações de parceria entre os pescadores na Comunidade

Nossa Senhora das Graças ... 151 Figura 47 As parcerias denotam como função social a reconstituição dos laços de

sociabilidade entre os indivíduos de mesmo parentesco, na medida que se constituem como trabalho pela obtenção de renda na pesca comercial.. 152 Figura 48 As mudanças no processo de trabalho da pesca associada ao uso dos

apetrechos e relações de trabalho estabelecidas ... 158 Figura 49 Pescador confeccionando a tramalha que será utilizada na captura do

pescado ...

160

Figura 50 Rede de Arrasto tecida pelo pescador da comunidade ... 160 Figura 51 Frequência relativa de respostas com relação à fabricação dos apetrechos

de pesca ... 161 Figura 52 Manutenção das redes de arrasto ... 162 Figura 53 Análise descritiva dos apetrechos que são feitos na localidade ... 163

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Figura 54 Croqui georeferenciado da localidade Costa do Pesqueiro II onde

apresenta a dimensão de organização espacial do território da comunidade Nossa Senhora das Graças a partir das habitações dos moradores ... 181 Figura 55 Mapa mental da comunidade elaborado por um morador, explica a

dimensão da localidade a partir do território delimitado e dos recursos utilizados, onde podemos ver o rio principal, a disposição das casas, das instituições presentes na comunidade que formam a centralidade, as roças, o lago de uso comunitário, a floresta primária, etc. tidos como elementos que pertencem ao mundo da comunidade ... 183 Figura 56 Mapa mental elaborado por uma das crianças moradores da comunidade,

apresenta a dimensão das instituições e do ambiente que compreende a comunidade ... 184 Figura 57 Desenho elaborado por morador local apresentando as dimensões

constitutivas do território que compreende a comunidade Nossa Senhora das Graças, as espacialidades das propriedades e sua relação com o uso dos recursos naturais disponíveis, as plantações nas áreas de várzea à beira do rio Solimões, as florestas e os lagos utilizados para a pesca de subsistência atrás da comunidade, e áreas destinadas a outras atividades como criação de pequenos animais ... 185 Figura 58 Placa que identifica a comunidade Nossa Senhora das Graças se situa no

centro da comunidade e apresenta elementos importantes. As instituições presentes, a relação com o lado religioso da comunidade, o time de futebol como dimensão de sociabilidade, a localidade e a relação com o mundo da pesca ... 187 Figura 59 Mapa mental elaborado por morador da comunidade Nossa Senhora das

Graças apresentando o núcleo central da comunidade constituída pelos espaços de pesca, na figura aparece o rio Solimões em frente à comunidade e o lago Tamanduá, ao fundo, como territórios que pertencem à comunidade como espaços pertencentes ao modo de vida e destinados a atividade pesqueira ... 190 Figura 60 Mapa mental elaborado por pescador da comunidade Nossa Senhora das

Graças apresenta uma dimensão mais abrangente que relaciona a localidade e os pontos de demarcação da pesca a partir do conhecimento de ambientes próximos como a Costa do pesqueiro II e com outros ambientes naturais, os furos, paranás e lagos, que são descritos da maneira como são reconhecidos, a Boca do calado e a Boca do lago do Paru ... 191 Figura 61 Os pontos de pesca demarcados no mapa mental elaborado pelo

pescador da comunidade apresentam uma percepção muito abrangente do ambiente físico que constitui e delimita a localidade onde se encontra a comunidade Nossa Senhora das Graças (acima do lago do Pesqueiro) e os outros locais representados. Na figura, a Costa do Laranjal aparece

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como um referencial importante da pesca, as embarcações, os lanços com as redes de arrasto significam a concepção da atividade pesqueira voltado para a comercialização, mas, sobretudo, demarcam os territórios de pesca dos barcos no rio Solimões ... 192 Figura 62 Parceria entre crianças da comunidade chegando ao lugar onde é

praticada a pesca de vez. ... 197 Figura 63 A espera da vez demonstra o sentido de organização e cumprimento das

regras entre os pescadores da comunidade ... 198 Figura 64 O lanço é dado quando ocorre a pesca de vez, a rede de arrasto é jogada

no rio presa às boias flutuantes, enquanto o outro parceiro da pesca conduz a canoa motorizada das margens até o meio do rio ... 199 Figura 65 A boia é largada após a finalização do lanço, servindo como sustentação

da rede de arrasto que será levada correnteza abaixo até os limites da comunidade ... 199 Figura 66 Após o período de captura, a rede é recolhida em outro ponto mais

abaixo do rio, os peixes são retirados e a rede armazenada na canoa ... 200 Figura 67 Quando a vez não predispõe uma boa pescaria é necessário voltar para o

lugar de partida e esperar novamente, estes aspectos claramente são evidenciados quando ocorre uma pesca mal sucedida ... 201 Figura 68 Informação referente aos pescadores que se deslocam para locais fora da

comunidade, em localidades distantes ou nas imediações ... 204 Figura 69 Localidades distantes onde foi evidenciada a prática pesqueira

demonstram os pontos de pesca visitados pelos pescadores da comunidade ... 204 Figura 70 Principais localidades e ambientes relacionados com o desenvolvimento

da atividade pesqueira no lugar da pesquisa ... 205 Figura 71 Finalidade da pesca nas localidades distantes da comunidade ... 207 Figura 72 Perfil total da denominação popular das espécies mais capturadas para

fins comerciais na região de pesca da pesquisa.

208

Figura 73 Formas de apropriação dos recursos pesqueiros de acordo com os

ambientes no período da enchente ... 209 Figura 74 Finalidade destinada ao uso dos recursos pesqueiros nos locais

apontados no período da enchente ... 210 Figura 75 Formas de apropriação dos recursos pesqueiros de acordo com os

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Figura 76 Finalidade destinada ao uso dos recursos pesqueiros nos locais

apontados no período da cheia ... 212 Figura 77 Formas de apropriação dos recursos pesqueiros de acordo com os

ambientes no período da vazante ... 213 Figura 78 Finalidade destinada ao uso dos recursos pesqueiros nos locais

apontados no período da vazante ... 214 Figura 79 Formas de apropriação dos recursos pesqueiros de acordo com os

ambientes no período da seca ... 215 Figura 80 Finalidade destinada ao uso dos recursos pesqueiros nos locais

apontados no período da seca ... 216 Figura 81 Melhores horários para a captura do pescado nos ambientes citados,

segundo os pescadores locais ... 217 Figura 82 Percentual de ocorrência sobre a prática da pesca comercial comunidade. 218 Figura 83 Períodos em que não se exerce a pesca comercial por ano na comunidade

Nossa Senhora das Graças ...

219

Figura 84 Pergunta referente à existência de descarte de pescado entre os

pescadores da comunidade ... 222 Figura 85 Análise descritiva das espécies de peixes que diminuíram na localidade.. 223 Figura 86 Dinâmica dos modos de apropriação e gestão dos recursos ... 239

(15)

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Preço do pescado pago/kg e relação com o período hidrológico entre os

entrepostos comerciais de pescado na comunidade Nossa Senhora das

Graças – Manacapuru (Am) ... 140

Quadro 2 Perspectiva comparativa entre os fatores de uso dos recursos pesqueiros

e de seus ambientes a partir dos regimes de propriedade comum ...

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

BASA - Banco da Amazônia

FAO - Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação

FISET/PESCA - Fundo de Investimento Setorial para a Pesca

IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

MMA - Ministério do Meio Ambiente

MPA - Ministério da Pesca e Aquicultura

PVEA - Plano de Valorização Econômica da Amazônia

SPEVEA - Superintendência do Plano de Valorização da Amazônia

SUDAM - Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia

SUDEPE - Superintendência do Desenvolvimento da Pesca – SUDEPE

UNESCO - Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura

(17)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 17

CAPÍTULO 1 – A vida na costa do pesqueiro ... 31

1.1 - História socioambiental da comunidade Nossa Senhora das Graças ... 33

1.2 - As formas de organização sociopolítica ... 48

1.3 - Vida e labor: a constituição das atividades humanas na comunidade Nossa Senhora das Graças ... 59

CAPÍTULO 2 – As transformações socioeconômicas da pesca ... 70

2.1 - A queda de Ícaro: Estado (sub) desenvolvimento e as políticas de uma modernização forçada ... 72

2.2 - Repensando as transformações do mundo do trabalho na pesca: Estado e políticas econômicas legitimadoras do projeto de desenvolvimento nacional ... 88

CAPÍTULO 3 – Trabalhadores da pesca ... 109

3.1 - O trabalho na pesca e suas transformações sociais na Costa do Pesqueiro ... 110

3.2 - Trabalho, renda da água e as redes de comercialização ... 122

3.3 - As formas de organização do trabalho na pesca ... 148

3.3.1- Os parceiros do rio Solimões ... 148

3.3.2 - O uso dos apetrechos na captura do pescado ... 156

CAPÍTULO 4 – Tempo, Lugar e Espaço: a constituição política das territorialidades da pesca ... 166

4.1 - Regimes de propriedade comum e livre acesso: aspectos sobre a constituição das territorialidades da pesca no baixo Solimões ... 166

4.2 - Cosmografias, territorialidades e espacialidades: dimensões simbólicas sobre o conhecimento da pesca local ... 175

4.3 - Relações sociais no uso das territorialidades ... 194

4.3.1- A pesca da vez: elementos constitutivos de acesso e controle dos territórios pesqueiros ... 196

(18)

4.3.2 - Os pontos de pesca: formas de apropriação e territorialização dos

ambientes de pesca ...

202

4.4 - Dimensões representativas do conflito: a pesca entre os de dentro e os de fora 223 4.5 - Repensando territorialidades: dimensões interpretativas sobre o controle dos

recursos pesqueiros ... 234

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 243

REFERÊNCIAS ... 249

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Introdução

A pesca é uma atividade que institui uma das dimensões da realidade que marca historicamente a vida dos grupos sociais na Amazônia brasileira. A importância do desenvolvimento e aperfeiçoamento da pesca, praticados pelos habitantes das várzeas e terras-firmes da região, demonstra a capacidade de articulação de um modo de vida muito singular, onde o domínio do saber prático considera a dinâmica da vida que corre nos rios da Amazônia, na sazonalidade dos seus períodos hidrológicos, e nas transformações que atendem aos interesses dos homens como agentes sociais interessados e que se apropriam destes recursos.

O desenvolvimento histórico das atividades pesqueiras deve muito, por um lado, aos processos sociais de intervenção e ação humana na região amazônica e, por outro, pela formação e ocupação de grupos sociais no período anterior a colonização portuguesa, a partir das estratégias e intensificação de interesses políticos com relação à sociodiversidade encontrada na Amazônia (PEREIRA 2007).

O processo histórico e socioeconômico vivenciado pelos grupos sociais rurais locais, no que se refere ao uso dos recursos pesqueiros, pode ser compreendido enquanto elementos pertinentes à reprodução social de suas existências, como também pelas transformações socioeconômicas ocorridas nesse processo, sobretudo, no decorrer do século XX, no nível das macro-ações, ou seja, das estratégias de intervenção político-econômica na Amazônia, aliado ao discurso desenvolvimentista (RUFFINO, 2004, SILVA, 1996).

No âmago deste processo, as transformações socioeconômicas que marcam o desenvolvimento do setor pesqueiro na Amazônia articulam, de um lado, os processos e projetos de intervenção do modo de produção capitalista que levaram ao desencadeamento da pesca comercial na região e, de outro, as transformações culturais do modo de vida, das

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representações sociais1 do mundo e da própria pesca como atividades constituintes da vida dos grupos sociais locais. Nesse sentido, a pesca na Amazônia tem implicado na construção de territorialidades sociais, ou seja, na demarcação dos espaços sociais na pesca comercial e de subsistência entre os agentes envolvidos o que, conseqüentemente, tem criado/recriado conflitos sociais pelo acesso aos recursos pesqueiros e (re) configurado as relações de trabalho na atividade pesqueira.

A importância de compreender a territorialidade com uma das dimensões significativas da apropriação comum do acesso aos recursos na atividade pesqueira possibilita-nos verificar que, as representações dos territórios sociais e as formas de uso dos recursos pesqueiros como elementos pertencentes à produção/reprodução material e simbólica do mundo são, ordinariamente, construídas e (re) significadas.

Assim como em diversas áreas da Amazônia brasileira, o Rio Solimões, seus paranás, lagos, afluentes etc., constituem-se em um dos principais complexos do meio físico e biótico, traduzindo-se em fonte de riqueza para a produção e reprodução da vida dos grupos sociais locais e, vem, também, tornando-se um dos principais pólos do setor comercial da pesca. A região do Baixo Solimões, na qual se insere o município de Manacapuru, aparece como um de seus principais referenciais do desenvolvimento desta atividade, assim como da comercialização dos estoques dos recursos ictiofaunísticos local (BATISTA & FABRÉ, 2003).

O lócus desse espaço social da pesca tem apresentado, de forma latente e manifesta, inúmeros conflitos sociais pela posse e uso dos recursos ictiofaunísticos envolvendo

1 “Compreendemos que a representação social é „uma forma de conhecimento socialmente elaborada e

compartilhada, que tem um objetivo prático e concorre para a construção de uma realidade comum a um conjunto social‟” (JODELET, 2001, p. 08).

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diferentes tipos de pescadores das comunidades locais.2 Esses conflitos vêm delineando a constituição de territorialidades onde a demarcação pela apropriação de diversas áreas de pesca comercial e de subsistência é mediada – ainda que de modo incipiente – pelas normas instituídas através do Estado3 como mediador que regula o acesso aos recursos pesqueiros, através de acordos de pesca, manejos, proibições de determinadas espécies e locais, sobretudo nos lagos. De maneira geral, estas ações são pautadas sob uma política de Estado específica que trata de questões pontuais sobre as formas de apropriação dos recursos pesqueiros.

Por outro lado, grande parte das áreas de livre acesso destinadas a apropriação comum possuem delimitações locais especificas, fugindo das instâncias normativas estas áreas, sobretudo ao longo do rio Solimões, está há décadas constituindo-se como territórios específicos de pescadores comerciais onde a apropriação comum dos recursos pesqueiros não considera somente o livro acesso como elemento estruturante da pesca, e sim os acordos locais entre os agentes deste processo a partir dos mecanismos de controle e acesso dos espaços nos rios e demais ambientes.

Como objetivo geral desta pesquisa pretendeu-se estudar as relações sociopolíticas instituídas e instituintes da configuração dos territórios sociais da pesca e suas formas de apropriação comum na Costa do Pesqueiro II, no município de Manacapuru (AM). Os objetivos específicos pretendiam: a) compreender a história socioeconômica e ambiental da pesca comercial e de subsistência no Baixo Solimões; b) identificar os territórios sociais da pesca comercial e de subsistência dos pescadores e, c) evidenciar as formas de apropriação dos recursos pesqueiros e suas implicações sociais.

2 “Ao estudar uma comunidade, vemo-nos diante de uma grande variedade de problemas. A questão é saber se

todos são igualmente centrais para compreendermos o que confere a um grupo de pessoas um caráter específico – o caráter de comunidade” (ELIAS e SCOTSON, 2000, P. 165).

3 “O Estado pode ser entendido como um conjunto de instituições especializadas em expressar um dado

equilíbrio e uma condensação de forças favorável a um grupo e/ou classe social. Ele assegura a unidade de qualquer sociedade dividida em interesses, particularmente de classes, mas também estamentais, pois garante o monopólio (centralizada ou descentralizadamente) do uso da força nas mãos do grupo, da classe ou do estamento” (BOCAYUVA E VEIGA, 1992).

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A pesca e os ambientes destinados à captura do pescado são entendidos não só como fonte de simbolização e significação de vida, suporte e potencial da riqueza material e espiritual dos grupos sociais locais, mas também por se converterem em fontes de matéria-prima valorizadas pelo mercado que, por sua vez, reproduz a inserção do modo de produção capitalista na Amazônia através da acumulação do capital em escala local, regional, nacional e mundial de forma desigual e combinada.

Embora sejam aparentemente homogêneo e indiviso, os rios apresentam marcas, locais e territórios definidos e defendidos pelos pescadores durante suas atividades. Reconhecer a existência dos territórios pesqueiros e identificar a estratégia de uso e defesa dos mesmos pode auxiliar na elaboração de normas para o seu manejo constituindo-se em um importante instrumento de gestão das pescarias, minimizando conflitos em áreas de livre acesso.

Para Maldonado (2000) a pesca é uma das formas sociais em que a percepção específica do meio físico é da maior relevância, não só para a ordenação dos homens nos espaços sociais como também para a organização da própria produção e para a reprodução da tradição pesqueira, tanto em termos técnicos como em termos simbólicos.

Os territórios também são flexíveis dados a sua apropriação, o que significa dizer que esta flexibilidade fornece argumentos para a (re) configuração de espaços de uso comum, como no caso dos rios. Espaços de uso comum são pensados aqui como elementos constitutivos da realidade social local quanto ao uso dos recursos de forma delimitada e socialmente controlada, através de mecanismos que garantem a gestão e manejo das áreas de pesca assim como impõem as normas e sanções estabelecidas para a regularidade das ações individuais e coletivas.

Neste sentido os rios, ou melhor, os pontos específicos de pesca, são pensados também como territórios abertos, pois se situam entre o privado e o público a partir do uso de

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seus recursos e da maneira que, não um agrupamento humano, mas diversos grupos sociais com o mesmo interesse podem estabelecer regras ou leis internas de conduta que garantem ao mesmo tempo o uso e o controle dos recursos (BEGOSSI, 2004). Contudo, em seu aspecto mais fundamental, a territorialidade humana produz um leque de expressões sociais muito amplas de tipos de territórios, cada um com suas particularidades socioculturais.

Mas como é possível pensar em territórios pesqueiros em áreas específicas como rios, por exemplo, que, diferente dos lagos e de outros ambientes mais privados, do ponto de vista de seu uso por comunidades locais, pertencem jurídicamente à União?

Os processos de territorialização comportam elementos que fogem das instâncias legais e muito menos jurídicas quando se tratam de espaços de uso comum, e que se tornam uma força latente em qualquer grupo, cuja manifestação explícita depende de contingências históricas (LITTLE, 2002).

Para os grupos sociais rurais em áreas de várzea da Amazônia brasileira, a racionalidade no uso dos recursos permeia a utilização dos espaços, territórios e lugares de vida, compreendidos através dos saberes locais. Esta dimensão conflui para a predisposição das atividades produtivas em seu mundo compartilhado, nas relações sociais e na reprodução material e simbólica dos seus meios de vida. Estes fatores, tão importantes e singulares, somente nas últimas décadas estão sendo vistos como legítimos para pensar o uso sustentável dos recursos naturais disponíveis, e assim, criar soluções alternativas e estratégicas que possibilitem modelos heterogêneos de apropriação, gestão participativa e parcimônia eqüitativa no uso dos recursos naturais.

O significado do mundo que constitui as representações dos espaços destinados ao uso dos recursos pesqueiros é tão complexo quanto sua delimitação física. A captura do pescado não é reproduzida de maneira irracional, e sim constituída de uma racionalidade onde as atividades são desenvolvidas em locais específicos. Neles a pesca é realizada através do

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conhecimento adquirido pelos pescadores quanto aos locais e espécies possíveis de captura, considerando, sobretudo as representações sobre o ambiente socialmente apropriado.

A compreensão da demarcação territorial dos conflitos pelo acesso aos recursos, no Baixo Solimões, no município de Manacapuru (AM), se relaciona com uma diversidade de elementos que, sobretudo, perpassam pela normatização do acesso à pesca e a regulamentação do Estado no exercício de manter um olhar sobre as questões ambientais no local. Entendemos que estas regulamentações mantêm relações estreitas com o projeto de intervenção política adotado para a Amazônia, no fim do século XX, e que esta relação traduz diretamente a tendência re-ordenadora do modo de produção capitalista na Amazônia no que diz respeito ao uso dos recursos pesqueiros.

O lugar delimitado para a realização dos estudos foi a localidade Costa do Pesqueiro II, no município de Manacapuru (AM) localizado na região do Rio Solimões, compreendido a partir da microrregião do Baixo Solimões. A localidade conta com aproximadamente quinze comunidades dentro de uma área maior denominada Costa do Pesqueiro, onde desenvolvem diversas atividades – agricultura, criação de pequenos animais e extrativismo vegetal e animal (principalmente a pesca). Contudo, a pesquisa realizou-se onde a pesca é desenvolvida de maneira estruturante na vida (pesca de subsistência) e, como principal complementação da renda dos moradores locais identificada como trabalho/profissão, a pesca comercial – na Comunidade Nossa Senhora das Graças da Costa do Pesqueiro II, localizada a margem direita do rio Solimões, em frente ao Município de Manacapuru.

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Figura 01 – Localização da Comunidade Nossa Senhora das Graças na Costa do Pesqueiro II. Fonte: Limite Territorial IBGE, 2007, organizado por Suzy Cristina Pedroza da Silva, 2010.

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Figura 02 – Comunidade Nossa Senhora das Graças na Costa do Pesqueiro II por imagem de satélite

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A pesquisa como atividades prática sempre depende do modus operandi de quem a executa, do arcabouço teórico e dos princípios que nortearam a visão do pesquisador, noutras palavras, a pesquisa como artesanato intelectual torna-se sempre, necessariamente, uma teoria em atos (BOURDIEU, 1989). Neste sentido, o recorte da realidade social pesquisada incide sob o direcionamento dado pelo próprio pesquisador ao ato de compreender a ação social dos homens e os significados da conduta humana da realidade pesquisada (WEBER, 1991).

A realização da investigação pretendida fora voltada para o uso de uma metodologia de pesquisa qualitativa e, com as contribuições de dados quantitativos, foram evidenciados em cada momento o desenvolvimento do estado da arte no processo da pesquisa realizada.

Além disso, a investigação implica em uma reconversão do olhar sociológico acerca da realidade investigada. Essa postura incide na precaução de pensar o lócus a ser pesquisado considerando seus aspectos endógenos e exógenos. O cuidado com os aspectos exógenos implica em que o sujeito do conhecimento deve ampliar o seu campo de investigação buscando articular o objeto da pesquisa a processos sociais mais amplos.

Para tornar exeqüível a pesquisa proposta, a participação durante certos períodos4 na localidade estudada – o que implicou utilizarmos os preceitos da pesquisa participante – fora fundamental para a constituição das representações sobre os objetivos inicialmente pretendidos.

Neste sentido, a obtenção das informações a partir do cotidiano da vida local junto aos pescadores, tornaram-se elementos fundamentais e enriquecedores da pesquisa por se constituírem não só em princípios metodológicos adotados, mas servindo como fonte critica

4 Os períodos da pesquisa de campo realizada obedeceram a um calendário baseado na configuração dos

períodos hidrológicos que demarcam a sazonalidade das águas do rio nas áreas de várzea (períodos de enchente, cheia, vazante e seca), revelando, sobretudo formas de apropriação diferenciadas quanto a realização da atividade pesqueira no local.

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de reflexão acerca da forma adotada no trato quanto ao diálogo junto aos sujeitos envolvidos na pesquisa.

A coleta de dados para a realização da pesquisa foi executada através da obtenção de informações primárias e secundárias.

Neste sentido, a constituição do estudo implicou no levantamento bibliográfico, aplicando-o, sistematicamente, à delimitação do tema proposto, bem como a identificação dos conhecimentos já existentes referentes ao estudo da localidade onde se configurou a pesquisa e o levantamento de informações sobre o tema proposto. Desta forma, permitiu-se o estabelecimento de um referencial teórico que nos ajudou a pensar a realidade investigada. Este referencial implicou num aprofundado estudo das questões pertinentes aos objetivos da pesquisa5. As leituras da bibliografia selecionada, também nos orientaram no sentido de melhor analisarmos as informações durante a obtenção de dados.

Neste sentido a pesquisa realizada contemplou o uso de entrevistas semi-estruturadas adequadas aos objetivos da pesquisa, enfatizando a percepção intersubjetiva dos agentes envolventes, tendo como objetivo resgatar dados que indicassem a relação do dia-a-dia dos trabalhadores da pesca e suas atividades, ou seja, a percepção de seu mundo vivido. Este processo culminou diretamente num resgate por meio da história oral e história de vida, através da memória social6, possibilitando-nos pensar no desenvolvimento da pesca comercial e suas atribuições no local de pesquisa. O uso de diário de campo, a partir de anotações das informações adicionais durante o acompanhamento da pesquisa em campo fora de extrema relevância.

5 Além da pesquisa bibliográfica vem sendo realizado o mapeamento e levantamento de fontes documentais,

primárias e secundárias, que possam fornecer informações sobre a região, analisando os fatos que estejam relacionados à questão pesqueira.

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A noção de memória social é de Halbwachs (1990), que define a memória como uma construção coletiva sobre o passado feita a partir das condições sociais que o grupo vivencia no presente. Ao mesmo tempo, a lembrança do passado informa o grupo sobre o seu presente, de forma que passado e presente se constroem mutuamente – são socialmente percebidos por meio de informações que um projeta sobre o outro. Na sua função de explicar o presente, a memória (que às vezes se apresenta na forma de relatos míticos) equivale à herança de uma “lente cultural” que define a visão e a interpretação que o grupo pode ter sobre os fatos que vivencia.

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Outro elemento importante trabalhado foram a elaboração de mapas mentais (ou mapas cognitivos), constituindo-se como desenhos elaborados pelos pescadores locais que procuraram evidenciar suas significações sobre a pesca, enquanto elementos fundamentais para a constituição e compreensão das representações sociais do mundo vivido, no lugar da pesquisa, assim como para compreender a espacialização e a configuração da territorialidade e suas relações sociais.

Para o desenvolvimento quantitativo das informações no decorrer da pesquisa, a obtenção de informações fora realizada através da utilização de questionários consistindo em perguntas abertas e fechadas7 envolvendo os agentes sociais diretamente relacionados com a pesquisa e as organizações locais e grupos sociais relacionados com a questão da pesca. Esta etapa da pesquisa nos conduziu, inicialmente, a uma validação dos instrumentos da coleta de dados (ao seu pré-teste), procurando identificar e corrigir os limites e/ou imperfeições dos instrumentos para melhor atender aos objetivos da pesquisa. Finalmente, a investigação, na medida em que se realizou, fora complementada com o uso de material fotográfico visando registrar/revelar os aspectos do imaginário social do cotidiano das práticas pesqueiras.

O primeiro capítulo intitulado A vida na Costa do Pesqueiro trata de analisar uma interpretação sobre a constituição dos processos sociohistóricos que culminaram no desenvolvimento particular do modo de vida comunitário na Costa do Pesqueiro a partir da comunidade Nossa Senhora das Graças, evidenciando aspectos que demarcam as dimensões sobre a apropriação social dos recursos naturais no ambiente habitado. As trajetórias de vida e as dinâmicas que incidem sobre a formação da comunidade e dos tipos de atividades desenvolvidas são evidenciadas enquanto dimensões materiais e imateriais da constituição organizacional do mundo rural amazônico.

7 Por meio das questões fechadas pretendeu-se captar os dados acerca do perfil socioeconômico dos

entrevistados, e do trabalho realizado no local. Através das questões abertas, procuramos informações que apresentassem elementos constitutivos do modo de vida local bem como das relações de trabalho entre os sujeitos envolvidos.

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Na medida em que dialogamos com estas questões – sobre a reprodução social do mundo vivido nas áreas de várzeas do rio Solimões – procuramos destacar as categorias do trabalho e do labor enquanto aspectos diferenciados e complementares ao mundo vivido, nos possibilitando evidenciar por meio do cotidiano local, as atividades desenvolvidas e sua conexão com demais dimensões da vida cotidiana. Estes elementos demonstram um pouco das representações sobre a história de vida de seus moradores, as dimensões de suas práticas socioculturais cotidianas, assim como as atividades econômicas que caracterizam a comunidade.

O segundo capítulo denominado As transformações socioeconômicas da Pesca procura compreender o desenvolvimento da atividade pesqueira na Amazônia e sua relação com as políticas de desenvolvimento econômico adotadas pelo Estado nacional ao longo de sua industrialização enquanto elementos constitutivos formação da sociedade brasileira contemporânea.

Neste capítulo procuramos dialogar com uma reflexão acerca da formação do Estado brasileiro frente as políticas de modernização da sociedade, neste sentido, evidenciando uma abordagem sobre as conseqüências sociais diante da tomada de decisão em adotar uma perspectiva de desenvolvimento econômico nacional que de fato permitiria tardiamente uma preocupação com as questões ambientais.

A intensificação da pesca comercial aparece como um destes fatores resultantes das transformações das políticas de desenvolvimento econômicos incentivadas para a Amazônia, gerando inúmeras questões, dentre as quais destacamos o surgimento dos conflitos ambientais e da sobreexploração dos recursos pesqueiros como aspectos engendrados neste processo, sobretudo, advindos da inserção comercial do modo de produção capitalista na pesca.

Assim, apresentamos uma visão de como estas ações refletiram por meio das políticas de consolidação nacional dos grandes programas de valorização (econômica) da

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Amazônia, delineando como estes elementos tencionaram de forma ampla a relação entre os grupos sociais rurais e as formas de uso dos recursos pesqueiros, as transformações socioprodutivas da atividade regulamentada da pesca, e a consolidação/evolução de uma legislação que regulamentaria o acesso aos recursos pesqueiros.

O terceiro capítulo, Trabalhadores da Pesca, discorre sobre as formas de organização da pesca comercial no rio Solimões através da comunidade Nossa Senhora das Graças na Costa do Pesqueiro, evidenciando as relações sociais de trabalho que constituem o modo de uso e apropriação dos recursos pesqueiros. Neste sentido, procuramos estabelecer um diálogo com as dimensões constitutivas da pesca comercial: a comercialização e a Renda da água proveniente do trabalho na pesca entre os moradores da Costa do Pesqueiro. Outros elementos abordados nesta seção são as formas de organização do trabalho na pesca, evidenciando os aspectos que denota a existência das parcerias entre os pescadores e o uso dos apetrechos na captura do pescado.

Consideramos que na medida em que há uma extensão do mercado consumidor e a disponibilidade de recursos pesqueiros próximos às comunidades, é possível que um maior número de sujeitos sociais passe a se dedicar à pesca comercial como principal meio de vida para além das atividades de subsistência. Neste sentido, procuramos evidenciar que, para viabilizar a produção pesqueira os sujeitos sociais tendem a se (re)organizar socialmente, sobretudo de acordo com suas forças produtivas e as relações envolventes deste processo, estes aspectos constituem as formas de controle e apropriação comum dos recursos pesqueiros em determinadas áreas, produzindo territorialidades.

No quarto capítulo intitulado Tempo, Lugar e Espaço: a constituição das territorialidades da Pesca, estabelecemos uma conexão com o exercício de pensar os territórios sociais da pesca por meio da constituição de territorialidades em ambientes socialmente apropriados pelas comunidades locais, sobretudo, enquanto veículo para

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compreender o uso dos recursos pesqueiros, as formas de apropriação comum do rio Solimões na atividades da pesca comercial e nos ambientes destinados à pesca de subsistência, como os lagos. Dentre estes aspectos, destacamos as representações dos pescadores sobre os ambientes territorializados, identificando os ambientes onde são exercida a pesca e as áreas recorrentes de conflitos pela disputa ao acesso dos recursos pesqueiros.

Desta forma, procuramos estabelecer um diálogo com referenciais que nos possibilitem dialogar sobre a constituição das territorialidades produzidas nos ambientes destinados à atividade pesqueira. Neste capitulo as inferências teóricas apresentadas buscam uma interpretação com os temas em questão, a relação entre regimes de propriedade comum e áreas de livre acesso, considerando a forma como são destacadas de maneira diferenciadas e complementares às analises pretendidas sobre as territorialidades e os espaços sociais na disputa de acordo com a dimensão do conflito pela apropriação dos recursos pesqueiros.

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CAPÍTULO 1 - A VIDA NA COSTA DO PESQUEIRO

A vida constitui o mundo material e imaterial dos homens, suas representações tornam o intangível ao alcance da fabricação do mundo artificial das coisas humanas. (ARENDT, 2000, p.11)

A vida como construção social é um processo em que os homens produzem/ reproduzem material e simbolicamente seus meios de existência (MARX, 2002), a partir das relações constituídas historicamente por circunstâncias particulares. Hannah Arendt (2000) em A condição humana, ao dialogar com Karl Marx, fará importante distinção entre o trabalho e o labor para a vida humana: o trabalho tem a ver com a construção da mundaneidade, isto é, com a edificação da durabilidade do mundo pelo homem; o labor se relaciona com os processos vitais entre os homens, começando com o nascimento e terminando com a morte numa dialética marcada por movimentos cíclicos que constituem a própria vida.

Os processos históricos e socioambientais que culminaram no desenvolvimento do modo de vida particular que marcam a constituição das comunidades rurais e demais agrupamentos humanos na Amazônia englobam dimensões complexas de apropriação social dos recursos naturais, trajetórias de vida, dimensões materiais e imateriais da constituição organizacional das comunidades, processos de territorialização, enfim, envoltos numa dinâmica característica do mundo rural amazônico.

A vida social na comunidade Nossa Senhora das Graças na Costa do Pesqueiro II não foge destas características, sua constituição organizacional enquanto comunidade, suas representações da historia de vida de seus moradores, as dimensões de suas práticas socioculturais, do cotidiano, as atividades econômicas que caracterizam a comunidade, são reflexos de um mundo vivido que nos possibilitam demonstrar o cotidiano do mundo vivido

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no lugar, sua relação com as atividades do próprio mundo do trabalho desenvolvidos no local, e sua conexão com demais dimensões da vida cotidiana.

Pensar a denominação comunidade como objeto de reflexão é tratarmos para além de uma compreensão da autodenominação afirmativa que muitas vezes os sujeitos envolvidos acabam tomando, é compreendê-la enquanto categoria sociológica de constituição das relações sociais estabelecidas no processo de construção e demarcação das fronteiras societárias, enquanto conjunto de pessoas que vivem em certa faixa de tempo e de espaço, seguindo normas comuns, e que são unidas pelo sentimento de consciência do grupo, enquanto corpo social, caracterizado pelo modo de vida baseado em normas comuns.

Apesar de o termo envolver sinônimos como “sociedade, “vizinhança”, pode ser pensado como um grupo territorial de indivíduos com relações recíprocas, que se servem de meios comuns para lograr fins comuns (FERNANDES, 1973).

Assim, os interesses comuns que constituem a formação de grupos humanos podem estar relacionados com diversos aspectos: relações familiares fundamentados no patriarcado e/ou na gerontocracia, religião, política, trabalho, a vida e posse do usos dos recursos naturais disponíveis em seu meio envolvente, desta forma se estabelecem enquanto agrupamento humano economicamente organizado (ARAÚJO, 2003).

O caráter da organização familiar se transfigura sendo a instituição-base mais importante das comunidades rurais amazônicas, neste sentido, o compartilhamento de heranças culturais manifestas nos locais são reflexos de possíveis formas de interpretações sobre as normas e valores que se condicionam a cada região ou local.

A dimensão do espaço social, da territorialidade, é um dos fatores condicionantes para a reprodução, ou seja, para a objetivação da realidade de um modo de vida, não só em seu sentido físico, por exemplo, na visão de que existe, nas comunidades rurais da Amazônia, um sentimento de pertença, nas ocasiões de comemorações públicas, nos dias dos Santos

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(WAGLEY, 1988,) aos quais as populações de determinada comunidade se referem como “nossas” as festas e comemorações em oposição aos “outros”, às pessoas que vivem “fora” da comunidade ou aqueles que não usufruem de determinados recursos compartilhados pelo que compreendem sua dinâmica e significado, e que detêm um código de conduta linguístico, simbólico, repleto de denominações locais e comportamentos.

A disputa de espaços não somente territoriais, através de demarcações não só físicas, mas também simbólicas, de determinadas comunidade, compreendem as dimensões constitutivas do modo de pensar as relações sociais que direcionam o cotidiano local e, sobretudo, que delimitam, demarcam, instituem e configuram a relação entre as comunidades, através de seus laços sociais.

Neste sentido, pensamos em Nossa Senhora das Graças como uma comunidade, para além da autodenominação de seus sujeitos, como sendo dotada pelas singularidades que caracterizam os grupos sociais rurais da região amazônica, onde a vida exerce uma complexidade que não envolve só o homem, e sim o homem e o espaço de vida que se define como território e como lugar de exercício de suas ações como ser político.

1.1 História socioambiental da comunidade Nossa Senhora das Graças

O processo histórico de ocupação das áreas de várzea da região amazônica possibilitou, ao longo de séculos, uma heterogeneidade de modos de vida. O ambiente e as populações humanas se reconfiguram em um processo diversificado que combina inúmeros elementos do espaço e da diversidade da cultura humana. A formação histórica dos grupos sociais rurais da região são frutos do encontro de culturas seja de populações locais, ameríndias, seja do colonialismo europeu em um dado momento, seja da recente presença nordestina do período econômico da borracha. Estes últimos caracterizam veementemente o modo de vida da várzea, sobretudo nos aspectos condizentes às atividades do trabalho (na implementação de técnicas de cultivo, pesca, etc.), nas crenças, no forte sentimento de

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religiosidade, os costumes alimentares e como afirma Diegues (2002) em “uma grande dependência dos recursos naturais, acabando por se obter um profundo conhecimento dos ciclos biológicos e dos recursos naturais, tecnologias patrimoniais, simbologias, mitos e uma linguagem específica, com sotaques e inúmeras palavras de origem ameríndia, constituindo-se como populações de determinados conhecimentos específicos, e por assim dizer, tradicionais”, o que constrói o próprio processo de sociabilidade das relações sociais no desenvolvimento e constituição das comunidades.

Quando se trata do rio Solimões, a influência na ocupação de suas margens por grupos sociais não indígenas está ligada em um momento mais recente, diretamente aos ciclos econômicos da região, à borracha, à juta e malva, que marcam ao mesmo tempo a falência das políticas de desenvolvimento adotadas para a região, a expansão da fronteira colonizadora por grupos sociais de diferentes áreas do país, sobretudo nordestinos; o deslocamento e a ocupação humana mal planejada na região, que fizeram das várzeas dos rios, último reduto das estratégias de subsistência por meio de sua posse, em busca de melhores condições de vida pelas oportunidades que as atividades do trabalho rural e uso dos recursos disponíveis apresentavam de antemão.

A localidade denominada Costa do Pesqueiro II possui uma historicidade que remonta até antes a própria formação da comunidade evidenciada, haja vista que Nossa Senhora das Graças está situada numa área bastante conhecida onde o desenvolvimento das atividades pesqueiras possui importância considerável para o município de Manacapuru e para a região, onde é possível pensar que a denominação da localidade está ligada ao período colonial quando o exercício das atividades pesqueiras estava ligado à criação dos chamados pesqueiros reais, que visavam abastecer um mercado específico.

A Costa do Pesqueiro, onde está situada a comunidade estudada, possui uma história de ocupação muito antiga, antes mesmo da formação da comunidade Nossa

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Senhora das graças que, de acordo com relatos obtidos em campo, passaram a ocupar o lugar de forma a se organizarem em famílias advindas de diversas partes da região, em geral, o perfil das famílias mais antigas é marcado por história de vida de pessoas que trabalhavam para os patrões da borracha nos seringais do alto rio Juruá no início da década de 60.

As condições de vida relatadas pelos entrevistados indicam a dificuldade de sobreviver em função de relações de trabalho marcadas pela exploração do freguês pelo patrão, pela intensificação da jornada de trabalho semiescrava e pela relação de poder que por hora instituía uma violência física e simbólica, demarcando os campos do autoritarismo nos seringais.

[...] A vida no [rio] Juruá era muito boa também, só era ruim porque as pessoas eram sujeitas aos patrões. A pessoa andava na mata, meu marido saía [...] uma hora da madrugada, pra cortar seringa, pra chegar quatro horas da tarde, sem vim em casa, levava a boia dele, água, tudo. Aí quando chegava ia defumar aquela borracha, coitado do freguês que vendesse menos de um quilo pro patrão! Lá era uma fartura que a gente não comia quando era mês de julho tinha íaçá; mês de agosto, tracajá; mês de setembro, tartaruga. Era uma fartura imensa no (rio) Juruá, muito bom, mas resultado é que a gente não tinha nada. Era tudo do patrão. Aquilo ali se tu fosse se mudar, tinha que deixar a casa. Aquilo ali já era pra outro que o patrão colocar. O patrão não deixava vender, ficava pra outro que o patrão fosse colocar. A pessoa era subjugada [...] (C. P., 72 anos, moradora a 40 anos da Comunidade Nossa Senhora das Graças).

As relações pessoais, as condições de ocupação e de trabalho foram se desenvolvendo a partir da busca por um pedaço de terra para morar; neste sentido, a noção de possuir terras significava ter as condições de reprodução da vida, de consolidar-se, como no caso das primeiras famílias que detinham grande parte de propriedades ao longo do Solimões, revelando os modelos mais recentes de uso e ocupação do solo nestes locais:

[...] Aqui não, a gente tem o que é da gente, se quiser vender vende, se quiser dar dá. Nós comprava e vendia aí na vila, tinha uma casa que comprava, ninguém tinha patrão. Patrão assim, porque a gente compra uma mercadoria, e para muitos o dinheiro não dava pra pagar tudo. A gente comprava no fiadinho. A gente considerava patrão né? Porque quando eu cheguei aqui eu

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já trazia quatro filhos. Eu tinha uns trinta e tal anos, a gente trabalhava arrendado logo quando chegamos, porque ninguém tinha com que comprar uma terra pra ser da gente. A gente pagava pro dono parte da terra que nós tinha [...] Quem arrendava era o compadre Zé Barroso, da família Barroso. Quando nós chegamos aqui eles já tavam. Isso aqui tudo era deles, esse terreno que eu moro, centos e tantos metros que ele me vendeu aí, do marido da comadre Dadá, esse aqui extremado comigo também era dos Barroso, eles tinham muita terra. Por que foram os primeiro morador né. Tinha também os Carneiro, que era a família do Zé Carneiro, o velho Raimundo Carneiro, ele é antigo aqui, quando nós chegamos aqui ele era antigo (C.P, 72 anos, moradora a 40 anos da Comunidade Nossa Senhora das Graças).

O processo de ocupação dos grupos sociais nordestinos na região amazônica caracterizou não só o ciclo histórico de ocupação dos soldados da borracha, mas também implementou, dentro da diversidade cultural da região, características singulares que podem ser evidenciadas na linguagem, nos processos de trabalho, nas crenças religiosas, enfim, no mundo do homem amazônida. Devido à vida difícil em função da estiagem que assolava o nordeste do país, fazendo com que famílias e indivíduos em geral migrassem para esta região em busca de melhores condições de vida e de trabalho, tornando o processo de ocupação da área atual uma realidade.

[...] A gente não veio numa embarcação a motor, lancha, nem coisa nenhuma, viemos a remo num batelão coberto de palha, baixando do rio Juruá até aqui. Os primeiros moradores foram: Francisco Chagas de Mendonça, Flávio Gomes da Silveira, Valdir Mendonça de Souza, Raimundo Nonato Mendonça, Raimundo Cardoso de Lima, Raimundo Nicolau da Rocha, Otávio Gomes da Silveira e Edmar Mendonça da Silveira. Essas pessoas tinham uma grande relação de parentesco. A gente veio do Alto Rio Juruá quase juntos, e mesmo assim quando chegamos aqui por ironia do destino a gente veio morar no mesmo local, na mesma área, era tio e primo, mas tinha pessoas estranhas, que não eram da família, mas eram amigos de infância lá dos seringais. Nós viemos de um lugar muito escondido na mata, quando chegamos aqui encontramos um lugar meio arejado, meio limpo, mas só que desenvolvimento era o que nem de lá, as mesmas posturas... Só que aqui a gente podia evoluir mais um pouco, porque aqui já teve escola, né, aqui já teve um patrão, que você ia buscar coisa lá, não era aquele patrão que nem de lá que quando, uma senhora tirava o saldo e o patrão percebia, ele lhe cacetava. Isso não é história de trancoso, isso é história verdadeira. O patrão mandava matar o camarada que tirou aquele saldo. (S. M., 50 anos, agricultor, morador da Comunidade Nossa Senhora das Graças).

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Na comunidade pesquisada, as famílias nucleares são mais numerosas, devido ao fato de a maioria dos filhos, após o casamento, passarem a viver em nova residência, construindo assim, uma nova família e proporcionando o aumento no número de residências na comunidade (Figuras 03 e 04).

A propriedade familiar é sucessivamente subdividida no processo de herança entre herdeiros que são geralmente os filhos, de modo que cada pedaço de terra se torna pequeno demais para cada núcleo familiar (WOLF, 1970). As famílias extensas atuam organizadas e de forma cooperada nas unidades produtivas, na divisão do trabalho e na concentração dos recursos.

Figura 03 - Percentual de entrevistados que possuem filhos na comunidade Nossa Senhora das Graças

Fonte: Dados obtidos em pesquisa de pesquisa, 2009.

Figura 04 - Percentual de entrevistados quanto à Situação do estado civil.

Fonte: Dados obtidos em pesquisa de pesquisa, 2009.

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Figura 05 – Ocorrência dos tipos de família nuclear e extensa na Comunidade Nossa Senhora das Graças.

Fonte: Dados obtidos em pesquisa de campo, 2008.

Figura 06 – Média de pessoas por família na Comunidade Nossa Senhora das Graças. Fonte: Dados obtidos em pesquisa de campo, 2008.

As unidades de produção se estruturam da seguinte forma: algumas concentram várias famílias nucleares em uma mesma residência, outras concentram estes núcleos familiares em uma mesma área com as casas próximas umas das outras, com a casa dos pais geralmente no meio das dos filhos (FRAXE, 2000). Na maioria das comunidades, geralmente são os filhos homens que trazem as esposas para morarem juntos aos pais.

Nós viemos do Juruá, município de Carauari. Tem muita gente que veio do Juruá, tem, pelo menos meu pai, minha mãe, meus irmãos, tudo viemos do Juruá. O pai do compadre Sabá, era do Juruá. Porque ele já faleceu, só tem a velha, a velha, mãe dele. Viemos por informação, porque meu compadre Chagas Mendonça, pai do compadre Sabá, ele veio por intermédio da família dele por aqui, ele veio e trouxe a minha nora. Era casada com meu irmão que mora em Manaus, compadre Antônio, ela veio achou muito bom pra cá e escreveu, por que nesse tempo não tinha telefone, não havia celular, só negócio de rádio, aí ela foi, escreveu e disse que nos preparássemos, papai, mais mamãe, que ela ia buscar, que aqui era muito bom pra morar, era em frente a cidade, no que a pessoa quisesse comprar, tinha onde comprar. Quando eu cheguei aqui essa cidade (Manacapuru) tinha poucas casas, só era caminhos, como diz ramal, era poucas casas, a casa maior que tinha era do finado Zeca Ventura, que ensinava um remedinho pra gente, consultava, mas esse já morreu. Aí nos viemos, em nossa canoa grande, batelão, vendemos umas coisas, aí o papai mais o compadre Manel, vieram no batelão no reboque do Batistinha, nesse tempo era um motor grande, então

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