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Uma mulher metodista pregadora em 1775: capaz de mobilizar uma cidade inteira, mas esquecida

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Academic year: 2021

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Uma “mulher metodista pregadora”

em 1775: capaz de mobilizar uma

cidade inteira, mas – esquecida

A “woman Methodist preacher” in 1775: capable

of mobilizing an entire city, but – forgotten

Una “predicadora metodista” en 1775: capaz

de movilizar a toda una ciudad, pero – olvidada

Helmut Renders

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A tarefa contínua de valorizar o ministério feminino, pastoral e leigo

A história do papel da mulher no movimento metodista passou por três grandes fases: no século 18, acompanhamos a conquista do reconhe-cimento das suas atuações vanguardistas. Depois, no século 19, somos confrontados pelo seu progressivo silencionamento nas igrejas metodistas majoritárias, a Igreja Metodista Wesleyana da Inglaterra e a Igreja Me-todista Episcopal nos Estados Unidos e, a partir do início do século 20, acontece uma reavaliação do seu papel fundamental e finalmente seu reconhecimento pleno enquanto o ministério pastoral feminino na década de 1930 do século passado.

Até 1930 a história do papel da mulher no metodismo brasileiro acompanha estas tendências. Assim, a Igreja Metodista Episcopal che-gou ao Brasil sem a bandeira da pastora metodista, mas, por outro lado, com o modelo da professora metodista, inclusive, no papel da liderança como diretoras de instituições de educação. Assim, já nas discussões que levaram à autonomia em 1930 e a consequente criação da Igreja Metodista do Brasil, ou seja, quando se formulava e discutia as caracte-rísticas da igreja nacional, o tema esteve presente e foi até a votação. O que na época não ganhou a maioria necessária, passou pela criação de uma escola de diaconisas na década de 1950 e tornou-se realidade uma geração depois em 1970.

Entretanto, apesar desses avanços, houve paralelamente movimentos de silencionamento da importância da mulher metodista (RIBEIRO, 2009), ou seja, apesar do fato da existência do ministério pastoral feminino na Igreja Metodista desde 1970, precisa-se continuamente lembrar-se da sua história1, explicar suas bases bíblico-teológicas2 e refletir sobre as suas

contribuições pastorais3.

Isso é por que as igrejas majoritárias brasileiras, como a Igreja Ca-tólica, uma boa parte das igrejas da missão como as comunidades batis-tas e a maioria das igrejas presbiterianas, inclusive as igrejas clássicas pentecostais como a Igreja Assembleia de Deus, não institucionalizaram o ministério pastoral feminino pleno. Para os metodistas isso deveria servir como uma alerta e, consequentemente, ser assumido como sua vocação contínua: o que não passa pela matriz religiosa do país, ou seja, o que não é ancorado na cultura precisa ser assunto contínuo do discipulado, da catequese e da educação cristã para se instalar (no caso de novos 1 Perspectivas históricas veja Reily (1989; 2ª edição 1997), Mesquita (2001; 2002, p.

99-105), Soares (2005, p. 35-50), Silva (2008, p. 25-37) e Ribeiro (2009).

2 Perspectivas teológicas veja Perreira (2003, p. 188-200), Boelher (2008, p. 107-122) e

Renders (2010b, p. 91-106; 2011, p. 100-115).

3 Perspectivas pastorais veja Coutinho (2005, p. 137-150), Paula (2005, p. 121-136);

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membros, especialmente aqueles recebidos por assunção de votos) e permanecer com convicção e firmeza.

O problema das fontes enquanto à participação da mulher metodista nas obras do próprio Wesley

Há uma linha de pesquisa metodista que destaca o caráter “progres-sivo” de John Wesley enquanto à participação da mulher metodista no movimento. Mais correto seria dizer: Wesley apreendeu com as mulheres: enquanto os homens leigos conquistaram seu espaço no movimento já na década de 1740 do século 18, as mulheres precisavam esperar até a década de 1770 (do século 18)4. Em seguida documentamos o impacto

dessa decisão e – o silêncio de Wesley... Trata-se de uma notícia de uma mulher metodista pregadora do ano 1775, numa revista não religiosa inglesa chamada Gentleman’s Magazine:

Como tradução propomos: “Uma mulher pregadora, que acompanhou o sr. John Wesley a Plymouth, foi até a [praça da] Parada, e juntou a maior multidão de pessoas já vista lá. A novidade de uma pregadora-metodista [woman-Methodist-preacher] tinha atraído a metade [da população] de Plymouth para escutá-la”. Quem procura comentário qualquer nas obras de John Wesley sobre esta ocasião, especialmente na suas cartas ou no seu diário, vai se descepcionar. Wesley documenta ter pregado no respectivo dia duas vezes em Plymouth (WESLEY, [08/09/1775 Diário], 1983, p. 465)5, mas não menciona a certamente memorável cena – que

acabou ser tão inesquecível no imaginário inglês que foi capaz de fazer seu caminho até nas crônicas da Inglaterra (!) - , nem o fato de ter sido 4 Isso se repetiu no metodismo brasileiro no século 20.

5 Eu agradeço Dr. Randy Maddox pela ajuda na a identificação da data no diário.

* Agradecemos pelo direito de reprodução a Bridwell Library da Perkins School of Theol-ogy, Southern Methodist University, Dallas, Texas, EUA.

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acompanhado por uma pregadora metodista neste dia. Isso surpreende, por que naquela época ele já tinha defendido publicamente o ministério pastoral feminino, visto por ele como extraordinário enquanto aos cos-tumes anglicanos, mas, tão característico para os metodistas como o ministério “extraordinário” da pregação leiga por homens. Assim afirma numa carta para Mary Bosanquet, primeira pregadora metodista aceita oficialmente por Wesley:

Creio que a força da causa repousa aí – no fato de teres um chamado extra-ordinário. Estou convencido de que o tem cada um dos nossos pregadores leigos; de outro modo não poderia aprovar sua pregação de modo algum. É claro para mim que toda a obra de Deus chamada metodismo é uma dis-pensação extraordinária da sua providência. Portanto, não me admiro que diversas coisas aconteçam aí que não se encaixam nas regras habituais de disciplina... (WESLEY, 1960, vol. 5 [13/071771], p. 257).

Há certa probabilidade que a pregadora que virou assunto nacional era a própria Mary Bosanquet, mas, infelizmente, não sabemos disso...

E nós hoje? Reparei-me num encontro de mulheres da 6ª Região Eclesiástica que precisamos de exercícios contra o esquecimento. Nesta ocasião, mulheres contaram as histórias de mulheres importantes para as suas vidas. Demorou até às 2h da madrugada... Tantas histórias, cheias de vida, de drama, de atitude... tanto impacto... Com certeza há também hoje em dia muitas histórias memóraveis de mulheres metodistas atuando nas igrejas locais, em ministérios distritiais, regionais e nacionais, na igreja e na vida pública, lembradas somente pelas pessoas que as diretamente testemunharam. Estas testemunhas desaparecem em nossa memória, da mesma forma como o impacto deixado pela mulher metodista pregadora no dia 9 de setembro de 1775. Mas, não precisamos do seu exemplo de fé, amor, esperança, discernimento, coragem e liderança para orientar as futuras gerações?

Referências bibliográficas

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MESQUITA, Z. C. C. (Org.). Evangelizar e civilizar: cartas de Martha Watts,

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Referências

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