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Palavras-chave: invalidez permanente, previdência, morbidade.

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Entradas em aposentadoria por invalidez segundo causas de morbidade:

uma aplicação do método Grade of Membership (GoM)

aos dados da Previdência Social do Brasil, 2002



Palavras-chave: invalidez permanente, previdência, morbidade.

Resumo

O estudo das causas de invalidez é importante para o desenvolvimento de políticas públicas e para as projeções dos gastos futuros com invalidez. Diante da importância desses estudos para o sistema previdenciário, este artigo tem como objetivo traçar o perfil das causas de morbidade que deram origem às aposentadorias por invalidez previdenciárias no Regime Geral de Previdência Social (RGPS) no ano de 2002. Para tanto foi utilizado o método Grade

of Membership (GoM), que possibilitou também encontrar as taxas de prevalência desses

perfis na população. Foram obtidos dois perfis extremos. O Perfil Extremo 1 se caracteriza por empregados mais jovens e aqueles cuja idade se aproxima da idade mínina exigida para aposentadoria por idade. As principais causas de invalidez nesse perfil foram as doenças infecciosas e parasitárias, doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas, doenças do sistema nervoso, doenças do aparelho respiratório, doenças do aparelho geniturinário e outras causas. O Perfil Extremo 2 tem a prevalência de mulheres com mais de 65 anos de idade. As principais causas de invalidez desse grupo foram as neoplasias, os transtornos mentais e comportamentais, as doenças do olho e lesões, e os envenenamentos. Estes perfis podem possibilitar um melhor direcionamento de políticas públicas que tem como objetivo evitar a invalidez precoce dos trabalhadores, como por exemplo, a promoção da saúde do trabalhador.

Trabalho apresentado no XIX Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Águas de São Pedro/SP – Brasil, de 24 a 28 de novembro de 2014.

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Entradas em aposentadoria por invalidez segundo causas de morbidade:

uma aplicação do método Grade of Membership (GoM)

aos dados da Previdência Social do Brasil, 2002



Introdução

Nos últimos anos, a Previdência Social brasileira, estruturada no regime financeiro de Repartição Simples, se tornou o centro de discussões acadêmicas e de gestores de políticas previdenciárias. Isso se deveu, principalmente, ao rápido processo de envelhecimento populacional observado no país, que vêm pressionando o atual sistema previdenciário, que precisa ser revisto e passar por reformas que visem manter aos futuros segurados, as mesmas condições dos segurados que se aposentaram no passado (RICARDO-CAMPBELL,1986). Atrelado ao processo de envelhecimento populacional, o sistema vivencia um aumento do fluxo de benefícios concedidos, levando a um declínio da razão contribuintes/beneficiários, e consequentemente, a ineficiência do sistema (AEPS, 2012,Brito, 2007).

Dentre as aposentadorias concedidas pelo Regime Geral de Previdência Social (RGPS), no ano de 2012, 27% foram por tempo de contribuição, 56,4% por idade e 16,6% por invalidez (AEPS, 2012). As aposentadorias programadas representam o maior volume de concessões, no entanto, as aposentadorias por invalidez, mesmo representando um menor percentual, podem ser evitáveis se bem estudadas podendo contribuir positivamente para a saúde financeira do sistema. Portanto, diante da carência de estudos voltados para a aposentadoria por invalidez, e da importância desse segmento para a previdência social, esse estudo tem como objetivo estudar as causas de invalidez, buscando contribuir para a formulação de políticas públicas que visam reduzir o número de concessão desse benefício.

No Brasil, todos os trabalhadores segurados da previdência social estão cobertos contra a perda de renda devido à invalidez, definida como a incapacidade do segurado para o trabalho, resultante de doença ou lesão, e insuscetível de reabilitação para o exercício da atividade que lhe garanta a subsistência (BRASIL, 1999). O número de benefícios de aposentadoria por invalidez, concedido pela Previdência Social brasileira, tem se mantido em níveis elevados nos últimos anos (AEPS, 2012). Segundo dados históricos do Anuário Estatístico da Previdência Social (2012), do total de aposentadorias concedidas pelo RGPS, em torno de 17% se deveram a aposentadoria por invalidez nos anos de 2010, 2011 e 2012. Entre 1990 e 

Trabalho apresentado no XIX Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Águas de São Pedro/SP – Brasil, de 24 a 28 de novembro de 2014.

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1995, observou-se um acréscimo de 0,7% nas entradas em invalidez permanente. No período seguinte (1995-2000), esse incremento foi de 5,6% e, entre 2000-2005, correspondeu a 11,6%. Esses aumentos se refletem também nas despesas do sistema previdenciário com o referido benefício. De 2000 a 2005, por exemplo, a despesa média do RGPS com aposentadorias por invalidez quase triplicou quando comparada à do período anterior (1995-2000).

Diante do significativo volume de aposentadorias por invalidez concedidas pelo RGPS, e para que o sistema possa estabelecer uma fonte de custeio para esses benefícios é necessário um conhecimento detalhado dos fluxos dessas aposentadorias. Para o cálculo desses fluxos são utilizadas as probabilidades de transição implícitas nas tábuas de entrada em aposentadoria por invalidez, que contém a probabilidade de um segurado ativo entrar em invalidez permanente. No entanto, vale ressaltar que o Brasil é um país carente de estudos sobre invalidez e, na maioria das vezes, utiliza tábuas que refletem experiências demográficas que não correspondem a realidade dos segurados. Além dos problemas enfrentados na mensuração dos fluxos das aposentadorias por invalidez, a concessão desses benefícios gera um custo elevado para o sistema previdenciário, uma vez que pessoas em idade ativa deixam de contribuir e passam a receber um benefício.

Os principais desafios comumente enfrentados pelos programas de invalidez são: aumento do número de benefícios concedidos por invalidez, redução da idade média de obtenção de benefícios por invalidez, baixo número de beneficiários que conseguem se reintegrar ao trabalho, ampliação do período de pagamento dos benefícios e evolução das incapacidades reconhecidas. É interessante considerar políticas públicas voltadas para a reabilitação dos incapacitados e para a readaptação desses em outras atividades condizentes com as suas limitações ou identificar pessoas com incapacidades que podem trabalhar parcialmente. É fundamental que se implantem reformas que tem como objetivo: garantir a sustentabilidade financeira do programa, garantir benefícios adequados para pessoas com algum tipo de incapacidade para o trabalho, e facilitar a integração dos indivíduos com incapacidade (Informe Previdência Social, 2006).

Para a formulação de políticas públicas que tem como objetivo reduzir os benefícios de invalidez é fundamental conhecer a distribuição das entradas desses benefícios segundo as causas de morbidade. De acordo com Gomes et al. (2010), no período entre 1999 e 2002 as doenças do aparelho circulatório, as doenças osteomusculares e as mentais foram as principais causas de concessão de aposentadoria por invalidez, representando 29,2%, 19,5% e 12,4% respectivamente. Os autores observaram também que com o avançar da idade, diminui a participação das lesões e das doenças mentais, ao passo que aumenta a participação das doenças do aparelho circulatório e osteomusculares, principalmente entre as mulheres. Em relação às taxas de entrada em invalidez, Gomes et al. (2010) observaram que entre os homens, essas taxas aumentam intensamente até os 65 anos e decrescem depois dessa idade. No caso das mulheres, o estudo observou um contínuo aumento com o avançar da idade. Uma provável justificativa para o aumento dessas taxas, tanto para homens quanto para mulheres, se deve ao fato de que, com o aumento da idade as condições de saúde física tendem a deteriorar-se, gerando o aumento de outras causas de invalidez Ribeiro (2006). Com o objetivo de entender e conhecer melhor o fluxo de benefícios das aposentadorias por invalidez, Gomes et al. (2010) construiu tabelas de vida de múltiplo decremento contendo as probabilidades de um segurado ativo do RGPS se tornar inválido permanente por causa de morbidade. Essas tabelas permitem estudar os efeitos de cada causa de invalidez, separadas ou juntas, e o efeito resultante no padrão geral de aposentadoria. Os autores observaram que

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as causas de invalidez mudam com a idade. Doenças mentais e do sistema nervoso tendem a diminuir com a idade, ao passo que, doenças circulatórias e osteomusculares aumentam com a idade. Constatou-se também nesse estudo que, para ambos os sexos, o risco de aposentar por invalidez é maior para doenças circulatórias e osteomusculares. Além disso, a probabilidade de entrada em aposentadoria em invalidez devido às neoplasias é maior entre as mulheres, já a probabilidade de invalidar por doenças mentais é maior entre jovens adultos do sexo masculino.

Tendo em vista a importância que os estudos sobre causas de invalidez têm para o sistema previdenciário, especialmente para a formulação de políticas públicas que tenham como objetivo a promoção da saúde do trabalhador, este artigo tem como objetivo traçar o perfil das causas de morbidade que deram origem às aposentadorias por invalidez previdenciárias no Regime Geral de Previdência Social (RGPS) no ano de 2002. Para tanto, utiliza-se o método Grade of Membership (GoM), que possibilitou também encontrar a prevalência desses perfis na população.

Dados

A base de dados utilizada neste artigo corresponde aos benefícios previdenciários de aposentadoria por invalidez do Regime Geral de Previdência Social – RGPS – cuja data de início do benefício é 2002, por causa de morbidade que originou o benefício, sexo, idade e filiação. Foram utilizados os registros administrativos da Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social – DATAPREV – na forma de microdados cedidos pelo Ministério da Previdência Social - MPS – por meio de convênio com o Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional – Cedeplar – da UFMG.

Para atingir o objetivo proposto neste estudo foram utilizadas quatro variáveis referentes aos aposentados por invalidez: sexo, filiação, idade e causa de invalidez. A forma de filiação do beneficiário de aposentadoria por invalidez no RGPS refere-se à condição de filiação do segurado no momento em que este passa a ter direito ao recebimento do benefício de aposentadoria por invalidez. Essa variável foi dividida em duas categorias: “empregados”, que incluem empregados, trabalhador avulso e optante pela lei 6184/74; e “outros contribuintes”, composto por empresários, empregado doméstico, facultativo, autônomo, equiparado a autônomo e desempregado. Os segurados especiais não foram considerados neste estudo, pois a contribuição desses é sobre a receita bruta da comercialização da produção rural e, portanto, são subenumerados nas informações sobre o número de contribuintes.

As causas de invalidez que originaram o benefício foram categorizadas com base nos capítulos da 10ª revisão da Classificação Internacional de Doença (CID 10), enumeradas na Tabela 1 do anexo. As causas de invalidez classificadas nos capítulos XV, XVI e XX foram realocadas na categoria “sem informação”, pois casos de concessão de aposentadorias por invalidez segundo essas causas não eram esperadas. Os capítulos III, VIII, XI, XII, XVII, XVIII e XXI (classificados na Tabela 1 do anexo I), por apresentarem poucos casos com relação ao total, foram agrupados na categoria “outras causas”. A classificação final utilizada neste estudo está na Tabela 2 no anexo I.

A variável idade foi categorizada em cinco grupos: até 34 anos, 35 a 59 anos, 60 a 64 anos, 65 a 69 anos e 70 anos ou mais. A categorização da variável idade foi baseada na dinâmica da concessão dos benefícios do sistema previdenciário. Por exemplo, até os 34 anos seriam os adultos jovens mais propensos a se aposentarem por invalidez ou receber auxílio-doença. De

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35 a 59 anos muitos segurados estariam elegíveis a aposentadoria por tempo de contribuição. Já o cumprimento da carência por aposentadoria por idade se encontraria entre mulheres de 60 a 64 anos e homens entre 65 e 69 anos. E finalmente, acima dos 70 anos, observam-se poucos casos de aposentadoria por invalidez.

Metodologia

Para construir os perfis das causas de morbidade que levaram o indivíduo a invalidez, utilizou-se o método Grade of Membership (GOM), que se baseia na lógica de partição difusa. Na partição difusa, há conjuntos fechados e bem definidos, chamados perfis extremos, contudo os indivíduos podem pertencer a mais de um conjunto em graus variados, ou seja, é permitida uma pertinência difusa. Essa pertinência é representada pelo gik, que mede a intensidade de pertencimento do iésimo elemento ao késimo conjunto, que varia de 0 a 1, sendo que a soma dos gik totaliza 1 para cada indivíduo.

Para Assis et al. (2008), os perfis extremos são gerados a partir da freqüência esperada das respostas para indivíduos tipos puros de cada perfil, sendo os tipos puros, aqueles que manifestam o maior grau de pertencimento a este perfil, ao comparar aos demais. Ou seja, os perfis são definidos pela não associação entre as categorias das variáveis internas, gerando dois ou mais perfis e a proximidade de cada observação a um perfil extremo “é medida por meio da comparação das possíveis combinações de respostas nas categorias l do indivíduo com o conjunto de respostas configuradas no perfil extremo” (Sawyer et. al, 2002, p. 759). Dessa forma, os perfis extremos são caracterizados por um conjunto de probabilidades (

kjl  ) de que haja um indivíduo tipo puro com pertinência total ao perfil k, dada a resposta l à variável j. Os demais indivíduos se distanciam do perfil à medida que o grau de pertencimento ao perfil diminui. Os elementos eqüidistantes aos perfis extremos não possuem características que os aproximam dos perfis gerados. Quanto mais variáveis internas ao modelo, mais bem definido fica o conjunto, já que os graus de pertinência dos indivíduos constituem um conjunto nebuloso. O método estima seus parâmetros com base no princípio da máxima verossimilhança através de processos iterativos e dessa forma quanto menor o tamanho da amostra, menor o seu tempo de convergência.

Segundo Guedes et. al (2010), deve-se considerar cinco pressupostos para a estimação dos parâmetros. Primeiramente, as respostas l dos diferentes indivíduos, à questão j são independentes. Se o grau de pertencimento é conhecido, as respostas do indivíduo i para as várias questões são independentes para as categorias de cada variável. A probabilidade de resposta l para a jésima questão, para um indivíduo do késimo perfil deve ser maior ou igual a zero e a soma dessas probabilidades para cada k e j deve ser 1. A probabilidade de resposta l para a jésima questão pelo elemento i, condicionada ao seu escore de grau de pertencimento gik será dada por

1 ( 1) 1 k ik kjl k ijl P Y g    

 . Considerando esses pressupostos,

o modelo de máxima verossimilhança pode ser escrito como

1 1 1 1 ( ) yijl l J L k ik kjl k i j l L y g        



.

Esses parâmetros foram estimados através do programa GoM 3.4, executável em ambiente DOS,

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Conforme dito anteriormente, o método estima seus parâmetros através de processos iterativos que tem início com um conjunto de

kjl

 , que nesse estudo foram gerados aleatoriamente pelo programa. O processo iterativo é necessário para que haja convergência a um valor final (Manton et al, 1994). No caso do GoM, o melhor procedimento para atingir esta solução única é analisar o comportamento de convergência do algoritmo por meio de uma série de análises prévias, nas quais os pontos de partida

kjl

 (aleatórios) sejam continuamente alterados (Caetano et al, 2009). Neste estudo foram geradas 30 modelos aleatórios com o número ótimo de perfis encontrado. Assim, foi possível identificar o conjunto de

kjl

 iniciais mais consistentes, que foram usados para gerar novos parâmetros. O número ótimo de perfis extremos do modelo foi definido através do Critério de Informação de Akaike (AIC), escolhendo-se o modelo com menor valor da estatística AIC. O AIC pode ser obtido a partir do valor da verossimilhança, L, e do número de parâmetros estimados do modelo, p, através da seguinte relação: AICk 2p2ln( )L . A Razão E/O vai estabelecer um critério para a descrição dos perfis gerados em função das características predominantes. Após a identificação dos perfis é interessante calcular a prevalência das características dos perfis extremos na população em análise. Essa prevalência corresponde à proporção da população que apresenta algum grau de pertinência ao perfil e pode ser calculada da seguinte

forma: 1 1 l ik i k l i g P i   

, sendo k= 1. 2. ...K. (Guedes et. al, 2010).

Resultados

De acordo com o Critério de Informação de Akaike (AIC), encontrou-se que dois é o número ótimo de perfis extremos. O modelo com dois perfis apresentou o menor AIC, e, portanto, é o modelo que consegue melhor captar a heterogeneidade presente nos dados. Utilizou-se a razão kjl / Frequência Marginal Observada (E O/ ) como critério para descrição dos perfis gerados em função de suas categorias predominantes. Considerou-se que uma categoria l, de uma variável j, seria característica de um perfil k, se a razão E O/ fosse igual ou maior que 1,20 (Sawyer, Leite & Garcia 2002). Acredita-se que o valor de corte de 20% consiga captar bem as características dominantes dos perfis extremos de aposentados por invalidez.

De acordo com a Tabela 1, os aposentados por invalidez com pertencimento total ao Perfil Extremo 1 são empregados (E O/ 1,30) e se encontram nos grupos etários mais jovens até 34 anos, (E O/ 3,62) e próximos da idade mínima exigida pelo sistema previdenciário para aposentaria por idade, entre 60 e 64 anos (E O/ 2,63). Os principais grupos de causas de invalidez que atingem esse perfil são: doenças infecciosas e parasitárias (E O/ 2,86); doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (E O/ 5,19); doenças do sistema nervoso (E O/ 2,33); doenças do aparelho respiratório (E O/ 5,33); doenças do aparelho geniturinário (E O/ 5,45) e outras causas (E O/ 4,64). A média ponderada dos graus de pertencimento do Perfil Extremo 1 foi de 0,51, ou seja, a taxa de prevalência desse perfil entre todos os aposentados por invalidez previdenciária, em 2002, pelo RGPS, é de 51%.

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Os aposentados por invalidez com pertinência total ao Perfil Extremo 2, têm, predominantemente, as seguintes características: mulheres (E O/ 1,22), pertencentes aos grupos etários mais elevados, 65 a 69 anos (E O/ 4,28) e 70 anos e mais (E O/ 6,97). As causas de morbidade que caracterizam esse perfil são: as neoplasias (E O/ 2,61), os transtornos mentais e comportamentais (E O/ 1,46), as doenças do olho e anexos (E O/ 3,30); e as lesões, envenenamentos e algumas outras conseqüências de causas externas (E O/ 1,96). A taxa de prevalência do Perfil Extremo 2 na população em análise é de 49%.

Tabela 1- Frequência absoluta e marginal, probabilidades estimadas de ocorrência das categorias das variáveis para cada perfil de aposentados por invalidez pelo RGPS, em 2002, e as razões (E/O)

Fonte: MPS/DATAPREV

As características do Perfil Extremo 2, estão de acordo com a literatura e confirmam que as mulheres são as que mais se beneficiam dos benefícios de aposentadoria por invalidez, especialmente após os 65 anos. Segundo Gomes (2008), a probabilidade de entrada em aposentadoria em invalidez das mulheres é crescente até o último grupo etário (70 anos e mais). Esse padrão pode ser atribuído, em parte, a maior dificuldade das mulheres em satisfazer os critérios exigidos para a concessão dos benefícios de aposentadoria programados (tempo de contribuição e idade), seja porque ingressaram no RGPS tardiamente ou porque possuem trajetórias de contribuição muito irregulares. As barreiras enfrentadas pelas mulheres para que elas se tornem elegíveis a concessão de benefícios programados deixam

Variável Categoria Frequência

Observada

Probabilidades Estimadas (Lambdas)

Razão (E/O)

Nome Código Rótulo Absoluta Marginal Perfil1 Perfil 2 Perfil1 Perfil 2

Sexo 0 Feminino 1.625 0,38 0,45 0,46 1,19 1,22 1 Masculino 2.675 0,62 0,55 0,54 0,88 0,87 Filiação 0 Empregados 1.434 0,33 0,43 0,40 1,30 1,19 1 Outros Contribuintes 2.866 0,67 0,57 0,60 0,85 0,91 0 15 a 34 anos 331 0,08 0,28 0,25 3,62 3,25 1 35 a 59 anos 2.886 0,67 0,33 0,25 0,49 0,38 Idade 2 60 a 64 anos 646 0,15 0,39 0,00 2,63 0,00 3 65 a 69 anos 341 0,08 0,00 0,34 0,00 4,28 4 70 anos e mais 96 0,02 0,00 0,16 0,00 6,97 Causas de Invalidez

0 Algumas doenças infecciosas e parasitarias 183 0,04 0,12 0,00 2,86 0,00 1 Neoplasias (tumores) 301 0,07 0,00 0,18 0,00 2,61 2 Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas 100 0,02 0,12 0,07 5,19 3,04 3 Transtornos mentais e comportamentais 490 0,11 0,00 0,17 0,00 1,46 4 Doenças do sistema nervoso 248 0,06 0,13 0,09 2,33 1,52 5 Doenças do olho e anexos 197 0,05 0,00 0,15 0,00 3,30 6 Doenças do aparelho circulatório 1.175 0,27 0,00 0,19 0,00 0,70 7 Doenças do aparelho respiratório 101 0,02 0,13 0,00 5,33 0,00 8 Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo 935 0,22 0,20 0,00 0,91 0,00 9 Doenças do aparelho geniturinário 91 0,02 0,12 0,00 5,45 0,00 10 Lesões, envenenamentos e algumas outras conseqüências de causas externas 331 0,08 0,00 0,15 0,00 1,96 11 Outras Doenças 107 0,02 0,12 0,00 4,64 0,00 12 Sem informação 41 0,01 0,07 0,00 7,25 0,00

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expostas ao risco de aposentar por invalidez em idades superiores aos 60 anos (idade mínima para mulheres se aposentadoria por idade).

As probabilidades encontradas de um inválido se aposentar por doenças circulatórias ou osteomusculares foram 0,27 e 0,22, respectivamente. Essas foram as maiores probabilidades encontradas e está de acordo com Gomes (2008) e Ribeiro (2006). Uma provável hipótese para a não prevalência dessas causas nos perfis extremos encontrados pode estar associado a grande incidência dessas morbidades tanto entre homens quanto em mulheres e na grande parte dos grupos etários.

Conclusão

O objetivo desse artigo foi traçar o perfil de causas de morbidade que originaram as aposentadorias por invalidez no RGPS. O conhecimento sobre as causas de invalidez é importante para o desenvolvimento de políticas públicas preventivas e para projeções dos gastos futuros com invalidez, já que quando mais cedo ocorrer a entrada em invalidez e quanto maior a sua duração, maiores serão os custos para o sistema previdenciário.

Os perfis encontrados auxiliam no redirecionamento das políticas públicas. O estudo sugere para prevenção de doenças associadas ao Perfil Extremo 1, políticas voltadas para indivíduos de ambos os sexos, jovens (até 34 anos de idade) ou com idade próxima a idade mínima exigida para aposentadoria por idade (60 e 64 anos de idade). As principais morbidades responsáveis pela concessão de aposentadorias por invalidez, associadas a esse perfil foram: as doenças pelo HIV, tripanossomíase, hanseníase, tuberculose, diabetes mellitus, epilepsia, bronquite, asma, insuficiência renal, anemias e doenças de pele.

Todas as causas de morbidade citadas do Perfil Extremo 1 , segundo o Ministério da Saúde, são passíveis de redução através de medidas preventivas. Como por exemplo, a prevenção da AIDS, causado pelo vírus HIV, é feita através do uso de preservativo em todas as relações sexuais e do não compartilhamento de seringas, agulhas e objetos cortantes. A tripanossomíase pode ser evitada com o uso de mosquiteiros e telas metálicas em casas localizadas em áreas de risco ou com o uso de medidas de proteção individual, tais como repelentes. A prevenção da hanseníase e da tuberculose baseia-se no diagnóstico e tratamento precoces e na aplicação da vacina BCG, presente no calendário da vacinação infantil. A diabetes mellitus é uma doença associada aos hábitos de vida, estímulos à atividade física e alimentação balanceada, e são medidas simples que podem evitar a incidência da doença. A bronquite e a asma estão relacionadas às infecções respiratórias, medidas como vacina contra o vírus da gripe e contra o pneumococo (bactéria causadora de infecções respiratórias) podem prevenir a incidência da doença. A prevenção da insuficiência renal consiste em melhorar o atendimento aos doentes com diabetes e hipertensão, com o objetivo de retardar o aparecimento da doença. Todas as medidas preventivas descritas, na maior parte das vezes, são maneiras relativamente simples e podem reduzir significativamente o número de entradas em aposentadorias por invalidez.

Diante das características do Perfil Extremo 2, as políticas públicas com objetivo de reduzir o número de concessão de aposentadorias por invalidez deveriam ser voltadas para as mulheres. As morbidades desse perfil que representam a maior proporção das causas de invalidez são: neoplasia maligna da mama, esquizofrenia, transtornos de humor, cegueira, glaucoma, seqüelas de traumatismos e de envenenamento e de outras conseqüências de causas externas (Ribeiro, 2006).

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As medidas preventivas das causas de invalidez predominantes no Perfil Extremo 2, apesar dessas morbidades se manifestarem nas idades mais avançadas (acima de 65 anos), elas deveriam ser direcionadas para grupos etários mais jovens, com o verdadeiro intuito de prevenir o surgimento dessas doenças. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), quando o câncer de mama é diagnosticado e tratado de forma precoce e adequada, o prognóstico é relativamente bom. E, apesar das características genéticas influenciarem no surgimento da doença, recomendações básicas como evitar a obesidade e práticas regulares de atividades físicas podem diminuir o risco de desenvolver o câncer de mama. A mamografia, oferecida pelo Sistema Único de Saúde, feita a cada dois anos a partir dos 40 anos é o principal mecanismo de diagnóstico precoce da doença. O glaucoma, segundo o Ministério da Saúde, além dos fatores genéticos pode estar associado a doenças pré-existentes como hipertensão arterial e diabetes, que podem ser reduzidas por meio de simples mudanças nos hábitos de vida. A esquizofrenia e os transtornos de humor muitas vezes podem ser piorados se associados ao consumo de álcool e drogas ilícitas. Medidas relativamente simples, e muitas vezes relacionadas aos hábitos alimentares e práticas de exercícios físicos podem gerar grandes benefícios para o sistema previdenciário brasileiro.

Portanto, esse estudo contribui com um conhecimento mais detalhado das aposentadorias por invalidez, auxiliando na formulação das políticas públicas voltadas, principalmente, para a promoção da saúde do trabalhador. A caracterização dos dois perfis extremos encontrados permite um melhor direcionamento das políticas públicas que podem focar as medidas preventivas nas principais morbidades que geram invalidez. Campanhas de conscientização e diagnóstico precoce das doenças podem reduzir o número de doentes e as seqüelas, e, consequentemente, diminuem a saída precoce dos trabalhadores do mercado de trabalho por morbidades passíveis de redução.

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GOMES, Marília Miranda Forte ; FIGOLI, M. G. B. ; RIBEIRO, A. J. F. . Da atividade à invalidez permanente: um estudo utilizando dados do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) do Brasil no período 1999-2002. Revista Brasileira de Estudos de População (Impresso), v. 27, p. 297-316, 2010

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(11)

11

modelo de Grade of Membership (GOM) às causas múltiplas de mortes neonatais precoces para uma maternidade pública de Belo Horizonte, MG, 2001-2006. Texto para Discussão no 388. Julho de 2010.

Anexo I

Tabela 1- Capítulos da 10a Classificação Internacional de Doenças

Capítulo Descrição

I Algumas doenças infecciosas e parasitárias II Neoplasias (tumores)

III Doenças do sangue e dos órgãos hemotopoéticos e alguns transtornos imunitários IV Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas

V Transtornos mentais e comportamentais VI Doenças do sistema nervoso

VII Doenças do olho e anexos

VIII Doenças do ouvido e da apófise mastóide IX Doenças do aparelho circulatório

X Doenças do aparelho respiratório XI Doenças do aparelho digestivo

XII Doenças da pele e do tecido celular subcutâneo

XIII Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo XIV Doenças do aparelho genitourinário

XV Gravidez, parto e puerpério

XVI Algumas afecções originadas do período perinatal

XVII Malformações congênitas, deformidades e anomalias cromossômicas

XVIII Sintomas, sinais e achados anormais em exames clínicos e de laboratório, não classificados em outra parte

XIX Lesões, envenenamentos e algumas outras conseqüências de causas externas XX Causas externas de morbidade e de mortalidade

XXI Fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com os serviços de saúde Fonte: CID 10 – Datasus (www.datasus.gov.br)

Tabela 2- Categorização da variável causas de invalidez Categoria Descrição

0 Algumas doenças infecciosas e parasitarias

1 Neoplasias (tumores)

2 Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas

3 Transtornos mentais e comportamentais

4 Doenças do sistema nervosa

5 Doenças do olho e anexos

6 Doenças do aparelho circulatório

7 Doenças do aparelho respiratório

8 Doenças do sistema osteomolecular e do tecido conjuntivo

9 Doenças do aparelho geniturinário

10 Lesões, envenenamentos e algumas outras conseqüências de causas externas

11 Outras causas

Referências

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